Nestlé fará chocolate com menos açúcar
02/12/2016 - O Estado de S.Paulo
A maior empresa de alimentos do mundo, a Nestlé, anunciou ontem que desenvolveu tecnologia para reduzir de forma natural o açúcar em seus chocolates em até 40%, sem afetar o gosto do produto.
O fabricante de KitKat e de tantas outras marcas indicou que encontrou uma forma de mudar a estrutura das partículas de forma natural, garantindo que o sabor não seja alterado. “Nossos cientistas descobriram uma forma completamente nova de usar ingredientes tradicionais”, indicou Stefan Catsicas, vice-presidente de Tecnologias da empresa com sede na Suíça.
A inovação se refere à capacidade de dissolver de forma mais rápida o açúcar e que poderá ser usado em dezenas de produtos já a partir de 2018.
Segundo os cientistas, os consumidores precisam de apenas poucos segundos de contato com o cristal do açúcar para sentir seu gosto. O problema é que esses cristais não se dissolvem de maneira tão rápida e acabam sendo engolidos sem que a sensação do produto seja deixada na boca.
Ao conseguir uma aceleração nessa dissolução, o volume de açúcar necessário seria menor em cada barra de chocolate.
Um pedido de patente foi apresentado pela multinacional, que quer se apresentar como uma empresa que tem dado passos para reconhecer a necessidade de garantir uma nova forma de alimentação.
A empresa não é a primeira a fazer testes com moléculas para modificar produtos tradicionais.
Em 2010, a PepsiCo testou uma nova tecnologia para reduzir o sódio.
PRESSÃO
O anúncio vem num momento em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) aumenta a pressão para que governos combatam o consumo de açúcar.
Para a entidade, um adulto não precisa consumir açúcar extra em sua dieta. “Em termos de nutrição, as pessoas não precisam consumir mais açúcar”, disse Francesco Branca, diretor do Departamento de Nutrição da OMS. “Se esses açúcares forem consumidos, eles não podem passar de 10% do consumo de energia. Um valor ideal seria de 5%”, explicou o especialista.
A proposta da OMS gerou uma forte reação do setor privado e de exportadores de açúcar pelo mundo. No Brasil, entidades de produtores chegaram a participar das consultas e, diante das constatações, rebateram as propostas da OMS, alertando que não é apenas o consumo do açúcar que tem colaborado para essa tendência, mas também a vida sedentária e outros alimentos.
A OMS também defende aumento nos preços de refrigerantes e outras bebidas açucaradas, alertando que isso poderia levar a uma queda importante nas taxas de diabete, obesidade e problemas dentários.
Dados de 2014 revelam que 39% dos adultos acima de 18 anos estavam acima de seu peso. Entre 1980 e 2014, a taxa de obesidade no mundo mais que dobrou, com 11% dos homens e 15% das mulheres classificadas como obesos.
Além disso, 42 milhões de crianças com menos de cinco anos estavam acima do peso ou eram classificadas como obesas em 2015. O aumento foi de 11 milhões de crianças vivendo nessas condições em 15 anos.
A OMS também aponta para a explosão no número de diabéticos. Em 1980, eles somavam 108 milhões de pessoas pelo mundo. Em 2014, o total era de 422 milhões. “A doença foi responsável diretamente pela morte de 1,5 milhão de pessoas apenas em 2012”, disse a entidade.
Aids: 5 mil podem ter vírus no Rio sem saber.
02/12/2016 - O Globo
Uma população de cerca de cinco mil pessoas pode estar infectada com o vírus HIV na cidade do Rio, mas ainda não sabe que tem Aids porque não se submeteu a nenhum exame. A estimativa é da Secretaria municipal de Saúde, que atualmente fornece tratamento para 34.564 pacientes em postos de saúde e espera atingir, até o final deste ano, a marca de 350 mil testes para detecção da doença. Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, hoje a maior preocupação da rede pública é com os jovens de 15 a 24 anos, que, seguindo a tendência nacional, são os mais infectados.
De acordo com o Ministério da Saúde, houve aumento na taxa de detecção da doença entre os homens, nos últimos dez anos: de 2006 para 2015, a taxa entre os jovens do sexo masculino entre 15 e 19 anos mais que triplicou (de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes) e, entre os de 20 a 24 anos, dobrou (de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil). Já no Rio de Janeiro, segundo a SMS, a taxa vem se mantendo em alta, nos últimos cinco anos, passando de 25,8 por 100 mil em 2011 para 27,5 por 100mil em 2015.
