Em 2030, câncer poderá matar 5,5 mi de mulheres
02/11/2016 - Folha de S.Paulo
O câncer poderá matar 5,5 milhões de mulheres a cada ano no mundo em 2030, quase 60%amais em relação a 2012 (3,5 milhões), segundo relatório divulgado nesta terça (1º).O crescimento e envelhecimento da população são fatores pesarão no quadro.
O relatório da ACS (Sociedade Americana do Câncer) diz que será essencial aumentar esforços em educação e prevenção para lutar contra a doença. A maioria dos óbitos contabilizados em 2012 ocorreu em países em desenvolvimento,os mais vulneráveis ao problema.
O crescimento também é relacionado ao aumento da frequência de fatores de risco de câncer —falta de atividade física, má alimentação, obesidade e fatores reprodutivos, como ter o primeiro filho com idade avançada, o que aumenta risco de câncer de mama.
África subsaariana, América Central e do Sul, sudeste asiático e leste da Europa, têm as taxas de incidência e de mortalidade mais elevadas.
O câncer é a segunda causa de morte feminina.
Rótulos malnutridos
03/11/2016 - Folha de S.Paulo
Consultar os rótulos de alimentos é um hábito saudável que não se disseminou pelo Brasil. Por desinteresse ou dificuldade de entendê-los, a maioria dos consumidores guia-se às cegas nas compras.
Segundo pesquisa do Datafolha, 48% dos brasileiros não leem informações sobre ingredientes e tabela nutricional disponibilizadas nas embalagens. Dos 52% que buscam alguma orientação, dois terços (35% do total) não entendem bem os dados referentes aos produtos.
O levantamento foi encomendado pela Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), organização que atua na promoção da saúde.
As letras muito miúdas (61%) e o excesso de termos técnicos e números (51%) nos textos são apontados como os principais estorvos para decifrar os rótulos.
Em vista disso, ganharam impulso iniciativas com vistas a tornar os dados mais digeríveis pelo consumidor. Grupos formados por mães de crianças alérgicas e nutricionistas, por exemplo, contribuíram para algumas conquistas.
Neste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou que produtores de alimentos e bebidas incluam no rótulo de suas mercadorias aviso explícito sobre a presença de substâncias que podem provocam alergias, citando os elementos por seus nomes mais conhecidos.
Até então, as mensagens acerca de alérgenos primavam pelo hermetismo —lia-se, por exemplo, "caseinato de sódio" (proteína láctea) ou "soro albuminado" (ovo).
A Anvisa estuda, ainda, formas de dar mais visibilidade aos teores de açúcar, sódio e gorduras dos alimentos. Consumidos em excesso, podem ampliar os riscos de doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no Brasil —elas respondem por 30% dos óbitos.
Medidas como aumentar o tamanho das letras dos rótulos e dar-lhes maior nitidez tipográfica facilitariam a leitura —sobretudo por parte de homens com mais de 55 anos, que são mais propensos a ter deficiências de visão e estão entre as principais vítimas das enfermidades cardiovasculares.
Outra ação benéfica seria adotar modelos práticos para comparar o valor nutricional dos alimentos, sem exigir que o consumidor elabore regra de três para o cotejamento. Isso facilitaria a escolha de produtos adequados a cada um.
Prover informações claras e precisas acerca dos alimentos responde a um direito básico do cidadão e pode representar um passo importante na luta contra doenças associadas à má alimentação.
Crianças do Paquistão sofrempor falta de leite
03/11/2016 - Folha de S.Paulo
Desde que a maioria das paquistanesas praticamente deixou de amamentar, por falta de informação e pelo costume de dar ervas e açúcar aos filhos, quase metade das crianças sofrem atrasos de crescimento no país.
As mães são incentivadas a alimentar os bebês com chá, ervas ou fórmula infantil.
“Na cultura baluchi, alimentamos bebês com battri.
São umas ervas moídas com água ou leite. Damos de manhã e de noite”, explica Mah Pari, grávida pela oitava vez.
