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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 05/12/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Múltis disputam a brasileira TheraSkin

03/12/2016 - O Estado de S.Paulo


A farmacêutica nacional TheraSkin, controlada pela família Scaravelli e especializada em produtos para tratamento de pele (dermocosméticos), atraiu pelo menos três grupos internacionais interessados em adquirir o controle da empresa e expandir seus negócios no Brasil. O ‘Estado’ apurou que a francesa Pierre Fabre, dona da marca Avène, a indiana Torrent e a espanhola Almirall apresentaram nesta semana propostas firmes para comprar a companhia.

As negociações estão sendo coordenadas pelo banco Credit Suisse, que foi contratado nos últimos meses pela família para buscar um investidor. O negócio é avaliado em R$ 1 bilhão.

Esse valor é o equivalente a 20 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) projetado da empresa para este ano, segundo a mesma fonte.

Com faturamento de R$ 200 milhões em 2015, a companhia começou a atrair o interesse de grupos nacionais e estrangeiros nos últimos meses. No início do ano, um laboratório nacional chegou a avaliar o negócio, mas considerou que o valor pedido pela controladora, Rosa Scaravelli, filha do fundador da farmacêutica, era alto demais, segundo uma fonte a par do assunto.

A multinacional indiana Sun Pharma também teria olhado o ativo, mas não teria feito uma oferta.

O Estado apurou que a Torrent vem buscando alternativas para reforçar sua presença no País já há alguns anos. Fontes de mercado afirmaram que o grupo analisou os ativos da Teuto, mas não levou o negócio adiante. A americana Pfizer, que adquiriu 40% do capital da Teuto e tinha opção de compra dos 60% restantes, agora quer vender sua fatia. No entanto, a indiana agora estaria concentrada na TheraSkin.

O grupo Pierre Fabre, que é um dos principais produtores de dermocosméticos na França, estaria interessado em reforçar sua posição no País, onde vem crescendo mais de 10% ao ano. A espanhola Almirall correria por fora na briga pelo negócio.

“O grupo Almirall quer se dedicar ao segmento de dermocosméticos.

Os executivos da companhia já sinalizaram que estariam interessados em injetar ¤300 milhões no País”, disse outra fonte de mercado.


CONSOLIDAÇÃO


O setor farmacêutico, um dos poucos que ainda apresentam crescimento firme no País, viveu um forte movimento de consolidação entre 2009 e 2014, mas o preço dos ativos subiu muito, o que acabou afugentando os interessados.

A expectativa é que as vendas de medicamentos neste ano cresçam de 8% a 10%. Dados da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) mostram que as vendas do varejo farmacêutico cresceram 12% no acumulado de janeiro a setembro, alcançando R$ 29,2 bilhões.

Apesar da crise, a área de dermocosméticos tem apresentado bom desempenho. Assim como a TheraSkin, outros grandes laboratórios brasileiros passaram a investir nesse segmento, que cresceu acima de dois dígitos nos últimos anos.

Procurada, a TheraSkin e o Credit Suisse não quiseram comentar o assunto. A Almirall disse que não falaria sobre o tema.

A Torrent informou que não comenta “rumores” de fusões e aquisições. A Pierre Fabre disse desconhecer as negociações.

A Sun Pharma negou ter apresentado oferta pela farmacêutica brasileira.




Indeferimentos de medicamentos suspensos por um mês

05/12/2016 - Anvisa


A Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos (GGMED) informa que, no período de 19/12/2016 a 13/01/2017, não irá publicar indeferimentos de petições. Apenas os deferimentos ou as petições com prazo de análise serão publicadas.

Os agendamentos de reuniões também serão suspensos durante o mesmo período, com exceção de casos urgentes.

A medida é em virtude da ocorrência de férias coletivas na maioria das empresas que atuam no setor durante este período. A rotina de publicação dos indeferimentos voltará no dia 16 de janeiro.

Demência e intelectualidade

05/12/2016 - Carta Capital


A doença de Alzheimer é a mais comum das demências. Descrita pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer, em 1906, ganhou popularidade no fim do século 20, época em que grandes massas populacionais ultrapassaram os 60 anos de idade.

A evolução é um contínuo de sintomas que levam à perda da memória e à morte depois de um período variável, com duração média de cerca de seis anos. Menos de 10% dos pacientes sobrevivem mais do que dez anos.

Nos estágios iniciais, as manifestações incluem falta de atenção, esquecimento de compromissos, de acontecimentos recentes e de onde foram deixados os objetos, e desorientação em lugares e ambientes estranhos. Com o tempo, aumenta a dificuldade para gravar informações recentes, as confusões se acentuam, as conversas se tornam repetitivas e surgem problemas na fala.

A doença evolui com comportamento agressivo, ansiedade, delírios paranoides, deficiências cognitivas, fadiga, apatia extrema, atrofia muscular, perda de mobilidade e incapacidade de sair da cama e de se alimentar por conta própria.

0 Journal of the American Academy of Medicine (Jama) acaba de publicar um estudo que traz esperança aos mais velhos: o número de americanos que desenvolvem Alzheimer está dim i nuindo.

O estudo reuniu os dados colhidos em dois inquéritos epidemiológicos: o primeiro conduzido no ano 2000; o segundo, em 2012. Em cada um deles foram avaliadas mais de 10 mil pessoas com pelo menos 65 anos de idade. No estudo do ano 2000, sofriam de Alzheimer ou outro tipo de demência 11,6% dos participantes. Em 2012, esse número caiu para 8,8%.

Com base nessa queda, John Haaga, diretor do National Institute on Aging, dos Estados Unidos, instituição que financiou o estudo, calculou que se em 2012 os números tivessem permanecido iguais aos de 2000, teria ocorrido mais de 1 milhão de casos de demência a mais.

Enquanto a prevalência diminuiu quase 3% no período, a escolaridade média dos participantes aumentou de 11,8 para 12,7 anos. Não há consenso para explicar por que a escolaridade exerceria esse efeito protetor. Kenneth Langa, professor de Medicina na Universidade de Michigan, autor principal do estudo, atribui o benefício ao seguinte mecanismo: “A educação modifica o cérebro, criando conexões mais complexas entre os neurônios, de modo a manter o pensamento íntegro até mais tarde, na vida”.

