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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 24/10/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Aposta para o futuro, medicamentos biológicos são novo campo de batalha entre farmacêuticas

21/10/2016 - Gazeta do Povo Online


Imagine um produto produzido a partir de organismos vivos que interagem com proteínas humanas e têm alto potencial para tratar doenças graves, como câncer, moléstias autoimunes e artrite reumatoide. Chamados de biológicos, esses medicamentos se tornaram o novo campo de batalha entre as indústrias farmacêuticas brasileiras. Num mercado que tem o governo como principal cliente, a estimativa, segundo o Sindicatos da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sindusfarma), é de que os biológicos movimentem cerca de 2 bilhões de dólares por ano no país.

De acordo com o Ministério da Saúde, calcula-se que os medicamentos biológicos e biossimilares – biofármacos produzidos por empresas diferentes das originadoras dos biológicos, mas com pureza e estrutura altamente similar – abranjam 51% dos gastos da pasta com medicamentos de alto custo. Essas compras representam, contudo, cerca de 4% do volume de medicamentos adquiridos para distribuição através do Sistema Único de Saúde (SUS).

A perspectiva com esse tipo de medicamento tem levado empresas a investirem em pesquisas, se dividirem em companhias para atender a área e buscado parcerias de desenvolvimento de produto (PDP) com o Ministério da Saúde. Neste tipo de iniciativa, os laboratórios privados transferem a tecnologia para um laboratório público, em troca de monopólio da venda por um período ao governo. Os preços negociados são cerca de 30% menores que os praticados no mercado internacional. Tratando-se de medicamentos que podem custar R$ 10 mil a ampola, o percentual pode fazer diferença na conta final.

“O Brasil está preocupado com isso. Temos alguns produtos registrados e sendo feitos aqui, mas isso exige ainda um processo de muita transferência de tecnologia. Quando entendermos a forma como isso é produzido, abre-se caminho para desenvolver novos produtos”, comenta o presidente executivo do Sindusfarma, Nelson Mussolini.

Segundo ele, há interesse do próprio governo em criar condições no país para a produção de medicamentos biológicos, uma vez que hoje os principais exportadores são países europeus, Índia e China. “Neste momento, o Brasil precisa sair da inércia de ser um mero importador para ser um conhecedor e produtor dos biológicos”, pontua.

Mais do que ser um gerador de biotecnologia, a produção nacional buscada pelas indústrias farmacêuticas deve possibilitar também que o acesso aos medicamentos biológicos se torne melhor. É o que sustenta o mastologista Franklin Pimentel, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “A entrada de mais pessoas na disputa pode facilitar o processo, baratear o custo e ampliar acesso no Brasil e global”, define.

Pimental lembra que, atualmente, terapias com medicamentos biológicos não estão disponíveis pelo SUS a todos os pacientes que têm uma mesma patologia. Isso pode interferir diretamente no tempo de vida destas pessoas. O médico cita como exemplo o estudo conduzido por várias instituições, entre elas a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e publicado neste ano pelo Journal of Global Oncology, que mensura a perda prematura de vidas de pacientes com câncer de mama devido à falta de acesso à terapia anti-Her2 na rede pública. As terapias monoclonais mais avançadas, que passam pelos medicamentos biológicos trastuzumabe e pertuzumabe, não estão disponíveis para mulheres em estágio avançado da doença pelo SUS.

“Em 2018, vão expirar a patente de anticorpos monoclonais de faturamento anual de 68 bilhões de dólares. Se o mercado de biossimilares der uma chacoalhada nisso e diminuir 20% o preço, seria uma economia de 14 bilhões de dólares. Se for 40% do preço, seria uma economia de 28 bilhões de dólares”, calcula Pimentel. Estes recursos otimizados, assinala, podem ser tanto investidos pelo governo em outros medicamentos, como em mais pesquisas.

Outro benefício citado pelo especialista com a atenção à produção de biológicos e biossimilares no Brasil é a solidez de fornecimento e a capacitação de profissionais na área da inovação. “Isso aumenta a competição e a saída da zona de conforto”, pontua.


PDP’S BUSCAM DESENVOLVIMENTO DE 88 MEDICAMENTOS


O Ministério da Saúde tem atualmente 86 parcerias de desenvolvimento de produtos (PDP’s) biológicos vigentes, que envolvem 18 laboratórios públicos e 43 privados. Ao todo, está previsto o desenvolvimento de 88 medicamentos, quatro vacinas e 13 produtos para a saúde. Por meio das PDP’s, já são disponibilizados 26 medicamentos biológicos não produzidos no país, como biofármacos para tratamento oncológico, hormônio do crescimento e doença de Gaucher. A economia prevista ao final dos projetos em fase de PDP é de R$ 5,3 milhões.

A Libbs Farmacêutica, de São Paulo, é uma destas indústrias cuja parceria com o governo deve produzir seis anticorpos monoclonais biossimilares – rituximabe, bevacizumabe, palivizumabe, adalimumabe, etanercepte e trastuzumabe. São tratamentos que duram de 6 a 24 meses e possibilitam benefício ao paciente antes impossível de ser obtido somente com o uso de quimioterápicos, com perfil de toxicidade aceitável. A empresa deve transferir tecnologia para o Instituto Butantan.

A inauguração da fábrica de biotecnologia da Libbs, a Biotec, ocorrerá em novembro. O projeto tem investimentos previstos de R$ 477 milhões, oriundos do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A verba é destinada a estudos clínicos e à construção da planta biofarmacêutica. “É fundamental que o país se estabeleça nesta tecnologia dos medicamentos biossimilares. Pela primeira vez, estamos pari passu com as discussões sobre o assunto que estão acontecendo em países da Europa”, comenta a diretora de Relações Institucionais da Libbs, Márcia Bueno.

O primeiro medicamento biossimilar a ser produzido pela indústria será o rituximabe, voltado ao tratamento de linfoma não Hodgkin e outras doenças autoimunes. Toda a produção na fábrica contará com sistema single use, que atua com biorreatores com bolsas descartáveis para a produção dos anticorpos monoclonais. O modelo promove economia de 80% de água e 90% de produtos de limpeza. Depois de usadas, as bolsas esterilizadas e incineradas.




Nanocápsulas reduzem tumor cerebral maligno em camundongos

21/10/2016 - Portal Exame


Qualquer medicamento administrado contra doenças cerebrais precisa enfrentar um escudo natural até chegar ao cérebro: a barreira hematoencefálica, uma estrutura de permeabilidade altamente seletiva que protege o sistema nervoso central de substâncias potencialmente neurotóxicas presentes no sangue. De acordo com especialistas, 98% dos medicamentos não conseguem ultrapassá-la – e aqueles que o fazem, em geral, necessitam ser administrados em altas concentrações e podem causar efeitos adversos graves.

Para ampliar o alcance de fármacos no cérebro empregando doses seguras, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) utilizaram cápsulas de dimensões nanométricas, capazes de atravessar a barreira hematoencefálica e “entregar” o medicamento no local exato onde ele deve ser administrado – no caso da pesquisa, partes do cérebro tomadas por glioblastoma, tipo mais comum de tumor cerebral maligno em adultos, que ainda não conta com tratamento farmacológico eficiente.

Testes em camundongos com a doença mostraram que as nanocápsulas atravessaram a barreira hematoencefálica e, carregadas do anti-inflamatório indometacina, reduziram substancialmente o volume do tumor, em 70%. Os resultados foram obtidos durante o projeto Estudo da eficácia terapêutica de nanocápsulas de indometacina e éster etílico de indometacina: ensaios de microscopia intravital, realizado com apoio da FAPESP e coordenado por Sandra Helena Poliselli Farsky.

“Um dos efeitos adversos da indometacina é a lesão gastrointestinal. Nos experimentos, a administração crônica, por via oral, desse anti-inflamatório sem as nanocápsulas acabou levando os animais a óbito devido a lesões gastrointestinais. Diferentemente, a administração da nanocápsula carreando indometacina não causou dano gastrointestinal e reduziu significantemente o tumor”, conta a pesquisadora.

Para Stephen Fernandes de Paula Rodrigues, pós-doutorando supervisionado por Farsky, “o sucesso dos testes representa uma grande possibilidade de melhora na condição de saúde dos pacientes com glioblastoma, que, na maioria dos casos, têm uma sobrevida curta, de cerca de 12 meses”.

“Trata-se de uma doença muito severa e cujos tratamentos disponíveis ainda são pouco eficazes, pois a cirurgia não é capaz de retirar todas as células tumorais, muito ligadas ao tecido cerebral, e a quimioterapia precisa ser muito agressiva para atravessar a barreira hematoencefálica, provocando efeitos adversos importantes.”

O tratamento quimioterápico convencional de glioblastoma envolve a administração do fármaco temozolomida, de custo elevado e com poucas garantias de eficácia. Entre os efeitos adversos da sua administração em concentração suficiente para atravessar a barreira hematoencefálica estão danos à medula óssea vermelha, onde se encontram as células-tronco hematopoiéticas, responsáveis por gerar as células necessárias à reconstituição do sangue e do sistema imunológico.

Também foi observada leucopenia, decorrente da produção prejudicada de células brancas e da sua mobilização para o sangue com rapidez insuficiente. Os glóbulos brancos combatem infecções, de modo que níveis baixos dessas células aumentam a suscetibilidade do organismo ao problema.

As nanocápsulas utilizadas como alternativa à quimioterapia convencional foram obtidas por Sílvia Stanisçuaski Guterres e Adriana Raffin Pohlmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a partir de polímeros de poli(epsilon-caprolactona), composto químico que, por ser biodegradável e biocompatível, não oferece toxicidade ao organismo. As pesquisadoras agregaram à síntese das nanocápsulas a indometacina, que, além de controlar a inflamação, reduz a dor e combate a febre.

Inicialmente, foi testada a capacidade das nanocápsulas de atravessar a barreira hematoencefálica de cérebros sadios de camundongos. Para isso, elas foram marcadas com um agente fluorescente durante o processo de síntese, sendo rastreadas na corrente sanguínea e no tecido cerebral dos animais por meio de microscopia intravital, tecnologia que permite a observação e o imageamento in vivo de sistemas biológicos.

Em condições normais, a fluorescência seria observada apenas no interior dos vasos, pois a barreira hematoencefálica impediria o avanço das moléculas. Já com as nanocápsulas, foi possível acompanhá-la do interior dos vasos até o parênquima cerebral, o tecido do cérebro, atravessando a barreira com sucesso.

Depois de confirmada a capacidade de infiltração, os pesquisadores induziram glioblastoma nos camundongos e os trataram com as nanocápsulas de indometacina, observando a redução do volume tumoral sem reações adversas, o que sugere o transporte com sucesso da indometacina e o efeito do fármaco nas células do tumor.

