CLIPPING - 18/11/2016
Assessoria de Comunicação do CRF-SP
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Pílula de longa duração
18/11/2016 - Correio Braziliense
A adesão dos pacientes é um dos principais problemas no tratamento de doenças crônicas. Estima-se que apenas metade das pessoas que precisa tomar medicamentos todos os dias o faça na frequência correta. Para contornar esse obstáculo, pesquisadores do Hospital Brigham and Women de Boston e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ambos nos Estados Unidos, desenvolveram uma cápsula de longa duração que, no futuro, permitirá a liberação da droga ao longo de uma semana, um mês ou até por um prazo maior. Os testes iniciais foram para tratar a malária.
O experimento, com porcos, foi descrito na edição desta semana da revista Science Translational Medicine. A ideia é que o modelo possa servir para diversos medicamentos, mas, no teste, os pesquisadores investiram na ivermectina, droga utilizada para combater infecções parasitárias, além de ser indicada para o tratamento de malária em locais em que a enfermidade é endêmica, como a Região Norte brasileira e a África Subsaariana.
Os pesquisadores descobriram que, em modelos animais grandes, a cápsula permanece em segurança no estômago, liberando a droga por até 14 dias, surgindo, assim, como uma potencial forma de combater a malária e outras doenças infecciosas com disseminação preocupante. Só a malária, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ameaça metade da população mundial, o equivalente a 3,2 bilhões de pessoas.
“Nós queremos tornar o mais fácil possível para as pessoas tomarem seus medicamentos. Quando os pacientes têm de lembrar de tomar uma droga todos os dias ou várias vezes ao dia, começamos a ver menos adesão ao regime. Ser capaz de engolir uma cápsula uma vez por semana ou por mês pode mudar a forma como pensamos sobre a ingestão de medicamentos”, diz Giovani Traverso, um dos autores e gastroenterologista da Faculdade de Medicina de Harvard e do Hospital Brigham and Women de Boston.
PEQUENA
“Além de melhorar a adesão, nosso sistema de longa ação pode reduzir os efeitos adversos e melhorar a eficácia da droga”, complementa Andrew Bellinger, primeiro autor do trabalho e cardiologista do Hospital Brigham and Women de Boston. Ele conta que a cápsula é do tamanho de um comprimido de óleo de peixe quando engolida. Uma vez dentro do estômago, ela, como um origami, se desdobra, assumindo a forma de uma estrela. Dessa forma, fica presa no piloro (constrição musculosa no fim do estômago), ao mesmo tempo em que permite a passagem de alimentos. Em duas semanas, o material da cápsula se desfaz, ela se rompe e viaja pelo trato digestivo para ser eliminada.
Segundo os pesquisadores, os ensaios clínicos com humanos devem começar no ano que vem. De acordo com o pesquisador Robert Langer, também do MIT, o sistema poderá ser usado para o enfrentamento de doenças diversas. Há, por exemplo, o projeto de usá-lo no tratamento de transtornos neuropsiquiátricos, HIV, diabetes e epilepsia. “Até agora, as drogas orais quase nunca duravam mais de um dia. Isso realmente abre a porta para sistemas orais de ultralonga duração, o que poderia ter um efeito sobre todos os tipos de doenças, como o Alzheimer e problemas de saúde mental” acrescentou.
Bellinger ressaltou, porém, a importância de a solução ser usada para o tratamento de doenças endêmicas, principalmente em regiões em que o controle é dificultado por questões financeiras, estruturais e/ou culturais. “Se o medicamento puder ser eficaz por um longo período de tempo, você poderá melhorar radicalmente a eficácia das campanhas de medicação em massa”, justificou.
VACINAÇÃO SERÁ INICIADA NA ÁFRICA
A primeira vacina contra a malária no mundo será usada na África Subsaariana no próximo ano, anunciou a Organização Mundial da Saúde (OMS). A substância obteve êxito na fase três de testes clínicos, feitos com mais de 15 mil lactentes e crianças pequenas em sete países na África Subsaariana. A nova etapa, a imunização, ocorrerá em três países ainda não definidos, sendo que os que participaram dos últimos ensaios terão prioridade. De acordo com as Nações Unidas, a aprovação de US$ 15 milhões pelo Fundo Global de Combate à Aids, Tuberculose e Malária garantirá a execução dessa fase.
Farmacêutica australiana quer genéricos mais poderosos
17/11/2016 - UOL
Jackie Fairley acredita que a melhor maneira de tornar medicamentos antigos mais potentes é redistribuindo seus compostos químicos.
A empresa de biotecnologia de Fairley, a Starpharma Holdings, possui dezenas de patentes sobre maneiras de fazer os medicamentos funcionarem melhor. A empresa australiana aproveitou uma aplicação dessa tecnologia para criar um gel para revestir preservativos com o objetivo de melhorar a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis e a propagação de vírus como o zika por meio das relações sexuais.
Os órgãos reguladores do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia aprovaram o uso do gel e a companhia está buscando autorizações em outros países. Mas agora, Fairley, executiva que trabalha na indústria farmacêutica há mais de duas décadas, mira um prêmio muito maior: tornar os medicamentos genéricos mais efetivos.
A partir de uma tecnologia desenvolvida por uma agência científica financiada pelo governo australiano, a Organização de Pesquisa da Comunidade Científica e Industrial, a companhia está trabalhando para mudar a composição molecular de alguns medicamentos genéricos para transformá-los em combatentes mais poderosos contra certas doenças.
A Starpharma, por exemplo, está utilizando sua tecnologia no medicamento quimioterápico docetaxel para possibilitar a entrega de mais moléculas do medicamento às células cancerígenas e assim atacar melhor o tecido doente.
