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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 12/12/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Inofensivos, só que não

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Eles estão no balcão da farmácia e na caixa de remédios que todo mundo tem em casa. São baratos e parecem inofensivos. Neosoro, Dorflex, Paracetamol: remédios famosos por proporcionar alívio quase imediato a sintomas comuns, do nariz entupido à dor de cabeça. Quando consumidos em excesso, porém, podem ter o efeito inverso e causar doenças difíceis de resolver.

Uma rinite que piora após sete dias de uso do descongestionante, uma dor de cabeça que se torna crônica com o consumo de dez comprimidos mensais e um tratamento para gripe que pode causar hepatite e, em alguns casos, até levar à morte.

Medicamento mais vendido no Brasil há cinco anos consecutivos, segundo a consultoria QuintilesIMS, o Neosoro Ad oferece uma sensação de bem estar instantâneo, sem parecer perigoso. Embora seja um tarja vermelha, que necessita de receita médica, este e outros descongestionantes podem ser comprados sem prescrição facilmente.

Além de causar rinite medicamentosa, eles estão frequentemente associados às intoxicações – ocupam o terceiro lugar na lista, de acordo com o Centro de Assistências Toxicológicas do Brasil (Ceatox).

Em sete dias de uso consecutivo, com três aplicações diárias, o remédio já pode oferecer riscos, diz o professor João Mello Júnior, chefe do grupo de Alergia em Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da USP.

“O alívio é imediato porque o medicamento contém substâncias vasoconstritoras que reduzem o fluxo sanguíneo. Porém, o uso contínuo faz com que o resultado seja cada vez menor, o que causa o efeito rebote.” Além de machucar a mucosa, o especialista diz que o uso frequente pode causar perfuração de septo e perda do olfato. Arritmia, aumento da pressão arterial e retenção urinária também são reações adversas relatadas.

Em crianças, pode provocar convulsões e levar à morte.

O produtor gráfico Vitor Alcalde, de 27 anos, sofreu com as consequências mais graves do remédio: ficou três dias na UTI com pressão alta e mais duas semanas internado após usar descongestionante quase todos os dias por oito anos. “Nunca imaginei que estava passando mal por causa do Naridrin. Mas, enquanto não acontece uma coisa dessa, ninguém acredita que pode fazer tanto mal”, conta ele, há quatro meses sem o medicamento. Desde então, Vitor toma comprimidos diários para problemas de coração, pressão, ansiedade e estômago.

As empresas EMS, fabricante do Naridrin, e Neo Química, do Neosoro, informam que seus produtos devem ser usados sob prescrição médica e que os riscos e reações adversas constam nas bulas. Além disso, a Neo Química afirma que o Neosoro não cria dependência.

Para evitar complicações, Mello Júnior recomenda a higienização diária do nariz com soro fisiológico morno pela manhã e à noite. Outra opção é utilizar o lota, utensílio de origem indiana para a limpeza nasal.

Ele explica que, em situações pontuais, como uma gripe forte, o descongestionante é permitido, desde que não ultrapasse três dias.


CEFALEIA


Não tão rápido quanto o descongestionante, o efeito rebote dos analgésicos costuma aparecer após três meses de uso contínuo, com o consumo de 10 a 15 comprimidos por mês, segundo a Sociedade Internacional de Cefaleia. “Eles geram um fenômeno no cérebro chamado de hiperexcitabilidade, que deixa os neurônios mais sensíveis à dor e causa os mesmos sintomas de uma enxaqueca forte”, explica o neurologista Mario Peres, do Hospital Albert Einstein. A longo prazo, gastrite, úlcera e insuficiência renal também podem aparecer.

O gerente comercial Jorge Remaeh, de 30, fazia parte desse grupo e chegou a tomar mais de 15 comprimidos de analgésico por mês. Quando o remédio não surtia mais efeito, investiu em 60 gotas diárias de dipirona.

Após três anos de automedicação, procurou um neurologista.

“Não me preocupava com os problemas que poderia ter, mas o médico disse que o hábito tinha virado vício.” Com quatro sessões de massagem miofascial – técnica de relaxamento muscular feita por um fisioterapeuta –, as crises diminuíram.


HEPATITE


Analgésicos compostos por paracetamol também são os principais causadores de uma doença chamada hepatite medicamentosa, que não é contagiosa.

Usados para gripe e dor de cabeça, seu consumo excessivo pode levar a sérios problemas hepáticos, incluindo transplante e morte. Segundo o hepatologista Eduardo Cançado, do Hospital das Clínicas, o paracetamol é um dos remédios mais perigosos para o fígado. “A ingestão de três gramas em um dia pode desencadear hepatite.” Ervas da medicina alternativa também podem causar hepatite, alerta o hepatologista Aécio Flávio Meirelles. Ele cita as ervas de São Cristóvão, São João e cidreira, além dos chás de cavacava e cavalinha e algumas plantas asiáticas, como a consumida pela professora universitária Cássia Vanícola, de 51.

Ela contraiu a doença no fim de 2014, após consumir por dois meses cápsulas à base de ashtanga, receitadas por um homeopata.

Acabou internada por duas semanas. “Sempre gostei de tratamentos alternativos, mas agora pesquiso antes.”




Idosos sofrem com excesso de medicamentos

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Seis em cada dez idosos consomem mais de cinco remédios por dia, o que aumenta os riscos de interação entre as substâncias e leva a uma taxa maior de internação e morte. A prescrição de medicamentos inadequados para essa faixa etária e a dificuldade em seguir o tratamento só fazem a situação piorar. “É uma questão de saúde pública”, afirma José Elias Soares Pinheiro, da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

O uso de nove remédios por dia levou o aposentado Fabio Valentini, de 89 anos, a uma tosse seca, queimação no peito e azia, provocados por refluxo. A médica da família reduziu a lista de medicamentos e, hoje, ele toma só dois diariamente.

“Com o uso de três substâncias, já fica difícil prever as reações”, diz a geriatra Silvia Pereira, do Fórum Internacional da Longevidade. “A partir de cinco, consideramos que o idoso está tomando remédio em excesso.” A mistura de medicamentos pode duplicar a chance de infarto, como é o caso do omeprazol, usado para o estômago, com o clopidogrel, indicado para quem sofreu ataque cardíaco. O problema seria resolvido com a troca do primeiro pelo pantoprazol, segundo o farmacêutico André Baldoni, da Universidade Federal de São João del-Rei. É dele a pesquisa que mostra que 60% dos idosos consomem mais do que cinco remédios.

Mas há reações que não dependem de mistura. Estudo da UFMG revela que 44% dos idosos usam remédios inadequados para a idade. É o caso do anticonvulsivante Rivotril e do antialérgico Polaramine, que causam sonolência, aumentando o risco de quedas. Esquecimento e trocas de remédios são outros fatores de risco. A aposentada Maria Antonia Teixeira, de 77, por exemplo, teve crise de hipoglicemia, após repetir a dose do remédio para diabetes.




Médicos 'ressuscitam' antibióticos obsoletos

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


A falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento de antibióticos está levando médicos a recorrerem a drogas antigas e tóxicas para tratar infecções.

Medicamentos como a Polimixina B, da década de 1960, estão sendo combinados com substâncias recentes para burlar os mecanismos de defesa das “superbactérias”, resistentes aos remédios disponíveis no mercado. “Somos obrigados a recuperar essas drogas esquecidas por não haver remédios novos no mercado”, afirma Gabriel Cuba, infectologista do Hospital 9 de Julho. O risco é essas drogas já em desuso, sem terem sido testadas com rigor no passado, causarem complicações renais e danos ao sistema nervoso.

Uma das combinações mais comuns entre antibióticos envolve justamente a Polimixina B e o Imipeném, desenvolvido na década de 1980, época em que foram apresentadas as últimas inovações para o tratamento de infecções por bactéria.

Desde 1987, nenhuma classe nova de antibiótico foi descoberta ou patenteada.

Ao mesmo tempo, as bactérias evoluíram e os remédios existentes perderam a eficácia.

Alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou que doenças como gonorreia, pneumonia e alguns tipos de tuberculose já não têm antibióticos capazes de curá-las isoladamente.

Outro fator agravou esse quadro: o consumo indiscriminado desses remédios. “Paro de tomar assim que me sinto bem, e guardo os comprimidos que sobram para a próxima vez”, afirma o publicitário Daniel Bovolento, de 24 anos, que tem de quatro a cinco amigdalites por ano. Como resultado, a amoxicilina – uma das drogas mais modernas para combater bactérias – parou de fazer efeito nele.

É o que pode acontecer quando um antibiótico é administrado de forma errada ou se o tratamento não for completo. Bovolento precisou tomar Clavulin, antibiótico que age combinado ao clavunato de potássio, para vencer as defesas da bactéria.

Mas quanto maior é a associação de drogas, maior o risco, alerta o infectologista Ralcyon Teixeira, do Hospital Emílio Ribas.

“Você aumenta ainda mais a toxicidade do remédio, mas em alguns casos é a única saída.” As perspectivas não são animadoras: nenhum antibiótico completamente novo deverá passar por testes nos próximos cinco a dez anos, alerta a pesquisadora Cristina D’Urso, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Tivemos muito pouco investimento. Então, teremos um futuro negro na próxima década”, afirma. Segundo ela, as patentes de novos antibióticos em desenvolvimento mostram um desinteresse da indústria por essas drogas. São as drogas mais caras, para doenças como câncer e aids, que concentram os esforços de laboratórios e pesquisadores.

Atualmente, apenas um em cada cinco antibióticos em fase de testes chega ao mercado.

“Temos percebido muitas ações para financiar o desenvolvimento de novas drogas, mas o funil ainda é muito estreito”, explica Manica Balasegaram, diretor do Programa de Pesquisa Global de Antibióticos da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês).




'Anvisa é uma das melhores agencias do mundo', afirma presidente

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Criticada pela área médica e pelo próprio ministro da Saúde, Ricardo Barros, que disse ao Estado que “a Anvisa precisa diminuir a burocracia para tudo”, o presidente da instituição, Jarbas Barbosa, garante que a agência está alinhada com o que há de mais avançado no mundo. À frente da Anvisa desde 2015, ele reconhece que a instituição precisa ser mais eficiente e teme um estrangulamento por falta de profissionais nos próximos anos.

Nesta entrevista, Barbosa fala sobre o consumo excessivo de remédios, a divisão nebulosa da fiscalização e os desafios da agência.

l A área médica reclama que a Anvisa é muito burocrática para validar remédios importantes.

Por que tanta demora? As pessoas confundem o papel da Anvisa com o do Ministério da Saúde. O que fazemos é analisar a qualidade da fabricação, verificar se os testes exigidos para comprovar segurança e eficácia foram realizados. Isso não é um procedimento burocrático, não é carimbar papel.

A Anvisa decide se um medicamento pode ser utilizado e o ministério, se vai incorporar ao SUS. A Anvisa também não escolhe o que será licenciado, é o produtor quem pede o registro.

Quando sai uma inovação radical, a maioria registra primeiro nos Estados Unidos.

l Qual sua avaliação da legislação do setor farmacêutico? O ambiente legal do Brasil hoje é alinhado com o que temos de mais avançado no mundo.

Isso propiciou um desenvolvimento importante da própria Anvisa, que é considerada pelos seus pares uma das grandes agências do mundo, com padrão de qualidade semelhante ao das demais.

l Como ficou a situação financeira da Anvisa com a crise? Temos um orçamento enxuto de R$ 800 milhões, mas não tivemos restrição orçamentária.

A Anvisa é praticamente autossuficiente.

Nossa maior necessidade é continuar o processo de recomposição da força de trabalho. É uma instituição nova, de 17 anos, e uma parcela do nosso quadro foi herdada do Ministério da Saúde. Grande parte dessas pessoas – 450 servidores de um total de 2.800 – pode se aposentar nos próximos dois anos. Chega um determinado ponto em que esbarramos na nossa capacidade física. Podemos ter problemas de um certo estrangulamento e aumento de tempo em filas pela insuficiência de recursos humanos.

l O que falta para avançar? Para começar, a busca de maior eficiência, que tem de ser um mantra permanente. A constante revisão dos processos, no sentido de ter mais agilidade, sem perder a garantia de qualidade e segurança. Outra questão importante é definir melhor os papéis dentro do sistema nacional de vigilância sanitária, estabelecendo o que o município, o Estado e a Anvisa fazem. Em alguns setores, essas responsabilidades estão em uma área cinzenta que pode não nos colocar em uma situação melhor em relação ao cenário internacional.

l Cada brasileiro toma, em média, duas doses de remédio por dia. Estamos consumindo muito? Isso acontece no mundo todo.

Temos o fenômeno da transição demográfica. Anualmente, 1 milhão de pessoas ultrapassa a barreira dos 60 anos, aumentando a ocorrência de doenças crônicas e o uso de remédios.

Por outro lado, há uma oferta muito maior, não só de medicamentos, mas de vitaminas e suplementos.