Os autores não afirmam que a educação seja o único fator capaz de evitar demências. Condições médicas como hipertensão arterial, obesidade, diabetes, colesterol elevado e a presença de doenças cardiovasculares constituem fatores de risco.

Trabalhos realizados entre nós mostram que as demências são mais prevalentes entre os analfabetos e naqueles com baixa escolaridade.

For estimular diversas áreas cerebrais ao mesmo tempo, a leitura cria conexões mais firmes entre os neurônios dos centros que armazenam as memórias.

A relação entre leitura e escolaridade não é direta. No Brasil, não são poucos os que cursaram a universidade, mas fogem dos livros como o diabo da cruz.




Custo das operadoras avança 19%

05/12/2016 - DCI


O custo das operadoras de planos de saúde com atendimentos médicos aumentou 19% nos 12 meses encerrados em março deste ano, de acordo com os dados mais recentes disponíveis e divulgados pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

Essa é a maior variação já registrada em um primeiro trimestre em toda a série histórica, iniciada em 2007. Altas da ordem de 19% já haviam sido registradas em novembro e dezembro de 2015. O indicador envolve custos das internações, exames, consultas, terapias e outros.

Em nota, o IESS considera que a frequência de utilização dos serviços de saúde pode ter se elevado diante do temor do desemprego.

A realização de exames e consultas acaba sendo antecipada quando os beneficiários temem perder o acesso aos planos de saúde.

O dilema do aborto

04/12/2016 - Folha de S.Paulo


A decisão da maioria da primeira turma do Supremo Tribunal Federal, na terça-feira (29), que declarou não ser crime aborto praticado nos três primeiros meses de gestação, traz novamente ao noticiário esse que é um dos temas mais polêmicos.

A decisão não obriga outros magistrados em deliberações futuras, mas servirá de referência. Prevaleceu na corte o raciocínio de que os artigos do Código Penal que criminalizam o aborto conflitam com o entendimento atual sobre direitos humanos da mulher inscritos na Constituição. Embora engenhoso, trata-se de um artifício.

Cada vez mais mulheres consideram abortar uma angustiante decisão íntima. A ciência não consegue estabelecer um marco nítido onde começa a vida; um nascimento indesejado pode ter consequências até mesmo ruinosas; estima-se que abortos clandestinos matem milhares de mulheres no país todo ano.

Por esses e outros motivos, esta Folha há muitos anos concorda com a descriminalização dessa prática no início da gravidez. Reconhece, porém, legitimidade no ponto de vista oposto; a questão é dessas que, por dividirem opiniões de modo profundo, deveriam ser deliberadas em plebiscito.

O artifício elaborado pelo ministro Luís Roberto Barroso na terça-feira é um brilhante expediente para contornar dispositivos inequívocos do Código Penal (artigos 124 e 126). Mas não contorna o fato de que parcela expressiva —segundo pesquisas de opinião, majoritária— da população se declara contrária à mudança na lei.

Em reação ao que decidira a primeira turma do STF, a Câmara dos Deputados se apressou a formar uma comissão sobre o tópico. No próximo dia 7 está previsto o julgamento, pelo plenário do STF, da petição na qual se quer incluir, entre os casos em que é facultado o abortamento humanitário, os de grávidas contaminadas pelo vírus da zika.

É um disparate que mulheres possam ser trancafiadas no sistema prisional brasileiro por um motivo desses. Talvez tenha chegado a hora de promover intenso debate nacional em que um dos lados consiga, pela troca racional de argumentos e dados, convencer uma parte do outro —formando, quem sabe, uma nova maioria.

Enquanto isso, é crucial ressaltar que o problema social do aborto seria menor caso Estado e sociedade dedicassem mais empenho na disseminação de uma cultura de cautela sexual, que não passa apenas pelo uso regular de preservativo, mas por campanhas públicas mais eficazes de esclarecimento e de disponibilização de meios anticoncepcionais.




HIV não cede no Brasil

04/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Novos números divulgados pelo Ministério da Saúde na última semana mostram que a epidemia de HIV está longe de dar sinais de desaceleração no País. São mais de 41 mil casos novos todos os anos, desde 2010. Hoje, estima-se que 827 mil brasileiros vivem com o vírus e 13,5% deles (112 mil) não sabem que estão infectados.

As novas infecções têm aumentado entre os homens, sobretudo mais jovens. De 2006 a 2015, elas triplicaram na faixa dos 15 aos 19 anos e dobraram entre 20 e 24 anos.

Entre as mulheres, o número de novas infecções tem caído, mas nas mais novas (15 a 19 anos) e naquelas com mais de 60 anos, há um aumento das taxas de detecção.

Levantamento da Secretaria Municipal de São Paulo, também da última semana, reforça a tendência nacional.

Apesar de uma queda de 31% de novas infecções na cidade de 2006 a 2015, houve um crescimento de quase 100% na população dos homens de 20 a 24 anos, como mostrou o Estado.

No grupo dos homens que fazem sexo com outros homens (HSH), a epidemia deu um salto significativo. Em São Paulo, em 2006, eles representavam 36,7% das infecções. Em 2015, esse valor passou para 53,2% do total (um crescimento de quase 45%). Os dados do Brasil mostram que o número de casos entre os HSH aumentou de 22,6% para 36,5% do total das novas infecções entre os homens no mesmo período. Esse número é ainda mais importante entre os homens jovens.

Uma análise dos dados da Unaids (Programa da ONU para a Aids), divulgados na semana anterior, revela também uma dificuldade de controle da epidemia no mundo, com 2,1 milhões de novas infecções em 2016, principalmente na faixa entre 15 e 24 anos, em que se estimam 7,5 mil novos casos todas as semanas. Na contramão do que acontece por aqui, os dados mundiais mostram que 90% dos casos entre os jovens se concentram nas garotas, que se contaminam principalmente com homens mais velhos. É o caso típico do continente africano.

Os resultados brasileiros revelam uma falha importante nas estratégias de combate ao vírus em populações específicas, mais vulneráveis. Entre as garotas mais novas de populações excluídas, pessoas dependentes de crack, profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens, as iniciativas empregadas estão longe de dar conta do recado.

