Plantão Médico: A ação do álcool na infertilidade feminina
15/10/2016 - Folha de S.Paulo
A abstenção de bebidas alcoólicas é sempre recomendada às mulheres que decidem engravidar. É apenas uma recomendação, porque ainda não está claro o quanto de consumo de álcool intervém na infertilidade feminina. Indiscutível é o prejuízo para o bebê em suas primeiras semanas de vida.
Em editorial do "British Medical Journal", a epidemiologista Annie Britton assinala que algumas pesquisas relatam não existir esta associação, enquanto outras mostram que a diminuição da fertilidade pode estar associada ao consumo de álcool, a exemplo do trabalho publicado na mesma edição da revista. Ela acrescenta o paradoxo da gravidez não planejada (ou não desejada) pela mulher em situações de elevado consumo de álcool.
Ellen M. Mikkelsen e colaboradores relatam no "BMJ" pesquisa sobre consumo de álcool e fecundidade na Dinamarca, com a participação de 6.120 mulheres entre 21 e 45 anos que desejavam filhos e não recebiam tratamento para engravidar.
O estudo mostra que o consumo de 14 ou mais doses por semana –de 20 ml de destilado ou 120 ml de vinho ou 330 ml de cerveja– foi associado a uma leve redução na taxa de fecundidade. Menor ingestão da bebida, porém, parece não ter apresentado efeito discernível na fertilidade.
Como o feto é vulnerável ao álcool nas primeiras semanas de vida, especialistas aconselham às futuras mães abster-se de bebidas alcoólicas nos seus períodos férteis.
Médico demora dois meses só para olhar exame, diz paciente
16/10/2016 - Folha de S.Paulo
Um ano. Esse foi o tempo que a dona de casa Maria, 54, ficou sentindo dores antes de conseguir fazer uma cirurgia para tirar as pedras na vesícula que a incomodavam. Embora a gestão Fernando Haddad (PT) diga que o tempo médio de espera por uma cirurgia tenha reduzido de seis para cinco meses, não foi o que ela sofreu.
Após meses, finalmente chegara a data da operação, em setembro, no hospital do Campo Limpo (zona sul). Maria fez jejum e foi ao local, mas o procedimento foi remarcado em cima da hora. Só ocorreu um mês depois. Cirurgia feita, outros problemas. Primeiro, não havia leitos no pós-operatório. Depois, quando conseguiram, a cama estava quebrada.
"Se eu quiser que ela se mexa, que coloque a perna para cima, preciso comprar uma cama?", revolta-se Sueli Mendonça, 55, prima de Maria –ela continuava internada na semana passada. A prefeitura nega faltar leitos na unidade.
A espera de meses pelo atendimento foi o problema mais comum citado por pacientes que a reportagem abordou na porta de unidades da rede municipal, entre hospitais e postos de saúde, do Campo Limpo ao M'Boi Mirim, zona sul de São Paulo.
Em certos casos não é a cirurgia ou outros procedimentos complexos que demoram, mas a análise de exames já realizados, como conta a costureira Angela Lessa, 52. "Demora um mês, um mês e meio para o médico só olhar um exame. Até lá, se tiver alguma coisa grave", diz ela, após sair de uma consulta em uma UPA 24h (Unidade de Pronto Atendimento).
Foi o que ocorreu com o manobrista Luis Bezerra, 46. Ele diz que após sentir dores no peito e constatar pressão alta, até conseguiu atendimento rápido, mas difícil mesmo foi achar médico para conferir o exame pedido.
"Demorou dois meses. Não queriam nem deixar eu fazer os exames porque não tinha consulta agendada e o médico tinha que olhar o resultado logo depois", afirma, enquanto esperava a filha ser atendida no M'Boi Mirim.
MUITAS SIGLAS
UPA, AMA, UBS. Cada uma dessas siglas tem um significado -Unidade de Pronto Atendimento, Assistência Médica Ambulatorial e Unidade Básica de Saúde, respectivamente. A dona de casa Maria de Lourdes da Conceição, 37, se diz perdida quando precisa de atendimento. "O pior é quando você vai a um lugar e te encaminham para outro."
