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Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 125 - MAR - ABR / 2016

CAPA - DENGUE, ZIKA E CHIKUNGUNYA

 

 

Caminhos da prevenção

Três vacinas despontam na luta contra a dengue, uma delas já começa a ser comercializada

 

A multinacional francesa Sanofi/Pasteur iniciará ainda em 2016 a comercialização no país da primeira vacina contra a dengue, uma doença que afeta 390 milhões de pessoas ao redor do mundo, 13 milhões somente na América Latina, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É o início de uma pequena revolução no tratamento do mal transmitido pelo mosquito Aedes aegypt.

Outras duas vacinas estão em curso, uma da Fiocruz e outra do Instituto Butantan em parceria com a Universidade de São Paulo. Porém, más notícias caminham juntamente com as boas no setor farmacêutico. Nem bem se conseguiu desenvolver uma vacina contra a dengue e outros dois males transmitidos pelo Aedes explodiram no mundo, a chikungunya e o zika vírus.

A bem da verdade, o vírus zika não é um total desconhecido dos pesquisadores. Desde 1947, a Fundação Rockefeller vem cultivando amostras desse vírus in vitro, a partir do sangue de macaco prego, capturado numa floresta africana.

Quase 70 anos após a descoberta e isolamento, o zika veio a eclodir em terras brasileiras, provocando sintomas alarmantes como microcefalia e encefalomielite aguda, que incorre em graves sequelas motoras, cognitivas e visuais em decorrência do atrofiamento de 40% na capacidade cerebral dos contagiados, geralmente recém-nascidos e neonatais. Até o fechamento deste artigo, estavam confirmados 1.113 casos de microcefalia, dos quais 227 com óbito.

 

PAÍSES AFETADOS PELO ZIKA - Veja no mapa quais países já tiveram casos registrados de zika vírus nesta epidemia atualPAÍSES AFETADOS PELO ZIKA - Veja no mapa quais países já tiveram casos registrados de zika vírus nesta epidemia atual

 

MERCADO

Pesquisa da revista norte-americana “Fortune” indicou que o faturamento do mercado de vacinas triplicou em dez anos, indo de US$ 8,9 bilhões, em 2005, para US$ 24 bilhões, em 2014.

O volume de dinheiro, no entanto, não chega a 10% do que fatura o setor farmacêutico anualmente – US$300 bilhões, de acordo com a OMS. A comercialização de medicamentos cresce em ritmo de 5% a 7% ao ano, enquanto a de vacinas, 10% a 15%. 

Como a dengue é uma doença antiga, há pesquisas avançadas de vacinas que prometem combatê-la. No entanto, segundo a empresa inglesa de análise da indústria farmacêutica “Economist Intelligence Unit”, em Londres, a simples suspeita de que o zika vírus causa microcefalia [fato hoje já confirmado], motivou companhias a anunciarem o desenvolvimento da vacina tetravalente, possibilidade antes ignorada.

“O surto do zika é, sem dúvida, uma oportunidade de negócios que antes não parecia existir porque a doença parecia benigna o suficiente para não justificar o investimento em cura ou prevenção”, escreveu a analista Ana Nicholls, da Economist.

Diante da emergente demanda pelo controle epidemiológico do zika vírus, o governo federal anunciou pesquisas próprias que, no caso do Instituto Butantan, por exemplo, já se encontra na última fase de testes. Conforme afirma o dr. Jorge Kalil, diretor do Instituto, o orçamento previsto para as três fases está em torno de R$ 330 milhões.

Estudo publicado pelo Jornal Brasileiro de Economia da Saúde avaliou o potencial impacto da vacinação contra dengue no Brasil e concluiu que a imunização em massa, num prazo de cinco anos, aplicada a uma faixa etária de 9 a 45 anos, poderia reduzir em até 81% a incidência da doença no país.

DENGVAXIA

Dra. Sheila Homsani (ao centro), diretora médica da Sanofi Pasteur com membros de sua equipeDra. Sheila Homsani (ao centro), diretora médica da Sanofi Pasteur com membros de sua equipe

A vacina Dengvaxia® produzida pela empresa francesa Sanofi/ Pasteur é fruto de 20 anos de pesquisa e de um estudo que envolveu mais de 40 mil participantes distribuídos em 15 países. A vacina foi aprovada até o momento em quatro locais: Filipinas, El Salvador, México e Brasil. 