Pensando nos mais jovens, as mudanças de comportamento nesse grupo não estão sendo acompanhadas por novas abordagens, mais modernas e efetivas. Houve também um acanhamento de projetos de educação na área da sexualidade, barrados por uma onda mais conservadora e pela falta de investimento no setor.

O jovem, apesar de mais informado, se preocupa menos com a questão da aids e das demais doenças transmitidas pelo sexo. Eventuais ameaças representadas pelo HIV surtem menos temor em uma geração afastada das fases mais críticas da epidemia, que completa 35 anos em 2016. A resistência ao uso consistente da camisinha cresce em todas as faixas etárias, até nos mais novos. Levantamento do Ministério da Saúde do ano passado já revelava que 45% deles não usam preservativo regularmente, nem mesmo com parceiros eventuais.

Mais conectado, mais liberal e com maior facilidade de encontros mediados pela tecnologia (aplicativos de celular como Tinder e Grindr, por exemplo), esse jovem multiplica sua chance de encontrar novos parceiros. Sem tanto medo e resistente ao uso de preservativo, ele aumenta o risco de se expor ao HIV.

E para mudar o cenário? Voltar a investir em uma política pública de educação sexual nas escolas, discutindo não apenas biologia e doença, mas focando em questões emocionais é um bom começo. Pensar em campanhas de prevenção direcionadas para as populações mais vulneráveis seria outro caminho importante.

Além disso, engajar as mídias sociais e aplicativos nessa luta ajudaria a acompanhar as mudanças de comportamento que acontecem com alta velocidade nessa faixa de idade. Para terminar, oferecer na rede pública de saúde estratégias combinadas de prevenção, como o uso de medicamentos (PrEP) em pessoas que se expõem a risco, para evitar novas infecção em grupos vulneráveis.

Será que conseguimos sensibilizar todas as partes envolvidas?




Aids chega aos 35 anos envolta em preconceito

04/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Quando descobriu estar infectado pelo vírus da aids, o educador José Araújo Lima, de 57 anos, não temeu a morte, mas, sim, ver as pessoas que amava se afastarem. Só abriu o diagnóstico para o primo, com quem dividia um quarto. A partir de então, o parente não aceitou dormir no mesmo cômodo que ele. O resultado positivo para o exame de HIV também fez o professor Bruno, de 23 anos, sentir-se excluído. Os amigos se afastaram e ele foi demitido do emprego quando o chefe descobriu a doença.

Lima se infectou em 1985. Bruno, em 2014. O tratamento disponível para a doença passou por uma revolução durante as quase três décadas que separam as duas histórias. O preconceito, no entanto, continua quase o mesmo.

“Naquela época, quem descobria ser soropositivo vivia na sombra. O preconceito era tão violento que você preferia a morte do que ter de lidar com ele. O tratamento evoluiu, mas a pessoa que descobre hoje o vírus tem os mesmos medos e as mesmas dores que eu carreguei em 1985. A principal delas é o terror do preconceito”, conta Lima, hoje integrante do Movimento Paulistano de Luta contra a Aids (Mopaids).

Também com medo da discriminação, Bruno enfrentou todos os efeitos colaterais dos medicamentos antirretrovirais sozinho, sem a ajuda de parentes nem de amigos, que se afastaram.

“Um dia fui a uma festa e percebi que algumas pessoas se afastavam, não conversavam direito.

Um deles se aproximou e perguntou se era verdade o que estavam comentando. Até hoje, ninguém fala mais comigo”, conta ele, que encontrou apoio em uma entidade que dá auxílio a jovens soropositivos, a Fundação Poder Jovem.

“A maior dificuldade deles é lidar com a segregação. Reunimos jovens com e sem o vírus para participarem juntos dos projetos. Eles fazem palestras em escolas e acolhimento a adolescentes que acabaram de descobrir o diagnóstico ou que estão internados”, conta Sandra Conceição dos Santos, de 48 anos, presidente da fundação.

É participando das atividades da entidade que Caliane Araújo da Silva, de 21 anos, tem tentado superar os traumas deixados pelo preconceito. Infectada pela mãe durante o nascimento, ela é uma das jovens que faz palestras e acolhimento. Cinco anos atrás, ela abandonou a escola justamente por sofrer bullying por causa da sua condição.

“Quando vou para o acolhimento, temos uma troca de energia muito boa. Como eu já passei pelo que o jovem passa, tento mostrar que estamos juntos, que é possível conviver com isso de cabeça erguida.” “Só tem uma alternativa ao preconceito: a informação. A falta dela abre espaço para qualquer pensamento e dificulta as ações de prevenção”, diz Luiz Carlos Pereira Junior, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.




Dormir pouco traz risco para o coração

03/12/2016 - O Estado de S.Paulo


Dormir pouco pode ser perigoso para o coração, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Bonn (Alemanha). Os pesquisadores avaliaram as condições cardíacas de médicos da própria equipe, que trabalham em turnos de 24 horas, e descobriram que a falta de sono aumenta a pressão sanguínea e sobrecarrega o coração, aumentando a força dos batimentos (contratilidade) e sua frequência.

“Pela primeira vez, mostramos que uma privação de sono de curto prazo, no contexto dos turnos de 24 horas, pode levar a considerável aumento da pressão sanguínea, da contratilidade e da frequência cardíaca”, disse o autor principal do estudo, Daniel Kuetting, do Departamento de Radiologia Diagnóstica da Universidade de Bonn.

Pessoas que trabalham em serviços de emergência, como médicos, policiais, bombeiros e outros, são convocadas com frequência para atuar em turnos de 24 horas. Já se sabia que esse tipo de jornada estressante pode afetar diversos processos físicos, cognitivos e emocionais.

Mas, segundo Kuetting, o novo estudo é o primeiro a focar no impacto específico do turno de 24 horas sobre as funções cardíacas.

Os resultados da pesquisa foram apresentados na manhã de ontem na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA).

Os estudos foram feitos com os próprios médicos da universidade.

Foram selecionados 20 radiologistas saudáveis com idade média de 31,6 anos. Cada um dos participantes foi avaliado com exames de ressonância magnética cardiovascular, com análise de deformação.