Essa estratégia está atraindo a atenção de empresas farmacêuticas internacionais, muitas das quais irão enfrentar o vencimento de patentes de medicamentos bastante vendidos nos próximos anos e estão buscando maneiras de reativar alguns desses tratamentos, ou de encontrar novas terapias, para compensar a perda de receita.
A AstraZeneca, que tem sede no Reino Unido, assinou acordo em setembro com a Starpharma com pagamento de US$ 2 milhões adiantados.
A Starpharma estima que o pacto poderá render até US$ 450 milhões em descobrimentos e royalties combinados se a tecnologia funcionar com algum dos compostos da companhia britânica ou com medicamentos inovadores.
Em entrevista, Fairley disse que sua companhia planeja anunciar mais acordos de licenciamento nos próximos meses. "Nossa tecnologia pode reiniciar o relógio das patentes para os medicamentos genéricos", disse Fairley.
No momento em que as grandes empresas farmacêuticas lidam com o vencimento de suas patentes, muitas multinacionais estão dispostas a investir em métodos que permitiriam ampliar o ciclo de vida dos medicamentos e a tecnologia da Starpharma se encaixa nessa tendência, disse Tanushree Jain, analista de biotecnologia da Bell Potter Securities em Sydney.
Além disso, "o forte efeito da segurança que estamos vendo na tecnologia da Starpharma a coloca em posição bastante firme entre as potenciais terapias combinadas contra o câncer", disse ela.
No entanto, o uso da tecnologia por Fairley para recuperar medicamentos ainda está em fase inicial de testes em humanos e a executiva tem trabalho pela frente para tornar a empresa de biotecnologia rentável.
Fundada em 1996, a Starpharma ainda não gerou lucros e o preço de suas ações é de menos da metade do registrado em 2012, segundo dados compilados pela Bloomberg. Atualmente, a companhia tem um valor de mercado de cerca de 254 milhões de dólares australianos (US$ 190 milhões).
Negócio te ajuda a pagar até 30% menos em remédios e cosméticos
18/11/2016 - Portal Exame
A crise econômica costuma afetar o orçamento pessoal como um todo. Porém, há áreas que pesam mais do que outras: são os gastos inelásticos, como é o caso dos que envolvem a saúde, por exemplo.
Deixar de comprar um medicamento não costuma ser uma opção.Por isso, é preciso pesquisar seu preço em diferentes locais para sair com a melhor oferta. Um remédio comum, como o paracetamol, pode ter uma diferença de custo de até 3.868% em uma cidade como Curitiba, no Paraná.
Os sócios Ângelo Alves e Cezar Machado analisaram quão difícil é essa tarefa de comparação e decidiram criar uma plataforma que mostra os valores de mais de 250 mil produtos em 40 redes de drogarias.
A ideia de negócio, chamado Cliquefarma, parece ter dado certo: nos últimos doze meses, o negócio faturou R$ 2,4 milhões de reais. E, para o próximo ano, os empreendedores preveem um número maior.
PRIMEIROS PASSOS E PARCERIAS
A ideia para o empreendimento veio quando Alves queria comprar um remédio para pressão alta – e acabou vendo grandes variações no preço do medicamente. “Saí procurando em diversas drogarias e fiquei pensando em como faltava um local para pesquisar preços de forma mais ágil”, conta o empreendedor.
Alves e Machado eram sócios em uma empresa de software e decidiram criar um site que agrupasse os preços de vários remédios e que permitisse consultas com apenas um clique. “Pegamos uma necessidade que tínhamos como consumidores e juntamos com nossa experiência na parte de desenvolvimento”, resume Machado.
O Cliquefarma foi inaugurado em 2010 – e os empreendedores encontraram dificuldades na hora de convencer as drogarias a participarem da plataforma. “Houve muita resistência. Naquele ano, havia muitas farmácias que nem queriam saber de comércio eletrônico”, explica Machado.
A solução encontrada pelos sócios foi mostrar o tráfego que o Cliquefarma poderia gerar às redes de drogarias – o que poderia resultar em mais vendas. “Acabamos criando a necessidade nelas, mostrando como poderíamos gerar visitas adicionais aos negócios.”
Hoje, há mais de 40 redes dentro do Cliquefarma. Segundo Alves, a perspectiva de maior competição não afastou as farmácias. “Elas não perdem em todos os produtos. Há linhas com preços maiores e menores, de acordo com as negociações que as drogarias fazem e com o estoque que possuem”, afirma o empreendedor. “Além disso, a decisão de compra do usuário nem sempre é apenas pelo preço: pode ser também por localização e por meios de pagamento disponíveis, por exemplo.”
COMO FUNCIONA?
O Cliquefarma pode ser acessado tanto de um desktop quanto do celular, por meio de um site responsivo.
Ao todo, o Cliquefarma possui mais de 250 mil produtos. É possível encontrar itens com variação de preço de até 623% – o mesmo medicamento pode custar entre 2,70 reais e 16,84 reais.
Vale lembrar que esses valores sempre se atualizam: a média de variação costuma ficar em torno de 30%. Ainda segundo o sócio, há muitos usuários que compram remédios de outros estados – o custo, mesmo com frete e dias de espera, acaba valendo mais a pena do que o de uma drogaria local.
A monetização do negócio se faz por meio de um sistema de “custo por clique”: quando o usuário é redirecionado do Cliquefarma para o site de uma das drogarias participantes, a farmácia paga uma taxa pelo clique. O valor mínimo que deve ser pago ao Cliquefarma é de 30 centavos, variando de acordo com o produto ofertado.
“A gente não faz a venda diretamente pela plataforma, porque por regulamentação apenas uma drogaria pode fazê-lo. Nós só mostramos o melhor preço e o redirecionamos para a farmácia correspondente. Enquanto o consumidor economiza, o negócio ganha mais um canal de venda”, explica Alves.
