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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 21/11/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Briga por medicamento importado leva 4 meses

20/11/2016 - O Estado de S.Paulo


Depois de ganhar na Justiça o direito de receber medicamentos importados para doenças que têm tratamento no Brasil, pacientes precisam enfrentar outra batalha: a burocracia.

A espera para que os remédios, na maioria das vezes essenciais para a manutenção da vida, cheguem ao País é em média de quatro meses, contados da decisão judicial.

Esse é o prazo para que guias sejam preenchidas, alvarás liberados e, nos últimos meses, para que o aval do ministro da Saúde, Ricardo Barros, seja concedido.

Desde que assumiu o posto, Barros determinou que ele próprio liberaria a aquisição de medicamentos não fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) cuja compra se tornou obrigatória por mandados judiciais.

Questionada, a pasta confirma a nova exigência e atribui a mudança a uma estratégia de controle de gastos na área.

“Se para nós o prazo já é alto, imagine para um paciente”, afirma o representante de uma distribuidora, sob a condição de anonimato. Com a mudança, o prazo médio para todo o processo foi ampliado em, pelo menos, um mês, garante. “Agora são quase 120 dias entre a definição da empresa ganhadora para realizar a importação e a chegada do medicamento no porto.” Além de mais uma etapa de compra, distribuidores se queixam de redução nos lotes importados.

Para cortar despesas com frete e seguro da importação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passara a permitir que compras para atender a demandas judiciais fossem feitas para até seis meses de tratamento do paciente.

Segundo distribuidoras, o Ministério da Saúde agora reduziu as aquisições para o suficiente para três meses. “Como são remédios caros, o frete e seguro dos produtos estão na casa de US$ 15 mil”, diz o distribuidor.

O Ministério da Saúde, no entanto, nega ter reduzido a quantidade.

A pasta sustenta que as compras estão sendo feitas conforme diretrizes. De acordo com o custo do medicamento, a aquisição pode ser feita para um período que varia entre seis meses e um ano de tratamento.

A espera não ocorre só nas compras do governo federal. Secretarias Estaduais também são alvo de processos e muitas vezes são obrigadas pela Justiça a fornecer medicamentos que não estão no SUS. A maior parte das ações é sobre doenças órfãs – problemas considerados graves, raros e que não dispõem de tratamento no Brasil. Pacientes se queixam de que o tempo entre a decisão da Justiça e a chegada do remédio também é longa.


MUDANÇA


Há exatos três anos, Any, de 8, começou a usar canabidiol para contornar as crises convulsivas. Diante dos resultados, os pais dela, Norberto Fischer e Katiele, ingressaram em 2014 com uma ação na Justiça para obter o produto. A medida provocou uma revolução nas regras, não só para o canabidiol, mas para outros medicamentos sem terapias no País.

“Há ainda muito o que melhorar, mas as coisas avançaram”, diz Norberto Fischer. A permissão do uso do canabidiol foi a primeira regra da Anvisa feita a partir da pressão de familiares de pacientes. Até então, a regulação era resultado de iniciativas dos diretores da autarquia ou da indústria de fármacos.

“O alcance dessas medidas é limitado, porque boa parte das compras é feita por meio de governos”, diz Fischer. A presidente da Associação de Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves, Maria Cecília Oliveira, considera a burocracia grande.

A Anvisa afirma receber em média 300 mil processo de importação por ano. A agência diz que estuda medidas para reduzir o prazo de análise dos pedidos.




O mundo está à beira de um apocalipse dos antibióticos?

20/11/2016 - G1 - Bem Estar


Todo ano, pelo menos 700 mil pessoas morrem de infecções resistentes a medicamentos.

Não é à toa que a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu a resistência aos antibióticos como uma das maiores ameaças globais do século 21.

Mas o que está sendo feito para tentar evitar o que poderia ser chamado de "apocalipse dos antibióticos"?

Primeiramente, há uma tentativa de reduzir o uso deste tipo de medicamento, uma vez que, quanto mais antibiótico tomamos, mais resistentes as bactérias ficam.

O psicólogo Jason Doctor, da Universidade do Sul da Califórnia, vem desenvolvendo experimentos para verificar se é possível fazer com que os médicos receitem menos medicamentos.

Ele convenceu mais de 200 médicos a assinar uma carta dirigida a seus pacientes, assumindo o compromisso de serem mais rigorosos na hora de prescrever antibióticos. As cartas foram transformadas em cartazes e coladas nas paredes de seus consultórios.

Os experimentos também adotaram um sistema de classificação. Os médicos recebiam um e-mail mensal com informações sobre quantos antibióticos estavam prescrevendo inadequadamente em comparação aos seus colegas.

Foram criados ainda alertas nos computadores dos médicos, levando-os a questionar se realmente precisavam prescrever os antibióticos, e mostrando como poderiam lidar com pacientes insistentes que exigiam a medicação.

Quando todas essas abordagens diferentes foram adotadas juntas, o número de prescrições de antibióticos foi reduzido drasticamente.

Algumas dessas mudanças estão sendo implementadas nos Estados Unidos e em outros países. Mas, mesmo que as pessoas façam uso de antibióticos apenas quando estão precisando de fato, isso não resolveria o problema. Os seres humanos são um grande mercado para antibióticos, mas há um ainda maior.

Em 1950, foi descoberto que os antibióticos fazem os animais crescerem mais rápido. Desde então, fazendeiros de todo o mundo têm injetado o medicamento em seus animais, mesmo após estudos científicos comprovarem que a resistência bacteriana poderia passar dos animais para os seres humanos.

Um país, no entanto, mostrou que é possível reverter esse cenário.

A Holanda tem mais animais por metro quadrado do que qualquer outro país do planeta e, durante anos, esses animais foram rotineiramente alimentados com antibióticos. A proibição de dar antibióticos como promotores do crescimento aos animais surtia pouco efeito, uma vez que os agricultores usavam a mesma quantidade e apenas os rotulavam de forma diferente.

Mas, após uma série de danos à saúde, o governo decidiu repreender os fazendeiros. Em 2009, os agricultores foram avisados que teriam que reduzir em 20% a quantidade de antibióticos que davam aos seus animais, num período de dois anos, e em 50%, num prazo de cinco anos.

O veterinário Dik Mevius, especialista em doenças infecciosas, ajudou os agricultores a elaborar um plano para atingir essas metas.

Eles criaram um banco de dados, revelando os agricultores que mais transgrediam a regra, e impediram os fazendeiros de comprarem antibióticos de diferentes veterinários. Se um veterinário ou agricultor prescrevesse ou usasse antibiótico desnecessariamente, era multado ou perdia a licença.

Então, os fazendeiros holandeses entraram no eixo e pararam de usar tantos antibióticos. Para muitos deles, isso significou mudar a maneira como criavam seus animais.

"Foi realmente uma revolução", disse Mevius. "Nós reduzimos em 60% a quantidade de antibióticos usados em apenas alguns anos", completou.

A maioria dos países está, no entanto, caminhando na direção oposta. Estima-se que China, Brasil, Rússia, Índia e África do Sul deverão dobrar seu uso de antibióticos até 2030, o que levará a resistência a se espalhar. É por isso que cientistas de todo o mundo estão vasculhando oceanos, florestas tropicais e desertos em busca de novas fontes de antibióticos.

Recentemente, pesquisadores foram ao Panamá e colheram amostras da pele de uma preguiça de três dedos. Outros cientistas têm procurado novos antibióticos na saliva de dragões de Komodo. Mas ainda é muito cedo para dizer se esses experimentos serão bem sucedidos.


COMUNICAÇÃO ENTRE BACTÉRIAS


Há também aqueles que não estão procurando novos antibióticos, mas estão lutando contra as bactérias. A microbiologista Kim Hardie, da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, estuda a forma como as bactérias se comunicam. Sim, as bactérias se comunicam.

Quando uma única bactéria chega aos seus pulmões, ela se esconde do seu sistema imunológico e dos anticorpos que podem matá-la. Ela não revela suas armas - suas toxinas -, mas fica ali, esperando.

"Uma vez que a bactéria percebe que é um bom lugar para se multiplicar, então ela se comunica", explica a cientista.

As bactérias isoladas se relacionam umas com as outras, até sentirem que estão em número suficiente. Em seguida, se armam e atacam o sistema imunológico.

"Se você tem um único soldado contra um castelo, não vai ameaçar o castelo", afirma Hardie.

"Mas, se esperar que o resto do exército chegue e mostre suas armas ao mesmo tempo, os soldados podem vencer o castelo."

E se você puder impedir que as bactérias se comuniquem, fazendo com que, embora você tenha bactérias nocivas em seus pulmões, elas não consigam se relacionar umas com as outras e assim lançar um ataque?

Hardie afirma que isso pode ser feito e conta alguns experimentos em laboratório tiveram bons resultados. A pesquisadora estima que um antibiótico baseado neste princípio poderia chegar ao mercado em cerca de dez anos.

Há muitos outros experimentos e projetos em andamento. O sucesso vai depender, em grande parte, de aprendermos mais sobre as bactérias.

Como ensina o livro "A arte da guerra", de Sun Tzu, é preciso conhecer o inimigo para vencer a batalha. Como podemos evitar o apocalipse de antibióticos? Aprendendo a enganar as bactérias.

