PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 111 - ABR - MAI - JUN / 2013
Revista 111 Personagem - Dárcio Calligaris
Grandes feitos
Com 40 anos de experiência, dr. Darcio Calligaris se orgulha de ter contribuído com o desenvolvimento da indústria farmacêutica brasileira
Nascido no bairro do Brás, o farmacêutico neto de italianos dr. Darcio Calligaris não teve uma infância luxuosa. Filho de bancário e dona de casa, o senhor de 72 anos precisou se esforçar para conseguir realizar o sonho dos pais: seu estudo. “Para isso, tive que ralar para conseguir uma bolsa na escola Santo Agostinho (particular). Lá me formei no ginásio e no científico”, conta.
Para dar continuidade aos estudos, foi office-boy do Banco Nacional para pagar o cursinho pré-vestibular. Mas só quando foi trabalhar, ainda na mesma função, no Hospital do Servidor Público, em São Paulo, que escolheu sua profissão: “O hospital tinha uma farmácia bem estruturada, com laboratório moderno, e isso me motivou a ser farmacêutico”.
Assim, ingressou na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP aos 22 anos. Foi também com 22 anos que começou a atuar na indústria farmacêutica ao estagiar na ICN-Usafarma. No mesmo ano, foi promovido ao cargo de analista químico da empresa. “Apesar de não saber muito da área, eu tinha vontade de aprender.” Novato no emprego e calouro na faculdade, dr. Darcio já colhia os frutos da ascensão da indústria farmacêutica e comprou, ainda em 1972, seu primeiro carro: um Fusca 62.
A vida financeira prosperou, assim como a pessoal. Durante a faculdade, casou-se e teve um filho. Trocou de emprego ao ser convidado para supervisionar a produção da seção de sólidos orais, cremes, pomadas, líquidos e injetáveis dos Laboratórios Norwich Eaton. Ao se formar, ocupou os cargos de gerência da farmacotécnica e de farmacêutico responsável pela indústria. Como se tratava de uma multinacional, dr. Darcio recebeu treinamentos que depois o tornariam uma importante peça na ascensão da indústria farmacêutica nacional.
“Os farmacêuticos que foram trabalhar no setor industrial durante as décadas de 1960-70 foram os alicerces da indústria farmacêutica nacional. Nós introduzimos técnicas que aprendíamos com as multinacionais que aqui se instalavam e passávamos para as empresas do país”, afirma.
Com a crise de 1981, dr. Darcio foi trabalhar como gerente da Divisão da Produção na empresa nacional Sintofarma. No entanto, foi em 1985 que, enfim, mudou-se para seu emprego mais duradouro, na Fundação para o Remédio Popular (Furp), uma das indústrias mais modernas da época, com uma grande escala de produção, onde atuou entre 1985 e 2004.
Na Furp, foi chefe de Produção e de Desenvolvimento Técnico e um dos responsáveis pela produção nacional de uma grande linha de antirretrovirais e do imunossupressor Azatioprina, que até então eram comprados pelo Ministério da Saúde fora do país. Mas seu papel mais significativo na Furp foi a adaptação da área farmacotécnica da empresa para a produção dos genéricos e similares. “Com isso, fui um dos responsáveis por abrir o mercado da indústria para mais farmacêuticos. Acredito que o desenvolvimento de qualquer indústria farmacêutica necessita de farmacêuticos, assim como uma indústria de automóveis precisa de engenheiros para produzir um carro”, afirma.
Luta pela categoria
Além da vivência na produção e desenvolvimento da indústria, dr. Darcio é figura presente nas ações em prol do crescimento da profissão e da valorização do farmacêutico. Foi Membro da Comissão Permanente da Farmacopeia Brasileira, um dos fundadores do Prêmio Sindusfarma de Qualidade, participou da elaboração da resolução nº 249 da Anvisa para regulamentação dos Insumos Farmacêuticos e realizou mais de 100 cursos e seminários.Atualmente, participa voluntariamente do Comitê Sênior do CRF-SP, que discute os problemas dos farmacêuticos idosos, assim como conta com a experiência profissional dos membros do grupo para trazer novas ideias para a instituição.
Futuro
Hoje, dr. Calligaris tem uma consultoria farmacêutica e acompanha o andamento do setor industrial farmacêutico. Segundo ele, os rumos da indústria farmacêutica serão dados pelo avanço tecnológico e pela quebra de diversas patentes. Para quem deseja atuar na área, investir na pesquisa e no desenvolvimento são essenciais. “O farmacêutico precisa se preparar para a pesquisa e para o desenvolvimento. É aí que está o farmacêutico do futuro”, ressalta.
Mônica Neri
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