A maioria dos consumidores são mulheres de classe B e C, o que pode ser explicado pelo fato de que as drogarias oferecem não apenas medicamentos, mas também produtos de higiene, dermocosméticos e maquiagem. O produto mais procurado em outubro, por exemplo, foi o creme para gestantes Bepantol Mamy.
“Medicamentos continuam sendo o mais procurado, mas em termos de ticket médio os cosméticos são mais importantes”, ressalta Alves. O valor médio de compra no Cliquefarma é de 88 reais.
PLANOS
A ideia do Cliquefarma vai muito de acordo com os tempos de crise econômica, que pedem maior contenção de gastos. Mesmo com uma perspectiva de melhora nos indicadores econômicos, a meta do site é faturar nos próximos doze meses 38% a mais do que nos últimos doze meses – de outubro de 2015 a outubro de 2016, a plataforma teve um faturamento de 2,4 milhões de reais.
No curto prazo, o negócio está se preparando para uma Black Friday de farmácias. “Esse evento serve não apenas para eletrodomésticos ou eletroeletrônicos, mas para todo o comércio eletrônico. Tivemos um aumento de 100% nas vendas dos nossos parceiros na Black Friday do ano passado. Para este ano, esperamos isso ou mais”, diz Alves.
O site também está desenvolvendo novas ferramentas: por exemplo, o usuário poderá comparar não só um produto, mas uma lista com vários medicamentos; poderá também salvar listas para compra futura; e poderá receber alertas do preço de um determinado medicamento. “Começaremos a trabalhar muito melhor nossa base, oferecendo serviços para facilitar a vida do usuário”, resume Machado.
Além disso, o Cliquefarma pretende lançar um aplicativo no segundo semestre de 2017, para reproduzir a experiência do site de uma forma mais acessível.
Por fim, o empreendimento quer elaborar uma espécie de “clube de descontos”. Os usuários poderão se cadastrar no site e colocar seus interesses em termos de produtos. Ao mesmo tempo, o Cliquefarma se aproximará das redes, mostrará os dados de demanda e irá negociar um desconto do produto.
“Recebemos três milhões de visualizações de página por mês. Com toda essa base, conseguimos trabalhar muito com os produtos que os usuários mais têm buscado. Podemos nos aproximar das drogarias, mostrar esses dados e fazer com que elas comprem uma maior quantidade desses produtos, oferecendo consequentemente um preço menor”, explica Alves.
“Para o usuário, há um serviço gratuito de informação sobre as melhores ofertas das farmácias. Ao mesmo em que ele irá economizar, a rede irá ganhar por conta do volume de vendas”, completa Machado.
Os empreendedores enxergam muito potencial para o negócio, independentemente das flutuações econômicas: para eles, a empresa só tem a ganhar com o envelhecimento de uma população acostumada com a internet. “No futuro, os jovens de hoje é que comprarão mais medicamentos, e eles estarão mais acostumados com compras em e-commerce. Vemos um potencial de crescimento muito grande com o envelhecimento dessa população mais familiarizada com a internet”, conclui Alves.
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Como cientistas podem nos salvar da zika com constantes cortes de gastos?
18/11/2016 - UOL
Passado um ano da descoberta de que o vírus da zika estava vinculado ao aumento de casos de microcefalia, o Brasil conta mais de 2.100 crianças nascidas com alguma lesão neurológica e quase 10 mil grávidas infectadas pelo vírus só em 2016. Ainda são muitas as dúvidas em torno da zika que precisam de pesquisas científicas para serem respondidas, e um novo verão -- e uma possível nova epidemia -- se aproxima.
Mas uma incerteza, em especial, atormenta os pesquisadores: haverá dinheiro para fazer ciência?
Ligados a universidades federais e estaduais, em sua maioria, os cientistas dedicados a estudar os efeitos do vírus, buscar remédios e vacinas e armas para combater o mosquito transmissor contam que passaram o primeiro ano da emergência mundial, anunciada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) após o alerta brasileiro, fazendo pesquisa com o dinheiro que já tinham para outros estudos. A poupança, no entanto, se esgotou e novas fontes não apareceram, reclamam.
"O trabalho até agora foi feito com recursos de outros projetos. Agora, estamos em um momento de incertezas. É importante que tenhamos garantia de que tudo o que foi feito neste ano não será perdido", comenta Stevens Rehen, pesquisador da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino.
Rehen é um dos coordenadores da pesquisa publicada na prestigiada revista Science que mostrou a zika infectando células neurológicas. Seu grupo testa, atualmente, medicamentos que possam evitar os estragos do vírus no cérebro de fetos.
"Precisamos de uma biblioteca de compostos para diversificar os testes e chegar mais rapidamente a resultados, mas isso é muito caro", contou, momentos antes de sua apresentação do Simpósio Internacional Zika, organizado pela Fiocruz. No centro do auditório, o neurocientista enfatizou sua busca por parceiros para continuar as pesquisas.
Pressionados pela urgência de desenvolver métodos para evitar os efeitos devastadores do vírus em uma geração de crianças, os cientistas olham com pessimismo a situação.
Sem dinheiro, não dá para trazer resultados para a sociedade."
Jean-Pierre Schatzmann Peron
Peron, pesquisador do laboratório de interações neuroimunes da USP, é um dos autores de um artigo publicado na Nature sobre a possibilidade de vacinas contra o vírus da zika. A vacina é tida como a resposta mais importante para o risco que o vírus representa para as grávidas.
DINHEIRO VIRTUAL
Em conversas com a reportagem do UOL, professores relataram em anonimato a perda de pesquisadores em seus laboratórios por falta de bolsas de pesquisa. Quem tem bolsa sofre com atrasos no pagamento. Em alguns casos, os cientistas chegam a fazer empréstimos para os estudantes poderem pagar suas contas enquanto as agências de fomento não depositam a bolsa.
São as agências virtuais que temos hoje no Brasil. Eles aprovam [a pesquisa], e o dinheiro não chega, mas a gente tem fé."