Deve ter pessoas consumindo acima disso e outras com muita dificuldade de obter os remédios. Dados mostram que no Brasil e na América Latina os medicamentos que mitigam a dor severa têm consumo per capita muito menor que o padrão mundial. E há remédios importantes para controle de diabetes, hipertensão e algumas infecções em que há dificuldade de acesso, em especial para a população mais pobre.




O tarja preta que você usa pode não curar a depressão

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Dado inédito de uma pesquisa sobre o uso de psicotrópicos na Região Metropolitana de São Paulo revelou que médicos estão receitando remédios como o Rivotril como único medicamento para pacientes com depressão. O problema é que o sedativo é apenas auxiliar no tratamento da doença e deve ser usado em poucos casos.

Segundo o levantamento, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), as drogas da classe dos hipnóticos e sedativos são consumidas como se fossem antidepressivos por 4% dos entrevistados com transtorno de humor. O resultado é reforçado por um estudo inédito do Ministério da Saúde, que aponta o princípio ativo do Rivotril como o segundo mais usado por pessoas com depressão no Brasil.

“De repente, virou uma moda receitar Rivotril, mas ele não trata.

É o antidepressivo que trata”, diz Laura Helena Andrade, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que coletou dados para a pesquisa, chamada São Paulo Megacity.

Realizado com 5.037 pessoas, o levantamento é parte da iniciativa internacional World Mental Health Survey, feita em 28 centros de pesquisa no mundo para mapear os transtornos psiquiátricos e seus tratamentos.

O clonazepam, princípio ativo do Rivotril, é um anticonvulsivante que deve ser usado principalmente para tratar epilepsia, ressalta a pesquisadora. No entanto, essa substância é consumida por 18,2% dos diagnosticados com depressão no País, segundo pesquisa do Ministério da Saúde. Só perde para o antidepressivo fluoxetina (19,2%). As vendas deram um salto de 11% nos últimos cinco anos. O Rivotril é, hoje, o tarja preta mais vendido no Brasil.

Com a receita de um clínico geral, Luiza F., de 23 anos, começou a tomar apenas o Rivotril para tratar depressão e insônia.

Só passou a usar antidepressivo dois anos depois, quando o quadro se agravou e o tratamento para a doença começou a ser feito com um psiquiatra. “Demorou até minha família perceber a gravidade da coisa”, diz ela, que prefere não se identificar por medo de sofrer preconceito por usar o medicamento. Hoje, ela toma dois antidepressivos e conta que a combinação funcionou.

“Eu acho que minha depressão melhorou 90%. Às vezes, ainda tenho recaídas, mas nada muito grave”, afirma.


REAÇÕES


A bula do remédio informa que a associação com antidepressivos é indicada apenas em casos de ansiedade e no início do tratamento. Entre as possíveis reações ao uso do Rivotril, aponta sonolência, cansaço, vertigem, coordenação anormal, irritabilidade, perda de equilíbrio e concentração prejudicada.

A Roche, fabricante do remédio, diz que somente o médico pode prescrevê-lo, seguindo as necessidades do paciente e por meio de receita controlada pela Anvisa. O laboratório afirma que segue a legislação e regulamenta a promoção e a venda da droga.

Para o psiquiatra Thiago Marques Fidalgo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os maiores problemas do uso desse remédio são a dependência e o risco de abuso. “O organismo precisa de doses cada vez maiores para ter o mesmo efeito”, alerta. O relações públicas Lucas El’Osta, de 25 anos, consome Rivotril há um ano e meio, associado com antidepressivos para combater a doença. Perto do fim do tratamento, é o único medicamento do qual não quer abrir mão. “Se viajo em um fim de semana e esqueço, preciso voltar em casa ou dar um jeito de comprar, senão tenho dificuldade para dormir.” El’Osta sabe que a substância causa dependência e admite os efeitos colaterais indesejados.

“No começo, foi ótimo. Era colocar o comprimido sublingual e em dez minutos sentia o corpo relaxado. Quase não lembrava dos problemas”, conta. Com o tempo, começou a identificar outras reações, como problemas de memória e nas funções cognitivas. “É como estar anestesiado.

Você acha que no começo é bom, mas depois não é bem assim”, diz.


RECEITA MÉDICA


Psiquiatras acreditam que a tendência de receitar apenas o Rivotril é reforçada por médicos de outras especialidades clínicas. “Talvez isso se deva ao treinamento do psiquiatra, ou pelas outras técnicas que usamos, como psicoterapias”, diz o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva.

Quem receitou a droga à pensionista Zulmira Fernandes Cotulio, de 70 anos, foi seu cardiologista.

Diagnosticada com depressão, ela toma Rivotril há 15 anos e já ouviu de outros médicos que deveria interromper o uso. “Nunca vou parar de tomar, sem ele eu não durmo”, diz Zulmira, que consome a droga associada a antidepressivos.

A aposentada está no grupo dos maiores consumidores de clonazepam, que são as mulheres idosas, diz a pesquisadora Angela Campanha, do Departamento de Farmácia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). “Como o remédio tira um pouco da coordenação motora, pode ser mais perigoso para os idosos, que já têm naturalmente risco de sofrer quedas”, explica a especialista, uma das autoras da pesquisa São Paulo Megacity.




Concurseiros usam Ritalina para estudar

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


O consumo de psicoestimulantes por concurseiros e universitários vem crescendo no País.

Sem diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), jovens têm recorrido a remédios como Ritalina e Venvanse para aumentar o foco e a resistência durante os períodos de estudo e provas.

Um levantamento feito pelo Estado com 12 neurologistas e psiquiatras aponta uma alta estimada entre 70% e 100% nos últimos dois anos, com base nos pedidos de receitas. Um dos médicos, inclusive, tem como prática indicar essas drogas – vendidas apenas com prescrição – para quem deseja passar no vestibular, em concursos ou finalizar trabalhos acadêmicos.

As ‘smart drugs’ vêm sendo procuradas por elevarem a sensação de concentração e reduzirem o sono, além da ideia de que podem melhorar o rendimento nas provas. Derivada de anfetaminas, a Ritalina age no sistema nervoso aumentando a concentração de dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer.

O efeito é semelhante, em menor nível, ao de substâncias como a cocaína.

“Quando você usa Ritalina, o aumento de dopamina é brutal.

Assim que o nível da substância cai, o que você mais quer é outra dose”, diz a professora Maria Aparecida Moysés, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Isso faz com que a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) desaconselhe o uso recreativo do medicamento.

Na busca por efeitos mais fortes, o advogado Fernando Martins, de 25 anos, migrou para o Venvanse. As reações adversas, no entanto, o fizeram voltar à Ritalina. “Não tive o diagnóstico (de TDAH). Eu só pedia para o médico, ele me passava a receita e eu comprava.” Martins começou a usar psicoestimulantes há quatro anos, esporadicamente.

Mas o consumo passou a ser diário com a proximidade do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Ficava agitado com o estimulante, então tomava o ansiolítico para relaxar”, diz. Além da excitação, a Ritalina pode provocar taquicardia, insônia e aumento da pressão arterial.

Apesar dos riscos, a estudante de Medicina Marina, 22, que não quis revelar o sobrenome, começou a consumir a substância para ficar mais tempo acordada.

Foi um amigo do curso pré-vestibular que repassou pela primeira vez. “É muito comum em pessoas da minha idade e é até mais aceito, por ser uma droga usada para estudar.” A sensação de concentração, no entanto, se dá pela redução da capacidade de focar em diferentes atividades. Com a atenção direcionada para uma única tarefa, há uma chance maior de executá-la de modo contínuo.

“Mas não significa que ficará mais inteligente”, diz a professora Maria Aparecida.

O neurologista Marcello Prates acompanha 50 pessoas que usam Venvanse na preparação para o vestibular. “Nunca tive paciente com dependência química.

O que pode acontecer é dependência psicológica, quando a pessoa passa a acreditar que só consegue estudar caso tome o remédio.” A prática, entretanto, é condenada pela ABP, que considera infração ética grave a prescrição para pessoas sem diagnóstico psiquiátrico. “Isso deve ser denunciado aos conselhos Regional e Federal de Medicina”, informou a ABP, em nota.




Dorflex: o analgésico mais pop do Brasil

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Ele é o melhor amigo, o companheiro nas horas difíceis e está sempre por perto. Os mais de 1,3 milhão de fãs no Facebook confirmam que ele é o remédio mais popular do Brasil. No começo dos anos 2000, já figurava no noticiário como um dos medicamentos mais vendidos no País. Com a popularidade em ascensão, deixou para trás remédios centenários, como a Aspirina, ganhou força entre os brasileiros e criou uma nova onda de consumo: a “febre” Dorflex.

Nos últimos cinco anos, ele esteve entre os dez medicamentos mais vendidos e, entre 2013 e 2016, pulou da nona para a quinta posição no ranking da QuintilesIMS. O sucesso do Dorflex está nos princípios ativos de ação rápida e, em parte, na publicidade bem direcionada.

Como todo remédio, porém, o uso abusivo é perigoso.

Quando utilizado para um problema que não é indicado, ele anula os efeitos e cria um ciclo vicioso de dor intensa e consumo excessivo. Na mesma página virtual em que muitos confessam um relacionamento fiel e duradouro com o remédio, outros alertam para o “perigo escondido em um comprimido inocente”.

A neurologista Thais Villa, chefe do Setor de Investigação e Tratamento das Cefaleias da Unifesp, diz que o tipo de analgésico consumido varia conforme a classe social, mas confirma: a “febre” Dorflex existe.

“Remédios combinados tendem a ser os preferidos porque são mais eficazes do que a dipirona pura”, diz. Além da dipirona, cada comprimido contém relaxante, que reduz a tensão muscular, e cafeína, que diminui a pulsação da artéria e da dor latejante.

A combinação produz um efeito rápido e alivia a dor. “Um analgésico simples faz menos mal para o organismo do que um analgésico combinado, como o Dorflex”, alerta a neurologista Carla Jevoux, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia.


ABUSO


O remédio faz parte da rotina diária da arquiteta Rosalia Alessi há 15 anos. Ela toma pelo menos um comprimido para dor de cabeça todo dia. Em março, levou um estoque suficiente para quatro meses na bagagem da mudança para o Canadá.

O plano era que a mãe enviasse mais quando terminasse, mas o país proíbe a importação de dipirona. Quando as dores voltaram com mais intensidade, outros analgésicos não tinham o mesmo efeito e as idas ao hospital se tornaram frequentes.

“Não dava para viver no hospital”, conta a arquiteta de 35 anos, que voltou ao Brasil para continuar tomando Dorflex.

Rosalia sofre de enxaqueca, quadro mais complicado do que uma cefaleia tensional, a típica dor de cabeça. Nesses casos, Carla explica que analgésico não é o tratamento correto.

“Ele melhora, mas não acaba com a dor, e seu uso contínuo é o principal motivo para a transformação da enxaqueca em dor crônica”, diz. Para a dor tensional, qualquer analgésico resolve, diz a médica, desde que seja respeitada a recomendação de não tomar mais de dois comprimidos por semana.

Como esses analgésicos são liberados pela Anvisa para venda sem prescrição médica, o risco de abuso sempre existe. Arnaldo Lichtenstein, clínico geral do Hospital das Clínicas de São Paulo, afirma que é o uso constante que faz com que o organismo se adapte ao remédio e exija doses maiores para obter o efeito desejado.

“É uma situação que se inverte, e o remédio acaba por perpetuar a dor de cabeça.” Com o tempo, o chamado efeito rebote faz com que o comprimido perca a eficácia e provoque a dor. O médico diz que é preciso passar por um processo de desintoxicação, que deve ser acompanhado por um profissional.

A mistura de analgésicos com outros medicamentos pode anular os efeitos ou provocar reações contrárias, e até afetar outras partes do organismo, alerta Pedro Eduardo Menegasso, presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP). Quem é hipertenso, por exemplo, deve evitá-lo porque a dipirona altera a pressão sanguínea, diz o farmacêutico.

Os analgésicos também desprotegem o estômago e o uso excessivo pode causar ou agravar quadros de gastrite e úlcera, alerta.


SUCESSO


Além da fórmula de ação rápida, outro ponto que fortalece a popularidade do remédio é o direcionamento comercial da marca, afirma Menegasso.

“Você tem muito mais casos de cefaleia do que de dor nas costas, então o Dorflex explode como um produto de consumo quando começa a ser indicado para dor de cabeça”, diz. A Sanofi, laboratório responsável pela marca, informa que a indicação para dor de cabeça tensional sempre esteve nas campanhas publicitárias do remédio e não divulga os valores de investimento.

Entre especialistas, o sucesso do medicamento passa pela relação custo-benefício e pela tradição de longa data. “Dorflex vende mais porque uma cartela vem com dez comprimidos e é mais barata do que outros analgésicos”, diz a neurologista Carla.

Para consumidores como Rosalia, essa relação ficou mais atrativa neste ano, quando a Sanofi aumentou de 30 para 36 a quantidade de comprimidos em uma caixa. “Fiz um tratamento por três anos, mas não pude continuar por questões financeiras.

