PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 126 - MAI - JUN - JUL / 2016
TÉCNICA E PRÁTICA
Tudo pelo controle da pressão
Trinta por cento da população brasileira. Este dado da Sociedade Brasileira de Hipertensão, SBH, reflete a quantidade de pessoas com a doença no país. Estima-se que 50% das pessoas com pressão alta não saibam disso, e, dos que sabem, apenas 25% aderem ao tratamento. Em meio a esses números alarmantes, o farmacêutico é o elo entre o medicamento anti-hipertensivo e o paciente. Por isso, tem em suas mãos a oportunidade de, por meio da orientação, esclarecer sobre riscos, interações medicamentosas, horários favoráveis ao uso, contraindicações, entre outras informações que contribuem para o resultado do tratamento.
A partir do momento em que os serviços farmacêuticos foram regulamentados para serem prestados nas farmácias, a responsabilidade do profissional no monitoramento e controle da pressão arterial foi redobrada. Para orientar com excelência, é preciso estar atualizado e ciente de todas as informações que dizem respeito ao uso de medicamentos anti-hipertensivos, bem como as formas de prevenção da doença responsável por 40% dos infartos, 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVC) e 25% dos casos de insuficiência renal terminal, segundo a SBH.
MANEJO FARMACOTERAPÊUTICO
Para que o farmacêutico tenha as ferramentas necessárias para alertar sobre os riscos e necessidade de controle da hipertensão, um dos temas do fascículo Farmácia Estabelecimento de Saúde, publicado pelo CRF-
SP e com a chancela da Opas, é “Manejo do Tratamento de Pacientes com Hipertensão”. A partir do acompanhamento do paciente, o farmacêutico tem como identificar o sucesso farmacoterapêutico e o surgimento de reações adversas, e, com essas informações, encaminhá-lo para a solução dos seus problemas.
O fascículo traz informações sobre procedimentos a serem adotados pelo farmacêutico ao detectar níveis de pressão arterial diastólica (PAD) acima de 120 mmHg. De acordo com a publicação: “O profissional deve avaliar o estado do paciente para definir a melhor conduta. Não se recomenda adoção de nenhuma medida medicamentosa na farmácia ou drogaria, a menos que o paciente tenha se esquecido de tomar uma dose do seu medicamento anti-hipertensivo de uso habitual, receitado pelo médico. É imprescindível frisar a necessidade de procurar um pronto-socorro para uma avaliação médica, mesmo que esteja se sentindo bem.
Entretanto, se o paciente descrever sintomas como: sensação de dor ou aperto sobre o peito, dor ou formigamento nos braços, associados com náuseas e fraqueza (sugestivos de IAM - Infarto Agudo do Miocárdio), ou ainda confusão mental, vertigem, fraqueza, perda sensitiva, dificuldade visual, dificuldade para falar (sugestivos de AVE - Acidente Vascular Encefálico), o farmacêutico deve acionar o serviço de remoção local.
Recomenda-se que o farmacêutico conheça as alternativas públicas e particulares de atendimento emergencial de sua região para acionar o serviço que for mais indicado nessas situações. Todas as orientações e condutas adotadas pelo farmacêutico devem constar na Declaração de Serviços Farmacêuticos, a ser preenchida após a aferição da PA no estabelecimento –uma via deve ser entregue ao paciente e outra arquivada na farmácia ou drogaria”.
Por Thais Noronha
O QUE VOCÊ PRECISA SABER
Principais indicações e contraindicações das classes:
DIURÉTICOS
Indicação principal: maioria das Hipertensão Sistólica Isolada (HSI), ICC.
Contraindicação: Gota
BETABLOQUEADORES
Indicação principal: na Angina após IAM, ICC e Taquiarritimias.
Contraindicação: Bloqueio atrioventricular (BAV), asma e DPOC, depressão, doença vascular periférica.
INIBIDORES DA ECA
Indicação principal: nefropatia diabética, nefrosclerose hipertensiva, ICC, após IAM, disfunção ventricular esquerda.
Contraindicação: gravidez, estenose bilateral das artérias renais e hiperpotassemia.
ALFA BLOQUEADORES
Indicação principal: hipertrofia prostática (HPB) e feocromocitoma.
Contraindicação: como monoterapia para hipertensão ortostática.
ARA II
Indicação principal: nefropatia diabética (tipo 2), ICC, tosse por IECA.
Contraindicação: gravidez, estenose bilateral das artérias renais, hiperpotassemia.
BCC DIIDROPIRIDÍNICOS
Indicação principal: angina, hipertensão sistólica isolada (especialmente em diabéticos).
Contraindicação: como monoterapia na doença renal crônica
BCCS NÃO DIIDROPIRIDÍNICOS
Indicação principal: angina
Contraindicação: BAV, ICC
Principais interações medicamentosas dos anti-hipertensivos:
BETA BLOQUEADORES
• Com insulina e antidiabéticos orais: mascaramento de sinais de hipoglicemiantes de bloqueio da mobilização de glicose;
• Com vasoconstritores nasais: aumento do efeito hipertensor por ausência de anteposição do bloqueio beta;
• Com diltiazem e verapamil: depressão de atividade dos nós sinusal e antrioventricular;
• Com antidepressivos tricíclicos: redução do efeito anti-hipertensivo;
• Com antiadrenérgicos x antidepressivos tricíclicos, fenotiazínicos, simpaticomiméticos indiretos: redução da atividade da guanetidina devido sua captação neuronal;
ALFA BLOQUEADORES
• Com anti-inflamatórios não-esteroides e esteroides- Antagonismo do efeito anti-hipertensivo;
• Verapamil e diltiazem x Digoxina: aumento de níveis plasmáticos da digoxina;
• Verapamil e diltiazem x Bloqueadores H2: aumento de níveis plasmáticos dos antagonistas do cálcio;
• Verapamil e diltiazem x Indutores microssomais (fenobarbital, rifampicina, carbamazepina): aumento da depuração dos antagonistas do cálcio;
• Verapamil x Teofilina, prazosina, ciclosporina - aumento do nível sérico desses fármacos.
DIURÉTICOS
• Com iazídicos e de Alça x Digitálicos: predisposição à intoxicação digitálica por hipopotassemia;
• Com tiazídicos e de Alça x anti-inflamatórios não-esteroides e esteroides: antagonismo do efeito diurético;
• Diuréticos com tiazídicos e de Alça x Lítio - Aumento de níveis séricos do lítio;
• Tiazídicos e de Alça x Poupadores de potássio Inibidores da convertase e suplementos de Potássio- Hiperpotassemia;
INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA
• Captopril, enalapril, lisinopril, ramipril, perindopril x diuréticos poupadores de potássio e suplementos de potássio – Hiperpotassemia;
• Captopril, enalapril, lisinopril, ramipril, perindopril x anti-inflamatórios não-esteroides e Esteroides - antagonismo do efeito anti-hipertensivo (a curto prazo);
• Captopril, enalapril, lisinopril, ramipril, perindopril x antiácidos - redução da biodisponibilidade;
• Captopril, enalapril, lisinopril, ramipril, perindopril x lítio - Diminuição da depuração do lítio
Fontes 1: CECIL, Russell Lafayette. Tratado de medicina interna. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
Fontes 2: FUCHS, WANNMACHER, FERREIRA – Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional (2006).