Mauro Martins Teixeira, professor da UFMG
Teixeira desenvolve estudos sobre um possível medicamento para atenuar os sintomas da infecção do vírus em células de ratos.
Em meio à crise orçamentária do Rio de Janeiro, o diretor científico da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado), Jerson Lima, confessou diante dos pesquisadores que tinha recebido a ordem de reduzir 10% do gasto com bolsas naquela semana.
A falta de recursos pode mesmo afetar pesquisas globais sobre os riscos à saúde de infecções pelo vírus da zika. A Fiocruz, órgão federal, é responsável no Brasil por uma pesquisa feita em parceria com o Instituto Nacional de Saúde (NIH), dos EUA, para acompanhar 10 mil grávidas infectadas pelo vírus e seus filhos em diferentes localidades.
No Brasil, o objetivo é acompanhar 4.000 casos distribuídos entre Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Ribeirão Preto (SP). "Hoje, temos dinheiro para acompanhar 400 casos aqui no Rio de Janeiro. Sei que em Pernambuco eles estão na mesma situação", desabafa Maria Elisabeth Lopes Moreira, coordenadora do IFF (Instituto Fernandes Figueira).
O grupo de pesquisa do IFF já fez importantes achados durante o acompanhamento das crianças, como o de que 42% das crianças que foram expostas ao vírus da zika durante sua gestação e nasceram sem alterações perceptíveis em exames registraram problemas neurológicos após seus primeiros meses de vida.
CORTES E ATRASOS
O orçamento federal para a ciência brasileira em 2016 foi o pior em anos. O setor recebeu R$ 4,6 bilhões --cerca de 40% menor do que o montante investido pelo governo em 2013, desconsiderando perdas pela inflação.
O CNPq, um dos principais órgãos federais de fomento da ciência, fechará 2016 com metade do orçamento que tinha em 2014. Os recursos foram de R$ 2,8 bilhões, há dois anos, para R$ 1,4 bilhão.
No horizonte, há ainda a aprovação da PEC do teto de gastos públicos, em votação no Senado. Uma vez aprovada, a PEC congela por vinte anos o orçamento da área científica, que será reajustado apenas pela inflação.
Outra fonte de dinheiro para a pesquisa, o Ministério da Educação não está em melhor situação. Após cortes e atrasos de bolsas ao longo de 2016, a expectativa para o próximo ano é a de que as universidades federais percam até 45% dos recursos de investimento e 18% da verba de custeio.
"O que estamos vendo é a contramão da história: primeiro se tira dinheiro do sistema, depois se cortam bolsas. E agora essa PEC, com um horizonte de corte de 20 anos", revolta-se Glaucius Oliva, ex-presidente do CNPq e pesquisador da rede Zika, de São Paulo.
O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, contudo, acredita que o corte não reduz o prestígio da área. Para ele, há diversas formas do governo manifestar apoio ao mundo da ciência e que tem "plena confiança" de que isso vai acontecer na distribuição orçamentária durante os próximos anos.
SOLUÇÃO DE FORA OU VAQUINHA
A parceria com universidades e centros de fora tem sido uma das estratégias adotadas para garantir que as pesquisas tenham dinheiro para continuar, explica Wilson Savino, diretor do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz.
Em outra frente, Adriana Melo, primeira médica a ter relacionado o vírus com o nascimento de crianças com microcefalia, recorre a uma "vaquinha virtual" (crowdfunding) para tentar reunir R$ 200 mil necessários para a construção de um centro de referência para mães de bebês com síndrome congênita da zika em Campina Grande (PB).
Um laboratório com gene de voluntários
17/11/2016 - Guia Exame - Sustentabilidade
Os mais de 800 funcionários do Grupo Fleury, rede de laboratórios com 144 unidades de atendimento em seis estados e no Distrito Federal, têm três formas de contribuir como voluntários.
Já nos primeiros dias de trabalho, além do incentivo a dedicar 4 horas por mês aos programas sociais, o funcionário recebe seu exemplar do Manual do Voluntariado. Os médicos e os técnicos de saúde realizam palestras, exames ou consultas em projetos desenvolvidos em comunidades carentes.
A principal ação nessa área ocorreu em abril deste ano em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia. Em parceria com a ONG Voluntários do Sertão, foram feitos 3 000 exames, como mamografia, ultrassonografia e radiografia. Há um segundo grupo, formado por empregados com conhecimentos administrativos e de gestão.
Sua responsabilidade é atuar como tutor nas instituições sociais. Eles auxiliam também na estruturação das ações e nas campanhas de arrecadação.
"Temos 700 voluntários no programa.
Eles dizem estar mais preparados para o trabalho e para a vida por causa das ações sociais", diz Daniel Périgo. gerente sênior de sustentabilidade do Grupo Fleury.
O projeto que coloca todos os grupos de voluntários em ação foi batizado de Dom ("Dom de acolher, de transformar e de gerir"). A proposta é reunir organizações do terceiro setor que atuem ou tenham iniciativas na área de saúde. Ao inscrever-se no programa, elas passam a contar com o auxílio dos profissionais do Fleury para melhorar, entre outros aspectos, a gestão e a qualidade do atendimento.
O desafio é fazer com que essas instituições aceitem as intervenções dos voluntários em todas as etapas, principalmente as administrativas. "O Dom é uma rede de troca de experiências entre nós e as instituições. Os dois lados ganham nesse processo", afirma Eduardo Marques, diretor de pessoas e sustentabilidade do Grupo Fleury.
No ano passado, das 102 instituições inscritas, 12 foram selecionadas para o programa e três receberam prêmio em dinheiro depois de terem seus projetos avaliados por uma comissão que levou em conta a relevância do projeto para a comunidade atendida. As palestras sobre depressão e transtorno bipolar são realizadas no ambiente online e alcançaram mais de 8 000 pessoas, público três vezes superior ao atendido pelas atividades presenciais ao longo de 2015.