É muito mais barato comprar uma cartela de Dorflex do que pagar R$ 200 no remédio indicado pelo médico”, conta Rosalia. A neurologista Thais atribui o sucesso da droga à própria história do medicamento, que está há 45 anos no mercado. “As pessoas só conhecem analgésico para tratar a dor de cabeça e acabam aderindo pela propaganda boca a boca mesmo”, diz ela.

Foi assim que a estudante Angélica Silva, de 27 anos, começou a tomar Dorflex. A indicação veio da irmã, que usava quando tinha ressaca. Com o tempo, Angélica percebeu que o remédio a deixava mais disposta.

“Passei a tomar um por dia, mas depois um só não fazia mais efeito. Aumentei a dosagem para dois, depois três, depois quatro. Quando abri o quinto comprimido, me dei conta do que estava fazendo e decidi não tomar”, conta ela. Atualmente, Angélica evita qualquer tipo de medicamento e prefere esperar a dor passar, mesmo que persista por dias seguidos.

A neurologista Thais ressalta que a dor de cabeça é um sintoma e não a doença em si. Quando ocorre toda semana, a médica recomenda suspender os medicamentos e consultar um especialista.

O clínico geral Lichtenstein diz que o histórico de cada paciente é importante.

“São medicamentos que precisam ser individualizados, considerando os remédios de uso contínuo que a pessoa já toma”, orienta.




'Às vezes, desprescrever é a melhor alternativa'

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Um dos criadores do termo slow medicine, o cardiologista italiano Marco Bobbio questiona no livro O Doente Imaginado (Bamboo Editorial) algumas das práticas médicas atuais, como a prescrição exagerada e, por vezes, desnecessária de remédios. Para ele, o movimento que defende só retoma um atendimento mais individualizado e humano. Leia, a seguir, quatro perguntas para o secretário da Associação Italiana de Slow Medicine.

1.Quais são os princípios do slow medicine? Para mim, o movimento é basicamente fazer uma boa consulta. O slow medicine tem como base uma medicina sóbria, justa e respeitosa, que utiliza a tecnologia com cautela e prioriza a boa relação entre o médico e o paciente.

Assim, os dois têm como decidir juntos qual o melhor tratamento a seguir. Isso evita a prescrição exagerada de medicamentos e respeita os interesses e a disposição dos pacientes.

2.O senhor defende a “desprescrição” de remédios.

Por quê? Muitas vezes, quem está com um problema de saúde consulta diferentes especialistas. Cada médico receita um remédio, sem pensar no histórico do paciente e na interação que pode haver entre as drogas que ele está tomando. Há casos em que o medicamento é indispensável – e deve ser prescrito. Só não se pode receitar para tudo. O excesso de remédios provoca mais malefícios do que a doença em si.

3.A que se deve a prescrição exagerada de medicamentos? Muitos médicos são induzidos pela indústria farmacêutica, que oferece regalias em troca da prescrição. Isso provoca conflito de interesses. Existe também o medo do que pode acontecer ao paciente se ele não receber nenhuma medicação.

Isso leva os profissionais a receitarem de imediato para se isentar dessa responsabilidade.

É mais fácil adicionar um comprimido à rotina de um paciente do que retirar um.

4.Quais são as alternativas à prescrição de medicamento? Uma delas se chama watchful waiting (espera atenta), abordagem médica que aguarda para ver como o corpo reage aos sintomas em vez de prescrever remédios de imediato.

Mudanças no estilo de vida também são uma alternativa, como redução do consumo de sal e prática de exercícios.

Mas é preciso ter uma boa relação com o paciente. Caso contrário, ele pode se frustrar ao não conseguir uma receita.




'Remédios são como muletas químicas'

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Professor de história cultural e colunista do Estado, Leandro Karnal afirma que o excesso de remédios é resultado de uma sociedade que não tolera a dor e deseja estar sempre no controle do que está à sua volta.

l Por que o brasileiro está tomando tanto remédio? É uma consequência da medicalização do sentimento, uma característica nossa. Infelizes devem tomar Prozac. Desatentos devem tomar Ritalina. Há uma tentativa de traduzir o ser humano em uma felicidade constante e permanente. Quando essa felicidade não ocorre, a dimensão trágica da existência aparece e recorremos a uma muleta química, o remédio.

l Qual o comportamento médico em relação a isso? Nos Estados Unidos, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um problema grave. Os médicos receitam Ritalina em uma quantidade similar à nossa. Na França, onde os médicos e pediatras não acreditam nessa doença, não há prescrição.

l A medicina, então, depende do momento? Assim como qualquer pensamento.

Na infância, fiz tratamento para pé chato, que hoje não se trata mais. A medicina descobre novidades, traz à luz doenças novas e tira dessa categoria alguns comportamentos.

A homossexualidade foi considerada enfermidade por anos.

Uma pessoa melancólica no século 15 hoje tem depressão.

l Há excesso de diagnósticos de depressão? Sem dúvida. A depressão é uma doença gravíssima e tem várias origens. Porém, imaginar que tristeza seja depressão é um erro de diagnóstico. Não há nada errado se você ficar triste porque perdeu alguém querido. O médico acredita nesse diagnóstico. A sociedade e a indústria, também.

l Acaba-se criando uma inércia? Sim. O conhecimento médico é fruto de uma concepção objetiva e técnica somada à cultural.

O fato de termos hoje uma grande quantidade de cesarianas não é fruto de uma questão técnica, mas de uma cultura.

l Nossa cultura não tolera dor? Não gosta da dor, não tolera o parto e teme que deixe sequelas.

A sociedade já não vê no parto natural o valor que antigamente se concebia. A preferência por cesáreas pode ser pela crença no indivíduo pleno, que não deve ter dor. Consideramos que o estado de dor e tristeza deva ser evitado. Nem sequer suportamos que ele exista, ainda que passageiro. Acreditamos que o ser humano deva ser plenamente feliz.

l E nesse processo nos automedicamos porque “encontramos” o nosso diagnóstico? Vivemos com a crença de que a vida tem de estar sempre sob controle e devemos estar o tempo todo disponíveis.

l Quais seriam os exemplos dessa crença ‘exagerada’? As pessoas ficam perdidas ao se depararem com o caráter aleatório da tragédia, como a queda do avião da Chapecoense.




Nas farmácias, venda de remédio subiu 42% em cinco anos

11/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Em um ano, o brasileiro consumiu, em média, 700 doses de remédios comprados em farmácias.

É como se cada habitante tomasse diariamente duas unidades de medicamentos. Isso coloca o Brasil entre os dez maiores mercados farmacêuticos do mundo, com um consumo de 144 bilhões de doses entre outubro de 2015 e setembro de 2016. E a tendência é que esse número continue crescendo: em três anos, o País deverá chegar à quinta posição do ranking global de mercados farmacêuticos, segundo a Interfarma, com base em dados da consultoria QuintilesIMS.

Os números traduzem uma realidade que combina automedicação, consumo excessivo, acesso facilitado, investimento pesado em publicidade, lobby setorial e regulação falha. O resultado é uma alta de 42% nas vendas de medicamentos em farmácias nos últimos cinco anos. “O brasileiro gosta de tomar remédio. Muitas pessoas vão ao médico e não podem sair de mão vazia”, resume o médico Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas da USP.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, admite que o consumo de medicamentos no Brasil é maior do que a média de outros países. “É cultural. Todo mundo tem um armarinho cheio de medicamento que comprou, não usa, está vencido e continua lá.” O professor de história cultural Leandro Karnal diz que esse consumo está ligado à busca pela felicidade plena. A sociedade brasileira contemporânea, diz ele, não tolera a dor e acha que a tristeza deve ser evitada.

“Quando essa felicidade não ocorre, recorremos a uma muleta química, o remédio.” Para a indústria, vários fatores explicam o salto nas vendas.

O presidente do Sindicato da Indústria Farmacêutica (Sindusfarma), Nelson Mussolini, diz que a principal razão é que a população está crescendo e envelhecendo.

“Idosos tomam mais medicamentos”, justifica o representante dos laboratórios.

Além disso, ele argumenta que agora há mais pessoas preocupadas com a saúde e que o acesso aos remédios aumentou nos últimos anos, particularmente devido à entrada dos genéricos.

“Excluindo os hipocondríacos, ninguém toma medicamento sem precisar”, garante Mussolini. O Sindusfarma reúne 271 empresas nacionais e estrangeiras que detêm mais de 95% do mercado no Brasil.


EXCESSO


Um levantamento ainda inédito do Ministério da Saúde, obtido pelo Estado, revelou que metade dos entrevistados tomou ao menos um remédio nas duas semanas anteriores à pesquisa. Foram ouvidos 41 mil brasileiros, entre 2013 e 2014, e os dados ainda estão sendo analisados. “Uma prevalência de 50% de medicação em uma população que víamos que não está doente é elevada”, diz a pesquisadora Andréa Dâmaso, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que participa do estudo.

O presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, afirma que o consumo de medicamentos no Brasil tem dois extremos. “Há pessoas consumindo acima da média e outras que têm muita dificuldade de acesso.” Segundo levantamento feito em 2014 pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) e Datafolha, metade dos brasileiros não consegue comprar todos os remédios de que precisa para o tratamento total.

O presidente da Interfarma, Antonio Britto, que representa 56 laboratórios de grande porte, diz que iniciativas como o programa Farmácia Popular não são suficientes. “Isso tende a piorar com o avanço do porcentual de idosos.” O ministro Barros garante que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem garantido medicação para todos que precisam. “O abastecimento está em ordem. Quem precisa está sendo atendido.” Caminhos. As propostas para enfrentar o aumento no consumo variam de um acompanhamento mais minucioso até venda fracionada. Para o ministro, a solução é informatizar o controle em um prontuário eletrônico dos pacientes e desmembrar a venda de medicamentos nas farmácias. Em 2006, a Anvisa regulamentou o fracionamento, mas, passados dez anos, a venda por unidades ainda é restrita. Mussolini, do Sindusfarma, nega oposição dos laboratórios. “O que a indústria sempre considerou absurda era a venda fracionada que foi adotada no governo passado.” Segundo ele, o farmacêutico picotava, com tesoura, a embalagem, podendo comprometer a estabilidade da droga.

O excesso de medicamentos aumenta os riscos de interações negativas entre as substâncias, efeitos colaterais, intoxicações e internações. Apesar de o Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do SUS registrar uma queda de 14,5% nos últimos cinco anos, a realidade parece ser outra. O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fiocruz, contabilizou 12 mil casos de intoxicação em 2013, sem incluir a Região Sul. Só no Hospital das Clínicas da USP, surgem pelo menos 7 mil casos por ano.

Wong, diretor do Ceatox do hospital, estima uma média de 2 milhões de intoxicações causadas por remédios a cada ano. “Não posso avaliar se há falha nas notificações, mas a questão da intoxicação por excesso de medicamentos, de fato, é um problema”, afirma o ministro.

Segundo a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, a pressão vem da indústria. “Há uma pressão externa muito grande de fabricantes de medicamentos que não querem que esses dados apareçam.” De acordo com ela, os laboratórios contratam firmas especializadas para atender casos de intoxicação e, assim, as ocorrências não constarem no sistema público.

Com os dados oficiais subnotificados, não é possível calcular o alcance dos problemas causados à saúde pela automedicação e pelo consumo excessivo.

Segundo a pesquisa do ministério, mais da metade da população se automedicou para febre com base apenas em sugestão de conhecidos. Para a dor, 52% tomaram remédios indicados por familiares ou amigos. Outros ainda recorrem ao “Dr.

Google”: a plataforma se torna um estímulo para internautas encontrarem diagnósticos e escolherem seus tratamentos.

Especialistas ressaltam que as drogas representam um avanço importante, principalmente para doenças graves ou crônicas, como problemas cardiovasculares, hepatite, diabetes, hipertensão e câncer. Autor do livro Farmacologia Clínica – Fundamentos da Terapêutica Racional, o pesquisador e cardiologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Flávio Fuchs defende que é preciso saber consumi-los e prescrevê-los na quantidade correta. “O uso racional evita a exposição desnecessária.”




Farmacêuticas lideram gastos em publicidade

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Juntas, as marcas de remédios gastam mais em anúncios do que montadoras de carros ou operadoras de telefonia no Brasil.

Em 2015, início da crise econômica, o setor farmacêutico subiu quatro posições e chegou ao sexto lugar no ranking de maiores investidores em propaganda.

Foram R$ 8,1 bilhões aplicados pelos laboratórios, segundo a Kantar Ibope Media. Responsável por quase metade desse valor, a mexicana Genomma Lab se tornou a maior anunciante do País.

O carro-chefe são os anúncios de medicamentos vendidos sem receita, os únicos liberados pela Anvisa para divulgação.

A principal regra é incluir advertências como “Procure o médico” e “Leia a bula”. As frases, porém, estimulam ainda mais a compra, acredita o médico sanitarista José Ruben Bonfim, que coordena a Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos (Sobravime). “A pior consequência da publicidade é incentivar a automedicação.” A regulamentação, atualizada em 2008, também determina que o protagonista do anúncio fale sobre riscos do remédio, embora isso raramente aconteça. A norma ainda é contraditória sobre a participação de celebridades. Um artista pode falar sobre o produto, mas não recomendar explicitamente o uso. “As empresas muitas vezes aparentam cumprir a legislação, mas, quando você observa com olhar crítico, percebe que estão burlando”, aponta a psicóloga Mariana Carminati, pesquisadora da área de Políticas Públicas.