Os participantes foram submetidos aos exames antes e depois de seus turnos, nos quais tiveram em média três horas de sono. Os cientistas também coletaram amostras de sangue e de urina de todos e mediram a pressão sanguínea e a frequência cardíaca.

Após a privação de sono de curto prazo, além de apresentarem elevação considerável da pressão sanguínea e da frequência e contratilidade cardíaca, os participantes também tiveram um aumento importante dos níveis de hormônios da tireoide e do cortisol – um hormônio liberado pelo organismo em resposta ao estresse.




Milhares de portadores de HIV não se tratam

05/12/2016 - IstoÉ


Quinta-feira, 1 de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids. O Ministério da Saúde revelou dados preocupantes que compõem um dos mais amplos painéis sobre a doença no Brasil. Há 372 mil pessoas infectadas pelo HIV que não se tratam medicamente: 260 mil portadores sabem que são soropositivos mas não seguem tratamento, outros 112 mil contraíram o vírus mas nunca se submeteram a exame sorológico. No ano passado foram realizados no País 8,5 milhões de testes de HIV. O estado com maior incidência de casos é Roraima: 8,1 ocorrências por 100 mil habitantes. No total, o Brasil possui 830 mil infectados.




‘Involução civilizatória’, diz parecer enviado pelo Senado

05/12/2016 - O Globo


Assinado por seis advogados, o parecer que o Senado encaminhou ao STF contra o direito ao aborto em caso de contaminação do feto pelo zika vírus contempla posições radicalmente conservadoras. Além de comparar a descriminalização do aborto à de homicídio, o documento retroage até em relação à proteção aos direitos reprodutivos das mulheres, assegurados em lei há mais de 75 anos.

O parecer relativiza, por exemplo, a prevalência dada à mulher — a lei permite o aborto em caso de risco de morte para a gestante — quando há conflito entre o direito à vida do nascituro e da mãe. “É preciso agir com extrema cautela, observando o feto com o mesmo respeito devido à situação da mãe”. Também classifica como “involução civilizatória”, que conduziria à eugenia, a autorização de aborto por malformação do embrião ou do feto — como já determinado pelo STF no caso dos anencéfalos.

O time masculino de advogados do Senado menospreza ainda o sofrimento mental — chamado de tortura pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Procuradoria Geral da República — imposto às mulheres que contraíram zika durante a gravidez. “Não se demonstra a existência de elementos que possam assegurar que a saúde psicológica da mulher é melhor assistida pela autorização de aborto do que pela manutenção da gestação.” Também defende que há incerteza quanto a outros efeitos terríveis da zika, além da microcefalia.


“VONTADE DA MAIORIA”


Apesar de o direito ao aborto nunca ter sido examinado pelos deputados e senadores, os advogados do Senado deduzem que o Código Penal nunca foi modificado neste ponto, “não por mera omissão ou distração, mas pela vontade da maioria do Congresso Nacional.” Igualmente de forma genérica, sustentam ainda que “a repulsa ao aborto está profundamente arraigada na cultura brasileira” e “que as doutrinas abrangentes no país são uniformemente contrárias ao aborto.” Por fim, o Senado é contrário a prolongar benefícios sociais às famílias vitimadas pela epidemia do vírus zika já que, em tempos de crise econômica, não se pode “sobreonerar os já combalidos recursos do erário nacional.”

Segundo o Ministério da Saúde, até julho de 2016 foram registrados no Brasil 174 mil casos prováveis de infecção pelo zika, sendo 78 mil confirmados. Foram 15 mil casos envolvendo gestantes — 6,9 mil deles já confirmados. No Estado do Rio, de novembro de 2015 a 26 de novembro passado, 163 bebês nasceram com microcefalia associada ao vírus zika. Outros 396 casos da doença estão em investigação.




Espera angustiante

05/12/2016 - O Globo


A ação que permite a interrupção da gravidez em caso de mulheres infectadas pelo vírus da zika será julgada quarta-feira pelo STF. Antes que o verão traga de volta as perigosas nuvens de Aedes aegypti, o Supremo Tribunal Federal (STF) marcou para a próxima quarta-feira o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade (Adin) que impede processo e prisão, previstos no artigo 124 do Código Penal, de mulheres que interromperem a gravidez por terem sido infectadas pelo vírus da zika. A medida, que propõe a legalização do aborto nestes casos, opção já recomendada pela ONU para os países onde há epidemia da doença, foi apresentada pela Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) e tramita no Supremo desde setembro.


GESTAÇÃO


O Supremo Tribunal Federal vai analisar o direto da mulher ao aborto, em caso de infecção pelo vírus da zika: medida que foi apresentada pela Associação Nacional dos Defensores Públicos tramita na corte desde setembro

A análise do mérito ocorrerá uma semana após a Primeira Turma do STF negar a prisão preventiva de acusados de aborto e decidir, por maioria, que a prática, por qualquer motivação, não é ilegal nos três primeiros meses de gestação. O voto apresentado agora pelo ministro Luís Roberto Barroso, referente a um habeas corpus analisado em 2015, sustentou que a criminalização do aborto no primeiro trimestre é incompatível com direitos fundamentais da mulher, dentre eles os sexuais e reprodutivos, além de ferir sua autonomia, integridade física e psíquica e o princípio da igualdade. A medida deve ser contestada pela Câmara dos Deputados.

Relatada pela presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, a Adin recebeu pareceres da Procuradoria-Geral da República (PGR), da Presidência da República, via Advocacia-Geral da União (AGU), e do Senado. Os três órgãos argumentaram que a Anadep não teria legitimidade para propor a ação, o que não impede o plenário do STF de divergir e julgar a matéria. No mérito, a PGR se mostrou favorável ao direito ao aborto em caso de contaminação por zika, mas a AGU e o Senado são contrários, preferindo adotar somente a perspectiva de defesa do direito à vida desde a concepção.

O procurador-geral Rodrigo Janot concordou com o argumento da petição de que a mulher infectada pelo vírus da zika está em risco físico e psíquico e em estado de tortura mental, uma situação de clara violação de seus direitos fundamentais. Com base nesta mesma tese, o Conselho de Direitos Humanos da ONU solicitou aos países com surto da doença, agravado pela negligência do poder público em combater o mosquito, que permitam o aborto seguro nas redes pública e privada.

