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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 18/10/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

Brasil e Índia fecham acordo que pode baratear remédios

18/10/2016 - O Globo


Brasil e Índia fecharam ontem um acordo na área de medicamentos — conforme antecipou O GLOBO no último dia 9 — que pode baratear o valor dos remédios. Os dois países querem produzir conjuntamente tratamento para tuberculose, hepatite-C e até Aids. Entre as várias possibilidades abertas, os empresários esperam parcerias para fazer testes juntamente com os indianos. Isso deve reduzir sensivelmente o custo dos medicamentos.

O texto é amplo e permite cooperação entre os dois países em várias áreas, como fármacos, ferramenta de diagnóstico e até aparelhos médicos. Foram fechados ainda outros entendimentos em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Embrapa, de pesquisa agropecuária, poderão realizar estudos com os órgãos correlatos.

Os dois países também acordaram em facilitar investimentos. Foi criado um instrumento que oferece proteção jurídica a investidores e investimentos brasileiros e indianos por meio de cláusulas que garantem direitos iguais para pessoas das duas nacionalidades que decidem investir.

— O Brasil começa agora um processo de transformação. A retomada do crescimento econômico requer a presença no Brasil não só internamente, mas nos principais mercados do mundo. Entre eles, evidentemente, está a Índia — frisou o presidente Michel Temer.

Temer se reuniu ontem com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi. Negociou desde aeronaves da Embraer até frangos da BRF. Ambos ressaltaram que o comércio com a Índia estão ainda muito aquém do potencial das economias desses países.


MAGGI CRITICA PROTECIONISMO


Ao todo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, fechou ontem três acordos com o governo indiano. Um deles de transferência de material genético de bovinos, da Índia para o Brasil. Ele explicou que todo o rebanho daqui é de origem indiana. E que, desde 1950, o Brasil não importa mais gado indiano, e, portanto, a variabilidade genética tem diminuído nos últimos anos:

— Com a entrada desse novo material, vamos dar um choque na pecuária brasileira e tenho certeza de que vamos ganhar produtividade com isso.

Logo após fechar os acordos, o ministro criticou a Índia, que chamou de muito protecionista.

— Não tenho dúvida em dizer que sim. Muito protecionista. Aliás, o próprio governo, uma ala mais tradicional aqui acha que não precisa importar, acha que dá conta sozinha do seu recado, e a ala que prevê o futuro da Índia, entrando aí mais de 15 milhões de pessoas todos anos no mercado de trabalho ou se alimentando, que precisa importar — explicou o ministro. — Há ainda aqui dentro da Índia uma espécie de disputa por qual caminho a ser seguido, e o Brasil está à espreita para ocupar esse mercado.




Dobra a procura por medicamentos em fase de estudos do país

17/10/2016 - Veja Online


O número de pedidos para medicamentos ainda em fase de estudos, para pacientes com quadros graves que não têm outra alternativa terapêutica, vem crescendo no país. É o chamado “uso compassivo”. Nos últimos dois anos, a quantidade de autorizações dadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mais do que dobrou.

Em 2014, 152 pacientes obtiveram a autorização de uso compassivo de algum medicamento. Neste ano, até setembro, o número subiu para 393, a maioria relacionada a remédios oncológicos, segundo dados da própria agência. A liberação é necessária porque, como ainda estão em fase de estudo, esses tratamentos ainda não têm registro no país.

Os laboratórios farmacêuticos, responsáveis pela maioria das pesquisas clínicas de novos medicamentos, têm a opção de oferecer programas de uso compassivo. Caso ofereçam, o tratamento deve ser fornecido gratuitamente ao paciente por tempo indeterminado. Mas, mesmo quando há um programa aberto, o interessado precisa de prescrição médica e autorização da Anvisa.


ESPERANÇA


Diagnosticado com câncer de pulmão em 2013, o advogado Cícero Ribeiro de Paiva, de 66 anos, conseguiu no mês passado ser incluído em um desses programas. Depois que descobriu a doença, ele chegou a fazer o tratamento tradicional por três anos.

No início de 2016, porém, a doença deixou de responder ao medicamento e o câncer voltou a crescer. “Tive metástase. O número de tumores passou de um para cinco. Fiquei apavorado. Se eu não fizesse nada, era esperar para morrer, porque não tinha mais nada disponível no Brasil para o meu tipo de câncer”, conta.

O médico responsável pelo tratamento de Paiva soube de uma droga promissora para combater a doença que já estava sendo usada em outros países e conseguiu incluir o paciente no programa de uso compassivo. “Comecei a tomar o remédio em setembro e minha esperança é que, desta vez, dê resultado”, diz o advogado.




Mais lojas com muitas promoções

18/10/2016 - Valor Setorial - Saúde


Com ou sem crise no país, o setor de drogarias e farmácias mantém sua estratégia de continuar investindo em abertura de novas lojas, treinamento de pessoal e promoções como os cartões de fidelidade que oferecem descontos aos seus clientes. O resultado é um crescimento de mais de dois dígitos no faturamento das grandes redes varejistas neste ano, repetindo o desempenho de 2015.

"Não houve mudança marcante de um ano para o outro. O bom desempenho é fruto de um planejamento de longo prazo das grandes redes, sempre atentas às tendências internacionais e ao crescente grau de exigência do consumidor. Há quase dez anos, as grandes redes contabilizam crescimento de dois dígitos percentuais. E claro que devemos considerar o fator de resiliência do mercado farmacêutico. Os planos de abertura de novas lojas continuam sendo executados como em 2015", afirma Sérgio Mena Barreto, presidente-executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).

Segundo ele, os dados mais recentes da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (F1A-USP) para a Abrafarma mostram que as grandes redes faturaram RS 19,32 bilhões no primeiro semestre de 2016, aumento cie 12,66% na comparação com igual período do ano passado. Entre junho de 2015 e junho deste ano, houve aumento de 12,65%, o que significa mais RS 3,34 bilhões.

Para Mena Barreto, esse resultado está associado à abertura de novas lojas e à ampliação da participação das farmácias independentes. Sem isso, as vendas estariam num ritmo de avanço de 3%.

"As redes de grande porte estão ganhando abrangência ante as farmácias independentes. A representatividade das grandes varejistas em relação ao volume de vendas cresceu de 42% para 56% entre 2007 e 2015.

Enquanto isso, as farmácias independentes encolheram de 55% para 30%", diz Mena Barreto. A necessidade de absorver a crescente demanda e o maior grau de exigência do consumidor, segundo ele, favoreceram as marcas com mais representatividade geográfica e fôlego financeiro.

