PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 128 - NOV - DEZ/ 2016 - JAN/2017
COMISSÕES ASSESSORAS / FARMÁCIA CLÍNICA
Quando ainda há muito o que fazer
Habitualmente associados a pacientes oncológicos, os cuidados paliativos devem ser aplicados a todos os doentes sem possibilidades terapêuticas e com necessidades específicas no fim da vida
Quando se fala em cuidados paliativos, poucas definições conseguiram ser tão representativas quanto a afirmação feita pela enfermeira inglesa Cicely Saunders diante de casos em que a equipe médica dizia “não há nada mais a fazer” ao lidar com pacientes terminais. Nessas situações, a mulher que dedicou sua vida ao alívio do sofrimento humano, tornando-se referência em medicina paliativa, inovou ao declarar: “ainda há muito a fazer”.
Em linhas gerais, o cuidado paliativo é uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias, enfrentando o problema associado a doenças que ameaçam a continuidade da vida, com prevenção e alívio do sofrimento por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento da dor, bem como outros problemas físicos, psicossociais e espirituais, lembra a dra. Sílvia Coimbra de Oliveira, vice-coordenadora da Comissão Assessora de Farmácia Clínica do CRF-SP, em referência à definição dada pela Organização Mundial da Saúde em 2002.
Os cuidados paliativos devem ser aplicados a todos os pacientes sem possibilidades terapêuticas e com necessidades de cuidados de fim de vida, explica a dra. Lívia Maria Gonçalves Barbosa, coordenadora da Comissão de Farmácia Clínica. “Esses cuidados são normalmente aplicados a pacientes oncológicos e onco-hematológicos, mas devem ser estendidos a pacientes idosos em fim de vida, pacientes com doenças degenerativas sem possibilidades de cura, bem como para auxiliar as famílias dos pacientes que enfrentam o processo da doença e suas repercussões.”
Enquadram-se também no perfil de pessoas com indicação de cuidados paliativos os pacientes demenciados, neurológicos, portadores de insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica, polidiagnosticados, entre outros.
O conceito foi amplamente abordado durante a última palestra do Ciclo “Farmacêutico Especialista” promovido pela Comissão Assessora de Farmácia Clínica ao longo de 2016. Durante o evento, a também vice-coordenadora dra. Vanessa de Andrade Conceição falou das diferenças entre cuidados paliativos e cuidados no fim da vida.
“Cuidados paliativos devem ser aplicados desde a definição de uma doença incurável e progressiva, em concomitância a outros tratamentos pertinentes. Já os cuidados ao fim da vida são uma parte importante dos cuidados paliativos que se refere à assistência que a pessoa deve receber durante a última etapa de sua vida, a partir do momento em que fica claro que ela se encontra em estado de declínio progressivo e inexorável, aproximando-se da morte”, disse a farmacêutica.
Farmacêutico: contribuição crucial
São muitas as atribuições do farmacêutico que atua na equipe multidisciplinar responsável pelos cuidados paliativos. Além de ajudar os demais profissionais da saúde, o paciente e a família esclarecendo as dúvidas em relação às indicações, interações e possíveis reações adversas dos medicamentos, o farmacêutico pode estudar qual forma farmacêutica melhor atende o paciente que normalmente já está bem debilitado, muitas vezes sem condições de tomar os medicamentos por via oral.
Atua também orientando sobre as vias de administração alternativas, indicando, por exemplo, quais os medicamentos e como podem ser feitos por via sonda nasoenteral, hipodermóclise, via traqueostomia, entre outras.
“Pode também orientar em relação aos efeitos adversos dos analgésicos, quimioterápicos e etc. usados no controle da dor, controle paliativo da progressão da doença, além de auxiliar a equipe de saúde e o paciente a gerenciar efeitos/sintomas gastrointestinais (náuseas, vômitos, constipação, diarreia, cólica) ”, finaliza a dra. Vanessa.
Por Renata Gonçalez
Cicely Saunders nasceu em 1918, na Inglaterra. Graduou-se como enfermeira, depois como assistente social e como médica. Escreveu muitos artigos e livros que até hoje servem de inspiração e guia para paliativistas no mundo todo. Em 1967, fundou o St. Christopher´s Hospice, o primeiro serviço a oferecer cuidado integral ao paciente, desde o controle de sintomas, até o alívio da dor e do sofrimento psicológico. Até hoje, o St. Christopher´s é reconhecido como um dos principais serviços no mundo em Cuidados Paliativos e Medicina Paliativa. Ela faleceu em 2005, em paz, sendo cuidada no St. Christopher´s.
(Fonte: Associação Nacional de Cuidados Paliativos).