As mais sustentáveis: Novartis
17/11/2016 - Guia Exame - Sustentabilidade
Na farmacêutica Novartis, o compromisso com a diversidade caminha lado a lado com o esforço de inclusão. As iniciativas são capitaneadas pelo Comitê de Diversidade e Inclusão, que reúne profissionais de diferentes áreas. A arquitetura privilegia a mobilidade, há vagas de estacionamento exclusivas para deficientes e gestantes e até a academia de ginástica é adaptada. No âmbito da gestão, a inclusão se traduz, por exemplo.nos pacotes de benefícios ajustados a diferentes necessidades, como o financiamento a carros adaptados a deficientes físicos ou a inclusão de parceiros do mesmo sexo nos planos de saúde. Até o calendário corporativo é montado de modo a respeitar as datas-chave de diferentes religiões. "Queremos acolher também novas formas de gestão e de encarar a vida e o mundo", diz Yara Baxter, diretora de comunicação corporativa e responsabilidade social da Novartis.
Mulheres em posição de liderança compartilham suas experiências com outras profissionais e dão suporte ao planejamento de carreira. Hoje, 49% dos funcionários são mulheres; e elas ocupam 48% dos cargos de direção. "Essas ações nos ajudam a transformar o discurso da inclusão em realidade", diz José Antonio Vieira, presidente da Novartis.
"Na base de tudo está a crença de que a riqueza das diferenças gera inovação e melhora o próprio negócio."
Cientistas usam imãs para fixar próteses
18/11/2016 - Folha de S.Paulo
Pesquisadores brasileiros estão bolando de uma nova maneira para fixar a bolsa de colostomia com o uso de ímãs. O sistema, mais prático do que o usado atualmente —feito com adesivos que podem irritar a pele—, já foi testado com sucesso em porcos.
No experimento, interação entre física e medicina, dois imãs de neo dímio são implantados sob a camada intermediária da pele, a derme, envoltos em uma capa de silicone.
A colostomia é realizada quando há obstrução do cólon pela formação de tumores ou graves inflamações.
Dados da Abraso (Associação Brasileira de Ostomizados) indicam que cerca de 40 mil pessoas no país possuem o estoma, abertura criada cirurgicamente na parede abdominal para o escoamento de fezes ou urina.
A bolsa coletora é essencial nesses casos, já que o paciente não controla a quantidade e o momento de saída dos dejetos.
Outra aplicação prevista pelos cientistas é o uso da técnica para fixar próteses de orelha e nariz com menos danos à pele.
“Esse tipo de ímã foi escolhido por apresentar força suficiente para a fixação, mesmo em peças de tamanho menor”, afirma João Paulo Sinnecker, físico do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas) e um dos responsáveis pelo estudo.
Os efeitos magnéticos de atração e repulsão são os aliados do método. Para fazê-los funcionar em favor do paciente, os cientistas montaram uma estrutura circular com dois ímãs, cada um exibindo um pólo positivo e outro negativo.
Ao se aproximarem, pólos diferentes se atraem, já os semelhantes, se repelem.
O disco é colocado na bolsa e seus ímãs interagem com o magneto implantado. Ao girar o disco, a força de atração, que prende o artefato, passa a ser força de repulsão e vice-versa.
Dessa forma é possível fixar ou soltar sem maiores problemas ou desconforto, só girando o aparato.
“Hoje a fixação é feita com adesivo, mas seu uso contínuo pode comprometer a integridade da pele”, diz Michel Vaena, médico no hospital universitário da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e idealizador do projeto.
Uma das preocupações com relação ao novo mecanismo é a pressão exercida na pele pelos ímãs.
“O exagero de força magnética poderia fazer parar a circulação de sangue no local e necrosar a pele”, explica Vaena.“Por outro lado, um ímã fraco não iria fixar corretamente a bolsa”.
Para estabelecer a intensidade da força magnética capaz de segurar a bolsa com uma massa de aproximadamente 300 gramas, sem prejudicar a circulação, os pesquisadores fizeram os implantes dos ímãs em porcos, animais que possuem pele muito semelhante à humana.
Como auxílio de um dispositivo que mede o fluxo nas veias sanguíneas através de um furo nos diferentes ímãs externos usados nos testes, foi possível definir qual era o tamanho ideal de magneto.
Os resultados dos testes estarão na tese de doutorado de Vaena que deve ser defendida até o início do próximo ano.
Até agora já foram depositadas três patentes como resultado da iniciativa.
As primeiras fases da pesquisa foram realizadas durante mais de dois anos em uma parceria entre o CBPF e a Uerj, com financiamento da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro).
A próxima etapa já contará com testes em humanos. No entanto, devido à crise no estado do Rio de Janeiro, os pesquisadores temem não conseguir o apoio necessário para dar continuidade no projeto.
“A chance de conseguir financiamento agora é muito baixa”, afirma o médico.
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A qualquer hora, em qualquer lugar
17/11/2016 - Guia Exame - Sustentabilidade
Contar com o atendimento de um profissional de saúde a qualquer momento e onde quer que se esteja. Só é preciso ter acesso à internet para receber o diagnóstico do Hospital Albert Einstein.
UM DOS CENTROS DE MEDICINA MAIS AVANÇADOS DO PAÍS
Essa é a proposta da telemedicina oferecida pela instituição a clinicas, hospitais, empresas e escolas. O objetivo é proporcionar atendimento médico a qualquer região do país ao disponibilizar 24 horas por dia uma equipe multiprofissional formada por médicos plantonistas, médicos especialistas e enfermeiras.