Além disso, as principais redes do país beneficiaram-se da sua maior capacidade de gerenciar seus estoques e a compra em grande escala cie medicamentos e não medicamentos das lojas maiores, mais bem localizadas e com melhor gestão financeira.

No segmento de farmácias menores, o cenário também é de ganhos nos últimos anos. De acordo com Edison Tamascia, presidente da Federação das Recles Associativistas de Farmácias (Febrafar), que reúne 52 cooperativas e 9,3 mil farmácias em todo o Brasil, o crescimento foi de 6% no primeiro semestre de 2016 em comparação a igual período do ano passado.

"Nossos associados são empresas de pequeno e médio portes, que se uniram em cooperativas e criaram uma marca única com estratégia própria.

Elas representam 10% de todo o mercado brasileiro e vêm crescendo acima da média há cinco anos. Isso porque se prepararam para oferecer preços mais competitivos. Oferecem vantagens como o cartão fidelidade.

Para dar descontos, buscaram aprimorar o seu processo de gestão de controle de custos e preços, além de investirem em um bom trabalho de marketing", afirma.

Segundo Tamascia, pesquisa feita há seis meses revelou que, para o consumidor, o preço é o fator fundamental na compra, mas só 11% dos entrevistados fazem pesquisa.

"A maioria escolhe a farmácia que oferece promoções. Por isso, temos o Cartão Fidelidade da Febrafar, com preço diferenciado e que nos permite acompanhar seus hábitos de consumo. Hoje, três farmácias associadas utilizam a ferramenta e seis milhões de clientes têm o cartão", destaca.

O monitoramento do perfil do consumidor também é adotado pelas grandes redes. Segundo Antonio Carlos de Freitas, vice-presidente de relações institucionais da Raia Drogasil, o foco mais importante na trajetória da empresa tem sido entender as necessidades dos clientes.

"Respeitamos as características regionais, temos um estoque imbatível de medicamentos e produtos de higiene e beleza, além de oferecer eficiência e qualidade no atendimento. Outro ponto é estar sempre atento à transformação do perfil da população brasileira", diz Freitas. Segundo ele, um exemplo é o envelhecimento dos brasileiros em todo o território nacional. "Este fator leva esse púbico a cuidar muito mais da saúde e nós estamos preparados para atender essas pessoas." A população com mais de 65 anos já está em 16 milhões e deve chegar a 30 milhões em 2030 e 46 milhões em 2045.

Freitas afirma que o resultado do trabalho desenvolvido pela empresa fez com que a Raia Drogasil - criada em novembro de 2011 a partir da fusão entre Droga Raia e Drogasil - tenha chegado a 1.330 lojas, tornando se a maior rede de drogarias do Brasil em receita e número de unidades. A fusão trouxe o melhor de cada rede, e com isso pode manter o seu plano de expansão para 2016 e 2017, que prevê a abertura de 200 lojas por ano.

"A Raia Drogasil finalizou o segundo trimestre de 2016 com receita bruta de R$ 2,9 bilhões, mais 26,1% em relação ao mesmo período do ano anterior. Nós estamos constantemente melhorando processos, treinamentos e investindo em plataformas tecnológicas. Estamos sempre trabalhando para fixar mais nossa marca no dia a dia do consumidor." Segundo Freitas, a empresa investe muito no segmento de produtos de higiene e beleza. "Além de o cliente saber que nas nossas lojas irá encontrar as melhores marcas e os melhores produtos, ele pode contar com produtos exclusivos das marcas Needs, Pluii, B-Well e TRISS. Esses produtos exclusivos estão auxiliando o crescimento desse segmento em nossas lojas. Tivemos um aumento de 25,9% em vendas de perfumaria no segundo trimestre de 2016." De perfil totalmente diferente das grandes redes, a Drogaria Campeã, voltada para o público de menor renda com produtos a preços mais baixos, registrou no primeiro semestre aumento de 13% no seu faturamento em relação a igual período de 2015.

Desempenho este que mudou no segundo semestre, quando houve uma queda na demanda.

"Mesmo com a desaceleração no segundo semestre, vamos manter a nossa projeção de crescimento de 10% neste ano. A desaceleração não nos surpreendeu, porque é uma decorrência geral do mercado. O que nos surpreendeu foi termos crescido 13% no primeiro semestre, num quadro tão recessivo", afirma Robson Ferreira, diretor da empresa. O bom desempenho, diz ele, foi resultado de gerenciamento de custos, capacitação de equipes e treinamento de lideranças.

A rede Campeã, segundo Ferreira, está no mercado do consumidor emergente. Iniciou o ano com 59 unidades e já está com 80. Abriu 21 lojas, investindo RS 5 milhões com recursos próprios. O planejamento de chegar a cem lojas em 2018 será atingido em 2017.

Para ele, o bom desempenho se deve ainda ao fato de a empresa estar utilizando ferramentas novas para se diferenciar no mercado. Há um ano investiu no layout das fachadas das lojas, deixando a marca mais visível.

Agora, está cuidando da parte interna, melhorando o ambiente das lojas. Em setembro, a Drogaria Campeã começou um programa de fidelização de clientes, pelo qual em cada compra o consumidor ganha descontos para suas próximas compras.

São descontos que variam de 1 % a 2% dependendo do produto.

"Mesmo tendo produtos com preços inferiores aos do mercado, precisamos nos diferenciar mais, porque o mercado de farmácias está muito concorrido. Com esse programa de descontos, esperamos alavancar o tíquete médio em 40%. O cliente está hoje mais objetivo e mais racional na hora de comprar, porque a inflação está em alta. E isso atinge mais a área de perfumaria. Na área de medicamentos, o que se vê é o aumento das vendas de genéricos e similares por custarem 40% menos do que os medicamentos de referência", destaca.

Resultado imune à crise econômica

18/10/2016 - Valor Setorial - Saúde


A indústria farmacêutica atravessa o período mais crítico da crise econômica sem nenhum distúrbio grave nos negócios. Projeção da consultoria internacional de marketing farmacêutico IMS Health aponta alta de 10% na receita do setor neste ano em relação a 2015, com faturamento estimado em RS 66 bilhões. A boa saúde dos laboratórios se mantém, mesmo com problemas do governo - um grande comprador de medicamentos -, que vem adiando compras e deixando de honrar pagamentos.

