Mundo tem 73 países com zika e 26 com casos de microcefalia
06/11/2016 - O Estado de S.Paulo
Um ano depois da primeira identificação do surto de zika no Brasil, a OMS ainda não tem respostas para a maioria dos desafios ou novos instrumentos para lutar contra o vírus.
Mas tem certeza de que a doença chegou para ficar e que governos e sua própria estrutura terão de trocar uma estratégia de emergência contra a microcefalia por uma resposta de longo prazo para ajudar as famílias afetadas.
Desde 2007, 73 países registraram a transmissão do vírus.
Desses, 67 foram alvo de surto desde 2015. Mas em pelo menos sete deles, a situação aponta para uma crise endêmica. Em 12 países, a OMS identificou a transmissão de pessoas para pessoas, numa indicação do poder do vírus em contaminar por meio do contato sexual.
Nesse mesmo período, 26 países registraram um salto em casos de microcefalia e outras más-formações “potencialmente associadas com o zika”. Na semana passada, os últimos a registrar casos de microcefalia foram Bolívia, Trinidad e Tobago e Vietnã. Em 19 países, o aumento de casos foi da Síndrome de Guillain-Barré.
Considerando ser “impossível” medir todas as pessoas contaminadas pelo vírus, a OMS se limita a contar os casos de microcefalia e de Guillain-Barré.
Assim, até quarta-feira, a organização somava 2.257 casos de microcefalia pelo mundo. Cerca de 10% deles aconteceram fora do Brasil. O País lidera a lista, com 2.079 casos, ante 54 da Colômbia e 28 nos EUA.
Para a OMS, não há dúvidas de que a proliferação vai continuar e que o vírus “se instalou” de fato em países tropicais. Isso, na avaliação dos especialistas da entidade, vai exigir uma mudança no comportamento da resposta e até mesmo dos serviços de saúde dos países atingidos.
“Teremos zika em todos os países que registrarem a presença de mosquito”, disse Monika Gehner, porta-voz da OMS.
A OMS sugere que, a partir de agora, a meta não seja apenas a de parar o mosquito. Mas preparar os serviços de saúde para uma resposta de longo prazo para atender crianças afetadas, além de suas famílias.
DÚVIDAS
Um ano após iniciar o trabalho, porém, a OMS está sem resposta para quase todos os aspectos da doença. Não há, por exemplo, respostas sobre as linhagens do vírus e por que em locais como o Brasil os casos de microcefalia explodiram e, em outros, não. “Estamos vendo um número cada vez maior de casos na Ásia e indicando que qualquer que seja a linhagem, os problemas serão identificados”, indicou Monika.
Ela admite, por exemplo, que até hoje a organização não tem uma resposta a dar sobre o motivo pelo qual os casos de microcefalia no Brasil deram um salto importante, enquanto na Colômbia a taxa é muito menor. Documentos obtidos pelo Estado apontam que a OMS quer, até o final de 2017, intensificar investigações para tentar entender qual é de fato o impacto do vírus em fetos e recémnascidos.
Estão em falta os instrumentos para parar a doença. Produtos contra o mosquito Aedes aegypti não seriam suficientes.
Duas vacinas já começaram a passar por testes, mas sua comercialização ainda não tem data e, na melhor das hipóteses, estariam no mercado em 2018.
“Podemos levar mais dois ou três anos para ter uma vacina”, disse Monika.
Plantão Médico: Homens também sofrem de câncer de mama
05/11/2016 - Folha de S.Paulo
A tradicional campanha do outubro rosa vem alertando positivamente a mulher para o diagnóstico precoce do câncer da mama.
Seria interessante que a campanha também lembrasse aos homens essa possibilidade, considerada quase rara, mas às vezes presente.
O Inca (Instituto Nacional de Câncer) assinala em 1% o número de casos para o sexo masculino. Para este ano, o Inca prevê 57.960 casos de câncer de mama na mulher.
Na 10ª Conferência Europeia sobre Câncer de Mama, realizada no começo do ano, a médica Carolien van Deurzen, da Holanda, apresentou os resultados de estudo com 1.483 pacientes masculinos de 23 centros oncológicos de dez países. Ela destacou que esses pacientes são frequentemente diagnosticados com a lesão bem adiantada, prejudicando o resultado do tratamento.
O resultado poderia melhorar se nas campanhas para as mulheres o mesmo problema nos homens também fosse abordado.