Cérebro Artificial

19/11/2016 - IstoÉ Dinheiro


Uma mulher de 58 anos se tornou a primeira pessoa a comandar um computador apenas com os seus pensamentos. A paciente, que não quer revelar sua identidade, sofre de esclerose lateral amiotrõfica, que provoca paralisia geral dos músculos. Por meio de eletrodos instalados em sua cabeça, ela conseguiu se comunicar com o computador, algo que só era possível, anteriormente, por meio dos olhos. O trabalho foi apresentado, na semana passada, por pesquisadores da Universidade de Utrecht, na Holanda. Em pouco tempo, os médicos acreditam que ela poderá efetuar tarefas como mudar o canal da TV, alterar a temperatura da casa ou mesmo fazer ligações telefônicas usando apenas comandos cerebrais.




Plataformas para saúde já têm 165 mil aplicativos

21/11/2016 - Valor Econômico


Bases de dados completas e algoritmos customizados fazem dos aplicativos para aparelhos móveis importantes aliados para diagnóstico e acompanhamento de doenças. Eles podem apenas alertar sobre o horário certo de tomar remédios, mas também são capazes de elaborar relatórios para médicos que acompanham pessoas com doenças crônicas ou monitorar visitas a pacientes domiciliares. Plataformas voltadas para saúde já somam 165 mil aplicativos disponíveis para download em celulares no mundo, de acordo com o mais recente levantamento do Institute for Healthcare Informatics.

O segmento B2B é uma das opções para quem investe em tecnologia da informação no setor de saúde. A startup paulista Vital Apps, por exemplo, fornece para a empresa de acompanhamento domiciliar Viver Bem um aplicativo que monitora os atendimentos feitos em parceria com o Grupo Santa Helena. A solução, usada em aproximadamente 2500 visitas mensais, permite monitorar a duração de cada uma (confirmada por geolocalização), além da coleta de dados e assinatura dos pacientes. "A empresa gestora pode verificar se o tempo de permanência do profissional é coerente com a atividade realizada", explica Adriano Silvestre, sócio da Vital Apps. "Isso traz efetividade e, por consequência, ganhos financeiros."

A Vital Apps trabalha agora em uma ferramenta para tornar mais eficiente a liberação de leitos hospitalares. "Nosso diferencial é a capacidade de adaptar o produto para cada cliente e realizar ajustes durante o uso", diz José Augusto Vilhena, sócio da empresa. Com essas duas plataformas, a Vital Apps, que tem três anos de mercado, pretende fechar 20 contratos até o final de 2017.

Organização e transmissão imediata de dados também fundamentam as soluções da plataforma I Care, da gaúcha i9access, criada para permitir que especialistas de diversas áreas da saúde atendam quem, a princípio, só teria acesso ao diagnóstico de um clínico geral. "No caso de cardíacos, por exemplo, nosso software permite o envio de eletrocardiogramas de uma clínica pequena para um centro de referência, sem que o paciente precise se deslocar", explica Alexandro Bordignon, um dos quatro sócios da companhia. "Na maioria das vezes, trata-se de um falso alerta e evitamos uma viagem custosa e desnecessária". Nessa situação, o cardiologista recebe os exames no celular ou tablet e pode enviar seu laudo ou conversar com o paciente por videoconferência.

A empresa de telessaúde atende clínicas em regiões periféricas, bem como hospitais públicos e privados, seguradoras e empresas de homecare. Atuante desde 2010, a i9access oferece também soluções de transmissão de cirurgias (com foco em treinamento e colaboração) e possui um aplicativo gratuito para monitoramento de doenças crônicas. A companhia está em diversos Estados brasileiros e fatura R$ 1 milhão anualmente.

Esse mercado também possui plataformas que têm o próprio paciente como usuário final, em geral focadas em doenças que demandam acompanhamento contínuo. Resultado de uma parceria entre a Pfizer e a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), o FIQr (Questionário de Impacto da Fibromialgia, na sigla em inglês), é um deles e traz 21 perguntas para medir o impacto da dor na rotina dos portadores da síndrome. "Como o quadro da fibromialgia é constituído por sintomas subjetivos de difícil mensuração, sua avaliação pelo médico e pelo paciente também é subjetiva", explica Roberto Heymann, reumatologista membro da SBR e um dos responsáveis pelo aplicativo. "O FIQr, como ferramenta de avaliação constante, torna o laudo médico mais objetivo."

Já o aplicativo GlicOnline, cujo algoritmo calcula a quantidade de insulina que deve ser administrada por diabéticos, entre outras funções, deve elevar sua base de usuários em oito vezes até o final de 2016. Atualmente, a plataforma tem 20 mil downloads e possui oito mil usuários ativos, que inserem diariamente medições de glicemia em sua base de dados. "O propósito é democratizar o acesso ao tratamento do diabetes através de tecnologia", conta Cláudia Labate, CEO da GlicOnline.

"Sem o app teríamos que fazer todas as contas na calculadora", conta Adriano Fontana, químico, que usa o aplicativo há dois anos para cuidar do filho.

A empresa recebeu aporte em 2014 da GAG Investimentos, grupo voltado para negócios sociais, vende big data para a indústria farmacêutica e faz parcerias com organizações de saúde, com a intenção de manter o aplicativo gratuito.




Quebra de tabu

21/11/2016 - O Globo


O uso de técnicas de edição genética em humanos é um dos temas mais controversos na ciência hoje, levantando uma série de questões éticas. Afinal, o que determina até onde os pesquisadores podem ir de posse de novas tecnologias e apoiados no avanço do conhecimento? Muitos países, o Brasil entre eles, proíbem estudos com embriões humanos. Mas um cientista do Instituto Karolinska — conhecido por indicar os vencedores do Nobel de Fisiologia e Medicina —, em Estocolmo, na Suécia, obteve aprovação para quebrar esse tabu. Pela primeira vez, embriões humanos saudáveis estão sendo modificados geneticamente em um experimento. O objetivo é melhorar a eficácia dos tratamentos de fertilização. Mas há o temor de que a técnica abra alas para o design de bebês sob encomenda.

No ano passado, cientistas chineses anunciaram experimentos de engenharia genética com embriões humanos. Mas, naquele estudo, foram utilizados embriões não viáveis, que nunca poderiam gerar um bebê. Agora, Fredrik Lanner e sua equipe no Instituto Karolinska estão usando zigotos sadios, que estavam congelados em clínicas de fertilização, mas seriam descartados. Eles esperam que, por meio da desativação de determinados genes, seja possível compreender melhor os primeiros estágios do processo de desenvolvimento humano.

— Olhando para os embriões nós poderemos entender por que eles não desenvolvem uma gravidez — explica Lanner. — Precisamos ir mais fundo, para ver os mecanismos moleculares, os genes que controlam os estágios iniciais do desenvolvimento.

Na primeira semana, o ovo fertilizado se transforma no chamado blastocisto, que indica que ele está pronto para ser implantado. Nesse estágio, o embrião possui centenas de células, de três tipos distintos: os trofoblastos, que vão formar a placenta; os hipoblastos, que formarão a endoderme; e as células embrionárias, que vão formar o feto. Para que o embrião se fixe na parede do útero e dê início à gravidez, essas células devem estar maduras, mas o funcionamento do processo de maturação ainda é desconhecido. É o que Lanner pretende esclarecer.

Em resumo, uma das ideias é desativar um determinado gene do embrião e observar o seu desenvolvimento. Se ele não evoluir corretamente nos dias seguintes, a equipe saberá que o gene em questão é essencial para a formação da vida.

De acordo com João Sabino da Cunha Filho, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e diretor da Clínica Insemine, os tratamentos mais modernos de reprodução assistida envolvem o Diagnóstico Genético Pré-Implantacional (DPI), que permite aos médicos realizar uma biópsia nos embriões antes da implantação, para seleção dos mais propensos a gerar uma gestação. Mesmo assim, as chances de sucesso são de 50%.

— Com cinco dias de desenvolvimento, a gente abre um pequeno buraco e retira algumas células para análise, sem danificar o embrião — explica. — Se o experimento (de Lanner) der certo, poderemos ver se o embrião tem os genes específicos e selecionar aqueles com mais potencial.


PROCEDIMENTO FOI REALIZADO EM 12 EMBRIÕES


Essa é a esperança do pesquisador sueco. Para isso, ele está realizando experiências com embriões com dois dias de desenvolvimento, que possuem apenas quatro células. Em uma delas, é aplicada a ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9, para desabilitar genes que foram mapeados anteriormente e demonstraram atividade nos três tipos de células do blastocisto. O estudo ainda está em estágio inicial. As primeiras injeções com o CRISPR-Cas9 foram aplicadas no mês passado, em 12 embriões.

Os ovos foram cultivados in vitro por sete dias, e as células que receberam a ferramenta foram acompanhadas durante o período. Agora, os pesquisadores avaliam se o uso do CRISPR-Cas9 realmente desabilitou os genes, comparando sua estrutura com células que não receberam a injeção.

— Ainda nem sabemos se os embriões foram realmente modificados — afirma Lanner. — Estamos construindo o experimento degrau por degrau. Recebemos a autorização do comitê de ética de Estocolmo em junho do ano passado. A partir daí, começamos a organizar a pesquisa. O primeiro passo foi otimizar a ferramenta. Depois, nos asseguramos de que tínhamos uma boa forma de injetá-la nas células sem danificar o ovo. Agora, estamos na fase de analisar efetivamente os embriões, em busca de alterações. Depois, vamos observar as mudanças morfológicas, moleculares e genéticas nas células.