Para os pesquisadores, os resultados são promissores e podem levar ao desenvolvimento de uma nova estratégia de tratamento de glioblastoma e de outras doenças que afetam o sistema nervoso central, como as de Alzheimer e de Parkinson.

“Ainda serão necessários muitos estudos laboratoriais até que sejam possíveis os testes em humanos, mas, uma vez que a barreira hematoencefálica é um impedimento à administração de uma série de medicamentos, a capacidade de ‘ancorá-los’ em cápsulas de dimensões tão diminutas e de fácil permeação celular pode ser explorada com grandes chances de êxito, ajudando, inclusive, na prevenção de doenças em áreas sadias do cérebro”, diz Rodrigues.

Os resultados da pesquisa podem ser conferidos no artigo Lipid-core nanocapsules act as a drug shuttle through the blood brain barrier and reduce glioblastoma after intravenous or oral administration, publicado na Journal of Biomedical Nanotechnology. Assinam o paper Stephen Fernandes de Paula Rodrigues, Luana Almeida Fiel Baumbach, Ana Lucia Borges Shimada, Natalia Pereira, Sílvia Stanisçuaski Guterres, Adriana Raffin Pohlmann e Sandra Helena Poliselli Farsky.




"Empresas farmacêuticas vendem doenças para vender remédios", diz psiquiatra

22/10/2016 - Zero Hora Online


Renomado psiquiatra da atualidade, o norte-americano Allen Frances se tornou um dos maiores críticos do que ele define como "inflação de diagnósticos".

Autor do livro Voltando ao normal, que está sendo lançado no Brasil pela Versal Editores, Frances questiona os critérios definidos pela quinta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria em 2013, e que trouxe uma ampliação do número de transtornos.

Na avaliação de Frances, que liderou a equipe que elaborou a edição anterior, de 1994, a profusão de enquadramentos difusos estaria levando até pessoas normais a serem medicadas, um cenário estimulado pela indústria farmacêutica. "Estamos nos tornando uma população de viciados em comprimidos", alerta, no livro.

Na publicação, ele afirma ainda que "80% das prescrições são dadas por clínicos gerais com pouco treinamento em seu uso adequado, sob pressão intensa de vendedores ou de pacientes mal informados, depois de apressadas consultas de sete minutos, sem exames sistemáticos".

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, ele avalia os riscos desse quadro, que define como a "verdadeira loucura".


O senhor diz que alguns comportamentos normais têm sido definidos como doença mental. Como chegamos a esse ponto?

A fronteira entre uma angústia normal e um transtorno psiquiátrico é muito difusa e altamente povoada. Pequenas mudanças nas definições de transtornos, e suas aplicações, podem rotular novamente milhões de transtornos, bem como doenças mentais. As empresas farmacêuticas, de forma agressiva e enganosa, vendem doenças psiquiátricas para vender seus remédios. Aflição normal é uma parte da vida e não deve ser falsamente rotulada como transtorno mental.

O senhor é um crítico do DSM-5. Quais os principais erros, na sua opinião? E quais as consequências?

As definições de transtorno mental do DSM-5 são frouxas demais, e as empresas de medicamentos exploram isso para vender pílulas e obter lucro. No DSM-5, imaturidade normal se torna transtorno de déficit de atenção. Uma angústia normal se torna distúrbio depressivo maior. Um esquecimento normal da idade se torna transtorno neurocognitivo leve. Comer demais se torna compulsão alimentar. Temperamento instável se torna transtorno disruptivo de desregulação do humor. Sintomas clínicos se tornam transtorno somatoforme. As consequências do hiperdiagnóstico são excesso de tratamentos inúteis, remédios potencialmente prejudiciais e estigma.

Como diferenciar a nova definição de transtorno de compulsão alimentar de simplesmente comer demais às vezes?

Eu acho que foi um grande erro incluir essa compulsão alimentar periódica no DSM-5 porque essa distinção não vai ser possível. Uma empresa farmacêutica nos Estados Unidos já está empurrando este transtorno falso na TV com endossos de um ex-campeão de tênis. A solução sugerida, a pílula de dieta, não vai funcionar e engana o público.

Nos últimos anos, temos visto uma proliferação de diagnósticos de déficit de atenção e hiperatividade entre crianças. Elas estão mais propensas a sofrer distúrbios mentais do que antigamente ou esse é um outro exemplo de erro de diagnóstico?

Estudos em milhões de crianças em quatro diferentes países mostram que a maior propensão de ter diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade está na sua data de nascimento: crianças mais jovens da classe, que são naturalmente mais imaturas, têm duas vezes mais chances de ganhar o rótulo do que as mais velhas. As empresas farmacêuticas têm persuadido médicos, pais e professores a transformar imaturidade em uma doença e tratá-la com comprimidos. Isso é loucura.

Quem é responsável por este cenário?

A definição de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é muito abrangente, e empresas farmacêuticas têm se aproveitado disso.

Como pacientes e familiares podem se proteger?

Eles devem ser informados do risco do excesso de diagnósticos. Não aceitar o diagnóstico ou um comprimido depois de uma rápida visita ao médico. As crianças são mais difíceis de serem diagnosticadas, e avaliações devem ser aprofundadas e ponderadas depois de semanas ou meses antes de qualquer decisão por medicação.

Existe estimativa sobre a proporção de erros de diagnóstico no mundo?

Nós provavelmente hiperdiagnosticamos cerca de dois terços das pessoas com sofrimentos normais, que poderiam estar melhores se não fossem tratadas, e muitas vezes deixamos de diagnosticar e tratar muitos desses distúrbios severos de pessoas que precisam desesperadamente de ajuda. O cruel paradoxo é, essencialmente, que muitas pessoas normais que não precisam de medicamento estão sendo medicadas, enquanto negligenciamos as pessoas com doença mental grave, que frequentemente não recebem nenhum tipo de tratamento.

O que significa ser normal?

Não há nenhuma definição precisa do "normal" para separar quem é saudável e doente. Dor emocional e ansiedade são parte da vida e só devem ser diagnosticadas como transtorno mental se forem persistentes, graves e desproporcionais diante das circunstâncias da vida.

Recife usa centro multidisciplinar para tratar má-formação

23/10/2016 - O Estado de S.Paulo


O atendimento aos bebês com microcefalia no Recife tem como unidade principal o Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI), centro responsável pelo trabalho de reabilitação das crianças.

Lá, o vínculo entre mães e bebês é estimulado, fator considerado pelos médicos como imprescindível para a evolução das vítimas da má-formação.

O serviço funciona na Policlínica Lessa de Andrade. Ele é composto por ambulatório multiprofissional especializado em desenvolvimento infantil. As crianças recebem estimulação sensoperceptiva e psicomotora e, com as mães, têm acompanhamento pediátrico e neurológico.

Passam ainda por especialistas em terapia ocupacional, fonoaudiologia, nutrição, assistência social e psicologia.

“A estimulação precoce é o que vai ser o diferencial para o desenvolvimento cognitivo, motor e social”, diz a diretora da Policlínica, Priscila Ferraz, contando que os pacientes chegam ali encaminhados pelas maternidades e pelos postos de saúde públicos.

A dona de casa Crislayne Cristina, de 19 anos, foi ao núcleo com o filho Pietro Rafael, de 10 meses, encaminhada por um posto de saúde. Após meses de tratamento, ela se diz feliz com a evolução do filho. “Pietro não sentava e agora senta. Espero que, com a evolução do tratamento, ele possa falar, andar, estudar, jogar bola e trabalhar.” Os especialistas do núcleo trabalham em conjunto com outra equipe, a do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Os bebês e suas mães passam por sessões de 30 minutos por especialidade.

Atualmente, 53 crianças do Recife são acompanhadas pelo NDI, como é o caso do filho da dona de casa Alexsandra Maria da Silva, de 35 anos. Ela é outra mãe que notou a evolução do filho – Diogo Ercílio Silva dos Santos, de 10 meses. “Ele levanta a cabeça, olha para as pessoas e abre as mãos. Antes ele não fazia nada disso.” Diogo vai ao núcleo às sextasfeiras.

Passa pelo terapeuta ocupacional, pelo fisioterapeuta e pelo fonoaudiólogo. Uma vez por mês, a consulta inclui a avaliação de um neurologista e de um pediatra. “O nosso objetivo é estimular as etapas motoras da criança. Aquelas com problemas neurológicos têm atraso do sistema motor. Daí a importância de fazer o máximo de atividades para estimular esse sistema”, diz a fisioterapeuta Valéria Barros.

Terapeuta ocupacional do NDI, Consuelo Figueira diz que o afeto das mães no início da vida dos bebês é a parte mais importante para a continuidade do trabalho. “O olho no olho da mãe com o bebê é fundamental.”




‘Há situações em que modelo animal vai ser mesmo indispensável’

23/10/2016 - O Estado de S.Paulo


O desenvolvimento de métodos alternativos é bem-vindo pela maioria dos cientistas, mas poucos acreditam que eles poderão substituir por completo os modelos animais.

“Não tem como simular toda a complexidade de um organismo numa cultura de células ou num computador”, diz o imunologista Jean Pierre Peron, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, responsável pelos experimentos com camundongos que ajudaram a comprovar, no início deste ano, uma relação causal entre o vírus da zika e másformações no cérebro de bebês.

A resposta da ciência à epidemia de zika é um bom exemplo da complementaridade dos testes in vitro (com células) e in vivo (com animais). As primeiras evidências concretas de que o vírus interferia no desenvolvimento do sistema nervoso vieram de estudos in vitro com organoides celulares – conhecidos como “minicérebros” –, mas a prova definitiva só veio mesmo com a reprodução do fenômeno em camundongos.

Peron injetou o vírus em fêmeas prenhas e observou que parte dos seus filhotes nascia com más-formações no cérebro semelhantes às de bebês humanos com microcefalia.

“Como é que você vai demonstrar isso sem o modelo animal? Não tem como”, argumenta o cientista.


SITUAÇÕES


Os organoides são um avanço importante, tanto para teste de medicamentos quanto para pesquisa básica de doenças, “mas há situações em que o modelo animal vai ser mesmo indispensável”, avalia o pesquisador Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, que foi o primeiro a mostrar que o vírus da zika era capaz de matar neurônios – usando “minicérebros”.

“Não vejo substituição total, mas o avanço dos métodos alternativos nas próximas décadas será enorme”, diz José Mauro Granjeiro, do Inmetro.




