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Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 128 - NOV - DEZ/ 2016 - JAN/2017

ESPECIAL - ENTREVISTA PROF. CLÓVIS DE BARROS FILHO

 

A verdadeira postura ética é a da reflexão constante

 

Clovis BarrosApós quase dois anos, o palestrante e professor Clóvis de Barros Filho, um dos mais requisitados especialistas em ética do Brasil, retorna à seção de entrevista da Revista do Farmacêutico para debater, principalmente, sobre os problemas relacionados ao uso das redes sociais e a necessidade da busca incessante pelo aprimoramento das práticas e dos valores na vida pessoal e profissional.

Revista do Farmacêutico: Existe uma ética diferenciada que norteia as ações do mundo real e outra para o mundo virtual?

Clóvis de Barros Filho: Em primeiro lugar é preciso entender que a fronteira entre estes dois mundos é cada vez mais difusa. Em segundo lugar, não acredito que o que influencie o comportamento de uma pessoa dentro e fora das relações mediadas pela tecnologia seja a própria tecnologia. O que quero dizer com isso é que é muito mais fácil entender o que influencia o comportamento olhando para quais as condições materiais de realização de cada ação. Assim, se uma tecnologia facilita o anonimato, é o anonimato, e não a tecnologia, que influencia o comportamento. Se uma tecnologia favorece a violência e a impunidade, são as suas perspectivas que alterarão o comportamento. Então, não há uma ética pronta para a vida dentro e fora da tecnologia, mas há situações concretas que precisam ser analisadas de acordo com as variáveis que se apresentam a cada instante.

É possível ao chamado “cidadão de bem, cumpridor de seus deveres” e que julgue agir pautado pela ética em seu dia a dia, se tornar um indivíduo antiético nas redes sociais?

Sim. Quando nos achamos ‘acima do bem e do mal’, paramos de fazer uma análise minuciosa do nosso comportamento. Por isso, a verdadeira postura ética é a da reflexão constante, da busca incessante pelo aprimoramento das práticas e dos valores.

Em que momento e por que as pessoas passam a se utilizar dos meios eletrônicos para ofender, difamar e caluniar uns aos outros?

Não sei em que momento. Mas sei que o comportamento das pessoas depende enormemente do contexto em que agem. A rede social prima pela liberdade de falar, de curtir e compartilhar e de opinar. Mas, como já nos lembra Sartre, liberdade é sinônimo de responsabilidade, e esta deriva de uma reflexão constante, que, infelizmente, nem todos conseguem fazer. Então, eu acredito que a violência virtual tenha forte relação com a ausência do sentido de responsabilidade que o ambiente estimula.

Como uma postura antiética nas redes sociais (ainda que em perfis pessoais) pode comprometer o sucesso profissional de alguém cujo currículo é impecável?

Já dizia o ditado popular: “quem vê cara, não vê coração”. E isto vale para o bem e para o mal. O acúmulo de títulos só atesta capacidade de acumular títulos. Valores morais são outra coisa. Ninguém pode chancelar comportamento com diploma. Ética é ação, não título. Desta maneira, o mau comportamento não marca o currículo, marca a pessoa. E o bom currículo não garante bom comportamento. Que o digam os campeões mundiais e olímpicos que são flagrados no doping.

No contexto do atual momento político do país, como o sr. enxerga o apelo à ética que domina o debate no Brasil?

A esperança de uma sociedade é o seu clamor pela ética. Mas, para poder exigir ética com força, é preciso dominar a ética. Em suma, é preciso fazer a sua parte.

 

 

 

 
 

     

     

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