EM MARÇO DESTE ANO
O Einstein inaugurou em São Paulo seu centro de telemedicina, uma área de 400 metros quadrados que reúne as atividades de atendimento, treinamento de pacientes, suporte técnico e desenvolvimento de produtos. Entre as soluções disponíveis, destacam-se o programa Cuida Diabetes, que visa engajar o paciente no tratamento dessa doença crônica, e o Tele Baby Care, que orienta mães (e pais) nos cuidados com o bebé recém-nascido.
A telemedicina do Einstein começou em 2012 e foi usada inicialmente como suporte para a equipe médica do próprio hospital em serviços de urgência de hospitais parceiros do SUS, o Sistema Único de Saúde, nos casos que exigiam uma segunda opinião para a conclusão do diagnóstico. De lá para cá, chegou a 23 hospitais da rede pública, com a realização de mais de 6 000 consultas. "Essa é uma grande oportunidade para que a medicina seja mais eficaz e possibilite maior acesso", afirma Cláudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein.
Com base na inteligência trazida pela telemedicina e nos partos que seus profissionais realizavam, o Einstein percebeu que grande parte desses procedimentos era do tipo cesárea. Quando feita sem necessidade, a cesariana pode resultar no nascimento prematuro do bebê, elevando o risco de problemas de saúde, como hipertensão e obesidade. "Em apenas oito meses do programa Parto Adequado, elevamos de 18% para 35% a realização de partos normais", diz Lottenberg. O desafio é promover a mesma mudança no país inteiro. No Brasil, as cesarianas representam 84% dos partos na saúde suplementar — a taxa mais alta do mundo.
Uma das dificuldades é conscientizar os médicos que preferem a cesárea pelo fato de ela poder ser programada, com hora para começar e terminar, diferentemente do parto normal.
Um caminhão que leva informação e cura
17/11/2016 - Guia Exame - Sustentabilidade
Garantir o acesso à saúde pode significar diferentes coisas. Pode se referir, por exemplo, ao desenvolvimento tecnológico que confere mais precisão ao diagnóstico, à ampliação das estruturas de atendimento ou à pesquisa que empurra pouco a pouco os limites da cura. Em alguns casos, significa simplesmente levar à população a informação, o diagnóstico e o tratamento de uma doença incapacitante que, apesar de dispor de um tratamento eficaz desde a década de 80, continua registrando cerca de 30 000 novos casos ao ano no Brasil: a hanseníase.
Esse é o trabalho da Carreta da Saúde, uma iniciativa da farmacêutica Novartis em parceria com os governos federal, estaduais e municipais. Desde 2009, um caminhão da empresa atua como um centro móvel de saúde e leva profissionais da rede pública a todas as regiões do país. Eles realizam exames gratuitos e orientam a população sobre a hanseníase, conhecida popularmente como lepra (termo em desuso por causa de sua conotação negativa). Quando um caso é confirmado, o paciente é encaminhado para tratamento gratuito na rede pública de saúde. Os familiares mais próximos também passam pelo exame. O projeto é parte de um compromisso mundial da companhia suíça com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para erradicação da doença no mundo, mas foi ajustado às características brasileiras, como as grandes distâncias e a disparidade do grau de informação. "O tradicional, que já fazíamos, era realizar campanhas de conscientização sobre os sintomas e doar o medicamento", diz José Antonio Vieira, presidente da Novartis no Brasil. "Quisemos ir além: chegamos aos lugares mais longínquos para buscar ativamente os casos suspeitos." Em alguns estados, os casos identificados pela Carreta chegam a representar 10% do total. O impacto indireto do programa é ainda maior: cada notificação possibilita identificar e tratar até cinco casos na família do paciente. Nos nove primeiros meses deste ano, a Carreta percorreu 80 municípios de 17 estados. Mais de 8 300 pessoas passaram por avaliação, foram notificados 240 casos novos da doença e outros 182 foram encaminhados para confirmação. Globalmente, desde o início de seu compromisso com a OMS, em 2000, a Novartis doou medicação para o tratamento de 4,5 milhões de pacientes, um investimento de 60 milhões de dólares.
Dependência de álcool e drogas é crise de saúde pública, diz relatório dos EUA
17/11/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O abuso de álcool e drogas afeta milhões de americanos e representa uma grave crise de saúde pública, concluiu nesta quinta-feira (17) um relatório das autoridades sanitárias, que criticou o pequeno número de pessoas que recebem tratamento para este transtorno crônico e devastador.
"Os abusos de álcool e de drogas constituem uma das crises de saúde pública mais urgentes do nosso tempo", afirmou Vivek Murthy, chefe operacional do serviço de saúde pública dos Estados Unidos, insistindo no fato de que a dependência é uma doença crônica.
Este relatório, intitulado "Enfrentando a dependência nos Estados Unidos: Relatório do cirurgião geral sobre álcool, drogas e saúde", procura "mudar a maneira como a sociedade percebe a utilização excessiva do álcool e o consumo de drogas", explica.
"O vício não é uma fraqueza de caráter, é uma patologia crônica que deveria ser tratada com as mesmas competências médicas e a mesma compaixão que as doenças cardíacas, o câncer e a diabetes", disse Murthy.
Em 2015, mais de 27 milhões de pessoas nos Estados Unidos consumiram drogas ilícitas, dos quais 21 milhões sofriam de alguma dependência, um número maior que o de pessoas que tinham câncer, disse o relatório.
Mas apenas uma entre cada dez pessoas recebeu tratamento para esse problema.
Mais de 40% dos que têm problemas de dependência sofrem também de doenças mentais, e menos da metade deles é tratado.
O documento indica também que mais de 66 milhões de adultos e adolescentes, ou seja, cerca de 25% da população americana, reconheceu ter ingerido álcool de forma excessiva nos últimos 30 anos.
ANS regula venda on-line de planos de saúde
18/11/2016 - Correio Braziliense
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) regulamentou a venda de planos de saúde por meio de plataformas digitais, como portais de internet e aplicativos disponíveis para smartphones. As operadoras têm que seguir as mesmas normas quanto à divulgação de informações sobre os produtos disponíveis e aos documentos necessários para a contratação.