Mercado Aberto: Põe na tela, doutor

23/10/2016 - Folha de S.Paulo


O Hospital 9 de Julho e a Microsoft acabam de firmar um acordo para testar uma nova tecnologia para reduzir riscos de acidentes, como a queda de leito.

A ideia, em desenvolvimento pela empresa, é ter em até doze meses, um monitoramento de imagens em tempo real para prevenir "movimentos anormais" dos pacientes, diz o diretor-geral Alfonso Migliore Neto.

A tecnologia também deverá ser testada em áreas como segurança pública e corporativa, varejo, além de outras aplicações no setor de saúde, explica Luiz Pires, diretor do centro de pesquisas da Microsoft no Brasil.

"No futuro, poderá ser um novo método de apoio à decisão clínica", segundo Migliore, do 9 de Julho.

O hospital, que neste ano inaugurou uma nova torre e chegou a um total de 410 leitos, planeja investir cerca de R$ 100 milhões em 2017.

Serão feitas novas ampliações, no pronto socorro e na UTI, além da criação de outros 60 leitos. As obras deverão ser finalizadas até o fim do ano que vem.

R$ 850 milhões

deverá ser a receita do hospital neste ano, uma alta prevista de 30% em relação a 2015

R$ 350 milhões

foram investidos em ampliação nos últimos três anos

4.000

médicos trabalham no hospital, além de 2.390 funcionários




Cobaias dão lugar à nova geração de células em pesquisa

23/10/2016 - O Estado de S.Paulo


Talita Marin recebe os visitantes em seu laboratório mostrando o que parece ser um pontinho preto na ponta de uma agulha. Nada muito impressionante; até ela dizer: “Esse aqui é um coração”.

Não um coração completo, com átrios e ventrículos, mas uma esfera de células cardíacas humanas, que os cientistas buscam transformar em uma alternativa ao uso de animais para teste e pesquisa de medicamentos.

“Tudo o que a gente faz com camundongos, a gente quer fazer com esses organoides”, explica Talita, pesquisadora do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas.

Dentro de uma estufa, mantida sempre a 37ºC – a temperatura do corpo humano –, várias cardioesferas como aquela são encubadas em placas, interligadas por um sistema circulatório artificial a organoides de fígado ou intestino. A placa é conectada a uma bomba peristáltica, que faz o fluido dentro dela circular de um compartimento a outro, ao ritmo de 60 batimentos por minuto – equivalente a um pulso humano.

Para testar uma substância, basta injetá-la na placa, como se fosse uma injeção numa pessoa.

A tecnologia, alemã, é conhecida como chip de órgãos, ou “ser humano num chip”.

“Queremos chegar o mais próximo possível de um ser humano in vitro”, diz o gerente de desenvolvimento de fármacos do LNBio e coordenador do projeto, Eduardo Pagani.

Ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido, mas, para Pagani e muitos outros cientistas, já é um caminho sem volta. Passados três anos da invasão do Instituto Royal, em 18 de outubro de 2013, a busca por métodos alternativos, capazes de reduzir ou substituir o uso de animais em laboratório, é hoje uma atividade consolidada na ciência brasileira.

Todos os métodos alternativos validados mundialmente já foram aprovados para uso no País pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). São 24, incluindo o uso de células em cultura para testes de toxicidade, potencial corrosivo e outras propriedades de substâncias candidatas a fármacos ou cosméticos.

Por enquanto, o uso é facultativo, para dar tempo de os laboratórios se capacitarem; mas a partir de 2019, eles passam a ser obrigatórios. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem um edital em andamento para investir mais R$ 1,1 milhão na pesquisa de métodos alternativos no País.

“O que era o patinho feio, virou consenso. Todos nós queremos a mesma coisa”, diz Pagani, referindo-se a ativistas, cientistas, órgãos reguladores e indústria farmacêutica.

“Muita coisa avançou. Entramos num círculo virtuoso que não tem mais volta”, diz o bioquímico José Mauro Granjeiro, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e ex-presidente do Concea.


DESAFIOS


Em todo o mundo, os esforços nessa área são guiados pelo “princípio dos 3 Rs”, que em inglês referem-se a Replacement (Substituição), Reduction (Redução) e Refinement (Refinamento).

As estratégias diferem para cada meta, mas o objetivo final é o mesmo: diminuir o número de animais usados em pesquisa científica. No Brasil, esse número está em torno de 900 mil por ano, segundo dados do Concea.

Na União Europeia, passa de 11 milhões, dos quais 60% são camundongos.

Os Estados Unidos não mantêm estatísticas.

O grande desafio da substituição é garantir que esses métodos alternativos deem uma resposta tão robusta e confiável quanto os testes-padrão feitos com animais. No caso dos cosméticos, essa transição já está bem madura. Testes agressivos de irritabilidade e toxicidade, antes feitos em animais, agora são feitos em culturas de células ou peles humanas “artificiais”, produzidas em laboratório.

No caso dos medicamentos e vacinas, a substituição é mais complicada, pois a quantidade e a complexidade dos testes necessários é muito maior. Nesse caso, aposta-se principalmente na redução e no refinamento.

Assim como os animais são usados como uma “peneira”, para evitar que compostos perigosos (ou inúteis) sejam testados em seres humanos, tecnologias estão sendo desenvolvidas para retribuir o favor, peneirando as moléculas in vitro – ou in silico: em computadores – antes de testá-las nos animais.

É o caso do “chip de órgãos” do LNBio, que é um dos três laboratórios centrais da Rede Nacional de Métodos Alternativos (Renama), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

“Tudo que for candidato a fármaco vai ser testado primeiro nesse chip”, aposta Talita. O uso dos organoides num sistema integrado, segundo ela, aumenta o valor preditivo dos testes, em comparação com as culturas de células tradicionais, isoladas em placas.

“Assim eu só mando para ser testado em animais aquilo que for realmente promissor”, explica Pagani. “Tem muita coisa testada em animais que é inviável.

Se a gente souber que ela é inviável antes, evitamos testes desnecessários.”




Brasil já perdeu 42% das operadoras

24/10/2016 - DCI


São Paulo - A saúde suplementar registrou em 15 anos uma queda de 42% no numero de operadoras ativas no mercado, segundo estudo técnico elaborado pela Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).

Segundo o relatório da associação liberado na última sexta-feira, em 2000, ano em que a Agência Nacional de Planos de Saúde (ANS) foi criada, havia 1.456 players em funcionamento no País. Em 2015, porém, este número já era de apenas 843 empresas. "Em outras palavras, nos últimos 15 anos, 615 operadoras desapareceram", disse a Abrange, em comunicado. Segundo o relatório, as principais dificuldades que levaram as operadoras a deixar o mercado foram disponibilização de vultosas somas de capital; ganhos de escala; necessidade de diluir o risco; dependência de progresso tecnológico e diversas outras barreiras à entrada de novos players no mercado, como o desenvolvimento de redes de atendimento, observância de normas e obtenção de autorização prévia da ANS. "Os reflexos deste cenário é o aumento da concentração do mercado na mão de grandes empresas, dificuldade de especialização (ex. empresas focadas no atendimento a idosos) e o surgimento de operadoras de âmbito regional", diz a Abramge.


RESULTADO NEGATIVO


"O resultado dessa conjuntura desfavorável", relata o estudo da associação, "é a situação de total insolvência que um número importante de operadoras enfrenta".

Segundo o estudo, quase 70 operadoras de planos de saúde encerraram o ano de 2015 com patrimônio líquido negativo, dentre elas 55 operadoras de pequeno porte, 10 de médio porte e 4 de grande porte.

Para se ter uma ideia, em 2007 e 2010, nenhuma das operadoras de grande porte se encontravam em situação de patrimônio líquido negativo.




Células-tronco à brasileira

22/10/2016 - O Globo


Cientistas do Centro de Terapia Celular da Universidade de São Paulo (CTC/ USP) acabam de criar 18 novas linhagens de células-tronco cujos genomas melhor refletem a miscigenação brasileira, numa prova de conceito de um projeto que deverá dar um gigantesco impulso para as pesquisas sobre mecanismos de doenças e os efeitos de medicamentos na população do país. As novas linhagens são de um tipo conhecido como de pluripotência induzida (iPS, na sigla em inglês), em que, por meio de técnicas sofisticadas, células já “adultas” são forçadas a regredirem ao estágio de embrionárias.

E, assim como as células-tronco embrionárias, as iPS são capazes de se transformarem nas células que constituem praticamente todos os tecidos do corpo. Por isso, elas e as culturas de células diferenciadas delas derivadas, como as que formam o músculo do coração ou que produzem insulina no pâncreas, são cada vez mais usadas por cientistas para investigar os mecanismos biomoleculares dos mais variados tipos de males, assim como pela indústria farmacêutica no desenvolvimento de moléculas promissoras que poderão se tornar futuros remédios, por vezes substituindo até os testes com animais.

— Até agora, os pesquisadores brasileiros só tinham como opção nacional para estes estudos cinco linhagens de células-tronco, todas com uma ancestralidade predominantemente europeia — destaca Lygia Veiga Pereira, professora titular e chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE) da USP, responsável pela criação tanto destas linhagens antigas quanto as novas, relatada em artigo publicado recentemente no periódico científico “Scientific Reports”, editado pelo prestigiado grupo “Nature”. — Como estas linhagens foram derivadas de embriões que seriam descartados por clínicas de fertilização, que por vários motivos socioeconômicos que conhecemos não atendem toda a diversidade da população brasileira, elas acabaram por também não refletir a alta miscigenação característica de nossa população.


AMOSTRAS DE DIVERSIDADE GENÉTICA


Assim, os cientistas liderados por Lygia partiram em busca de outra fonte de materiais biológicos que melhor espelhassem a diversidade genética dos brasileiros. E não tiveram que ir muito longe para encontrá-la: dentro da própria USP, vários funcionários participam do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa), uma pesquisa de longo prazo promovida pelo Ministério da Saúde com o objetivo de investigar a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas na população brasileira, em especial as cardiovasculares e o diabetes. Ao todo, o Elsa conta com mais de 15 mil voluntários que trabalham em seis instituições públicas de ensino superior e pesquisa das regiões Nordeste, Sul e Sudeste: além da USP, a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e as universidades federais da Bahia (UFBA), Espírito Santo (Ufes), Minas Gerais (UFMG) e Rio Grande do Sul (UFRGS).

— De repente, vimos que tínhamos acesso a amostras de uma grande população de brasileiros com a diversidade genética que precisávamos, sem estarem limitados por fatores sociais ou econômicos — lembra Lygia.