Mesmo quando a compra depende só da decisão do consumidor, o mercado de remédios se sustenta. Os isentos de prescrição médica, que respondem por quase um terço da receita global, estão crescendo menos em vendas, mas o faturamento se mantém nos níveis dos anos anteriores. O número de unidades comercializadas deve crescer entre 5%e 6% em 2016, ante os 11 % no ano passado. "A receita este ano deve aumentar de 9% a 10% sobre o ano anterior e o volume em 5%", estima Fábio Barone, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip).

Tanto os itens que dependem do consumidor como os vendidos com receita médica exigem novos lançamentos no mercado. Os produtos inovadores, no entanto, dependem de investimentos em pesquisa. "Investimento em inovação é um fator que vem impulsionando este ramo nos últimos anos", diz Barone.

Os investimentos em pesquisa no país somam pouco mais de U$S 139 milhões por ano, mas poderiam ser muito maiores, dizem executivos do setor. O Brasil tem perdido investimentos internacionais em pesquisa pela morosidade e burocracia desde a fase de pesquisas básicas e clínicas até a aprovação final dos medicamentos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Embora haja uma melhora no processo, executivos observam que as queixas se repetem há anos, sem grandes resultados. "O tempo gasto para uma pesquisa clínica no Brasil oscila entre dez e 14 meses, enquanto a média mundial está entre quatro e seis meses", diz Pedro Bernardo, diretor da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). A entidade representa 56 laboratórios, responsáveis pela venda de 82% dos medicamentos de referência no país e por 33% dos genéricos.

Outra queixa da Interfarma é em relação à demora de aprovação de novos medicamentos pela Anvisa.

"Mais de mil produtos estão aguardando há 3,6 anos, em média. Se observarmos apenas os similares, a demora ultrapassa quatro anos, com 1.530 dias. A espera também é longa para os medicamentos inovadores.

São mais de dois anos para que o pedido comece a ser analisado", diz Bernardo.

Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Anvisa, afirma que os processos estão sendo revisados para ganhar velocidade. "A espera hoje é bem menor que há dois anos. Ainda é insuficiente, mas estamos nos esforçando para nos alinharmos com as melhores práticas internacionais.

Essa premissa está no topo das prioridades da Anvisa." Ele chama a atenção para o fato de que a Food and Drug Administration (FDA) dispõe de "um efetivo dez vezes maior que o da Anvisa para realizar a mesma tarefa." Segundo Barbosa, as indústrias são em grande parte responsáveis pelas longas filas à medida que apresentam dossiês incompletos. "Muitos desses dossiês são falhos nas informações, obrigando a devolvê-los para complementação." Para reduzir transtornos desse tipo, a Anvisa passou a distribuir "guias técnicos" aos laboratórios, com o intuito de elevar a qualidade das informações, e realizar workshops. "Com isso, esperamos reduzir o tempo de análise pela metade." Juan Carlos Gaona, gerente-geral da Abbott no Brasil, vê sinais de melhora no andamento da Anvisa, porém se queixa da longa espera. "Ter que esperar dois ou três anos para a aprovação de um produto inovador é negativo.

O mesmo medicamento é aprovado em um ano e meio na Europa, nos Estados Unidos e mesmo em países da América Latina, como a Colômbia. No Brasil gasta-se o dobro desse tempo." As filas e a burocracia, no entanto, não impedem que o Brasil tenha um peso grande na receita da Abbot. "Em 2015, o faturamento no Brasil alcançou US$ 381 milhões.

Para nós, é um dos países mais importantes entre os emergentes. Para este ano, a perspectiva é crescer bem acima do mercado." Gaona acredita que os períodos de crise são bons momentos para ampliar os investimentos.

"Essa turbulência é temporária e é possível ver sinais de reativação. Por isso, acabamos de construir um centro de desenvolvimento no Rio, cujos investimentos somaram R$ 20 milhões." A empresa também negocia parcerias para expandir seu portfólio.

As Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) são acordos que podem beneficiar tanto laboratórios estrangeiros, donos de patentes, como a indústria nacional, com vantagens para o governo e a população. Na prática, esses entendimentos estão empacados e correndo riscos pelas frequentes mudanças no Ministério da Saúde.

Bernardo diz que equipes executivas da Interfarma e da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob) elaboram um documento conjunto para reivindicar ao governo uma solução para o entrave das PDPs. "Hoje, a revisão de contratos criou um ambiente de incertezas, em que ninguém sabe quais parcerias serão executadas nem quando irão começar. É preciso uma segurança jurídica." As indústrias farmacêuticas filiadas à Interfarma, segundo ele, que dispõem de altas tecnologias, não se sentem seguras em relação ao parceiro.

"Muitos contratos que foram assinados não estão acontecendo. As PDPs foram criadas com o objetivo de transferir tecnologia da iniciativa privada para laboratórios públicos, possibilitando a produção de medicamentos estratégicos para o país", ressalta. "No entanto, as últimas mudanças no Ministério da Saúde acabaram resultando numa revisão das regras para contratos, suspendendo temporariamente as PDPs anunciadas até 2015." No documento conjunto, Interfarma e a Alfob se manifestam favoráveis à existência das PDPs e se colocam à disposição para eventuais ajustes e melhorias na iniciativa, com base na experiência acumulada nos últimos anos. "As parcerias que anualmente vinham sendo assinadas desde 2015 cessaram e ficaram aguardando a posição definitiva do Ministério da Saúde, que não veio", diz Bernardo.

