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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 24/11/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Famílias avaliam decisão da Anvisa sobre remédios à base de maconha.

24/11/2016 - O Globo


O anúncio feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), na terça-feira, de que a atualização de uma portaria facilitará o registro de produtos com compostos derivados da maconha foi avaliado por representantes de pacientes que precisam de tais medicamentos como um avanço, mas a perspectiva de uma regulamentação do cultivo próprio para uso medicinal ou a oferta de fármacos acessíveis no país ainda são conquistas ambicionadas por estes grupos para os próximos anos.

A decisão da Diretoria Colegiada da agência, que ainda será publicada no Diário Oficial, atualiza a lista de plantas e substâncias sob controle especial no Brasil. Medicamentos registrados poderão ter até 30 mg de tetrahidrocannabinol (THC) e 30 mg de canabidiol por mililitro.

Na prática, a deliberação abre as portas para o registro do primeiro medicamento à base destas substâncias no Brasil, o Mevatyl — em outros países conhecido como Sativex. O composto, da inglesa GW Pharmaceuticals, está em fase final de registro na Anvisa e é usado sobretudo para tratamento da esclerose múltipla.

Para a advogada Margarete Santos de Brito, presidente da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) e membro da Associação Brasileira para Cannabis (Abracannabis), a decisão foi um passo para as pessoas que precisam destes medicamentos — mas um avanço tímido perto do que é necessário. Ela é mãe de Sofia, de 7 anos, que sofre com crises convulsivas que são controladas com um conjunto de tratamentos que envolvem extratos da planta, cultivada na casa da família no Rio.

— É um passo, mas ao mesmo tempo atrapalha nossa intenção de ter um produto nacional. Um tratamento hoje com o Sativex custa cerca de R$ 8 mil por mês para quem importa, e ele chegará ao Brasil a preço de ouro. O mundo ideal, para mim, seria a possibilidade de cooperativas produzirem remédios com as universidades e instituições como a Fiocruz, com disponibilização no SUS — ressalta Margarete, que obteve na semana passada um habeas corpus preventivo para proteger sua plantação caseira.

No último domingo, O GLOBO mostrou que pesquisas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) poderão levar ao desenvolvimento do primeiro fitomedicamento à base da maconha no país. Mas, por enquanto, as famílias precisam recorrer a métodos artesanais ou a pedidos de importação de medicamentos na Anvisa — segundo a agência, desde 2014, foram 1.947 solicitações de importação de produtos à base de derivados da maconha, sendo 1.802 autorizadas, em uma média de 4,96 dias.


“TEMOS QUE COMEMORAR”


Pai de Anny Fischer, primeira paciente a obter o direito de importar canabidiol na Justiça no Brasil, Norberto Fischer também vislumbra para os próximos anos a regulamentação do plantio para uso medicinal, mas comemorou a decisão da Anvisa.

— Temos que comemorar sim. Se não comemorarmos esse passo, não teremos o próximo. É preciso começar a produzir, desenvolver uma estrutura para estes medicamentos. E além disso, derrubar preconceitos — aponta Fischer, ressaltando que, nos primeiros anos, uma eventual produção nacional poderá ser mais cara do que medicamentos estrangeiros já consolidados.

O diretor-presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, ressalta que a decisão da agência foi puramente técnica.

— Fazemos uma atualização constante das listas para controle de substâncias, e decidimos que, nos limites determinados, estes medicamentos serão controlados com a tarja preta e um processo especial de prescrição médica. Ela tem validade geral, se aplica para registros de produtos nacionais ou internacionais — aponta Barbosa.

A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde informou que ainda não há a previsão para uma eventual incorporação de medicamentos com derivados da maconha no SUS, mas reconheceu que a decisão da Anvisa facilita este processo.




Colírio para os diabéticos

23/11/2016 - Revista Saúde É Vital


Apesar de eficazes, as três modalidades de tratamento disponíveis hoje para combater a retinopatia diabética são invasivas e apresentam efeitos colaterais. Pois cientistas da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista, estão desenvolvendo um recurso terapêutico inédito que promete facilitara vida de médicos e pacientes. Trata-se de um colírio especial com ação neuroprotetora: basta pingar algumas gotinhas nos olhos de tempos em tempos. Nos primeiros testes com ratos, a novidade foi bem-sucedida."A ideia é se antecipar às alterações vasculares da retina e agir antes que ocorram danos maiores", explica a oftalmologista Jacqueline Mendonça de Farig, uma das responsáveis pelo projeto. A próxima etapa envolve avaliar a fórmula em seres humanos para checar se o impacto é tão positivo assim.

Planos de saúde fazem propostas para cortar preço

24/11/2016 - Valor Econômico


A Fenasaúde, federação que representa as seguradoras e operadoras de planos de saúde, apresentou ao Ministério da Saúde propostas para reduzir entre 20% a 25% o custo atual do convênio médico. As propostas foram apresentadas dentro do grupo de trabalho que discute o plano de saúde popular, ideia lançada pelo ministro Ricardo Barros há quatro meses. Também foram convidados para compor esse grupo de trabalho representantes dos prestadores de serviço, médicos e de órgãos de defesa do consumidor.

Segundo Solange Beatriz Mendes, presidente da Fenasaúde, a queda no custo do convênio médico só é possível com a criação de um novo modelo de plano que combine várias mudanças. Entre elas estão a criação de produtos de abrangência regional, planos de saúde voltados apenas para internação ou só serviços ambulatoriais, com coparticipação (quando o usuário paga uma parcela do procedimento realizado) e franquia. Outra ideia é que nessa modalidade de convênio médico o primeiro atendimento seja feito por um médico generalista que indicará um especialista, em caso de necessidade, além da segunda opinião nos casos de alta complexidade. Esse modelo já é adotado por operadoras como a Hapvida.

No entanto, a proposta do médico generalista, também conhecido como médico de família, esbarra na formação desse profissional que precisa ser altamente qualificado. "Esse é um ponto realmente delicado e demanda capacitação desse médico. O importante é que haja esse tipo de discussão num setor que está se tornando insustentável", disse Solange

O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), Marcio Coriolano, pontua que apesar da relevância do assunto, tem havido pouca participação do setor de saúde, sociedade e comunidade médica. "O governo abriu o assunto para discussão, mas as pessoas não estão participando. Precisamos participar, minha gente", disse Coriolano para uma plateia formada por representantes do setor de saúde que participavam de um evento da Fenasaúde ontem no Rio.

A expectativa da entidade é que o Ministério da Saúde apresente as ideias principais do plano de saúde popular para consulta pública no começo de 2017.