Então, com apoio do Ministério da Saúde e autorização dos participantes do Elsa, os pesquisadores da USP receberam parte do sangue coletado de 1.872 voluntários do estudo na região de São Paulo, do qual separaram e congelaram células sanguíneas adultas. Destas chamadas “células primárias” eles escolheram 18 ao acaso para criar as novas linhagens de células-tronco, que, de fato, ficaram mais com a cara do Brasil. Isso porque enquanto as linhagens embrionárias nacionais originais tinham um genoma com uma taxa de ancestralidade europeia que variava entre 92,7% to 98,6%, nas 18 novas a contribuição genética dos europeus foi de 14,2% a 95%, com o genoma de ancestralidade africana variando de 1,6% a 55,1% e a de nativos americanos (índios) indo de 7% a 56%.

Mais ainda, em quatro destas novas linhagens, assim como em duas das antigas, os cientistas da USP também verificaram a ancestralidade de partes específicas do genoma, conhecidas como genes CYP, que comandam a produção de enzimas responsáveis pelo metabolismo da grande maioria dos remédios usados no mundo. Com isso, eles identificaram, por exemplo, casos em que embora o indivíduo tivesse uma ancestralidade majoritariamente europeia, alguns de seus genes CYP eram originários de genomas africanos ou nativo americanos, ou então um voluntário de descendência majoritariamente africana com alguns genes CYP europeus.

— Temos combinações genéticas muito novas e fundamentalmente diferentes de outras populações do mundo que não têm uma alta miscigenação como a nossa — resume Lygia.

Mas a associação com o Elsa deu ao grupo da USP muito mais do que uma fonte bem diversa de amostras genéticas da população brasileira. Como o estudo do Ministério da Saúde está de olho em doenças crônicas, elas também vieram com um extenso histórico clínico dos participantes. Com isso, os cientistas liderados por Lygia sabem, por exemplo, que cerca de 400 das 1.872 amostras vêm de pessoas que sofrem com a hipertensão, das quais aproximadamente 10% são resistentes à medicação normalmente usada para controlar o problema. Assim, eles estão prontos para produzir células-tronco destas amostras para que outros pesquisadores investiguem o porquê desta resistência e quais remédios seriam mais indicados ou poderiam ser desenvolvidos para atender a esta parcela da população brasileira.

— Isto agrega ainda mais valor ao estudo — destaca Lygia. — À medida que guardamos este material e podemos criar células-tronco a partir dele, temos novos potenciais de pesquisas para responder muitas perguntas sobre os mecanismos de doenças e resposta a medicamentos específicos para o perfil genético da população brasileira. Podemos gerar praticamente de imediato iPS de um determinado indivíduo participante do Elsa de acordo com seu quadro clínico e o interesse do pesquisador.


EM BUSCA DE FINANCIAMENTO


Diante disso, Lygia e seu grupo agora buscam recursos para expandir a coleção de amostras e, consequentemente, a “biblioteca” de células-tronco com a diversidade genética dos brasileiros que poderão ficar disponíveis para os cientistas. Nesta que esperam que seja apenas a primeira fase do projeto, financiada pela Fapesp, BNDES e CNPq, foram investidos cerca de R$ 2 milhões, mas segundo Lygia daqui para frente o processo ficará mais barato. Desta forma, ela acredita que com mais R$ 1 milhão poderia caracterizar geneticamente e armazenar as células primárias dos mais de cinco mil participantes do Elsa em São Paulo, e com um total de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões abarcar todos os cerca de 15 mil voluntários do estudo.

— Já temos o projeto para isso pronto, mas ultimamente não tem sido um bom momento para os investimentos em pesquisas científicas no Brasil — lamenta. — Com a indefinição política, passamos mais ou menos um ano parados, mas agora podemos voltar a sentar e conversar sobre este financiamento. Já provamos o valor científico do que fizemos e podemos fazer, e as pesquisas e conhecimentos que esta eventual grande coleção vai gerar poderão representar uma enorme economia para o sistema de saúde lá na frente.

A cor do mês

23/10/2016 - Folha de S.Paulo


Outubro é rosa, novembro é azul, dezembro é laranja, mas também vermelho. Sociedades de médicos e pacientes e ONGs se acotovelam na disputa por um espaço no calendário para promover os chamados meses de conscientização de algumas doenças.

Mas nem tudo por trás das campanhas, em sua maioria apoiadas por farmacêuticas, é cor-de-rosa. As ações nem sempre se traduzem em mais saúde e, para especialistas, podem levar a consultas e exames desnecessários.

O mais famoso dos meses coloridos, o Outubro Rosa, foi criado há mais de 20 anos e envolvia a distribuição de laços rosas como forma de alertar sobre o câncer de mama, o mais comum entre as mulheres depois do câncer de pele.

Com o tempo, a causa foi crescendo e ganhando apoio de diversas formas: com a iluminação de monumentos e edificações na cor temática, com corridas de rua ou com mutirões de exames gratuitos. Para as empresas que apoiam a campanha, a lógica é colar a marca em uma causa nobre, explica Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).

"Esse tipo de câncer tem muito apelo por causa da mulher. Além da chance de cura, elas querem saber se haverá mutilação ou não", diz.

Mas, se em outubro parece haver primazia do câncer de mama, em novembro a história envolve a briga entre duas duas doenças pelo mês e pela cor azul: o câncer de próstata e o diabetes.

Historicamente, o Dia Internacional do Diabetes –celebrado em 14 de novembro– é mais antigo, de 1991, e sua criação contou com o respaldo da OMS (Organização Mundial da Saúde).

A ideia de alargar o período de conscientização diabetes de um dia para um mês inteiro nasceu em 2009, no ABC paulista, relata Márcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Diabetes. Nascia aí um Novembro Azul.

Ante isso, surgia o Moustache November (Movember), ou"novembro de bigode", para levantar fundos contra o câncer de próstata na Austrália, em 2004.

Por aqui, o Instituto Lado a Lado (organização de promoção de saúde), idealizado pela jornalista Marlene Oliveira, começou a fazer campanhas de conscientização sobre o câncer de próstata em 2009. A iniciativa teve apoio da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e, em 2011, apareceria mais um Novembro Azul.

Não houve acordo entre as partes. Marlene diz que "as duas causas eram importantes, mas cada um ficou de trabalhar do seu jeito, já que não havia harmonia". "Hoje, o Novembro Azul é da próstata."

Em defesa do novembro do diabetes, Krakauer diz que a doença metabólica faz muito mais vítimas do que o câncer de próstata. São estimadas 80 mil mortes anuais por causa do diabetes, contra 14 mil do câncer de próstata.

"Tem que atingir pessoas que não sentem nada e que não querem nem saber sobre diabetes. E a razão de a maioria não querer nem pensar a respeito é o estigma de que diabético não pode comer doce", afirma. Entre as ações do Novembro Azul do diabetes estão shows com artistas diabéticos e não diabéticos, além de palestras educativas.

Tentando repetir o sucesso do Outubro Rosa e do Novembro Azul, outros meses coloridos surgiram, como o Setembro Verde, que incentiva a doação de órgãos, o Dezembro Laranja, do câncer de pele, e o Junho Vermelho, da doação de sangue.


MAIS CONSULTAS


Archimedes Nardozza, presidente da SBU, diz que campanhas como o Novembro Azul (nesse caso, o da próstata) acabam gerando um maior número de visitas no consultório para check-ups. "O homem ainda tem receio de médico. Quem procura é porque um amigo teve câncer ou porque a mulher mandou."

Ele diz que a campanha tem muitos parceiros, "especialmente farmacêuticas e empresas que têm produtos para homens." Uma iniciativa comum são médicos que dedicam um pouco do seu tempo, durante a campanha, a fazer palestras de esclarecimento em empresas. Os honorários, quando existem, são revertidos para a causa.

Mas, para Nardozza, ainda é difícil competir com o Outubro Rosa: "É difícil encontrar alguma celebridade que tope falar sobre câncer de próstata". Para o médico, uma das coisas que deixa o assunto menos atraente é a possibilidade de dificuldades de ereção por causa do tratamento.


EXAMES


Para Rodrigo Lima, médico da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, as campanhas podem também trazer informações equivocadas e levar a exames desnecessários.

"Fazer rastreamento de doenças nesse contexto beira a crueldade. Você pega pessoas assintomáticas, convence elas a fazer um exame falando que é para o bem delas. E quando o exame encontra alguma coisa a ser investigada, a gente fala que só tem vaga para daqui três ou quatro meses."

A questão é complicada, e o SUS carrega parte da culpa, afirma Freitas-Júnior, da SBM. "Estudos nossos mostram que o fato de a mulher do SUS saber precocemente ou não que ela tem câncer de mama não dá a ela uma chance maior de estar viva depois de dez anos", diz o mastologista.

Check-ups e exames sem a presença de sintomas ou sem evidências científicas de que funcionem para rastrear doenças em certas faixas etárias são, inclusive, questionados por várias entidades, como a U.S. Preventive Services Task Force, ligada ao governo americano. Isso porque podem indicar falsos-positivos e gerar angústia e procedimentos desnecessários.

Para Mônica Assis, sanitarista da divisão de detecção precoce do Inca, iniciativas como recrutar mulheres de toda idade para fazer mamografias em outubro é uma má ideia.

"Detectar precocemente não serve de nada se não podemos oferecer o tratamento mais próximo da descoberta do sintoma. A saída não é fazer mamografia indistintamente. Sem critérios, joga-se dinheiro no lixo, alarmando mulheres sem ser efetivo. Há uma superinformação, também com viés mercadológico, de que quanto mais exames, melhor. Mas o certo é quanto melhor indicado os exames, melhor."

"O esforço com cara de solidariedade é uma forma de lucrar mais", diz Lima. "Esse 'campanhismo' todo é um atestado que não estamos conseguindo oferecer um sistema de saúde decente."




Plantão Médico: O risco de fraturas em idosos diabéticos

22/10/2016 - Folha de S.Paulo


Os diabéticos recebem menor atenção e tratamento para osteoporose do que as pessoas sem diabetes, segundo pesquisa feita na Dinamarca.

Essa é a conclusão do trabalho "Epidemiologia de fraturas no diabetes", relatada na revista "Calcified Tissue International" por Jakob Starup-Linde e colaboradores da Universidade Aarhus. A pesquisa destaca que a maioria dos pacientes diabéticos nunca é avaliado para osteoporose.

A progressiva presença de diabéticos em todos os países –a denominada epidemia de diabetes– vai continuar concomitantemente com o número de obesos, como referem estudos sobre a presença global da doença realizados pela Federação Internacional de Diabetes.

Ao fator obesidade são acrescentados o aumento de idosos na população mundial e a inatividade física que levam à estimativa de 400 milhões de diabéticos para o ano 2030.

