Da gengiva para as articulações
15/12/2016 - Correio Braziliense
Em todo o mundo, 1,5 milhão de pessoas — a maioria mulheres — vive com uma condição, dolorosa e debilitante, caracterizada pela destruição das cartilagens das articulações. Nas formas mais severas, a artrite reumatoide pode, inclusive, evoluir para inflamações vasculares e danos em órgãos internos, provocando morte prematura. Apesar dos avanços nos tratamentos, ainda não é possível atacar a doença de frente, pois as causas dela são desconhecidas. Agora, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, afirmam ter encontrado evidências de um importante mecanismo por trás da enfermidade, o que poderá levar ao desenvolvimento de novas terapias.
Em um artigo publicado na edição de ontem da revista Science Translational Medicine, a equipe do professor de reumatologia Felipe Andrade descreveu como uma bactéria conhecida por causar periodontite — uma inflamação crônica das gengivas — também pode desencadear o processo autoimune que caracteriza a artrite reumatoide. Doenças autoimunes são aquelas nas quais o organismo começa a se autoatacar de maneira exagerada diante de algum agente externo.
Segundo Andrade, muitos pacientes de artrite reumatoide também estão infectados pela bactéria Aggregatibacter actinomycetemcomitans. Aparentemente, esse patógeno induz a produção das chamadas proteínas citrulinadas, substâncias suspeitas de ativar o sistema imunológico, provocando os eventos que levam ao desenvolvimento da doença autoimune. De acordo com o reumatologista, a descoberta poderá ajudar a encontrar não só novos tratamentos, mas métodos preventivos. “Estamos colocando as últimas peças de um complicado quebra-cabeça que vimos montando há muitos anos”, diz o médico. “Esse estudo pode ser o mais perto que já chegamos das raízes da artrite reumatoide”, afirmou, em nota, Maximilian Konig, pesquisador do Hospital Geral de Massachusetts e primeiro autor do artigo.
A associação entre a doença periodontal e a artrite reumatoide vem sendo investigada desde o início da década de 1990, quando se levantou a suspeita, pela primeira vez, de que ambas as condições seriam provocadas por um mesmo agente. Acontece que os pesquisadores, aparentemente, estavam olhando para o micro-organismo errado. A maior parte dos estudos apontou para a bactéria Porphyromonas gingivali, também encontrada na cavidade oral de pessoas que sofrem de periodontite. A consequência foi que nenhum desses trabalhos conseguiu fazer a associação entre as complicações. “Mas nós persistimos e começamos a olhar para outras bactérias porque a relação entre a doença periodontal e a artrite reumatoide é muito intrigante”, conta Andrade.
ACÚMULO DE PROTEÍNAS
No estudo atual, Andrade contou com a colaboração de reumatologistas e especialistas em microbiologia periodontal, que se debruçaram sobre as duas enfermidades para encontrar novos denominadores comuns. Ao analisar amostras de bactérias coletadas em pacientes de periodontites, eles notaram um processo semelhante ao já observado anteriormente nas articulações de pessoas com artrite reumatoide. Trata-se da hipercitrulinação.
Em todas as pessoas, explica o médico, ocorre a cirtrulinação, um mecanismo natural que regula a função das proteínas. Contudo, nos pacientes de artrite reumatoide, o processo é exagerado e, como consequência, há um acúmulo anormal da substância. Para atacar o problema, o organismo produz anticorpos que, por sua vez, desencadeiam o processo inflamatório. O corpo passa a enfrentar os próprios tecidos, característica principal da doença. Segundo Andrade, entre os muitos patógenos relacionados à periodontite, a Aggregatibacter actinomycetemcomitans é a única a induzir a hipercitrulinação.
Esse processo acontece nos neutrófilos, células brancas do sistema imunológico enriquecidas pelas PADs, um grupo de enzimas necessárias para a regulação proteica. “Os neutrófilos são as células inflamatórias mais abundantes encontradas nas juntas e nas gengivas dos pacientes que, além da artrite reumatoide, têm doença periodontal”, explica Andrade. O médico afirma que a bactéria desencadeia a hipercitrulinação por meio da secreção de uma toxina que mata as células de defesa do organismo hospedeiro. “Essa toxina cria buracos na superfície dos neutrófilos, provocando um fluxo de grandes quantidades de cálcio dentro das células, onde, normalmente, essas concentrações são baixas. Como as enzimas PADs ativam-se justamente com o cálcio, a exposição abrupta a essa concentração faz com que elas fiquem hiperativas, levando à hipercitrulinação”, resume.