Coriolano, que presidiu a Bradesco Saúde até o começo do mês, também defende outras mudanças no setor, como regulação para os prestadores de serviço, como hospitais, alterações nas formas de remuneração e crescimento da coparticipação nos planos individuais.

"Defendo uma PEC 241 para a saúde suplementar privada. É preciso também limitar os gastos na saúde privada para que o setor não desapareça", disse Coriolano. A necessidade de mudar o atual modelo de negócio dos planos de saúde era unanimidade entre os representantes do setor que participavam, ontem, do evento da Fenasaúde, mas não havia um consenso sobre como fazer isso.

Nos últimos 12 meses, 1,5 milhão de pessoas perderam o convênio médico no país, principalmente como reflexo do desemprego. Deste total, 549 mil são de São Paulo e outros 319 mil são do Rio. A região Sudeste representou 75% do total de cancelamentos, mas vale lembrar que São Paulo é a praça com o maior número de usuários, representando 37% da base total.




Sudeste representa 75% dos planos de saúde cancelados em 12 meses

23/11/2016 - Valor Econômico / Site


Nos últimos 12 meses, 1,5 milhão de pessoas perderam o plano de saúde no país. Deste total, 549 mil são do Estado de São Paulo e outros 319 mil são do Rio de Janeiro. A região Sudeste representou 75% do volume total de cancelamentos neste período.

São Paulo é a praça com o maior número de usuários de convênios médicos, representando 37% da base total.

As informações são da Fenasaúde com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Campanha Novembro Azul alerta para o câncer de próstata

23/11/2016 - G1 - Jornal Hoje


A cada duas horas, três homens morrem com câncer de próstata no Brasil. Para tentar mudar essa estatística, a campanha Novembro Azul foi para as ruas orientar, principalmente, quem não se cuida.

No Ceagesp, principal centro de distribuição de frutas e verduras de São Paulo, o alerta foi bem humorado. O bigode estava lá para chamar a atenção para uma prevenção importante.

O carregador Reginaldo Albes Pereira é só um entre tantos brasileiros que fogem mesmo do médico. E quando o assunto é câncer de próstata então, tem homem que prefere não saber o diagnóstico, por medo de fazer o exame.

Uma pesquisa feita com 1.330 homens em todo país constatou que de cada 10 homens, sete foram ao médico nos últimos seis meses, mas só um deles fez o exame de próstata.

“Eu vou ser sincero com você: eu tenho pavor a médico. Quando o pessoal fala assim: vai lá fazer o exame pra saber do câncer de próstata, procura um médico, eu pulo fora”, conta o comerciante Aelço Nogueira de Souza.

Mas é preciso levar o assunto a sério. Segundo o urologista Alvaro Sarkis, o câncer de próstata é um dos que mais matam homens no mundo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, até o ano acabar serão mais de 60 mil casos registrados no Brasil.

A recomendação para quem já chegou aos 40 é se programar. O ideal é não esperar sentir alguma coisa para procurar um médico. “O importante é não sentir nada: urinar bem, não ter nenhuma dor óssea, não ter nenhum sintoma relacionado à presença do tumor e outras complicações. Essa é a faixa ideal de diagnóstico do câncer de próstata. O indivíduo tem que procurar o médico. Tem o exame de sangue e o exame digital da próstata, que dura alguns segundos e pode salvar vidas”, alerta o urologista.

A chance de cura é de praticamente 90%. Mas não foi o que aconteceu com o tio do motorista Delson de Freitas: “Já teve meu tio que não cuidou e morreu. Então, eu acho que tem que cuidar enquanto tem tempo, porque não adianta depois. Eu vou, minha mulher me faz ir”.

E quem já entendeu a importância do alerta, vai passando o recado. “O homem tem isso mesmo, mas tem que deixar de lado esse machismo e fazer, porque é prevenção. Isso é para prevenir”, afirma o vendedor Otoniel Pacheco de Sousa.




'Os casos com microcefalia são só a ponta do iceberg'

24/11/2016 - Folha de S.Paulo


Em agosto de 2015, a neuropediatra Vanessa van der Linden Mota percebeu que havia algo estranho na maternidade Barão de Lucena, em Recife, onde trabalha. Em poucas semanas, o número de bebês com quadro de microcefalia teve um aumento significativo.

Com a ajuda de outros médicos e pesquisadores, incluindo sua mãe e irmão, também neuropediatras, ela juntou o "quebra-cabeças" e foi uma das primeiras pessoas a soar o alarme de que os casos estavam ligados à zika, um vírus que até então gerava pouca preocupação.

Pouco mais de um ano depois, há muitos avanços na pesquisa, mas a médica diz que os casos graves são apenas "a ponta do iceberg", e que ainda há muitas perguntas sem resposta. Um exemplo são bebês diagnosticados recentemente, que nasceram normais e só meses depois mostraram alteração no cérebro.

Ela falou com a Folha em Washington, onde recebeu o prêmio Liderança para as Américas, do centro de estudos Diálogo Interamericano.

*

Folha - Um ano depois do chamado "bebê zero" da zika, quais são os principais avanços e dúvidas sobre o vírus?

Vanessa van der Linden Mota - Hoje entendemos melhor como o vírus age, que além da transmissão pelo mosquito isso também ocorre pelo sêmen. Um dos problemas sérios é que tivemos ao mesmo tempo casos de dengue, zika e chikungunya. Era uma doença nova e relacionávamos o que víamos com as doenças já conhecidas. O exame de imagem desses pacientes mostra que o comprometimento é muito mais na área cortical, onde estão os neurônios.

Há um padrão de má-formação, alguns mais graves, outros menos. Como se o vírus interferisse na migração das células para o córtex cerebral. Além disso, os pacientes de zika também tem artrogripose, deformação nos membros. Isso não é comum em infecção congênita.

Numa pesquisa que fizemos em Recife vimos que o vírus atinge também o neurônio na medula. Com a lesão na medula o bebê fica sem se movimentar direito dentro da barriga e nasce com deformidades. Não acontece em todos os pacientes, apenas 7% dos casos. Ainda não sabemos porque acontece com alguns e outros não. Outra coisa que aparece muito nessas crianças é epilepsia numa incidência muito maior do que estamos acostumados.

Em que proporção dos bebês a epilepsia aparece?

Em 60% dos casos. Outro efeito que identificamos recentemente é hidrocefalia [acúmulo de líquido que leva ao inchaço do crânio] depois de uma certa idade. É uma porcentagem pequena, ainda estamos investigando para saber se motivada pelo vírus.