NOVA GESTÃO
O Corujão da Saúde, uma das principais propostas para a saúde do prefeito eleito João Doria (PSDB), não resolve os problemas, dizem pacientes ouvidos pela Folha. O programa pretende agendar exames na madrugada.
"É bom porque pode tirar o acúmulo de pessoas durante o dia. Mas eu, mulher, sozinha, não iria. Já ia chegar lá tensa", diz Sueli Mendonça. "A ideia é boa, mas tem que pensar como fazer. Ônibus à noite é difícil", diz o segurança André de Jesus, 25.
Por que vacinar os meninos contra o HPV
15/10/2016 - Época
O Ministério da Saúde anunciou na semana passada que garotos de 12 a 13 anos passarão a ser vacinados gratuitamente contra o HPV na rede pública a partir de janeiro de 2017. Serão duas doses, com intervalo de seis meses, o mesmo esquema de vacinação usado hoje para as garotas.
Jovens vivendo com HIV, de 9 a 26 anos, deverão receber três doses, com intervalo de dois e seis meses. A vacina estava aprovada para homens de 9 a 26 anos no Brasil, mas disponível apenas em clínicas particulares. Garotas são vacinadas desde 2014.
O objetivo é proteger os meninos contra uma das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) mais prevalentes, causadora das verrugas genitais.
Alguns subtipos do HPV estão diretamente relacionados a uma série de tipos de câncer que podem atingir os homens, como o de pênis, ânus, boca e garganta. Países como Austrália, Estados Unidos e Israel já imunizam meninas e meninos em seus programas nacionais de vacinação.
A associação do HPV com o câncer de colo de útero, vulva e vagina nas mulheres foi o grande disparador para o desenvolvimento de uma vacina.
Mas as evidências mostraram que a vacina também poderia proteger contra os demais tipos de câncer relacionados às práticas sexuais (sexo oral e anal), inclusive nos homens.
Uma pesquisa realizada ao longo dos últimos 11 anos com 4 mil voluntários no Brasil, no México e nos Estados Unidos, conhecida como Human papillomavirus infection in men (HIM), mostra que homens de 18 a 70 anos apresentam infecções pelo H PV com freqüências elevadas e constantes ao longo de sua vida. As taxas de infecção nos homens são superiores às das mulheres. De acordo com o estudo, 72% dos homens brasileiros apresentaram infecção pelo HPV na região genital ao longo de sua vida.
Destes, 5% desenvolveram verrugas genitais. As taxas de câncer de pênis por aqui foram três vezes mais altas do que nos Estados Unidos. Os números mais elevados acontecem entre os homens com múltiplas parceiras ou parceiros, fora de relações estáveis.
O grande desafio da vacinação entre os meninos será atingir altas taxas de cobertura. O plano é expandir gradativamente a faixa de vacinação para meninos entre 9 e 13 anos até 2020. Entre as garotas, mesmo após um grande esforço do Ministério da Saúde, apenas cerca de 45% completaram seu ciclo de vacinação.
Vacinar os meninos pode trazer o benefício adicional de diminuir o risco de transmissão do vírus para as garotas. Entretanto, para ganhar escala entre eles, é importante pensar em estratégias de parcerias com a educação, fazendo com que a vacina possa atingir um público maior do que apenas aquele que eventualmente vá aos postos de saúde.
OMS diz que epidemia de tuberculose é mais grave do que se esperava
14/10/2016 - Folha de S.Paulo / Site
Com 10,4 milhões de contaminados em 2015, a epidemia de tuberculose é mais grave do que se pensava até agora, segundo relatório anual da OMS (Organização Mundial da Saúde), publicado nesta quinta-feira (13). A entidade diz ainda que as pesquisas para encontrar uma vacina ou outros tratamentos "carece de fundos suficientes".
A cifra supera amplamente a do relatório anterior, no qual havia 9,6 milhões de infectados em todo o mundo. "A luta para alcançar nossos objetivos mundiais no combate à tuberculose é cada vez mais difícil", afirmou a diretora da organização, Margaret Chan.
"Teremos que aumentar substancialmente nossos esforços sob o risco de ver países continuamente castigados por esta epidemia mortal e não alcançar nossos objetivos", ressaltou.