Os autores afirmam que idosos com diabetes tipo 1 têm risco sete vezes maior de fraturas do quadril –entre quem tem o tipo 2, o risco é cerca de 1,3 maior. Entre os fatores de risco para o elevado contingente de idosos diabéticos com fraturas constam idade, gênero, fraturas anteriores, uso de glicocorticoides e álcool. As doenças autoimunes também podem ter papel nas quedas.

Os autores recomendam vigilância extra através de exames radiológicos da coluna, quando indicados, para identificar fraturas de vértebras e predizer novas lesões.




'Não sou seu filho, sou sua vítima', diz jovem ao pai que o infectou com HIV

21/10/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Quando o pai de Brryan Jackson injetou uma seringa cheia de sangue com HIV nele quando ainda era bebê, ele esperava nunca ver o menino crescer, como a BBC Brasil noticiou em junho passado.

Ninguém imaginava que, 24 anos depois, ele estaria frente a frente com o filho num tribunal para ouvir sobre os efeitos devastadores de seu crime. É hora do almoço no Departamento de Correições de Missouri, nos Estados Unidos. Nervoso com a situação, Brryan Jackson é retirado da barulhenta sala de espera da prisão, com alarmes e portas de metal, e levado a um silencioso tribunal de paredes brancas.

Do outro lado da sala, um prisioneiro aguarda por ele. Eles nunca mais se viram desde que Jackson era criança, mas o homem, Bryan Stewart, é seu pai. O filho está ali para ler uma declaração que espera ser suficiente para garantir que o pai fique atrás das grades pelo maior tempo possível.

São palavras que poucos acreditavam que ele teria chance de dizer quando, em 1992, foi diagnosticado com Aids e mandado de volta para casa para morrer.

Com uma única folha de papel em mãos, Jackson se posiciona calmamente ao lado da mãe, a cinco cadeiras de distância do pai. "Tentei olhar sempre para frente. Não queria fazer contato visual com ele", diz Jackson.

Mas ele podia enxergá-lo com a visão lateral, e viu seu rosto por um breve momento. "Reconheci pela foto de quando foi preso, mas não temos nenhuma ligação. Não o reconheço como meu pai", afirma Jackson.

O conselho de avaliação de pedidos de liberdade condicional chama o rapaz para que ele leia sua declaração em voz alta. Jackson hesita.

"Naquele momento, me perguntei se estava fazendo a coisa certa, mas minha mãe sempre me ensinou a ser corajoso. Lembrei que Deus estava comigo. Qualquer que fosse o resultado da audiência, Deus é maior do que eu, do que meu pai, do que aquela sala ou mesmo o Departamento de Justiça."

Ele respira fundo, olha fixamente para os membros do conselho e começa a contar sua história.


TRAJETÓRIA


A trajetória começa quando seus pais se conheceram em um centro militar no Missouri, onde recebiam treinamento como médicos. Eles foram morar juntos e, cinco meses depois, em meados de 1991, a mãe de Jackson ficou grávida.

"Quando nasci, meu pai ficou muito animado, mas tudo mudou quando ele foi mandado para a Operação Tempestade do Deserto (primeira Guerra do Golfo, em 1990-1991). Ele voltou da Arábia Saudita com uma atitude completamente diferente em relação a mim."

Stewart começou a dizer que Jackson não era seu filho. Exigiu um teste de DNA para provar a paternidade e passou a abusar física e verbalmente da mãe de Jackson.

Quando ela finalmente o deixou, o casal brigou sobre a pensão alimentícia do menino, que Stewart se recusava a pagar. Ele fazia ameaças sinistras, segundo Jackson. "Ele costumava dizer coisas como 'seu filho não viverá além dos cinco anos de idade' e 'quando eu te deixar, não deixarei nenhum laço entre nós para trás'."

Enquanto isso, Stewart havia encontrado um novo emprego trabalhando com exames de sangue em um laboratório. Também tinha começado, em segredo, a coletar amostras de sangue infectado e levá-las para casa, segundo investigadores do caso. "Ele brincava com os colegas dizendo: 'Se eu quisesse infectar alguém com um destes vírus, a pessoa nunca saberia o que a atingiu'."

Quando Jackson tinha 11 meses de idade, seus pais já não mantinham contato. Isso mudou quando Jackson foi hospitalizado após um ataque de asma. "Minha mãe ligou para meu pai para avisá-lo, pensando que ele iria querer saber que seu filho estava doente. Quando telefonou, colegas dele disseram a ela que meu pai não tinha filhos."


CRIME


No dia em que Jackson receberia alta, Stewart fez uma visita inesperada a ele no hospital. "Como não era um pai presente, todo mundo estranhou ele aparecer daquela maneira", diz Jackson. "Ele pediu que minha mãe buscasse uma bebida para ele no café para ficar sozinho comigo."

Stewart tirou do bolso uma ampola com sangue infectado com HIV e o injetou no filho. "Ele queria que eu morresse para não pagar a pensão." Ao voltar, sua mãe encontrou Jackson aos berros no colo do pai. "Meus sinais vitais estavam todos alterados, porque o sangue que ele injetou em mim não tinha só HIV. Era de um tipo incompatível com o meu."

Os médicos ficaram abismados. Sem saber do vírus mortal que corria nas veias do bebê, eles o estabilizaram e o mandaram para casa. Mas, nas semanas seguintes, a mãe de Jackson viu a saúde de seu filho se deteriorar e ficou desesperada por um diagnóstico.

"Ela me levou a vários médicos implorando para que descobrissem por que eu estava à beira da morte", diz Jackson. Por quatro anos, exames não deram pista. Mesmo sendo uma criança, Jackson sabia que sua situação preocupava. "Lembro de acordar gritando 'mãe, por favor, não me deixe morrer'."

Uma noite, após ter sido examinado para todo tipo possível de doença, seu pediatra acordou de um pesadelo e ligou para o hospital pedindo um teste de HIV.

"Fui diagnosticado com Aids e três infecções oportunistas." Os médicos chegaram à conclusão que ele não sobreviveria e decidiram que o melhor seria levar a vida mais normal possível até o fim. "Eles me deram cinco meses de vida e me mandaram para casa." No entanto, ele continuou a ser tratado com todo medicamento disponível.


SOBREVIVENDO


Ele diz ter vivido "um dia de cada vez" por toda a infância. Permanecer vivo era como andar na corda bamba. "Um dia, eu estava bem e, na hora seguinte, estava sendo levado às pressas para o hospital por mais uma infecção."

Por causa da medicação, teve a audição do ouvido esquerdo afetada. Mas enquanto outras crianças que conhecia no hospital não resistiam, ele viu sua saúde melhorar aos poucos, para surpresa dos médicos.

Em dado momento, foi liberado para voltar à escola e começou a ter aulas em meio período, sempre acompanhado por uma mochila repleta de remédios.

Simpático e amigável, ele não tinha consciência do estigma social em torno de sua doença. "Minha escola não me queria lá. Eles tinham medo. Nos anos 1990, as pessoas pensavam que você podia contrair Aids de um assento de privada. Uma vez li em um livro-texto que era possível se infectar por contato visual."

O medo, conta ele, não costumava partir das crianças, mas dos pais delas. Jackson não era convidado para festas de aniversário –na verdade, nem sequer sua meia-irmã era chamada. Mas, ao ficarem mais velhas, as crianças passaram a reproduzir o preconceito dos pais.

"Eles me chamavam de 'menino Aids, menino gay'. Foi quando comecei a me sentir isolado e solitário. Parecia não haver um lugar no mundo para mim." Aos 10 anos, ele começou a juntar as peças da história do crime cometido por seu pai, mas levou alguns anos para compreender a dimensão daquele ato.

"No início fiquei bravo e amargo. Cresci assistindo a filmes em que os pais celebravam os filhos. Não conseguia entender como meu pai tinha feito aquilo comigo", diz Jackson.

"Ele não apenas tentou me matar, ele mudou minha vida para sempre. Ele foi responsável por toda perseguição que sofri, por todos os anos no hospital. Ele é a razão pela qual preciso ter tanto cuidado com minha saúde e com tudo que faço."


SUPERAÇÃO


Aos 13 anos, estudando a Bíblia sozinho no quarto, ele encontrou sua fé, o que o permitiu perdoar o pai. "Perdão não é algo fácil, mas não quero me rebaixar ao nível dele."

Apesar de ter nascido como Bryan Stewart Jr., no ano passado, ele acrescentou um segundo "R" ao seu nome e adotou o sobrenome da mãe. "Isso ajudou a proteger minha identidade", diz Jackson. "Também me deu a oportunidade de dizer que não tenho qualquer ligação com Bryan Stewart. Sou vítima de seus crimes."

"Na audiência, ele continuava a me chamar de filho. Tentei levantar a mão para pedir que ele se referisse a mim como sua vítima. Pensei: 'Eu já fui seu filho em algum momento? Eu era seu filho quando você injetou HIV de propósito em mim?'."

Mesmo nos piores momentos no hospital, Jackson mantinha o bom humor e fazia as enfermeiras rirem com imitações do personagem de cinema Forrest Gump.

"Sempre fiz piadas. Gosto de brincar com o que é vida de alguém HIV positivo ou de quem não tem boa audição ou não tem pai. Se não tivesse começado a fazer palestras motivacionais, teria me tornado um comediante", diz Jackson.

"As pessoas ficam confusas. Elas pensam que meu humor é uma forma de lidar com a situação, mas acredito que, se você tem a capacidade de rir de uma tragédia e das coisas ruins da vida, isso te empodera."

Em julho, Jackson recebeu uma carta do Departamento de Correições do Missouri informando que a liberdade condicional de seu pai havia sido negada pelos próximos cinco anos, com base na audiência.

"Tudo que pude fazer no tribunal foi ler minha declaração e rezar para que a Justiça fosse feita. Mas ter um veredito é algo muito poderoso", afirma. "Houve um tempo em que acordava de pesadelos com medo de que ele voltasse para terminar o trabalho. Posso tê-lo perdoado, mas, ainda assim, acho que ele tem que pagar pelo que fez."

Ainda que seu pai argumente que sofria de transtorno de estresse pós-traumático após sua temporada na Arábia Saudita, Jackson não está convencido disso - diz que o pai era da reserva da Marinha e nunca entrou em combate.


FUTURO


Enquanto isso, ele continua a superar expectativas médicas. "Sou mais saudável do que um cavalo. Minha contagem de células T (do sistema imunológico) está acima da média. Isso faz com que praticamente não tenha chances de transmitir o vírus. Tomava 23 comprimidos. Hoje só tomo um, e meu status de HIV é 'indetectável'", diz ele, com sorriso no rosto.