Ciente da polêmica, Lanner explica que existem limites para aplicação da engenharia genética. Para o seu experimento, o período máximo de cultivo dos embriões é de sete dias, o necessário para os estudos propostos. Legalmente, na Suécia, ele poderia manter os ovos por até duas semanas. Além disso, é vedado por lei que os embriões geneticamente modificados sejam implantados em pacientes.

A pesquisadora Patrícia Pranke, do Instituto de Pesquisa com Células-Tronco, participou da elaboração da Lei de Biossegurança brasileira, que entrou em vigor em março de 2005. Ela explica que, pela legislação atual, um experimento como o conduzido pelo instituto sueco não seria permitido em território nacional. No artigo 6º, a lei deixa claro ser proibida a “engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano”:

— Talvez esteja na hora de rever a lei.


RISCOS DA FÁBRICA DE BEBÊS


A pesquisadora destaca que, além do melhor entendimento sobre os primórdios do desenvolvimento humano, estudos com edição de embriões podem levar a tratamentos para doenças hereditárias — mas há riscos de mau uso da tecnologia. Se for provada a possibilidade da alteração, de forma precisa e segura, de genes em embriões humanos, pode ter início uma indústria de bebês sob encomenda ou terapias para melhoramento genético.

— Editar pequenos genes para produzir bebês sob medida, como a cor dos olhos, pode ser tecnicamente possível. Ou superbebês, mais fortes e inteligentes — diz a pesquisadora brasileira. — O problema é que pode ocorrer algum acidente que acabe criando doenças ainda desconhecidas.

Existe ainda uma oposição religiosa, de instituições que não admitem aventuras genéticas. A própria Igreja Católica acredita que a vida começa na concepção. Assim, qualquer manipulação, até mesmo o congelamento em clínicas de reprodução assistida, é considerada uma ofensa.

Diante de todas as objeções e riscos, Lanner se diz um entusiasta, mas cético em relação à ferramenta CRISPR-Cas9.

— A técnica progrediu de forma fantástica nos últimos anos, mas o que precisa ser respondido é se a tecnologia é eficiente e segura o suficiente — diz.

O experimento com os embriões ainda está em fase inicial, mas ele acredita que a taxa de sucesso na edição genética fique entre 25% e 50% do total de células que receberam a injeção. E estima que para a alteração de um gene, como cor dos olhos, o procedimento seja até cem vezes mais complicado.

O experimento em curso consiste na injeção do CRISPR-Cas9 em apenas uma célula. Para a implantação de uma mutação, ela teria que ser injetada, e funcionar, em todas as células

— Muito se fala sobre os bebês sob encomenda. Mas estamos muito distantes disso — diz Lanner. — Estamos começando a entender a função dos diferentes genes, mas existem muitas informações regulatórias no DNA que não conhecemos.

Algo mais factível seria usar edição genética para tratar doenças hereditárias. A pesquisa chinesa com embriões não viáveis tentou, sem sucesso, modificar o gene responsável pela talassemia beta, que provoca desordem na produção de hemoglobina. Outro estudo, também na China e com embriões não saudáveis, tentou introduzir nos ovos um gene resistente à infecção por HIV. De 26 embriões, quatro foram modificados, mas nem todos os cromossomos carregaram a mutação.

— Corrigir uma doença que sabemos como é o gene normal pode ser mais factível, mas acho perigoso, porque a tecnologia não está madura — opina Lanner. — Mas é importante que a ferramenta seja explorada in vitro, para ver se é possível otimizar a tecnologia ou ajudar a tratar doenças.

Enfarte: genética vs hábitos

19/11/2016 - Carta Capital


Desde o fim da década de 1930, a comunidade médica detectou com clareza maior concentração de casos de enfarte em algumas famílias, levando à teoria da predisposição genética para a ocorrência de doenças cardiovasculares. Parentes de pacientes diagnosticados com enfarte ou derrame tinham maiores chances de eles mesmos apresentarem o quadro durante sua vida.

Nas décadas subsequentes, vários estudos correlacionaram os hábitos dos pacientes como fatores de risco para doenças cardiovasculares. Sedentarismo, tabagismo, obesidade, entre outros, aumentam drasticamente as chances de enfarte.

Depois, vários cientistas passaram a estudar a correlação dos riscos genéticos com os comportamentais, na tentativa de avaliar o peso que cada risco tinha na determinação do destino do coração dos indivíduos. Dúvidas como se filhos de pacientes com enfarte, com genética comprometida, teriam algum benefício em modificar seus hábitos pessoais e controlar os outros fatores de risco, ou seriam predestinados ao desastre independentemente de qualquer manobra.

Pesquisadores da Universidade de Harvard, em Boston, liderados pelo doutor Amit Khera, concluíram recentemente um estudo extenso que envolveu mais de 55 mil pessoas em vários países e que avaliou a relação entre fatores genéticos e hábitos na determinação do risco de enfarte durante dez anos de seguimento.

O estudo foi publicado esta semana na prestigiosa revista médica New England Journal of Medicine. Os especialistas analisaram o perfil genético e os hábitos pessoais dos voluntários e classificaram seus achados em categorias de baixo risco ou favorável, risco intermediário ou elevado, ou desfavorável. Dos fatores de risco relacionados ao estilo de vida, os indivíduos foram separados de acordo com a ausência de um ou mais dos seguintes fatores: tabagismo, obesidade, sedentarismo e dieta de risco. Quem não tinha três ou mais desses fatores era considerado de baixo risco para enfarte. Pacientes com três ou mais desses fatores foram classificados de risco elevado para doença cardiovascular. Os outros teriam risco intermediário.

Os resultados do estudo deixaram evidente a relação direta entre aumento do número de fatores de risco ligados ao estilo de vida com a elevação do risco de enfarte em dez anos. Também ficou clara a correlação entre alterações genéticas detectadas no Projeto Genoma e as chances de enfarte.

O mais interessante, nesse estudo, foi a total independência dos riscos genéticos daqueles relativos ao estilo de vida. Em outras palavras, mesmo as pessoas com alto risco genético e familiar podem be- neficiar-se do controle eficiente da obesidade, do tabagismo, do sedentarismo e do consumo regular de dieta nociva.

As pessoas consideradas de alto risco genético, que praticam hábitos saudáveis, tiveram suas chances de enfarte reduzidas pela metade, independentemente de medicamentos ou outras manobras químicas para controle do colesterol. O gráfico mostrao impacto de cada fator sobre cada grupo de risco genético.

Os cientistas recomendam para todas as pessoas, principalmente para aquelas com carga genética desfavorável, a aderência intensiva a programas de controle dos hábitos deletérios. A orientação médica é fundamental para evitar enfartes e derrames de forma significativa. Vale a pena insistir.




Nova rede social brasileira quer ajudar pacientes na luta contra o câncer

20/11/2016 - O Estado de S.Paulo


Não é só de medicamentos que se constitui um tratamento de câncer. Muitos pacientes buscam na internet e em conversas com outras pessoas com câncer uma forma de deixar o período menos difícil. É este hábito que inspirou os empreendedores brasileiros Gustavo Silva e George Nastas a criarem o Kimeo, uma rede social para pacientes e familiares na luta contra o câncer.

“Criamos a rede para proporcionar uma forma de lidar com o diagnóstico por meio da identificação com outros casos”, conta Gustavo Silva, que ainda não tem planos de monetizar a plataforma.

Lançada em setembro e atualmente com 500 usuários, a plataforma deixa que o usuário registre como está se sentindo, siga outros pacientes, curtam e comentem postagens.

Além disso, é possível controlar horários e obter informações sobre doenças – sugeridas por médicos da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia e do Instituto Vencer o Câncer.

Em breve, a rede permitirá que usuários participem de grupos e tenham acesso a informações específicas sobre seu tipo de câncer. O aplicativo é gratuito e pode ser encontrado para download nas lojas de aplicativos dos sistemas Android e iOS.




Depressão entre jovens

20/11/2016 - O Estado de S.Paulo


Novos dados divulgados nas últimas semanas mostram que a saúde mental dos adolescentes deve ser foco importante das autoridades nos EUA nos próximos anos. Depressão, problemas com uso de substâncias e taxas de suicídio estão em alta.

O primeiro estudo, publicado no periódico Pediatrics, revela que entre 2005 e 2014, a porcentagem de adolescentes e adultos jovens que já enfrentaram um episódio de depressão saltou de 8,4% para 11,3%. A cada ano, um em cada dez deles vai enfrentar um episódio depressivo.

Os pesquisadores da Universidade de Washington e da Escola de Saúde Pública de Johns Hopkins Bloomberg, em Baltimore, levantaram dados da Pesquisa Nacional de Uso de Drogas e Saúde, investigação anual do governo americano com dados de 172 mil adolescentes (de 12 a 17 anos) e de 178 mil adultos jovens (de 18 a 25 anos). As informações foram divulgadas pelo site Live Science e pelo jornal britânico Daily Mail.

Entre os adultos jovens, a faixa em que se nota um aumento mais nítido da depressão está entre 18 e 20 anos. Entre os adolescentes, o crescimento mais significativo aconteceu a partir de 2011. Em alguns Estados, a porcentagem de jovens com história recente de depressão atingiu 14%.