Há exemplos bem-sucedidos dessas parcerias. Em 2015, o laboratório Sanofi assinou globalmente mais de 75 acordos de pesquisa com parceiros internacionais e nacionais. "Temos parcerias no Brasil com laboratórios e instituições de pesquisa locais", diz Pius Hornstein, diretor-geral da Sanofi no Brasil. Um deles vem da divisão de vacinas da companhia, a Sanofi Pasteur. "Entre eles, está a PDP para desenvolvimento da vacina contra gripe com o Instituto Butantan. Há ainda a parceria entre a Sanofi Pasteur e a Fundação Oswaldo Cruz, que permitiu a introdução da vacina inativada contra poliomielite na campanha de imunização do Ministério da Saúde." A receita da empresa cresce acima da média do mercado brasileiro, a um ritmo de dois dígitos. "Esse desempenho reflete majoritariamente nosso portfólio de produtos", diz Hornstein. Em 2015, a empresa desembolsou 14 milhões de euros em pesquisa clínica no Brasil. "Temos 56 estudos clínicos em andamento no país, nas fases 2 , 3 e 4, envolvendo cerca de 6,4 mil pacientes. Globalmente, a Sanofi pretende elevar o investimento em pesquisa e desenvolvimento, de 5,2 bilhões de euros por ano em 2015 para 6 bilhões de euros por ano até 2020." A Novartis também prevê crescimento de dois dígitos para 2016. "As divisões de oncologia e de genéricos são os destaques da nossa performance deste ano, apesar do cenário econômico instável no Brasil", diz José Antonio Vieira, presidente do grupo Novartis. Nos últimos três anos, os investimentos somaram mais de RS 222 milhões em pesquisas clínicas, beneficiando mais de 30 mil pacientes em mais de 300 centros de pesquisa no Brasil. "Na área farmacêutica, temos mais de cem pesquisas clínicas em diversas áreas terapêuticas, como dermatologia, oftalmologia, cardiologia e respiratória, e apoiamos diversos projetos inovadores." A estratégia da Novartis é aumentar mais a liderança na área de terapia alvo molecular e investir na próxima geração de terapias imuno-oncológicas. "No Brasil, até o fim de 2016, iniciaremos três estudos novos de câncer de mama e quatro de câncer de pulmão em quase 50 centros de pesquisa clínica. Todos os sete estudos que estão sendo realizados com terapias alvo moleculares bloqueiam o crescimento e a progressão do tumor." Em julho deste ano, a Novartis anunciou uma parceria com a Xencor, empresa americana, para o desenvolvimento de anticorpos bio específicos para o tratamento de câncer.

O Brasil é o maior mercado para a Pfizer na América Latina. O ano de 2016, diz Victor Mezei, presidente da Pfizer Brasil, marca o fortalecimento do portfólio de oncologia da empresa no país, com a chegada de dois novos medicamentos: o Xalkori (crizotinibe), primeiro medicamento de administração oral para o tratamento do câncer de pulmão. Já o Inlyta (axitinibe) é indicado para pacientes com carcinoma de células renais avançado, tipo mais comum de câncer de rim. "Outra área de destaque para a Pfizer Brasil em 2016 é o segmento de doenças raras, que desde 2015 se tornou um dos focos prioritários da companhia para investimentos em pesquisa e desenvolvimento." A Pfizer investe em âmbito mundial U$S 7,5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, e o Brasil representa um importante polo de pesquisa clínica. "Atualmente, o país desenvolve 44 estudos, que representam 21 moléculas." No Brasil, no ano passado, a empresa investiu em RS 30,2 milhões em infraestrutura e novos equipamentos. Em 2016, a companhia completou a transferência de sua produção de saúde humana para a planta de Itapevi, na Grande São Paulo, uma operação que demandou um aporte de U$S 27 milhões para a expansão e modernização da fábrica.

A Aché aplicou RS 160 milhões nas áreas de inovação e desenvolvimento, afirma Paulo Nigro, presidente da empresa. Segundo ele, no fim do ano passado, a empresa inaugurou um laboratório em Guarulhos, na Grande São Paulo, voltado à inovação. Como seus concorrentes, o objetivo é crescer dois dígitos neste ano. "Em 2015, o incremento foi de 13,5% sobre o ano anterior, ao atingir uma receita bruta cie RS 5,16 bilhões. Para 2016, a meta é crescer acima do mercado." A Aché também fez parcerias com empresas de pesquisa e desenvolvimento nacionais e internacionais.

O produto Innelare foi desenvolvido com a empresa inglesa Oxford Pharmascience. Já o probiótico Prolive contou com participação da Capsugel, e o Provance e o Colikids, com a sueca BioGaia, segundo Nigro.

Outra parceira de destaque na área de inovação incremental foi firmada com a sueca Ferring Farmaceuticals.

"A parceria visa a construção de um laboratório para o desenvolvimento de uma plataforma tecnológica baseada em nanotecnologia no Brasil, sendo aplicável para o desenvolvimento de novos medicamentos, alimentos e cosméticos."




Indústria aposta nas parcerias

18/10/2016 - Valor Setorial - Saúde


Medicamentos fabricados a partir de células vivas, os fármacos biológicos são considerados a nova fronteira da indústria farmacêutica. Com um mercado global estimado de U$S 297 bilhões em 2020, a uma taxa de crescimento anual perto de 10%, segundo a consultoria Persistence Global Market, as farmacêuticas fazem apostas altas nesta classe de medicamentos.

No Brasil, a estratégia para entrar na era dos medicamentos biológicos inclui as Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), que necessitam de duas partes, um laboratório privado, detentor da tecnologia, e um público que vai absorver aquele conhecimento. As PDPs formadas com foco em biológicos estão com o cronograma em dia, algumas com fábricas prontas, iniciando a produção, outras testando os medicamentos e uma parte no início do processo, que inclui importação e embalagem dos fármacos.

"Do ponto de vista das empresas, o ritmo é adequado e estamos trabalhando para a produção, registro dos medicamentos e teste de forma intensa", diz Reginaldo Arcuri, presidente do FarmaBrasil, grupo fundado em 2011. As PDPs, segundo ele, são para produzir biossimilares, medicamentos com as mesmas características de eficácia e segurança dos biológicos originais, hoje importados. Arcuri alerta, contudo, que a segurança jurídica dos projetos precisa ser garantida. "Temos pedido ao Ministério da Saúde que julgue alguns recursos de 2015, de consórcios que não foram escolhidos para as PDPs, e manutenção das regras atuais, importante em um mercado com investimentos bilionários e de longo prazo. Queremos menos hiperatividade do regulador." O ministério trabalha em ajustes no formato das PDPs, mas não tem data para concluir a revisão das regras.

O grupo de farmacêuticas que compõem a FarmaBrasil - Aché, Biolab, Bionovis, Cristália, EMS, Eurofarma, Libbs, Hebron e Orygen investiu nos biológicos, em pesquisa e fábricas, R$2,5 bilhões nos últimos cinco anos. "As perspectivas são fantásticas.

Vamos acelerar a partir de agora", diz Arcuri.

Estudo da FarmaBrasil aponta que houve crescimento de 458,5% na importação de medicamentos biotecnológicos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2005 e 2015. No || período, o peso dos biológicos de alta complexidade no déficit comercial da área farmacêutico saltou de 11,5% para 28,6%, totalizando USS 1,9 bilhão ao ano. "O mundo todo corre atrás dos Estados Unidos, onde 60% das novas moléculas são produzidas, portanto o atraso não é só nosso, mas precisamos acompanhar de perto." Segundo dados do Ministério da Saúde, apesar de equivalerem a cerca de 4% dos medicamentos comprados, os biofármacos representam 51% dos gastos. Ao todo, as PDPs disponibilizam 26 biofármacos à população atendida pelo SUS para tratamentos como oncológico, imunoterapia, vacinas, artrite, entre outros.