INFLUÊNCIA GENÉTICA
No estudo divulgado, os pesquisadores também desenvolveram um teste usando a bactéria e a toxina que ela produz para tentar detectar, no sangue, anticorpos especializados em combater a Aggregatibacter actinomycetemcomitans. Eles pegaram 196 amostras de tecidos de pacientes de artrite reumatoide, dos quais 92 deram positivo para a bactéria. O médico explica que nem todas as pessoas com o patógeno desenvolverão a doença autoimune. “A predisposição genética é crítica para ter a doença. Muitos genes foram associados à artrite reumatoide, sendo que o mais importante está relacionado ao chamado sistema HLA. Então, você precisa ter a bactéria e a predisposição genética”, diz Felipe Andrade, líder da pesquisa.
Licia Mota, presidente do Congresso da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) deste ano, pesquisadora e reumatologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB), explica que a influência dos microbiomas na autoimunidade é uma importante área de estudo, com diversos trabalhos a respeito, apresentados em congressos recentes. “A presença de bactérias provoca a citrulinação local, e é possível que isso tenha associação com o processo sistêmico inflamatório. Outros estudos também correlacionam bactérias à gravidade da artrite reumatoide”, diz. “Essas pesquisas abrem perspectivas de compreensão da doença, com potencial de novos tratamentos e intervenções pré-clínicas”, afirma.
Assim como o colega de Johns Hopkins, porém, Licia Mota ressalta que a enfermidade não tem uma única causa. “As doenças autoimunes são multifatoriais. Não é como outras infecções, uma gripe, por exemplo, desencadeada por um vírus. O fenômeno é muito mais complexo e exige predisposição genética e fatores ambientais. Se fosse só a presença da bactéria, a doença estava resolvida.”
Mulher na menopausa tem filho após transplante
15/12/2016 - O Globo
Jovem dá à luz bebê 15 anos após perder o ovário. Em pouco mais de três meses, Moaza Al Matrooshi passou de uma mulher em plena menopausa a grávida. A jovem de 24 anos fez quimioterapia aos 9 anos para se curar de uma espécie de câncer no sangue, fatal quando não tratado. Para manter alguma possibilidade de engravidar no futuro, os médicos retiraram um dos ovários da menina e o congelaram. Agora, ela é a primeira mulher do mundo a ter a fertilidade restaurada depois de um congelamento de ovário antes do início da puberdade.
O filho de Moaza nasceu terça-feira em Londres, na Inglaterra. Para a consultora em ginecologia e fertilidade que a atendeu, Sara Matthews, o caso da jovem dá esperança a outras mulheres que correm o risco de não serem mães por conta de tratamentos de câncer ou doenças imunológicas.
— Sabemos que o transplante de tecido ovariano funciona para mulheres mais velhas, mas nunca tivemos certeza se poderíamos pegar o tecido de uma criança, congelá-lo e fazê-lo funcionar novamente — comentou a médica à “BBC”.
Para Moaza, o nascimento de seu filho “é um milagre”.
— Nós esperamos tanto tempo para este resultado: um bebê saudável. Eu nunca deixei de acreditar que seria mãe, e agora esse é um sentimento perfeito — disse a jovem.
FERTILIZAÇÃO IN VITRO
No ano passado, cirurgiões na Dinamarca transplantaram cinco retalhos do tecido ovariano congelado no corpo de Moaza — quatro foram costurados em seu ovário esquerdo, e um do lado do útero. Após o transplante, Moaza e seu marido, Ahmed, passaram por tratamento de fertilização in vitro. Dos oito ovos coletados, três embriões foram produzidos, dois dos quais foram implantados no início deste ano.
Ataque ao vírus da zika.