Mais de dois terços dos pacientes são muito graves. Uma minoria tem uma interação boa, algum grau de desenvolvimento psicomotor, mas temos um grande número de pacientes que estão com um ano de idade e não interagem com o olhar, não sustentam o pescoço, não sentam, tem hipertonia [rigidez muscular], convulsionam. Ou seja, não cumpriram nenhuma etapa de desenvolvimento.

Recentemente eu atendi quatro crianças que nasceram com perímetro encefálico normal e depois de cinco meses começaram a apresentar atraso. Quando fizemos a tomografia vimos que o quadro tinha as mesmas características dos casos graves, só que menos intensas. Além de ter um atraso de desenvolvimento, a cabeça parou de crescer normalmente –foram notificados com microcefalia tardia.

O que isso significa?

Que os pacientes mais graves são só a ponta do iceberg. O que a gente diagnosticou de síndrome congênita de zika são esses pacientes graves, em que é fácil fazer o diagnóstico no começo. Mas a gente não tem noção de quantos pacientes foram afetados de forma mais leve. Só veremos mais para frente. O que não sabemos é se há casos leves que podem não ter microcefalia, mas terão atraso de desenvolvimento, alteração motora ou cognitiva.

Por que alguns casos são mais graves que outros?

Alguns postulam que infecções prévias pela dengue facilitam uma carga viral maior, porque daria uma imunidade parcial. É como se o vírus enganasse e conseguisse entrar na placenta com mais facilidade. Não sabemos ainda se o fator nutricional interfere, ou outra infecção, como sífilis. Tanto fatores ambientais como genéticos podem estar ligados a isso. Acho que tem a ver com o processo de imunidade da mãe e, portanto, o do bebê.

E por que 90% dos casos de microcefalia notificados no mundo são no Nordeste?

Acho que tem a ver com os fatores ambientais, inclusive a coinfecção dos outros arbovírus, mas é tudo especulação. O clima é importante. Começou no Nordeste, mas migrou para outras áreas, como Mato Grosso e Goiás. Em outros países com concentração de casos, o clima é muito semelhante.

Com a chegada do verão, há expectativa de um novo surto?

Há controvérsias. Eu acredito que pelo menos temporariamente nós temos imunidade. O vírus chegou a uma população sem imunidade nenhuma e se disseminou com uma facilidade muito grande. A zika se espalhou no Nordeste e muitos adultos tiveram, por isso houve esse boom de microcefalia.

Este ano tivemos uma redução imensa, é só um caso ou outro. Tivemos muito mais chikungunya e dengue. Se realmente a imunidade for permanente, eu acredito que iremos passar da fase de epidemia para endemia, ou seja, grávidas que nunca pegaram zika vão acabar tendo.

E quanto à chikungunya?

Para adultos, ela é muito mais grave que a zika. Tem paciente que fica um ano com dores articulares, edemas e podem chegar à incapacidade, enquanto que a zika, às vezes em 24 horas, vai embora e, em muitos casos, pode ser assintomática.

Nós sabemos hoje que tanto chikungunya quanto zika podem resultar quadros neurológicos no adulto e na criança, como encefalite e [a síndrome paralisante de] Guillain-Barré. Há alguns poucos casos em que mães que tiveram chikungunya no fim da gestação contaminaram o bebê, provavelmente na hora do parto.

Como dar esperança a famílias de pacientes com microcefalia?

Mesmo com pacientes que tiveram hipoxia [falta de oxigênio] grave no nascimento, quando a mãe pergunta como vai ser o futuro, eu digo que é preciso esperar, porque você pode se surpreender.

Em cada consulta, vemos alteração. As mães perguntam "ele vai andar"? Mas antes de andar ele precisa prestar atenção, olhar. Para andar ele precisa querer andar. Precisa primeiro sustentar o pescoço, ninguém anda sem antes sustentar o pescoço.

Se a gente disser para a mãe de uma criança de um mês que ela provavelmente não terá essa ou outra função, há o risco de a mãe ficar com raiva, perder todas as esperanças e parar de investir na criança.

Na zika isso não é mais grave?

Ao contrário. Porque como ninguém sabe ainda muito, pode ser que melhore. Tem pacientes que surpreendem. A mãe é o meio para a criança melhorar. A reabilitação não vai criar um potencial, mas pode desenvolver o que existe.

Quando a criança chega a um ano, sabemos melhor. Mas mesmo as que não têm funções podem ser felizes. Depende muito de como cada mãe encara isso. Um avanço pequeno para um bebê é enorme para aquela mãe.

A situação do bebê pode ser grave do ponto de vista funcional, mas, se conseguimos tratar a hipertonia e a epilepsia, ele pode sorrir, dormir, acordar, se alimentar direito, interagir de alguma maneira. Sem cuidados, a tendência é piorar. Não ganha peso, luxa o quadril, tem dor, chora e engasga facilmente. É uma bola de neve. Há crianças graves que não têm nem contato visual, mas que a mãe começa a cantar e elas sorriem.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou o fim da emergência global pelo vírus da zika. O que achou?

Não trabalho com saúde pública e não sei os critérios usados para definir emergência internacional, mas, pelo que entendi, a OMS vai continuar o trabalho. O que posso repetir é que precisamos de um tempo maior para definir melhor os riscos.




Citomegalovírus (CMV) também é responsável por casos de microcefalia

23/11/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Ele é pouco conhecido pelo público e foi ofuscado pelo vírus da zika : o citomegalovírus (CMV), que era tido como responsável pela maior parte dos casos de microcefalia e surdez no mundo e que volta a causar alertas da comunidade médica internacional.

"Enquanto todos se preocupam com os bebês infectados pela zika, com razão, há outra infecção viral que causa milhares de má-formações congênitas nos Estados Unidos a cada ano", disse ao jornal The New York Times o médico Mark Schleiss, diretor de doenças infecciosas pediátricas da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota.

"Não só nos Estados Unidos, mas também na Europa o CMV é a principal causa de má-formações congênitas", disse à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, o neuropediatra espanhol Alejandro Reyes Martín, professor da Universidade de Alcalá de Henares.

Não há dados precisos sobre o Brasil, mas só nos Estados Unidos - onde, segundo os Centers for Disease Control and Prevention (CDC), mais da metade dos adultos até 40 anos foram infectados - entre 20 mil e 40 mil bebês nascem com CMV a cada ano. Pelo menos 20% deles, cerca de 8 mil, possuem ou desenvolvem problemas permanentes como microcefalia, surdez e deficiência intelectual.

Também faltam números precisos sobre a prevalência do vírus no mundo, mas calcula-se que a incidência da infecção congênita por CMV fique entre 1% e 5% dos nascimentos, de acordo com um estudo feito em 2013 na Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.

