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Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 121 - ABR-MAI / 2015 

 

Palavra do Ministrante - PESQUISA CIENTÍFICA

 

Métodos alternativos para avaliar medicamentos de uso tópico

 

 

Historicamente, na década de 1940, quando se iniciou uma maior preocupação das agências regulatórias em controlar os produtos que estavam sendo lançados no mercado, o cientista e farmacologista John Draize, chefe da divisão de toxicidade ocular do FDA – Food and Drugs Administration, nos Estados Unidos – desenvolveu um teste em coelhos que ficou eternizado com seu nome, isso é, Teste de Draize, onde o objetivo era determinar a irritação ocular induzida por medicamentos, cosméticos e outras substâncias químicas.03D15698

Conceitualmente qualquer animal pode servir à experimentação, no entanto, a prioridade é a utilização de um modelo que apresente melhor resposta a determinado estímulo, por sua maior sensibilidade, por sua facilidade de manejo e pela evidenciação do efeito ou por sua semelhança anatômica, fisiológica ou metabólica com o ser humano.

 

Os animais de laboratório deverão ser utilizados sempre que não existirem métodos alternativos validados que o substituam, ou, em casos específicos, após triagens (screenings) com métodos in vitro ou in silico. O que não é aceitável é, no caso de dúvida, utilizar um ser humano como cobaia para a realização de qualquer tipo de teste.

Na década de 1960, após a publicação do livro “The priciples of humane experimentation technique”, por William Russell e Rex Burch, foi criado o conceito e proposta dos “3 Rs – Replacement, Reduction, Refinement (Substituir, Reduzir, Refinar)” – que foram adotados pela comissão de ética do Reino Unido e adotado pelo governo dos Estados Unidos para liberar verbas de estímulo aos projetos de pesquisa em áreas biomédicas.

Em Agosto de 1999, na Universidade de Bologna, durante o “3º Congresso Mundial de Métodos Alternativos e Uso de Animais nas Ciências da Vida”, foi elaborada a “Declaração de Bologna”, a qual todos os participantes do congresso fortemente endossaram e reafirmaram os princípios de Russell e Burch, de 1959.

Quando falamos em “Replacement” (Substituição), queremos dizer técnicas que venham a substituir o uso de animais nas metodologias que hoje estão em vigência, e isso se aplica tanto na esfera científica quanto na educacional.
Quando falamos em “Reduction” (Redução), queremos dizer que as técnicas possam manter a mesma reprodutibilidade e exatidão nos seus resultados utilizando um número mais reduzido de animais do que seria o recomendado pela técnica anterior. Nesse contexto, sabemos que o método estatístico utilizado tem um papel chave e irá especificar o número mínimo de animais que poderá ser utilizado.

Quando falamos em “Refinement” (Refino), queremos dizer que será minimizado ao máximo as condições que possam causar algum dano, estresse ou desconforto ao animal durante o período do experimento. As condições ambientais, de manuseio, evitar grandes sequelas, são alguns exemplos de abordagens relacionadas a esse processo.

Na década de 1980, iniciou-se a criação de entidades relacionadas ao tema e a mais emblemática e referência é o ECVAM – European Center of Validation in Alternative Methods – que acelerou a validação das metodologias que hoje são utilizadas no mundo todo. A partir da Europa, iniciou o processo de redução e refinamento. A partir de 2009, de substituição dos testes em animais na área cosmética, que foi concluído somente agora em março de 2013. Resultando desse processo, veio a criação na década de 1990 do ICVAM nos Estados Unidos, na década de 2000 do JACVAM no Japão e, em 2011, foi criado o BraCVAM no Brasil.

Sobre esses pontos firmados, concluímos que há uma demanda social, científica, regulatória e ética que precisa ser considerada, sob pena de inviabilizarmos um projeto de avanços tecnológicos, humanização e modernização crescente do empreendimento científico. Sendo assim, precisamos fomentar e contribuir com o desenvolvimento de métodos alternativos no Brasil, e colaborar com a capacitação, atualização e interface de profissionais, empresas e academia. O desafio de limitar, ao mínimo possível, ou até mesmo eliminar, o uso de animais em alguns ramos da pesquisa científica, foi lançado à ciência, em um bem-vindo contexto de crescente debate e reflexão. Com dedicação e colaboração de todos, estamos certos que progrediremos nos métodos alternativos à experimentação animal.

 

 

 

  

JADIRNUNES-3DR. JADIR NUNES é farmacêutico-bioquímico com mestrado e doutorado em Farmacotécnica/Cosmetologia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP; é professor e coordenador do curso superior de Tecnologia em Cosméticos da Faculdade de Tecnologia Oswaldo Cruz e presidente da Sociedade Brasileira de Métodos Alternativos à Experimentação Animal.

O dr. JADIR irá participar do simpósio Métodos Alternativos na Avaliação da Segurança de Ingredientes Cosméticos no XVIII Congresso Farmacêutico de São Paulo

  

 

 

   

 

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