A venda já era permitida antes da resolução, que visa aumentar a segurança para os consumidores, de acordo com Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde). “O conteúdo disponibilizado na internet aumenta o conhecimento sobre os serviços oferecidos e dá maior poder de escolha aos consumidores”, disse Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da entidade.
O advogado Rodrigo Araújo, porém, acredita que os consumidores terão menos informações. “É necessário um sistema que permita ao cliente entender todas as opções. Hoje, mesmo com a intermediação de um corretor, muitos contratam planos que não são o que precisam, por falta de conhecimento, e talvez isso piore no meio on-line”, alertou.
A Resolução Normativa nº 413/2016 determina que todos os manuais obrigatórios na contratação presencial devem estar disponíveis para impressão ou download. A venda online é facultativa e não substitui a presencial. As empresas têm 25 dias para concluir a contratação. Os documentos poderão ser assinados por certificação digital, login e senha após cadastro, identificação biométrica ou assinatura eletrônica certificada. O contratante poderá rescindir o contrato em até sete dias, conforme o Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Inquérito investiga compra de próteses pela Secretaria de Saúde do DF
17/11/2016 - Portal EBC
A Polícia Civil do Disrito Federal abriu inquérito para investigar a suspeita de fraudes na compra de próteses, órteses e materiais ortopédicos, além de supostas irregularidades nas licitações feitas pela Secretaria de Saúde.
As possíveis fraudes foram identificadas pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) e podem ter provocado um prejuízo de, pelo menos, R$ 75 milhões aos cofres públicos.
O presidente do Tribunal, Renato Rainha, comentou as possíveis irregularidades.
Em nota, a Secretaria de Saúde afirma que as compras foram feitas entre 2013 e 2015, na gestão anterior e que a pasta colabora com todas as investigações necessárias.
As investigações estão sendo conduzidas pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap).
O novo inquérito da Polícia Civil corre em paralelo à Operação Mister Hyde, que apura a colocação indevida de próteses e a realização de cirurgias desnecessárias.
Projeto da ANS em 35 hospitais evita 10 mil cesarianas
17/11/2016 - UOL
Um projeto-piloto feito em 35 hospitais brasileiros conseguiu evitar cerca de 10 mil cesarianas desnecessárias no período de um ano e meio. A iniciativa, encabeçada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), segue recomendação de organismos internacionais para a redução das taxas de cesáreas no Brasil, uma das maiores do mundo.
Os resultados do projeto Parto Adequado, obtidos com exclusividade pelo Estadão, serão apresentados nesta quinta-feira, 17, em evento na capital paulista e mostram ainda que a taxa de partos normais nos centros participantes cresceu 11 pontos porcentuais, passando de 23% para 34%.
Apesar da iniciativa, o índice alcançado pelos 35 hospitais ainda está distante do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo orientação do órgão, 85% dos nascimentos deveriam ocorrer por meio do parto natural e apenas 15% teriam indicação de intervenção cirúrgica, mas na rede privada brasileira a proporção é exatamente a inversa. No último ano, com a implementação do projeto, houve uma pequena queda na taxa geral de cesáreas realizadas na rede particular.
O índice de partos cirúrgicos caiu de 85,6%, em 2014, para 84,4% em 2015.
"Apesar de não ter havido uma queda significativa no índice geral, o resultado obtido nos 35 hospitais participantes representa um avanço gigante e mostra que é possível reduzir essa tendência de aumento das cesarianas no país. Só que, para isso, é preciso combinar uma série de medidas que reorganizem o modelo de atendimento", afirma Martha Oliveira, diretora de desenvolvimento setorial da ANS, que anunciou que o projeto será agora expandido para outros 150 hospitais, com a intenção de ser replicado para toda a rede daqui a dois anos.
MEDIDAS
As intervenções feitas nas maternidades participantes foram organizadas em três grupos: mudança ou adaptação da infraestrutura dos hospitais, capacitação de profissionais de saúde e conscientização das gestantes.
No primeiro grupo de medidas, uma das principais ações implementadas foi a criação de salas de parto natural, onde ficam disponíveis objetos que aliviam as dores do trabalho de parto, como bolas, banheiras e banquinhos. Nesses quartos, os acompanhantes também podem entrar e sair a qualquer hora sem o rigor de um centro cirúrgico.
"É uma medida que tem muito efeito porque dá à gestante mais confiança. Ela tem uma sala com mais espaço e com o acompanhante o tempo todo, com a garantia de que as intervenções serão mínimas", diz Rita Sanchez, líder clínica do projeto e coordenadora da maternidade do Hospital Israelita Albert Einstein, parceiro da ANS na iniciativa.
Foi no centro de simulação realística do Einstein que mais de 400 profissionais de saúde dos 35 hospitais receberam capacitação teórica e prática sobre a importância da escolha de um parto adequado. No local, eles estudavam os protocolos existentes para cada caso e treinavam diferentes situações de parto em robôs.
"Colocamos tanto os médicos quanto os enfermeiros na mesma sala para reproduzir diferentes cenários de dificuldades, como parto vertical, no banquinho, de cócoras", diz Rita.
EQUIPES
Outra mudança na estrutura das maternidades foi a contratação de enfermeiras obstetras e de equipes de obstetras plantonistas. "As enfermeiras especializadas conseguem monitorar o trabalho de parto e acionar o médico da paciente na hora certa", afirma Rita.
No âmbito da conscientização das gestantes, o projeto estimulou palestras e cursos sobre os riscos e benefícios de cada tipo de parto. "Tanto aqui no Einstein quanto nos demais hospitais participantes, nós reformulamos o curso de gestante. Em vez de falar das roupinhas do bebê, focamos na questão do trabalho de parto, no que é necessário para garantir uma boa evolução", explica ela. Segundo a coordenadora da maternidade do Einstein, a taxa de partos cesáreos na unidade caiu de 78%, antes do projeto, para os atuais 57%.
