De pés e mãos atados.
13/12/2016 - O Globo
Estudo sobre chicungunha feito no Rio mostra que a doença causa danos persistentes nas articulações e acomete mais as mulheres, conta Músicos que não conseguem tocar seus instrumentos. Cirurgiões incapazes de segurar um bisturi. Em comum, as dores e as inflamações da chicungunha, epidemia que deixa muitos profissionais sem condições de trabalhar no Rio. Detalhes dos danos causados pela doença estão no primeiro estudo do mundo a descrever as alterações radiológicas da chicungunha. A pesquisa reforça a tese de que as mulheres são mais vulneráveis ao agravamento da infecção.
— Nosso trabalho também é o primeiro a fazer referência direta ao município do Rio de Janeiro. Analisamos mais de 400 exames, a maior amostra do mundo de exames radiológicos de chicungunha. A epidemia avançou muito no Rio. Hoje, quando um paciente aparece com dores articulares, a primeira coisa que o médico deve pensar é chicungunha — explica Roberto Mogami, coordenador da pesquisa e professor de radiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O estudo foi realizado em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Eles analisaram casos de 52 pacientes atendidos nos hospitais universitários. Em comum, pessoas doentes há mais de três meses. Nada menos que 88,5%, mulheres.
— O motivo não sabemos, mas as mulheres são as mais afetadas — observa Mogami.
O problema mais comum, encontrado em todos os pacientes, são artrites e tenossinovites (inflamações em torno dos tendões). Lesões que levam à síndrome do túnel do carpo e causam fraqueza e dor nas mãos são frequentes. No estudo, acometeram 30% dos pacientes.
— A síndrome do carpo causa muita dor, a pessoa não consegue escrever nem usar as mãos direito — frisa Mogami.
Há casos mais graves, com destruição óssea. Outros em que as vítimas desenvolveram doenças reumatológicas crônicas, como a artrite reumatoide (reumatismo). Ocorre o agravamento de complicações pré-existentes, como hérnias, tendinites e bursites.
— O papel da ultrassonografia é identificar com precisão as lesões, acompanhar a evolução da doença e do tratamento. O mais triste é saber que não há estrutura para oferecer atendimento, o sistema de saúde está precário. Os pacientes ficam com dor e à deriva — diz o professor da Uerj.
VERÃO AINDA PIOR EM 2017
As dores das vítimas da chicungunha são acompanhadas com preocupação pelo reumatologista Luis Roimicher, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Artrite da UFRJ e colaborador de pesquisas do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, um dos centros pioneiros no estudo de zika e chicungunha no país.
— A chicungunha representa uma ameaça gigantesca à saúde pública, causa incapacitação temporária dos pacientes. Tem gente que sente tanta dor que não se mexe nem para ir ao banheiro. Para piorar, cerca da metade dos casos evolui para a forma crônica, na qual as dores e as inflamações perduram por mais de três meses. As pessoas não conseguem trabalhar, não retomam a vida normal. Some isso a um estado falido e veja a dimensão do problema — salienta Roimicher.
O grupo dele observou o aumento dos casos no verão de 2016 e considera provável que o de 2017 seja pior.
— Tivemos este ano ruas no Méier e em bairros da Zona Oeste em que quase todos os moradores contraíram chicungunha. Exames moleculares mostraram um cenário tão sério que houve pacientes infectados simultaneamente por zika e chicungunha ou dengue e chicungunha — conta.
Tanto dengue quanto chicungunha provocam dores, mas as do segundo têm se manifestado com mais intensidade e durado por mais tempo. Estudos nas Ilhas Reunião e em países asiáticos mostram que as dores da chicungunha podem perdurar por até seis anos.
— Há também casos em que a doença parece ir e vir. Tivemos uma paciente que pareceu boa, mas um mês após o desaparecimento dos primeiros sintomas, quando ela já tinha voltado a se exercitar numa academia, as dores voltaram. A chicungunha é uma epidemia nova, ainda há muito a pesquisar — frisa Roimicher.
