OMS: Brasil terá mais mil casos de microcefalia
23/11/2016 - O Estado de S.Paulo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o zika está “aqui para ficar” e mais de mil novos casos de microcefalia ligados ao vírus deverão ser identificados no Brasil. Quatro dias depois de anunciar o fim da emergência global, a entidade reuniu ontem governos de todo o mundo para explicar a decisão de transformar a resposta em programa de longo prazo e garantir que a atenção sobre a nova doença será “reforçada”.
A organização alertou que a real dimensão do impacto do vírus da zika pode ser ainda maior, com a descoberta de novas sequelas nos bebês. Todos na agência da ONU admitem: algumas das perguntas sobre o vírus poderão levar “anos” para serem respondidas.
Anthony Costello, diretor de Saúde Infantil da OMS, explicou que hoje existem 2,1 mil casos confirmados de microcefalia no Brasil. Mas outros 3 mil incidentes estão em análise.
“Desse total, poderemos esperar um número extra de mil casos confirmados. A emergência mundial pode ter acabado. Mas temos um enorme problema de saúde pública. Trata-se de um vírus que causa um impacto de longo prazo e o problema não vai desaparecer”, alertou.
A OMS também destaca que 80% dos casos de infecção pelo vírus da zika não provocam sintomas nas mulheres, o que pode elevar o número de casos de microcefalia. Costello confirmou que novos estudos alertam que quanto mais cedo a contaminação de uma gestante pelo zika maior será a chance de seu bebê desenvolver problemas.
“Se a contaminação for no primeiro trimestre, os riscos neurológicos são maiores”, disse Pete Salama, diretor da OMS. “Muitos nascem com cabeças normais, mas estamos descobrindo que os problemas podem ser maiores.”
Zika pode afetar fetos em qualquer época da gestação, diz pesquisa
22/11/2016 - Valor Econômico / Site
Além da microcefalia, o vírus da zika pode causar outros problemas em fetos em qualquer fase da gestação. Um estudo, conduzido com gestantes paulistas infectadas com o vírus da zika, documentou casos de infecção no último mês de gravidez que resultaram em danos cerebrais nos bebês. A possibilidade já havia sido levantada em pesquisas anteriores.
Das 1.200 grávidas com suspeita de zika acompanhadas no estudo, contatou-se que 57 estavam realmente infectadas com o vírus. Os casos de infecção encontrados, contudo, eram menos graves do que os documentados anteriormente na região nordeste do país e no Rio de Janeiro, segundo Maurício Nogueira, líder da pesquisa e professor da Famerp (Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto).
Não houve casos de microcefalia ou aborto, mas cerca de 30% das crianças que nasceram das grávidas infectadas apresentavam manifestações relacionadas à zika.
"Todas as crianças eram aparentemente normais no nascimento, mas, examinando com mais cuidado, percebemos os danos", diz o autor da pesquisa.
Entre os problemas encontrados nos bebês estão surdez - de um dos ouvidos -, danos de retina e cistos cerebrais.
Os filhos de duas mulheres infectadas nas últimas semanas de gravidez apresentavam cistos e inflamações cerebrais.
"A próxima etapa é acompanhar essas crianças", afirma Nogueira.
Um estudo, realizado com gestantes do Rio de Janeiro, já havia levantado a possibilidade de o vírus da zika afetar a saúde do feto em qualquer etapa gestacional. O levantamento foi feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade da Califórnia e divulgado em março deste ano na revista científica "The New England Journal of Medicine".
O estudo liderado Nogueira foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Zika pode causar microcefalia e outros danos após o nascimento
23/11/2016 - Folha de S.Paulo
Bebês infectados pelo vírus da zika durante a gestação podem nascer sem microcefalia, mas desenvolver a síndrome mais tarde.
É o que aponta o estudo publicado nesta terça (22) pelos CDC (Centros de Controle de Doenças, dos EUA), uma colaboração entre pesquisadores americanos e brasileiros.
Foram investigadas 13 crianças de Pernambuco e do Ceará que nasceram com a infecção congênita da zika, mas sem redução do crânio.