O câncer de mama masculino, segundo a médica, está presente em menos de 1% de todos os casos de câncer de mama. Em relação a todas as neoplasias presentes no homem, o câncer de mama masculino representa 1% do total.
A proporção de câncer de mama feminino para masculino é de 100 para 1, o que acaba provocando escassa percepção do problema do câncer de mama masculino não só entre os homens mas também entre os médicos.
Menopausa e droga do desejo
06/11/2016 - O Estado de S.Paulo
Novo estudo divulgado na última semana traçou uma espécie de “mapa” da disfunção sexual feminina no período que cerca a menopausa e concluiu que a fase de maior impacto sobre a sexualidade dura cerca de três anos, período em que a mulher enfrenta suas maiores dificuldades.
O trabalho, feito pela Sociedade Norte-Americana de Menopausa, detectou que um declínio rápido e contínuo no desejo e no desempenho sexual começa a ser percebido 20 meses antes da última menstruação e segue caindo de forma aguda até cerca de um ano após essa data.
A partir daí, o processo continua a ser sentido, de forma mais amena, por um período de mais dois anos, até uma nova estabilização.
O resultado da pesquisa, que acompanhou 1,4 mil mulheres, foi publicado no periódico médico Menopause e divulgado pelo Daily Mail. Os sintomas mais nítidos incluem ressecamento vaginal e diminuição da libido.
O impacto dessa disfunção sexual feminina é ainda mais importante quando contrastado com a conclusão de outro estudo recente da Sociedade NorteAmericana de Menopausa, que revelou que o sexo é considerado “extremamente importante” por 75% das mulheres que estão na meia-idade.
Os resultados mostram o quanto é importante que os ginecologistas conversem abertamente com as mulheres sobre as mudanças na vida sexual que elas vão enfrentar nessa fase da vida. A menopausa é marcada pela “falência” progressiva dos ovários, que deixam de produzir os hormônios femininos responsáveis pelo desejo sexual e pelos ciclos menstruais.
Os médicos devem alertar, também, sobre o aparecimento de sintomas como calores, falta de energia, irritação e labilidade emocional, entre outros, que podem prejudicar ainda mais a disposição para se fazer sexo. Além disso, é fundamental discutir hábitos mais saudáveis, que podem atenuar parte dessas manifestações e contribuir para uma melhor saúde sexual.
Existem recursos terapêuticos que podem aliviar algumas das alterações.
Para melhorar o ressecamento vaginal e as dores na penetração, por exemplo, o uso de lubrificantes à base de água no momento do sexo e o emprego de baixas doses do hormônio estrógeno por via vaginal são indicações possíveis. O médico pode avaliar e discutir com a paciente, caso a caso, os riscos e benefícios da terapia de reposição hormonal.
NOVA ARMA PARA O DESEJO?
Outro trabalho divulgado na última semana pelo Daily Mail aponta que uma nova substância, usada antes da relação sexual, promete aumentar o desejo nas mulheres nesta fase.
A droga conhecida como Bremelanotide foi testada em 1,2 mil mulheres por 24 semanas. Ela deve ser injetada por via subcutânea com o auxílio de um autoaplicador e tem efeito por oito horas. A última etapa de estudo clínico da droga (que foi desenvolvida originalmente como um agente de bronzeamento solar), feita pelo laboratório responsável, mostrou resultado superior ao placebo em relação ao aumento da libido e à redução da tensão provocada pelas dificuldades sexuais, além de poucos efeitos colaterais. O mecanismo de ação da droga não tem relação com os facilitadores de ereção masculinos. A substância age diretamente no sistema nervoso central, em áreas relacionadas ao prazer.
Mas será que funciona mesmo? Até hoje, nenhum remédio que se “vendeu” como estimulante sexual feminino alcançou resultados satisfatórios.
Nem mesmo a Flibanserina, recentemente aprovada pelo FDA (agência reguladora americana), convenceu. Além de ter efeito muito limitado, ainda traz riscos de desmaios súbitos e não deve ser usada com álcool. O fabricante espera o novo remédio nas prateleiras das farmácias americanas no segundo semestre de 2017. É esperar para ver!