— Temos uma taxa estável, mas que é alta. Foi de 25,8 casos por 100 mil habitantes em 2011, passou para 33,1 em 2012; caiu para 28,4 em 2013 e em 2014 manteve-se em 28,3, chegando a 27,5 no ano passado (por 100 mil habitantes). Nos preocupam principalmente os jovens que mantêm relação com parceiros do mesmo sexo, pois vemos que nesta faixa os casos vêm aumentando. A secretaria aconselha a toda a população sexualmente ativa a realizar os testes e, em caso positivo, iniciar o tratamento — diz Soranz.
PERCEPÇÃO DIFERENTE
De acordo com o subsecretário de vigilância em saúde, Alexandre Chieppe, a tendência se repete em outros municípios do estado. Ele acredita que pode estar relacionada com falhas na prevenção.
— Ainda estamos tentando entender esta situação. Apesar destes jovens terem acesso a informações sobre a doença, é uma geração que não viveu o surgimento da Aids, não viu seus ídolos morrendo e cresceu numa época em que já existem tratamentos antirretrovirais. Talvez isso influencie a percepção que eles têm — opina Chieppe.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, entre 2000 a 2016, foram registrados 634.051 casos de Aids no país. Nesse período, o Rio de Janeiro foi o segundo estado com maior número de casos notificados: 84.042, ficando atrás apenas de São Paulo (157.447). Em seguida, aparece o Rio Grande do Sul, com 70.243 notificações.
Segundo Chieppe, os dados preocupam, mas não surpreendem:
— O Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul historicamente têm uma taxa de incidência maior do que os outros estados. Não temos estudos que comprovem isso, mas é provável que tenha relação com a alta taxa de prevalência do HIV nestes estados, ou seja, temos mais gente contaminada em relação à população total.
Entre as Unidades da Federação, seis apresentaram taxa de detecção de HIV em gestantes superior à taxa nacional em 2015, que foi de 2,7 por mil nascidos vivos: Rio Grande do Sul (10,1 casos por mil nascidos vivos), Santa Catarina (5,6 por mil), Amazonas (4,0 por mil), Roraima (3,9 por mil), Amapá (3,6 por mil) e Rio de Janeiro (2,9 por mil). Em 2015, o estado do Rio apresentou elevado coeficiente de mortalidade (8,7 por 100 mil habitantes), superior ao nacional (5,6 por 100 mil).
— É uma incoerência que o Rio, a cidade que mais tem hospitais federais no país, ainda tenha altos índices de contaminação por Aids e de morte — critica o coordenador executivo da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, Salvador Côrrea.
Ele ressalta que a piora nos números do país está relacionada a uma diminuição de investimentos em ações, testes e distribuição de medicamentos. E à chegada de uma onda conservadora que vem atrapalhando as campanhas de prevenção.
— Estes dados refletem uma realidade: o Brasil perdeu a ousadia para falar de HIV e Aids, sexo e sexualidade de forma livre, sem preconceitos. Temos percebido que, nos últimos anos, algumas campanhas voltadas para grupos específicos, entre eles jovens gays e prostitutas, foram vetadas. O Brasil teve sucesso no controle da doença no final da década de 90, início dos anos 2000, quando havia campanhas, com engajamento da sociedade civil, que levavam em conta a diversidade brasileira — diz.
Vírus da zika ataca cérebro de pelo menos duas formas
02/12/2016 - O Globo
Até agora, as pesquisas sobre zika e microcefalia mostravam que o vírus conseguia entrar nas células responsáveis pelo desenvolvimento do cérebro porque se ligava a uma proteína chamada AXL, existente na superfície dessas células. Mas um estudo conduzido pela Universidade Harvard e publicado ontem na revista “Cell Stem Cell” mostra que o vírus da zika consegue invadir as células cerebrais mesmo sem esta proteína. Isto é, a AXL não é a única via de entrada para a infecção por zika.
As células responsáveis pela geração de neurônios e pela construção do cérebro à medida que o embrião se desenvolve são chamadas de células progenitoras neurais (NPCs). De acordo com a pesquisa, mesmo quando essas células não produzem a proteína AXL em sua superfície, o vírus consegue atacá-las.
— Nosso achado realmente recalibra este campo de pesquisa, porque nos diz que ainda temos que descobrir como o zika está entrando nessas células — disse Kevin Eggan, um dos autores do estudo e professor de Harvard.
Se, antes, a ideia de muitos laboratórios era impedir a entrada do vírus da zika nas células apenas por meio da inibição do contato com a proteína AXL, agora os cientistas de Harvard dizem que apenas isso não será suficiente para acabar com a epidemia de microcefalia.