A diretora de Inovação e Responsabilidade Social da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Maria José Delgado Fagundes, nega o excesso de irregularidades.

Para ela, o setor produz cada vez menos peças publicitárias problemáticas. “É um processo de amadurecimento dos empresários e da sociedade, que passou a exigir mais informações.” Infrações. No Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), porém, a categoria de medicamentos e serviços para saúde foi a segunda com mais reclamações em 2015. A Anvisa emitiu 97 autos de infração só para esse setor.

Até 2012, a agência tinha uma Gerência Geral de Propaganda, mas ela foi extinta e suas atribuições foram englobadas pela área de Inspeção e Fiscalização – a instituição garante que o monitoramento é mantido. O sanitarista Bonfim contesta. “Não existe regulação no Brasil. As multas são irrisórias e correspondem a uma fração mínima dos lucros da indústria farmacêutica.” Para ele, a publicidade de remédios deveria ser vetada.

A representante da Interfarma discorda que a proibição possa solucionar a má utilização de medicamentos. Maria José entende que o caminho seria aliar políticas de educação e saúde, apostando em medicina preventiva.

Outra proposta, defendida pela psicóloga Mariana, seria exigir uma sanção prévia do material publicitário. “Hoje, ele é colocado em rede televisiva sem passar pelo crivo da Anvisa.

Quando a agência percebe que há alguma irregularidade, o mal já está feito.”




Crescimento do setor de logística de medicamentos esbarra em regulação.

12/12/2016 - DCI


Em meio à retração econômica, regulamentação desconexa e concorrência desleal ganham força e derrubam desempenho do setor de transporte de medicamentos. Sem mudanças, as margens tendem a continuar em queda junto com o número de empresas especializadas na área.

Com dificuldade de repassar custos aos clientes, operadores logísticos especializados apresentam perda de margem desde 2009. Segundo a pesquisa "Transporte de Medicamentos no Brasil", da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC&Logística), a margem das empresas entrevistadas caiu 43,8% em 2015, ante 2009. "E a tendência é que continue", afirma o vice-presidente Comercial da RV Ímola, Thiago Amaral. Na companhia, a perspectiva é de queda de quase 18% em 2016, ante 2015.

Assim como a RV Ímola, outras estão na mesma situação. "Somos cerca de 20 no transporte de medicamentos e 40% do mercado está entre 12 empresas. Se a gente observar os players de 10 anos atrás, poucos continuaram e se não houver uma mudança isso pode diminuir ainda mais", explica Amaral.

De acordo com ele, os custos relacionados ao transporte (combustível, dissídio e linhas de financiamento para compra de veículos) estão cada vez mais altos e, em contrapartida, o repasse está difícil. "Como tem muita gente ociosa, os clientes estão renegociação do contrato", conta. Além dos custos, a mão de obra para operar os caminhões refrigerados também é cara.

"O problema é que nem todos têm o mesmo patamar de custos", complementa. Segundo ele, o volume de transportadoras que não são da área e não cumprem todos os requisitos está crescendo. Essas empresas encontraram uma brecha para entrar no mercado por conta da crise econômica. "Alguns laboratórios têm feito vista grossa", reclama.

"Com a crise, o controle de qualidade dos laboratórios se perdeu um pouco", ressalta o vice-presidente extraordinário coordenador da câmara técnica de transporte de produtos farmacêuticos (TFARMA) da NTC&Logística, Clovis Gil.

Um caso muito comum, de acordo com Gil, é a licença necessária para atuar no ramo que exige que as transportadoras tenham permissão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de cada região em que irá atuar. "Mas tem sido comum algumas realizarem o transporte com apenas uma licença", conta.

De acordo com Gil, antes o controle de qualidade determinava quem está apto a realizar o transporte e, agora, com a crise alguns laboratórios estão analisando em primeiro lugar o preço. "A maioria ainda preservam o cuidado, mas tem outros que não", sinaliza.

O problema não é apenas a falta de licença em uma região, mas a falta de padronização de cada Anvisa local. "Cada uma tem uma interpretação diferente", explica Thiago Amaral da RV Ímola.

Desta forma, quem está irregular acaba tirando em apenas um lugar (menos criterioso) e quem vai fazer quer tirar em todas as regiões tem dificuldade de unificar as operações. "Muitas vezes o entendimento técnico da regional é diferente da estadual que por sua vez é diferente da federal", discorre.


FISCALIZAÇÃO


Este não é o único desafio na regulamentação. Ainda na opinião de Clovis Gil da NTC&Logística, a falta de clareza e especificidade das regras é o principal desafio do setor. "Algumas resoluções (RDC) de armazenamento foram adaptações de exigências feitas a laboratórios que muitas vezes não fazem sentido", diz.

Outra questão é a falta de padronização no carregamento. "Alguns laboratórios colocam 200 unidades em uma caixa e outros colocam 25. O ideal seria padronizar o recebimento e o transporte. Além disso, o padrão de embalagem que cada uma tem é diferente."

Na contrapartida, ele argumenta que tem regras que podem ser exigidas: como a obrigatoriedade de caminhão refrigerado. "O Brasil tem dimensão continental e os medicamentos devem ficar em temperaturas específicas para não perder suas propriedades."

Para que as medidas sejam revistas, a entidade junto com uma consultoria está trabalhando em regras de padronização que está em fase final. "Ainda devemos apresentar a cartilha às associadas, mas posteriormente levaremos à Anvisa em Brasília", conta.


ALTERNATIVAS


Para conseguir crescer, a RV Ímola realizou uma remodelagem da malha logística que exigiu o fechamento de 100 armazéns. "Agora as cidades que eram atendidas por eles fazemos através de outras unidades", explica Thiago Amaral da RV Ímola. Segundo o executivo, com a diminuição de custos fixos foi possível reduzir em 30% os gastos. "Mesmo que eu tenha agora custos variáveis, que são mais altos, para atender essas cidades, só preciso pagar quando tiver carga. Com isso, acabei ganhando margem", diz.

A expectativa para 2017 é que a nova reestruturação ajude no crescimento da receita, que neste ano deve ser de R$ 120 milhões.

Melatonina melhora desempenho esportivo

12/12/2016 - Correio Braziliense


O popular hormônio do sono ganhou mais um atributo à sua extensa lista de potencialidades, que passa por auxiliar no emagrecimento, tratar o Parkinson e até prevenir e combater o câncer. Pela primeira vez, é demonstrado cientificamente que a melatonina melhora a performance esportiva. A afirmação está sustentada nos resultados da pesquisa realizada pelo professor Wladimir Rafael Beck, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Por três anos, ele conduziu experimentos que comprovam um aumento de até 150% no tempo de duração dos exercícios feitos por ratos que receberam doses do hormônio. A melhora do desempenho físico, porém, não acompanhou a proteção aos músculos dos animais. “Esperávamos esse efeito pela conhecida capacidade anti-inflamatória desempenhada pela melatonina”, ressalta o pesquisador.

Com os resultados, é possível concluir que a melatonina tem um efeito ergogênico, ligado à produção de trabalho, mais potente que o protetor, explica Beck. Antes de dar início à pesquisa, ele tinha como hipótese que a propriedade anti-inflamatória da substância poderia causar a ergogenia. “A surpresa veio com o fato de que, mesmo com mais inflamação, mais danos ao tecido e mais estresse oxidativo, o animal continuou fazendo o exercício”, destaca. Pelo tema inédito e pelos resultados alcançados, a tese está entre as premiadas deste ano pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Satisfeito com os bons resultados e incentivado pela premiação, o pesquisador planeja os próximos passos do seu trabalho. “Agora, quero estudar por que acontece o benefício ergogênico em exercícios de longa duração, como a natação. Quero fazer experimentos com outros tipos de atividades físicas, com outras intensidades de esforço e também aplicar os testes em pessoas”, informa Beck, que fez os experimentos com ratos, observados enquanto nadavam e após receber doses do hormônio em períodos diferentes do dia (veja infográfico).

O pesquisador lembra que esses roedores são animais de hábitos noturnos. Diferentemente do homem, o período de vigília do rato é à noite, quando foram obtidos os melhores resultados da pesquisa. Assim, Beck pondera que o efeito das doses de melatonina aplicadas nas cobaias pode ter potencializado a atividade física devido à forma como vivem esses animais. “Por isso, é preciso explicar os mecanismos que levaram a uma ergogenia tão fantástica e transferir esse tipo de pesquisa para o modelo humano, que tem melhor estado de vigília durante o dia”, observa.


CICLO CIRCADIANO


O trabalho desenvolvido por Beck explora o uso da melatonina em um campo mais recente, o das atividades esportivas. “As pequisas com o hormônio produzido pela glândula pineal foram intensificadas a partir dos anos 2000 e um dos seus usos frequentes é no controle do jet lag”, informa o pesquisador, ao citar o efeito causado pelo fuso horário em passageiros que viajam do Oriente para o Ocidente. Na verdade, o hormônio ajuda a reajustar o relógio biológico em percursos do tipo. Na quantidade adequada, favorece o melhor equilíbrio entre os períodos de vigília e sono durante todas as fases do dia.

Integrante da banca examinadora que aprovou o trabalho de Beck, o professor Marco Tulio de Mello, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reforça que essa pesquisa tem “um valor imenso porque aponta que a melatonina ajuda no atraso da fadiga não só muscular, como também do sistema nervoso central”. Ele explica que, com a dose suplementar do hormônio recebida, os ratos ficaram mais preparados para nadar.

Mello, que desenvolve trabalhos na área do sono e da recuperação de atletas, diz que alguns esportistas de alto desempenho utilizam o hormônio sintético para equilibrar o tempo do sono em períodos de treinamento intenso. Porém, essa aplicação é vetada no Brasil, uma vez que não há qualquer liberação para venda da melatonina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (leia Para saber mais).

Ciente do crescente uso do hormônio sintético, mesmo sem prescrição médica, o professor alerta que caminha ao lado da má informação o uso indiscriminado e distorcido desse hormônio. Como é uma substância natural, a melatonina não é tóxica nem se acumula no organismo, diz Beck. Mello, porém, alerta sobre os riscos da ingestão descontrolada. “Apesar de não ser uma droga ilícita, seu uso indiscriminado pode, com o passar do tempo, inibir o organismo de produzi-la naturalmente”, adverte. Da mesma forma, “se for usada antes do exercício físico não surtirá o efeito esperado”, alerta o professor.

"Apesar de não ser uma droga ilícita, seu uso indiscriminado pode, com o passar do tempo, inibir o organismo de produzi-la naturalmente”

Marco Tulio de Mello, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.


REGULADOR METABÓLICO


Mesmo sem conhecer a fundo o efeito ergogênico da melatonina, o médico José Cipolla Netto engrossa o coro contrário à ingestão indiscriminada do hormônio. “Do ponto de vista técnico, é um absurdo o uso da melatonina nas academias de ginástica aqui no Brasil. O que se faz é uma interpretação distorcida a partir de pesquisas da década de 1970”, alerta o estudioso.

Ligado ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Cipolla Neto coordenou um grupo de estudos que mostram a melatonina como importante aliada no combate a distúrbios metabólicos, entre eles diabetes, hipertensão e obesidade. Ele reforça que é inegável o poder antioxidante do hormônio e sua atuação como regulador do metabolismo. “Mas não é por isso que as pessoas podem fazer uso sem indicação médica, da mesma forma que ninguém usa hormônio tireoidiano sem necessitar”, alerta.

Segundo o especialista, estudos sobre a toxicologia da melatonina mostram que a substância não produz qualquer efeito no organismo humano se for tomada fora do horário indicado, à noite, de 45 minutos a uma hora antes de dormir. A síntese desse hormônio só acontece sem exposição à luz. Assim, “se for tomado durante o dia, não terá qualquer efeito”, afirma. (ML)


COMÉRCIO PROIBIDO NO BRASIL


O comércio da melatonina, tanto pela internet quanto em estabelecimentos, não é permitido no Brasil porque não há medicamento registrado com o princípio ativo, não porque a substância seja proibida, informa a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ou seja, a melatonina nunca foi avaliada pelo órgão regulador em relação aos critérios de segurança e eficácia “porque não há solicitação de registro dessa substância como medicamento”, esclarece a Anvisa em nota.

Porém, a legislação brasileira garante que pacientes que recebam a indicação de uso desse produto por um profissional médico possam importá-lo, trazendo na bagagem ou realizando a compra pela internet. Assim, sites nacionais não podem vender o produto, porque o consumo é permitido, mas a comercialização no Brasil, conclui a nota. Diferentemente, nos EUA, a melatonina é comercializada como suplemento alimentar e vendida até mesmo em supermercados.