O que os corpos podem dizer
05/11/2016 - Veja
TRINTA MINUTOS, apenas trinta minutos. Foi essa a duração da palestra do geneticista holandês Manfred Kayser no mais recente congresso da Sociedade Americana de Genética Humana, em Vancouver, no Canadá, o evento mais influente da área. A apresentação, rapidíssima para os padrões dos encontros de cientistas e médicos, foi suficiente para produzir um alvoroço que permanecerá borbu- lhante por muito tempo. Kayser divulgou um novo teste de análise genética que permite esmiuçar, com extrema precisão e velocidade, a cor dos olhos e dos cabelos a partir da coleta de fragmentos de DNA em cadáveres.
Esse teste representa uma pequena grande revolução forense na identificação de corpos carbonizados, por exemplo. Até hoje. era preciso ter a identidade dos genes de uma pessoa previamente armazenada em um banco de dados para que se fizesse uma comparação com a amostra colhida na cena do crime ou no corpo sem vida. Se somos capazes de identificar características genéticas em cadáveres, somos capazes também de identificá-las num embrião — e modificá-las. E assim se abriu, com a novidade, uma larga avenida de questões éticas. Diz o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika. de Curitiba: “A partir de agora, basta alguém tentar. E isso é assustador”. Trata-se. portanto, de uma extraordinária ferramenta de investigação para quando a vida acaba — mas de uso ainda incalculável para quando ela ainda nem bem começou.
A manipulação de células humanas é um dos embates mais delicados e controversos da civilização, anátema para as igrejas. Até que ponto se tem o direito de tentar mexer nas características de um feto em formação, em especial se ele é saudável? O procedimento é um atalho para experimentos perigosos, como os que construiram a malfadada eugenia. Conceito criado pelo antropólogo inglês Francis Galton (1822-1911), a eugenia significa a melhora de determinada espécie por meio da seleção artificial. A ideia chegou a seu ponto alto na Alemanha nazista, com a instauração de barbaridades: tribunais biológicos, esterilização compulsória, eliminação dos “socialmente inadequados”, além de experimentos genéticos em busca do que se chamava de “raça pura”, a ariana.
Atualmente, a maioria dos países permite a seleção de embriões exclusivamente para eliminar doenças específicas, como hemofilia, síndrome de Down e distrofias musculares. Os embriões portadores de alterações genéticas podem ser legalmente utilizados em pesquisas ou descartados depois de cinco anos, com a autorização dos pais. Os sadios, implantados no útero materno. Os Estados Unidos são um dos raros países cuja legislação não reprime a escolha de características físicas a partir da análise embrionária.
Ainda assim, poucos lugares dispõem da tecnologia, e, quando a têm, ela é desenvolvida pelas próprias clinicas. de forma muitas vezes imprecisa. O Fertility Institutes, em Los Angeles, é um dos raros centros de reprodução assistida no mundo que dispõem da análise da cor dos olhos, embora de maneira incipiente: em seis casos por ano. o laboratório altera a cor dos olhos do futuro bebê. “O número de testes não é maior porque nossos recursos ainda são limitados”, disse a VEJA o endocrinologista reprodutivo Jeffrey Steinberg, fundador do instituto. “A maioria dos casais quer, na verdade, que os filhos tenham características diferentes das suas”, complementa Steinberg. Para chegar ao resultado, a equipe do endocrinologista faz um rastreamento genético completo dos pais e dos irmãos. Levam-se semanas para obter a resposta e, a partir dela, a seleção que atenda aos desejos paternos.
O teste desenvolvido na Holanda por Manfred Kayser. esse que se propõe a decifrar enigmas atrelados à policia cientifica e que pode vir a ser aplicado ao início das gestações, ganhou imediata notoriedade por exigir uma quantidade ínfima de sangue, que contenha 60 picogramas de DNA, o equivalente a oito células. O detalhe é fun- damental no manuseio de um embrião. O diagnóstico no embrião é realizado, de preferência, no quinto dia depois de formado, quando é constituído de 120 células. Essa quantidade de material genético é suficiente para que o embrião não seja inviabilizado com a extração das oito células necessárias para a realização do teste. O resultado surge a partir do terceiro dia. Por meio dessas oito células, o novo teste capta informações simultâneas da cor dos olhos e dos cabelos com uma precisão que chega a 93% (veja o quadro na pág. 80).