As taxas foram mais significativas entre as garotas, sobretudo nas estudantes negras. Especialistas acreditam que o crescimento do ciberbullying pode ser uma das raízes do problema. Não estar na escola, estar desempregado, morar em um lar sem um dos pais, ou sem os dois, e, ainda, o abuso de substâncias apareceram como fatores de risco para a depressão.


DEPENDÊNCIA


Por falar em drogas, novo relatório do ministro da Saúde dos EUA revelou que um em cada sete americanos enfrenta hoje problemas com dependência de álcool, cigarro ou drogas. Isso implica em 21 milhões de pessoas, mais do que o número de pacientes que enfrenta o câncer naquele país. Só 10% têm acesso a tratamento. As informações são do Daily Mail.

Além dos impactos para a saúde física, o abuso de substâncias tem peso importante para a saúde mental, e é uma das principais causas para os transtornos psiquiátricos. Em um momento em que o país adota posturas mais liberais em relação ao consumo de maconha, com vários Estados assumindo legislação mais flexível, os números podem mostrar a necessidade de uma mudança cultural em relação às drogas, sobretudo nos casos em que existe padrões de abuso e dependência.

Entre os jovens, quanto mais cedo o contato com as substâncias, maiores os riscos de padrões mais complicados de consumo, bem como o impacto para a saúde mental e o desenvolvimento cognitivo, justamente em um momento em que o processo de aprendizado é tão importante.


TAXAS DE SUICÍDIO EM ALTA


Dados divulgados recentemente pelos Centros de Controle e Prevenção dos EUA (CDC) mostram que na faixa dos 10 aos 14 anos, o suicídio já superou os acidentes de trânsito como principal causa de morte. Em parte, o fenômeno é explicado pela redução significativa dos acidentes fatais (que caíram pela metade de 1999 a 2007). Mas a saúde mental desses jovens tem também peso importante nessa equação. No mesmo período, a taxa de suicídio dobrou. Os dados foram divulgados pelo jornal americano The New York Times.

Apesar de haver maior número de suicídios entre garotos, proporcionalmente o crescimento foi maior entre as meninas. O uso maciço das tecnologias digitais (com a consequente maior exposição às agressões, comparações e diversas formas de violência) e a puberdade chegando mais cedo (com falta de maturidade desses jovens para lidar com essa exposição toda) podem ajudar a entender o que está acontecendo com os mais novos. É bom lembrar que a depressão é uma das principais causas de suicídio, em qualquer faixa de idade.

Para terminar, fica o alerta que muitos jovens “sofrem em silêncio” com depressão, consumo de drogas ou ideias de suicídio. Muitos não contam ou escondem seu estado de família e amigos. Os números revelam a importância de profissionais, pais e escolas estarem mais atentos para a saúde mental dos mais novos. E o que vale para os EUA em parte também vale por aqui.




Sem respostas nem vacina, OMS encerra emergência por zika; País mantém alerta

19/11/2016 - O Estado de S.Paulo


A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da emergência global por vírus zika, pegando de surpresa pesquisadores. A entidade alerta que, a partir de agora, a doença será crônica no Brasil e governos terão de tomar medidas de longo prazo. O País anunciou que a emergência nacional será mantida.

A OMS garante que um departamento dentro da instituição passará a buscar soluções para enfrentar o vírus e “não está rebaixando” a doença. Mas especialistas na própria entidade temem que o fim da emergência significará sérios desafios para que cientistas possam obter recursos para manter as pesquisas (mais informações ao lado).

A organização considerou que, como está provada a relação entre o vírus e a microcefalia, ela precisava agora de um “mecanismo robusto de longo prazo para administrar a resposta global”. Para a entidade, o zika “continua sendo um desafio significativo e duradouro de saúde pública e exige ação intensa.

Mas não é mais uma emergência”.

Por isso, a entidade decidiu “escalar” a doença a um “programa permanente”.

A decisão foi alvo de duras críticas por parte dos cientistas.

“Será que veremos uma nova onda de casos no Brasil e na Colômbia?” indagou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Contagiosas.

Sua entidade é uma das que tentam arrecadar recursos para bancar uma vacina. Para ele, o fim da emergência é “prematuro”, principalmente porque o verão no Brasil está prestes a começar. “Por que não esperaram alguns meses?” Tentando justificar sua decisão, David Heymann, presidente do Comitê de Emergência, considera que agora o vírus zika é um problema com “conotação específica”. “Ela é declarada quando se precisa de uma ação urgente”, insistiu, destacando a proximidade, na época, da Rio-2016. “A emergência não era para parar o vírus, mas para entendê-lo”, insistiu.


ENDÊMICO


A situação de emergência nacional no Brasil foi declarada há um ano, diante do aumento súbito de casos de microcefalia no Nordeste. E será mantida.

“O Brasil está acumulando conhecimento sobre o assunto, precisamos manter a vigilância”, afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

O Estado apurou que a decisão do governo é manter essa condição pelo menos até o fim do verão, quando se encerra o ciclo de maior risco de transmissão pelo Aedes aegypti. Até agora, não se confirmou um segundo ciclo de nascimentos com microcefalia. Entre outubro e novembro, foram notificados em média 82 casos suspeitos por semana, número menor do que o registrado no mesmo período de 2015. “Há dúvidas que precisam ser esclarecidas”, disse Wanderson Oliveira, coordenador-geral de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública.

Questionado sobre a decisão do País, Heymann, da OMS, indicou que a considerava “apropriada”.

“O Brasil ainda precisa de mais recursos e mais pesquisas.

Trata-se agora de um caso endêmico lá, e surtos novos podem continuar”, disse.


SEM RESPOSTAS


A emergência internacional foi primeiro anunciada em fevereiro deste ano, quatro meses depois de o governo brasileiro notificar a OMS sobre a crise. Até agora, porém, muitas das questões relacionadas ao novo vírus não foram respondidas.

Os cientistas, por exemplo, continuam sem uma explicação sobre o motivo pelo qual o Brasil registrou um salto no número de microcefalia, enquanto em outros locais essa tendência não foi vista. Tampouco há um cronograma claro para quando uma vacina poderia chegar ao mercado. Fontes das Nações Unidas admitem que o produto não estará pronto antes de 2018 ou 2019.

Há poucos meses, a OMS passou até a adotar uma nova definição e considera a nova doença como Síndrome Congênita do Zika. Isso porque evidências científicas apontaram que mesmo crianças com um tamanho de crânio dentro dos parâmetros “normais” podem ser afetadas pelo vírus.


CIENTISTAS TEMEM QUE A MEDIDA REDUZA RECURSOS


O temor de muitos é de que o fim da emergência estanque recursos.

A OMS já havia solicitado a doadores cerca de US$ 115 milhões para pesquisas em um ano.

Mas recebeu só uma fração disso.

Há cerca de um mês, a entidade detalhou um programa de US$ 25 milhões de ações para 2016.

David Heymann, presidente do Comitê de Emergência, admite que o fechamento de torneiras é “preocupante”. Mas espera que isso seja compensado pela transformação da emergência em programa da OMS. “O zika vai ser sazonal. O público terá de entender, como foi com a rubéola, tomando medidas. É algo difícil e vamos esperar a vacina”, disse.

O virologista Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), afirma que o fim do status de emergência resultará em perda de recursos. “Quando há uma emergência mundial declarada, os gestores têm argumento para conseguir recursos extras.” Fontes na OMS avaliam que quem quiser trabalhar com o zika agora terá de disputar verba com todas as demais doenças crônicas. “Entra na mesma categoria agora da dengue”, admitiu Peter Salama, diretor executivo dos programas de emergência.

Ele, porém, insiste que casos de microcefalia já foram identificados em 29 países e o vírus vai continuar a se espalhar geograficamente.

“Todos os países com mosquito vetor da doença estão em risco”, disse. Para ele, o zika “está aqui para ficar”. “E exigirá uma adaptação de sistemas de saúde, de pesquisa e até de direitos reprodutivos”, indicou. “O mundo terá de agir. Esperamos que os doadores entendam.” /




Um em 4 distritos paulistanos tem transmissão local de chikungunya

19/11/2016 - O Estado de S.Paulo


Um em cada quatro distritos da cidade de São Paulo já tem transmissão interna do vírus chikungunya, conforme dados apresentados ontem pela Secretaria Municipal da Saúde. Nos dez primeiros meses do ano, foram confirmados 41 casos autóctones (de transmissão interna) da doença. Eles estão distribuídos em 23 dos 96 bairros, nas cinco regiões da cidade. Outros 347 casos importados foram registrados e 512 estão em investigação.

O distrito com mais relatos confirmados é o Sacomã (zona sul), com oito registros, seguido por Tremembé e Vila Maria, ambos na zona norte e com 3 casos cada um. Até o ano passado, a cidade nunca havia tido casos autóctones desse vírus.

A secretaria informou ainda que foram confirmados nove casos autóctones de zika no município, além de 195 que seguem em investigação. “Apesar da queda no número de casos de dengue, temos de manter o alerta para combater o Aedes aegypti em toda a cidade. É muito importante ter esse alerta com a febre chikungunya porque é uma doença que pode trazer um quadro crônico, com sintomas que podem durar vários meses”, disse o secretário municipal da Saúde de São Paulo, Alexandre Padilha.


DENGUE


Os dados atualizados de dengue, também apresentados ontem, mostram que o número de casos confirmados da doença caiu 85% entre o ano passado e este ano, passando de 100,4 mil relatos em 2015 para 15,9 mil em 2016. As mortes também diminuíram. Foram sete vítimas neste ano, ante 25 em todo o ano passado.