Como muitas infecções virais, a chicungunha não tem tratamento específico. Os médicos combatem os sintomas e não o vírus. O processo inflamatório e as dores que provoca em articulações, músculos e ossos são tratadas com esteroides e anti-inflamatórios, medicamentos que podem provocar efeitos colaterais com o uso prolongado.
No estudo coordenado por Roberto Mogami, a maioria dos pacientes fazia uso de corticoides.
— Os pacientes ficam desesperados de dor, não têm dinheiro para ir ao médico e não encontram atendimento na rede pública. Recorrem à automedicação, mas o uso prolongado dos anti-inflamatórios é perigoso — adverte o médico, que pretende estudar numa segunda etapa da pesquisa um outro complicador: a ligação entre a infecção por chicungunha o aparecimento de doenças autoimunes, como psoríase, lupus e diabetes. No estudo já realizado, isso foi visto em 5% dos casos.
Gestão Doria promete zerar fila de exames médicos na capital em 3 meses.
13/12/2016 - O Estado de S.Paulo
A equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) promete zerar a fila de exames médicos na rede pública em apenas três meses depois de assumir a Prefeitura de São Paulo.
A ideia é que o programa Corujão da Saúde, que oferecerá horários alternativos aos pacientes, entre 20 e 8 horas, comece a funcionar já no dia 2 de janeiro, em 50 hospitais – públicos e privados –, ao custo de R$ 20 milhões. Ainda não se detalhou a forma de convênio nem como será a chamada da população.
“O Corujão tem começo e fim. Vai ser por 90 dias, porque nós acreditamos que em 90 dias conseguimos acabar com esse estoque de pacientes. E daí pra frente esperamos que, com uma melhor gestão, a própria estrutura do SUS possa absorver essa necessidade de exame sem criar essas esperas absurdas", afirmou ontem, o futuro secretário da Saúde, Wilson Pollara, após evento de transição no Palácio dos Bandeirantes.
Para cumprir a meta será necessário que a Prefeitura atenda ao menos 4,6 mil pacientes por dia – há hoje uma fila de 417 mil na espera. Anteriormente, a equipe do prefeito falava em um prazo de um ano.
Uma das possibilidades, como já havia sido divulgado, é que a Santa Casa de Misericórdia, na região central, faça parte do programa. Mas o futuro secretário informou que já buscou a parceria de ao menos 50 hospitais. “Fiquei impressionado porque todos estão ligando, querendo colaborar, querendo trabalhar. Nós temos hospitais, principalmente filantrópicos, que têm necessidade de fornecer algum atendimento gratuito.
Estamos oferecendo isso dentro da parte de filantropia deles. Isso quer dizer que os exames são gratuitos, o SUS não vai pagar esses exames, porque eles têm uma cota de filantropia ainda para ser gasta com doentes carentes.” Noturno. O futuro secretário disse ainda que a equipe de Doria estuda um adequação jurídica para pagar os hospitais privados para fazer o serviço noturno.
“O problema do Corujão não são os hospitais que atendem o SUS, são os privados, que vão passar a atender o SUS mesmo não tendo convênio.” O custo do programa, estimado em R$ 20 milhões, deve vir de uma “economia em outras áreas”, segundo Pollara, sem detalhar.
Para o advogado e especialista em direito público Adib Saad, a futura gestão não pode contratar serviço com hospitais privados sem a realização de licitação.
“Isso não se dá de uma hora para outra, por escolha aleatória de um administrador público, sob o risco de ser questionado na Justiça.” Ele também descarta a possibilidade de contratação emergencial. “É só para o caso de alguma epidemia, calamidade pública decretada.” Para professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina, a proposta é uma medida “errada que pode dar certo”. “Não acho que seja o certo fazer o exame fora do lugar onde o paciente vai ser atendido.