O manejo embrionário começou em 1990, quando a equipe de Yuri Verlinski, do Instituto de Reprodução Genética, do Centro Médico Illinois Masonic, em Chicago, publicou um trabalho no qual divulgava ter selecionado um embrião que não contivesse os genes de fibrose cística, doença que afetava os pais. Dez anos depois, teve início a detecção de traços físicos em embriões saudáveis. A primeira característica a ser detectada foi o sexo do bebê. Nos EUA, esse procedimento está consolidado. Os “bebês sob encomenda” são chamados de “designer babies”. No Fertility Institutes. por exemplo, 500 casais ao ano escolhem o sexo do feto.
A escolha de meninas está na frente. No Brasil, a legislação é clara. As técnicas de reprodução assistida podem ser aplicadas somente na seleção de embriões com o diagnóstico de alterações genéticas causadoras de doenças. Dificilmente a técnica holandesa será aprovada por aqui. Mas a questão, claramente, vai muito além. Diz o experiente Edson Borges, diretor de uma das maiores clínicas do país, a Fertility, em São Paulo: “A medicina é feita para tratar problemas. Usar de seus recursos para interferir no traço estético de um ser em formação não é exercer a profissão, portanto”. A discussão — fascinante — ainda vai longe. O avanço forense representa somente o preâmbulo de uma longa contenda.
Ainda sem amparo ideal no Nordeste, microcefalia por zika cresce no Sudeste
06/11/2016 - O Estado de S.Paulo
Um ano depois de o Brasil decretar emergência em saúde pública por causa do surto de microcefalia, os esforços para barrar novos casos da doença e amparar as famílias com bebês vítimas da má-formação parecem ter sido insuficientes.
Desde o alerta federal, em 11 de novembro de 2015, 2.079 casos foram confirmados no País e outros 3.077 seguem em investigação, a maioria no Nordeste.
Dados inéditos tabulados pelo Estado com base nas estatísticas oficiais mostram, porém, que a epidemia começa a registrar números expressivos também no Sudeste.
Enquanto Recife, epicentro da crise inicial, vive estagnação nos registros – 64 até agora –, o Rio já é a capital com a maior tendência de alta, ocupando a segunda posição no ranking de municípios com mais casos confirmados (110). Só Salvador tem índice maior (154). O surto no Estado do Rio, no entanto, está concentrado na capital, já que, nos demais municípios, há 30 registros confirmados.
Em São Paulo, o número de crianças com a microcefalia triplicou entre agosto e outubro, passando de 14 para 46 – 13 na capital. Outras 19 cidades paulistas tiveram a confirmação de casos da doença, entre elas Ribeirão Preto e Guarulhos. Juntos, São Paulo e Rio têm ainda 700 registros da má-formação em investigação.
Para o professor de infectologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, Benedito Antonio Lopes da Fonseca, o aumento de casos de microcefalia no Sudeste era esperado, considerando que o vírus da zika se disseminou por todo o País, a partir do verão passado.
“Esses bebês que estão nascendo agora foram vítimas da infecção que a mãe pegou no primeiro trimestre da gravidez, ou seja, no início do ano”, diz.
O Ministério da Saúde afirma, no entanto, que, ao contrário do que aconteceu no Nordeste, não há um período de pico de casos no Sudeste. “Os dados são contabilizados nas estatísticas na semana em que foram confirmados, mas quando os analisamos vimos que muitos se referem a registros de bebês nascidos meses atrás. Não há tendência de aumento. De maneira nenhuma o risco pode ser minimizado, mas os números registrados mês a mês se mantêm estáveis”, diz Eduardo Hage, diretor do Departamento das Doenças Transmissíveis.
Questionada sobre o cenário da cidade, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio afirmou que desconhece os dados, por isso não poderia comentá-los. Já a Secretaria Estadual de Saúde do Rio disse que não é possível concluir que todos os casos tenham ligação com o vírus da zika. “Para definir a origem da má-formação, todos os casos são investigados.” A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo também disse não ver aumento significativo de casos de microcefalia. “Na realidade, o que vem acontecendo é que os critérios laboratoriais etiológicos têm sido aprimorados e, consequentemente, a investigação tem se desenvolvido de forma mais ágil e assertiva”, afirmou, em nota.
DESAMPARO
Enquanto o Sudeste se prepara para atender os primeiros bebês com microcefalia na região, as crianças vítimas do primeiro surto da máformação, no Nordeste, completam um ano enfrentando ainda a falta de vagas em centros de reabilitação e demora no acesso à atenção especializada.
