PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 111 - ABR - MAI - JUN / 2013
Revista 111 Farmácia Hospitalar
Eles fazem a diferença
Apoiados pela Santa Casa de Fernandópolis, farmacêuticos criam serviço de Farmacovigilância e se aproximam de equipe multidisciplinar
A rotina do farmacêutico hospitalar não é fácil, já que no hospital é preciso lidar com situações de sofrimento e, muitas vezes, com perdas; no entanto, os farmacêuticos da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, a 554 km da capital, fizeram com que esse dia a dia se tornasse gratificante e mais, mostraram o quanto o farmacêutico é fundamental dentro do ambiente hospitalar. A responsável técnica dra. Karina Paula Giacomini e o farmacêutico dr. Alan Maicon de Oliveira, do Núcleo de Vigilância Epidemiológica, trabalham na farmácia central e duas satélites para contribuir com a qualidade de vida dos pacientes. Dr. Paulo Roberto Prodocimo também deu sua contribuição, mas faleceu no dia 30 de março.
Há quatro anos no hospital, dra. Karina chegou apenas porque a fiscalização do CRF-SP havia passado por lá e constatado a ausência de farmacêutico. O que, na época, era para cumprir uma obrigação, hoje se tornou o grande diferencial da instituição, afinal, o trabalho dos farmacêuticos foi reconhecido pela Santa Casa, de quem conquistaram respeito e apoio.
As ações para gerenciamento de risco intensificaram-se no último ano com a chegada do dr. Alan, especialmente nas áreas de farmacovigilância, tecnovigilância e a recém-iniciada hemovigilância. “Temos um padrão de visitas a todos os leitos do hospital, três vezes por semana. Abordamos o paciente em relação a alguma reação adversa ao medicamento. Se o paciente tiver alguma, pesquisamos no prontuário qual medicamento pode ter causado a reação ou se é decorrente da própria patologia.”
As visitas resultam em pesquisas, relatórios e anotações junto à prescrição, como forma de indicativo aos médicos e outros membros da equipe de saúde. O mesmo ocorre quando são identificadas interações medicamentosas, especialmente na pediatria e na UTI. Os gráficos com as reações, critérios de causalidade, grau de risco e outros dados também ficam disponíveis para estudantes de medicina e a enfermagem. “No começo, a relação com os médicos foi árdua, mas chegamos aos poucos mostrando trabalho, sem impor nada, e hoje somos grandes parceiros.”
Os farmacêuticos são acionados sempre que surge alguma dúvida ou situação nova por parte da equipe. Um dos médicos, por exemplo, solicitou uma pesquisa sobre a efetividade da infusão prolongada de antimicrobianos. Outro caso foi a respeito de sedimentos com coloração rosa que surgiram na urina de um paciente da UTI; como a situação era desconhecida, os farmacêuticos pesquisaram e descobriram que se tratava de uma combinação entre cirurgia, medicamentos e alteração de pH, entre outros.
A tecnovigilância também tem sido explorada pelos profissionais, que testam equipamentos e materiais e, em caso de algum defeito, notificam, por meio do sistema Notivisa, da Anvisa e também comunicam a indústria. Um exemplo foi um soro que chegou com coloração diferente. “No começo foi difícil, hoje temos um respaldo maior dos fabricantes, que perceberam o quanto nosso alerta pode ajudá-los”, diz o dr. Alan.
A parceria também acontece junto à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, CCIH. Durante as visitas aos leitos são observados os equipamentos médicos no paciente, assim como identificação, instalação e tempo de uso. Os relatórios são disponibilizados à enfermagem, assim como orientações específicas para evitar erros de medicação, todas respaldadas na literatura. “Pensamos na segurança do paciente; se a identificação é correta, diminuem as chances de erro,” diz o dr. Alan.
Farmacêutico gestor
As atividades do farmacêutico no ambiente hospitalar vão além da visão assistencial. Hoje, é preciso ter uma visão ampliada e características de um gestor. Dra. Karina Giacomini destaca que, na Santa Casa, o farmacêutico está muito próximo do setor de compras, verifica a qualidade de medicamentos, escolhe e testa os materiais, gerencia os custos e contribui em aspectos administrativos e tomadas de decisão. Por ter 22 funcionários na farmácia, os conhecimentos em gestão de pessoas são importantes. “É preciso ter noções de administração, gestão de pessoas, vontade de aprender. Além disso, é fundamental querer estar junto ao paciente e ter coragem para enfrentar situações difíceis no dia a dia.”
A responsável técnica ressalta ainda que todos têm formação farmacêutica, mas o que diferencia é a vontade e o amor de cada um. “Foi um trabalho de formiguinha, há quatro anos não estávamos nem aqui e, hoje, nosso empenho se traduz no sorriso de um paciente, em uma palavra de gratidão. É isso que vale a pena.”
A afinidade com a equipe multidisciplinar também se torna aliada do bom andamento das atividades. As campanhas sobre os riscos de automedicação voltadas aos pacientes também são dirigidas aos colaboradores do hospital.
Farmacêutico 24 horas
Aos que pretendem seguir a carreira na área hospitalar, os farmacêuticos da Santa Casa de Fernandópolis avisam que é preciso dedicação integral, afinal, o telefone pode tocar a qualquer hora do dia ou da noite e a missão é estar sempre alerta para ajudar quem precisa. “Fico até feliz quando meu telefone toca no domingo de manhã e percebo o quanto posso ajudar alguém. A vida do paciente é o que temos de mais sagrado, é isso o que realmente importa”, finaliza o dr. Alan.
Thais Noronha
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