A meta é reduzir o número absoluto de mortes por tuberculose em 35% e de contágios em 20% até 2020 com relação aos números de 2015. O objetivo para 2030 é diminuir em 90% a quantidade de mortos por tuberculose e em 80% os infectados. Segundo a OMS, 1,8 milhão de pessoas morreram vítimas desta doença em 2015 –300 mil a mais do que no ano anterior.
A tuberculose é provocada por uma bactéria, o bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis), que na maioria dos casos se aloja nos pulmões, destruindo o órgão gradativamente. Dois em cada cinco infectados não foram diagnosticados, e por isso podem espalhar a doença, transmitida por via aérea. Além disso, meio milhão de pessoas têm formas de tuberculose resistentes aos antibióticos, segundo a organização.
Para a ONG Médicos sem Fronteiras, este relatório "é um chamado de atenção para mudar o status quo na forma de diagnosticar e tratar a tuberculose e suas formas resistentes".
ÍNDIA SUBESTIMADA
As cifras sobre as dimensões da epidemia foram revistas para cima essencialmente porque os pesquisadores se deram conta de que as estimativas da Índia, entre 2000 e 2015, eram muito baixas. Seis países representam 60% dos novos casos: Índia, Indonésia, China, Nigéria, Paquistão e África do Sul.
Habitualmente vinculada à pobreza e a condições insalubres, a tuberculose continua sendo uma das principais doenças mortais do mundo, embora em um período de 15 anos, o número de mortes tenha caído 22%. No entanto, para alcançar os objetivos estabelecidos pela comunidade internacional, as infecções teriam que diminuir entre 4% e 5% por ano, três vezes mais rápido do que diminuem atualmente.
FALTA DE RECURSOS
A escassez de recursos também é um problema crônico no combate à doença. Entre 2005 e 2014, os fundos disponíveis alcançaram apenas 700 milhões de dólares por ano. São necessários US$ 2 bilhões para a pesquisa e o desenvolvimento de tratamentos antituberculosos, segundo o informe.
É necessário "incrementar o investimento agora ou simplesmente não conseguiremos erradicar uma das doenças mais antigas e mais mortais do mundo", disse Ariel Pablos-Mendez, um dos encarregados da agência americana para o desenvolvimento internacional, a Usaid (agência americana para o desenvolvimento internacional).
Corujão da Saúde começa em até 90 dias, diz tucano
15/10/2016 - O Estado de S.Paulo
O prefeito eleito, João Doria (PSDB), também afirmou em Buenos Aires que seu projeto emergencial para zerar a fila por exames médicos na rede pública será iniciado nos primeiros dias de janeiro, assim que assumir o cargo, como ação prioritária. Na campanha, o tucano prometeu atender a demanda atual – há 417 mil na espera –, no prazo máximo de um ano com a criação do Corujão da Saúde, programa que oferecerá horários alternativos aos pacientes, entre 20h e 8h.
“Vamos colocar, a partir de 2 de janeiro, programa emergencial em curso para reduzir a fila da saúde. O corujão vai ser implementado no prazo-limite de 60 ou 90 dias”, disse.
Segundo Doria, mulheres, gestantes e idosos serão atendidos preferencialmente em dois períodos: das 20 horas às 22 horas e das 6 horas às 8 horas, todos os dias da semana, em uma rede conveniada de hospitais.
Os demais podem ser convocados para a faixa da madrugada.
Em função dos horários, guardas civis metropolitanos serão deslocados para reforçar a segurança dos hospitais.
Serão pelo menos 40 unidades privadas, de acordo com o tucano. A rede estadual também deve participar do projeto, que custará R$ 100 milhões em 2017. Esse cálculo não inclui o pagamento de transporte aos pacientes que serão convocados a participar do Corujão. Doria diz que terão de ser usadas as linhas de ônibus que funcionam de noite ou mesmo os trens, de acordo com o endereço do hospital.
O prefeito eleito espera obter ajuda federal para custear parte dos projetos na saúde. O objetivo é arrecadar ao menos R$ 40 milhões do Orçamento da União.