Para mostrar os impactos da microcefalia na vida das famílias, o Estado viajou a Pernambuco e acompanhou de perto o primeiro ano de vida de três bebês nascidos no Estado entre setembro e outubro de 2015. Com realidades sociais e familiares distintas, Alessandro, Matheus e Pérola tiveram de enfrentar limitações trazidas pela doença.
Centros de reabilitação prometidos pelo Ministério da Saúde não saíram do papel, impedindo o início da reabilitação de bebês como Alessandro. Os locais de tratamento seguem concentrados nos grandes municípios e o acesso ao transporte, de obrigação municipal, vem sendo dificultado pelas prefeituras, inviabilizando o tratamento de crianças do interior do País, como Pérola. Mas para bebês como Matheus, que tiveram condições econômicas para buscar um tratamento adequado, os bons resultados começam a aparecer e mostram que, com amparo ideal, é possível contornar dificuldades.
Zika e doenças associadas deixam lições a cientistas
07/11/2016 - O Estado de S.Paulo
Às vésperas de completar um ano do estado de emergência em saúde pública no Brasil declarado por causa da microcefalia, o diretor do Instituto Evandro Chagas, Pedro Vasconcelos, não hesita em afirmar: o zika, vírus associado ao aumento de casos da má-formação, trouxe várias lições para cientistas. “Não se pode desprezar nenhum agente infeccioso, mesmo aqueles que à primeira vista são considerados inofensivos.” Esse, completa Vasconcelos, foi o erro cometido com zika no Brasil e no mundo.
Descoberto na década de 40, o zika nunca despertou interesse de pesquisadores. “Até o início de 2015, ele era considerado um vírus de segunda categoria.
Ele era pouco estudado, porque se imaginava que seria de pouco interesse para saúde pública.” O baque, no entanto, não se resumiu ao fato de ele ser muito mais nocivo do que se pensava no início. “O zika rompeu um padrão. Ele representa uma revolução em termos de arbovírus.
Até então, acreditávamos que esses agentes eram transmitidos pela picada de artrópodes infectados.” O zika veio mostrar que essa ideia era limitada e incorreta. Comprovou-se que ele pode ser transmitido por via sexual, transfusão de sangue. “E ele pode causar doença grave.
Tanto na sua forma congênita quanto para pacientes infectados que já apresentam, por exemplo, falhas no sistema imunológico”, explica Vasconcelos.
Em virtude do alcance do vírus, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, em fevereiro, estado de emergência internacional em saúde pública.
Vasconcelos defende que esse status seja mantido.
ESTRATÉGIAS
A equipe de Vasconcelos trabalha em várias frentes. Um dos braços considerados mais promissores é o que se dedica ao desenvolvimento de uma vacina, em parceria com a Universidade do Texas. Os resultados obtidos até agora são animadores. Nos próximos dias, a vacina será testada em primatas, em áreas controladas.
A vacina é desenvolvida com base em um vírus vivo enfraquecido.
Por meio do uso de engenharia genética, pesquisadores procuram manter a capacidade do vírus de infectar células, sem, no entanto, que ele possa desenvolver a doença.
O diretor do Instituto Evandro Chagas avalia que há muito ainda que se descobrir sobre o zika. “Ele era praticamente desconhecido.
Hoje temos algumas pistas. Mas é preciso muito mais”, disse. Uma das hipóteses que necessitam ser avaliadas ainda é o fato de a microcefalia não atingir todos os bebês cujas mães são infectadas pelo zika.
“Há uma corrente que arrisca haver um papel protetor da vacina de febre amarela. Isso poderia explicar, por exemplo, o fato de que as regiões onde a microcefalia ocorreu de forma mais intensa no ano passado coincidem com áreas onde a vacina não é aplicada de forma rotineira.
Mas são apenas suposições. Vasconcelos reconhece que, a partir da agora, os brasileiros começam a perder o protagonismo nas descobertas. Ele atribui essa mudança ao investimento realizado em outros países.
“Nossa contribuição foi significativa. Mas há uma tendência de que outros centros passem a apresentar estudos.”
Maconha medicinal
05/11/2016 - Folha de S.Paulo
Os médicos paulistas defendem a descriminalização da maconha. O Conselho Regional de Medicina (Cremesp) emitiu uma nota pública em que pede a descriminalização da erva para uso próprio.