Mah Pari vive em uma zona fértil do Baluchistão, no sudoeste do país, mas seu último filho, Gul Mir, chora de fome em seus braços. “Também dou chá, açúcar e o peito duas vezes ao dia” —menos do que o recomendado.
Em outras partes do país, os recém-nascidos são alimentados tradicionalmente com manteiga clarificada, mel ou açúcar não refinado.
“Trabalho o dia inteiro, não tenho tempo para amamentar”, explica Mah Pari, convencida de que as receitas tradicionais são melhores do que o seu leite.
Aos dois anos, Gul Mir pesa cinco quilos, segundo a balança rústica do centro móvel denutrição do MSF (Médicos Sem Fronteiras). Isso representa metade do peso ideal para a idade da criança.
Por estas privações em uma idade crítica, Mir possivelmente terá sequelas, por toda a vida.
Como Mir, 44% das crianças paquistanesas sofrem atrasos no crescimento provocados por carências crônicas durante os primeiros anos devida.É uma das taxas mais altas no mundo, segundo a Unicef. O Paquistão acumula todos os fatores de risco: má nutrição, problemas de higiene e falta de educação e orientação das mães.
As consequências são irreversíveis: limites no crescimento físico,desenvolvimento incompleto do cérebro e risco alto de doenças.
“É uma crise e uma urgência maior”, sentencia a chefe da Unicef no Paquistão, Angela Kearney, explicando que uma das razões da desnutrição infantil é o consumo reduzido de leite materno.
Só 38% dos bebês são alimentadas somente com leite materno nos seis meses iniciais de vida, como recomendado pelas Nações Unidas.
“O médico disse para dar ao bebê o leite número um”, conta Razul, que como muitas avós se ocupa dos netos enquanto a filha trabalha.Refere-se a fórmula infantil da Nestlé. Isso pode trazer problemas para sua neta Akila, já que a água da mamadeira não costuma ser potável e porque, por falta de condições financeiras, só lhe dão uma colherada de leite em pó.
“As pessoas pensam que só o leite industrial cobre as necessidades dos filhos”,diz o médico Imtiaz Hussain.
“Médicos, muitas vezes não qualificados,recebem comissão de lojas que vendem esse leite para o receitar”,diz.
A Nestlé diz que respeita estritamente alei e “dá informações científicas” aos profissionais da saúde.
Mal orientadas, muitas mães deixam de amamentar em épocas essenciais.
Basta chuva forte para avanço do cólera em áreas do Haiti
03/11/2016 - Folha de S.Paulo
Em áreas do Haiti arrasadas pelo furacão Matthew, que matou centenas de pessoas no início de outubro, basta uma chuva forte seguida de alagamento para ver subir o total de casos de cólera.
“O número aumentou imediatamente após o furacão, caiu com medidas tomadas, mas cresceu de novo com a chuva forte do último dia 20”, diz Jean Luc Poncelet, representante da Opas (braço da OMS para Américas) no país.
Apesar da temporada de chuvas favorecer a transmissão da doença, por água e comida contaminadas, é possível medir pelos números o impacto que teve o furacão.
A passagem do Matthew, em si, matou ao menos 546 pessoas,mas agências de notícias relataram mil mortes.
Nas cinco semanas antes do Matthew, a região de Grand’Anse registrava até 50 casos suspeitos de cólera por semana. Na semana do furacão, os registros pularam para 128. E, na semana seguinte, entre 9 e 15, foram a 313, segundo dados da Opas.
“Esses números ainda são gerenciáveis. Mas você percebe como o cólera está muito presente no Haiti”, diz.
A ONU calcula que mais de 9.200 pessoas morreram da doença no Haiti desde outubro de 2010, quando o cólera foi introduzido no país.
Estudos científicos já apontaram evidências de que a doença tenha chegado ao Haiti com tropas na Minustah (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti) vindas do Nepal para ajudar na reconstrução do país após o sismo de 2010, que matou mais de 200 mil haitianos.