Nova fábrica da Fiocruz produzirá teste de zika

11/12/2016 - Folha de S.Paulo


A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) inaugurou na sexta (9) um centro que vai produzir testes para diagnóstico de dengue, zika e chikungunya e biofármacos— remédios biológicos.

O Centro Henrique Penna vai produzir o teste sorológico para zika, que gera resultado em cerca de 15 minutos, e o teste molecular para diferenciar zika, dengue e chikungunya.

O teste rápido para zika já recebeu validação da Anvisa.

Já a certificação para o teste diferencial, conhecido como ZDC —as iniciais das doenças— deve sair ainda neste mês de dezembro, segundo o diretor de Bio-Manguinhos, Artur Couto. Couto não deu previsão de quando eles estarão disponíveis no SUS.

O centro terá capacidade para produzir 20 milhões de testes por ano.

“Isso nos permitirá ter visão mais clara do mapa epidemiológicos dessas doenças e,comisso, agir pontualmente para evitar microcefalia, mortes e que as pessoas fiquem fora do mercado de trabalho por estarem doentes”, disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

Ao custo de R$ 478 milhões, o centro também terá a primeira planta de protótipos para produtos biofarmacêuticos da América Latina.

“Grande parte das doenças que afligem a população, como câncer, são tratadas com produtos biológicos. Esses produtos são muito caros. Seria impossível manter esses remédios acessíveis à população sem ter a produção no Brasil”,disse o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.

De início, o centro produzirá a alfa e poetina, usada no tratamento de anemia em pessoas que têm insuficiência renal crônica e pacientes com câncer que passam por tratamento quimioterápico.

Também produzirá a filgrastima, usada para tratar efeitos colaterais de pacientes de câncer, e a omatropina, para tratar deficiência do crescimento.




Mercado Aberto: Doses equilibradas

12/12/2016 - Folha de S.Paulo


A GlaxoSmithKline vai investir cerca de US$ 100 milhões (R$ 337,3 milhões na cotação atual) para construir um segundo centro de distribuição no Rio de Janeiro.

O aporte será feito ao longo de dez anos para melhorar a logística e ganhar eficiência nas entregas, diz o presidente da divisão farmacêutica, Aleksey Kolchin.

Hoje, a companhia tem um centro de distribuição e uma fábrica, também no Rio, além de uma segunda planta, em Guarulhos (SP). Não há plano de expandir a estrutura para outras regiões.

Nos resultados, algumas áreas têm compensado o decréscimo de outras, explica o executivo russo, que afirma ver o país "como um copo meio cheio". Medicamentos para tratar doenças respiratórias estão entre os produtos com maior aumento de vendas, por terem pouca concorrência de genéricos.

"Esta é uma das áreas com pior desempenho. Em volume, os genéricos cresceram 10%, mas, em receita, não houve expansão."

Cerca de 90% dos remédios são importados. A produção local se concentra em vacinas e produtos de consumo.

R$ 2,3 bilhões
deverá ser o faturamento total da GSK neste ano.
20%
é o crescimento anual da empresa em 2016 até outubro.
2.300
são os funcionários no país.




Cientistas criam técnica que controla diabetes em camundongos sem injeção

10/12/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Cientistas encontraram uma forma de controlar a diabetes em camundongos sem a necessidade de injeções de insulina. O feito foi realizado através de engenharia celular.

O estudo foi publicado nesta quinta (8), na revista científica "Science".

A diabetes é uma doença conhecida pelas altas taxas de concentração de açúcar no sangue. Caso não seja tratada e controlada, a doença pode se agravar, resultando, por exemplo, em problemas cardíacos e renais.

Os pesquisadores desenvolveram cápsulas de células geneticamente modificadas que foram implantadas no corpo dos camundongos. Esses implantes auxiliavam na liberação adequada de insulina.

Os cientistas usaram engenharia genética em células renais humanas. Elas assumiram as funções normalmente executadas pelo pâncreas.

A modificação nas células consistiu na introdução de dois genes: um deles ligado à sensibilidade quanto a glicose e o segundo para que a célula ativasse a liberação de insulina (hormônio responsável pelo controle do açúcar no sangue) quando os níveis de glicose na corrente sanguínea ultrapassassem o limite seguro.

Os camundongos tratados com a terapia celular passaram a apresentar níveis normais de açúcar no sangue.

Educação e saúde

11/12/2016 - Folha de S.Paulo


A oposição e a situação, apesar das muitas divergências entre si, são entusiastas da solução “educação e saúde”, a besta negra que apontam como a necessidade maior do país. Por mais que pareça incrível, foi essa a meta principal (educação e saúde) durante o longo regime comunista instaurado e mantido por Fidel Castro e seus companheiros de revolução.

Na verdade, o avanço de Cuba tanto na educação como na saúde é louvado por todos. Milionários procuram o sistema de saúde imposto pelo regime cubano. O professor Sabin, anticomunista ferrenho, foi agradecer pessoalmente o regime cubano por ter sido o primeiro a adotar oficialmente a sua vacina contra a poliomielite.

Na saúde, Cuba é considerada uma referência esquecida na maioria dos países.

Em compensação, Cuba permanece como uma das nações mais miseráveis, independentemente do bloqueio cruel patrocinado pelos Estados Unidos.

O regime de Castro não deu nenhuma bola para o desenvolvimento, colocando seu país entre os mais atrasados e pobres do universo.

Evidentemente que a dobradinha (saúde e educação) também oferece uma solução prioritária para qualquer país, mas não à custa do desprezo pelo desenvolvimento geral de uma nação. Nos primeiros dias de uma longa temporada que passei na ilha cubana, fiquei admirado de ver ascensoristas trabalhando e lendo ao mesmo tempo um romance de Arguedas, “Los Rios Profundos”. A camareira que me atendia no hotel estava lendo Guimarães Rosa. Um taxista tinha, no assento ao lado, um exemplar de “Quarup”, de Antonio Callado. Tanto o ascensorista como o taxista faziam apenas uma refeição por dia, e só podiam comprar uma camisa nos dias marcados pelo governo.

A educação e a saúde são indispensáveis ao desenvolvimento que é esquecido no Brasil.




37 minutos

11/12/2016 - Folha de S.Paulo


O plano de Natasha Montero, no início de novembro de 2015, era chegar na maternidade, ter um parto normal, humanizado, abraçar o bebê e seguir feliz pela vida. Não foi tão simples.

Bento demorou 16 horas para nascer. Quando, finalmente, Natasha pôde pegá-lo nos braços, sentiu o bebê flácido, "molinho", como descreve a mãe. Logo Bento foi entubado e transferido para a UTI. A explicação seria uma asfixia grave, sem razão aparente, ocorrida provavelmente durante o parto.

A estratégia escolhida para lidar com o caso, relata o neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana Gabriel Variane, foi a hipotermia terapêutica.

Em outras palavras, o bebê foi resfriado –a temperatura corporal (que geralmente fica entre 36°C e 37°C) é baixada para 33,5°C e depois elevada ao patamar normal durante o período de até 72 horas, explica Variane. A atividade cerebral do bebê é monitorada e ele tem o sangue oxigenado.

"Na hora, mesmo sabendo que poderia estar acontecendo alguma coisa, eu achava que não era nada de mais. Depois de 15 minutos, meu marido voltou aos prantos e não quis me contar. Eu não entendia o porquê do choro", conta a mãe.

A situação não estava favorável: no primeiro dia de internação, Bento teve uma convulsão –sinal de que algo não estava funcionando bem no pequeno cérebro do bebê.

No segundo dia, Bento sofreu uma parada cardiorrespiratória de 37 minutos, também em decorrência da asfixia.

Durante uma parada desse tipo, por mais breve que seja, há risco de haver sequelas neurológicas, já que o cérebro é particularmente susceptível à queda dos níveis de oxigênio e de glicose no sangue.

Se o cérebro de Bento já tinha sofrido com a convulsão, a falta de nutrientes poderia matá-lo. "Quando vi ele cheio de fios, caiu a ficha. Foi muito difícil. Na hora que recebi a notícia, perguntamos ao médico o que podia ser feito, e ele perguntou se a gente tinha religião. Eu disse que acreditava em Deus e ele disse: 'Continue orando'", diz Natasha.


FRIO PROTETOR


A hipotermia terapêutica tem um efeito neuroprotetor, ou seja, os neurônios sofrem menos com os possíveis danos decorrentes da resposta inflamatória do organismo.

Trata-se de um método de tratamento respaldado por estudos e profissionais da área, mas que ainda está longe de ter uma presença abrangente nos hospitais brasileiros, afirmam especialistas.

Segundo o neurologista Antonio Cezar Galvão, do Hospital 9 de Julho, se o paciente for bem selecionado, a técnica tem grande potencial de prevenção e atenuação de sequelas de paradas cardiorrespiratórias.

O problema é que a baixa temperatura prejudica a função de outros órgãos, como o próprio coração, daí a importância de o tratamento ser bem regulado.

Apesar das intercorrências, a resposta de Bento ao longo dos 15 dias de UTI foi surpreendente.

"Eu sei que ele poderia ter ficado em estado vegetativo. Depois, as enfermeiras me falaram que elas nunca viram um caso igual ao dele, em que o bebê não saísse de lá em estado muito comprometido", conta Natasha.

Uma possível explicação para o sucesso da abordagem com Bento é a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade de o cérebro "reinventar-se", adquirindo novas características ou adotando novas estratégias para manter funções antigas.

Essa propriedade do cérebro tem potencial bastante grande em bebês e crianças, explica Galvão.

Em Bento, isso está mais do que demonstrado. Bento completou um ano de vida no último dia 3 de novembro. Depois de ser acompanhado de perto por uma neuropediatra, ele finalmente está de alta, sem necessidade de atenção especial ou de medicamentos, e, aparentemente, sem qualquer sequela ou prejuízo no desenvolvimento.

Após a experiência, Natasha largou o antigo trabalho e já planeja ter um novo bebê. "A gente vive esquecendo que a única coisa certa que existe na vida é a morte. Não tinha como eu ficar do mesmo jeito. Agora quero é cuidar dele, torná-lo um bom ser humano. A gente tem uma missão além de só trabalhar para consumir."

Para Variane, a hipotermia terapêutica, assim como o monitoramento neurológico na UTI neonatal podem ajudar a evitar tanto mortes quanto casos de dano neurológico grave.

Estima-se que casos de asfixia somem 20 mil ao ano só no Brasil. De acordo com o médico Gabriel Variane, investir em abordagens como essa pode evitar tanto impactos sociais quanto econômicos (auxílios, tratamentos) decorrentes dos prejuízos neurológicos em bebês.




Crise nas prefeituras paralisa hospitais

12/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Sem verbas próprias e com atraso nos repasses das prefeituras, hospitais que atendem pelo sistema público de saúde estão parando em todo o interior paulista. Em várias cidades, consultas, cirurgias e internações acabaram suspensas por falta de profissionais ou o atendimento foi reduzido para enxugar custos.

Há ainda médicos e funcionários em greve por falta de pagamento.

Estudantes de Medicina e funcionários do Hospital Santa Lucinda, de Sorocaba, saíram em passeata na quarta-feira passada contra a suspensão de convênio da prefeitura com o hospital que garantia o atendimento de 3 mil pacientes e até 800 internações por mês. Os estudantes da Pontifícia Universidade Católica (PUC) alegam que 80 leitos separados para o Sistema Único de Saúde (SUS) estão sendo desativados.

Há uma semana, a Justiça determinou à prefeitura um repasse de R$ 68 milhões ao centro médico para a realização de cirurgias cardíacas, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. A prefeitura informou que entrará com recurso e alegou que a suspensão do convênio decorreu da situação financeira do município.

Apontou ainda a defasagem entre os custos da saúde e o que recebe de repasses estaduais e federais.

Funcionários da Santa Casa de Valinhos fizeram um protesto na mesma quarta contra o atraso nos salários. Eles não receberam o adiantamento de dezembro e a primeira parcela do 13.º salário. O hospital diz que o repasse da prefeitura atrasou e o ato não prejudicou o atendimento.

A prefeitura negou o atraso e informou que, neste ano, já repassou R$ 18 milhões ao local, valor acima do repassado em anos anteriores.

Na segunda-feira da semana passada, funcionários do Hospital Psiquiátrico Vera Cruz, de Sorocaba, fizeram um protesto contra a falta de alimentos para os 300 pacientes da unidade.

Eles estavam recebendo apenas duas refeições por dia – almoço e jantar. A situação das refeições já foi normalizada, mas ainda faltam médicos para os pacientes e funcionários para a limpeza do hospital. A Associação Paulista de Gestão Pública, responsável pelo hospital, alegou que a dificuldade é causada pelo atraso nos repasses da prefeitura. O município informou que as verbas previstas para o ano já foram executadas.


GRÁVIDAS


As gestantes de Angatuba estão sendo obrigadas a viajar para Itapetininga, a 110 quilômetros, para dar à luz. A Santa Casa local reduziu o atendimento às parturientes, depois que cinco médicos deixaram de atender por falta de pagamento.

O único hospital da cidade alega falta de condições financeiras para manter os profissionais.