O laboratório Cristália, com 16 PDPs (três em biossimilares), tem duas plantas certificadas e em operação. A inaugurada em 2013 produz três medicamentos biossimilares em fase de testes clínicos - trastuzumabe (para tratamento de câncer), etanercept (doenças autoimunes) e somatropina (hormônio do crescimento humano).

Os dois primeiros são em parceria com a Bio-Manguinhos e o terceiro está em fase de rearranjo. Na outra unidade, inaugurada em 2014, é produzido o 1FA Colagenase, para tratamento de feridas e queimaduras.

"Nós saímos na frente porque há 12 anos, quando havia a ameaça de faltar matéria-prima para a pomada, tivemos de buscar alternativas e desenvolver nós mesmos", conta Odari Pacheco, presidente da Cristália.Em 2015, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o registro da Colagenase Cristália, primeiro insumo biotecnológico obtido a partir da biodiversidade brasileira e com desenvolvimento 100% nacional. Pacheco acredita que o trastuzumabe e o etanercept estarão no mercado em até dois anos. Os investimentos do Cristália em pesquisa e desenvolvimento chegam a 6% do faturamento anual, perto de RS 100 milhões. A Bio-Manguinhos, unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelo desenvolvimento tecnológico pela produção de biofármacos, está presente em boa parte das PDPs, como parceiro público. A empresa é um dos fornecedores do Programa de Medicamentos Excepcionais do Ministério da Saúde.

"Como produzimos há décadas vacinas, temos um histórico importante e que nos ajudou a ingressarem biológicos de segunda geração", diz Artur Couto, diretor da Bio-Manguinhos.

Ao todo, são 14 PDPs, a maior parte em discussão e cinco assinadas.

Outro laboratório 100% brasileiro que viu nas PDPs uma oportunidade de acelerar seu projeto cle fármacos biológicos é a Libbs, que prepara a inauguração da sua unidade de anticorpos monoclonais. Com investimento de RS 227 milhões só na planta, a unidade Biotec foi projetada para produzir seis biossimilares, no futuro.Já em produção no local está o terceiro lote do rituximab (doenças autoimunes), que será avaliado pela Anvisa. "É um remédio contra artrite reumatóide e linfoma, pelo nosso cronograma acreditamos que chegue ao mercado até 2018", afirma Márcia Martini Bueno, diretora de relações institucionais.

"As PDPs são um acelerador dos investimentos, mas não é nosso foco, o projeto da Libbs em biotecnológico é maior. Tanto que estamos nos certificando nas agências europeia (EMA) e americana (FDA) para podermos exportar", diz Marco Dacal, diretor de unidade de negócios B2B.

"Assumimos um risco de tocar em paralelo a construção da fábrica, os estudos clínicos e a produção do produto." A unidade terá capacidade para produzir400 quilos por ano de biotecnológicos, enquanto hoje o mercado brasileiro consome bem menos, 80 quilos por ano. "Isto mostra que acreditamos neste mercado, tanto em vendas internas quanto no exterior." O investimento da Libbs em pesquisa e desenvolvimento neste ano chega a 17% do faturamento, ou RS 1,5 bilhão, incluindo pesquisas em inovação radical, para desenvolver suas próprias moléculas.

Na alemã Merck, que está transferindo a tecnologia para produção do Rebif (betainterferona) para a Bio-Manguinhos, os biológicos representam 40% do portfólio no país, todos importados. "É globalmente nossa principal área de investimentos no mundo, é a fronteira de inovação da indústria farmacêutica", diz o CEO Guilherme Maradei. Segundo ele, os biológicos não crescem tanto no Brasil quanto poderiam por conta de restrições orçamentárias do governo, o que reduz a incorporação pelo SUS. Maradei cita o Erbitux, para câncer de colo retal, neoplasia que registra 32 mil casos todo ano, e não é reembolsado pelo SUS.

A parceria de transferência de tecnologia para fabricar no país o Rebif foi fechada em 2015 entre Merck, BioManguinhos e Bionovis. "O governo gasta por ano RS 315 milhões com tratamento de esclerose múltipla; com o acordo de transferência de tecnologia só nos primeiros sete anos, período pai a concluir a transferência, a economia será de R$ 200 milhões", diz Maradei. Depois, apenas nos primeiros seis anos, a economia superará RS 400 milhões. Ao final dos sete anos, o medicamento passa a ter 100% de produção local e a ser fabricado pela Bio-Manguinhos.

O mercado local de biossimilares levou a acordos para a criação de dois grandes laboratórios, a Bionovis (Aché, EMS, Hypermarcas e União Química) e a Orygen, associação Eurofarma e Biolab. Ambos participam de PDPs importantes e em fases diferentes de projeto.

A Orygen tem uma PDP fechada em 2015 com a Pfizer para a produção de cinco anticorpos monoclonais, biossimilares: trastuzumabe, rituxumabe, adalimumabe, infliximabe e bavacizumabe. "A nossa planta terá condições de produzir qualquer um deles ou todos, se for o caso, mas dependemos de uma definição do Ministério da Saúde sobre a PDP, esperamos que fique claro o que poderemos produzir e quanto", diz Andrew Simpson, diretor científico. Se tudo der certo, os biossimilares poderão chegar ao mercado em 2018.

"Ainda não sabemos se será importado ou se começaremos a venda com produção nossa. Talvez a fase de importação não seja necessária", diz Simpson, citando o inflixumabe e o trastuzumabe como os primeiros a chegar ao mercado.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) aprovou o financiamento de RS 200 milhões, de um total de RS 300 milhões necessários para instalar a unidade em Valinhos (SP).

Na Bionovis, um dos principais acordos de PDP foi fechado com a Janssen e a Bio-Manguinhos para produzir o infliximabe, fármaco que está sendo importado para distribuição no país. "Conhecemos todo o processo de segurança e manutenção do produto durante o transporte e distribuição, agora vamos fornecê lo aqui. Estamos no segundo ano da PDP e, portanto, temos mais cinco para concluir todo o processo de transferência de tecnologia", afirma o presidente da Bionovis, Odnir Finotti.