No Brasil, país com mais casos de microcefalia relacionada à zika, não há dados consolidados sobre a prevalência do vírus, já que a doença não é de notificação obrigatória, de acordo com o Ministério da Saúde. Isso significa que os profissionais de saúde não são obrigados a registrar os casos da doença que chegam até eles.

Segundo um estudo do hematologista Alfredo Mendrone Junior, do Hemocentro de São Paulo, pesquisas feitas na população brasileira de 15 a 45 anos revelaram a presença de anticorpos contra o CMV - que indica que houve infecção pela doença - em mais de 80% dos participantes no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Salvador e no Estado de Santa Catarina.

O CMV é considerado uma infecção sexualmente transmissível (IST) mas sequer aparece no site no Departamento de IST, Aids e hepatites virais do Ministério.

No entanto, médicos brasileiros apontam o vírus como o principal causador de alterações do sistema nervoso em bebês até a aparição do vírus da zika - e ainda uma fonte de preocupação.

"Sempre que vemos algumas alterações nas crianças, pensamos no CMV primeiro. Principalmente quando vemos calcificações (cicatrizes no cérebro) nas tomografias", disse à BBC Brasil a infectologista Maria Ângela Rocha, do Hospital Universitário Osvaldo Cruz, em Pernambuco.

"É por isso que, quando os casos de zika apareceram, fizemos questão de investigar primeiro a possibilidade do CMV. E até hoje fazemos isso com todas as crianças."


DEVASTADOR


O CMV pertence à família dos vírus da herpes. Ele se propaga nos fluidos corporais como saliva, urina, lágrimas e leite materno e pode ser transmitido até pelo contato próximo com crianças pequenas infectadas para, por exemplo, trocar suas fraldas.

O vírus também é transmitido através do beijo e das relações sexuais. Uma vez que ele está no organismo, fica ali por toda a vida e pode ser reativado. O portador não ficará doente outra vez, mas pode passar a infecção adiante.

De acordo com o Ministério da Saúde, a maioria das infecções por CMV não apresenta sintomas - pode parecer uma gripe leve. Sintomas mais graves geralmente aparecem em mulheres que têm o sistema imunológico fragilizado, por causa do vírus da Aids, por exemplo.

Mas os especialistas afirmam que o CMV pode ser "devastador para o feto", caso a infecção seja contraída no início da gravidez.

"Quanto mais cedo o vírus chega no feto, mais repercussões clínicas vão acontecer, ou até mesmo o aorto", diz Angela Rocha.

"Se a infecção acontece a partir do sétimo, oitavo mês, o bebê pode não ter microcefalia, mas ter outros sintomas síndrome congênita, como aumento no tamanho do fígado. Ele pode até parecer saudável ao nascer, mas ter déficit de atenção ou de aprendizado, alterações auditivas."

A descrição é semelhante ao que os médicos já sabem sobre a manifestação do vírus da zika nos bebês infectados ainda na barriga da mãe, mas Rocha esclarece que, no caso da zika, os efeitos no cérebro têm se mostrado mais imprevisíveis - e perigosos.

"As calcificações (cicatrizes) que o CMV deixa no cérebro das crianças são em locais específicos, ao redor dos ventrículos. Já com a zika, elas aparecem de maneira mais anárquica em várias regiões do cérebro. Isso pode deixar mais sequelas", diz.


PRIORIDADE


Até agora não há uma vacina para prevenir a infecção pelo CMV.

Por isso, os especialistas internacionais e brasileiros dizem que são necessários mais programas de conscientização das mulheres grávidas sobre o vírus e seus efeitos, para evitar que a infecção se propague e minimizar os riscos de contágio do bebê.

O Ministério da Saúde recomenda "reforçar hábitos de higiene, usar preservativos e, mesmo que seja com familiares ou filhos menores, não compartilhar objetos de uso pessoal: seringas, agulhas, talheres, escovas de dente e materiais cortantes ou potencialmente cortantes".

Por causa do alto número de ocorrências nos EUA, Mark Schleiss, médico da Universidade de Minnesota, diz que "o CMV deve ser uma prioridade tão urgente quanto a zika".

"Há décadas se pede o desenvolvimento de uma vacina e ainda não a temos, em parte por causa da falta de consciência pública sobre o CMV", afirmou ao The New York Times.

Mas no Brasil, os médicos que estão na linha de frente da epidemia de microcefalia, como Angela Rocha, discordam.

"Todas as vacinas são importantes, mas a contaminação e a disseminação dos arbovírus, como zika, dengue e chikungunya, é muito maior do que a de uma doença viral, como o CMV", afirma.

"Ainda nos preocupamos com o CMV, mas o efeito da zika foi muito mais devastador, especialmente considerando a quantidade de casos e o pouco tempo em que eles ocorreram. Nós nunca tivemos uma epidemia de CMV como essa."




Uso medicinal da maconha gera conflitos com planos de saúde nos EUA

23/11/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Há alguns meses, Greg Vialpando, um ex-operário automotivo que sofreu lesões que o impedem de trabalhar, explicou a legisladores do Novo México que a maconha medicinal ajudava a aliviar as dores crônicas que ele sofre nas costas.

Os legisladores estaduais estavam debatendo um projeto de lei, apoiado pelas operadoras de planos de saúde empresariais, que as isentaria de cobrir os custos de tratamento com maconha medicinal. Mas Vialpando e outro paciente descreveram a maneira pela qual o uso da droga permitia que escapassem a anos de estupor causado pelos poderosos narcóticos, conhecidos como opióides, que lhes eram receitados anteriormente.

Os legisladores terminaram rejeitando o projeto de lei, e as despesas de Vialpando com a compra de maconha continuam a ser cobertas por seu plano de saúde.

"Eu recomendaria que as pessoas usassem maconha medicinal, de preferência a opióides, em qualquer ocasião", disse Vialpando, 58, em entrevista por telefone.

Para as empresas e as operadoras de planos de saúde, as vitórias em diversos referendos estaduais sobre a legalização do uso recreativo da maconha, este mês, agravam um dilema cada mais intenso sobre a droga e questões como a cobertura por planos de saúde, testes de drogas para trabalhadores e segurança no local de trabalho.

Os eleitores da Califórnia, Maine, Massachusetts e Nevada aprovaram propostas de legalização do uso recreativo da maconha, e os do Arkansas, Dakota do Norte, Flórida e Montana aprovaram seu uso medicinal. No total, 28 dos 50 Estados norte-americanos agora permitem, ou em breve permitirão, o uso medicinal da maconha, e oito aprovaram seu uso recreativo.