Não é a melhor solução, mas é solução.” Outro problema é o tempo para avisar os pacientes.
“É preciso ligar para as pessoas e perguntar se ainda vão fazer exame, tendo o mínimo de garantia de que vão aparecer.” Ele destacou que a forma mais urgente de reduzir a demanda é unificar as filas do Estado e da região metropolitana de São Paulo. Outra medida é melhorar o pedido médico. “Muitos exames são pedidos de forma irresponsável, fora dos protocolos”, diz.
SOLUÇÃO DEPENDE DO QUE SERÁ FEITO DEPOIS
O mutirão proposto com o “Corujão” não é uma ação que está na literatura de gestão de saúde como mecanismo de solução para o atendimento primário. Como medida paliativa é positiva, mas limitada. O que realmente interessa saber é o que será feito depois desses 90 dias. Quais medidas serão adotadas para melhorar um sistema que está completamente sucateado, para que a fila não volte a crescer. Nada foi dito até agora sobre contratação de equipes, prontuário eletrônico, suporte e capacitação técnica de médicos, avaliação de indicadores das organizações sociais gestoras das unidades e central de regulação. O Rio Grande do Sul teve uma experiência de reavaliação dos pedidos de exames, na qual constatou-se que muitas solicitações haviam sido feitas inadvertidamente, sem necessidade, e com isso reduziram a demanda de 140 mil para menos de 40 mil exames. Zerar fila não existe nem na Noruega.
Mulheres e crianças têm menos acesso à saúde na América Latina, diz Unicef
13/12/2016 - G1 - Bem Estar
As lheres e os menores de idade pobres seguem sendo na América Latina e no Caribe os que menos têm acesso aos serviços de saúde, apesar dos avanços regionais, advertiu a Unicef nessa sexta-feira (9).
Segundo informe apresentado no Panamá, as desigualdades no acesso à saúde seguem sendo generalizadas na região, especialmente para as mulheres, grávidas e crianças, mesmo que "muitos países da América Latina e Caribe tenham procurado ampliar os serviços de saúde para as populações pobres e vulneráveis".
Essas desigualdades de acesso à saúde que afetam os grupos mais pobres da região os acompanham "durante toda sua vida", adverte o estudo.
Entre os problemas, a Unicef destaca que muitas crianças pobres não são registradas quando nascem, o que fazem elas não poderem acessar os serviços de saúde.
Outros, devido a suas condições de pobreza, morrem por causa de doenças tratáveis e curáveis como pneumonia, asma, ou diarreias.
No Haiti, 69 em cada 1.000 crianças nascidas vivas morrem antes dos cinco anos, seguido da Guiana (39), Bolívia (38), República Dominicana (31) e Guatemala (29). Os países com os índices de mortalidade mais baixos em menores de cinco anos são Cuba (4), Antígua e Barbuda (8), Chile (8), Uruguai (10) e Costa Rica (10).
FALHA EM EDUCAÇÃO PARA MENINAS
O informe destaca também a situação das meninas pobres, as quais recebem a pior educação, que se traduz em uma maior probabilidade de ficarem grávidas precocemente.
De acordo com a Unicef, a região "tem a maior concentração de números de gravidez adolescente no mundo".
Além disso, por terem que cuidar das crianças recentemente nascidas, as mães precoces são impedidas de entrar no mercado de trabalho, o que retroalimenta assim o círculo de pobreza.
Durante as últimas duas décadas, a América Latina "tem realizado importantíssimos progressos econômicos e sociais que impactaram positivamente" milhões de pessoas, disse María Cristina Perceval, diretora da Unicef para América Latina e Caribe, com sede no Panamá.
Ainda assim, a região segue sendo afetada "por profundas dívidas de dignidade e justiça, práticas sociais e mecanismos institucionais que reproduzem a violência e perpetuam a pobreza e exclusão", alertou.
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