Não poderia concordar mais. Minha ressalva em relação ao Cremesp é que a nota é tímida. Ela se limita a pedir a descriminalização da Cannabis, deixando de lado outras substâncias. Ora, o raciocínio que os médicos aplicaram à maconha, a saber, de que seu abuso constitui um problema de saúde pública e não de polícia, vale para todas as substâncias psicoativas. O interessante é que o texto da nota fala em drogas genericamente, mas o título restringe a discussão à maconha. Meu palpite é que houve alguma polêmica entre os membros da câmara técnica de psiquiatria e prevaleceu o lado mais prudente/conservador.
E, já que a ideia nesta coluna é não fazer concessões ao realismo político, dá para afirmar que a descriminalização do uso também é pouco. Ela até resolveria o problema do consumidor bem-apessoado e de maior poder aquisitivo, que não precisaria mais temer a ação da polícia. Os usuários crônicos ou mais pobres, que tendem a sustentar sua dependência repassando repartes da droga para terceiros, continuariam sendo enquadrados como traficantes, para os quais a lei reserva penas duras.
Mesmo que conseguíssemos definir um critério para distinguir com precisão o dependente que vende dos comandantes do tráfico, apenas descriminalizar a atividade me parece pouco. Se quisermos realmente mudar o "statu quo", é preciso efetivamente legalizar as drogas, estabelecendo pontos de venda e cobrando impostos. Todas as drogas receberiam um tratamento semelhante ao dispensado ao álcool.
Isso não resolveria o problema do abuso. Na verdade, poderia até agravá-lo, mas serviria para esvaziar um pouco as cadeias e, principalmente, para reduzir o poder do tráfico.
Mortes: Expoente da luta contra ELA e das minorias
05/11/2016 - Folha de S.Paulo
O pensamento constante na possível finitude precoce nunca foi a tônica da vida da advogada Alexandra Lebelson Szafir, 50, uma das expoentes com maior visibilidade no Brasil entre as pessoas que vivem com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica).
Batalhando contra a enfermidade degenerativa e progressiva desde 2005 e, aos poucos, sucumbindo a seus efeitos, como a perda total da mobilidade e da capacidade respiratória, Alexandra não fez do drama ou das perdas o seu sentido de viver.
Fez o contrário: lutou até o último dia por melhores condições para as pessoas com a doença, ajudando financeiramente com a sua imagem e com o seu prestígio, por mais pesquisas, medicamentos e equipamentos de assistência aos que têm ELA.
Paralelamente à dedicação à Associação Pró-Cura da ELA, a advogada militou no direito voltado às minorias. Escreveu, em 2010, "desCasos, uma Advogada às Voltas com o Direito dos Excluídos" e, em 2014, "desCasos 2".
Embora não conseguisse mais falar, Alexandra se comunicava por meio dos olhos que acionavam as letras no computador e enviava suas mensagens para o mundo. Respirava com auxílio de aparelhos e levava o dia a dia com a ajuda das forças da incansável assistente, Magna.
"Alexandra era uma pessoa rara, com uma doença rara. Raros os que a conheciam e não a admirassem por sua bravura e sua generosidade", diz o amigo e confidente, o empresário Jorge Abdalla.
A advogada, que deixa os filhos Pedro e Isabella, morreu no hospital, na quinta (3), por complicações no sistema respiratório.
Um maço de cigarro ao dia produz 150 mutações no pulmão por ano
04/11/2016 - Folha de S.Paulo / Site
Fumar um maço de cigarros por dia provoca, em média, 150 mutações por ano nas células pulmonares, segundo investigadores que identificaram vários mecanismos pelos quais o fumo danifica o DNA.
O estudo, publicado nesta quinta-feira (3) na revista "Science", avalia com precisão –pela primeira vez– os devastadores efeitos genéticos do cigarro, e não apenas para os pulmões, mas também para outros órgãos que não estão diretamente expostos ao fumo.
Estudos já revelavam que o cigarro contribui com ao menos 17 tipos de câncer, mas até o momento não se havia estabelecido como o fumo provocava estes tumores, destacam os pesquisadores do britânico Wellcome Trust Sanger Institute e do americano Los Alamos National Laboratory.
O maior número de mutações genéticas causadas pelo tabagismo se observou no tecido pulmonar, mas outras partes do corpo também apresentaram alterações do DNA que explicam como fumar causa diferentes tipos de câncer.
