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Revista do Farmacêutico

PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 121 - ABR-MAI / 2015 

 

Palavra do Ministrante - PESQUISA CIENTÍFICA

Ácidos graxos ômega 3: propriedades funcionais

 

 

 

Os ácidos graxos, presentes nos triglicérides, podem se apresentar como saturados e insaturados. Os primeiros não possuem duplas ligações ente os carbonos, enquanto que os insaturados possuem uma ou mais duplas ligações, normalmente com a posição cis, apresentando os átomos de hidrogênio correspondentes do mesmo lado.
Entre os ácidos graxos insaturados, existem dois poli-insaturados, que possuem mais de uma dupla ligação na sua estrutura, e são considerados essenciais para o organismo humano e denominados de ácidos linoleico e (C18:2ω6) e α linolênico (C18:3ω3), pertencentes às famílias ω6 e ω3 de ácidos graxos, respectivamente. A essencialidade desses ácidos graxos é caracterizada pela necessidade de fornecê-los ao organismo através da dieta, pois este não tem a capacidade de sintetizá-los.
ISS 10396 01614Os ácidos graxos ômegas 3 são caracterizados pela presença de duplas ligações na estrutura molecular. A posição da primeira dupla ligação a partir do carbono metílico estabelece a numeração dos ácidos graxos ômegas. São três os principais ácidos graxos da série ômega 3, o ácido alfa linolênico (ALA), contendo 18 átomos de carbono e três duplas ligações intercaladas por carbonos metilênicos, esse ácido graxo é essencial e precursor dos ácidos graxos ômega 3: eicosapentaenóico (EPA), com 20 átomos de carbono e 5 duplas ligações e do docosahexaenóico (DHA), com 22 átomos de carbono e 6 duplas ligações. Os ácidos graxos EPA e DHA estão presentes em maior quantidade nos pescados, principalmente os das regiões mais frias.
Alguns aspectos devem ser destacados com relação aos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa da série ômega 3, isso é a relação dos mesmos com a saúde cardiovascular, mais especificamente o EPA. Eles competem com o ácido araquidônico na formação da prostaciclinas , tromboxanos e leucotrienos, produzem inibição da agregação plaquetária (efeito antitrombótico), estimulam a vasodilatação, e apresentam propriedades anti-inflamatória pela redução da quimiotaxia dos leucócitos. Em nível hepático, inibem a síntese de triglicerídeos e a secreção da VLDLs (lipoproteínas de muito baixa densidade), favorecendo a secreção hepática de VLDLs de menor tamanho, que se transformam em LDLs de maior tamanho, que não são consideradas aterogênicas. Atribui-se a eles também o estímulo do transporte reverso do colesterol, favorecendo a sua captação pelo fígado e a sua eliminação pela via biliar.
Os ácidos graxos EPA e DHA estão relacionados com a prevenção de problemas circulatórios, fato observado em diversos estudos de COORTE em populações saudáveis. Ensaios clínicos randomizados, em curto prazo, do consumo de EPA+DHA em níveis farmacológicos, indicam efeitos favoráveis nas medidas fisiológicas de risco cardiovascular, incluindo pressão arterial, frequência cardíaca de repouso, níveis de triglicérides e variabilidade da frequência cardíaca. A presença desses ácidos graxos no organismo está relacionada com a redução da viscosidade do sangue, aumento do relaxamento do endotélio das artérias coronárias, além de estarem associados ao aumento de genes que participam da regulação da homeostase como: o da enzima 7alfa-hidroxilase, o do receptor sequestrante tipo B1 e do o do receptor de LDL.
Os AGPI-CL, destacando-se o DHA, são essenciais para o sistema nervoso central. Além disso, também desempenham papel potencialmente significativo na modulação dos processos de desenvolvimento do ser humano.
A deposição dos AGPI-CL no feto é rápida, sendo que a insuficiência desses nas membranas pode levar a uma incapacidade específica de crescimento do cérebro e provocar danos irreparáveis, afetando o desenvolvimento da acuidade visual e aprendizagem. Estudos sugerem que a função da retina e a capacidade de aprendizagem podem ser prejudicadas se houver redução no acúmulo de DHA durante a vida intra-uterina.
Diversas organizações internacionais recomendam a ingestão de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa (EPA + DHA), sendo esses valores estipulados na faixa de 200 mg a 700 mg por dia.
No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda o consumo de peixe, no mínimo, duas vezes por semana, porém não apresenta diretrizes específicas para o consumo dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa: EPA e DHA.
Os ácidos graxos ômegas têm sido muito estudado por diferentes grupos de pesquisas e inúmeros avanços foram alcançados nas recomendações nutricionais pertinentes às suas propriedades fisiológicas.

 

 

  

JorgeMancineFEdAbril

DR. JORGE MANCINI FILHO é professor titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, da qual é ex-diretor (2000-2004 e 2008-2012), e assessor científico da
Fapesp, Capes e CNPQ.

O dr. Jorge irá participar do simpósio Alimentos Funcionais no XVIII Congresso Farmacêutico de São Paulo

  

 

REFERÊNCIAS
MANCINI-FILHO, J. Alimentos Funcionais nas Doenças Cardiovasculares. In. Alimentos Funcionais, Brunoro Costa, NM; Rosa COB. ed, Viçosa, MG. 2010, p.99.

MELO, ILP; SILVA, AMO; MANCINI-FILHO,J. Lipídios. In: Bases Bioquímicas e Fisiológicas da Nutrição. Cozzolino, S.M.F. & Cominetti,C. Manole ed. 2013, p.75.

 

 

 

 

   

 

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