Aos cinco meses, os bebês apresentavam um crescimento lento da cabeça. Onze desenvolveram microcefalia.
Todos tinham complicações neurológicas, como diminuição do tamanho do cérebro, ventrículo megalia (alargamento de cavidades cerebrais), calcificações e outras más-formações.
Não é a primeira pesquisa a mostrar que o vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, tem efeitos severos mesmo após o nascimento.
Um estudo divulgado no final de agosto já havia relatado o caso de uma infecção que resultou em surdez de um bebê.
Os cientistas já haviam notado que existe uma facilidade de o vírus da zika atacar o tecido nervoso. Isso quer dizer que, além do cérebro, a visão e audição também podem ser afetadas.
O problema ficou claro agora, quando médicos e cientistas relataram que o nascimento não significa o fim da maré de azar. E isso pode significar problemas na atenção à saúde de gestantes e mães que tiveram zika e de seus filhos.
Para Maurício Nogueira, virologista e professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, falta atenção aos filhos inicialmente “normais” de mães que tiveram zika. Ele é responsável por uma pesquisa que acompanha gestantes na região.
Sua pesquisa detectou que infecções no último mês de gravidez podem resultar em danos aos bebês.
Não houve casos de microcefalia ou de aborto, mas cerca de 30% das crianças que nasceram das grávidas infectadas apresentavam manifestações relacionadas à síndrome congênita da zika (veja ao lado). Ao todo, o estudo contou com 1.200 mulheres.
NOVO PARÂMETRO
“Se fossemos seguir os critérios de análise propostos pelo Ministério [da Saúde], esses bebês seriam considerados normais”, afirma Nogueira.
“Os casos de microcefalia grave inicialmente chamaram a atenção, mas esses são só a ponta do iceberg e, provavelmente, não é o efeito mais comum da zika.” O professor afirma que, independentemente do momento econômico do país, os órgãos responsáveis terão que encontrar um jeito para acompanhar a médio e longo prazo um número muito grande de filhos de mães infectadas pelo vírus da zika.
“É necessário que todos os filhos de mãe que tiveram sinais de zika na gravidez tenham acompanhamento. ”, diz Vanessa van der Linden, neuropediatra da AACD em Pernambuco, que participou da pesquisa. “Podemos até ter mais surpresas pela frente”, diz a médica.
O Ministério da Saúde, por sua vez, afirma que está ciente de possíveis sequelas relacionados à zika além da microcefalia e que as crianças com mães infectadas serão acompanhadas por três anos.
“Os pediatras precisam ficar atentos ao desenvolvimento neurológico da criança, principalmente para casos de histórico de zika na gravidez”, afirma Vanessa.
Hospital Geral adere à rede de saúde
23/11/2016 - DCI
O Hospital Geral do Grajaú (HGG), administrado pelo Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês, passa a integrar, este mês de novembro, a Rede Universitária de Telemedicina (Rute), que congrega 124 instituições de saúde do Brasil e do exterior.
O sistema de teleconferência tem como objetivo estimular discussões para o aprimoramento profissional entre os seus hospitais participantes.
A adesão ao projeto por parte do Hospital Geral do Grajaú terá impactos científicos, tecnológicos, econômicos e sociais, beneficiando a formação de 900 profissionais de saúde da instituição, bem como 830 graduandos e residentes, nas áreas médica, multiprofissional, de enfermagem, fisioterapia e psicologia.
"O Grajaú é uma região que abriga um milhão de habitantes, carentes em termos assistenciais. A participação do nosso hospital neste tipo de projeto aprimora a qualidade do ensino e do conhecimento dos profissionais. Por consequência, tem impacto positivo junto à população, que passa a contar com um nível de atendimento cada vez mais qualificado", explica a Dra. Jocelene Batista Pereira, diretora geral do HGG.
O sistema Rute tem como intuito facilitar a adoção de medidas simples e de baixo custo, como a implantação de análise de imagens médicas, com diagnósticos remotos, que podem contribuir para diminuição da carência de especialistas. Além disso, proporciona treinamento e capacitação de profissionais sem a necessidade de deslocamento para os centros de referência.