— É muito importante para a comunidade científica saber que ter como alvo a proteína AXL por si só não vai ser o bastante para defender (o cérebro) do zika — destacou Ajamete Kaykas, investigador sênior em neurociência no Instituto Novartis de Pesquisa Biomédica (NIBR), que também participou da pesquisa.
— Pensávamos que as NPCs que não tinham AXL não seriam infectadas. Mas o que vimos é que estas células são tão infectadas quanto as células normais — sublinhou Max Salick, também do NIBR e coautor do estudo.
TRANSMISSÃO SEXUAL
Enquanto isso, a Autoridade de Saúde Pública da Inglaterra (PHE) informou ter registrado na última quarta-feira o primeiro caso de zika transmitido sexualmente no Reino Unido. A paciente, que não está grávida, contraiu o vírus após se relacionar com um parceiro que havia retornado de uma área com incidência da doença. Ela se recupera bem.
Aids se alastra entre os jovens
02/12/2016 - Correio Braziliense
Apesar do caótico sistema público de saúde do Brasil, há providências que não dependem apenas dos médicos ou dos hospitais. Elas passam pelo comportamento dos indivíduos. Entre 2010 e 2015, o brasileiro negligenciou as medidas preventivas contra a Aids. No período, o número de infectados passou de 700 para 830 mil, com 15 mil mortes por ano. De acordo com o programa das Nações Unidas para combater a doença (Unaids), o Brasil registra mais de 40% das novas infecções pelo HIV na América Latina. O país caminha na contramão da média mundial, que, embora modesta, apresentou queda de 2,2 milhões, em 2010, para 2,1 milhões no ano passado. Hoje, no planeta, são 36,7 milhões com a doença. O número anual de óbitos chega a 1,1 milhão. Na população de 15 a 24 anos, a situação é mais dramática. Em 2004, a taxa de detecção do vírus era de 9,5 casos em cada 100 mil habitantes, ou seja, cerca de 3,4 mil casos. Em 2014, o número passou para 4,6 mil, o que equivale a uma taxa de detecção de 13,4 casos em 100 mil habitantes, um aumento de 41% da taxa. Os jovens se recusam a usar preservativos e se expõem, desnecessariamente, às doenças sexualmente transmissíveis, entre elas, o HIV. Apesar da resistência e do diagnóstico tardio, 74% dos soropositivos buscaram algum serviço de saúde, mas só 57% estão em tratamento. Segundo especialistas, os jovens não temem ser infectados, cientes de que hoje há drogas que podem conter a doença e lhes garantir vida normal. Além disso, sentem-se sempre saudáveis e, assim, não buscam com regularidade os serviços de saúde. Mas não é bem assim. Os riscos ainda são muitos e os danos causados pelo HIV não deixaram de existir, mesmo com os avanços alcançados na formulação de novos medicamentos. Uma infecção oportunista pode levar qualquer um à morte, evitável por meio de medidas preventivas. Entre elas, o sexo seguro e o não compartilhamento de seringas e outros instrumentos usados por quem é dependente químico. Às vésperas do Dia Mundial de Luta contra a Aids, lembrado ontem, o Ministério da Saúde e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançaram a campanha "Nós podemos construir um futuro sem Aids", que objetiva estimular o diagnóstico precoce e o tratamento. A iniciativa terá o apoio de 11 mil paróquias brasileiras e envolverá milhares de voluntários que vão motivar a testagem e buscar o acolhimento dos soropositivos. Além da imprudência dos jovens, o Brasil ainda tem parcela da população que sabe ter contraído o vírus, mas se recusa a buscar o tratamento. O governo brasileiro investiu apenas 6% do orçamento destinado às ações de prevenção. Hoje, dos 830 mil doentes, 425 mil (55%) receberiam terapia, segundo a Unaids. Os dados organizados pelo Ministério da Saúde sugerem que é preciso retomar as campanhas educativas mais agressivas, para que, principalmente, a juventude volte a ter o comportamento de adolescentes e adultos do início dos anos 1980, quando a Aids eclodiu como epidemia mundial e levou homens e mulheres a mudarem de comportamento. Não só a igreja, mas estabelecimentos de ensino e outras instituições têm que somar os esforços e dar sua contribuição para que o país possa reduzir os casos de infecções. Na família, é preciso que pais e responsáveis orientem os filhos adolescentes sobre a necessidade de se precaverem. Sem essa combinação de forças e de educação, o Brasil tende a ser o lanterninha na luta contra doenças que fragilizam os cidadãos e comprometem o próprio desenvolvimento do país.
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