Para Padilha, a queda nos casos de dengue se deve a novas medidas adotadas neste ano pela Prefeitura para evitar o avanço do Aedes e maior conscientização da população no combate aos criadouros do mosquito. Entre as ações municipais estão o uso de drones para monitoramento de imóveis fechados que eram denunciados por abrigar criadouros, o uso de larvicida em pontos estratégicos da capital e a utilização do teste rápido da dengue, que, segundo Padilha, possibilitou à secretaria agir de forma mais ágil nos distritos onde muitos casos eram diagnosticados pelo exame.

O gestor também destacou a aprovação da lei que autoriza a entrada à força nos imóveis abandonados ou de moradores que se negarem a abrir a porta para os agentes municipais.

Mesmo com a legislação, apenas oito ingressos forçados foram feitos neste ano.

“Vamos manter as mesmas ações no planejamento para o próximo verão”, declarou Padilha, que disse já estar em contato com Wilson Pollara, futuro secretário da Saúde da gestão João Doria (PSDB). “Os recursos orçamentários para as medidas estão garantidos e o novo secretário disse que vai seguir o planejamento, até porque o plano está alinhado com o que prevê o Estado e o ministério.” Infestação. A secretaria não quis fazer projeções sobre o número estimado de casos de dengue, chikungunya e zika para 2017, mas divulgou pesquisa feita em imóveis sobre o índice de criadouros e infestação de larvas do Aedes encontrados em imóveis paulistanos. Embora os índices de recipientes com larvas tenham caído em relação ao ano passado, a taxa de reservatórios com água parada cresceu.

A maioria das larvas foi encontrada em depósitos usados para armazenar água.




Plantão Médico: Os desconhecidos riscos da sífilis

19/11/2016 - Folha de S.Paulo


Nestes últimos anos de liberação de usos e costumes em todas as faixas etárias, tem-se observado um significativo aumento de casos de sífilis em gestantes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a sífilis na gestação leva a mais de 300 mil mortes fetais e neonatais por ano no mundo. A doença transmitida durante a gravidez para o feto é conhecida como sífilis congênita. No Brasil, no ano passado, o Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde declarou um total de 221 óbitos por sífilis em crianças menores de um ano de idade.

A doença é curável e não dá imunidade após a infecção. O tratamento é a penicilina benzatina, empregada com sucesso há vários anos e que até hoje continua efetiva. O agente causador da doença até hoje não é resistente ao antibiótico.

A infecção pode retornar quando o tratamento é inadequado ou quando o parceiro ou parceira sexual com sífilis não recebe cuidados médicos adequados.

Quando a penicilina foi descoberta, há mais de 50 anos, inicialmente ela foi muito usada, desnecessariamente, no tratamento de gripes e resfriados pela população.

A terapêutica não agia contra os vírus, mas curou centenas de portadores de sífilis que, naquele momento, desconheciam ter a doença.

Naquela fase, curiosamente, desapareceram até os pacientes necessários para a demonstração de lesões sifilíticas para as aulas das escolas médicas de São Paulo.




Zika não é mais emergência global, diz OMS

19/11/2016 - Folha de S.Paulo


A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou nesta sexta (18) que o vírus da zika e complicações neurológicas relacionadas a ele não constituem mais uma emergência de saúde internacional.

Mas disse que continuará a trabalhar contra o surto comum “programa robusto”.

O comitê de emergência da entidade, que em fevereiro havia declarado o vírus da zika uma emergência de saúde internacional, disse que “o vírus e consequências associadas continuam sendo um desafio duradouro de saúde pública, exigindo ação intensa”.

“Não estamos diminuindo a importância do zika ao colocá-lo como um programa de trabalho mais longo, estamos enviando a mensagem de que o zika está aqui para ficar”, disse Peter Salama, diretor executivo do Programa de Emergências de Saúde da OMS, em entrevista na sede do órgão, em Genebra, Suíça.

Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o vírus da zika pode causar microcefalia em bebês quando contraído pela mãe ainda grávida, além de problemas neurológicos em crianças e adultos. Ele já foi diagnosticado em mais de 60 países desde o surto detectado no Brasil em 2015.

Apesar do anúncio da OMS, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que a situação de emergência será mantida no Brasil por tempo indeterminado. Ele anunciou novos critérios e exames que devem ser aplicados na rede de saúde para gestantes e bebês com suspeita de zika.

Agora, bebês cujas mães tiveram zika devem ser acompanhados até os três anos, mesmo que não apresentem o quadro de microcefalia. O objetivo é identificar outros danos relacionados ao vírus.

O último boletim do Ministério da Saúde, do início de novembro, aponta 10.119 notificações de suspeita de microcefalia provocada pelo zika, sendo que 2.143 casos foram confirmados e 3.086 ainda estão em investigação.


VERÃO


O Nordeste é a região que concentra o maior número de casos : 1.680. Entre os Estados, os destaques são Pernambuco (393 casos), Bahia (339) e Paraíba (186).O pico de notificações, porém, foi no verão, entre os meses de novembro de 2015 e janeiro de 2016.

Wanderson Kleber Oliveira, coordenador geral de vigilância e resposta a emergências em saúde, disse que não é possível saber se a circulação do vírus tem tido redução e qual o risco para o verão, quando a incidência do mosquito transmissor aumenta.

“Temos, diferente de outros países, três vírus transmitidos pelo mesmo mosquito.

Adinâmica ainda está em estudo e não sabemos ainda qual vírus vai sobressair em determinado momento. Precisamos acompanhar mais alguns anos”, afirma Oliveira, se referindo aos vírus da dengue e da chikungunya, também transmitidos pelo aedes.




Plano de saúde

21/11/2016 - Valor Econômico


A 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que a alienação das carteiras de plano de saúde é possível e legítima, desde que a nova operadora mantenha as mesmas condições contratuais vigentes à data da transferência e a mesma rede de serviços credenciados, sem restringir direitos ou causar prejuízos aos beneficiários. A decisão foi dada no julgamento de recurso da Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde contra a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Golden Cross Internacional de Saúde e a Unimed Rio Cooperativa de Trabalho Médico do Rio de Janeiro. De acordo com a turma, a transferência durante a vigência do contrato exige que a substituição seja feita por estabelecimento equivalente, que haja comunicação à ANS e aos consumidores com no mínimo 30 dias de antecedência e que seja mantida eventual internação de beneficiário iniciada antes da substituição. Na ação civil pública analisada pelos ministros, a associação alegou que a transferência de carteiras dos contratos de plano de saúde ocorrida entre a Golden Cross e a Unimed Rio, autorizada pela ANS, não manteve a mesma rede credenciada de profissionais, hospitais, clínicas e laboratórios. Relatou ainda casos de associados em tratamento de doenças graves que, após a transferência, não conseguiram atendimento em hospitais ou clínicas.




Brasil decide manter situação de emergência por microcefalia

18/11/2016 - Valor Econômico / Site


O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse nesta sexta-feira (18) que o Brasil irá manter, por tempo indeterminado, a situação de emergência nacional decretada há um ano devido ao avanço da microcefalia.

"Vamos manter até que o acompanhamento que estamos fazendo nos dê tranquilidade para recuar. Apesar de já termos 80% de redução dos casos de microcefalia, consideramos ser muito impactante para a sociedade e vamos manter a vigilância", afirmou Barros, em comparação com os dados registrados em janeiro.

A declaração ocorre no mesmo dia em que uma nova reunião do comitê de emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) irá avaliar a recomendação de novas medidas em relação ao zika ou uma mudança de status na situação de emergência internacional devido aos impactos do vírus.

O Ministério da Saúde também anunciou nesta sexta novos critérios e exames que devem ser aplicados na rede de saúde para acompanhamento de gestantes e bebês com suspeita de zika.

A partir de agora, bebês cujas mães tiveram zika devem ser acompanhados até os três anos, independente de terem ou não o quadro de microcefalia.

O objetivo é identificar outros danos relacionados ao vírus, conforme a reportagem divulgou em julho deste ano.

Com a mudança, pais e profissionais de saúde serão orientados a identificar possíveis problemas no desenvolvimento do bebê que podem estar relacionados ao zika, como danos à audição ou à visão e deficiência nos membros.

Além dessas ações, o Brasil também passa a adotar um novo parâmetro para identificar os casos suspeitos de microcefalia a partir da medida do perímetro da cabeça dos bebês.

Agora, bebês cuja circunferência da cabeça ao nascer for menor que 30,5 cm, no caso de meninos, ou de 30,2 cm, no caso de meninas, passam a ser avaliados para microcefalia. Antes, essas medidas eram de 31,9 cm e 31,5 cm, respectivamente.

O novo parâmetro segue recomendação da OMS. O objetivo é ter maior precisão na notificação dos casos.

O ministério também anunciou que irá passar a recomendar uma segunda ultrassonografia para gestantes no pré-natal, a partir do sétimo mês de gravidez. Um primeiro exame já é previsto no primeiro trimestre de gestação.

Ao todo, serão investidos R$ 52,6 milhões por ano para ampliação do atendimento.

Questionado se não houve atraso na recomendação de um segundo exame, o ministro alegou que a medida não tinha consenso entre a equipe da pasta.