15/12/2016 - O Globo
Pesquisadores chineses identificaram no sangue de um paciente que contraiu o vírus da zika dois anticorpos específicos contra o micro-organismo. Testes preliminares com camundongos mostraram ainda que os anticorpos foram capazes de proteger os animais contra a infecção. Segundo os cientistas, por se ligarem seletivamente ao vírus da zika e não a outros micro-organismos da mesma família, como o vírus da dengue, os anticorpos identificados são um passo importante na batalha da ciência para encontrar uma vacina ou tratamento para a doença. Isto porque eles ajudariam a evitar potenciais, e perigosos, efeitos colaterais destas eventuais futuras terapias, como o fenômeno do reforço na severidade da infecção por dengue e outros dos chamados flavivírus, muito comuns nas regiões atingidas pelo zika.
Retornando da Venezuela, onde foi infectado pelo vírus da zika, o paciente teve as amostras de sangue coletadas 20 dias depois do aparecimento dos primeiros sintomas. Nelas, os cientistas chineses primeiro isolaram todos os anticorpos que se ligassem ao vírus da zika, num total de 13, assim como os linfócitos B de memória, um tipo de célula de nosso sistema imunológico, que fabricavam cada um deles. Estes linfócitos foram então cultivados em laboratório (clonados) para produzirem mais anticorpos, por isso passando a ser denominados “monoclonais”.
De posse de um suprimento destes anticorpos monoclonais, os pesquisadores passaram então a testar como cada um deles se ligava ao vírus da zika, assim como sua reação aos quatro subtipos do vírus da dengue. E foi assim que, dos 13 anticorpos iniciais, eles acabaram com dois, batizados Z23 e Z3L1, que se ligavam exclusivamente ao vírus da zika, assim como um terceiro anticorpo monoclonal, Z20, que demonstrou apenas uma leve “afinidade” pelos subtipos do vírus da dengue. Análises estruturais indicaram que estes dois primeiros anticorpos se ligam a um chamado epítopo — uma pequena estrutura na superfície de um corpo estranho, como um vírus ou bactéria —, presente apenas no que é o chamado “envelope” do vírus da zika, que ele usa para se disfarçar de nosso sistema imunológico e facilitar a invasão de nossas células.
Assim, os cientistas decidiram investigar a eficácia de cada um destes anticorpos no combate à infecção pelo vírus da zika. Para isso, eles usaram camundongos geneticamente alterados para que seus sistemas imunológicos não identifiquem invasões por micro-organismos deste tipo. Distribuídos aleatoriamente em cinco grupos de três a cinco animais, eles foram primeiro deliberadamente infectados com o vírus da zika. Um dia depois, cada grupo recebeu uma injeção, com os anticorpos Z23, ou o Z3L1, ou o Z20, ou um anticorpo genérico (2G4) ou uma solução salina inócua, com os dois últimos servindo como grupos de controle.
SEM DANOS NEUROLÓGICOS
No experimento, os cientistas verificaram que, passados 14 dias, nenhum dos camundongos que recebeu os anticorpos específicos para o vírus da zika, Z23 ou Z3L1, desenvolveu qualquer sinal da doença, caracterizado por sintomas neurológicos ou uma perda de massa corporal acima de 20% da que tinham no início da experiência. Já no grupo que recebeu o anticorpo Z20, quatro dos cinco animais tratados sobreviveram à infecção, com nenhum deles perdendo mais de 10% do peso original. Pior sorte, no entanto, tiveram os camundongos dos grupos de controle. Dos que receberam do anticorpo 2G4, todos acabaram perdendo cerca de 20% da massa corporal, sendo que quatro foram sacrificados oito dias após a infecção ao apresentarem sintomas neurológicos, enquanto todos que receberam as injeções da solução salina logo apresentaram tanto perda de peso severa quanto sintomas neurológicos, sendo sacrificados com apenas sete dias de curso da experiência.
