PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 124 - JAN - FEV / 2016
XVI ENCONTRO PAULISTA
Debate sobre rumos da profissão e ética marcam o 20 de janeiro
De forma oportuna, essa reflexão foi o fio condutor do evento que abriu a programação do XVI Encontro Paulista de Farmacêuticos, o seminário “Farmácia: Que futuro estamos construindo? ”, realizado no Dia Nacional do Farmacêutico (20 de janeiro), na capital. Na oportunidade, o auditório lotado por cerca de 500 farmacêuticos também foi presenteado com uma apresentação sobre ética com um dos mais importantes palestrantes do país sobre o assunto, o professor-doutor da Unicamp e historiador Leandro Karnal (confira entrevista nas páginas 23 a 25). O seminário foi transmitido simultaneamente pela internet.
Na abertura do evento, o presidente do CRF-SP, dr. Pedro Menegasso, lembrou que o Dia do Farmacêutico é o momento não só de celebrações, mas, sobretudo, uma oportunidade de falar também das dificuldades da Farmácia, estabelecendo reflexões sobre os principais desafios a serem enfrentados. Ministrante da palestra “Superando desafios e dificuldades: o farmacêutico como promotor da saúde”, o presidente do CRF-SP salientou: “Não adianta apenas termos uma legislação que favorece a farmácia. É preciso mudar questões culturais, pois neste país é necessário trabalhar duro para que uma lei funcione. ”
Para debater sobre o futuro da Farmácia associada à construção do país e articulada às políticas de Estado, o seminário teve a participação de especialistas em diversas áreas que discorreram sobre a necessidade de inovação na área farmacêutica e ampliação do acesso racional aos medicamentos e cuidados à saúde. Para tanto, as reflexões foram divididas sob duas óticas essenciais ao farmacêutico: a tecnologia em saúde e o cuidado à saúde com foco no paciente.
Sob a primeira ótica, os debates giraram em torno de questões como pesquisa, desenvolvimento e inovação incremental e radical, patentes e propriedade intelectual, e a forma como a educação pode impactar na construção do futuro da farmácia. Já o aspecto voltado para o cuidado à saúde com foco no paciente ficou para a segunda parte das apresentações, que abordaram a história da farmácia clínica no Brasil e sua relação no planejamento e atenção ao paciente.
Por Renata Gonçalez, com informações de Carlos Nascimento e Mônica Neri
PATROCÍNIO E APOIO
VISÕES DO FUTURO
“Precisamos mudar o olhar para a saúde pública. Hoje, cerca de um terço da população tem doenças crônicas e, à medida que cresce a quantidade de idosos, maior o custo para o sistema de saúde. O sistema de saúde brasileiro foi configurado para tratar doenças agudas, não as crônicas. Ao ampliar os cuidados, reduzimos o custo da saúde. É simples, mas não estamos conseguindo fazer isso”
DR. CASSYANO JANUÁRIO CORRER, pesquisador e professor do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
“Em 1965, houve uma descaracterização do curso de Farmácia no mundo, abrindo novas áreas de atuação, entre elas, a Farmácia clínica, que iniciou nos Estados Unidos. No Brasil, a Farmácia clínica chegou em 1977, no curso de Farmácia da UFRN e hospitais de São Paulo. Em 1981, ocorreu o primeiro Seminário no Brasil da área e, em 1983, o primeiro curso brasileiro de Farmácia clínica”
DR. TARCÍSIO JOSÉ PALHANO, assessor do Conselho Federal de Farmácia (CFF)
“A maior importância do farmacêutico clínico é, sem dúvida, que ele pode salvar vidas por meio de seu conhecimento em reconciliação medicamentosa, educação ao paciente, risco de flebite, desinvasão, antibioticoterapia, melhores vias de administração, necessidades de inclusão de medicamentos, acompanhamentos de exames, interação medicamentosa, entre outras atividades. Para isso, é importante que o farmacêutico clínico estude muito, saiba trabalhar na equipe multidisciplinar, tenha boa comunicação, seja dinâmico, tenha criatividade, seja proativo, e, principalmente, tenha responsabilidade”
DRA. PAOLA NICOLINI, supervisora de Farmácia Clínica do Hospital Samaritano
“As diretrizes curriculares do curso de Farmácia já deram as indicações para que os cursos aprimorem os cuidados ao paciente. Minha experiência como avaliador de cursos, a partir das diretrizes de 2002, é que houve uma padronização. Não posso ter um curso que trate de um paciente no Rio Grande do Sul em comparação com o Amazonas, por exemplo. A população é diferente, os problemas são diferentes. O desafio é fazer com que as diretrizes sejam revisadas. As escolas precisam inovar”
PROFº DR. FERNANDO DE SÁ DEL FIOL, reitor da Universidade de Sorocaba (Uniso)
“Hoje se fala muito em inovações, mas lamentavelmente se pratica pouco porque esbarra em obstáculos da própria universidade, que não tem interesse, e também de órgãos como a Anvisa, que agora parece estar recebendo esse tipo de debate com mais abertura”
DR. DANTE ALÁRIO JÚNIOR, sócio-diretor da Biolab Sanus e sócio da Orygen Biotecnologia
“Empresas inovam porque precisam se diferenciar. A questão da propriedade intelectual existe para garantir os benefícios sobre o investimento que envolve a pesquisa e a indústria. Depende muito de propriedade intelectual. Se eu quiser colocar meu produto no mercado, eu tenho direito à propriedade da patente por um tempo pré-determinado. Vocês podem nunca trabalhar com patentes, mas é um conhecimento que todo farmacêutico deve ter”
DR. HENRY JUN SUZUKI, sócio-diretor da Axonal Consultoria Tecnológica
“Quanto você fala sobre o desenvolvimento de um medicamento, é necessário uma série de testes pré-clínicos e clínicos que, sem eles, o produto não pode ser inserido no mercado. É nesse processo que se conhece a segurança e a efetividade do medicamento, bem como os riscos embutidos. A área é ampla, e o farmacêutico pode atuar em todo o processo. O mundo já nos observa como profissionais de muito valor, com brasileiros atuantes em diversos estudos globais”
DR. JOSÉ EMILIO S. NETO, diretor estratégico da Quintiles e diretor-secretário da Abracro
“Temos a conceituação pela OMS e pela FIP do farmacêutico sete estrelas e eu adicionaria a ele características como habilidades técnicas e administrativas, além de muita atitude. A formação deve contemplar a atenção integral à saúde, recursos humanos e princípios éticos. Porém, ainda há falta de estímulo ao empreendedorismo, que é fundamental ao modelo de sociedade que vivenciamos. Esse profissional deve ter um perfil formador de oportunidades. Conhecimento da língua inglesa e vivência internacional complementam os requisitos ideais”
PROFª DRA. SUELY VILELA, professora de Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto
LANÇAMENTO DO XI FASCÍCULO
O seminário “Farmácia: Que Futuro Estamos construindo?” teve como destaque o lançamento do 11º fascículo da série Farmácia Estabelecimento de Saúde, com o tema “Consulta e Prescrição Farmacêutica”. A publicação aborda um assunto que recentemente tem sido um dos pilares da mudança de paradigma da profissão: a prescrição, inserida no contexto da atuação clínica do profissional. Paralelamente, nessa conjuntura, a consulta torna-se primordial para entender o problema do paciente e assim indicar a opção terapêutica mais adequada.
A exemplo das edições anteriores da série, o fascículo “Consulta e Prescrição Farmacêutica” conta com a chancela da Organização Pan-americana de Saúde (Opas) /Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para fazer download da publicação, acesse:
http://ow.ly/XOABI