ESTABELECIMENTOS REGISTRADOS

PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 124 - JAN - FEV / 2016

CAPA / JOGOS OLÍMPICOS E PARALÍMPICOS RIO 2016 

 

 

Assistência farmacêutica medalha de ouro

Conheça alguns dos voluntários selecionados para trabalhar na farmácia do maior evento esportivo do mundo e a maratona que eles enfrentarão nos Jogos 

 

 

capa1Imagine que a farmácia onde você trabalha atenda, em 31 dias de funcionamento, mais de 20 mil pessoas, 14.850 delas atletas para os quais um simples comprimido pode fazê-lo perder uma medalha. Pense que a segurança no transporte dos medicamentos deve ser máxima. Acrescente a tudo isso o fato de os seus pacientes serem de 206 países diferentes, com idiomas, culturas e inclusive hábitos próprios de automedicação.
Se apenas essas informações já fizeram o leitor pensar duas vezes antes de aceitar o emprego, saiba que não são nada perto do desafio que enfrentará um grupo seleto de farmacêuticos que trabalharão nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, realizados respectivamente de 5 e 21 de agosto e de 7 a 18 de setembro, no Rio de Janeiro.
“Só existe outro evento que exija a mobilização logística das Olimpíadas, a guerra”, diz o dr. Luís Sérgio Nunes, de 38 anos, coordenador do setor farmacêutico, cargo que divide, há dois anos, com os empregos de militar do Corpo de Bombeiros carioca e gestor corporativo de suprimentos da Amil. Para ele, o que chamou atenção do comitê organizador para selecioná-lo foram o projeto que apresentou e o fato de ser um especialista devotado em logística.
O esforço para garantir total segurança na distribuição dos medicamentos incluiu itens que poucos aprendem numa faculdade. “Na verdade, a experiência desenvolvida, os intercâmbios de conhecimentos entre países durante todo esse tempo, já rendeu artigos e estudos de outras Olimpíadas, que foram aproveitados, e certamente a do Rio também renderá”, considera.
DSC 0187Dr. Luis Sérgio Nunes é coordenador do setor farmacêutico dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 Para se ter uma ideia, os pontos de distribuição incluem a farmácia da policlínica da Vila Olímpica, mais de 120 postos espalhados pelo local e um número ainda não fechado de mochilas térmicas, que permanecerão nos locais de prova, com medicamentos termolábeis e de parada cardiorrespiratória, abastecidas por farmacêuticos. Os atletas atendidos –e os parentes, que eles chamam de “família olímpica”— terão toda e qualquer substância ingerida registrada em prontuário eletrônico e não estão autorizados a adquirir medicamentos fora da Vila.
Antes de chegar a esse nível de detalhe, foi preciso pensar antes no perfil dos pacientes. “Muitos entrarão no Brasil com medicamentos proscritos que são permitidos no país deles. Por isso, fomos obrigados a nos deter longamente sobre a elaboração de uma lista de medicamentos fundamentais que vai um pouco além do que temos aqui”, explica o dr. Nunes. Atletas e familiares terão esquema especial de recepção no aeroporto para registrar os medicamentos que carregarem na bagagem –trabalho também desenvolvido por farmacêuticos.
“A Vila Olímpica é área de segurança internacional. Trabalhar nesse evento deve ser motivo de orgulho e certamente o profissional brasileiro mostrará o seu valor e a sua capacidade técnica, como também terá um grande ganho de conhecimento”, afirma.

VOLUNTÁRIOS
catiaDra. Cátia Cristina Gomes Gonçalves é especializada em Vigilância Sanitária em Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Cecovisa)As Olimpíadas são um dos maiores empreendimentos voluntários do planeta. De engenheiros a motoristas, cerca de 250 mil pessoas se inscreveram para trabalhar dos Jogos. “É muito desafiador”, diz a dra. Cátia Cristina Gomes Gonçalves, de 33 anos, uma das profissionais selecionadas. “Participar da primeira [Olimpíada] a ser realizar na América do Sul representa um marco profissional e uma grande oportunidade de demostrar a capacidade técnica do profissional farmacêutico brasileiro.”
“É uma oportunidade fantástica, um desafio que ainda nos assusta. Visão mundial, que poucos profissionais já pensaram em poder experimentar”, explica o dr. Gustavo Teixeira Lemos, de 36 anos, outro selecionado, que, além de farmacêutico, é biólogo.
Ambos os farmacêuticos creditam ao currículo e a um bom networking a oportunidade de pertencerem à equipe olímpica da farmácia. “Devido a minha formação e experiência profissional, pude integrar o grupo de consultoria de farmácia no planejamento e organização”, conta a dra. Cátia.
Ela é graduada em Farmácia com especialização em Farmácia Hospitalar pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialização em Vigilância Sanitária em Saúde pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Cecovisa). O dr. Gustavo é coordenador de farmácia de organização social do Rio de Janeiro, que administra nove UPAs, três hospitais e clínicas da família, com quadro de 40 farmacêuticos plantonistas e 65 diaristas.
O bom currículo também é o forte do dr. Guilherme Carvalho de Faria, de 29 anos, farmacêutico generalista e homeopata. Os três passaram pelas fases de candidatura no site do evento, compostas por seleção online, inscrição, análise curricular e, na etapa final, foram entrevistados pelos gestores do setor de Serviços Médicos do Comitê Organizador Rio 2016.
“Participar desse evento representa uma oportunidade única, uma experiência a ser levada para a vida toda”, define o dr. Guilherme.