Entre 2010 e 2011, mais de 537 mil casos suspeitos foram registrados. O impacto do cólera caiu desde então —2015 registrou pouco mais de 36 mil casos. Desde o furacão, quase 3.500 casos suspeitos foram registrados,diz a ONU.
O debate sobre a responsabilidade das Nações Unidas, no entanto, não arrefeceu.
No fim do mês, Philip Alston, relator especial de pobreza extrema e direitos humanos, especialista independente no sistema de direitos humanos da ONU, chamou de “uma desgraça” a forma como a organização lida com o caso. E cobrou a admissão de responsabilidade legal.
Desde 2011, um grupo tenta obter, da organização, compensação financeira e o pedido formal de desculpas.
O caso, que pretende virar uma ação coletiva em nome de 5.000 vítimas, está na Justiça norte-americana desde 2013, mas sem sucesso até aqui pela atribuída imunidade às Nações Unidas. O próximo passo seria ir à Suprema Corte, após a rejeição de um recurso em agosto.
“Estamos em compasso de espera”, diz Beatrice Lindstrom, advogada do IJDH (Instituto para Justiça e Democracia no Haiti), uma das entidades que atuam no caso.
“A rejeição do nosso recurso coincidiu com o anúncio pela ONU de um novo plano para o cólera no Haiti.” Este ano,a ONU reconheceu seu possível envolvimento no caso e falou em“responsabilidade moral”.No fim do mês, a organização disse que tenta levantar US$ 200 milhões como compensação às famílias dos que morreram.
O haitiano Carl Frédéric, coordenador-adjunto dos Médicos Sem Fronteiras no país, diz que o maior problema que eles enfrentam, hoje, é acesso à água potável —que já era um obstáculo no passado e foi agravado com o Matthew.
Dominique Legros, especialista em cólera da Organização Mundial de Saúde,ressalta que o total de casos caiu 90% entre 2011 e 2015 e que, com a grande contaminação do ambiente pela bactéria e a precária infraestrutura do país,não chega a ser uma surpresa que se leve alguns anos para controlar a doença.
Legros destaca a importância de investir no país não apenas emergencialmente e se diz otimista sobre a eliminação do cólera no Haiti. “É possível. Tenho certeza.”
Relatores da ONU: negar aborto legal a mulheres com zika é tortura
02/11/2016 - O Globo
Relatores especiais do Conselho de Direitos Humanos da ONU defendem, no Supremo Tribunal Federal (STF), que negar o aborto legal a mulheres infectadas pelo vírus zika, e que desejam interromper a gravidez, pode ser uma forma de tortura. A manifestação inédita, que consta de parecer encaminhado à Corte, partiu de quatro representantes das Nações Unidas, que se pronunciam de forma independente da entidade.
O documento deverá integrar a ação direta de inconstitucionalidade ajuizada em agosto pela Associação Nacional de Defensores Públicos, sobre direitos das mulheres em meio à epidemia de zika. Entre eles, está o acesso ao aborto seguro e dentro da lei. A manifestação dos relatores é o conteúdo principal do pedido do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), que pretende ingressar no processo para auxiliar o tribunal.
No parecer, os relatores defendem que “o sofrimento mental que mulheres e meninas podem enfrentar quando desejam interromper uma gravidez, incluindo o contexto do zika, mas não têm acesso legal ao serviço, pode ser grave e pode atingir o nível de tortura e/ou tratamento cruel, desumano ou degradante”. Assinalam que a situação se torna mais crítica em mulheres “particularmente vulneráveis, em função de sua idade, status de deficiência, ou as circunstâncias de sua gravidez”.
Os relatores reuniram a jurisprudência internacional sobre o tema e detalharam a compreensão atual em relação à tortura. Explicam, por exemplo, que ela não ocorre apenas para extração de confissão ou para punir alguém. A discriminação também é fator motivador e, segundo o documento, pode estar especificamente baseada em gênero.