Além de defender a opção de a mulher interromper a gestação, caso ela queira isso, Janot considerou inconstitucional o prazo de apenas três anos para o pagamento do benefício de prestação continuada aos pais de crianças com microcefalia e a exigência de perícia do INSS e de comprovante de pobreza para a gestante receber o recurso. Já a AGU e o Senado não viram inconstitucionalidades e defenderam as políticas públicas de saúde adotadas pelo governo.

Em 2012, o STF autorizou o aborto — já permitido em casos de estupro e risco de morte da mãe — de fetos sem cérebro. Na época, a ministra Cármen Lúcia, hoje relatora da Adin, afirmou que a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos preservava a dignidade da vida, “que é o que a Constituição assegura como o princípio fundamental do constitucionalismo contemporâneo”. Recentemente, ela avaliou que o problema da microcefalia era “completamente diferente”. Avaliou ainda que a epidemia de zika tornava o assunto mais delicado e demandava o debate na sociedade brasileira.


MICROCEFALIA NÃO É O MAIS GRAVE


A polêmica sobre o direito ao aborto enfoca a microcefalia, caracterizada pelo tamanho menor do crânio, como o distúrbio mais conhecido em bebês afetados pelo zika na gestação. Mas revela que não é o único, nem sequer o mais grave. Desde a decretação de emergência sanitária no Brasil, em novembro de 2015, cientistas e médicos têm constatado, em nível nunca visto, a destruição do cérebro em desenvolvimento. Chamam coletivamente as numerosas anomalias de síndrome de zika congênita, um termo guarda-chuva que inclui de ausência de córtex cerebral a deformidades severas de membros e órgãos.

Nos casos mais graves, o vírus provoca tamanha devastação que os fetos não têm tecido cerebral ou têm apenas restos do que viria a ser um cérebro. Quase todos nascem mortos. Especialistas explicam que esses bebês nem sempre são microcéfalos. Alguns apresentam perímetro craniano normal.

O surto de microcefalia associado ao zika vírus, que levou o governo brasileiro e a Organização Mundial de Saúde (OMS) a advertirem em 2015 para o risco de gestação, é só a ponta do iceberg. Hoje especialistas alertam, em conceituadas publicações científicas, que até bebês com tamanho do crânio normal podem ter anomalias extremamente severas, do tipo que as impede de respirar e engolir sozinhas. O mais preciso é falar em microencefalia, quando o tamanho do encéfalo, isto é, do tronco cerebral, cerebelo e cérebro, é reduzido.

E o zika pode provocar casos ainda piores. Pode não haver encéfalo algum ou só fragmentos. Há casos de bebês com hidrocefalia e tamanho de cabeça absolutamente normal. Mas dentro não há nada; apenas líquor. Nesses casos, o zika atacou de tal forma o sistema nervoso, que os neurônios morreram. Esses bebês morrem logo após nascer.

A hidrocefalia associada ao zika é completamente diferente da hidrocefalia comum, quando a cabeça é maior pela dilatação causada pelo acúmulo de líquidos, mas existem estruturas cerebrais preservadas. Nesses casos, se o líquor for drenado, é possível evitar ou reduzir danos.

Estudos publicados evidenciaram ainda alta frequência de outra deformidade severa associada ao zika, a ventriculomegalia. Ela acontece quando os ventrículos cerebrais, as cavidades do cérebro, são hipertrofiados e preenchidos por líquor. Neste caso, pode haver comprometimento de todas as funções cerebrais.

Além das microencefalia, da hidrocefalia, da ventriculomegalia, pesquisas já revelaram numerosas outras alterações do desenvolvimento cerebral. Calcificações (cicatrizes) são comuns nesses fetos. Já a anencefalia clássica nunca foi observada em fetos atingidos pelo zika.




DF registra primeira morte por chicungunha

04/12/2016 - Correio Braziliense


A duas semanas do início do verão, em 21 de dezembro, autoridades sanitárias estão em alerta para as infecções transmitidas pelo Aedes aegypti. O mosquito volta a causar temor e traz novas nuances: a chicungunha, segundo pesquisadores, pode provocar uma grande epidemia no país. A capital federal contabiliza três anos de alta nos registros da doença. O crescimento chega a 800% entre 2015 e 2016. A Secretaria de Saúde confirmou a primeira morte pelo mal no Distrito Federal. Outra situação ilustra o agravamento do problema. Um paciente tenta se aposentar por complicações crônicas desencadeadas pela chicungunha. Ao mesmo tempo, a dengue e o zika deixam panorama ainda mais pessimista — nunca ocorreram tantas contaminações.

Seis regiões administrativas concentram 55% dos casos de chicungunha, uma doença que chegou ao DF em 2014 de maneira discreta. Ocorreram, neste ano, 153 infecções, sendo 22 em Ceilândia (veja infográfico). Das bancadas do Laboratório Central (Lacen) e das estatísticas da Vigilância Epidemiológica, surge somente uma saída para frear o avanço dos estragos causados pelo Aedes: a prevenção. Para isso, é essencial destruir focos nos quais o mosquito possa se desenvolver. “Não temos alternativas, a não ser combater o vetor, ou seja, o mosquito. Para termos diminuição de casos das doenças, precisamos reduzir também a presença do Aedes”, pondera a gerente de doenças crônicas e agravos transmissíveis da Secretaria de Saúde, Cristiane Resende.

O homem que morreu com complicações de chicungunha recebeu atendimento em Sobradinho. Na cidade, foram registrados nove casos — alta de 350% em relação ao ano passado, quando ocorreram duas notificações. “O dado ainda não está no Boletim Epidemiológico, mas entrará na próxima edição. Confirmamos o óbito há pouco mais de uma semana. Houve uma investigação, mas o local de infecção é desconhecido”, comenta Cristiane. Ela prefere não fazer previsão para a doença em 2017. “Trabalhamos com vigilância e registro de casos, não podemos fazer previsões”, pontua.