Mediação tenta evitar que paciente recorra à Justiça
14/10/2016 - O Estado de S.Paulo
Mediação de conflitos entre operadoras de planos de saúde e pacientes, revisão do formato dos contratos e oferta de apoio técnico a magistrados responsáveis por julgar ações na área são algumas das medidas essenciais para enfrentar a crescente judicialização da saúde suplementar, segundo especialistas e autoridades presentes no Summit Saúde Brasil 2016.
De acordo com os ministros Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), e Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a urgência declarada nas demandas judiciais por tratamentos e medicamentos geralmente leva o magistrado a dar parecer favorável ao paciente, mesmo quando o procedimento não está previsto em contrato. Mas o ideal, dizem eles, é que o juiz fosse assessorado por especialistas na área médica para dar a decisão.
“Se existe um setor que leva o juiz a fazer escolhas trágicas, esse setor é a saúde”, afirmou Fux. “Os juízes são seres humanos.
A palavra sentença vem de sensibilidade, mas precisamos ter subsídios técnicos, saber se um remédio é eficiente, se traz esperança, para que possamos ter um critério para embasar as decisões”, disse.
Para Salomão, é preciso criar e fortalecer fóruns de apoio técnico dentro de cada tribunal de justiça do País. “É tudo muito incipiente ainda. Só agora que a visão do juiz está começando a mudar. Ele está vendo o impacto econômico das suas decisões para os outros consumidores”, afirmou o magistrado.
Presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (Anab), Alessandro Acayaba de Toledo explicou que o aumento de gastos das operadoras com o cumprimento de demandas judiciais pode levar à elevação do valor da mensalidade de todos os beneficiários do plano.
“Na judicialização, há interesses individuais que, por vezes, acabam levando ao pedido de cobertura de procedimentos não previstos em contrato. Quando isso acontece, uma pessoa acaba prejudicando toda a coletividade”, diz Toledo, que defende a criação de varas especializadas em saúde que possam julgar o tema de forma mais precisa.
CONTRATOS
O ministro do STJ ponderou que, como a jurisprudência tem caminhado no sentido de obrigar o plano a oferecer todos os tratamentos disponíveis para as doenças cobertas pelo convênio, o ideal seria que os contratos fossem renegociados com a inclusão de todos os procedimentos ofertados e a respectiva atualização do valor.
“É preciso repensar esse equilíbrio do contrato porque, hoje, a operadora cobra um valor com base no que ela dá de tratamento, mas existem situações que os tratamentos estão avançando e a jurisprudência vem concedendo esses tratamentos.
Isso tudo tem de estar contemplado no próprio sistema econômico do contrato. A agência reguladora tem de chamar a operadora e os clientes para discutir essa questão.” O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), José Carlos Abrahão, disse que o órgão já vem adotando alguns mecanismos de resolução de conflitos para evitar que os pacientes cheguem até a Justiça.
De acordo com Abrahão, das 100 mil reclamações recebidas no ano passado pela agência, cerca de 90% foram resolvidas na esfera administrativa, com a mediação da ANS. Ele ressaltou ainda que o órgão editou normas obrigando as operadoras a criar e fortalecer suas ouvidorias e fez acordos de cooperação técnica com órgãos do Judiciário.
“Estamos buscando o fortalecimento da participação social no processo regulatório.
Esse é um setor de mutualismo, onde temos de pensar na qualidade do serviço, mas também na sustentabilidade”, opinou.
Reportagem do Estado publicada em maio mostrou que o gasto das operadoras com demandas judiciais dobrou em dois anos, passando de R$ 558 milhões em 2010 para R$ 1,2 bilhão no ano passado, segundo estimativa da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge).
Com internet, idoso vive mais e melhor
14/10/2016 - O Estado de S.Paulo
Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e do número de idosos no País, não bastam políticas de prevenção de doenças – já que elas acabarão aparecendo para todos no processo de envelhecimento mais cedo ou mais tarde. É preciso pensar em como levar qualidade de vida e independência aos mais velhos, e o uso da internet pode ser uma poderosa ferramenta nesse processo.