Endossam o parecer os representantes independentes do conselho Dubravka Simonovic, relatora especial sobre violência contra as mulheres; Dainius Puras, relator especial sobre o direito à saúde física e mental; Catalina Devandas Aguilar, relatora especial sobre os direitos das pessoas com deficiência; e Juan Mendez, relator especial sobre tortura e tratamento ou castigo cruel, desumano e degradante. O mandato de Mendez terminou nesta semana.
Além dos quatro relatores especiais, também assinaram o documento Alda Facio, Emna Aouij, Kamala Chandrakirana, Frances Raday e Eleonora Zielinska, integrantes do grupo de trabalho sobre discriminação contra mulheres da ONU.
Para Sinara Gumieri, pesquisadora e advogada do Anis, a manifestação mostra a evolução dos conceitos de direitos humanos:
— Esse parecer é extremamente importante ao apontar que, quando a agressão ocorre no cenário de discriminação a um grupo, gênero ou raça específica, por exemplo, pode ser considerada tortura.
Em fevereiro deste ano, a ONU fez uma defesa enfática do direito ao aborto em caso de zika. O Alto Comissário de Direitos Humanos das Nações Unidas, Zeid Al Hussein, declarou que países afetados pelo vírus deveriam permitir às mulheres o acesso a métodos contraceptivos e ao aborto.
Diagnóstico do câncer infantil chega a demorar até oito anos, diz UFMG
02/11/2016 - G1 - Profissão Repórter
O Profissão Repórter retrata as histórias de quem não consegue tratamento contra o câncer. As equipes do programa visitaram os estados de Minas Gerais, Sergipe e Distrito Federal e trazem duros relatos de quem depende do sistema público de saúde.
Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) analisaram mais de 300 casos de crianças com câncer. O diagnóstico demorou, em média, de quatro meses a oito anos. Bruna Rabelo, médica e pesquisadora, conta que até agora a equipe de pesquisa conseguiu acompanhar 364 pacientes e, desse total, 86 morreram.
LUTA PELO TRATAMENTO EM SERGIPE
Mayara Teixeira foi até Aracaju conhecer mulheres que mandaram vídeos com os relatos da luta por um tratamento na cidade. Elas fazem parte da ONG Mulheres de Peito, um grupo de mulheres que luta contra as interrupções das quimioterapias realizadas no Hospital de Cirurgia, um dos principais da capital sergipana. O diretor do hospital alega que repasses atrasados do Estado e da Prefeitura causam o corte no fornecimento de remédios.
“Infelizmente meu tratamento nunca deu continuidade e, por conta disso, oito anos depois eu descobri uma metástase no osso do meu quadril e tive que voltar todo o tratamento”, conta Norma Jeane, integrante da ONG Mulheres de Peito.
Alguns tratamentos ainda não terminaram por causa da lentidão e dos problemas do hospital. A dona Maria José Barreto, integrante do Mulheres de Peito, conta que sempre teve a ideia de que o “câncer é o caminho da morte”. Ela chegou a ficar três meses sem remédio.
O DRAMA EM BRASÍLIA
O repórter Erik von Poser foi à Brasília depois de receber denúncias de funcionários do Hospital de Base, que se viam incapazes de dar conta da enorme fila para o tratamento de câncer. Ele entrou com um celular e registrou cenas dramáticas de pacientes que lutam pelo atendimento dos parentes.
Uma lei federal diz que o paciente tem que dar início ao tratamento contra o câncer no SUS (Sistema Único de Saúde) em até 60 dias a partir do diagnóstico. Nos guichês de atendimento, os pacientes são aconselhados pelos próprios funcionários do hospital a procurarem a Defensoria Pública para que o estado seja obrigado a custear os tratamentos na rede particular.
Dora, que foi enfermeira por 32 anos no hospital, hoje está aposentada e se dedica como voluntária para orientar os pacientes. Ela ajuda os pacientes que esperam pela quimioterapia dialogando com os funcionários da instituição médica. “Se eu puder ajudar a diminuir a dor deles, estou sempre por lá”, ela diz.