"Estamos entrando em um conflito entre uma decisão de política social e locais de trabalho altamente regulamentados", disse Alex Swedlow, presidente-executivo do Instituto de Remuneração dos Trabalhadores da Califórnia, uma organização de pesquisa.

Boa parte do problema está na falta de clareza científica sobre os benefícios da maconha ou das dezenas de compostos, conhecidos como canabinóides, que são encontrados na planta.

De sua parte, a Food and Drug Administration (FDA, a agência federal norte-americana que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios) aprovou apenas uma versão sintética de canabinóide e um medicamento semelhante, para usos limitados, como o tratamento de náusea em pacientes de quimioterapia, ou para estimular o apetite de pacientes de Aids. Tipicamente, as operadoras de planos de saúde só cobrem o custo da maconha em tratamentos aprovados pela FDA.

Mas leis de maconha medicinal aprovadas pelos Estados conferem aos médicos permissão para receitar maconha a pacientes que sofram de condições "debilitantes", como o glaucoma, câncer e dores crônicas.

Usualmente, os pacientes pagam pela droga, e diversos Estados aprovaram isenções explícitas à cobertura desse tipo de despesa por planos de saúde empresariais.

Mas como resultado de recentes decisões da Justiça estadual do Novo México, as operadoras de planos de saúde empresariais no Estado são obrigadas a cobrir as despesas com maconha caso esta tenha sido receitada por um médico. E instâncias inferiores de justiça no Connecticut, Maine, Massachusetts e Michigan decidiram em favor dos trabalhadores e contra as operadoras de planos de saúde em casos semelhantes.

O número de pacientes coberto por essas decisões é pequeno. E porque a maconha é ilegal sob as leis federais, as operadoras de planos de saúde que cobrem despesas com sua aquisição precisam encontrar uma maneira de contornar essa restrição financeiramente. Uma estratégia envolve reembolsar os pacientes por suas compras, em lugar de fazer pagamentos diretos a dispensários de maconha.

"A legalidade desse procedimento não passou por teste judicial", disse Ellen Sims Langille, vice-presidente jurídica do Instituto de Remuneração dos Trabalhadores da Califórnia.

As leis estaduais sobre a maconha variam. Mas em termos gerais, nos Estados norte-americanos que legalizaram seu uso recreativo não é crime que um cidadão tenha em seu poder pequenas quantidades da droga, e os dispensários licenciados podem vendê-la legalmente. Os pacientes com receita para o uso da droga e os dispensários desfrutam de proteção legal semelhante nos Estados onde estão em vigor leis que autorizam o uso medicinal da maconha.

No entanto, todos os Estados retiveram leis que protegem o direito do empregador a tomar decisões adversas quanto ao emprego de um trabalhador que mostre traços de uso da droga em exames de drogas compulsórios no trabalho, mesmo que o trabalhador esteja legalmente autorizado a consumi-la, disse Barry Sample, executivo sênior da Quest Diagnostics, uma das maiores provedoras de testes de drogas dos Estados Unidos.

As mesmas proteções se aplicam a pessoas que trabalhem no atendimento médico a esses pacientes.

"Uma pessoa pode ser demitida nesses Estados caso um teste mostre traços de uso de maconha", disse Sample, que é diretor de ciência e tecnologia de soluções para empregadores na Quest.

A despeito dos avanços rumo à legalização, poucos empregadores excluíram a maconha da lista de drogas quanto às quais empregados são testados, que tipicamente inclui opióides, anfetaminas e cocaína, além da maconha, disse Sample. Uma exceção é uma operadora de hotéis do Colorado, onde o uso recreativo da maconha é legal já há diversos anos, ele disse.

"Eles estavam enfrentando problemas para encontrar pessoal", disse Sample.

À medida que a legalização da maconha avança, surgem preocupações sobre o efeito de seu uso em termos de segurança do trabalho. Alguns estudos sugerem que a maconha pode prejudicar o julgamento do usuário, ainda que existam poucos dados comparando seu efeito ao de outras drogas, a exemplo dos opióides.

Nos Estados onde o uso recreativo é autorizado, o problema para os empregadores passa a ser determinar quando o funcionário usou a maconha, porque traços de seu consumo permanecem no corpo por alguns dias.

Como resultado, os empregadores precisam usar mais observação subjetiva para determinar se um empregado teve seu desempenho no trabalho prejudicado pelo uso da maconha, disse Ethan Nadelmann, diretor executivo da Drug Policy Alliance, uma organização que apoia a legalização.




Maior taxação de bebidas açucaradas pode ajudar na luta contra obesidade

23/11/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Um copo de refrigerante ou de suco artificial é mais prejudicial à saúde do que um cupcake, ao ponto de merecer ser alvo de mais impostos na luta contra a obesidade?

Para a população de algumas cidades americanas, a resposta é sim. Em referendos na última eleição, eles aprovaram a criação de um imposto sobre bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos artificiais. Isso porque, diferentemente de bolinhos de chocolate vistosos, essas bebidas não são automaticamente vistas como uma ameaça à saúde.

Ou seja, quando uma pessoa come bolo ou bombons, ela costuma ter consciência de que está ingerindo algo que pode ser prejudicial, o que geralmente não ocorre com uma caixinha de suco de pêssego ou uma bebida à base de café com caramelo ou outras misturas açucaradas.

Em São Francisco, Oakland, Albany (Califórnia) e Boulder (Colorado), haverá um aumento de até 20% no preço de diversos tipos dessas bebidas doces –apontadas como um dos principais vilões para os altos índices de obesidade, especialmente em crianças e jovens.

A criação do imposto está alinhada com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que tem promovido uma verdadeira cruzada contra essas bebidas e recomendou, no mês passado, que os países criem impostos sobre elas.

Segundo a OMS, um aumento de 20% no preço já resulta em reduções no consumo desses produtos e, consequentemente, de problemas como sobrepeso, obesidade, diabetes tipo 2 e cáries.

No entanto, para a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não-alcoólicas (Abir), que reúne as principais marcas de refrigerante e sucos artificiais no país, esse tipo de imposto não traz resultados reais e fere a liberdade individual do consumidor.


BRASIL


Essa taxação já foi aprovada ou está em vigor em países como Reino Unido, México, Dinamarca e Hungria. No Brasil, porém, a discussão sobre essa taxa em refrigerantes e outras bebidas açucaradas inexiste no governo e enfrenta a resistência das associações do setor. A OMS afirmou à reportagem que vem trabalhando com o governo brasileiro.

"Temos compartilhado com o Brasil algumas experiências bem-sucedidas de outros países, para que juntos possamos ver quais se adequam melhor à realidade local", disse a coordenadora da Unidade de Família, Gênero e Curso de Vida da OPAS/OMS no país, Haydee Padilla.