"Mas ainda tenho HIV. Uma vez diagnosticado, para sempre diagnosticado." Hoje, Jackson se ocupa com a carreira de palestrante e em sua organização de caridade, a Hope Is Vital (Esperança É Vital, em inglês), que busca conscientizar o público sobre o HIV. Mas sempre encontra tempo para sonhar com a paternidade.

Cita a técnica conhecida como "lavagem de esperma", que separa os espermatozoides do fluido seminal e permite que pais soropositivos tenham filhos sem infectar as parceiras. A inseminação é artificial.

"Amaria ter filhos. Ser pai é algo que está traçado no meu destino. Quero apoiar e torcer por eles, mostrar que sempre estarei ao lado deles para protegê-los. E que coisas ruins podem fazer com que coisas incríveis se tornem realidade."




Ave com gripe voa

22/10/2016 - O Estado de S.Paulo


Entre frangos e perus, existem 50 bilhões de aves em cativeiro no planeta. Do pinto ao abatedouro são 2 meses, e é provável que 100 bilhões desses animais sejam criados e abatidos todos os anos. São quase dez aves para cada Homo sapiens.

Esses animais, que antes voavam e vagavam pelos campos, salvo raras exceções, são criados em gaiolas.

São vistos pelos seus colegas de planeta, os Homo sapiens, como máquinas de transformar milho e soja em proteína. Que consumimos na forma de coxas, sobrecoxas e peitos.

Aves são especialmente eficientes nessa conversão. Em 39 dias de vida, elas convertem 1,6 quilo de ração em 1 kg de carne. Bois são menos eficientes, levam anos para converter por volta de 6 kg de ração em 1 kg de carne.

Não é à toa que a carne de frango é uma das mais importantes fontes de proteína na dieta do Homo sapiens.

As aves são presas fáceis de doenças virais. Uma delas é causada pelo vírus da gripe aviária. Esses vírus, parentes dos vírus que provocam gripe em seres humanos, se modificam todos os anos.

Da mesma forma que o vírus humano se espalha em ambientes fechados, o da gripe aviária faz um estrago quando aparece nos galpões usados para criar frangos. Enquanto os seres humanos repousam, se isolam e descansam esperando a gripe passar, esses mesmos seres humanos não são tão compreensivos com as aves enjauladas.

Em janeiro de 2014, surgiu na Coreia do Sul uma nova variante do vírus, chamada H5N8. Sua alta letalidade significou prejuízo certo para os membros de nossa espécie que criam frangos. Para evitar o espalhamento do vírus, todos os frangos das granjas afetadas foram executados e seus cadáveres, queimados ou enterrados. O resultado foi a morte prematura de 50 milhões de aves. Apesar das medidas draconianas, o vírus se espalhou pelo planeta.

Entre humanos, esses vírus se espalham rapidamente porque um coitado pega o vírus novo em um lado do mundo, pula em um avião, e já chega do outro lado do mundo infectando metade do aeroporto. Mas frangos não viajam de avião. Então, se perguntaram os cientistas, como esses vírus se espalham? Logo desconfiaram das visitas nos presídios de frango. Aves migratórias visitariam seus primos presos, se infectariam, voariam pelo mundo visitando outros primos e levando a doença para outros continentes.

Durante a epidemia de 2014, cientistas espalhados pelo planeta resolveram testar essa hipótese. Eles capturaram aves migratórias, isolaram os vírus e identificaram a nova variante que havia surgido na Coreia.

Em 30 de abril, três meses depois do aparecimento na Coreia do Sul, o vírus já estava em aves migratórias capturadas no sul da Rússia, logo acima da Mongólia. Em 19 de agosto, aves capturadas dos dois lados do Estreito de Bering, que separa a Rússia do Alasca, já estavam com o vírus. Nessa data, ele também foi encontrado em aves migratórias ao longo de todo o litoral norte da Rússia, junto do Mar Ártico. Em 18 de novembro, aves migratórias capturadas na Europa já estavam com o vírus, que também foi detectado na costa oeste dos EUA. Em 13 de janeiro do 2015, os frangos enjaulados na costa oeste dos EUA e por toda a Europa começaram a adoecer. Em um ano, o vírus se espalhou pelo planeta.

Esse resultado demonstra que aves migratórias foram responsáveis por espalhar o novo vírus e usaram a rota migratória que passa pelo norte da Rússia para levar o vírus da Coreia para a Europa e os EUA.

Aprendemos com esse estudo que aves migratórias, mesmo com gripe, voam, e com elas lá se vai o vírus.

Os cientistas recomendaram que, para controlar a gripe dentro das prisões de frangos, o melhor é proibir as visitas de aves migratórias, instalando telas e coisas do gênero. Com essa descoberta, os pobres frangos enjaulados nem vão mais poder receber notícias dos seus primos que voam livres pelo planeta.




Saúde, pós PEC 241

24/10/2016 - O Globo


A Câmara dos Deputados aprovou um teto para despesas públicas; o apoio para cortar gastos em tempos de vacas esquálidas é quase intuitivo. Depois do convencimento de que há dinheiro público demais, saindo para os ladrões, aumentar despesas governamentais, em plena crise econômica, pareceria absurdo. Segundo defensores do novo regime fiscal, o que muda é o ritmo de incremento dos gastos e quem e como define prioridades. Nos próximos 20 anos, os orçamentos para a saúde poderão hipoteticamente dançar aos compassos do miudinho ou saltar sob um funk pauleira. No ano que vem, haverá um pequeno incremento, até os mais austeros reconheceram que a elevação dos recursos da Saúde de 13,5% para 15% da receita líquida não comprometeria o andamento da economia.

Depois, será tempo de murici, cada um cuidando de si. Saúde, educação, ciência e tecnologia, cultura, esportes, entre outras políticas sociais, disputarão fatias de um fundo público diferente do atual. O valor dos gastos com políticas públicas não será a diferença entre o que se arrecada com impostos e contribuições e o pagamento de encargos e resgate da dívida. O teto ficará fixo, variando discretamente em torno de uma inflação supostamente controlada, e a eventual elevação de receitas (se houver crescimento econômico, redução das taxas de juros, aumento de investimentos e empregos) será utilizada para pagar a dívida. O Poder Legislativo renuncia da função de formular políticas e coordenará a disputa pelas sobras de recursos.

Opositores das medidas restritivas questionam três âmbitos do redirecionamento da política fiscal. O primeiro refere-se à unilateralidade, consubstanciada em passar a tesoura em ações essenciais para a reprodução da vida e inserção social, sem cogitar ampliar receitas, sequer se referir às desonerações fiscais. O segundo domínio de interrogações concentra-se na impossibilidade de impor teto para obrigações previdenciárias estabelecidas, que serão despesas crescentes durante os dez próximos anos. Ainda que se aprove a reforma da Previdência, o montante a ser dividido para as demais políticas sociais será necessariamente menor. E, por fim, a completa ausência de debates e esclarecimentos sobre as consequências, inclusive imediatas, da obtenção de maioria para aprovação da PEC 241. Os preços da governabilidade foram hiperinflacionados. Custa muito caro tornar o Ministério da Saúde um posto avançado da base parlamentar do governo, modelo recentemente replicado no Instituto Nacional do Câncer.

Pesquisas de opinião realizadas este mês apresentam resultados opostos em relação aos limites de gastos públicos. A da Confederação dos Transportes/MDA confirma a saúde como principal prioridade para 60,6% dos entrevistados e pouco conhecimento sobre a PEC 241: apenas 40,9% ouviram falar do teto para as despesas públicas e nesse subconjunto 60,4% aprovaram a medida. Na conduzida pela CUT/Vox Populi, a contenção das despesas com saúde, educação e assistência social por um prazo de 20 anos e aumento de acordo com a inflação foi rejeitada por 70%. Seja lá como se absorva ou conteste a validade dessas informações, é plausível inferir que ser favorável à punição da corrupção não autoriza manter ou aumentar taxas de mortalidade infantil e desigualdades de acesso às ações diagnósticas e terapêuticas.

Os críticos à Constituição de 1988, do pacto que vincula impostos a melhores condições de vida e saúde, não deveriam pular a parte da real situação do setor e o pagamento de tributos por toda a sociedade. A saída via planos privados individuais para quem puder pagar só combinaria com renda alta, tributos reduzidos, mercados competitivos, irrelevância de pesquisas e inovações para a qualidade e prolongamento da vida e inexistência de doenças graves e prolongadas, como obesidade, autismo, demências, arboviroses. Objetivamente, os melhores padrões de saúde dependem de investimentos públicos. A crise econômica também afeta empresas privadas. A falência da Unimed Paulistana e do Rio de Janeiro, a queda do número de contratos de planos de saúde decorrente do desemprego e mensalidades reajustadas acima da inflação pesam nas estreitas costas do SUS.

O sacrifício da saúde pública e da ciência e tecnologia foi questionado pela comunidade científica internacional. As conceituadas revistas “The Lancet” e “Science” publicaram depoimentos sobre os possíveis “desastres” da PEC 241, regressão de padrões alcançados de morbi-mortalidade e descontinuidade de pesquisas nacionais estratégicas. Decisões tomadas em fóruns reservados, empresariais, podem acalmar instantaneamente certos mercados, reafirmar credibilidade junto aos credores. Mas prejudicar uma geração inteira apavora quem tem por ofício ensinar, interrogar, buscar reunir evidências, equacionar problemas e testar e propor soluções. Um país que deixa de considerar mudanças demográficas, ocupacionais, sociais e ambientais na definição dos orçamentos para a saúde perde definitivamente integridade.




Os caminhos para a cura da AIDS

22/10/2016 - IstoÉ


Na história da medicina, poucas doenças foram tão estudadas quanto a Aids. Agora, trinta e cinco anos após o surgimento dos primeiros casos, começam a aparecer os resultados mais animadores dos caminhos pavimentados em direção à cura. As notícias vêm de várias partes do mundo. Recentemente, cientistas ingleses anunciaram que pelo menos um, entre 50 pacientes acompanhados em um experimento que visa a derrota do HIV, não apresentava mais sinais do vírus dentro do organismo.

O britânico de 44 anos que não teve o nome revelado submeteu-se a uma estratégia chamada pelos ingleses de “kick and kill”, algo como chutar e matar. Consiste em tentar vencer um dos obstáculos que até agora impede a cura. Os remédios antirretrovirais evitam a replicação do HIV dentro do organismo, mas o fazem somente nas células infectadas nas quais o vírus está ativo. No entanto, em muitas o HIV permanece em estado de latência, adormecido. Por essa razão, mesmo que seja indetectável a quantidade do vírus no sangue, ele continua no corpo, escondido. Se os remédios são suspensos, o vírus que dormia, acorda.