"Por precaução, decidimos fazer. Chegamos a essa decisão, mas ainda com restrição de membros da nossa equipe técnica que acham que é um esforço muito grande e essa atenção a mais poderia ser dada apenas para a mãe que tiver alguma sintomatologia", afirma.

Segundo o ministério, além da microcefalia, o exame poderá ser útil para identificar outras malformações congênitas ou danos pelo zika. "Esse segundo exame pode identificar melhor as calcificações [no cérebro] e permitir melhor o acompanhamento do bebê", disse Thereza de Lamare, diretora do departamento de ações programáticas e estratégicas da pasta.

Desde que a emergência foi decretada, já foram notificados 11.119 casos suspeitos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central -destes, 2.143 foram confirmados e 3.086 ainda estão em investigação.

O Nordeste concentra a maior parte dos casos de microcefalia. Segundo o coordenador geral de vigilância e resposta a emergências em saúde, Wanderson Kleber Oliveira, ainda não há resposta sobre o que leva a essa concentração maior na região - se a expansão se deu apenas pelo zika ou se há fatores associados, por exemplo.

"Não há nenhuma evidência até o momento de outro fator que tenha influenciado", afirma. "O principal fator ainda é o vetorial [pelo Aedes aegypti]."

Ainda de acordo com Oliveira, ainda não é possível saber se a circulação do vírus zika tem tido redução no país e qual o risco para o próximo verão, quando aumenta incidência do mosquito transmissor.

"Temos, diferente de outros países, três diferentes vírus circulando no país transmitidos pelo mesmo mosquito. A dinâmica ainda está em estudo e não sabemos ainda qual vírus vai sobressair em determinado momento. Precisamos acompanhar mais alguns anos. Por analogia, comparado com outros países que tiveram epidemia de zika, acreditamos que o vírus confere imunidade. Não sabemos por quanto tempo", afirma.




Mortes por chikungunya crescem 2.500%

20/11/2016 - Folha de S.Paulo


Alvo de preocupação devido ao risco de novas epidemias com a chegada do verão, a chikungunya também gera alerta por causa do aumento no número de mortes relacionadas à doença.

Dados de governos estaduais e dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social obtidos pela Folha dão mostras desses impactos. Neste ano, por exemplo, já são ao menos 156 mortes por chikungunya confirmadas no país, contra seis em 2015, avanço de 2.500%, segundo levantamento da reportagem junto a secretarias estaduais de saúde do Nordeste, Rio e São Paulo.

Esse número tende a crescer, já que há em investigação ao menos 432 mortes suspeitas de ligação com arboviroses como dengue, zika ou chikungunya, sendo que essa última responde pela maioria das confirmações.

"É um número altíssimo. É a mais grave das arboviroses", diz Carlos Brito, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). No Nordeste, o total já supera as mortes por dengue neste e nos últimos dez anos.

Ao mesmo tempo, especialistas também apontam a possibilidade de subnotificação. Isso ocorreria porque, enquanto na dengue os casos se agravam ainda na fase aguda dos sintomas, as mortes por chikungunya ocorrem geralmente após 20 a 30 dias do início do quadro, o que dificulta a associação com a infecção prévia pelo vírus.

Apesar do aumento em relação ao ano passado, a maioria dos registros agora confirmados são de mortes registradas entre fevereiro e abril deste ano, mas que houve demora na notificação ou investigação.

A idade das vítimas varia entre 0 e 98 anos –idosos e pacientes com doenças associadas, como hipertensão, diabetes e problemas renais, são tidos entre os grupos mais vulneráveis a complicações. "Mas também existe um grupo de pacientes jovens, em uma proporção menor, que morrem sem nenhum fator de risco associado", completa Brito.


VERÃO E ALERTA


Os dados dão um retrato do avanço recente da chikungunya, considerada a principal ameaça de epidemia para o próximo verão, período em que há maior infestação do mosquito transmissor da doença –além do Aedes aegypti, a chikungunya é transmitida pelo Aedes albopictus.

Em todo o ano de 2015, foram 38 mil casos prováveis da doença registrados após atendimentos na rede de saúde. Neste ano, dados atualizados do Ministério da Saúde até o dia 25 de outubro já apontam 251 mil.

Com sintomas parecidos aos da dengue, a chikungunya se diferencia pelas fortes dores que causa nas articulações de mãos e pés, as quais podem se estender por meses –e até anos.

Para Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fiocruz, os dados deixam clara a necessidade de preparar a rede de saúde.

"Se temos dificuldades em conter epidemias, poderíamos dedicar parte de nossas políticas públicas para organizar a rede de atenção aos nossos doentes. Não precisamos esperar chegar o mês de fevereiro e ter as unidades de saúde entupidas."

Ainda segundo Venâncio, a ocorrência de mortes por chikungunya já era registrada na literatura. O alto número, assim, reflete os primeiros impactos do avanço da doença no país.

"A morte não deixa de ser uma ocorrência rara [se comparada com a população]. Mas é um número mínimo que, quando a base que adoeceu é muito grande, toma um vulto assustador", diz.

Luciano Pamplona, da Universidade Federal do Ceará, diz que o número registrado não era esperado. "A história anterior à chikungunya chegar ao Brasil era uma doença que limitava muitas pessoas, mas não matava tanto."

Em nota, o Ministério da Saúde informa que essas mortes estão sendo avaliadas junto aos Estados e que o aumento na detecção ocorre devido à adoção de um protocolo específico para investigação. Diz ainda que o avanço da chikungunya no país já era previsto, "uma vez que é uma doença recente e, por isso, a população está mais suscetível."

quot;O Ministério da Saúde trabalha com a possibilidade de que ocorra um aumento no número de casos nos próximos meses em alguns Estados ainda não afetados pela doença devido à suscetibilidade da população e às condições climáticas favoráveis como o calor e as chuvas, condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti", diz.




Dor ‘sem trégua’ da chikungunya leva a explosão de auxílio-doença

21/11/2016 - Folha de S.Paulo


As dores são tão fortes que há dias em que, mesmo com fome, Silvana Martins Franco, 53,não tem forças para levantar do sofá e ir até a cozinha.

Há nove meses, ela percorre hospitais e consultórios médicos do Rio em busca de alívio para as inflamações que atingem os joelhos, tornozelos, punhos e até o movimento dos dedos.

Tudo começou em fevereiro, quando encarou os primeiros sintomas da chikungunya: febre, olhos vermelhos e dores no corpo e nas articulações. Essas últimas, porém, não deram trégua, uma situação que a levou a parar o trabalho e quase toda a rotina que tinha.

Além das mortes, dados do INSS já mostram outro impacto da chikungunya no país: o afastamento de trabalhadores devido às fortes dores crônicas que provoca.

Neste ano, o órgão do Ministério de Desenvolvimento Social já registra ao menos 941 concessões de auxílio-doença devido à enfermidade.

Em todo o ano de 2015,foram somente 22, segundo balanço obtido pela Folha.

O número, no entanto, pode abranger mais de um pedido por pessoa, uma vez que o benefício é concedido temporariamente e pode ser renovado, conforme avaliação da perícia médica. Do total de benefícios concedidos em 2016, 115 ainda estão ativos, segundo o INSS. O órgão não informou o total de solicitações.

Trata-se de um benefício previsto para segurados do INSS acometidos por doença ou acidente e incapazes de continuar o trabalho. O valor corresponde a 91% da média de 80% das contribuições ao INSS —se essa média for de R$ 2.000, por exemplo, o benefício será de R$ 1.820.

Microempreendedora, Silvana é uma das pessoas que hoje busca o auxílio por não suportar as dores. “Não consigo escrever nem segurar a caneta. Se assino, minha assinatura sai como a de uma pessoa semialfabetizada.” Apesar do aumento nas concessões, os registros de auxílio-doença por chikungunya ainda são recentes—dados do INSS mostram maior avanço entre março e agosto, meses típicos de epidemia. Por vezes, o quadro também é confundido com outros problemas osteo musculares.

Reportagem da Folha deste domingo (20) mostrou que a chikungunya preocupa pelo aumento das mortes. Já são ao menos 156 mortes confirmadas neste ano, ante seis em 2015, um avanço de 2.500%.


DOR, DOR, DOR


Diagnosticada com chikungunya em setembro de 2014, quando a doença ainda tinha circulação confirmada em poucos municípios do país, Maria Jussara de Oliveira, 52, sente até hoje os impactos da doença. “Nunca mais fui a mesma pessoa”, relata a moradora de Riachão do Jacuípe, na Bahia.

No último ano, chegou a ficara té três meses afastada do trabalho como assistente social.

Hoje, ainda há dias em que a “crise” ataca. Os ombros incham, os pulsos doem.

Para lidar compossível aumento no número de casos crônicos, o Ministério da Saúde planeja uma revisão nos protocolos clínicos da chikungunya.

Dados da pasta mostram que a prevalência da“fase crônica” varia nos estudos já realizados, podendo chegar a metade dos pacientes.

Os principais fatores de risco são ter mais de 45 anos, problemas articulares pré-existentes e maior intensidade das lesões na fase inicial dos sintomas. “É como se a chikungunya tivesse piorado um quadro ou um terreno que estava suscetível à chegada dessa complicação”, diz Rivaldo Venâncio, da Fiocruz.




Beco da tuberculose

21/11/2016 - Folha de S.Paulo


No beco, o esgoto corre a céu aberto. Há casas e porões sem janelas, com pouca iluminação e quase nenhuma ventilação. Entre os moradores, vários já tiveram ou ainda se tratam da tuberculose.