Questionado pela BBC Brasil, o Ministério da Saúde disse entender que "o consumo excessivo de açúcar é fator de risco ao desenvolvimento da obesidade", mas não detalhou nenhuma discussão sobre taxas em bebidas, como recomenda a OMS, afirmando apenas que "a criação de novos impostos é de responsabilidade da área econômica do governo, mais especificamente do Ministério da Fazenda".

Procurados, Ministério da Fazenda e Receita Federal informaram que a iniciativa de se criar impostos não parte deles.


EPIDEMIA


Após a divulgação da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do governo federal, o peso dos brasileiros passou a ser uma das principais preocupações da área de saúde.

Isso porque o problema está diretamente ligado ao surgimento de doenças que estão entre as principais causas de morte no país, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, depressão e alguns tipos de câncer, como o de intestino grosso, mama, endométrio (camada interna útero), rim e esôfago.

Segundo o levantamento, 52,5% da população adulta no país está acima do peso e, dessa parcela, 17,9% estão obesos. No geral, o número de brasileiros acima do peso subiu 10% em oito anos.

E ao se olhar os índices entre crianças e adolescentes, o cenário segue desolador. Tanto que, nos Estados Unidos, essa geração morrerá mais cedo que a de seus pais –algo que nunca aconteceu antes. E o principal motivo são os problemas decorrentes da obesidade.

No Brasil, segundo o IBGE, uma em cada três crianças com idade entre 5 e 9 anos está acima do peso. Comparado com pesquisas anteriores, o excesso de peso entre as crianças mais do que triplicou desde 1974: passou de 9,7% para 33,5% atualmente.

Se continuarmos nessa marcha, o Brasil pode se tornar o país mais obeso do mundo em 15 anos. Esse aumento do peso, assim como observado em todo o mundo, está relacionado principalmente aos hábitos decorrentes da vida moderna: má alimentação e sedentarismo.


CULPADOS


Para a nutricionista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ana Paula Bortoletto, não é possível apontar para um único alimento responsável pela epidemia de obesidade. Mas ela afirma que já está comprovado cientificamente que as bebidas açucaradas são, sim, vilãs da saúde.

"Primeiro porque elas têm calorias vazias (sem nenhum outro nutriente importante, como vitaminas, minerais e fibras). Muitas também têm um altíssimo índice de açúcar", diz Bortoletto.

Uma lata de refrigerante de cola tem o equivalente a sete colheres de chá de açúcar e, segundo o Idec, um copo de néctar artificial de uva tem cinco. Achocolatados, bebidas lácteas (daquelas que não precisam de refrigeração) e suco em pó também estão entre os principais vilões, segundo a nutricionista.

Outro produto polêmico são as bebidas à base de cafeína. Na Inglaterra, a ONG Action on Sugar fez um levantamento que revelou que algumas bebidas vendidas em redes de cafés têm quantidades de açúcar iguais ou superiores a uma lata de refrigerante.

Um dos campeões no açúcar entre as mais de 130 bebidas analisadas é o mocha de chocolate branco com chantilly do Starbucks. O copo maior contém 18 colheres de chá de açúcar, segundo a organização britânica.

Outra crítica dirigida às cafeterias é o fato de muitas não divulgarem a lista de ingredientes das bebidas ou a quantidade específica de açúcar –apenas os carboidratos totais. Procurado pela BBC Brasil, o Starbucks no país não quis se pronunciar.

Na Inglaterra e em outros países onde o imposto está entrando em vigor, organizações de promoção de saúde criticam o fato de essas bebidas com café não entrarem na lista de produtos taxados.


PERPLEXIDADE


O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não-alcoólicas (Abir), Alexandre Jobim, disse ter reagido "com perplexidade" à recomendação da agência da ONU. "Com todo respeito à OMS, mas é preciso mudar a educação alimentar e não taxar produtos", afirmou Jobim à BBC Brasil.

"Essa medida interfere na liberdade de escolha do indivíduo e penaliza a escolha do consumidor, pesando contra os mais pobres. Alguns ingerem bebidas açucaradas como parte de uma dieta necessária para eles, é de onde tiram as calorias que precisam consumir."

Para a nutricionista do Idec, Ana Paula Bortoletto, a afirmação não se justifica, já que "no Brasil ainda é mais barato comprar alimentos saudáveis e in natura, como hortaliças e frutas, do que ultraprocessados, como bebidas lácteas".

O presidente da Abir reiterou afirmações no site da associação que dizem que "o único consenso existente no meio acadêmico-científico é que o crescimento das doenças associadas à obesidade não é decorrente do consumo responsável de produtos considerados de baixo teor nutricional. [...] Em verdade, o que é condenável é o mau consumo de qualquer produto".

Jobim ressalta ainda que "o importante é não jogar a culpa integralmente no açúcar, mas, se isso acontecer, a culpa não é do refrigerante, é do conjunto de hábitos" e afirma que apenas 4% da dieta do brasileiro é composta pelo produto.

No entanto, uma pesquisa de 2015 do Ministério da Saúde apontou que, apesar da queda no consumo dos refrigerantes nos últimos anos, 21% dos entrevistados disseram beber o produto cinco vezes por semana.

Uma outra pesquisa do governo, o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes, revelou que 56% dos jovens consomem bebidas açucaradas, sendo 45%, refrigerante. A bebida aparece entre os seis itens mais presentes na dieta dessa faixa etária, à frente de hortaliças, por exemplo. Frutas nem aparecem no ranking de 20 alimentos e bebidas.

"Até o momento, nenhum país foi capaz de reverter os índices de obesidade. Se não mexermos no ambiente como um todo, inclusive no preço, não vamos reverter esse números", afirma Bortoletto, do Idec.




Sinais tardios de lesão cerebral.

24/11/2016 - O Globo


“Quando o médico disse que ele era aparentemente perfeito eu fiquei aliviada”, conta Germana Soares, mãe de Guilherme, de 1 ano. Aos 5 meses de vida o menino começou a apresentar sintomas e, hoje, com 1 ano, não engatinha. Provavelmente, segundo os médicos, não vai andar. E pode ainda apresentar comprometimentos cognitivos. Crianças cujas mães tiveram zika durante a gravidez devem receber acompanhamento médico até a fase de alfabetização, mesmo que não apresentem sinais de lesão neurológica, afirma a neuropediatra Vanessa Van der Linden, a primeira a perceber um aumento incomum no número de casos de microcefalia em Pernambuco.