Um outro paciente — que não teve a identidade divulgada — entrou com pedido de aposentadoria no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ele alega que desenvolveu danos nas articulações e ficou impossibilitado de trabalhar. O caso é investigado por uma junta médica e pelo Lacen. A farmacêutica especialista em biosaúde do Lacen Graziela Araújo acompanha a apuração no laboratório. “Há, realmente, a possibilidade de se desenvolver dores crônicas. Algumas pessoas, meses depois, nem sequer conseguem digitar no celular”, detalha.


ALERTA


A ciência explica que alguns vírus, como os da dengue, da chicungunha e do zika, alastram-se com facilidade porque os mosquitos se contagiam ao picar animais infectados, como os macacos e os pássaros silvestres. Atualmente, são conhecidos 34 arbovírus no país. Os cientistas os classificam de acordo com o tipo de síndrome febril que provocam e a gravidade dos acometimentos. “Em média, levamos três dias para fazer o diagnóstico da doença. Analisamos, laboratorialmente, a presença do vírus quando a chicungunha está no início ou na produção de anticorpos, após a fase aguda da infecção. Por isso, a necessidade de atendimento precoce”, explica Graziela.

Antônio Bandeira, do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), destaca a alta velocidade de transmissão que a chicungunha tem mostrado. Ele analisou a situação epidemiológica do DF. “Espera-se uma mortalidade menor, mas a doença é extremamente incapacitante. Mais da metade dos pacientes ficam com problemas crônicos. Uma verdadeira legião de sequelados”, ressalta. E emenda. “O vírus pode se multiplicar e trazer alterações imunológicas, desenvolvendo anticorpos que agridem o corpo e provocam a inflamação”, conclui.


CASOS IMPORTADOS


As primeiras infecções no DF ocorreram em 2014. Inicialmente, quatro pessoas tiveram chicungunha. O vírus, segundo a Secretaria de Saúde, foi trazido da República Dominicana, do Haiti e de Barbados (ilha na América Central). Três moradores da Asa Sul, sendo um casal, e um do Lago Norte foram os contaminados. Entre os pacientes, estava uma missionária religiosa. O tratamento, à época, ocorreu no Hospital Regional da Asa Norte.


MAYARO NO ENTORNO


A Secretaria de Saúde de Goiás confirmou um caso de mayaro em Luziânia, distante 50km do Plano Piloto. A doença trilha caminho para ser o próximo vírus a se urbanizar e causar epidemias. Assim como o zika e a dengue, o “parente próximo” da chicungunha causa surtos de uma síndrome febril aguda, que causa dor nas articulações, tontura, náuseas, fotofobia e dor lombar. Os sintomas duram de três a cinco dias, mas as dores na articulação podem se prolongar por semanas. Em Goiás, do ano passado até o início de março, a Secretaria de Saúde notificou 70 casos da doença. O Laboratório Central (Lacen) passou a realizar o diagnóstico há duas semanas. Antes, o teste era feito somente no Instituto Evandro Chagas, no Pará.


EPIDEMIA DEVASTOU ILHA


Tudo começou em fevereiro de 2005. Médicos alertaram as autoridades sanitárias de que pacientes estavam sentindo fortes febres, acompanhadas de dores articulares agudas. A Ilha Reunión, no Oceano Índico, decretou a epidemia de chicungunha em 2006. Mais de 260 mil pessoas tiveram a doença, sendo que 225 morreram. O lugar, que era roteiro paradisíaco para o ecoturismo, deu lugar a uma onda de ostracismo e pânico. A economia local desacelerou bruscamente. Em alguns distritos, até mesmo os médicos adoeceram. No início da epidemia, os profissionais confundiam o diagnóstico com uma “forte gripe”. Mais tarde, a luta contra o vírus se tornou causa nacional. Os casos de “l’homme courbé” (na África, chicungunha significa homem que se curva, em referência à postura dos pacientes) foram a maior crise de saúde pública em Ilha Reunión. Depois disso, o número de casos diminuiu drasticamente.




Dengue e zika preocupam

04/12/2016 - Correio Braziliense


Temendo perder completamente o controle da situação com o avanço da dengue e do zika, doenças que registraram recorde de infecções em 2016, a Secretaria de Saúde acompanha semanalmente a evolução dos casos. A dengue nunca infectou tanto na capital federal: são 21.162 notificações. O zika acometeu 174 pessoas, sendo 26 gestantes. A doença avançou 4.250% em um ano. Dois bebês morreram com agravos do mal e um caso continua em investigação. “Temos que acompanhar essas crianças até os 3 anos. Pode haver casos de microcefalia tardia”, argumenta a gerente de doenças crônicas e agravos transmissíveis da Secretaria de Saúde, Cristiane Resende.

O cronograma de combate ao Aedes aegypti da Secretaria de Saúde conta com 2 mil agentes comunitários de saúde, 546 agentes de vigilância ambiental em saúde, 220 homens das forças armadas, 40 bombeiros, além do reforço de servidores do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) e das administrações regionais. Mesmo com o esforço, Antônio Bandeira, do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é pessimista em relação ao controle. “Se houver uma redução de casos, nada tem a ver com ação direcionada. O que pode acontecer é que o número de pessoas imunizadas aumente e as vulneráveis diminua, já que chicungunha e zika se contraem apenas uma vez”, completa Antônio.

Este ano, por dia, o DF registrou 63 novos casos de dengue — média inédita, superando até mesmo as epidemias de 2010 e de 2013. O crescimento da doença chega a atingir 978% ante o ano passado, como em Brazlândia, que saltou de 180 casos para 1.942. Para Pedro Tauil, do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Brasília (UnB), os números deixam um legado. “Essas são doenças que carecem de aprimoramento de diagnóstico, tratamento e prevenção. Precisamos investir na possibilidade de vacina. O tratamento atual é muito difícil, com uso de antivirais, drogas que não temos muitas para usar”, avalia o especialista em controle de doenças e epidemiologia.




Medicina, soma de prevenção e precisão

05/12/2016 - Folha de S.Paulo


Um debate recorrente, ainda mais em tempos de escassez econômica e fortes limites orçamentários, trata do destino de recursos e atenções na área da medicina. Afinal, devemos focar a prevenção de doenças ou os avanços tecnológicos e científicos? Onde colocamos nossas poucas fichas?

Há nesta pergunta, acredito, uma falsa dicotomia, infelizmente bastante difundida. A versão de que o cobertor é curto e que, portanto, deve-se fazer a opção por uma linha em detrimento da outra.