O cigarro contém mais de 7 mil substâncias químicas diferentes, das quais mais de 70 são cancerígenas, destacam os pesquisadores, assinalando a complexidade das interações do fumo com o organismo.
"Este estudo aporta novos elementos sobre os diferentes mecanismos pelos quais o fumo provoca o câncer", destaca Ludmil Alexandrov, do Los Alamos National Laboratory, um dos principais autores do trabalho.
"Já dispúnhamos de muitos dados epidemiológicos sobre um vínculo entre o fumo e o câncer, mas agora podemos observar e determinar o número de alterações moleculares do DNA provocadas pelo hábito de fumar".
"Concluímos que as pessoas que fumam um maço por dia têm, em média, 150 mutações genéticas adicionais a cada ano em seus pulmões, o que explica por que motivo os fumantes têm um maior risco de desenvolver câncer de pulmão", destaca o cientista.
Para esta primeira análise ampla do DNA relacionando o fumo ao câncer, os pesquisadores examinaram mais de 5 mil tumores, comparando os cânceres similares de fumantes e não fumantes.
Assim, encontraram características moleculares específicas no DNA dos pulmões de fumantes e determinaram seu número nos diferentes tumores.
Os pesquisadores concluíram que o fumo provoca um número significativo de mutações genéticas adicionais nas células pulmonares.
Em outros órgãos, o estudo revelou que um maço de cigarros por dia produz, em média, 97 mutações a mais por ano no DNA da laringe, 39 na faringe, 23 na boca, 18 na bexiga e 6 no fígado.
O estudo revela ao menos cinco processos distintos pelos quais o DNA é danificado pelo tabagismo, e o mais comum se encontra na maioria dos tipos de câncer.
Para o professor Mike Stratton, do Wellcome Trust Sanger Institute, "este estudo também revela que o processo pelo qual o cigarro provoca um câncer é mais complexo do que se pensava".
"Na realidade não entendemos completamente as origens subjacentes de muitos tipos de câncer", disse Stratton, assinalando outras causas ainda pouco conhecidas, como a obesidade.
Mas este trabalho sobre o DNA em tumores cancerosos poderá fazer avançar a pesquisa e ajudar em uma maior prevenção de qualquer forma de câncer, avaliou o professor Stratton.
"Sequenciar o genoma de cada câncer proporciona assim uma espécie de registro arqueológico" no DNA, exposto aos diferentes fatores que contribuíram para as mutações genéticas responsáveis pelo tumor.
Bebida do tipo zero traz mesmo risco de diabetes do que a normal
05/11/2016 - Portal Exame
Consumir menos de meio litro de bebidas açucaradas por dia é o suficiente para dobrar o risco de se desenvolver diabetes, mostra um estudo publicado pela European Society of Endocrinology. E, ao contrário do que pode parecer, quem opta pelas versões diet ou zero não sai ileso a esse risco.
Os resultados foram obtidos após a análise dos hábitos alimentares de mais de 2.800 pessoas. A pesquisa mostra que a ingestão diária de 400 ml de produtos como refrigerantes ou néctares (refresco que não é composto exclusivamente por suco integral) aumenta em duas vezes o risco de diabetes.
As versões adoçadas artificialmente, conhecidas como zero ou diet, apresentaram resultados semelhantes às convencionais. Segundo o estudo, tal relação pode ser explicada, entre outros fatores, por um efeito estimulante ao apetite provocado por elas.
Além da diabetes tipo 2, a pesquisa analisou também uma variedade mais rara da doença, a LADA – que é autoimune, assim como a tipo 1, e geralmente ocorre em adultos. Nos dois casos, constatou-se o risco em dobro como consequência do consumo de duas doses diárias, cada uma de 200 ml.
Também foi analisado o consumo de mais de um litro das bebidas por dia; nesse caso, o risco de desenvolver a diabetes tipo 2 chegou a ser dez vezes maior do que entre os que não consomem nenhuma quantidade. Por conta da baixa frequência com que esse hábito foi relatado, o estudo destaca que esse resultado é menos expressivo.
A relação da diabetes tipo 2 com as bebidas açucaradas já tem sido evidenciada em pesquisas anteriores. Os riscos em relação à LADA, por outro lado, não são tão evidentes e foram o principal foco do estudo.
Segundo os pesquisadores, ainda são necessárias novas pesquisas para investigar a relação das bebidas com a LADA e, também, para esclarecer os efeitos das bebidas adoçadas artificialmente.
|