Em 2017, a empresa começará a formular no país o infliximabe, iniciando testes clínicos. Produção só a partir de 2019. "Este ano, entregaremos 335 mil unidades do infliximabe importadas, equivalente a toda a necessidade do SUS." Para Finotti, o projeto das PDPs é o primeiro passo, começa com a transferência de tecnologia para estender os fármacos biotecnológicos, mas precisa avançar. "Ficaremos prontos para gerar nossos próprios produtos. Estamos em paralelo desenvolvendo nosso projeto de inovação em biológico, estamos pesquisando, estudando quais seriam os produtos de maior interesse pelo Brasil e o mundo."




Parcerias para obras de hospitais evidenciam dificuldades

18/10/2016 - Valor Econômico


Um hospital é referência internacional e sofre para lidar com a demanda crescente; outro é subutilizado por falta de verbas; o terceiro está com licitação assinada há mais de dois anos, mas o terreno onde será construído ainda não foi liberado para obras.

Frutos de parcerias público-privadas (PPPs), esses três casos ilustram os tortuosos caminhos que poder público e iniciativa privada muitas vezes percorrem para concretizar projetos juntos. Também refletem as dificuldades para essa modalidade avançar no país.

No Estado mais rico do Brasil e com a maior tradição em privatização, em julho de 2014 foi assinada a PPP dos Complexos Hospitalares para a construção de três hospitais: na região da cracolândia, no centro de São Paulo, em São José dos Campos e em Sorocaba, um acréscimo de 580 leitos e 3 mil atendimentos ambulatoriais mensais à rede estadual de saúde.

A construtora Construcap investiu tempo e recursos no projeto vencedor do edital da PPP, comprometendo-se a investir cerca de R$ 740 milhões em obras, compra e instalação de equipamentos dos três hospitais. Com as unidades inauguradas, a empresa será responsável, por 20 anos, pela chamada "bata cinza" - operação de todo o hospital com exceção da área clínica ("bata branca").

No interior, as obras estão em andamento, com abertura ao público programada para fevereiro de 2018. Já na unidade da capital paulista, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) não conseguiu liberar completamente o terreno que abrigará o novo hospital Pérola Byington. À época da assinatura da parceria, o secretário Estadual da Saúde, David Uip, disse que "o principal benefício da PPP para a construção de hospitais está na agilidade para a implantação de serviços associada à economia de recursos públicos."

A Construcap não quis comentar o assunto, mas a repercussão é bastante negativa no mercado. "Para participar de uma empreitada dessa, o investidor privado gasta com estudos, levanta capital, estrutura garantias. Dois, três anos depois da licitação o custo desse projeto é outro, a realidade econômica é outra, como explicar esse detalhe do terreno para acionistas ou para fundos e bancos que me financiam ou dão garantia?", questiona, reservadamente, um empresário que tem negócios em parceria com o setor público.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo argumenta que a PPP, feita em dois lotes, "foi uma decisão estratégica e acertada, com aval da Procuradoria Geral do Estado", permitindo começar as obras dos dois hospitais no interior, e que não teve nenhum gasto com o projeto atrasado na capital. Além disso, o antigo hospital Pérola Byington segue de portas abertas "até que seja possível realizar a transferência para o novo prédio."

O governo Alckmin desapropriou 26 imóveis do terreno de 11,3 mil m2 onde será o futuro hospital, mas resta o último, uma borracharia e distribuidora de pneus, empresa familiar com quase 70 anos de existência e instalada no local há mais de 40 anos. O dono do estabelecimento, Horacio Zacharias, não gostou da oferta de indenização para a desapropriação de sua propriedade, com cerca de 5 mil m2. Levou o caso à Justiça há dois anos; o processo corre até hoje.

Ele explica que o governo estadual ofereceu inicialmente cerca de R$ 2,2 mil por metro quadrado, totalizando aproximadamente R$ 10,5 milhões - hoje, a referência para venda de imóvel comercial na cidade de São Paulo é de, em média, R$ 10,8 mil por metro quadrado, informa a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Segundo o empresário, a oferta foi melhorada recentemente, mas ele segue insatisfeito. O juiz do caso determinou que o valor do metro quadrado do terreno fosse estipulado por um perito independente. "Mesmo com toda a deterioração da região por causa da cracolândia, da insegurança, da sujeira, todo mundo sabe que o potencial de valorização é imenso", afirma Zacharias.

Em Belo Horizonte, a reclamação fica por conta da Vivante, empresa que participa da PPP do hospital municipal do Barreiro. Philippe Enaud, presidente da Vivante, diz que enfrentou "negociações exaustivas" por cerca de nove meses com a prefeitura para tentar receber a remuneração prevista em contrato pela construção e operação ("bata cinza") do hospital.

"Entregamos o hospital, mas a administração pública não paga corretamente a contraprestação pelos nossos investimentos. O contrato teve que passar por reequilíbrio econômico-financeiro, numa negociação exaustiva. Em contexto de crise fiscal e dificuldade para receber, é natural que o privado procure segmentos com fontes de pagamento mais seguras, como iluminação", afirma Enaud.

O argumento dele é que o consórcio vencedor da PPP construiu e equipou o hospital, deixando-o pronto para funcionar com capacidade total; logo, a expectativa de retorno financeiro pelo investimento feito, de mais de R$ 200 milhões, equivale a indicadores baseados em uma taxa de ocupação de 100% dos 451 leitos. O problema é que a prefeitura não tem dinheiro suficiente para honrar sua parte da parceria, que é contratar e pagar profissionais da "bata branca" (médicos, cirurgiões). O resultado é que o novo hospital, entregue em dezembro, opera abaixo de 15% de sua capacidade, e o pagamento ao parceiro privado reflete esse desempenho.

"Num contrato de longuíssimo prazo, comum às PPPs, conflito entre as partes é natural. Foi preciso recorrer ao reequilíbrio econômico-financeiro nesse caso, que é um instrumento contratual válido. Vamos pagando de acordo com o nível de atividade, mantendo perspectiva de alta desse desempenho", justifica Júlio Onofre, presidente da PBH Ativos, empresa da prefeitura responsável pelas PPPs.

Ele não garantiu quando o hospital estará funcionando plenamente e lembrou que trata-se de uma unidade "100% SUS", com 50% do custeio feito pela prefeitura e os outros 50% divididos igualmente entre governo estadual e Ministério da Saúde. "Os repasses atrasaram. Uma PPP se torna ainda mais complexa quando a parte de financiamento envolve os três entes da federação", acrescentou Onofre.