Estudo feito por pesquisadores brasileiros e ingleses com mais de 6 mil idosos acompanhados por um período de oito anos mostrou que a chamada digital literacy (educação ou treinamento digital) reduz as perdas cognitivas e, consequentemente, o risco de morte na terceira idade. A pesquisa foi citada pelo geriatra Luiz Roberto Ramos, diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), para exaltar a importância dessa e de outras atividades que ajudam a manter a funcionalidade dos idosos.
“Hoje 30% da população idosa convive com cinco ou mais doenças crônicas. Com esse novo paradigma, não devemos buscar o êxito pela cura, mas pela qualidade de vida. E o que vai definir isso são os hábitos e o estímulo à função cognitiva”, disse Ramos durante o Summit Saúde Brasil 2016.
Fundador do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles afirmou que, apesar da importância da inclusão digital na terceira idade, apenas um quarto da população brasileira com mais de 50 anos acessa a internet, a maioria das classes A e B. “Nos últimos anos, houve uma mudança importante sobre o que significa envelhecer. Estamos em uma sociedade em que os brasileiros querem continuar ativos, mas isso requer mudanças no mercado de trabalho e um programa de democratização de acesso à internet.” Luiz Roberto Ramos explicou que o processo de envelhecimento da população brasileira ocorreu de forma muito mais rápida do que nos países da Europa.
Enquanto as nações europeias levaram 180 anos para registrar significativas reduções das taxas de mortalidade precoce e de fecundidade, o Brasil passou pela mesma transformação em apenas 90 anos. “As causas de mortalidade passaram de doenças infecciosas, que pedem tratamentos rápidos e baratos, para problemas crônicos, que exigem tratamentos longos e mais caros”, afirmou o geriatra. “É aí que entra a necessidade de olharmos mais para a alimentação saudável, o combate ao sedentarismo e ao tabagismo, a redução do estresse e os estímulos à função cognitiva dos idosos.” Recursos. Economista e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Áquilas Mendes ressaltou que os insuficientes recursos aplicados na saúde pública brasileira dificultam a implementação de políticas de prevenção e promoção da saúde do idoso. “Hoje, a União gasta 1,7% do PIB com saúde. Para garantirmos a universalidade da assistência, esse porcentual teria de dobrar, pelo menos.” Se o cenário já parece desanimador, pode ficar ainda pior, segundo o especialista, com a aprovação da PEC 241, que limita os gastos públicos por duas décadas. Estimativa feita por pesquisadores brasileiros mostra que, nos 20 anos em que a regra pode ficar em vigor, a Saúde perderia R$ 433 bilhões – o equivalente ao orçamento de quatro anos do Ministério da Saúde. Estudo do Ipea, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, mostra um quadro mais assustador com as perdas chegando a até R$ 743 bilhões “Como vamos garantir o investimento em políticas para evitar que os idosos percam capacidades diante dessas agruras econômicas?”, questionou o especialista. Mendes defendeu que, em vez de propor a PEC, o governo deveria criar mecanismos para aumentar as receitas tributando grandes movimentações financeiras.
Qualidade de vida em primeiro lugar
13/10/2016 - Época Negócios
COM UM PORTFÓLIO de 14 mil medicamentos e outros itens de saúde e a beleza, quatro lojas físicas, um televendas e a maior operação de e-commerce do setor farmacêutico no Brasil, a rede Ultrafarma associa cada vez mais a marca a práticas e valores considerados essenciais para a qualidade de vida das pessoas, como superação e bom humor. Além dos contratos assinados com a seleção brasileira de futebol e com o jogador Neymar, buscou visibilidade com o camarote Ultrafarma, na Olimpíada do Rio de Janeiro, e contratou o maestro João Carlos Martins para reforçar a imagem de empresa preocupada com a superação de obstáculos. Suas principais mensagens chegam por meio de campanhas tradicionais no rádio, internet e televisão.
Adjunto da Saúde estadual é favorito para pasta de Doria
14/10/2016 - Folha de S.Paulo
O médico Wilson Pollara, 67, secretário-adjunto da pasta da Saúde do Estado de São Paulo, é o nome mais cotado para assumir a secretaria de Saúde municipal em janeiro do próximo ano,na gestão de João Doria (PSDB), prefeito eleito da cidade.
