PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 127 - AGO - SET - OUT / 2016
COMISSÕES ASSESSORAS / PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS
Fitoterapia no SUS
Conheça os fitoterápicos dispensados na Prefeitura de São Paulo
A prescrição e uso indiscriminado de alguns medicamentos como omeprazol e benzodiazepínicos no Brasil contribuíram para que a Prefeitura de São Paulo apostasse no uso de fitoterápicos em seus pacientes. De forma geral, os critérios adotados para a seleção dos fitoterápicos e definição de suas indicações foram a eficácia, segurança, comodidade posológica e custo.
No munícipio, a Fitoterapia fica a cargo da Área Técnica de Assistência Farmacêutica e da Área Técnica de Medicina Tradicional, Homeopatia e Práticas Integrativas em Saúde.
A assistência farmacêutica é responsável, principalmente, pelas diretrizes de políticas públicas, ou seja, pela seleção de medicamentos e diretrizes de dispensação e prescrição. Enquanto a Área Técnica de Medicina Tradicional, Homeopatia e Práticas Integrativas em Saúde, entre outras, pela capacitação dos profissionais prescritores e dispensadores de medicamentos nos serviços de saúde da prefeitura.
A área pode ser considerada nova e iniciou seus estudos há pouco mais de seis anos para as seleções dos fitoterápicos que seriam utilizados na cidade. Apesar de o Ministério da Saúde já ter incluído alguns fitoterápicos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) (veja endereço eletrônico da lista no final do texto), houve em São Paulo uma avaliação com escolhas de acordo com as necessidades locais.
“Nós já tínhamos uma Comissão Farmacoterapêutica que estuda a seleção de
medicamentos. Criamos, então, uma subcomissão para estudar os fitoterápicos”, explicou a dra. Sandra Aparecida Jeremias, responsável pela Área Técnica de Assistência Farmacêutica de São Paulo.Desse estudo, foram definidos quatro fitoterápicos, que já são prescritos e dispensados na cidade: Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), Garra do diabo (Harpagophytum procumbens), Isoflavona de Soja (Glycine max) e Valeriana (Valeriana officinalis).
“Eles tratam, entre outros problemas, a ansiedade, que por exemplo, deveria ser medicalizada apenas em graus maiores da doença, mas não é o que ocorre hoje. Então, a Valeriana surge como uma alternativa, nesse sentido”, conta a dra. Sandra.
Em relação ao omeoprazol, a farmacêutica expõe que existe uma superprescrição de forma indevida, não apenas na cidade, mas em todo o país. “O uso da Espinheira-santa, nesses casos, traz efeitos colaterais menores, já que o omeprazol pode trazer efeitos gravíssimos”, apontou.
O mesmo ocorre com a garra do diabo, indicado como anti-inflamatório e analgésico no tratamento de condições reumáticas, tais como artrites e artroses e a isoflavona de soja, que ameniza sintomas vasomotores moderados e leves associados ao climatério, tais como fogachos e sudorese, problemas muito comuns na menopausa.
Dispensação
Todo medicamento dispensado pelo SUS requer uma receita, mesmo os medicamentos livres de prescrição. Assim, os médicos podem prescrever esses fitoterápicos que são adquiridos pelo paciente em farmácias referência na cidade.
A prefeitura, quando iniciou a disponibilização dos fitoterápicos, realizou uma capacitação para médicos, farmacêuticos e outros profissionais da saúde interessados no assunto. Também foi distribuído entre os profissionais prescritores e está disponível online (veja endereço eletrônico no final do texto) o Memento de Fitoterapia da Prefeitura de São Paulo.
Além dessa capacitação inicial, também é ofertada, sistematicamente, uma capacitação mais ampla, que abrange além dos fitoterápicos, as plantas medicinais. Ela é realizada pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura, por meio da Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz (Umapaz), no Parque do Ibirapuera, para todos os interessados, com prioridade para os profissionais da saúde da prefeitura.
Desafios
Os fitoterápicos dispensados pela Prefeitura de São Paulo são exclusivos aos usuários da rede. Isso ocorre porque, apesar de terem a eficácia comprovada e causarem menos efeitos colaterais, não se tratam de medicamentos com custo/benefício vantajoso em termos financeiros. Para se ter uma ideia, o tratamento com Espinheira-santa custa, em média, 60 vezes mais do que o tratamento com omeprazol.
Outro desafio é em relação à dificuldade de haver uma uniformidade na concentração do fitoterápico, já que o medicamento depende da concentração de ativos da planta que foi utilizada para sua produção e são muitos os fatores que interferem nesse sentido, como os ambientais e o modo de produção.
Em relação à produção, também é importante que não interfira no meio ambiente, que não seja predatória, que seja realizada de maneira orgânica e que, assim, esses medicamentos possam, em longo prazo, ajudar muitos pacientes do SUS de todo o país.
por Monica Neri
Lista de Fitoterápicos Rename: http://bit.ly/29WcF65 Memento de Fitoterapia Prefeitura de São Paulo: http://bit.ly/2eaKGBn