PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 124 - JAN - FEV / 2016
COMISSÕES ASSESSORAS/ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS
Medidas de emergência contra o zika
Ministério da Saúde disponibiliza 500 mil testes, porém, modelo atual, que não se baseia em sorologia, limita o alcance da medida
Enquanto população e autoridades de saúde se assustam com o crescente número de casos de microcefalia atribuídos ao zika vírus e a ciência ainda não desenvolve uma vacina capaz de combater a doença, o país reforça o combate ao mosquito Aedes aegypti e propõe ações necessárias para a proteção da população e de vigilância epidemiológica, acompanhando dados das infecções. Para isso, o Ministério da Saúde está aumentando a capacidade da realização de exames nos laboratórios públicos.
Serão distribuídos 500 mil testes para realizar o diagnóstico de PCR (biologia molecular) para o zika. Produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o chamado Kit NAT discriminatório para dengue, zika e chikungunya, permite realizar a identifi cação simultânea do material genético para os três vírus, evitando a necessidade de três testes separados.
Antes, o diagnóstico do zika vírus era feito com uso da técnica de PCR em tempo real, que identifica a presença do material genético do vírus na amostra. Para isso, são usados reagentes importados, e, para descartar a presença dos vírus dengue e chikungunya, é necessário realizar cada exame separadamente.
A nova técnica garantirá maior agilidade para o diagnóstico realizado na rede de laboratórios do Ministério da Saúde, além de reduzir os custos e permitir a substituição de insumos estrangeiros por um produto nacional.
Inicialmente, 250 mil unidades serão entregues para 27 laboratórios, sendo quatro de referência e 23 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen). A previsão é que os outros 250 mil testes estejam disponíveis a partir do segundo semestre.
Segundo a dra. Marion Coting Braga, membro da Comissão Assessora de Análises Clínicas e Toxicológicas do CRF-SP, o farmacêutico é um profi ssional que possui condições de realizar as técnicas laboratoriais de diagnóstico disponíveis. “Se o laboratório possuir o aparelho, materiais e reagentes, além de profi ssionais capazes de realizar os exames, é possível realizar essa técnica, seja o laboratório particular ou pertencente à rede pública, seguindo as boas práticas e utilizando controles de qualidade adequados”, explica.
O diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, ressaltou que a ampliação da capacidade de testagem do zika permitirá maior representatividade e segurança para que sejam estudadas as tendências do vírus. “Quanto mais amostras forem analisadas semanalmente, mais informações teremos para avaliar o modelo de vigilância do zika e, assim, realizar adaptações, caso necessárias”, disse.
SOROLOGIA
O novo Kit NAT, porém, funciona por PCR, sigla de Polymerase Chain Reaction –detecção de segmentos de material genético do vírus — e só é capaz de detectar os patógenos durante o período de infecção viral, que dura apenas alguns dias.
A Fiocruz e outros institutos de pesquisa do país ainda buscam maneiras de criar um teste do zika por sorologia, que avalia a reação do sistema imune do paciente. Esse tipo de teste, mais prático de realizar e capaz de identifi car infecções passadas, por enquanto, só existe para dengue e chikungunya.
Só com o teste por sorologia, que pode ser realizado em postos de saúde, cientistas têm como começar a fazer um mapa mais preciso da disseminação do zika no país. Com a sorologia, grávidas em estágio avançado também poderão saber se tiveram ou não o vírus no início da gestação, com risco de comprometimento neurológico para o feto. Atualmente, existe forte suspeita da relação entre zika e microcefalia.
A recomendação do Ministério de Saúde é que sejam priorizadas, para a realização do teste, mulheres grávidas com sintomas do vírus zika, gestantes com bebê microcefálico, além de recém-nascidos com suspeita de microcefalia.
Por Carlos Nascimento