A Dengvaxia® produz anticorpos com grau de eficácia no combate às quatro cepas variantes do vírus da dengue e tem sucesso estimado em 66%, evitando oito entre dez hospitalizações e até 93% de proteção contra os casos de dengue grave, inclusive a variação hemorrágica, que pode ser fatal. Quem assegura os resultados é a dra. Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi/Pasteur.

Ainda em 2016, há previsão de 500 mil doses de Dengvaxia® serem distribuídas às clínicas particulares e empresas. Em abril, a empresa recebeu autorização da OMS e da Anvisa. 

Dra. Sheila Homsani relata que Dengvaxia® foi totalmente desenvolvida pela Sanofi/Pasteur. Inicialmente, uma parceria se iniciou com a empresa britânica Acambis. Segundo ela, estudos brasileiros tendem a se tornar mais ágeis. “Cada país tem suas regras locais para a pesquisa clínica e epidemiológica, além de todos seguirem as regras internacionais. No Brasil, as mudanças estão em curso para agilizar os processos regulatórios dos estudos”, afirmou.

A vacina contra a dengue da Sanofi/Pasteur é também a primeira vacina registrada no mundo para a prevenção da dengue. As primeiras doses foram fabricadas no centro de produção especializado na França, uma indústria capaz de produzir até 100 milhões de doses. Entretanto, é preciso destacar o alto custo de um programa de imunização feito com laboratórios internacionais privados.

Por isso, outra aposta importante é a vacina do Instituto Butantan, que trabalha no projeto de construção de uma robusta planta industrial com capacidade para produção de até 60 milhões de doses por ano.

BUTANTAN/USP

Atualmente em processo avançado de fabricação, em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan é esperada para 2018, quando estará pronta para distribuição, uma vez que já se encontra na última fase de testes clínicos.

Na primeira fase, foram realizados testes em 900 pessoas. Na segunda, 300 pacientes. Finalmente, na terceira e última, o Instituto envolverá 17 mil participantes, divididos em 14 centros brasileiros credenciados. Apenas essa etapa está orçada em R$ 100 milhões.

Dos 17 mil voluntários, dois terços receberão a vacina, um terço, o placebo. Cerca de cem profissionais de saúde atuarão nos estudos já previstos para este ano. O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e seus participantes serão acompanhados por um período de cinco anos. O HC foi o primeiro dos 14 centros a receber a habilitação para a pesquisa.

De acordo com as pesquisas realizadas até o momento, o Butantan tem constatado que a vacina produzida no Brasil é segura e potencialmente eficaz, produzindo anticorpos para os quatro tipos de cepa do vírus da dengue. Pesquisadores do Butantan também inovaram ao desenvolverem uma técnica capaz de aumentar o prazo de validade da vacina em até um ano. Trata-se da vacina liofilizada (em pó), resistente a sistemas comuns de refrigeração.

FIOCRUZ

Centro de produção de antígenos virais na Fiocruz-Farmanguinhos (RJ)Centro de produção de antígenos virais na Fiocruz-Farmanguinhos (RJ)

Com base em acordo assinado em 2009, a Bio-Manguinhos/Fiocruz e a companhia farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK) têm trabalhado em conjunto na vacina inativada tetravalente contra a dengue. O estágio atual é o desenvolvimento clínico da vacina, frente aos resultados dos testes iniciais obtidos com adultos nos Estados Unidos.

“A vacina em meta não utiliza vírus vivo e terá como alvo os quatro principais tipos da dengue que podem causar a doença. O objetivo é proporcionar uma proteção equilibrada”, afirma a nota oficial da entidade, que ainda não se pronunciou sobre o volume de investimento em curso.

Ainda de acordo com a nota, a escolha por uma vacina de vírus inativado permite a independência da replicação viral, com consequente aplicação em escopo mais amplo, sendo ainda particularmente adequada para atender as necessidades médicas em uma ampla população-alvo, incluindo lactentes e crianças jovens que são identificados como a população de maior risco para a dengue em muitos países

“Nosso objetivo é proporcionar uma proteção equilibrada e desenvolver uma vacina que efetivamente possa atender melhor o calendário de vacinação, o tempo de proteção e a faixa etária, elementos essenciais para o Programa Nacional de Imunizações em suas futuras ações contra a doença no Brasil”, informou. 

 

 Por Wesley Alves

 

Conheça a vacina 

Como será testada a eficácia da vacina do Instituto Butantan

 

 

 

     

     

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