Prevenção ou precisão? Alta ou baixa tecnologia? A experiência nos mostra que a medicina avança, de fato, quando ambas caminham juntas. O que no passado foi a vanguarda na área, hoje se tornou parte do dia a dia, com custos relativamente baixos.

O novo currículo da Faculdade de Medicina da USP, aliás, aposta tanto no fortalecimento da medicina preventiva e da atenção básica quanto na aproximação dos alunos com as técnicas mais modernas e especializadas.

Mesmo a alta complexidade vem demonstrando que pode chegar a muitos, independentemente da classe social. Prova disso é que neste ano o Incor, do Hospital das Clínicas da USP, superou a marca dos mil transplantes de coração e pulmão.

Ou ainda, no mês de setembro, o HC realizou o primeiro transplante de útero da América Latina, abrindo um novo universo de possibilidades para mulheres que queiram engravidar, mas tenham algum problema neste órgão. Como, diante desses fatos, abdicar dos investimentos na medicina de ponta?

Por outro lado, é notória e incontestável a importância da prevenção e da atenção básica à saúde. Evitar que as pessoas fiquem doentes -em casos em que isso é plenamente viável com educação, cuidados alimentares, saneamento básico e, por exemplo, estímulo a uma vida não sedentária- é fundamental.

Mesmo com menos dinheiro é possível garantir mais saúde para um conjunto muito maior de pessoas, evitando gastos com tratamentos caros que viriam com as doenças. Como, então, abdicar da prevenção?

Parece claro que a resposta está em equilibrar os recursos e compreender onde esses dois caminhos se encontram. Um exemplo que destaco são as pesquisas em medicina de precisão.

Com as informações provenientes do big data e o sequenciamento genético do ser humano, teremos a possibilidade, inédita na história, de afunilar o tratamento de cada paciente até o nível molecular de especificidade. Há quem diga, porém, que os altos custos dessas pesquisas dificultam essa alternativa.

Discordo dessa visão. É conhecido o desperdício que, por vezes, ocorre com medicamentos de alto custo, como no câncer, quando não há boa resposta em alguns pacientes em razão dos diferentes mecanismos moleculares envolvidos.

Há custo econômico, mas há também o custo em vidas. O tratamento equivocado também significa a perda de tempo até que se chegue ao tratamento correto. Por vezes, tarde demais.

Assim, apesar da enorme evolução na área da oncologia, precisamos seguir avançando.

A medicina de precisão representará, portanto, uma enorme oportunidade de economia de recursos em medicamentos e tempo de internação, que poderão, inclusive, ser aplicados na prevenção e atenção básica.

Ao mesmo tempo, garantirá ao paciente o melhor tratamento possível. Isso representa mais economia e, ao mesmo tempo, mais saúde. Representa precisão e prevenção. É como a medicina deve ser.




O fim do jejum

05/12/2016 - IstoÉ


Vai acabar aquela velha rotina de passar a noite em jejum, madrugar no laboratório de análise clínica e esperar uma hora para ser atendido enquanto tenta-se esquecer a fome. Um consenso entre quatro entidades médicas brasileiras que será divulgado na segunda-feira 5 recomendará o fim do jejum antes da realização de exames para medir os níveis de colesterol e de triglicérides. “É muito mais prático e facilitará a vida para os pacientes”, afirma a cardiologista Tania Martinez, conselheira para Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, uma das instituições participantes. As outras são as sociedades de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial e Análises Clínicas, a de Endocrinologia e Metabologia e a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica.


TENDÊNCIA MUNDIAL


A nova orientação segue a conduta adotada há algum tempo por entidades europeias e americanas depois de diversos estudos demonstrarem que ficar ou não sem comer não implicava diferenças significativas nos resultados. Um deles, feito no Canadá com mais de duzentas mil pessoas, revelou variações de menos de 2% nas taxas de HDL (o bom colesterol) independentemente de jejum e de menos de 10% nas concentrações de HDL (colesterol ruim). E não importa se o paciente ingeriu frutas e legumes ou batata frita hambúrguer. Simplesmente não faz diferença.

Jejuar horas antes de se submeter aos exames não é mais obrigatório na Dinamarca e na Inglaterra, por exemplo, e recentemente tornou-se consenso oficial da Sociedade Europeia de Aterosclerose. “Nossa experiência mostra que é muito mais simples para pacientes, médicos e laboratórios”, disse à ISTOÉ o médico dinamarquês Borge Nodestgaard, da Universidade de Copenhague.

O especialista é um dos principais defensores da medida e a considera aplicável a qualquer caso. Há uma parcela de médicos, no entanto, que aponta exceção quando o paciente apresenta concentração muito elevada de triglicérides (outro tipo de gordura usualmente medida) sem jejum. No Brasil, um novo teste será indicado quando o nível desta gordura superar os 440 mg/dL. Desta vez, cumprindo jejum.

As entidades nacionais farão a partir de agora um esforço para divulgar as orientações nas publicações especializadas dirigidas aos médicos. “Eles vão precisar receber muita informação, e repetidamente”, explica Tania Martinez. Na Europa, inicialmente houve certa resistência por parte dos profissionais de saúde e desconhecimento entre os pacientes, mas ambos os obstáculos foram superados.

Ficar sem comer – oito horas antes – continua valendo para a medição da taxa de açúcar. O resultado do exame é critério para diagnóstico de diabetes. Mas o teste que deve ser feito a cada três meses para acompanhamento da doença, o da hemoglobina glicada, dispensa jejum anterior.


SEM DIFERENÇA


Um estudo canadense com mais de 200 mil pessoas mostrou:

Os níveis médios de HDL (bom colesterol) e o colesterol total variavam menos de 2% independentemente de a pessoa ter comido uma hora antes do exame ou jejuado antes por oito horas

A taxa de LDL (colesterol ruim) teve variação de menos de 10% e a de triglicérides, menos do que 20%.