De acordo com os cientistas, embora o Z23 e o Z3L1 tenham protegido os camundongos de desenvolverem zika mesmo sendo administrados depois da infecção pelo vírus, o experimento não permitiu verificar se as injeções também ativaram outros mecanismos de defesa além da neutralização direta do micro-organismo, o que vai depender de futuras pesquisas. Ainda assim, eles esperam que as descobertas ajudem a guiar o desenvolvimento de linhagens de anticorpos monoclonais para o ataque à epidemia global de zika, que desde que chegou no Brasil em 2015 já atingiu mais de 80 mil pessoas em 69 países ou territórios.
1 em 3 cidades tem prontuário eletrônico de saúde.
15/12/2016 - O Estado de S.Paulo
Levantamento divulgado ontem pelo Ministério da Saúde mostra que 140 cidades adotaram em dois meses um sistema de prontuário eletrônico, que reúne informações sobre atendimentos realizados na atenção básica. Com a mudança, sobe para 37% o porcentual de municípios que passam a adotar essa estratégia, considerada pelo governo essencial para melhorar a qualidade da informação e o controle de gastos.
Lançado há dois meses, o programa de prontuário eletrônico pretende que todas as unidades básicas de saúde do País passem a funcionar de forma integrada, por meio do uso de sistemas informatizados. A ideia é que todas informações dos pacientes fiquem em um banco, o que permitiria aos profissionais terem acesso a histórico, sintomas, exames realizados, remédios usados. A ideia não é nova. Há pelo menos 15 anos o ministério anuncia investimentos para integrar informações.
A iniciativa anunciada pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros há dois meses, teve como ponto de partida a oferta de um sistema, o e-Sus AB. As cidades tiveram dois meses para informar se adotariam o sistema, se já dispõem de um programa próprio ou se não têm condições técnicas e operacionais para, neste momento, integrar a rede.
De acordo com Barros, a maior parte dos municípios já apresentou a informação.
Se o dado não for informado, as prefeituras terão suspensos os repasses do Ministério da Saúde para financiamento da atenção básica. Até ontem pela manhã, 150 ainda não haviam enviado informações. “O prazo foi prorrogado. Não é nossa intenção suspender recursos.
Queremos sim ter acesso a informação sobre as razões que levam as prefeituras a não adotar os sistemas”, disse Barros.
Numa próxima etapa, a partir da análise das justificativas dos municípios que não adotaram os sistemas, o Ministério lançará estratégias para superar essas dificuldades. Entre as medidas estão a aquisição de equipamentos, capacitação de pessoal e ações para melhorar a conectividade da rede.
Pelas informações obtidas até agora, a maior dificuldade apontada pelos municípios é a falta de equipamentos para fazer a integração. Das 24.991 Unidades Básicas de Saúde distribuídas em 3.359 cidades que enviaram justificativas sobre atrasos na implementação, 85% disseram não possuir equipamentos, como computadores e impressoras, necessários.
A falta de conexão com internet foi outro problema apontado pela maioria dos serviços. O equivalente a 74% das UBS não têm conectividade. Também é comum a queixa de baixa capacidade dos profissionais para usar programa e falta de apoio para o sistema de tecnologia da informação.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse afirmar que, embora tímida, a ampliação dos serviços com prontuário eletrônico atinge as expectativas. “Sabíamos que dificuldades seriam encontradas.
O importante a partir de agora é tentar encontrar a solução.” De acordo com a pasta, nesses 60 dias, 2,4 milhões de brasileiros passaram a ser atendidos com prontuário eletrônico, cobrindo 28,5% da população.
Em todo o país, 11.112 UBS em 2.060 municípios utilizam o sistema eletrônico para transmissão de dados, alcançando uma cobertura de 57,5% da população brasileira.
UNIVERSALIZAÇÃO
O presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira, avalia que investimentos prometidos pelo Ministério da Saúde devem facilitar a universalização do prontuário. “Embora muitos municípios estejam em momento de transição de gestão, é possível chegar rapidamente a 100% deles com informatização das UBSs.”
Número de médicos em SP cresce mais do que o da população em geral
14/12/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O número de médicos no Estado de São Paulo cresceu em ritmo quase quatro vezes superior ao da população paulista nos últimos 35 anos, segundo censo do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de SP) divulgado nesta quarta-feira (14).