Para integrar a Rute, o HGG passou pelas oito etapas de aprovação, que incluem apresentação de propostas, diagnóstico, licitação dos equipamentos e serviços, assinatura de contrato, implantação de infraestrutura, teste de equipamentos e serviços, ativação dos hospitais na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), e assim foi homologado e está operacional na rede.
“As farmacêuticas impedem a criação de novas terapias contra o câncer”
22/11/2016 - El País (Brasil)
Os grandes projetos de sequenciamento do genoma do câncer iniciados há uma década demonstraram que cada tipo de tumor é tão diferente de outro em nível genético e molecular que parecem doenças distintas. Essa heterogeneidade também ocorre dentro de cada paciente – uma célula de um tumor pode ser muito diferente da célula ao lado. E toda essa variabilidade pode explicar por que algumas pessoas (e células) respondem aos tratamentos oncológicos e outras não.
“Com tanta complexidade, o problema só poderá ser resolvido com a utilização de computadores”, diz Fátima Al-Shahrour, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas (CNIO) da Espanha. Al-Shahrour é especialista em bioinformática, uma disciplina em expansão que mistura o poder de cálculo dos computadores atuais com ferramentas oriundas da matemática e da estatística para analisar a imensidade do Big Data genético do câncer. Al-Shahrour foi uma das organizadoras de um congresso internacional do CNIO e da Fundação La Caixa voltado ao entendimento e combate da heterogeneidade do câncer graças à bioinformática.
Chris Sander, um dos pais dessa disciplina, foi o grande nome do congresso. É pesquisador do Instituto do Câncer Dana-Farber de Boston (EUA) e um dos líderes do Atlas do Genoma do Câncer, um consórcio norte-americano que estudou as variações genômicas de 30 tipos de tumores em 20.000 pessoas. “Essa base de dados agora nos ajuda a enxergar os detalhes microscópicos do que ocorre no câncer”, diz Sander. Físico teórico, foi para a área da biomedicina há mais de quatro décadas. Desenvolveu algoritmos capazes de resolver problemas de biologia que estavam fora do alcance dos maiores supercomputadores do mundo e criou unidades de bioinformática no Laboratório Europeu de Biologia Molecular e no Centro do Câncer Memorial Sloan-Kettering de Nova York. Nessa entrevista ele explica como a bioinformática pode ajudar a encontrar novas terapias combinadas mais efetivas e acessíveis.
Pergunta. O que diria a uma pessoa com câncer sobre como a bioinformática pode melhorar os tratamentos?
Resposta. Já demonstramos, por exemplo, que há tumores cerebrais que parecem muito similares, mas quando analisados do ponto de vista molecular e genético ocorre que cada pessoa tem um tumor diferente. É a heterogeneidade do câncer, o que implica que cada um necessitará de uma terapia diferente. Podemos listar a paisagem complexa de cada tumor e o número de drogas disponíveis para encontrar a combinação correta. Inicialmente vamos estudar isso em testes clínicos com pacientes, e depois começará a ser feito nos hospitais, como terapia.
P. O senhor defende que os pacientes também podem ter um papel mais ativo na luta contra o câncer.
R. Sim. Até agora, a força da genômica no câncer são os mais de 60.000 tumores analisados no nível da genética molecular. Essa é a montanha de dados que temos. O que nos falta é uma informação equiparável sobre pessoas. Essa informação está bloqueada nos hospitais e é incompleta. Temos que trabalhar para estruturá-la bem, publicá-la e compartilhá-la, de forma que possamos passar de uma montanha de dados genéticos a outra de dados de saúde pessoais, prontuários médicos, estilos de vida etc.. Meu pedido aos pacientes é que trabalhem com a comunidade de engenheiros informáticos, os geeks, e que os deixem captar suas informações sobre saúde através de seus smartphones, de modo a podermos obter essa informação diretamente deles. Isso já está acontecendo, há programas pilotos em andamento.