Em assembleia na terça-feira, a provedora Maria Inês Barros Pereira afirmou que o centro médico pode fechar. “Todos os médicos estão com pagamentos atrasados e, se eles pararem, a Santa Casa também para.” O prefeito Calá Turelli (PSDB) alega que os repasses são feitos. “Até novembro passamos R$ 4,5 milhões para o hospital e, este mês, esperamos a entrada das transferências de impostos para fazer a subvenção.” Em Jundiaí, o Hospital São Vicente suspendeu as cirurgias não emergenciais e dispensou 25 médicos do pronto-socorro.

Outros funcionários e médicos terceirizados estão com salários atrasados. A administração também alega falta de repasses da prefeitura. O São Vicente atende 25 mil pessoas, faz 1,3 mil internações por mês e é o único hospital filantrópico de referência para a rede pública na cidade.

A prefeitura informou ter liberado, na terça-feira, R$ 5,5 milhões para o pagamento dos salários.

Segundo o município, além dos R$ 15 milhões destinados este ano, foi feito aditamento de outros R$ 13 milhões, mas a direção do centro médico alega que o dinheiro é insuficiente.

Os 30 mil moradores de Rio das Pedras estão sem hospital para casos urgentes. O São Vicente de Paulo suspendeu as internações, alegando que a prefeitura não faz repasses desde agosto, acumulando débito de R$ 1,5 milhão. Sete dos doze médicos pararam de atender por falta de pagamento. Os casos graves são levados para Piracicaba, mas as transferências também foram afetadas pela falta de pagamento à empresa de transporte. A prefeitura reconheceu a “grave dificuldade financeira, como a maioria dos municípios do Brasil”.


SERVIÇO ATÉ 19 HORAS


As 63 Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Campinas reduziram o horário de funcionamento.

Desde o início de dezembro, o limite de atendimento diário passou a ser às 19 horas e não mais às 22 horas.

De acordo com o secretário de Saúde da cidade, Carmino Antonio de Souza, o objetivo é reduzir custos e um estudo mostrou que, após as 19 horas, há queda de 80% nos atendimentos.

Conforme Souza, a medida não afeta as unidades de prontoatendimento, pronto-socorro e hospitais que atendem urgência e emergência 24 horas.




Microcefalia quadruplica na Colômbia.

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


O total de casos de microcefalia na Colômbia já é quatro vezes maior em 2016, na comparação com o ano anterior, informou ontem o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano.

Ao lado do Brasil, a Colômbia esteve entre os países mais afetados pelo zika na América Latina desde 2015.

Na Colômbia, foram 476 registros de bebês microcéfalos – 44 não sobreviveram – entre fevereiro e a metade de novembro, ante 110 casos reportados no mesmo período do ano passado.

Em julho, seis meses após o pico de infecções no país, o total de ocorrências chegou a ser nove meses mais alto do que no mesmo mês do ano anterior.

Segundo o CDC, isso “confirma que países com epidemia de zika têm maior probabilidade de sofrer com surtos de microcefalia e outras más-formações”.

O órgão americano também afirma que a infecção nos primeiros meses de gravidez traz mais riscos ao feto. O total de registros na Colômbia, no entanto, é bem inferior ao do Brasil.

Uma limitação dos números do CDC é que não há nenhuma comprovação laboratorial de infecção por zika de todos os bebês microcéfalos.

Para os autores do relatório, um dos fatores que explicam a diferença é o fato de as colombianas terem sabido sobre os riscos da doença antes de avançar o surto, uma vez que a alta de casos de microcefalia no Brasil alertou países vizinhos. Os números também indicam que muitas mães adiaram a gestação na Colômbia. A quantidade de nascimentos no país caiu em 18 mil entre 2015 e 2016.

As leis mais permissivas para o aborto na Colômbia, ainda segundo os especialistas, também podem explicar a disparidade registrada. No Brasil, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, afirmou que pretende discutir ainda neste ano o pedido para autorizar a interrupção da gravidez nos casos de infecção por zika.

O pedido foi levado à corte pela Associação Nacional dos Defensores Públicos.

Levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 29 países ou territórios já reportaram casos de bebês com má-formação associada à zika. O último foi a Nicarágua, que teve dois casos de microcefalia.


MIAMI


Ontem, o governador da Flórida, Rick Scott, declarou livre do vírus da zika o último foco de transmissão, localizado em Miami Beach. Segundo ele, está livre do vírus uma zona de South Beach, de 3,8 km², que compreende o distrito Art Deco e a Lincoln Road.

Este era o último foco de zika autóctone ativo desde que autoridades identificaram o primeiro na região, em julho. O foco de transmissão é declarado livre quando um novo caso não é registrado em ao menos 45 dias.

Até hoje, 1.244 pessoas foram contagiadas por zika na Flórida.

Houve 249 casos autóctones, 980 relacionados a viagens para zonas de risco no exterior e 185 de mulheres grávidas.

No Estado do Texas, porém, foram identificados ontem mais quatro casos de infecção autóctone por zika.




Vírus no soro materno indica infecção do feto

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Um estudo realizado na Espanha confirmou que a presença do ácido ribonucleico (RNA) do zika no soro materno de forma prolongada pode ser um indicador de infecção do feto, e, ao mesmo tempo, da presença contínua da doença na mãe.

O trabalho, liderado pela médica Anna Suy, da Unidade de Infecções Perinatais do Serviço de Obstetrícia e pesquisa do grupo de Medicina Materna e Fetal do Vall d’Hebron Institut de Recerca (VHIR), foi publicado pelo New England Journal of Medicine. A pesquisa é focada no caso de uma mulher grávida, infectada na América do Sul, que deu à luz um bebê com microcefalia.

Ela testou positivo por zika nas amostras de soro do sangue.

O resultado se manteve por 89 dias, ou seja, 107 dias depois do início dos sintomas, na 29.ª semana de gestação, embora os testes realizados na urina e na vagina dessem negativo. Só exames feitos a partir da 20.ª semana começaram a indicar problemas no bebê.




‘Aedes’ passa chikungunya em 7 de cada 10 picadas

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Chikungunya tem um potencial para provocar epidemia maior e mais grave do que todas as que foram causadas pela dengue no País até hoje. O vírus é mais agressivo, se espalha de forma mais rápida, é suspeito de causar mais mortes e, a exemplo do zika, pode ser transmitido da mãe para o feto durante a gestação, afirmam especialistas ouvidos pelo Estado. “Há ainda muitas perguntas a serem respondidas, mas não há dúvidas de que a epidemia por esse agente pode provocar estragos até então nunca vistos com a dengue”, diz o epidemiologista André Ricardo Ribas Freitas, da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses.

Dados preliminares da mortalidade em Estados atingidos pela chikungunya neste ano indicam uma mudança no patamar das taxas de mortalidade, afirma Freitas. Se comprovado, esse aumento deverá repetir um padrão que já foi identificado em outros lugares que também tiveram epidemia de chikungunya, como Ilhas Maurício, Reunião e Ahmedabad, na Índia.

No caso da Ilha Reunião, foram identificados 33 casos a mais de mortes, a cada 100 mil habitantes. “Quando chikungunya chegou ao Brasil, em 2014, o que se dizia era que o vírus era menos letal do que dengue. A experiência mostra o contrário”, completa o epidemiologista.

O professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Brito, tem avaliação semelhante.

“O cenário é muito preocupante.

Sobretudo em razão do potencial de mortes provocadas pela doença.” No estado de Brito, Pernambuco, foram relatados até o momento 369 casos de mortes associadas a arboviroses (aí incluídos dengue, zika e chikungunya). Dos registros suspeitos, 145 foram investigados e em 110 foi identificada a presença do chikungunya. O número supera em muito a maior marca contabilizada em Pernambuco, em 2013: 37 óbitos.

“Em outros países, as taxas de morte são de 1 caso para cada 1 mil pessoas doentes”, diz Brito.

Pode parecer pouco, mas não diante do potencial de ataque da doença. “Em todas as comparações que são feitas com dengue, o chikungunya se mostra mais agressivo”, completa.

A começar pela rapidez na transmissão.

O Aedes aegypti apresenta comportamento diferente para transmissão de chikungunya, dengue e zika. O tempo de incubação (o período entre o mosquito ter contato com o vírus e ser capaz de transmiti-lo) é menor no caso da chikungunya, quando comparado com dengue.

O mosquito leva em torno de 6 a 11 dias para passar a transmitir dengue. No caso do chikungunya, bastam de dois a cinco dias. “Isso faz com que a velocidade da expansão da epidemia seja muito mais rápida do que a de dengue”, conclui o epidemiologista.

Além de um período de incubação menor, o chikungunya é transmitido com maior facilidade do que dengue. O Aedes aegypti não transmite o vírus em todas as picadas. Em palestra dada no Ministério da Saúde, a pesquisadora do Laboratório de Doenças Febris Agudas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Patrícia Brasil, afirmou que o mosquito transmite o chikungunya em 70 a cada 100 picadas realizadas. Uma eficiência impressionante, quando comparada com a que ele apresenta para dengue (40 infecções a cada 100 picadas) e para zika (20 infecções a cada 100 picadas). “Isso também aumenta o risco de expansão da epidemia”, disse a pesquisadora.


SUSCETIBILIDADE


Para completar, a chikungunya provoca mais sintomas do que dengue.

“Cerca de 30% dos casos de dengue são sintomáticos”, conta Brito. Para chikungunya, a estimativa é de que 90% dos pacientes apresentem sintomas. Dos afetados, cerca de 25% desenvolvem a forma crônica da doença.

“Daí a necessidade de se prevenir contra a infecção”, afirma Brito. Ele observa que, ao contrário do que ocorre com dengue, a maior parte da população brasileira é suscetível ao chikungunya.

“Há um grande número de pessoas sob risco.” Patrícia concorda. “O fato de ter uma população inteira que nunca teve contato com o vírus aumenta muito o risco de uma epidemia de grandes proporções.” O chikungunya chegou ao Brasil em 2014 e, contrariando previsões de que rapidamente se alastraria, provocou surtos localizados na Bahia. Aos poucos ele foi se pulverizando e atualmente está presente em 41% dos municípios brasileiros, em todos os Estados do País. A epidemia já castiga o Nordeste.

Em 11 Estados, o número de casos da doença é superior a 80 casos por cada 100 mil habitantes.

No Rio Grande do Norte, a proporção é de 702 casos por 100 mil.


GESTANTE


A transmissão do chikungunya da gestante para o feto ocorre geralmente nos últimos três meses de gestação.

“Daí a necessidade de a grávida se proteger contra picadas do mosquito durante todo o prénatal.

Não apenas nos primeiros três meses”, diz Brito.

A transmissão da mãe para o bebê fora do período inicial da gravidez não provoca má-formação.

O bebê, no entanto, pode nascer com problemas graves de saúde, causados principalmente pela ação do vírus no sistema nervoso.




Maior parte das vítimas tem mais de 50 anos.

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


O maior número de mortes ocorre entre pessoas com mais de 50 anos, afirma o professor da UFPE Carlos Brito. Mas há relatos também de casos de mortes entre crianças. Os óbitos podem ocorrer tanto na fase aguda da doença quanto por descompensação de doenças que o paciente já apresentava.

“O chikungunya tem um potencial muito alto de provocar inflamações.

Na fase aguda, as mortes podem ocorrer por insuficiência renal, problemas neurológicos, problemas cardíacos”, diz. Freitas acrescenta haver casos também de morte por infecções de pele – algo raro, em condições gerais.

Até agora, a maior parte das mortes ocorre em pacientes que já apresentavam problemas anteriores. “A infecção acaba levando a uma descompensação de doenças respiratórias, circulatórias, renais”, conta Brito.

Não se sabe o que leva o chikungunya ter esse potencial de agravar ainda mais doenças que já estão presentes no paciente.

“Essa é a resposta que todos buscam”, afirma Freitas.

Brito alerta para a necessidade de que serviços de saúde sejam capacitados para atender pacientes com o vírus de forma adequada. Para ele, o principal é ficar atento a sinais de alarme para chikungunya. Na fase aguda da doença, logo nos primeiros dias, os sinais de agravamento são alteração do quadro neurológico, dores de cabeça persistentes, perda de força nos membros, sonolência, alteração do ritmo respiratório.

“Mas os problemas podem ocorrer duas, três semanas depois da fase aguda.”




Os perigos da bomba para emagrecer

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Inibidor de apetite, antidepressivo, calmante, laxante, diurético, hormônio, acelerador de metabolismo.

Sem falar de queimadores de gordura e potássio. Tudo dentro de uma cápsula manipulada para emagrecer, que pode ser comprada sem receita na internet, ou mesmo prescrita em consultórios médicos. Especialistas ouvidos pelo Estado afirmam que a procura e a indicação desse tipo de fórmula têm crescido no País em relação aos industrializados. Mas não há pesquisa que comprove essa alta. Embora as farmácias sejam obrigadas a declarar as substâncias vendidas, a Anvisa não reúne esses dados desde 2009, quando fez a última pesquisa sobre o tema. Há sete anos, os números já demonstravam o uso irracional de remédios manipulados para emagrecer – inclusive com associação proibida de substâncias.