Enquanto a população paulista aumentou 78% entre 1980 e 2015, o número de médicos no Estado cresceu 287%, chegando a 124 mil profissionais, segundo o levantamento Demografia Médica.
Assim, o número de médicos chegou a 2,79 profissionais para cada mil habitantes –acima da média nacional, de 2,1, mas bem abaixo das médias do Rio de Janeiro (3,75) e Distrito Federal (4,9).
Esses profissionais, contudo, são mais comuns não só nos grandes centros urbanos, mas em áreas mais ricas das cidades. Na capital paulista, por exemplo, a densidade é de 4,58 médicos por mil habitantes. Ainda assim, faltam médicos para atuar na rede pública na periferia da cidade.
O presidente do Cremesp (conselho de medicina de SP), Mauro Aranha, avalia que a ausência de hospitais de médio e grande porte, com residência médica, e de planos de carreira adequados sejam os principais entraves para a baixa demanda de profissionais nas regiões mais periféricas da cidade.
"O que atrai os médicos jovens são as residências. Por isso, há grande concentração de médicos nas áreas mais centrais de São Paulo, o que cria um vazio populacional de médicos para atendimentos nos extremos sul e leste da cidade." Dessa forma, diz Aranha, o levantamento vai ajudar a direcionar e a subsidiar políticas públicas mais justas.
As cidades com mais médicos por habitante em SP são Santos (6,9 profissionais por mil pessoas), Botucatu (6,45), Ribeirão Preto (6,2), Presidente Prudente (5,82) e São José do Rio Preto (5,56) –em comum, essas cidades possuem cursos de medicina. Em todo o Estado, diz o conselho, há 46 faculdades de medicina.
Aranha afirma que o problema não está no número de faculdades, mas nos locais em que as novas instituições solicitam a abertura da unidade. Ele cita como exemplo o pedido de duas novas instituições na região de Santos.
"Em Santos já há duas faculdades de medicina, mas recebemos no último ano pedido de abertura para Cubatão e Guarujá. É absolutamente desnecessário. Seria melhor ter um programa de residência médica em áreas em que você não tem esse tipo de programa, com Vale do Ribeira, região próxima ao litoral norte."
Já a região mais provida de profissionais é a de Ribeirão Preto, com 3,32 médicos por mil habitantes, seguida pela Grande São Paulo, com 3,05 médicos por mil habitantes. As regiões mais carentes são a de Registro (0,86) e de São João da Boa Vista (1,37).
ESPECIALISTAS
De acordo com o censo do Conselho, 40% dos médicos não possuem especialização. As áreas em que mais procuradas são pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia obstetrícia. Segundo Aranha, essas são as áreas mais procuradas porque o pronto-socorro tem que ter essas áreas, além da alta demanda. Além disso, ele lembra que a pediatria está hiperespecializada, com poucos pediatras gerais, o que também dificuldade o atendimento.
Já medicina esportiva, radioterapia, cirurgia de mão e genética médica são as que têm o menor número de médicos especialistas. O presidente do Cremesp explica que o principal problema é a falta de especialistas em medicina da família e comunidade, que é a porta de entrada para a saúde.
"Há poucos profissionais para medicina da família, com poder de resolutividade de 70% a 80% das doenças. Na saúde da família há a prevenção e as doenças são tratadas no início, o que impede a evolução do quadro, além criar uma relação mais próxima com os pacientes." Aranha diz que investir na medicina da família fará com que haja barateamento dos custos e melhoria na efetividade no tratamento das doenças.
As mulheres estão à frente em áreas como dermatologia (são 77% dos profissionais), alergia e imunologia (72%) e pediatria (72%). Elas são maioria em 14 das 53 especialidades. Por outro lado, em 12 áreas cirúrgicas os homens são mais de 80% dos médicos, incluindo ortopedia e traumatologia (93%) e urologia (98%) –apenas 26 dos 1306 urologistas em atividade são mulheres.