A auxiliar de serviços gerais Maria do Socorro, que luta pelo tratamento no hospital de Brasília, diz que sente raiva ao saber que a fila de espera chega a mais de mil pessoas. “Raiva porque o dinheiro da gente está indo pro ralo”, ela desabafa.
Por que o Brasil vive uma epidemia de sífilis?
01/11/2016 - Época Online
O Brasil vive uma nova epidemia de sífilis, uma doença sexualmente transmissível que parecia existir, para a maior parte da população, apenas nos livros de história. A doença, causada por uma bactéria, pode levar a problemas de fertilidade e até a morte, se não tratada. A maior preocupação é com a transmissão de mulheres grávidas para os fetos. Os bebês podem sofrer malformações no sistema nervoso, perder a visão ou a audição e até mesmo morrer. O Ministério da Saúde divulgou dados recentes mostrando que o número de pessoas infectadas no Brasil aumentou 32,7% entre 2014 e 2015. "Esse aumento não está acontecendo só no Brasil, é um problema global", afirma Adele Benzaken, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. A notícia pode causar espanto – não entre os especialistas em saúde, que há tempos percebem o aumento de casos –, mas entre a população. Por que uma doença de antigamente voltou a ser uma ameaça em 2016?
A sífilis, de fato, é uma doença antiga. No século XV, causou uma das primeiras epidemias globais, com milhares de mortes por toda a Europa. A penicilina, o antibiótico usado para exterminar a bactéria, não havia sido descoberto à época. Eram feitos tratamentos a base de mercúrio. A descoberta da penicilina, em 1928, contribuiu para diminuir a disseminação da doença nas décadas seguintes. Um reforço importante ao combate à doença foram as campanhas para aumentar o uso do preservativo, que ganharam força com a descoberta do vírus da aids, na década de 1980. No Brasil, a sífilis saiu dos holofotes a ponto de nem ser obrigatório que serviços de saúde avisassem o Ministério da Saúde quando encontrassem um caso. A notificação só passou a ser obrigatória em 2010.
As causas para o aumento recente dos casos ainda estão em investigação. Mas algumas mudanças comportamentais ajudam a entender por que a bactéria voltou a assustar. Um dos principais motivos é, ironicamente, o fato de a aids ter deixado de assustar. Com o sucesso dos tratamentos antirretrovirais, que afastaram da doença o rótulo de fatal, as gerações mais jovens relaxaram nos hábitos de prevenção. Os jovens de 13 a 15 anos estão se protegendo menos na hora do sexo, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2012, 75% dos entrevistados usaram preservativo em sua última relação sexual. No ano passado, apenas 66% fizeram uso da camisinha.
“Quando a aids surgiu, a estratégia empregada para a prevenção foi a de terrorismo, para promover o uso da camisinha pelo medo”, afirma a educadora sexual Lena Vilela, diretora do Instituto Kaplan, entidade de São Paulo que promove educação sexual. “O medo acaba sendo uma estratégia que, às vezes, funciona por um período limitado. Quando o temor passa, a doença reaparece.” Para reverter esse quadro, será preciso investir mais do que em campanhas que elucidem sobre os perigos do sexo sem camisinha, mas que contemplem a prevenção nas diferentes formas de exercer a sexualidade. A camisinha, seja masculina ou feminina, ainda é o único método contraceptivo capaz de impedir a transmissão de DSTs. “Os adolescentes estão transando e não há nada que os impeça. O objetivo é apostar em conhecimento, e não no medo, como foi feito anos atrás”, diz Lena.