A dentista Adriana Moura Foz, de 33 anos, foi uma das pacientes do hospital que optaram pelo uso das salas de parto natural, chamadas no Einstein de PPP (pré-parto, parto e pós-parto).
"Eu já preferia o parto normal, mas nunca fui radical, sabia que a decisão final seria médica. E no dia foi muito legal, porque fui para a sala PPP e não teve aquele ambiente cirúrgico. Era um espaço agradável, tinha banheira, bola de pilates, a enfermeira ficava acompanhando minha dilatação. Eu, que morria de medo da dor, me senti tranquila", diz ela, mãe de Felipe, de 1 ano e 1 mês, e grávida de cinco meses do segundo filho.
"A recuperação foi ótima. Espero poder ter parto normal nessa segunda gestação também."
Vacina contra HPV: por que os homens têm, sim, de tomar
17/11/2016 - Veja Online
Tabagismo, consumo não moderado de álcool e dieta pobre em frutas e verduras são os principais fatores de risco para câncer de cabeça e pescoço. Com esse conhecimento, baseado em estudos epidemiológicos, foram elaboradas estratégias de prevenção e de diagnóstico precoce no fim do século passado. Combateu-se sem tréguas o consumo de tabaco e ele caiu drasticamente na população brasileira. Em vários programas educativos foram demonstradas as vantagens do diagnóstico precoce por meio de autoexame bucal e do, até então questionável, rastreamento de pessoas de alto risco. Sim, as pessoas podiam ser reconhecidas pelo risco.
Esse conhecimento tinha até algum efeito no diagnóstico. Pensava-se em câncer quando um homem com mais de 50 anos, etilista e tabagista, apresentava uma lesão na boca ou na garganta. Estávamos seguros de que continuar com educação em saúde e outras estratégias poderia reduzir o número de casos, e melhor que isso, reduzir a mortalidade por câncer, como já vinha acontecendo nos Estados Unidos.
Primeiro nos Estados Unidos, depois na Europa, e por último entre nós, foram observados muitos casos de câncer de boca e de garganta que fugiam do padrão até então estabelecido. Recebíamos cada vez mais indivíduos jovens, bem alimentados, não tabagistas e não etilistas. O diagnóstico era feito em fases avançadas da doença porque ela causava poucos sintomas e os médicos não especialistas que realizavam a primeira avaliação não pensavam na possibilidade de câncer em pacientes fora do padrão.
Havia um novo perfil de pacientes e muitas foram as hipóteses para explicar esse fenômeno, nenhuma confirmada de início. Até se suspeitou que a resposta estivesse em uma infecção causada pelo papilomavírus humano, o HPV, pois um agente biológico ser causador de câncer não seria uma novidade. Ainda mais que já se correlacionava o HPV com tumores genitais, assim como a bactéria Helicobacter pylori com câncer de estômago e o vírus da hepatite como um dos fatores causais de câncer de fígado. Mas estudos iniciais na década de 90 foram pouco animadores quanto ao papel do HPV em cabeça e pescoço.
Hoje, os dados epidemiológicos evidenciam que o HPV é, de fato, a causa desses novos cânceres de cabeça e pescoço que podem ocorrer em qualquer faixa etária. São tumores que causam poucos sintomas locais e metástases muito frequentemente, mas que felizmente, apesar da agressividade, respondem melhor ao tratamento do que em pacientes com tumores induzidos por tabaco. Estima-se que em poucos anos o número de casos de tumores associados ao HPV vá superar o daqueles relacionados ao tabaco. Tudo muda. Não existem pessoas de risco para programas de diagnóstico precoce. Somente combater tabagismo e consumo exagerado de bebidas alcoólicas já não são medidas eficazes.
O enorme progresso na pesquisa do papel carcinogênico do HPV em câncer de colo uterino levou ao desenvolvimento de vacinas que são capazes de proteger contra os principais vírus causadores de câncer e de doenças benignas bastante frequentes como as verrugas genitais. Testadas e aprovadas, foram rapidamente adotadas e meninas passaram a ser vacinadas em quase todos os países do mundo.
Trata-se de um novo modo de prevenção. Uma vacina contra cânceres graves. Benefício já demonstrado com redução da mortalidade por câncer de fígado em regiões geográficas com alta incidência de câncer de fígado. Agora as mulheres estão protegidas.
E os homens, por que não vaciná-los? Pensava-se que a epidemia de câncer de cabeça e pescoço não era tão grave. Pensava-se que, estando as mulheres protegidas, os homens também estariam. Mas homens podem ter atividade sexual com mulheres não protegidas, assim como pode haver relação homossexual e também contaminação pelo HPV sem relação sexual. Assim, por quase uma década, metade da população foi relegada à própria sorte porque não fazia parte da prioridade em saúde pública. A economia de custos não poupa recursos e sofrimento relacionados ao tratamento de casos de câncer não prevenidos. Relutar e não usar uma vacina que pode prevenir uma doença grave, potencialmente fatal, usando-se argumentos fracos, não parece nem um pouco lógico.
Gradativamente as opiniões foram mudando, primeiro com a aprovação do uso da vacina anti HPV em meninos, e agora, finalmente, com sua disponibilização dentro do sistema público de saúde. Uma medida a ser aplaudida. O investimento em vacinação trará seus efeitos em alguns anos. Investimento seguro, que poupará vidas, sofrimento e gastos com a saúde. Agora é hora de divulgar e incentivar a vacinação, que deve ser acompanhada de todas as outras medidas. A prevenção muda, fica mais forte, mais eficiente, mas não se pode dar trégua no emprego das outras medidas que adotamos atualmente.
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