PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 125 - MAR - ABR / 2016
COMISSÕES ASSESSORAS / PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS
TomeCuidado.com
A busca na internet por informações sobre plantas medicinais e fitoterápicos deve ser prudente
Ao menor sinal de dúvida sobre qualquer assunto, a internet aparece como a principal fonte de consulta. Quem nunca foi salvo pelos sites de busca ao procurar uma informação? Para todo conteúdo encontrado, deve-se atentar a critérios como o de segurança e veracidade da informação. Em se tratando de saúde e envolvendo produtos ou medicamentos, a atenção deve ser redobrada.
Não é difícil encontrar sites com indicações, prescrições e dicas sobre algum chá milagroso, alguma erva que “tira com a mão” a dor de cabeça, de estômago e muitas outras relacionadas ao uso terapêutico de plantas e fitoterápicos, afinal “se não fizer bem, mal não fará”. Certo? Nem sempre. Muitas ervas interagem com outros medicamentos e possuem contraindicações. Ao se deparar com esse tipo de informação, além de cautela, é preciso fazer algumas perguntas: de onde vem esse conteúdo? A informação é segura? Há evidência científica?
Para o coordenador da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do CRF-SP, dr. Luis Carlos Marques, a evolução da internet trouxe uma grande democratização no acesso às informações técnicas, o que certamente é algo positivo. “Para que esse acesso seja adequadamente aproveitado, o usuário precisa ter sempre um profissional de confiança para conferência de questões polêmicas, pois junto com informações adequadas há também, infelizmente, muitos erros e desvios de compreensão. O farmacêutico é o profissional indicado, quando o tema se refere a medicamentos.”
As consequências da utilização de informações obtidas na internet sem comprovação ou auxílio de um profissional podem ser drásticas. Desde o famoso comprar gato por lebre, como a aquisição de um produto oferecido como fitoterápico com a promessa de perda de peso, porém desmascarado após testes apontarem a presença de sibutramina nas cápsulas; até a morte, como a de uma mulher de 38 anos, no Mato Grosso do Sul, em decorrência de cirrose hepática após tomar um chá de noz da índia, com a promessa de redução de peso. O chá causou complicações e seu estado de saúde se agravou por ela já ter tido hepatite. Ela aguardava por um transplante, mas morreu em fevereiro deste ano.
Assim que aconteceu o caso, o Centro Integrado de Vigilância Toxicológica de Mato Grosso do Sul divulgou uma nota técnica e alertou sobre a venda de chapéu de napoleão no lugar de noz da índia. “Em um estudo realizado na Argentina, após a avaliação botânica de todas as espécies que eram divulgadas na internet como “Noz da Índia” (Aleurites moluccana), descobriu- se que eram na verdade Thevetia peruviana (Nome popular: Chapéu de Napoleão). As sementes dessa planta, quando ingeridas, são altamente tóxicas por possuírem grandes concentrações de glicosídeos cardiotônicos, estando proibido o seu uso em diversos países, como México, Austrália e Argentina”.
CUIDADOS AO COMPARTILHAR
De acordo com a advogada especialista em Direito Digital dra. Patricia Peck Pinheiro, a Constituição Federal de 1988, o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil preveem que qualquer pessoa que se sentir lesada por uma informação falsa postada na rede pode exigir reparação de quem a publicou. Assim como de quem a curtiu e a disseminou. “Ou seja, não apenas de quem primeiramente a compartilhou, mas toda a rede que se conectou com aquela informação, endossando e a fazendo ter mais visibilidade. Por exemplo, se você divulgar que ingerir determinado líquido pode curar uma doença, você está assumindo responsabilidade sobre esse conteúdo caso alguém realize aquela ação. Hoje, há necessidade de se ter um cuidado redobrado, pois está tudo muito mais documentado, é prova escrita, com grande valor jurídico perante um tribunal.”
Dra. Patrícia ressalta ainda que deveria haver campanhas públicas, em todas as mídias, para educar mais o cidadão no uso seguro da tecnologia e na proteção de sua privacidade. “Há hoje uma grande omissão sobre isso, apesar de a lei exigir que estas campanhas educativas sejam promovidas (previsto pelo Marco Civil da Internet). A orientação preventiva ajuda muito a identificar quando há riscos envolvidos no conteúdo. O usuário é a linha de frente da defesa”, finaliza.
Por Thais Noronha
SEMPRE ALERTA
É preciso atentar-se a alguns aspectos sobre a segurança da informação e sites:
• A informação tem referência de fontes confiáveis, sejam outros sites, jornais ou revistas?
• O site onde ela está é seguro, tem credibilidade?
• Antes de repassar a informação, foi possível conferir as fontes e verificar sua precisão e confiabilidade?
• No caso de plantas medicinais é importante atentar-se aos problemas de confusão entre espécies, sejam de mesmo grupo botânico e muito semelhantes, ou diferentes, mas conhecidas pelo mesmo nome popular.
Fonte: Dr. Luis Carlos Marques, coordenador da Comissão Assessora de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do CRF-SP