ATENÇÃO ESPECIAL
guilhermeFarmacêutico generalista e homeopata, dr. Guilherme Carvalho de Faria também participa do time dos farmacêuticos dos Jogos Olímpicos Rio 2016Atender a um perfil tão variado de pacientes já seria tarefa para poucos. Mas o grupo decidiu ir além, desenvolvendo um atendimento educativo aos atletas, sob a forma de uma Atenção Farmacêutica especial.
“A tarefa de conscientização da consultoria farmacêutica para atletas e não atletas implica demonstrar o quanto pode ser nociva a prática do uso indistinto de substâncias e da automedicação, algumas alterações nas funções do corpo podem, inclusive, ser irreversíveis, e o uso de medicamentos para tratar efeitos colaterais podem ser para vida toda. Além disso, os efeitos psicológicos que o atleta pode sofrer após a descoberta por exames de doping, às vezes, são desastrosos”, explica o dr. Guilherme.
A “consultoria” farmacêutica aos atletas, prossegue a dra. Cátia, “é de grande responsabilidade para os farmacêuticos, uma vez que são os responsáveis pela guarda, avaliação criteriosa na dispensação desses medicamentos e orientação farmacêutica”. “Deve fazer parte da rotina uma atitude educativa e instrutiva. De forma a não só advertir o atleta que solicite tais substâncias [que podem ser acusadas em exames antidoping], mas também a instruí-lo no que podem causar”, diz.

CARREIRA
gustavoAlém de voluntário nos jogos, dr. Gustavo Teixeira é coordenador de farmácia de uma organização social do Rio de JaneiroOs três profissionais citam, cada qual a sua maneira, o desejo de serem referências para os farmacêuticos brasileiros como uma das maiores motivações para se inscreverem na seleção. “Servir de exemplo como profissional farmacêutico é o que mais almejo, tanto para futuros profissionais quanto para a minha família”, diz o dr. Guilherme.
Para atingir o pódio farmacêutico, os três têm opiniões firmes quanto ao perfil do profissional brasileiro e dão dicas sobre como se destacar na carreira. “Percebo uma atuação muito tímida, tanto pela visão dos demais, a falta de corporativismo com os colegas e uma formação não tão aplicada à prática”, analisa o dr. Gustavo. “Nas diversas entrevistas de recrutamento que costumo fazer, muitos dos novos colegas não são expressivos ou críticos, mas se colocam muito mais como operacionais, seguidores de rotina, do que aquele profissional crítico com visão macro de processos”, considera.
A dra. Cátia enxerga um grande espaço para a atuação dos Conselhos, em relação a outros países, na regulamentação dos diversos âmbitos da profissão. “Hoje, existem vários segmentos e diferentes funções exercidas pelo farmacêutico, sendo que todas tendem a uma atuação onde o fundamental é garantir o bem-estar do paciente”, pondera. “Seja qual for o segmento de atuação, o importante é que o profissional esteja em constante atualização dos seus conhecimentos, para poder acompanhar o mercado. Exercer sua criatividade, inovar e criar novas oportunidades”, conclui.

Por Wesley Alves

 

 

MULTIDÃO DE VOLUNTÁRIOS

 

voluntariosOs jogos olímpicos são um evento realizado com profissionais voluntários. Confira, abaixo, os números de novembro do ano passado, quando foi anunciada a lista dos aprovados na seleção, e que poderão ser alterados:


Inscritos:
240 mil pessoas

Selecionados:
50 mil

82% brasileiros
18% de estrangeiros, de 151 países

Principais países de origem dos estrangeiros:
Reino Unido, Rússia e China

Dos brasileiros:
46% do Rio de Janeiro
21% de São Paulo
6% de Minas Gerais
4% do Distrito Federal
3% do Rio Grande do Sul
20% dos demais estados

Perfil:
55% mulheres
45% homens
40% até 25 anos
40% de 25 a 46 anos
20% a partir de 46 anos

Escolaridade
30% superior incompleto
25% superior completo
15% especialização completa
12% mestrado e doutorado
10% médio completo
5% médio incompleto
2% escola técnica completa
1% fundamental
Ocupação:
40% trabalham
38% estudam
8% são autônomos
5% aposentados
3% desempregados
1% domésticos
5% outros

Áreas:
Saúde, esportes, imprensa e comunicação, apoio operacional, protocolo e idiomas, transporte, atendimento ao público, tecnologia e produção de cerimônias

Farmacêuticos:
Cerca de 60 profissionais

 

 

 

 

 

     

     

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