PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 124 - JAN - FEV / 2016
TÉCNICA E PRÁTICA
Atenção ao salicilato
Vilão em caso de dengue, o ácido acetilsalicílico também exige cuidados por interagir com outros medicamentos
Certamente, o ácido acetilsalicílico, principal salicilato, é um dos medicamentos mais lembrados quando se trata de dor de cabeça, por exemplo. Indicado para dores de intensidade leve a moderada como as de dente, garganta, costas e articulações, também importante na terapia do infarto do miocárdio, requer atenção em relação às interações.
O ácido acetilsalicílico é resultado da síntese entre ácido salicílico e anidrido acético, descoberta pelo químico Felix Hoffmann, da Bayer, em 1897. Dois anos depois, a empresa obteve patente com o nome de Aspirina®. Esse medicamento, isento de prescrição, muda seus efeitos de acordo com a dose utilizada. A partir de 500mg, exerce seus efeitos anti-inflamatório, antipirético e analgésico. Quando usado em doses mais baixas, 100mg ou 200mg, inibe a ação das plaquetas do sangue.
Essa ação que inibe a função das plaquetas torna o medicamento contraindicado para pacientes com dengue ou qualquer outra doença que curse com plaquetas baixas como a púrpura trombocitopênica idiopática. Com a dengue, o número de plaquetas pode baixar e, se o ácido acetilsalicílico desativá-las, o risco de complicação hemorrágica pode se intensificar.
Ele também não deve ser tomado em caso de doenças como catapora (varicela) e gripe, principalmente por crianças e adolescentes, devido ao risco do aparecimento da síndrome de Reye, doença grave que ocasiona edema cerebral e insuficiência hepática fulminante. É preciso atentar-se também para o uso crônico de ácido acetilsalicílico em doses de 3-4 vezes/dia, o que pode acarretar anemia ferropriva.
REAÇÕES ADVERSAS
Os efeitos adversos do ácido acetilsalicílico são extremamente raros em baixas doses. Em doses terapêuticas, é comum a ocorrência de algum sangramento gástrico, geralmente mínimo.
Já em doses mais altas, pode ocorrer tonteira, surdez e zumbido (“salicilismo”), além de alcalose respiratória compensada. Em doses tóxicas, pode haver acidose respiratória não compensada com acidose metabólica, particularmente em crianças. Pacientes com sangramento ou distúrbios hemorrágicos ativos significativos não devem utilizar o medicamento, pois pode interferir na coagulação por inibir a agregação plaquetária irreversível e prolongar o tempo de sangramento.
Por Thais Noronha (com informações da assessora técnica do CRF-SP, dra. Amouni Mourad)
PRINCIPAIS INTERAÇÕES DO ÁCIDO ACETILSALICÍLICO
Com ácido fólico – Pode diminuir a absorção do ácido, componente essencial para o organismo cuja falta pode levar à anemia megaloblástica.
Com metotrexato - Pode aumentar os níveis séricos e a toxicidade do metotrexato.
Com o ácido valproico - Pode deslocar o ácido valproico dos sítios de ligação, o que pode acarretar toxicidade.
Com agentes antiplaquetários, agentes trombolíticos, anticoagulantes orais (varfarina, heparina e heparinas de baixo peso molecular) - Pode aumentar o risco de sangramento.
Com verapamil – Pode prolongar o tempo de sangramento.
Com AINEs - Pode causar redução da concentração sérica dos AINEs.
Com ibuprofeno e provavelmente outros inibidores da COX-1 – Esses medicamentos podem reduzir os efeitos cardioprotetores do ácido acetilsalicílico.
Com alimentos - Pode fazer com que o medicamento demore mais para ser absorvido, porém, não anula o efeito do ácido acetilsalicílico.
Com frutas secas contendo vitamina C – Essas frutas deslocam o medicamento dos sítios de ligação, acarretando aumento da excreção urinária de ácido acetilsalicílico.
Com álcool – O consumo intenso pode aumentar os riscos de sangramento.
Com ervas – A hipernatremia é resultado do uso de soluções tamponadas de ácido acetilsalicílico ou de salicilato de sódio contendo grandes quantidades de sódio. Deve-se evitar o uso concomitante com alho, angélica chinesa, artemísia, castanha-da-índia, chá verde, gengibre, ginseng, gingko, prímula, trevo-vermelho e unha-de-gato, pois estes possuem atividade antiplaquetária.
Fontes:
http://www.drugs.com/drug-class/salicylates.html
http://www.mdsaude.com/2010/07/aspirina-aas.html
http://www.drugs.com/disease-interactions/aspirin,acetylsalicylic-acid.html
http://www.medicinanet.com.br/bula/254/acido_acetilsalicilico.htm
Fascículo II - Medicamentos Isentos de Prescrição / Projeto Farmácia Estabelecimento de Saúde / CRF-SP: Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo; Organização Pan-Americana de Saúde - Brasília, 2010.
RANG, 2001; GOLDMAN, 2008