A diminuição do uso do preservativo é uma tendência global e está causando o reaparecimento em massa de antigas DSTs nos Estados Unidos e na Europa. Além da sífilis, a clamídia e a gonorreia, também infecções bacterianas, voltaram a ser registradas em maior escala. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, a agência de vigilância epidemiológica do governo americano, em 2015 os casos de sífilis aumentaram 19%, os de gonorreia 13% e os de clamídia em 6% em comparação com 2014. Os dados se contrapõem à tendência de queda vista nos últimos anos. Em 2009, a gonorreia atingiu a taxa mais baixa da história nos EUA, com apenas 98 casos por 100 mil pessoas. Em 2015, o número saltou para 124 casos por 100 mil pessoas, um aumento de 26%. Enquanto isso, as taxas de sífilis em 2000 e 2001 foram as mais baixas desde os relatórios feitos em 1941: 2,1 casos por 100 mil pessoas. Mas o número subiu quase todos os anos desde então e está, agora, em 7,5 casos por 100 mil pessoas.
Existe a suspeita de que os aplicativos que promovem encontros sexuais, como o Tinder e o Grindr (voltado para o público gay), possam dar sua contribuição na disseminação das doenças de antigamente. “As pessoas parecem que se previnem menos quando utilizam esses aplicativos”, diz Jairo Bouer, médico psiquiatra. É por isso que as campanhas de prevenção devem focar nas novas formas de exercer a sexualidade, dando abertura para que as pessoas possam discutir abertamente com seus médicos seus comportamentos e as melhores formas de se prevenir. “As pessoas têm um número maior de parceiros sexuais hoje”, afirma Adele, do Ministério da Saúde.
Outro fator apontado pelos especialistas para justificar o aumento de casos de sífilis foi o desabastecimento da penicilina benzatina, principal antibiótico para o tratamento da doença. Desde 2014, países de todo o mundo sofreram com a pouco distribuição do medicamento devido à falta de matéria-prima para a sua produção. Para controlar a situação, o Brasil conseguiu comprar 2 milhões de frascos no ano passado. A distribuição do antibiótico para os estados e os municípios terminou em julho. O Ministério da Saúde afirma ter comprado mais 700 mil unidades, que ainda não foram distribuídas.
A escassez do medicamento pode ter contribuído para aumentar o nascimento de bebês com sífilis congênita, segundo especialistas. Existem outras alternativas de tratamento, mas ela acabam não sendo eficazes para evitar que a bactéria seja transmitida para o feto. “Na gravidez, é possível realizar tratamento com outros remédios, como o antibiótico azitromicina”, afirma o ginecologista e obstetra Ricardo Luba, de São Paulo. “O problema é que essa droga só trata a mãe, e não o bebê, porque não passa pela placenta.” No ano passado, aumentaram os casos de sífilis congênita. Em 2015, foram 6,5 casos a cada 1.000 nascidos vivos, número 170% maior que do o registrado em 2010. O número é 13 vezes maior do que a meta estabelecida para 2015 pela Organização Mundial da Saúde, dentro da política de combate a doenças negligenciadas e infecções relacionadas à pobreza.
O Ministério da Saúde diz ter aumentado a realização de exames para detectar a bactéria – não só em gestantes, mas na população em geral. Só diagnosticar não é o suficiente: as pessoas precisam se sentir acolhidas para se engajar no tratamento – e nas formas de prevenção. O alerta provocado pela divulgação dos novos dados da epidemia pode ser o primeiro passo para que as novas gerações se preocupem novamente com a sífilis.
Infarto, AVC, diabetes…. Os danos da poluição estão aí para todo mundo ver
01/11/2016 - Brasileiros
Cerca de 3 milhões de mortes por ano estão ligadas à poluição ambiental. Ainda, o número dobra se considerarmos a poluição doméstica: os poluentes que se acumulam em nosso lar e são tão letais quanto os externos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Dados da entidade mostram que uma estimativa de 6.5 milhões de mortes em 2012 estão associadas com os dois tipos de poluição.
As mortes não são causadas só por doenças respiratórias. Estudos recentes demonstram que a poluição do ar está ligada à hipertensão, estresse, doenças psiquiátricas, diabetes e doenças cardiovasculares. No Brasil, 26.241 mortes por ano ocorrem por conta da poluição – com 198 delas sendo mortes de crianças. Por aqui, os poluentes matam mais quanto atingem o coração.