O motivo de toda essa cautela é que 13 crianças, hoje com cerca de 1 ano de idade, foram diagnosticadas com a síndrome apenas entre os 5 e 10 meses de vida. Onze delas são acompanhadas de perto por Vanessa, na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) de Pernambuco. Segundo ela, assim como levou meses para se detectar em exames alguma alteração cerebral nessas 13 crianças — 11 classificadas como microcéfalas, e duas como portadoras de anomalia neurológica —, é possível que outras só venham a manifestar algum problema somente anos mais tarde.

— A gente não sabe ainda qual o espectro dessa doença (microcefalia causada por vírus da zika). O protocolo do Ministério da Saúde diz que toda mãe que teve zika na gestação deve levar seu filho para acompanhamento médico até os 3 anos. Mas o ideal mesmo seria que essas crianças fossem acompanhadas até a alfabetização, porque é aí que podemos perceber melhor a capacidade cognitiva e outras habilidades — destaca Vanessa. — Talvez essas crianças que estamos diagnosticando antes do primeiro ano de vida sejam os casos mais graves de microcefalia adquirida. Pode ser que haja casos muito leves em que só perceberemos alguma manifestação daqui a alguns anos.

A neuropediatra explica que há dois tipos de microcefalia: a congênita, detectada ainda dentro do útero ou assim que o bebê nasce; e a pósnatal ou adquirida, identificada mais tarde. Entretanto, ainda não se sabe o porquê se adquire microcefalia.

— Ou existe algum fator ambiental que provoca, depois do nascimento, um atraso no desenvolvimento do cérebro, ou esse atraso que aparece só mais tarde é uma simples consequência, uma sequela de uma lesão com a qual a criança nasceu. Isso ainda não conseguimos responder — diz ela. — A infecção pode ser congênita, mas a microcefalia, não.

Esses dados foram publicados esta semana na revista “Morbidity and Mortality Weekly Report”, do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA. O estudo com as 13 crianças foi resultado de uma parceria entre pesquisadores americanos e brasileiros, incluindo a pernambucana Vanessa Van der Linden. Enquanto 11 desses bebês são atendidos no Centro de Reabilitação da AACD, no Recife, os outros dois são pacientes do Hospital Infantil Albert Sabin, de Fortaleza, no Ceará.


PROBLEMAS MOTORES


Todas as crianças do estudo tiveram exames positivos para o vírus da zika e, após os 5 meses, começaram a ter um crescimento mais lento da cabeça. Foi observada desproporção craniofacial em seis crianças, epilepsia em sete, e displasia (alterações) nos quadris em três.

De acordo com Vanessa, o que há em comum entre todas elas é um comprometimento da parte motora. Os bebês ainda têm muita dificuldade para se sentar e engatinhar, por exemplo.

— Todas as crianças apresentam problemas motores em algum grau, umas mais do que outras. Mas, em geral, elas têm uma interação com o ambiente bem melhor do que as crianças com microcefalia congênita. Elas parecem entender mais o que está ao redor, têm mais iniciativa para se comunicar — conta Vanessa. — Ainda é cedo para saber se essas crianças poderão desenvolver bem a cognição, mas elas têm mais chance do que as com microcefalia congênita. A microcefalia adquirida é, em geral, mais leve.

Segundo o CDC, os resultados desse novo estudo reforçam a importância sobre avaliações contínuas do desenvolvimento de todas as crianças expostas ao vírus da zika durante a gestação da mãe. “A ausência de microcefalia no nascimento não descarta a infecção congênita ou a presença de anormalidades cerebrais após o nascimento”, afirmou o CDC, em nota.




Da zika à chikungunya

24/11/2016 - Folha de S.Paulo


Com o verão vêm as chuvas, e portanto, os mosquitos. Entre eles, o Aedes aegypti, vetor para o trio de doenças que intranquiliza o Brasil.

A primeira dessas viroses transmitidas pelo inseto é a dengue. O vírus chegou ao país no século 19, mas deixou de circular quando se erradicou o aedes, nos anos 1950.

A dengue retornou na década de 1980, com a reintrodução do mosquito. Após epidemias no Rio de Janeiro e no Nordeste, a doença se mantém de forma continuada no território nacional e, pela circulação de vários subtipos do vírus, passou a manifestar a versão hemorrágica, que pode matar.

Provavelmente em 2013 ou 2014 uma nova moléstia viral apareceu: a zika. Considerada benigna na África, onde foi identificada, essa infecção aportou no Brasil em sua versão asiática, mais danosa.

Logo se descobriu que a presença do vírus em mulheres grávidas podia produzir efeitos devastadores. Bebês começaram a nascer com graves malformações, em especial no sistema nervoso, como microcefalia (diminuição do crânio associada com o desenvolvimento anormal do cérebro).

Não bastassem os dois flagelos, que se abatem com maior crueldade sobre populações pobres, emerge um terceiro: a chikungunya. Esse vírus também é inoculado em seres humanos na picada da fêmea do aedes (que precisa dos nutrientes do sangue para seus óvulos).

No momento presente, a chikungunya é a virose que mais preocupa o setor de saúde pública. Em primeiro lugar, porque o vírus tende a se espalhar rapidamente numa população urbana numerosa que nunca teve contato com ele, portanto sem anticorpos para combater a infecção —como ocorreu com a zika dois ou três anos atrás.

Por essa razão, espera-se que os surtos de zika arrefeçam no Nordeste neste verão, uma vez que ali número crescente de pessoas já possuem defesas contra ela, mas recrudesçam no Sudeste, em especial no Rio e em São Paulo.

A chikungunya preocupa também porque ocasiona sintomas e sequelas graves nos infectados, como dores agudas nas articulações, que chegam a durar semanas ou meses. E pode ser fatal —registraram-se 156 mortes em 2016.

É espantoso que todo esse sofrimento vá causado por um mosquito que o Brasil já erradicou no passado. Especialistas dizem que é difícil repetir a façanha, hoje em dia.

Porém, um ano depois de estabelecido o nexo entre zika e microcefalia, nem repelentes para grávidas o sistema de saúde conseguiu distribuir de modo eficiente. Um fracasso repulsivo, por desumano.




SP tem maior nº de casos de caxumba desde 2001

24/11/2016 - O Estado de S.Paulo


Os casos de caxumba continuam crescendo no Estado de São Paulo e atingiram 4.193 registros (13,4 por dia, em média), maior número de toda a série histórica, iniciada em 2001, segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE).

O número se refere ao período de janeiro até 8 de novembro.

No ano de 2007, recordista até então, foram registrados 3.426 casos. Em todo o ano passado foram 707 registros.