Infecções por Aids aumentam entre jovens

05/12/2016 - Correio Braziliense


Aos 21 anos, Sandra (nome fictício) mantinha relações sexuais com o primeiro namorado sem preservativo. Logo, a mistura de fatores perigosos colocou a moradora do Recanto das Emas na lista de soropositivos da capital federal. A Secretaria de Saúde estima que são, ao todo, 11 mil pessoas na mesma condição da moça. E, somente nos últimos seis anos, somaram-se 3,1 mil novos casos. O diagnóstico, o tratamento e a sobrevida com a Aids ainda são temas mergulhados em preconceito e desinformação. Apesar de não avaliarem o aumento de casos da doença como preocupante, as autoridades sanitárias alertam para a mudança de perfil: jovens entre 20 e 34 anos são responsáveis pela maioria das infecções recentes.

O impacto do diagnóstico e a vergonha levaram a estudante de direito a refazer o exame para HIV duas vezes. “Era algo inacreditável para a minha realidade. Até aquele momento, nunca havia pensado na possibilidade de ser soropositiva. E a pior parte foi a reação dos meus pais, eles ficaram arrasados”, conta. À época, a única preocupação de Sandra era ficar grávida. Hoje, com 23 anos, remédios e acompanhamento médico fazem parte da rotina dela.

No começo da semana passada, o Correio adiantou, com exclusividade, os números do Boletim Epidemiológico Anual de Doenças Sexualmente Transmissíveis. As informações do documento revelam um cenário sombrio. Nos últimos seis anos, 77% dos diagnosticados foram de homens, 47% tinham entre 20 e 34 anos e 18%, com ensino superior completo. E, mesmo com o avanço do tratamento da doença, no mesmo período, 710 pessoas morreram no Distrito Federal por consequência da Aids. Entre 2009 e 2015, o número de jovens de até 19 anos diagnosticados com HIV subiu de seis para 89.

Há 35 anos, eram diagnosticados os primeiros casos de Aids no mundo. As campanhas para uso de preservativos ganharam força. As vendas anuais de camisinhas saltaram de 70 milhões para 350 milhões. No entanto, o uso ainda não é uma constante, sobretudo entre a população jovem, de acordo com monitoramento da Secretaria de Saúde. Um rapaz de 21 anos tem vergonha de ter a identidade publicada, mas admite: transa sem se prevenir. “Sei que é algo inconsequente. Depois do ato, eu me desespero e corro para fazer o exame. Na hora da relação, porém, eu acabo preferindo não usar preservativo”, conta. O jovem não sabe, mas está entre os mais expostos ao mal. Do total de casos registrados em seis anos, 47,2% são na faixa etária dele.


CUIDADOS


Na quinta-feira, durante o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, especialistas e ativistas debateram sobre novos métodos de tratamento — um laço vermelho foi colocado na Torre de TV para simbolizar a campanha. Há muitos avanços, mas, até o momento, a doença permanece sem cura. Uma das novidades é a Profilaxia Pré-exposição (PrEp). Ao contrário da Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), tratamento atual, a medicação é ingerida antes do contato com um soropositivo e diminui em até 80% as chances de contaminação. Desde maio de 2014, o modelo é comercializado nos Estados Unidos pelo nome de Truvada. No Brasil, ainda não foi liberado pelo Ministério da Saúde, mas, atualmente, cerca de 100 pessoas fazem tratamentos experimentais com o remédio.

Apesar de encarar a doença como uma sentença de morte, Sandra, a personagem do início da reportagem, retomou os afazeres e tenta manter a qualidade de vida. “Sempre acordava achando que minha situação pioraria do nada. O que mais me irritava era que peguei uma doença que, antes, eu acreditava ser de pessoas promíscuas. E, até então, eu só havia transado com uma pessoa. Agora, voltei a estudar. Não vou mentir dizendo que a vida está fácil, mas decidi que não quero ser lembrada apenas pela doença que tenho”, pondera.


MEDICAÇÃO


Após o diagnóstico positivo, o paciente inicia a ingestão de medicamento antirretrovirais, fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os remédios não eliminam o vírus, mas o combatem e fortalecem o sistema imunológico. Outro avanço foi o Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), método utilizado após contato com o vírus da Aids, em que o usuário consome medicação por 28 dias para impedir a sobrevivência e a multiplicação do HIV no organismo.


DESAFIO DO USO DA CAMISINHA


João Geraldo Netto, consultor do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, é otimista, mas destaca que a produção de informação não significa aumento de educação. “Temos um bom tratamento, que é universal e gratuito. O grande problema é que muita gente tem HIV, não sabe e continua transmitindo”, explica. “Com o crescimento do conservadorismo na sociedade, a Aids vai ser mais uma vez estigmatizada como doença de pobre, negro e gay. Temos que combater o preconceito para continuarmos o trabalho de prevenção”, avalia.

Menos da metade das regiões administrativas contam com serviço especializado para o diagnóstico e o tratamento de DSTs. Em apenas 14 das 31 cidades do DF, equipes estão aptas a receber pacientes com Aids, por exemplo. A Gerência de Doenças Sexualmente Transmissíveis admite falhas, como desabastecimento de insumos — na sexta-feira, não havia, por exemplo, fórmula alimentícia para bebês que não podem ser amamentados por mães soropositivas — e de reagentes para testes. A falta de pagamento do fornecedor piorou a situação.

O grande desafio para as autoridades de saúde pública, segundo o gerente de DSTs da Secretaria de Saúde, Sérgio D’Ávila, é restabelecer o protagonismo do uso do preservativo, sobretudo na população jovem. “Temos que nos comunicar melhor com toda a diversidade da sociedade. Precisamos retomar as campanhas nas escolas”, adverte. Sérgio avalia que as estratégias governamentais não acompanharam o avanço das contaminações. “A busca por direitos básicos colocou muitas questões explícitas que antes eram jogadas para debaixo do tapete”, critica. Ele concorda que o conservadorismo pode prejudicar o controle da doença.

O infectologista e professor do UniCeub Tarquino Sánchez conta que a atitude do jovem não é exceção. “Nós, mais velhos, que vivemos os anos 1980 e 1990, presenciamos o pandemônio causado pelo HIV. Mas esta nova geração, não. Se antes a expectativa de vida de soropositivos era de dois ou três anos, hoje, com um tratamento regular, passa dos 30 anos. Assim, os jovens não enxergam a doença como as antigas gerações viam”, explica.

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