PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 129 - FEV - MAR - ABR/2017
GRUPO TÉCNICO DE CUIDADO AO IDOSO
Antidepressivos em Idosos
Atenção farmacêutica é essencial para evitar interações medicamentosas e descontinuação do tratamento
Apesar de acometer apenas 1% dos idosos em sua versão mais grave, a depressão nessa faixa etária é uma das doenças que mais preocupam os profissionais de saúde, já que seus sintomas (na forma mais moderada) estão presentes em 15% dessa faixa da população e pioram em pessoas com doenças crônicas, hospitalizadas e solitárias. Outro fator que favorece a depressão é o uso de alguns medicamentos, como anticonvulsivantes, betabloqueadores, anti-hipertensivos, entre outros, ou mesmo algumas interações medicamentosas.
A preocupação é ainda maior em relação ao diagnóstico e tratamento desta doença. Segundo a Dra. Michele Melo Silva Antonialli, professora de Farmacoterapia e Gestão Farmacêutica e membro do Grupo Técnico de Cuidado Farmacêutico ao Idoso, apesar de dispor de tratamentos, a depressão no idoso tem sido subdiagnosticada e permanece não tratada em muitos casos, reduzindo a capacidade funcional e aumentando o risco de morbidade e de mortalidade.
Ela explica que existem várias classes de antidepressivos disponíveis para a utilização da população em geral. No caso de idosos, as alterações fisiológicas próprias da senescência, como a redução da função renal e hepática, podem modificar a metabolização e eliminação dos fármacos interferindo no seu efeito. Além disso, ela observa que a alteração na sensibilidade dos idosos a alguns fármacos tornam o idoso mais suscetível às reações adversas aos medicamentos e às interações medicamentosas.
“A escolha do antidepressivo para o idoso deve ser individual, considerando as suas características fisiológicas, doenças associadas, os medicamentos que utiliza, o perfil de reações adversas dos antidepressivos, a simplicidade posológica e o custo. Também é importante sempre iniciar o tratamento com doses baixas e progredi-las gradualmente”, aponta.
Papel do farmacêutico
Por meio da orientação ao idoso e de seus familiares e cuidadores, a primeira contribuição do farmacêutico ao identificar sintomas de depressão em seus pacientes é indicar a procura por um médico.
Em um segundo momento, na atenção farmacêutica, o farmacêutico deve auxiliar os pacientes no gerenciamento de seus medicamentos, adequando os horários de administração e apontando as reações adversas que são muito comuns nestas classes de medicamentos.
Dra. Michele ressalta que as reações não desejadas são as principais causas do abandono aos tratamentos antidepressivos em idosos e esta falta de adesão resulta em piora dos quadros depressivos, comprometendo o estado geral de saúde destes pacientes.
“É importante explicar aos pacientes que os tratamentos farmacológicos da depressão exigem um tempo de latência para início dos efeitos. A maioria dos antidepressivos só começa a fazer efeito após quatro a oito semanas de uso”, ressalta.
O farmacêutico pode, ainda, auxiliar o médico na escolha do antidepressivo em um trabalho multiprofissional. Nesses casos, considera-se o perfil de
reações adversas do medicamento e as características fisiológicas do paciente.
“A análise da prescrição pelo farmacêutico possibilita a identificação de possíveis interações medicamentosas, comuns em antidepressivos, assim como no risco de morbidade relacionada com medicamento”, aponta a farmacêutica.
Por Mônica Neri
ANTIDEPRESSIVOS APROPRIADOS AOS IDOSOS
Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (citalopram, escitalopram, sertralina, fluoxetina, paroxetina) – usualmente antidepressivos de escolha para uso em idosos devido ao melhor perfil de tolerabilidade e menor risco de iatrogenia, sendo suas reações adversas mais comuns a diarreia e, no caso da fluoxetina, o risco de interação com outros medicamentos.
Inibição seletivos da recaptação de serotonina e norepinefrina (venlafaxina e duloxetina) - Apesar de serem medicamentos com bom perfil de segurança e tolerabilidade, doses maiores de venlafaxina estão associadas à elevação sustentada da pressão arterial e sintomas de descontinuação podem ocorrer, sendo indicada a redução gradual da dose quando um tratamento a longo prazo deva ser interrompido.
Mirtazapina - particularmente útil no tratamento da depressão em idosos nos quais sedação e ganho de peso sejam efeitos desejáveis.
Obs: A escolha dos antidepressivos também pode considerar outras situações clínicas do paciente, por exemplo, idosos com insônia são beneficiados com uso de mirtazapina, paroxetina e trazodona; idosos fumantes com uso da bupropiona; idosos obesos com uso da fluoxetina; e idosos sem apetite com uso da mirtazapina.