Com reações que podem variar de uma alteração de humor a até mesmo a morte, esses medicamentos estão sendo prescritos para pessoas que estão com dois ou três quilos acima do peso. “As pessoas buscam fórmulas mágicas”, afirma Alexandre Hohl, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

A Anvisa informa que o problema saiu de sua agenda de acompanhamento por falta de profissionais para analisar os dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC). O ministro da Saúde, Ricardo Barros, nega que a Anvisa tenha problemas de pessoal e explica que a agência precisa, na verdade, se adaptar e simplificar seus processos para ter informação. “Se o medicamento controlado foi vendido na farmácia, a Anvisa pode saber online.” Por causa de uma dessas bombas emagrecedoras sem fiscalização, a soldadora Fabiane Ortiz, de 38 anos, foi parar no hospital.

“O médico que me atendeu disse que eu estava tomando mata-rato”, conta. Ela queria emagrecer e procurou uma médica em Pelotas (RS) que, de acordo com Fabiane, apenas perguntou-lhe se tomava algum medicamento. A fórmula foi receitada sem informar as substâncias. Após três semanas de uso, Fabiane desmaiou e foi levada ao hospital. Depois do susto, recuperou quase todo o peso que havia perdido.


FISCALIZAÇÃO


Para Hohl, da SBEM, é preocupante a Anvisa não monitorar o uso dos manipulados para emagrecer e tampouco fazer estudos sobre as substâncias de modo isolado – não apenas misturadas. Ele defende a fiscalização de médicos e farmácias de manipulação e propõe mudanças no comportamento dos pacientes. “Uma forçatarefa que juntasse Conselhos Regionais de Farmácia, Medicina e Anvisa poderia modificar esse cenário”, propõe.

A Anvisa recebe informações sobre venda de medicamentos controlados, mas afirma que a fiscalização cabe à vigilância sanitária de Estados e municípios.

Questionada sobre como são elaboradas políticas públicas sem dados, a Anvisa reconhece: “Essa é a dificuldade.”




Diagnóstico à flor da pele

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


De quem marcou a pele para salvar a vida aos que tatuaram no corpo o apego aos remédios, as fotos deste especial ilustram a forte relação entre pacientes e medicamentos. Usar a tatuagem como uma espécie de prontuário é uma prática comum no exterior que começou a ficar mais frequente no País.

Algumas vezes, a sugestão de fazer o desenho parte dos próprios médicos. A ideia é evitar que seus pacientes, em casos de emergência, recebam substâncias a que são alérgicos.

No Brasil, o grupo que mais aderiu à tatuagem é o dos diabéticos, pelos riscos que eles enfrentam em sua rotina. O fotógrafo Lucas Frasca, de 35 anos, tatuou o alerta depois de episódios em que desmaiou por causa do baixo nível de açúcar no sangue.

“Pode acontecer de me levarem para um hospital e me colocarem no soro normal, que tem glicose”, afirma Lucas. “Para um diabético, isso é perigoso.” Há ações específicas estimulando a prática. Caso da IdentiArte, promovida pela Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), em parceria com o Led’s Tattoo, em São Paulo. “Eles se sentem mais seguros”, diz Sergio Leds, dono do estúdio de tatuagem.




Todas as buscas na internet levam à gravidez

10/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Pode digitar na internet qualquer um destes sintomas: enjoo, cólica, cansaço, tontura, dor nas costas, azia, sensibilidade nos dentes, sangramento da gengiva, coceira, choro, bolhas no peito, intestino preso. Todas as buscas levam à gravidez.

“Tive sintomas emocionais, acne, chorava muito, e o Google falava que tudo era gravidez”, diz Luciana Lima, de 22 anos.

As pesquisas pelo tópico no buscador superam de longe as de outros assuntos de saúde. Os termos mais buscados são “gravidez”, “grávida” e “sintomas gravidez”. Entre dezembro de 2015 e novembro deste ano, a procura pelo tema foi três vezes maior do que por diabetes e câncer – duas das doenças crônicas mais comuns no Brasil. Hipertensão, também corriqueira, é quatro vezes menos procurada.

No caso de Luciana, nem três negativas em testes foram suficientes para convencê-la de que não seria mãe. Ela usava anticoncepcional e menstruou, mas acreditou ser nidação, sangramento comum a grávidas.

Essa não foi a única vez que “engravidou”.

A segunda suspeita veio com uma bolha de água abaixo do pescoço. “Joguei no Google e era aids ou gravidez.” Consultou uma dermatologista e descobriu uma alergia. “A médica riu, falou que o Google sempre diz isso.” A ginecologista Zsuzsanna Jármy-Di Bella, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que as pesquisas, em geral, são motivadas por medo ou dificuldade, e vontade, de engravidar.

“A internet potencializa esse comportamento.” O Google Trends, ferramenta que permite visualizar as estatísticas de buscas, mostra que, no período analisado pelo Estado, o Brasil foi o 24º colocado no ranking global de interesse por gravidez. Os cinco primeiros são Irã, Indonésia, África do Sul, Nigéria e Quênia. A sexóloga Maria Claudia Lordello, da Unifesp, diz que a dificuldade de acesso à informação é uma das razões para esses países estarem no topo, além de questões de direitos das mulheres e sexualidade. “Falar de gravidez é afirmar que a pessoa tem uma vida sexual, o que é um grande tabu.” Parceria. Informações imprecisas sobre saúde levaram o Google a fazer uma parceria neste ano com o Hospital Israelita Albert Einstein – assim como nos EUA – para destacar as explicações de especialistas nos resultados de busca de ao menos 400 casos clínicos. Embora tenha apelo, gravidez não foi incluída na lista, apenas tensão pré-menstrual (TPM). O Google, que fez a seleção, não informa os motivos para não incluir esse termo.

A vontade de ser mãe fez a publicitária Mariana Pondioli, de 33, buscar por qualquer sintoma.

Resultados como corrimentos vaginais diferentes ou gosto metálico na boca já a convenciam.

“Sempre dizia que estava sentindo algo pequeno que vi no Google, fiquei que nem louca procurando.” Ela engravidou meses depois, quando parou de pesquisar.

Com expectativa contrária, a estudante Isabele Troyano, de 21, acreditou que urina em excesso fosse um sinal. “Entrei em pânico e chorei sem parar.” Em duas semanas, menstruou e descartou a gravidez. Mas o sintoma se agravou, e ela descobriu uma infecção urinária.

Confusões assim são comuns, segundo Aldemir Humberto Soares, do Conselho Federal de Medicina. “As pessoas não têm filtros para avaliar o que veem no Google.” A ginecologista Carla Martins diz que o único sintoma a ser observado é o ciclo menstrual irregular. Especialista da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, ela sugere um exame de sangue após dez dias de atraso.

Caso dê negativo e a paciente não menstrue, é preciso repetir o exame e ir ao ginecologista.

“Não é só perguntar ao oráculo, tem de consultar o médico.”


MARCADO PELO DNA


O microempresário Alexandre Prado de Aragão Júnior, de 20 anos, não sabe como é viver sem remédios. Ele nasceu com fibrose cística, uma doença genética, e precisa tomar até seis pílulas de Creon diariamente.

Uma relação que Alexandre gravou na pele: o desenho da cápsula é acompanhado de uma espiral de DNA e da árvore da vida.




Rastro de agonia do zika

10/12/2016 - O Globo


Na vida pós-zika, trivialidades como escovar os dentes e beber um copo d'água se transformam em conquistas. São celebradas por pacientes adultos que contraíram encefalite e outras complicações neurológicas após a infecção. Agora, livres de encefalite, parte deles começa a apresentar síndromes neurológicas variadas. Alguns, jovens ainda, sofrem tremores como os característicos do mal de Parkinson. Outros, igualmente moços, demonstram perdas cognitivas típicas de demências. Perda de memória não é rara.

Estes pacientes se tornaram o centro das preocupações da equipe do médico e cientista Osvaldo Nascimento, professor titular de Neurologia e coordenador de pesquisa e pósgraduação em Neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Nascimento e seu grupo estão entre os pioneiros no Brasil na identificação da ligação entre o zika e a síndrome de Guillain-Barré e complicações como encefalites, encefalomielite disseminada aguda, meningoencefalite e encefalomielite. Agora, um ano após o atendimento dos primeiros casos, os mesmos médicos se deparam com outro desafio.

— Cerca de 40% dos pacientes que acompanhamos apresentaram síndromes neurológicas variadas depois de sofrer encefalomielite ou meningoencefalite. A infecção pelo vírus zika continua um grande mistério. Aprendemos muito em um ano, mas o desafio continua imenso. Não sabemos ainda que reações o vírus é capaz de produzir para afetar os pacientes dessa maneira — destaca Nascimento, um dos maiores especialistas do país em síndrome de Guillain-Barré e chefe do serviço de referência para a doença no Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói.


‘ESTAMOS NO LIMITE’, DIZ MÉDICO


Em 2016, cerca de 50 pacientes com Guillain-Barré e encefalites associadas ao vírus zika foram atendidos no serviço de neurologia do hospital. Destes, 20 apresentaram sintomas inesperados.

— Nossa amostra ainda é pequena, mas estamos preocupados e intrigados. É perturbador ver um adulto jovem ter sintomas semelhantes, por exemplo, aos da doença de Parkinson. Mas não se trata de Parkinson, e, sim, de uma síndrome neurológica distinta. O vírus zika parece permanecer no sistema nervoso como um terrível desafio — afirma o neurocientista.

Um dos pacientes atendidos por Nascimento é um jovem que contraíra encefalite ligada à zika. Ele teve alta, mas depois apresentou tremores intensos. Hoje se alegra com o abrandamento dos sintomas. Os tremores melhoraram após um novo tratamento, e o rapaz pôde voltar a comer, beber e escovar os dentes sem precisar de ajuda. Antes, os sintomas o impediam de controlar movimentos simples. Com a chegada das chuvas e do verão, Nascimento teme que mais gente seja encaminhada ao serviço.

— Estamos no limite. Pacientes chegam em estado grave, e o tratamento é caro. Um ciclo de imunoglobulina custa cerca de R$ 30 mil para um paciente de 70 quilos. Há pessoas que precisam de dois, três ou até mais ciclos. Fora os custos com CTI. Hoje, temos 20 pacientes que ainda precisam de atenção. A situação já era ruim no verão passado. No próximo, poderá ser crítica — destaca o especialista.

A neurologista Camila Castelo Branco Pupe, que integra o grupo de médicos da UFF, observa que a burocracia ainda gera atrasos no atendimento, a despeito da gravidade dos casos de comprometimento neurológico da zika:

— Todo o sistema é travado e burocrático. Para requisitar um único medicamento se leva muito tempo. Isto custa vidas.


FALTA DE RECURSOS PARA PESQUISAS


Enquanto a burocracia atrasa tratamentos, a ciência tem avançado, a despeito dos cortes de recursos para pesquisa.

— A ciência do Rio fez muito e poderia ter realizado ainda mais se houvesse recursos. Mas não há. Este ano não recebemos um tostão do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) ou da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Grande parte do conhecimento gerado sobre zika no Brasil veio do estado do Rio — frisa Nascimento.

Esse conhecimento produz resultados. O neurocientista cita descoberta de grupos do Rio sobre a cloroquina, droga contra a malária que teve bons resultados no combate do vírus zika em estudos.

— A cloroquina é promissora. Assim como a identificação de um indicador de gravidade da inflamação causada pelo vírus — diz.

Esse fator indicador é o anticorpo IgG3, mais elevado em pacientes de risco maior de apresentar complicações, supõem cientistas.

— Esperamos muitas coisas: que as pesquisas avancem, que drogas tenham mais sucesso, que tenhamos condições de atender a pacientes graves. E para tudo é preciso recursos para a ciência. Ela salvará vidas — observa Nascimento.




Um cigarro por dia já aumenta risco de morte

12/12/2016 - Correio Braziliense


Em se tratando de cigarro, não há espaço para a moderação. Segundo estudo do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI), fumar um cigarro ou menos por dia é o suficiente para comprometer a longevidade. Adotar o hábito aumenta em 64% o risco de morte prematura. Entre os que fumam até 10 diariamente, a taxa chega até a 87%. “Os resultados desse estudo confirmam a vigência das advertências contra o tabaco e o fato de que não existe um nível (de consumo) sem riscos”, ressaltou Maki Inoue-Choi, diretora da Divisão de Epidemiologia do Câncer do NCI e autora principal do trabalho, divulgado recentemente na revista Jama Internal Medicine.

O principal risco entre os fumantes leves é o de surgimento de câncer de pulmão, segundo a pesquisadora. A chance de morrer em decorrência das complicações desse tipo de tumor é nove vezes maior para indivíduos que fumam ao menos um cigarro por dia em relação aos que nunca fumaram. Entre a faixa de um a 10 cigarros, a probabilidade é cerca de 12 vezes maior. Segundo Maki Inoue-Choi, largar o vício reduz consideravelmente a suscetibilidade, principalmente quando se é mais jovem.