O Ministério da Saúde informou que transferiu à prefeitura de Belo Horizonte R$ 15 milhões em junho deste ano, valor referente à sua participação em 2016 no hospital do Barreiro dentro do programa federal Pro-Hosp Gestão Compartilhada. A Secretaria Estadual da Saúde de Minas não respondeu.

Na periferia de Salvador, a experiência do Hospital Estadual do Subúrbio é paradoxal. Inaugurado em 2010 como a primeira PPP na área de saúde do país, a unidade logo se transformou em referência internacional pela qualidade do atendimento e eficiência de gestão. O sucesso atraiu a população mais pobre de outras áreas da capital baiana, de outras cidades do Estado e até usuários de classe média com plano de saúde.

Com a explosão da demanda, a modelagem do contrato da PPP entre o governo baiano e a parceira privada Vivante enfrentou dificuldades. Houve muita discussão sobre como manter o contrato atualizado e ajustar os valores da remuneração pagos pelo poder concedente. Foi necessário lançar mão do reequilíbrio econômico-financeiro constantemente - em concessão tradicional, esse instrumento seria uma espécie de aditivo contratual.

"Quando a demanda começou a extrapolar pensamos: 'Tem alguma coisa errada com a modelagem da parceria'. Mas a percepção de erro na interpretação de um contrato é algo subjetivo. É preciso buscar entendimento dentro do setor público e se preparar para novos desafios institucionais. Costumo dizer que o que vivemos no Hospital do Subúrbio é um problema saudável", avalia Manuel Vitório, secretário Estadual da Fazenda da Bahia e presidente da Rede PPP, entidade que envolve governos com o objetivo de desenvolver as parcerias público-privadas no Brasil.

Mortalidade infantil dispara na Venezuela assolada pela escassez

18/10/2016 - Valor Econômico


A equipe do Hospital Universitário da cidade de Cumaná, no leste da Venezuela, encaminhou à incubação dois bebês prematuros poucos meses atrás. Mas, devido à escassez que aflige o país, o hospital tinha apenas uma incubadora, o que obrigou a equipe a fazer uma escolha cruel. Ela optou por colocar o mais forte na incubadora. O outro morreu alguns dias depois.

Cenas como essa continuam a ocorrer, diariamente, no país acossado pela crise. Nos primeiros cinco meses do ano, 4.074 bebês morreram antes de chegar a 1 ano de idade. O número representa uma alta de 18,5% em relação a igual período do ano passado e um acréscimo de mais de 50% se comparado ao mesmo período de 2012.

A mortalidade infantil está crescendo rapidamente na Venezuela, num momento em que está caindo em quase todo o mundo. Este é um dos sinais mais alarmantes de que as estruturas social e pública do país estão se esgarçando.

"Acho que isso representa um problema social muito grave, em que as funções básicas do governo estão se dissolvendo", disse Janet Currie, economista e especialista em mortalidade infantil da Universidade de Princeton.

A taxa de mortalidade infantil (de mortes que ocorrem no primeiro ano de vida) da Venezuela é de 18,6 por 1 mil nascidos vivos, de acordo com dados do governo. A proporção vai muito além do limite superior de 15,4 estimados pela Unicef para a Síria em guerra.

As mortes de bebês na Venezuela continuam mais raras do que nos países mais pobres do mundo, como o Sudão do Sul e o Congo, mas estão aumentando rapidamente, enquanto as taxas observadas nesses países têm caído.

A Venezuela era vista no passado como modelo em assistência médica na América Latina. Mas a escassez de moeda forte, instaurada pelos baixos preços do petróleo e por anos de má gestão, gerou escassez de todos os produtos.

Os dados estatísticos de mortalidade infantil na Venezuela são difíceis de obter porque o governo deixou de divulgá-los. Os médicos dos hospitais públicos, nos quais nasce a maioria dos bebês, muitas vezes são ameaçados de perder o emprego por divulgar os dados.

O estado terrível da assistência médica - no passado uma viga mestra da chamada revolução popular do governo socialista - se tornou um segredo de Estado na Venezuela, com seguranças armados vigiando as unidades de assistência médica e expulsando os jornalistas que conseguem entrar.

Em setembro os venezuelanos ficaram horrorizados com fotos de recém-nascidos acomodados em caixas de papelão no hospital Domingo Guzmán Lander, no Estado de Anzoátegui. O governador do pobre Estado litorâneo disse que as caixas estavam substituindo as incubadoras, e acrescentou que voluntários poderiam decorá-las.

Os hospitais às vezes não têm água corrente e desinfetantes, e muitas vezes enfrentam escassez de antibióticos e de leite em pó.

Rosa Angela Lara, de 18 anos, deu à luz um menino de 2,9 kg, em abril. Alguns dias depois, após manchas azuis começarem a se espalhar pelo seu corpo, ele morreu vítima de uma infecção agressiva que tomou conta do Hospital Antonio Patrico Alcalá, em Cumaná.

"Como puderam dizer que ele estava bem e, de repente, ele não estava?", disse em lágrimas a estudante universitária Rosa Angela.

Mais de cem outros bebês morreram nesse hospital de Cumaná nos quatro primeiros meses do ano, quando as enfermeiras não conseguiram comprar sabonete e a água era cortada por horas.

"É um pesadelo", disse Ana Molina, pediatra da divisão neonatal.

Em setembro, 36 dos 43 recém-nascidos em tratamento intensivo no hospital morreram, segundo Luis Vegas, ex-diretor da ala da maternidade e que ainda tem acesso aos registros epidemiológicos.

Depois de racionamentos de água que duraram dias no Hospital Luis Ortega em Porlamar, cidade na turística Ilha Margarita, sete recém-nascidos morreram em menos de uma semana em decorrência de um surto de bactérias disseminado por matéria fecal, disseram médicos à imprensa.

No leste do país, no Hospital Raúl Leoni, em Puerto Ordaz, os bebês sofriam com o calor de agosto de 35 °C. A geladeira estava quebrada, o que impedia o armazenamento de leite. Os médicos disseram que não havia álcool, antibióticos ou cotonetes. As mortes de bebês foram de 15 por mês em 2015 para 30 por mês neste ano.

"Se tivéssemos todo o material e o equipamento, possivelmente esses bebês teriam sobrevivido", disse o médico do Raúl Leoni.