P. As pessoas precisam se preocupar por exporem informações sobre sua saúde?
R. Deveríamos criar um direito constitucional pelo qual cada pessoa teria a propriedade sobre sua informação genômica e de saúde. Uma vez que esse direito exista, você poderá guardar esses dados só para você ou compartilhá-los. Há pessoas com um câncer muito agressivo que querem compartilhar seus dados enquanto estiverem vivas, porque esperam ajudar outras pessoas conectadas, como no Facebook. Se conseguirmos proteger esse direito, criaremos a liberdade de compartilhar informação. E, se fizermos isso bem, teremos uma base de dados extremamente poderosa. Poderemos multiplicar por 10 ou por 100 os benefícios que a bioinformática já propicia no tratamento de tumores.
P. Os computadores também podem encontrar novos usos para fármacos já existentes?
R. Sim. Especialmente com as chamadas terapias combinadas, quando várias drogas são usadas juntas para combater tumores que são resistentes a um fármaco. Uma decorrência disso é que se pode evitar o uso dos fármacos mais caros, de digamos 200.000 euros [711.200 reais], e substitui-los por uma combinação de outros já aprovados e muito mais baratos. Esse reposicionamento representa uma enorme oportunidade. Mas os grandes laboratórios farmacêuticos se opõem. Fizeram grandes contribuições para curar o câncer, mas não estão interessados em fazer testes clínicos se não tiverem a oportunidade de lucrar um monte de dinheiro. Se uma combinação contiver um medicamento barato, os grandes laboratórios não farão o teste, porque não aumentará seus lucros. Por isso temos que encontrar a forma de fazer testes clínicos alternativos, financiados com dinheiro público. É um problema social e político, mas há a oportunidade de propiciar um enorme benefício para os pacientes com câncer se fizermos testes públicos, por exemplo, sobre tumores muito especializados, que não interessam às grandes companhias.
P. Então os grandes laboratórios se opõem ao desenvolvimento de novos tratamentos?
R. Sim. Estão pondo o foco numa gama muito pequena, devemos ampliar a mira.
P. Quando chegarão as terapias melhoradas graças à bioinformática?
R. Já. É parte do sistema global de desenvolvimento de novas terapias. Veja, por exemplo, o melanoma, uma doença mortífera e muito rápida. Os novos testes clínicos de imunoterapia tiveram uma taxa de sucesso de 40% a 50% dois anos depois do tratamento, ou seja, há pessoas que potencialmente se curaram ou pelo menos não morrerão de melanoma. É um feito inovador. Não decorre diretamente da bioinformática, mas ela está ajudando a melhorar os resultados ao relacionar os tratamentos com o perfil genético das pessoas e ao mostrar quem pode responder melhor.
P. Como acredita que a vitória de Donald Trump afetará a ciência nos EUA?
R. Eu o chamo de Dump [lixo, em inglês], por razões óbvias. Há 77 anos já vimos aonde levam certos movimentos políticos. Acredito que esse seja o maior risco. Alguns dos políticos que ganharam as eleições negaram a base científica da mudança climática, e inclusive nas fileiras dele questionam a evolução. Se essa animosidade contra a ciência se traduzir em cortes orçamentários, haverá um problema na pesquisa do câncer. Como cientistas devemos erguer a voz para que não haja um novo movimento anticientífico.
P. A medicina personalizada poderia incrementar a desigualdade em algo tão importante como a saúde?
R. Há um problema sem resolver. Se quisermos reduzir as mortes por câncer no mundo com uma só ação, ela seria uma campanha mundial contra o tabaco e a favor de mudanças na dieta e nos hábitos de vida. Numa recente conferência científica em Cingapura houve uma exposição da Phillip Morris, uma das empresas do câncer, dizendo que ela está fazendo pesquisas positivas sobre biologia de sistemas. Quando olhei do que se tratava, estavam desenvolvendo novos cigarros um pouco menos perigosos, e os apresentavam como se fosse ciência! Como seres humanos, estamos permitindo que haja mortes por câncer totalmente desnecessárias, e deveríamos parar com isso. Se não solucionarmos esses problemas sociais, a ciência não poderá mudar as coisas.
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