Manual de Orientação ao Farmacêutico - Cuidado farmacêutico humanizado no processo de hormonização de pessoas transexuais e travestisA sexualidade humana é formada pela combinação de fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Atualmente entendemos a sexualidade como um conceito dinâmico e multidimensional, abrangendo quatro elementos principais: identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual e sexo biológico. A comunidade LGBTQIAPN+ luta pelo reconhecimento e respeito às suas diferenças, diante de uma sociedade que ainda tem normas, que são facilmente influenciadas por dogmas religiosos, levando em muitos casos à exclusão e violência contra as pessoas da comunidade. Assim, se faz necessário entender os conceitos de identidade de gênero e expressão de gênero, afinal é através deles que as pessoas manifestam a sua identidade socialmente e percebem a si mesmas. Identificar-se como homem, mulher, ambos ou nenhum dos dois, independente daquele que lhe foi designado ao nascer, é o que classificamos como identidade de gênero. Já a forma que uma pessoa se manifesta socialmente, mesmo que não corresponda à sua identidade de gênero ou orientação sexual, é a expressão de gênero e engloba as expressões masculino, feminino, não binário e fluido (Polakiewicz, 2021 apud CRF-SP, 2024; CRF-BA, 2021).
Pessoas transgênero são aquelas cuja a identidade de gênero não corresponde ao gênero designado no nascimento, como por exemplo as mulheres trans ou travestis, que tiveram o sexo designado como homem no nascimento, mas se identificam e vivem como mulheres.Além das pessoas transgênero, temos também as cisgênero e as não binárias, reforçando que a identidade de gênero pode se manifestar de várias maneiras e é uma construção individual. Mulheres trans e travestis compartilham uma identidade de gênero feminina, não sendo definida pela cirurgia de redesignação sexual, utilização de hormônios ou características de feminilidade, qualquer distinção é subjetiva, estando ligadas a aspectos culturais, emocionais, ou ao significado político/discriminatório que cada termo pode adquirir, portanto ambas são mulheres e compartilham uma identidade de gênero feminina (Polakiewicz, 2021 apud CRF-SP, 2024).
Pessoas trans enfrentam discriminação e estigma social por não se enquadrarem nas normas de gênero aceitas pela sociedade, o que leva à desumanização e marginalização de sua identidade. Esse preconceito frequentemente impede que sejam reconhecidas em sua totalidade — como indivíduos com potencialidades e capacidade de ação. Em contextos de saúde, incluindo o cuidado farmacêutico, é essencial compreender e combater essa estigmatização para garantir que essas pessoas sejam atendidas de forma digna, inclusiva e respeitosa, considerando suas necessidades de forma integral (Tagliamento, 2015).
Essa diversidade de orientações e identidades de gênero contraria as expectativas sociais normativas, demonstrando que gênero e sexualidade são conceitos complexos e influenciados por fatores culturais, sociais e individuais (CRF-SP, 2024; CRF-BA, 2021; Tagliamento, 2015).