A 50 metros dali, na mesma rua 4, 144 famílias viviam na mesma situação até 2010.

Após obras de urbanização do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), um trecho foi aberto e as casas precárias, demolidas.

Isso permitiu a entrada de luz solar e a circulação de ar nas novas moradias ali construídas.

Antes conhecido como “beco da tuberculose”, o local praticamente zerou os casos da doença.

Os dois cenários estão na mesma Rocinha, a maior favela do Brasil, localizada na zona sul do Rio. Com população estimada em mais de 100 mil habitantes, ela tem uma das maiores taxas de incidência de tuberculose da América Latina (372 casos por 100 mil habitantes em 2013),índice 11 vezes maior do que o do Brasil(33,2 casos por 100 mil).

A doença contagiosa provocada por uma bactéria é transmitida pelas vias aéreas e se dissemina facilmente em áreas com grandes aglomerações de pessoas, alta concentração de pobreza, ambientes sem entrada de luz solar e pouca circulação de ar.

A situação da doença e os desafios para o seu controle foi tema de um debate no congresso mundial de médicos de família (Wonca), que ocorreu no início do mês no Rio. O Estado do Rio tem 62,8 casos por 100 mil habitantes, e a cidade, 82 casos por 100 mil.

Dados preliminares de um estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) apresentado no evento mostram que as chances de cura da tuberculose aumentam em até 39% nas áreas cobertas pela Estratégia Saúde da Família (ESF) em relação àquelas sem cobertura.

“Os resultados demonstram que a expansão e consolidação da estratégia é o caminho para se alcançar a meta proposta pela OMS de eliminar a doença até 2035”,diz a infectologista Betina Durovni, subsecretária de atenção primária e vigilância em saúde do município do Rio.

Nos últimos sete anos, o índice de cobertura de saúde da família na cidade do Rio passou de 3,5% (em 2009) para 66% (até agora). O modelo, que acompanha hoje mais de 4 milhões de cariocas, se base ou em experiências de Portugal e da Inglaterra.

No caso da Rocinha,a incidência da tuberculose já foi mais alta. Eram 455 casos por 100 mil habitantes em 2001.

Houve avanço na taxa de cura, que passou de 66,1% em 2001 para 81,2%em 2013,e no índice de abandono do tratamento —de 18,2%para 11,6%.

As taxas, porém, ainda estão aquém do que preconiza a OMS: cura acima de 85% e abandono abaixo de 5%.

O número de mortos pela doença caiu quase pela metade, de 51 (2005-2009) para 29 (2010-2015). “A maioria dos casos é diagnosticada precocemente e tratada na atenção primária. Antes, muitas pessoas descobriam a doença quando davam entrada em hospitais, em estágios mais avançados”, diz Marcos Goldraich, médico da clínica da família Maria do Socorro.

A unidade é uma das três de atenção primária na Rocinha, que também tem uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Até 2010, só havia um centro de saúde.

“Não tenho a pretensão de acabar coma tuberculose, até porque a cura depende de outras áreas que não a saúde [infra-estrutura, saneamento].

A experiência da rua 4 mostrou isso”,dizGoldraich.

Hoje, a favela está dividida em 25 áreas e cada uma possui uma equipe de saúde da família, composta por um médico,um enfermeiro e seis agentes comunitários (todos moradores do lugar).


MULTIRRESISTÊNCIA


Elaine Gomes, 37,é uma das agentes. Ganha R$ 1.150 mensais por oito horas de trabalho diário por entre becos e vielas da Rocinha, acompanhando pacientes com tuberculose, hipertensos, diabéticos e gestantes de risco.

Na última sexta (18), a Folha acompanhou sua ida à casa do aposentado Roberto Ramos, 66, que tem tuberculose multirresistente, causada por bactérias que não respondem ao tratamento com as drogas convencionais.

O problema surge quando pacientes não usam corretamente a medicação, fornecida pelo SUS, ou abandonam a terapia.Foio que aconteceu com Ramos, que hoje toma 13 cápsulas de antibióticos por dia (geralmente são quatro) sob supervisão de Elaine.

“Ele reclama da quantidade de remédio e dos efeitos colaterais [náusea e dores no corpo], mas a gente só sai de perto quando ele toma toda a medicação”, conta a agente, mãe de quatro filhos e avó de um menino de três anos.

Nascida e criada na Rocinha, ela decidiu ser agente comunitária depois que o filho teve diagnosticado um tumor cerebral e passou a ser acompanhado em uma das clínicas de família da favela.

“O cuidado e o carinho que recebemos não tem preço.

Quis retribuir isso. Não há nada mais gratificante do que ver ver um paciente curado.” Elaine lembra de um morador de rua que todos os dias desaparecia dos radar dos agentes. “Aquele que o encontrasse primeiro dava a medicação e avisava o resto da equipe por WhatsApp.” Há dois meses, exames apontaram que o morador está curado. “Fizemos até festa para comemorar.”




Pacientes sofrem com estigmada doença infeciosa

21/11/2016 - Folha de S.Paulo


“Não conte para a minha família ou para o meu vizinho que eu tenho tuberculose”. O pedido recorrente que os pacientes fazem a médicos e agentes da saúde expõe o estigma que envolve a doença.

“Atendi um paciente que só aceitou iniciar um segundo tratamento depois que garanti sigilo. Na primeira vez em que ele se infectou, os vizinhos queimaram a casa e as coisas dele”, conta o médico Marcos Goldraich, que atua numa clínica na Rocinha.

Um estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que os pacientes associam a doença fortemente ao estigma. Dentre os relatos, há casos de pessoas que esconderam o diagnóstico de familiares e de colegas de trabalho por medo de sofrer rejeição.

“A própria família, por ignorância, separa garfo, faca. Mas a transmissão não acontece assim. É pelas vias aéreas, pelas gotículas da tosse, do espirro.

Precisa de um contato muito próximo”, diz Elaine Gomes, agente de saúde.

A doença tem cura em praticamente 100 % dos casos novos desde que o tratamento seja feito de forma correta e até o final.

Após 15 dias de terapia, o paciente não transmite mais a doença.




Cannabis verde (e amarela)

20/11/2016 - O Globo


Pesquisadores da Fiocruz e da UFRJ se preparam para desenvolver no país o primeiro fitomedicamento à base de substâncias da maconha. O verde da maconha em breve pode ganhar tons amarelos, reproduzindo as cores do Brasil. Cada vez mais utilizados como tratamento alternativo para diversas condições de saúde — dos enjoos provocados pela quimioterapia contra o câncer a convulsões incontroláveis por remédios convencionais em crianças — compostos da planta, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), são alvo de projetos de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que devem levar ao desenvolvimento do primeiro fitomedicamento à base de maconha no país. Com isso, o uso das substâncias ganhará rigor científico e padronização ainda inéditos no mundo, guiando sua aplicação terapêutica.

— A situação que temos hoje é complicada — justifica Virgínia Martins Carvalho, professora de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da UFRJ. — A maconha e substâncias nela contidas têm propriedades terapêuticas reconhecidas internacionalmente, e disso não há dúvidas, mas ainda há uma confusão muito grande para seu estudo, principalmente por conta da proibição, que dificulta bastante as pesquisas.

Diante disso, Virgínia apresentou e teve aprovado este mês um projeto de extensão na instituição, intitulado Farmacannabis, cujo objetivo principal é analisar a composição dos extratos de maconha importados ou produzidos artesanalmente, e clandestinamente, no Brasil com fins medicinais. No caso dos extratos importados, embora após muitos protestos e ações na Justiça a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tenha autorizado em caráter excepcional sua entrada no país para o tratamento de crianças que sofrem com a chamada epilepsia refratária, em que os remédios comuns não foram capazes de controlar as convulsões, até recentemente estes produtos eram comercializados como suplementos alimentares nos EUA, e por isso sua fabricação não precisa obedecer a padrões estritos como no caso dos medicamentos.


ORÇAMENTO DE R$ 250 MIL


O problema é tamanho que avaliações feitas pela Administração para Alimentos e Drogas (FDA, o órgão fiscalizador do setor no país) de alguns dos extratos mais vendidos nos EUA, entre 2015 e 2016, verificou que quase nenhum deles continha as proporções de CBD e/ou THC indicadas em seus rótulos. Além disso, muitas famílias brasileiras não têm condições de arcar com a compra dos extratos importados — um vidro dos óleos americanos custa por volta de US$ 300 (cerca de R$ 1 mil), e dependendo do peso e sintomas da criança, são utilizados até dois deles por mês —, e acabam plantando maconha e fazendo os compostos em casa, ou obtêm estes de fabricantes artesanais.

— Ninguém sabe de fato qual o grau farmacológico destes extratos, isto é, qual a concentração de CBD e THC neles — conta Virgínia. — Isto dificulta o controle e a eficácia da dosagem, já que, embora o médico possa prescrever e acompanhar o tratamento, ele não tem ideia de exatamente quanto CBD e THC a criança está tomando. Com o Farmacannabis, vamos dar suporte analítico tanto para os pacientes e suas famílias quanto para os médicos, além de proporcionar aos estudantes de farmácia experiência em análises toxicológicas e interação clínica pelo contato com pacientes e médicos. Ainda de acordo com Virgínia, até o fim do projeto, inicialmente orçado em quase R$ 250 mil, também deverá estar em funcionamento uma plataforma digital de acesso gratuito na qual, mediante inscrição ou cadastro, médicos, familiares e alunos poderão obter mais informações sobre os possíveis usos medicinais da maconha, os resultados das análises feitas durante a iniciativa e como essas avaliações foram realizadas. — A maconha tem cerca de 70 canabinoides e seus ácidos, cada um deles com suas propriedades e efeitos — destaca Virgínia.