O esquema montado por especialistas de cinco respeitadas instituições inglesas – reunidos em um consórcio criado especialmente para achar a cura da doença – pretende acordar o vírus adormecido (a parte do “chutar”) para matá-lo. Faz isso em duas etapas. Primeiro, uma vacina fortalece o sistema imunológico do paciente para detectar e combater as células infectadas. Depois, uma droga chamada vorinostat, usada no tratamento do linfoma (tipo de câncer), entra em cena para ativar o HIV latente. Desta maneira, o vírus fica finalmente vulnerável ao ataque do sistema de defesa e também dos antirretrovirais.

Ainda é cedo para dizer se o paciente está curado. “Ele terminou o tratamento, que vimos ser seguro e bem tolerado”, ressaltou Sarah Fidler, professora do Imperial College London, uma das instituições participantes. “Mas só em 2018, quando finalizarmos o trabalho, saberemos se chegamos à cura.” A prudência é compreensível, mas os cientistas sabem que deram um passo importante. “Estamos fazendo uma das primeiras tentativas sérias em relação à cura”, disse Mark Samuels, que também participa do projeto.

“Somos os únicos no mundo a aplicar uma forma de ataque tão abrangente contra o HIV” Ricardo Diaz, infectologista, coordenador do estudo brasileiro

No Brasil, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo executam experimento com igual ambição. Sob o comando do infectologista Ricardo Sobhie Diaz, trinta pacientes participam de um protocolo ainda mais amplo do que o inglês. Duas medicações são usadas para tornar o tratamento mais forte, uma ativa o HIV dormente nas células e outra mata as células nas quais o vírus está escondido. Além disso, uma vacina, feita com o vírus extraído do próprio paciente, é o recurso com o qual pretende-se atingir o HIV escondido nos chamados santuários. São locais do corpo onde os antirretrovirais ou não conseguem chegar ou chegam com fraca atuação (sistema nervoso central, linfonodos, trato genital e mucosa do trato gastrointestinal). A vacina ensina o linfócito CD-8 (parte do exército de defesa) a encontrar e a matar o HIV presente nesses locais.

O trabalho começou há um ano e há grande expectativa em relação aos resultados. “Somos os únicos no mundo a aplicar uma forma de ataque tão abrangente contra o HIV”, diz Ricardo Diaz. O médico espera ter a conclusão em meados do ano que vem.

Este gênero de experimento, como o brasileiro e inglês, é o mais adiantado na busca pela cura. As vacinas terapêuticas, que fortalecem o sistema imunológico contra o HIV, e as preventivas, que evitam a infecção, também são alvo de estudos no mundo todo. Porém, esbarram na incrível capacidade de mutação do vírus, o que dificulta a confecção de imunizantes de eficácia garantida.

Na mira da ciência também estão os indivíduos que, mesmo infectados, não desenvolvem a doença. São conhecidos como controladores de elite. “Queremos saber por que o vírus não consegue fragilizar o sistema de defesa dessas pessoas”, afirma o infectologista Valdez Madruga, coordenador do Comitê Científico de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia. Entre as respostas, está a habilidade de produzir anticorpos mais potentes. Com base no que já se descobriu, cientistas da Universidade Rockeffeller, nos Estados Unidos, criaram um anticorpo que reduziu em até 250 vezes a concentração de vírus em pacientes.

Há ainda o caso de pessoas que, por característica genética, não produzem uma molécula (CCR5) que possibilita a entrada do HIV na célula. Sem ela, o vírus não tem como invadi-la. Muito se tem trabalhado neste tópico. O americano Timothy Ray Brown é a única pessoa considerada curada no mundo porque se valeu da ausência de CCR5. Ele foi submetido a um transplante de medula óssea cujo doador possuía a alteração genética que não permite a produção da molécula. Ele está há nove anos sem o vírus.




DSTs voltam a preocupar

23/10/2016 - O Estado de S.Paulo


Novo relatório do Centro de Controle de Doenças (CDC), divulgado na última semana, mostra aumento importante dos casos de sífilis, gonorreia e clamídia, três das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) mais comuns nos EUA no último ano.

De acordo com os dados, foram 1,5 milhão de casos de clamídia (aumento de 6%), 400 mil de gonorreia (aumento de 13%) e 24 mil de sífilis (crescimento de 19%). Foram novos recordes dessas DSTs naquele país em 2015. Independentemente de uma testagem mais efetiva, especialistas acreditam que esse aumento é genuíno e reflete maior exposição a situações de risco (sexo sem proteção).

Essa tendência de crescimento já havia sido detectada entre 2013 e 2014, com aumento de 3% de clamídia, 5% de gonorreia e 15% de sífilis.

O crescimento leva a um alerta adicional: todas essas infecções que, em teoria, são facilmente tratáveis com o uso de antibióticos, podem, em um futuro próximo, se tornar resistentes aos esquemas convencionais de tratamento.

Bom lembrar que, nesse ano, surtos de gonorreia causados por bactérias multirresistentes foram diagnosticados tanto nos EUA como no Reino Unido.

Por falar em Reino Unido, informações do NHS Digital (Dados Digitais do Sistema Nacional de Saúde), também divulgadas na última semana, mostram que em 2015 houve queda de 4% do número de pessoas que buscaram clínicas especializadas em saúde sexual, apesar do crescimento dos casos de sífilis e gonorreia. Com a gonorreia, por exemplo, houve aumento da ordem de 20% no último ano, com quase 35 mil casos confirmados, a maioria na população abaixo dos 25 anos.

Para os especialistas britânicos, menos consultas pode ter relação com o acesso mais difícil a esses serviços (várias clínicas fecharam no período), com o aumento do número de mulheres que trocaram a pílula anticoncepcional por métodos de prevenção mais duradouros (como o dispositivo intrauterino) e com a ausência de educação sexual mais efetiva. Entre os menores de 25 anos, quase 100 mil jovens a menos receberam atendimento nesse tipo de clínica em 2015. Os dados dos EUA e do Reino Unido foram divulgados pelo jornal inglês Daily Mail.

No último mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia atualizado suas orientações para o tratamento das DSTs mais comuns. Foi a primeira mudança na abordagem desde 2003.

Essas doenças atingem 200 milhões de pessoas, todos os anos, no mundo. Sem diagnóstico e tratamento, é uma questão de tempo para que a resistência se torne um problema em larga escala.

As novas orientações da agência incluem maior acesso a testagem e tratamento, uso de terapias combinadas para a gonorreia, monitoramento da prescrição e do uso correto de antibióticos para evitar resistência, além de tratar os parceiros das pessoas infectadas.


BRASIL


Por aqui, na última semana, o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, admitiu que o País enfrenta uma epidemia de sífilis e anunciou medidas para combater a doença. As informações são de Lígia Formenti, do Estado.

Entre as estratégias anunciadas, estão testes rápidos e o tratamento mais precoce das gestantes.

Nos últimos anos, as taxas de sífilis no País vêm aumentando em uma velocidade nunca vista, principalmente entre gestantes, bebês e na população dos homens que fazem sexo com outros homens (HSH).

De 2010 a 2015, a sífilis congênita aumentou 170%, de 2,4 para 6,5 para cada 1 mil nascidos vivos. Entre gestantes, essa taxa cresceu 202%, de 3,7 para 11,2 a cada 1 mil nascidos vivos. Na população adulta, os números indicam 42,7 casos para cada 100 mil habitantes.

Os dados indicam que está havendo atraso no diagnóstico nas gestantes, demora para início do tratamento, baixo uso de camisinha e, possivelmente, um maior risco de contaminação por outras DSTs, inclusive o HIV, causador da aids. Sem medidas urgentes e mais efetivas de cuidados e prevenção, esses casos não vão diminuir no curto prazo!




Câncer de próstata.

22/10/2016 - Carta Capital


O câncer de próstata é a neoplasia maligna mais prevalente entre os homens. O advento do PSA possibilitou fazer diagnósticos precoces da doença, antes detectada apenas em fases avançadas.

O PSA é um exame que permite avaliar na corrente sanguínea a concentração do antígeno prostático específico, proteína liberada em quantidades elevadas em processos benignos e malignos, A determinação anual dos valores do PSA a partir dos 50 anos, no entanto, tem sido questionada como método de screening populacional. Os argumentos são fortes: 1. Parte significante dos diagnósticos precoces ocorre em homens com turnores de crescimento lento, que jamais levariam à morte. 2. O tratamento por meio de cirurgia (prostatectomia) ou radioterapia está associado a complicações relevantes: impotência sexual, incontinência urinária, retites e cistites j pós-irradiação, entre outras.

Um estudo mostrou que no caso da prostatectomia, é preciso operar 72 pacientes para evitar um óbito. Portanto, 71 daqueles submetidos aos riscos e complicações cirúrgicas viveriam o mesmo número de anos, caso não fossem operados.

Essas constatações serviram de base à estratégia da observação ativa, segundo a qual o diagnóstico de tumores de agressividade baixa ou intermediária podem ser companhados sem a necessidade de intervenção cirúrgica ou de radioterapia, Para esclarecê-las foi realizado no Reino Unido o estudo ProtecT, que recrutou 1.643 homens de 50 a 69 anos, no j período de 1999 a 2009.

Por sorteio, eles foram divididos em três grupos: observação ativa (543 homens), prostatectomia radical (553) ou radioterapia (545). A finalidade foi avaliar a mortalidade causada pela progressão da doença, o aparecimento de metástases e a mortalidade por outras causas.

Nesse período de dez anos ocorreram apenas 17 mortes por câncer de próstata. assim distribuídas: oito no grupo de observação, cinco no de cirurgia e quatro no de radioterapia. Essas diferenças não são significativas estatisticamente.

O número de mortes por outras causas também não foi diferente.

Metástases surgiram com frequência mais alta nos homens acompanhados sem tratamento (33 casos) do que nos operados (13 casos) ou irradiados (16 casos).

Da mesma forma, nos pacientes simplesmente acompanhados a progressão da doença foi mais frequente (112 casos) do que nos operados (46 casos) ou irradiados (46 casos).

Conclusão: nos casos de tumores de agressividade baixa ou intermediária a mortalidade por câncer de próstata é baixa com qualquer tratamento ou na ausência dele.

Prostatectomia radical e radioterapia estão associadas a incidências menores na progressão da doença e no aparecimento de metástases.

O tratamento do câncer de próstata deve levarem conta dados individuais: idade, agressividade do tumor, condições clínicas, possibilidade de complicações, presença de doenças concomitantes, expectativa de vida e preferências individuais.