Está difícil mudar esse quadro, mas há iniciativas. Uma delas é a campanha lançada recentemente pela Organização Mundial da Saúde, com o apoio da ONG Climate & Clean Air Coalition e o governo da Noruega. A “BreathLife” tenta mostrar que a poluição deixou há muito tempo de ser um problema do futuro. No site da empreitada, o internauta é convidado a digitar a região em que vive e ver qual o impacto que o ambiente tem na sua saúde. Fizemos um exercício de procurar dados para algumas cidades – e não encontramos nenhuma que estivesse dentro de níveis seguros da OMS.
Ao digitar São Paulo, por exemplo, aparece um dado preocupante. O nível de exposição à poluição na cidade está 90% acima do recomendado. Em Buenos Aires, o nível está 40% acima. Nova York e Los Angeles, nos Estados Unidos (10%); em Berlim, na Alemanha, (60%); Londres, no Reino Unido (50%), Paris, na França, (80%); e Oslo, na Noruega, (10%).
Na África e na Ásia e em cidades da América Latina como Caracas, na Venezuela, a poluição é tão alta que a OMS começa a medir de outra maneira – o ponteiro chega no vermelho e os dados são medidos a partir do dobro. Assim, Caracas está 2.5 acima do recomendado,;Bogotá, na Colômbia, (2.4); Lima, no Peru (4.8); Johanesburgo, na África do Sul (4.1); Mumbai, na Índia (6.3); Cairo, no Egito (7.6); e Beijing, na China (8.5).
Os dados são da própria OMS e são medidos pela média anual de exposição a materiais particulados (PM) as pequenas partículas inaladas que penetram no corpo e estão associadas à morte prematura.
O ônus da poluição, pelos dados, está mais preocupante nas cidades e países mais pobres. Mas ninguém escapa. Segundo a Organização Mundial da Saúde, nos últimos dois anos, os dados de todas as cidades praticamente dobraram. O mundo está cada vez mais poluído, salienta a entidade – e na esteira, crescem também as mortes associadas.
DOENÇAS ASSOCIADAS E PESQUISAS
O Saúde!Brasileiros fez um levantamento de estudos recentes que destrincham os dados coletados da OMS. Encontramos evidências do impacto da poluição em muitos estudos. Exposição a longo prazo à poluição do ar, por exemplo, está associada a uma maior incidência da hipertensão, de acordo com um dos maiores e longos estudos já feitos sobre essa associação. A pesquisa, publicada no European Heart Journal, seguiu 41.000 pessoas em cinco países diferentes por um período que variou de 5-9 anos.
A poluição também aumenta a incidência de diabetes tipo 2, de acordo com estudo publicado no jornal médico Diabetes. Poluentes estão associados com o mecanismo de resistência à insulina – situação que, muitas vezes precede a diabetes tipo 2 (a forma da doença adquirida). Aqui, a insulina (hormônio responsável pelo aproveitamento da glicose pelas células) não dá conta de quebrar o açúcar circulante no sangue.
Também estudo publicado no prestigiado Lancet Neurology mostrou que poluentes contribuem para o risco do Acidente Vascular Cerebral e são um fator de risco importante para, pelo menos, um terço deles. Enquanto os maiores fatores de risco são dietas ricas em sal e obesidade, a poluição aparece como fator importante em 29,2% dos casos.
Ainda, a poluição está associada à doença cardíaca. Um estudo feito nos Estados Unidos, também publicado no Lancet, mostrou que pessoas que vivem em áreas mais poluídas acumulam poluição nas artérias que irrigam o coração.
A pesquisa ajudou a desvendar o processo biológico por meio do qual poluentes estão associados ao infarto e outras doenças cardiovasculares.
Um outro estudo sueco mostrou que a poluição pode estar associada a maior incidência de doenças psiquiátricas. Publicada no British Medical Journal, a pesquisa fez uma correlação entre medicamentos distribuídos em regiões mais poluídas e mostrou que há uma associação entre ambos que precisa ser melhor explorada.
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