Graduado pela Faculdade de Medicina da USP em 1973, ele é pós-graduado em cirurgia geral.Desde 1988, exerce cargos ligados à administração hospitalar, convênios e área da saúde em geral.
Exerceu a função de coordenador-geral de cirurgia no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (2008 a 2011) e de diretor-executivo do Instituto Central do Hospital das Clínicas (2011 a 2013).
A indicação tem aval do infectologista David Uip, secretário titular da Saúde da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) e amigo de Doria.
Procurado pela Folha,Uip afirma que Pollara é um dos bons nomes para a pasta da Saúde municipal, mas diz que ainda não conversou com o prefeito eleito sobre isso.
Para ele,a partir de janeiro, deverá haver maior entrosamento entre as gestões municipal e estadual da Saúde, o que ajudará na integração total do sistema público.
OUTROS NOMES
Outros três nomes também estão sendo citados nos bastidores médicos: ourologista Milton Flavio, ex-presidente do diretório municipal do PSDB em São Paulo, o cirurgião gástrico Raul Cutait, do Hospital Sírio-Libanês,e o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein.
Lottenberg,porém, deve se tornar o novo CEO da United Healthcare Brazil, dona da Amil, em substituição ao fundador da operadora de planos de saúde, Edson Bueno.
O mandato como presidente do Einstein,posto que ocupou nos últimos 15 anos, termina em dezembro deste ano.
A equipe de transição começa a trabalhar na próxima segunda (17),e os secretários devem ser anunciado em novembro pelo novo prefeito.
Doria prometeu, em campanha, reduzir o número de secretarias de 27 para 20. Ele jáafirmou,também, que criará uma pasta voltada para PPPs (parcerias público-privadas) e outra paraadigitalização dos serviços públicos e ampliação do acesso à internet, que deverá ser comandada pelo vereador eleito Daniel Annenberg (PSDB).
Governo de SP pode enfrentar greve de médicos residentes por reajuste
14/10/2016 - Folha de S.Paulo
O governo de SP pode enfrentar greve dos 6.300 residentes que trabalham na área da Saúde no Estado. Por determinação do Ministério da Saúde e do MEC, eles tiveram, ainda no governo de Dilma Rousseff, reajuste de 11,9% do salário. O governo paulista, no entanto, não pagou o aumento.
DE VOLTA
David Uip enviou na ocasião carta aos ministros dizendo que o aumento não tinha sido discutido com os Estados e que, portanto, se quisessem, os ministérios que arcassem com as despesas extras. Elas chegariam a R$ 28 milhões.
Tecnologia a serviço da saúde
14/10/2016 - O Estado de S.Paulo
O sistema brasileiro de saúde sempre foi alvo de duras críticas. Mais do que a escassez de recursos, na opinião de especialistas, falta uma gestão eficiente. E, se somarmos os dois fatores, com muita frequência terminamos na Justiça, com o paciente brigando pelo direito de receber tratamentos negados, ora pelo sistema público, ora pelo sistema privado. “Se existe um setor que leva o juiz a fazer escolhas trágicas, esse setor é a saúde”, afirmou Luiz Fux, ministro do Supremo Tribunal Federal.
O ministro foi uma das autoridades presentes no Summit Saúde 2016, evento realizado pelo Estado. O encontro reuniu também médicos, estudiosos e acadêmicos, e todos foram unânimes em apontar a iminente falência do sistema de saúde, como conhecemos hoje, se nada for feito. A opinião comum é que o cenário pode piorar com a aprovação da PEC 241, que limita os gastos públicos por duas décadas – incluindo saúde e educação.
Falando na abertura do evento, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, descartou que o orçamento de sua pasta sofrerá cortes. “A PEC é o limite de gastos globais do governo.
Dentro desse gasto global, o governo terá prioridades.
Saúde e Educação não terão redução de recursos.” Em meio a esse debate, o sistema vai ganhando inovações tecnológicas que podem ajudar a mudar o cenário atual. Não apenas as grandes empresas de tecnologia, mas também startups, trabalham para oferecer ferramentas que consigam integrar as informações do nosso sistema de saúde, ajudando, assim, a cortar custos.