Transmitida por meio de gotículas de saliva, em espirros, tosse ou talheres contaminados, a doença se caracteriza pelo inchaço no pescoço, em um ou ambos os lados, e pode demorar até 25 dias para começar a se manifestar. Isso que faz com que muitas pessoas nem saibam que estão com o vírus. Os sintomas iniciais são febre, dor de cabeça e dor no corpo, que podem ser confundidos com um resfriado.

“É difícil as pessoas se lembrarem que tiveram o contato com uma pessoa com caxumba. A transmissão se dá pelo contato próximo entre as pessoas e muitas não se dão conta que estão com a doença até começar o inchaço nas parótidas (glândulas que produzem a saliva e ficam na região do pescoço)”, diz Renato Walch, especialista da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.


INCHAÇO


No mês passado, o filho de 16 anos da empresária Maria Augusta Ramos Barros Silva, de 43 anos, foi diagnosticado com caxumba e passou 11 dias afastado da escola. “Como ele tomou a vacina, achei que não ia pegar, mas ficou bem doente. Teve febre, muita dor e não conseguia mastigar. Os dois lados (do pescoço) ficaram inchados.” O inchaço ocorre em 90% dos casos e a duração dos sintomas é de até dez dias.

A recomendação é tomar antitérmico e fazer repouso.” A melhor prevenção é a imunização.

“A vacina deve ser tomada em duas doses. Uma entre 12 e 15 meses e a outra na adolescência”, afirma Walch.




Doçura que azeda a visão

23/11/2016 - Revista Saúde É Vital


Um estudo capitaneado pelo laboratório Alierga n revisou o papel de 18 moléculas inflamatórias no surgimento da retinopatia diabética, uma das conseqüências do descontrole glicêmico. A condição, que pode evoluir para cegueira, ataca vasinhos da retina, tecido do globo ocular responsável por converter as imagens em estímulos elétricos lidos pelo cérebro. "Muitas dessas substancias inflamatórias estão relacionadas à forma da doença marcada pelo extravasamento de líquidos, o que prejudica a visão", conta o oftalmologista Octaviano Magalhães Júnior, da Universidade Federal de São Paulo, que assina o trabalho. A ideia é que, com base em um exame de sangue, seja possível nortear melhor a terapia — que se vale de laser, injeções e implantes biodegradáveis — e conter o avanço da doença.




Conheça suas taxas de colesterol

23/11/2016 - Revista Viva Saúde


A realidade é clara: as doenças cardiovasculares são a maior causa de morte e incapacidade no Brasil, Otávio Berwanger da Silva, diretor do Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração (SP), afirma que tais patologias representam 29% dos óbitos em geral. "Significa que se a gente juntar os óbitos por HIV, cânceres e violência, todas elas somadas matam menos que as doenças cardiovasculares", adverte Silva. As complicações mais comuns são o infarto (ataque cardíaco) e o acidente vascular cerebral (AVC), o famoso derrame. Ambas as doenças têm causas multifatoriais. Percebe-se que o infarto é mais afetado pelo colesterol alto e o AVC, pela pressão elevada. Mas os dois fatores são cruciais para as duas doenças. "Além disso, tabagismo, diabetes, obesidade, histórico familiar e hábitos como sedentarismo e alimentação errada, aumentam ainda mais o risco de doenças", diz o cardiologista. O interessante é que a maioria dos fatores são ambientais, ou seja, completamente preveníveis. Por esse motivo o alerta é necessário.


TRATAMENTO


A primeira medida para contrastar níveis elevados de colesterol e pressão é a mudança do estilo de vida. Diminuir o número de cigarros diários, o consumo de alimentos gordurosos e praticar atividade física são algumas das atitudes a serem tomadas de imediato. A adoção de um tratamento medicamentoso depende muito do risco de cada paciente. É preciso avaliar individualmente. "Quando a pessoa já teve um derrame ou infarto, é necessária a terapia farmacológica, por exemplo", conta o cardiologista Silva. Hoje, a medida mais utilizada por ter alta eficácia e baixo risco é o uso de estatinas. Para aqueles com risco mais grave e que apresentam alguma intolerância ao tratamento "padrão", existe hoje a PCSK9, uma proteína ainda em fase de estudo.




O câncer de próstata não precisa ser tratado?

23/11/2016 - Revista Saúde É Vital


Um em cada sete homens será atingido pelo câncer de próstata, mas somente 7% deles perecerão desse mal. Ainda assim, aflições assolam a mente dos indivíduos envolvidos pela doença. Parte delas se deve à imprevisibilidade desses tumores Entre 20 e 25% dos pacientes apresentam doença indolente, que não coloca a vida em risco. Outros 60% exibem lesões mais agressivas» mas curáveis se eliminadas a tempo. Em número menor, surgem tumores incontroláveis, que podem tolher a existência a despeito das investidas.

A primeira questão controversa que emerge é: seria seguro não tratar pacientes com câncer indolente? Logo em seguida, vem outra discussão de anos: qual o jeito mais eficiente de enfrentar os casos agressivos, com cirurgia radical ou radioterapia? Estudos antigos sugeriam que as chances de cura com a cirurgia eram maiores, mas ainda faltava um veredicto científico.

Eis que pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, publicaram o primeiro trabalho comparando a evolução em longo prazo de pacientes abordados de diferentes for mas. Por sorteio, 545 permaneceram sem tratamento, realizando só exames periódicos, 553 foram submetidos à cirurgia e 545, à radioterapia. Após dez anos, o número de óbitos foi muito baixo e igual nos três grupos, gerando certa comoção. Será que a doença não precisaria ser tratada? Teriam milhões de homens sofrido intervenções desnecessárias? Como não raro ocorre nesta ciência, as dúvidas logo se dissiparam. Compreendeu-se que as observações feitas foram reais, mas influenciadas por nuances imperceptíveis em um primeiro olhar.

Para começar, cerca de 75% dos voluntários apresentavam tumores indolentes. Depois, mais da metade dos participantes não tratados no início foi submetida posteriormente à cirurgia ou à radioterapia porque houve sinais de agravamento. Finalmente, constatou-se que a disseminação da doença no organismo foi de duas a três vezes maior no grupo não tratado, que só sobreviveu porque recebeu medicações hormonais.

Diante disso, concluímos que o médico só exercerá com grandeza seu papel de guardião do corpo e da alma se levarem conta não a penas números emblemáticos, mas também os sentimentos e os direitos que as pessoas têm de controlar seu destino. Quero dizer que médico e doente, em um conluio durante a travessia, devem optar por terapêuticas mais contundentes se a doença é agressiva e a sobrevida se mostra crucial ao paciente. E devem se permitir um esquema de vigilância, sem tratamento, quando as evidências indicam um tumor inofensivo e as possíveis compilações da terapia seriam intoleráveis.

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