Está claro que muitos pacientes podem ser acompanhados por anos consecutivos sem receber tratamento.




Médico é preso por destruição de provas

22/10/2016 - Correio Braziliense


A Operação Mister Hyde chegou à terceira fase das investigações. A nova etapa, deflagrada ontem, resultou na prisão preventiva do traumatologista e ortopedista Fabiano Duarte Dutra. O médico do Hospital Home (613 Sul) e coordenador técnico de ortopedia da Secretária de Saúde é acusado de queimar documentos públicos e privados três dias após o início da ação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Ambos investigam, agora, a extensão ao serviço público de saúde do esquema de enriquecimento ilícito de médicos, hospitais e fornecedores de órteses, próteses e materiais especiais, com cirurgias desnecessárias, superfaturamento e uso de materiais vencidos (leia Entenda o caso).

A incineração, realizada em 4 de setembro, ocorreu no Parque Ecológico Dom Bosco, no Lago Sul. Segundo o promotor de Defesa da Saúde (Prosus), Luis Henrique Ishihara, a confirmação do ato é embasada por uma denúncia anônima e por gravações do circuito de câmeras. “Ele fez uma fogueira no local, por cerca de uma hora”, comentou Luis Henrique. O promotor de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde do MP (Pró-vida), Maurício Miranda, completou: “Muitos documentos foram queimados por completo. Ninguém procura um lugar desses para incinerar diversos papéis e mídias à toa. Foi um ato de terror, provocado pelo desenrolar das investigações. Lá, existiam documentos que poderiam incriminá-lo. Não existe outra explicação”, alegou.

Após acionados, policiais civis dirigiram-se ao parque e solicitaram a presença do setor de Perícia Criminalística. Assim, tornou-se possível identificar a natureza de alguns materiais. “Havia prontuários médicos, pen drives, nomes de pessoas possivelmente vinculadas ao esquema, identificações de planos de saúde, documentos com indicativos de repasses monetários, entre outros”, revelou o delegado adjunto da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Adriano Valente. Alguns papéis apresentavam a identidade visual do Hospital Home, um dos centros médicos investigados.

O MPDFT ofereceu à Justiça duas ações penais contra Fabiano Duarte, relativas à supressão de documentos e ao embaraçamento de investigações relacionadas ao crime organizado. Somadas, as penas derivadas dos delitos podem levar a 19 anos de prisão. Ele é o 14º investigado a ser preso durante as averiguações. Porém, apenas quatro permanecem encarcerados (veja Na cadeia). A prisão ocorreu na casa dele, na 208 Sul.

Segundo a Polícia Civil, 150 pessoas procuraram as delegacias para prestar queixas relativas ao conchavo. Há a constatação de ferimentos provindos da atitude ilícita dos médicos em cerca de 60 pacientes. O MPDFT alega que até 50 profissionais são investigados. Pelo menos cinco planos de saúde seriam vítimas do esquema. Por fim, devido ao arranjo, centros médicos lucravam até 20% sobre o valor total de cada procedimento; especialistas, 30%; e o restante dos subsídios era divido entre as firmas de fornecimento dos materiais.

Frente às novas evidências, MPDFT e a Polícia Civil apuram, agora, a possível extensão do esquema à rede pública de saúde do DF — até então, a investigação concentrava-se no âmbito privado. “Como coordenador técnico de ortopedia, ele (Fabiano) designava a demanda de materiais e realizava o contato com fornecedores. Inclusive, tinha vínculo com a gerência de órteses e próteses do setor público”, afirmou o promotor Luis Henrique Ishihara. O acusado nega envolvimento na Máfia das Próteses.


APREENSÕES


Promotores e agentes da Deco cumpriram, ainda, mandados de busca e apreensão na Secretaria de Saúde. Após quase duas horas, os agentes apreenderam documentos e computadores do setor no qual o médico atuava. Ações também foram realizadas novamente no Hospital Home e em um escritório de contabilidade que presta serviços ao médico preso.

Em nota, a Secretaria de Saúde informou que, diante das denúncias, o servidor Fabiano Duarte Dutra seria imediatamente exonerado do cargo de coordenador de ortopedia. “Reforçamos que, até o momento, não há qualquer indício, na rede pública de saúde, de práticas ilegais constatadas pela Operação Mister Hyde”, informou o texto. O Hospital Home reiterou, também em nota, “que o centro médico não tem qualquer relação com os fatos apontados pelas investigações”.


NA CADEIA


Além de Fabiano Duarte Dutra, 13 pessoas foram presas durante as três fases da Operação Mister Hyde. Destas, quatro continuam atrás das grades:

» Johnny Wesley, proprietário da TM Medical, empresa fornecedora de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs)

» Micael Alves, sócio da TM Medical

» Marco Vasques, médico

» Antônio Márcio Catingueiro, ex-funcionário do Hospital Home


CIRURGIAS DESNECESSÁRIAS


A Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagraram, em 1º de setembro, a Operação Mister Hyde. A ação investiga médicos, hospitais e empresas fornecedoras de órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs), que, supostamente, enriqueciam com a realização de cirurgias desnecessárias, superfaturamento de equipamentos, troca fraudulenta de materiais e uso de produtos vencidos em pacientes. As investigações têm, até agora, três fases. Na primeira, a polícia cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão no Hospital Home (613 Sul), em três clínicas e nas residências de médicos suspeitos. Treze pessoas foram presas e cerca de R$ 500 mil, apreendidos. Trinta e cinco dias depois, na segunda fase, o Hospital Daher tronou-se o alvo dos investigadores. De acordo com o MPDFT, o dono do centro médico, José Carlos Daher, teria participação ativa no esquema. Nesta oportunidade, o empresário de 71 anos chegou a ser detido por posse ilegal de uma pistola de uso restrito. Desde o início da operação, pelo menos 150 pessoas procuraram delegacias para prestar queixas relativas aos médicos envolvidos.




O desafio de prevenir e tratar o câncer de mama

23/10/2016 - Correio Braziliense


As mulheres da capital federal são as mais expostas ao câncer de mama no Centro-Oeste. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar (Inca) estima que são 67,74 casos a cada 100 mil mulheres. O panorama nacional também é pessimista: o DF é a quarta unidade da Federação com mais casos da doença, atrás do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. As possibilidades de tratamento não acompanham a demanda. Dos 12 mamógrafos da Secretaria de Saúde, apenas um está funcionando. Há 8,5 mil pessoas na fila de espera pelo exame. Em 2015, apenas 6% das mulheres na faixa de risco — entre 50 e 69 anos — passaram pelo teste. Do total de 124 mil diagnósticos necessários, somente 7,5 mil se concretizaram.

Os índices alarmantes da doença impõem dois desafios: o primeiro, ao Executivo local, que não consegue manter uma estrutura suficiente para receber as pacientes. A outra, de foro íntimo, está ligada à reconstrução da autoestima e da identidade feminina. Na última quarta-feira, o Dia Internacional do Câncer de Mama relembrou a importância de prevenir e tratar a doença. No DF, o câncer de mama dispara como o mais frequente nas mulheres, deixando para trás até mesmo o de colo do útero. Em 66% dos casos, o problema é descoberto pelas próprias pacientes. Alguns fatores de risco, como sobrepeso e excesso de gordura abdominal, aumentam em 74% as chances de câncer de mama.


DIAGNÓSTICO


A doença não apresenta sintomas em sua fase inicial, por isso é tão difícil detectá-la precocemente. Quanto antes o câncer é identificado, mais altas são as taxas de sucesso no tratamento. O diagnóstico no primeiro estágio tem 88,3% de sobrevida, em média. Para a prevenção, é necessário que as mulheres entre 50 e 69 anos façam a mamografia a cada dois anos, segundo a recomendação do Ministério da Saúde. A proporção de mulheres nessa faixa etária que nunca realizaram o exame é a menor do Centro-Oeste, de acordo com estatísticas do Ministério da Saúde. O DF registra um índice de 12,3%. A falha é maior é em Mato Grosso, onde a taxa alcança 25,1% (leia Panorama).

Os números preocupam autoridades de saúde, que não têm uma explicação simples para a estatística da capital federal. Os médicos ouvidos pelo Correio apostam em um conjunto de fatores, alguns ainda desconhecidos pela medicina, para justificar o panorama. Por exemplo, 50,3% da população do DF está acima do peso e 15,8% está obesa, de acordo com o Relatório de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), da Secretaria de Saúde. O câncer, em suas mais variadas formas, é a segunda principal causa de morte na cidade. Em 2015, 2,3 mil pessoas — 19,1% do total de mortes — se tornaram vítimas do mal. As doenças cardiovasculares mataram 3,2 mil (27,1%).

Apesar de não ter mamógrafos, até outubro, o Hospital de Base (HBDF) recebeu 2,9 mil pacientes. Em todo o ano passado, os casos chegaram a 1,9 mil doentes. Ao todo, 193 mulheres passaram pelo procedimento de mastectomia e 60% das pacientes fizeram reconstrução mamária logo após a cirurgia. “A ideia é ampliar isso para outros hospitais. A medida ajuda na recuperação das mulheres, sobretudo as mais jovens”, argumenta a coordenadora de Mastologia da Secretaria de Saúde, Fernanda Salum.


APOIO


Na última quarta-feira, a Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília (Recomeçar) vistoriou o Hospital de Base. A ONG acompanha o tratamento de câncer de mama oferecido em Brasília desde 2011 e notificou falhas no serviço. “As mulheres se queixam da dificuldade. Não está se conseguindo detectar a doença precocemente. O primeiro passo é corrigir as deficiências para realização de mamografia. Isso atrapalha todo o diagnóstico”, critica a presidente e fundadora da entidade, Joana Jeker dos Anjos. Atualmente, o grupo pleiteia um psicólogo para dar apoio no processo de reconstrução mamária tardia do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

Em 2017, completa uma década que a comerciante aposentada Cláudia de Moraes, 54 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. “Começou com dores mamárias. Quando o médico disse que faria uma biópsia, fiquei nervosa, preocupada. Entrei em desespero quando recebi o resultado. Chorei três semanas seguidas”, lembra a moradora da Asa Sul. Ela enfrentou oito sessões de quimioterapia, oito de radioterapia e retirou totalmente o seio direito. “Conheci mulheres que me deram força. Isso me fortaleceu para continuar”, detalha. Desde então, ela convive com mulheres que passam pela mesma situação. “Na minha época, foi mais fácil. Hoje, eu percebo dificuldades maiores. Há mulheres que fazem a cirurgia e, três meses depois, não conseguem fazer a radioterapia”, destaca.

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