Aranha diz que ocorre um processo de feminização na medicina –54% dos médicos com até 35 anos são mulheres. Contudo, o avanço do número de mulheres na área gera certa preocupação, como a diferenciação salarial por gênero e o aumento de estresse. "As mulheres médicas trabalham o mesmo tempo que os homens, mas ainda recebem menos. Os médicos, em geral, trabalham em três postos, e as médicas tem um quarto em casa"
Outro fato importante, diz Aranha, é o aumento dos casos de suicídios. "Diferentemente da população geral, o suicídio é duas a três vezes maior em médicas que em médicos. Na população geral, isso é ao contrário."
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STF, aborto e Estado de Direito
15/12/2016 - Folha de S.Paulo
A decisão da primeira turma do Supremo Tribunal Federal sobre a descriminalização do aborto poderia ser criticada por meio de diversos enfoques.
Optei por refletir sobre sua incompletude a partir da filosofia do direito, ao comprovar como a falta de razoabilidade pragmática leva a perder a conexão com a realidade, deixando-se de definir as coisas tal como são. Nesse sentido, refiro-me tanto à determinação do início da vida a partir dos três meses da concepção quanto ao direito sexual "fundamental" da mulher, em contraposição ao do nascituro.
Em filosofia estuda-se o ente em sua essência. No caso, o ser humano o é desde que começa a existir, ainda que sua potencialidade se atualize progressivamente. Não nos tornamos humanos por etapas.
O nascituro é um ser humano dependente de outro, não uma coisa, um animal, parte do corpo da mãe ou um amontoado de células. Sob um enfoque biológico, também poderíamos ser considerados dessa forma. O STF não tem competência científica para afirmar algo que nem em seu âmbito tem confirmação e basear sua decisão nessa criação artificial da "realidade".
Outro argumento sofismático é o da autonomia da mulher. De fato, as escolhas humanas são livres e responsáveis, englobando assim as consequências que geram. Nesse sentido, a decisão vem antes do ato sexual. Uma vez concebido o filho, a "autonomia" é deste, ainda que não possa exercê-la e deva ser protegido em seu direito de viver. Com certeza, se fosse perguntado, responderia positivamente.
O voto que atribui à mãe o "direito" sem fundamento jurídico, afirmando que toda pessoa deve ser tratada como um fim em si mesma e não como meio para satisfazer interesses de outrem, deveria ser antes aplicado ao nascituro, apoiado, este sim, pela Constituição.
E se acredita o relator que está protegendo a integridade física e psíquica da mãe, poderia fazer uma enquete fática sobre as consequências desse homicídio anti-humano nas mentes das ex-mães.
Um Estado democrático de Direito radica-se tanto no respeito à forma quanto em certos bens básicos reconhecidos, não atribuídos, pelo sistema jurídico, a começar pela vida. No plano sistêmico, a decisão é também lamentável, ao afirmar sem base legal que a Constituição não acolheu o Código Civil, que reconhece os direitos do nascituro desde sua concepção.
Um "rule of law" deve depender mais do direito do que de sua interpretação, porém não pode depender da imaginação de quem opera o direito.
Poderia ainda continuar discorrendo sobre o voto ambíguo em outros aspectos: procurar evitar a prática do aborto e descriminalizá-la simultaneamente; desconsiderar o nascituro como um bem juridicamente relevante etc. Prefiro, contudo, terminar de forma mais plástica.
Tive a oportunidade de conhecer amigos do dr. Bernard Nathanson, o denominado "rei do aborto", que praticou o procedimento primeiro em sua namorada e depois montou abortários pelos Estados Unidos.
Alguns anos depois, durante uma ultrassonografia, percebeu que ali se encontrava uma vida. Por meio de um levantamento verificou que em seus estabelecimentos foram realizados 72 mil abortos, sendo que 5.000 por suas próprias mãos. Tornou-se, a partir daí, um ativista pró-vida, lamentando não ter tempo suficiente para reparar seus crimes.
Se nosso STF também se abrisse à realidade estaria talvez mais apto a entender o que diz o direito.
Doria consegue aval do TCM para contratar hospitais para Corujão
15/12/2016 - Folha de S.Paulo
A equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) chegou a um acordo informal com o TCM (Tribunal de Contas do Município) sobre o modelo a ser utilizado para contratar hospitais privados para zerar a fila de exames sem entraves.