A situação põe em perigo as mães também. As mortes maternas relacionadas ao parto nos hospitais públicos quintuplicaram em relação a 2012, segundo estatísticas do governo. Isso contraria a tendência mundial de queda de 44% da mortalidade materna desde 1990, de acordo com a ONU.

Há alguns meses, María de los Angeles Carreño, estudante de 19 anos de Porlamar, estava empolgada com o nascimento da filha. Exames de ultrassom revelaram que a gravidez evoluía normalmente.

Mas em abril ela começou a ter dificuldades de respirar, que, de acordo com as apreensões de seu médico, poderiam se transformar em um ataque de asma. Ela foi levada ao Hospital Luis Ortega. Seu estado piorou e ela foi posta em coma induzido. Três dias depois, os médicos começaram a tirá-la do coma e induziram o trabalho de parto.

Mia Milagros Gil Carreño nasceu prematuramente em 10 de abril, pesando 1,5 kg. Com boa assistência neonatal, ela provavelmente teria sobrevivido, mas uma enfermeira trouxe más notícias: não havia incubadoras disponíveis. Mia morreu três horas após o nascimento.

O quadro da mãe do bebê começou a se agravar. Ela precisaria de oxigênio, teria sido dito a membros da família, segundo informação deles, mas os balões de oxigênio do hospital estavam vazios.

Após sepultar a recém-nascida, a prima de María de los Angeles, Lorenis Martínez, rezava por ela perante uma desbotada imagem da Virgem do Vale, a padroeira da ilha. María de los Angeles morreu de falência múltipla dos órgãos causada por choque séptico.

"Foi como se eu tivesse sido apunhalada no peito", disse Lorenis. "Perdemos as duas."




PepsiCo investe no uso de menos sal, açúcar e gordura

18/10/2016 - Valor Econômico


APIndra Nooyi, presidente do conselho de administração: sem perder o sabor

A PepsiCo vai gastar bilhões de dólares para criar bebidas e salgadinhos e reformular os existentes com menos açúcar, sal e gordura, à medida que os consumidores demandam opções mais saudáveis e as autoridades reguladoras intensificam a pressão para conter a epidemia de obesidade.

A fabricante foi uma das pioneiras em oferecer produtos com níveis reduzidos de ingredientes que podem fazer mal à saúde. A PepsiCo afirma que um pacote de suas batatinhas contém menos sal que uma fatia de pão branco. No entanto, seu novo plano de dez anos deixa claro que a empresa acredita que tem ainda um longo caminho a percorrer.

A mudança nos hábitos alimentares, que levou a uma forte queda no consumo de refrigerantes como a Pepsi, obrigaram o setor a promover alterações radicais. Essas mudanças, porém, ainda não se refletiram nos níveis recorde de obesidade, que chegaram a 36,5% da população nos Estados Unidos.

A presidente do conselho de administração da PepsiCo, Indra Nooyi, disse ao "Financial Times" que o plano para tornar seus produtos mais saudáveis também é importante para o crescimento da empresa.

Quanto à questão da obesidade, ela destacou que o estilo de vida dos consumidores mudou de forma significativa, com muitas pessoas ficando mais sedentárias, inclusive porque passam mais tempo em frente a seus computadores. Indra disse que a contribuição da PepsiCo é produzir salgadinhos mais saudáveis e que ainda sejam saborosos.

"Mesmo antes de as pessoas estarem falando sobre obesidade, víamos mudanças nas tendências dos consumidores e percebemos que não podíamos continuar crescendo com nossa linha principal" se não fizéssemos mudanças radicais, disse Indra. "Esses objetivos estão relacionados ao crescimento de nossa linha principal."

"A sociedade precisa mudar seus hábitos", acrescentou. "Não podemos fazer muito para [alterar] estilos de vida sedentários, mas podemos proporcionar aos consumidores produtos com ótimo sabor, com pouco sal, açúcar e gorduras. No passado, precisávamos ter uma perda no sabor. Agora, estamos acabando com essa perda."

O plano da PepsiCo para suas bebidas e alimentos faz parte de metas mais amplas da empresa, baseadas em diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que na semana passada defendeu o uso de impostos sobre refrigerantes para reduzir o consumo de açúcar. As iniciativas incluem esforços para reduzir seu impacto ambiental, o consumo de água e o material usados nas embalagens até 2025.

A PepsiCo vai reduzir o número de calorias referentes à adição de açúcar para menos de 100 calorias por 12 onças (28,35 gramas) em "pelo menos" dois terços de sua carteira internacional de bebidas. Atualmente, estão dentro dessa meta 40% de suas bebidas em seus dez maiores mercados, que representam 80% da receita.

Mais de 75% dos produtos alimentares da empresa no mundo vão ter 1,1 grama ou menos de gorduras saturadas por 100 calorias. A mesma proporção de seus salgadinhos no mundo vai conter 1,3 grama ou menos de sal por caloria. Cerca de metade de seus produtos alimentares globais estão dentro dessa meta atualmente.

Rivais como a Coca-Cola e a Mondelez International também vêm se diversificando e se afastando de alimentos e bebidas considerados "não saudáveis". Ambas têm planos para reduzir o conteúdo de açúcar, sal e gorduras, mas as metas são difíceis de comparar.

A Coca-Cola almeja oferecer bebidas com poucas ou nenhuma caloria em todos os mais de 200 países nos quais opera até 2020. Atualmente, atingiu esse objetivo em 191 deles. A Mondelez espera que metade de seus salgadinhos sejam definidos como sendo de "bem-estar", um termo ambíguo, até 2020. Também pretende reduzir o sódio e as gorduras saturadas em 10% de seus produtos. Sua meta de redução de açúcar não foi divulgada.

A PepsiCo não informou exatamente quanto planeja investir para atingir suas metas. O chefe da área científica da empresa, Mehmood Khan, disse que a PepsiCo dobrou os gastos em pesquisa e desenvolvimento nos últimos cinco anos e que está "comprometida a sustentar os investimentos", acrescentando que cortes de custos não são uma forma de elevar as vendas. O orçamento de pesquisa e desenvolvimento da PepsiCo em 2015 foi de US$ 754 milhões.

Khan disse que os amplos compromissos assumidos pela PepsiCo no passado para reduzir o consumo de energia, usar água de forma mais eficiente e reduzir o desperdício geraram economias de US$ 600 milhões. O novo plano de dez anos inclui devolver toda a água que usar em "áreas de alto risco" para a mesma fonte de onde a tirou, além de iniciativas para reduzir o uso de energia e o desperdício.

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