— Falar do canabidiol como se não estivéssemos nos referindo à planta procura dar uma ideia de afastamento da maconha, o que é uma falácia. Nenhum destes canabinoides existe isolado, e precisamos saber como eles atuam entre si, em particular o THC e o CBD. Eles têm uma ação dinâmica no sistema nervoso central, num efeito que chamamos de “comitiva”, que é variável de pessoa a pessoa. E é por isso que conhecer suas proporções nos extratos é muito importante. Sabemos que estes extratos ajudam, mas ainda precisamos saber como dentro de um planejamento terapêutico segundo sua composição e dosagem, isto é, porque algumas pessoas se beneficiam mais de extratos que tenham mais THC e outras de extratos com mais CBD. E para isso temos que estudá-los. Só com este monitoramento e os relatos clínicos poderemos conhecer melhor esta associação.

Esta investigação também será fundamental para o projeto na Fiocruz. Lançado em março deste ano com a criação de um grupo de trabalho do qual a própria Virgínia faz parte, o Fio-cannabis discute a viabilidade e formatação de uma ampla e longa pesquisa científica com intuito de, provada sua eficácia e segurança, eventualmente fabricar um fitomedicamento de Cannabis para alívio da epilepsia refratária. — A ideia é estudar os extratos tanto do ponto de vista de toxicidade quanto de segurança, além de fazer ensaios pré-clínicos e clínicos das fases 1, 2 e 3 para avaliar sua eficácia, isto é, seguir todo o processo necessário para o registro de um medicamento no Brasil junto à Anvisa com foco na epilepsia refratária — dizHayne Felipe da Silva, diretor do Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fiocruz (Farmanguinhos), que encabeça a iniciativa. Com uma tríade de segurança, eficácia e qualidade igual à de qualquer outro medicamento, o pesquisador pretende chegar a um produto feito no Brasil com custo menor e que possa vir a ser distribuído pelo SUS (Sistema Único de Saúde, do governo federal), além de dar a ele o rigor de medicamento que não há nos EUA. De acordo com Silva, a expectativa é de que até o fim deste ano o projeto de pesquisa definindo, entre outros fatores, como ela será feita, quantos voluntários serão necessários etc, já esteja pronto para ser encaminhado à Anvisa, com os estudos começando na prática no ano que vem. Ao todo, ele espera que o processo de desenvolvimento do fitomedicamento leve de cinco a dez anos. — Temos que começar logo, ainda mais por se tratar de substâncias que têm ação no sistema nervoso central, um complicador adicional. Silva conta, no entanto, que um dos principais obstáculos que ainda faltam ser superados para dar início efetivo à pesquisa é justamente encontrar um fornecedor regular dos extratos de Cannabis, seja do Brasil ou do exterior, com a qualidade e padrão de composição necessários para uma investigação científica do tipo. O que é certo, porém, é que a Farmanguinhos não vai plantar maconha e produzir os compostos.

— A Farmanguinhos é uma indústria de transformação, então vamos fazer com este produto o que fazemos com os outros medicamentos: compramos o princípio ativo e formulamos o remédio.


MUDANÇA DE PATAMAR


Na outra ponta deste esforço de duas das maiores instituições de pesquisa do Brasil estão pessoas como Sofia. A menina, portadora de CDKL5, doença rara que tem como um de seus sintomas crises convulsivas, é filha da advogada Margarete Santos de Brito, presidente da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi), e uma das crianças que estão se beneficiando da autorização da Anvisa para importação dos extratos de Cannabis. Segundo Margarete, atualmente Sofia toma um misto de extratos de Cannabis importados e artesanais, além de outros remédios e tratamentos convencionais para sua condição, que ela estima terem reduzido em 70% seus ataques epiléticos. — Para a gente, estas pesquisas mudam completamente o patamar dos fitomedicamentos de Cannabis no Brasil — avalia. — Como os extratos importados também vão ser testados, teremos um controle de qualidade que não é realizado nem nos EUA, já que as informações em seus rótulos não necessariamente correspondem à realidade. E a preocupação de Margarete vem de experiência própria. Ela conta que recentemente adquiriu um extrato americano que dizia ser livre de THC, o canabinoide de efeito euforizante da maconha e um dos mais presentes na planta. Antes de dá-lo a Sofia, porém, ela decidiu prová-lo e acabou tendo uma “onda”, o que a fez decidir não administrá-lo à menina. — Estes extratos entram no Brasil a preço de ouro, são extremamente caros e não têm necessariamente qualidade — reclama. — Já os produzidos artesanalmente aqui podem ser tão ou mais eficientes do que os que vêm dos EUA, mas com eles também não sabemos quais os percentuais de canabinoides que estamos dando para as crianças. Com estas pesquisas, vamos saber. Para Margarete, também é relevante o fato de os estudos estarem nas mãos de duas renomadas instituições de pesquisa no país. — Isto serve como um aval de que a maconha pode ser, sim, um remédio — destaca. — E por mais que este processo de investigação possa demorar, ter um fitomedicamento de Cannabis verde-e-amarelo, ou na verdade mais verde que amarelo, será uma realização muito importante. Enquanto isso, contudo, Margarete procura garantir a continuidade do tratamento da filha. Na última quinta-feira, a advogada obteve na Justiça um habeas corpus preventivo que proíbe as polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro de detê-la e/ou apreender as plantas de maconha que ela cultiva em casa para produzir os extratos de Cannabis artesanais que dá a Sofia. O salvo-conduto é válido até que seja julgado em definitivo o processo que ela move na 14ª Vara Federal do Rio de Janeiro em que pleiteia permissão para cultivar em casa a planta ilícita com fins medicinais.




Desconhecida obesidade

21/11/2016 - O Globo


Embora todos saibam que a obesidade é condição que predispõe ao aparecimento de doenças graves, poucos se dão conta de que a mesma é uma doença. Considerada pelo público leigo como situação decorrente de comportamento alimentar errôneo, a obesidade está classificada no Código Internacional de Doenças e é considerada pelas sociedades Brasileira e Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica como tal. Segundo o site de ambas as sociedades científicas, trata-se hoje da segunda causa de morte evitável no mundo e predispõe em seu portador um potencial desenvolvimento de mais de 50 doenças associadas, entre elas a hipertensão e o diabetes mellitus do tipo 2.

Mas, de fato, quem pode ser considerado obeso e, portanto, em risco de ter sua saúde comprometida? Será que apenas o “peso total” representa de fato o grau de obesidade?

Como exemplo, podemos citar o lutador Mike Tyson, quando atleta, no auge de sua forma física, possuía 3% de gordura corporal e um índice de massa corporal de 42kg/m2. Segundo a Agência Nacional de Saúde e o Ministério da Saúde, são considerados obesos mórbidos todos aqueles que estão com um IMC (Índice de Massa Corporal) igual ou maior que 40kg/m2. Portanto, considerar Tyson, nessa época, obeso mórbido é, no mínimo, desconsiderar a natureza individual de sua composição corporal.

Os indivíduos com maior massa muscular são, naturalmente, mais pesados. Portanto, o peso total não é o melhor parâmetro para definir grau de obesidade. Sendo assim, tornase imperioso uma avaliação médica para determinar de fato o grau.

Por essa lógica, indivíduos relativamente magros podem estar gravemente obesos. Mas, até hoje, do ponto de vista populacional, não há melhor método para atribuir o grau de obesidade do que pesar e medir uma pessoa. A relação entre o peso e altura determinará o grau de índice de massa corpórea.

Segundo a revista “Lancet”, em estudo recentemente publicado, existe uma alta correlação entre IMC elevado e doença coronária associada ao infarto agudo do miocárdio, morte por doenças respiratórias e câncer. De acordo com este trabalho, uma meta-análise com 239 estudos prospectivos confirmou que a elevação do IMC, de maneira diferente e proporcional à etnia de cada população estudada, elevava também substancialmente o índice de mortalidade. Desse estudo participaram 10.625.411 pessoas de Ásia, Austrália, Nova Zelândia, Europa e América do Norte. O tempo de avaliação foi de aproximadamente 14 anos.

O objetivo foi analisar a proporção de mortes prematuras que estivessem, de alguma forma, associadas ao excesso de peso. Estimou-se como IMC ideal a variação de 18,5 a 25 kg/m2. Estar acima do peso demonstrou, substancialmente, um risco de morte elevada em todos os continentes.

De acordo com Jonathan Samet, chefe da cadeira de Medicina Preventiva da Kech School of Medicine e um dos autores do estudo, o cálculo do IMC é uma medida imperfeita de gordura já que não mede a localização da mesma. Para ele, o grande perigo está na abdominal, o que impacta diretamente no aparecimento da síndrome plurimetabólica, representada na associação de doenças como diabetes, hipertensão e hipercolesterolemia.

Os sistemas de saúde pública devem estar atentos a políticas de prevenção da obesidade. Hoje, nosso país não morre mais de fome, ao contrário.

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