Os técnicos de Doria estudavam criar contratos emergenciais de 90 dias, sem renovação, para contratar certa de 40 hospitais para fazer os exames. A Folha apurou que a futura gestão recebeu a sugestão do órgão para que, em vez de contrato emergencial, faça um edital de chamamento universal.
Assim, as entidades interessadas poderão procurar a prefeitura.
Além disso,não haverá prazo fixado para o término da parceria. Ai deia da equipe Doria é, mesmo sem o limite, zerar a fila de 417 mil exames nos primeiros cem dias de governo.
Stent para o coração varia de R$ 1.200 a R$ 38,5 ,il no país
15/12/2016 - Folha de S.Paulo
A variação de preços de um mesmo stent coronário chega a 3.108% dependendo da região do país, revela estudo inédito da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Em um hospital privado de Minas Gerais, ele custou ao plano de saúde R$ 1.200. Já em Sergipe, o mesmo produto foi vendido por R$ 38,5 mil. Na ponta final, quem arca com essa distorção é o usuário do plano de saúde, já que o aumento da mensalidade levará em conta o aumento de custos da operadora.
Embora diferenças de preços das próteses sejam esperadas, por fatores como logística, tributação e poder de negociação, essa discrepância pode estar ligada a condutas antiéticas ou ilegais.
Segundo especialistas do setor, isso ocorre porque há falta de regulação e de transparência nas informações.
Desde janeiro de 2015, a Polícia Federal investiga situações em que médicos e hospitais recebem comissões para que utilizem próteses de determinadas empresas no tratamento de pacientes.
Em alguns casos, cirurgias são indicadas sem necessidade ou sabotadas para que pacientes sejam reoperados e, com isso, gerem mais lucros. Em setembro, 13 pessoas foram presas numa operação da Polícia Federal no Distrito Federal, entre elas sete médicos de um hospital privado.
O relatório, que será divulgado nesta quinta (15), é parte do trabalho de um grupo –que envolve vários ministérios, órgãos reguladores e entidades da saúde– que discute medidas para aumentar a transparência e o controle sobre esses produtos.
O mercado nacional de produtos médicos movimenta por ano R$ 19,7 bilhões, dos quais R$ 4 bilhões (cerca de 20%) são de órteses e próteses. Hoje, consomem 10% do total das despesas assistenciais dos planos de saúde.
Somente agora, com a ação do grupo intersetorial, é que esses dispositivos médicos começam a ter padronização das nomenclaturas, por meio da qual será possível a comparação de preços.
"A mesma prótese podia ser comercializada de diversas formas. Isso dificultava a transparência e facilitava ações irregulares", explica Martha Oliveira, diretora de desenvolvimento setorial da ANS. A partir de 2017, os preços das próteses estarão divulgados no site da agência.
Para Francisco Balestrin, presidente da Anahp (associação dos hospitais privados), o relatório mostra o quanto o mercado está "muito desarrumado". Segundo ele, são necessárias mudanças em toda a cadeia, "sem ganhos e perdas para nenhum dos lados".
"Hoje, em algumas situações, o médico ganha [com comissões das próteses] tanto quanto os hospitais."
REMUNERAÇÃO
Para Paulo Furquim, professor do Insper, o caso das próteses é a ponta do iceberg de um sistema de saúde repleto de distorções e de um modelo de remuneração que premia a quantidade e não a qualidade do serviço.
"Medidas pontuais para o caso das próteses podem não ser eficazes e, certamente, vão deixar muitos dos problemas existentes sem solução."
Segundo Martha, há um outro grupo dentro da ANS discutindo a mudança do modelo de remuneração de modo a valorizar o desempenho e não mais a quantidade de procedimentos feitos.
Uma outra ação da ANS foi a criação de um guia para o paciente que recebe essas próteses. É uma espécie de roteiro de perguntas para entender os cuidados que deve tomar após a alta hospitalar.
As perguntas abordam desde o que foi implantado no corpo da pessoa, como funciona o dispositivo e se o aparelho precisa de manutenção.
"Todo mundo lê a bula de medicamento. Com as próteses, não havia informação. A pessoa vai carregar a vida toda, mas não sabe se precisa trocar a pilha, por exemplo."
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