A investigadora destacou ainda que o estudo foi o primeiro a tratar os prejuízos do consumo baixo de cigarro. No trabalho, foram analisados dados médicos de mais de 290 mil adultos brancos com idade entre 59 e 82 anos. Desses, 22.337 (7,7%) fumavam, 156.405 (54%) eram ex-fumantes e 111.473 (38,4%) nunca tinham fumado. Entre os fumantes, 159 afirmaram fumar menos de um cigarro por dia em média e cerca de 1,5 mil relataram consumir entre um e 10. A dependência está atrelada ao surgimento de tumores em outras partes do corpo. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), 75% dos cânceres estão vinculados ao tabagismo, a problemas na dieta, ao alcoolismo e ao sedentarismo.




A burocracia contra o câncer

12/12/2016 - Carta Capital


Os avanços no cuidado de pacientes com câncer de pulmão estão beirando o inacreditável. Em pouco mais que dez anos, a expectativa de vida de um doente diagnosticado com câncer de pulmão, disseminado com metástases pelos vários órgãos do corpo, passou de seis meses para mais de quatro anos. Cuidados mais apropriados. Quimioterapia múltiplas vezes mais eficiente e mais bem tolerada, radioterapia precisa e cirurgia de baixa agressividade são as armas que os especialistas dispõem para combater o que o oncologista americano Siddhartha Mukherjee chamou de “o imperador de todos os males”.

Avanços, no entanto, necessitam de aprimoramento de médicos, enfermeiros, estatísticos, hospitais especializados, processos administrativos e éticos, além de investimento de tempo e dinheiro pelas autoridades de saúde de cada país. O mundo entendeu tais necessidades e as nações interessadas em embarcar no trem da ciência e do avanço tecnológico criaram agências de fomento à pesquisa básica e clínica, dedicando tempo e dinheiro para agilizar e manter os programas de pesquisa correndo a todo vapor. O Brasil, não.

Onze anos atrás, publiquei na minha coluna dados sobre a pesquisa clínica em câncer de pulmão no Brasil. Vários obstáculos foram apontados naquela época. Hoje. sentado no gigantesco auditório do Centro de Convenções de Viena, na Áustria, participando do Congresso Mundial de Câncer de Pulmão, assisti à palestra de um brilhante cientista brasileiro, o doutor Gilberto Castro, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), que descreveu o estado atual da pesquisa oncológica na América Latina, principalmente no Brasil. Eu me encolhi na poltrona do auditório ao saber da relativa inércia de nossa ciência, mesmo comparada com as nações irmãs do sofrido Mercosul.

As universidades, os hospitais e as instituições de ensino médico de nosso país não têm planos de fomento à pesquisa. Isso não faz parte de seus job descriptions. Gastam milhões em propaganda nos Meios de comunicação, descrevendo suas qualidades universitárias, suas tão marteladas excelências, mas não dedicam quaisquer míseros centavos para pesquisa de ponta visando ao real avanço da ciência e do saber. Ao mesmo tempo, o Brasil é campeão na América Latina no atraso absurdo para aprovação de projetos de pesquisa clínica, como indica o gráfico.

Uma pesquisa científica médica no Brasil leva. em média. 40 meses. Isso mesmo, mais de três anos para ser aprovada. E quando é aprovada, ao fim desse I inacreditável descaso das autoridades governamentais, a pergunta científica ou já foi respondida pelos inúmeros centros de I pesquisa ao redor do mundo ou a metodologia está obsoleta, necessitando nova aplicação, nova burocracia e um novo período de 40 meses, praticamente o dobro dos demais países latino-americanos. Marcos André Costa, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, confessou que enviou uma proposta para aprovação brasileira de estudo internacional, envolvendo instituições de vários países. ; Demorou tanto o retorno das agências reguladoras do Brasil que, quando foi aprovado o início da pesquisa, a mesma ficou aberta por somente nove dias. Cientistas do resto do mundo já haviam completado a pesquisa e incluído todos os pacientes necessários. Mais uma vez, o trem do avanço tecnológico passou e ficamos na estação. Somos meros espectadores da dinâmica inexorável do progresso científico.

Sentenciou o doutor Castro, do Icesp, ; na sua palestra em Viena: “O Brasil tem j muito o que fazer para se tornar um sé- i rio parceiro do time científico da oncologia mundial. A esperança é a última que | morre, sempre dizem. Mas logo antes dela milhares de brasileiros portadores de i câncer continuam morrendo, sem acesso a medicamentos altamente eficientes i e sem perspectiva de controle duradouro de um inimigo implacável”. E eu continuo me encolhendo nas poltronas dos i auditórios de conferências mundo afora.Também sem grandes perspectivas.




A trincheira do aborto

12/12/2016 - Carta Capital


Fernanda tinha 17 anos. Grávida de dois meses, no último ano do Ensino Médio, em desespero e com medo de decepcionar os pais, tomou Cytotec trazido do Paraguai no banheiro da república que dividia com amigas, no interior de São Paulo. O medicamento é um dos muitos nomes do misoprostol, remédio para úlcera gástrica, mas frequentemente utilizado como abortivo. Ela não se arrepende, mas não se esquece do episódio ocorrido há 15 anos. Hoje, constata: “Como é proibido, a mulher faz qualquer coisa e coloca a vida em risco. Tive sorte”.

A história de Fernanda é compartilhada por outros tantos milhões de mulheres no Brasil. Os números revelam uma realidade muitas vezes subterrânea e silenciosa. E mais presente do que se imagina. Estima-se que, aos 40 anos, uma em cada cinco tenha feito ao menos um aborto ao longo da vida, ou 4,7 milhões de brasileiras.

Somente no ano passado, 503 mil optaram pela interrupção da gravidez. Foram ao menos 1,3 mil abortos por dia, 57 por hora, quase um por minuto. Essas brasileiras são, acima de tudo, mulheres comuns. Os dados foram revelados pela Pesquisa Nacional do Aborto 2016, um dos maiores levantamentos sobre o tema no Brasil, realizado pelo Anis - Instituto de Bioética em parceria com a Universidade de Brasília e financiado pelo Ministério da Saúde.

“Ao reconhecer que quem faz aborto no Brasil é uma mulher comum, trazemos para perto de nós o que, no discurso, não tem biografia ou rosto. No Congresso, fala-se do tema como uma abstração. A mulher que aborta está em nossa família, na nossa vizinhança. Ela não é uma fantasia criada pelo debate moral”, afirma Débora Diniz, professora de bioética na UnB e uma das coordenadoras da pesquisa.

Em geral, a mulher que procura o procedimento é religiosa e conhece a maternidade. Segundo o levantamento do Anis, 88% são evangélicas ou católicas e 67% têm filhos. As taxas são maiores entre negras, indígenas, com menor escolaridade, e moradoras do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

O aborto só é permitido no Brasil em caso de gravidez resultante de estupro, risco de morte da gestante e feto anencéfalo. Restrita pela legislação e condenada por 79% dos brasileiros em pesquisas de opinião, a interrupção da gravidez ainda é um tema interdito, alvo de disputas políticas no Congresso e discussões no Supremo Tribunal Federal.

A criminalização não impede, porém, que abortos continuem a ser realizados em banheiros, clínicas particulares e fu tidos de quintal, em procedimentos muitas vezes inseguros, que colocam a vida em risco. A Organização Mundial da Saúde estima que 47 mil mulheres morrem anualmente por complicações relacionadas a abortos clandestinos em todo o mundo.

Com base nessa realidade, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, proferiu um voto histórico. Ao julgar um caso específico, a Primeira Turma da Corte entendeu que o aborto até o terceiro mês de gestação não é crime. “Por meio da cri- minalização, o Estado retira da mulher a possibilidade de submissão a um procedimento médico seguro”, disse. O ministro ponderou que não se trata de defender adisseminação do procedimento, mas de atuar para que seja “raro e seguro”.

Na avaliação de Eloisa Machado de Almeida, professora e coordenadora da FGV Direito São Paulo, o voto de Barroso é um pequeno avanço. O passo seguinte, diz, deve ser a legalização do aborto. “Descriminalizar significa que não haverá persecução penal contra a mulher e o médico. Então o aborto torna-se um direito e, portanto, exige uma contraprestação do Estado na formulação de políticas de saúde, para que essas mulheres possam exercer esse direito”, defende. “Descriminalizar, evidentemente, é um passo importante, mas legalizar é absolutamente necessário, sobretudo em um país marcado por tantas desigualdades.” Para o ministro, a criminalização do procedimento também é incompatível com a autonomia da mulher, com seus direitos sexuais e reprodutivos, com a integridade física e psíquica da gestante e com o princípio da igualdade de gênero. “Como pode o Estado impor a uma mulher, nas semanas iniciais da gestação, que a leve a termo como se tratasse de um útero a serviço da sociedade?” No mundo todo, revelam dados da OMS, uma em cada quatro gestações é interrompida. Entre 2010 e 2014, foram 56 milhões de abortos por ano. Duas décadas atrás, entre 1990 e 1994, a taxa era de 50 milhões. A conclusão é de que os abortamentos diminuíram nos países desenvolvidos, mas não nos periféricos.

A maior taxa ocorre justamente na América Latina, um dos continentes com as leis mais duras. Na região, apenas Cuba, Guiana, Guiana Francesa e Uruguai legalizaram o aborto. A rigidez da legislação coloca o Brasil ao lado de países como Nicarágua, Angola e Iraque. Ainda assim, 32% das gestações latino-americanas, entre 2010 e 2014, terminaram na interrupção da gravidez. No mesmo período, o registro foi de 17% nos Estados Unidos e no Canadá. Para a OMS, leis mais restritivas, além de não reduzirem os abortos, levam mulheres a buscar procedimentos ilegais.

A reação do Congresso ao aceno do STF sobre a descriminalização foi instantânea. No mesmo dia, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciou a instalação de uma comissão especial que pode incluir na Constituição uma regra clara sobre aborto. “Sempre que o Supremo legislar, vamos deliberar sobre o assunto”, discursou.

0 parlamentar, que deve concorrer à reeleição ao comando da Casa, empreitada para qual precisará dos votos das bancadas religiosas, tomou a decisão em meio à pressão dos deputados cristãos. Originalmente, a comissão foi criada para discutir uma Proposta de Emenda à Constituição sobre a ampliação da licença-maternidade para mães de bebês prematuros. Não há menção ao aborto, mas a ideia é inserir na proposta o que chamam de “jabuti”, ou seja, um ponto estranho ao projeto original.

Na contramão da decisão do STF, grande parte dos projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional busca endurecer a punição para o aborto. Das 36 propostas na Câmara, cinco desejam que a interrupção da gestação vire crime hediondo. Um deles é de autoria do ex-presidente da Casa, o deputado cassado Eduardo Cunha.

O Supremo deve julgar em breve uma ação com potencial de estender o direito ao aborto às grávidas infectadas pelo zika, vírus que pode causar microcefalia nos bebês. O tema seria debatido em plenário na quarta-feira 7, mas o julgamento acabou adiado por conta dos revezes políticos de Brasília. Em novembro de 2015, o Brasil decretou estado de emergência nacional devido ao surto de microcefalia no Nordeste. Em Io de fevereiro deste ano, a OMS decretou emergência em saúde pública de interesse internacional, devido ao aumento dos casos de zika nas Américas. Quatro dias depois, a Organização das Nações Unidas recomendou a descriminalização do aborto nos países atingidos pelo surto. Em setembro, 0 procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao STF um parecer favorável à autorização do aborto para gestantes infectadas pelo zika.

Quando a Corte autorizou o aborto de fetos anencéfalos, em 2012, prevaleceu 0 entendimento de que, nesses casos, não há expectativa de vida. O caso da microcefalia é, no entanto, mais delicado. No julgamento, será defendido o direito de escolha da mulher não com base na malformação fetal, mas na ameaça à saúde mental da gestante, como acontece nos casos de estupro.

As consequências do zika, vírus recém-descoberto, não são totalmente conhecidas. As crianças com microcefalia vítimas do primeiro surto estão em seus primeiros anos de vida e muitas sofrem com a ausência de atendimento especializado. Há ainda o abandono, que não raro atinge as mães e os bebês com microcefalia.

“Se sempre foi urgente falar sobre o direito à interrupção da gestação, agora é ainda mais”, afirma Diniz. “Temos uma epidemia em curso, que torna a criminalização mais dramática para as mulheres em sofrimento pelos incertos e severos efeitos do zika. Por isso, eu diria: sim, as chances são concretas, pois pela primeira vez vivemos com clareza a realidade de que proteger os direitos reprodutivos é proteger a saúde pública.” Assim como nas demais discussões do aborto, está em jogo a defesa do direito de escolha da mulher. Há quatro anos, a cineasta Letícia Simões, hoje com 29 anos, decidiu interromper uma gravidez não planejada. “O Brasil é uma catástrofe quando se fala de direitos das mulheres, dos negros e negras, da comunidade LGBTQ. Reclama-se da intervenção do Estado, mas, no corpo da mulher, acham que 0 Estado precisa estar presente.”

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