Renato Policano, da Microsoft, ressaltou a possibilidade do uso do big data para melhorar a eficiência operacional e financeira dos provedores de saúde. Eduardo Cipriano, da IBM, falou da importância da tecnologia cognitiva, que significa uma revolução na tecnologia da informação. Também avançam formas alternativas de oferecer atendimento médico. “As pessoas não querem luxo, querem ser atendidas”, disse Thomaz Srougi, fundador do Dr. Consulta, empresa que tem como proposta oferecer atendimento médico de qualidade por baixo custo.
Neste caderno, o debate, as inovações e alguns bons resultados alcançados.
Menos tratamento, mais prevenção e diagnóstico
14/10/2016 - O Estado de S.Paulo
Tirar o foco da doença e coloca-lo na saúde e oferecer um cuidado integrado ao paciente são as chaves para que os sistemas de saúde sejam bem-sucedidos diante das crescentes mudanças demográficas, epidemiológicas e tecnológicas. O diagnóstico foi feito por Greg Caressi, vice-presidente sênior de healthcare da consultoria Frost & Sullivan, uma das maiores do mundo, durante o Summit Saúde Brasil 2016.
De acordo com o especialista, os avanços na tecnologia vão alterar desde métodos diagnósticos até a forma como o paciente é tratado. Ele deu como exemplos testes já disponíveis no mercado que são capazes de diagnosticar doenças infecciosas em poucos minutos, a um baixo custo e com a possibilidade de envio do resultado por meio de um aplicativo no celular. Essas técnicas, diz ele, podem, além de trazer praticidade para a medicina, revolucionar a assistência à saúde em locais pobres, como a África, onde os atendimentos médicos costumam ter estrutura precária.
“Esse é o tipo de inovação que precisamos. E isso tem de ser apresentado ao médico desde sua formação. Os jovens de hoje, que estão se graduando em medicina, fazem parte de uma geração que já está acostumada com essa conectividade.
Temos de aproveitar”, afirmou.
Caressi também destacou que, com o aumento da incidência de doenças crônicas, os pacientes necessitam de um cuidado mais integrado em diversas esferas. “O tratamento das doenças crônicas deverá passar da abordagem fragmentada vista hoje para uma solução mais integrada e focada no consumidor”, declarou.
O vice-presidente da Frost & Sullivan afirmou que ganharão espaço nesse novo modelo o uso e análise de dados e estatísticas para definir ações de saúde e a oferta de tecnologias mais baratas e acessíveis aos consumidores. “Deveremos assistir a um empoderamento dos indivíduos”, disse.
Judicialização, um mal necessário?
14/10/2016 - O Estado de S.Paulo
Anualmente, milhares de novos casos de câncer são diagnosticados no Brasil e, segundo estudo realizado pelo Observatório de Oncologia, a doença será a maior causa de morte no Brasil em 2029, ultrapassando as doenças cardiovasculares.
Dentre as explicações está o processo de envelhecimento da população – hoje 12% dos brasileiros têm mais de 60 anos, porcentual que deverá subir para 30% em três décadas. Vale ressaltar que a faixa etária que mais cresce no País é aquela de mais de 80 anos.
Mas para que esse aumento da expectativa de vida da população não se torne um peso, temos de nos preparar com políticas educacionais e de saúde.
A indústria farmacêutica, antenada a esse cenário, vem investindo fortemente em pesquisas e inovação e, consequentemente, a cada dia, apresenta um arsenal de drogas no mercado, aumentando a qualidade de vida dos pacientes. Mas, para ter acesso a tanta inovação, não são raros os casos que necessitam do fenômeno judicialização, um dos maiores gastos da saúde hoje.
Dessa forma, temos um grande desafio: equilibrar a medicina, a política e a economia em saúde, afinal, nosso sistema tem recursos finitos.
A assistência à saúde é um direito de todos e um dever do Estado, segundo a Constituição Federal do Brasil, mas como o sistema público não é suficientemente eficaz para atender todos os cidadãos, ele permite que a saúde suplementar, que contempla 50,6 milhões de beneficiários, cerca de 25% da população, faça esse papel.
Nessa visão, muitos cidadãos buscam nos planos de saúde a principal alternativa para garantir acesso ao tratamento, que podem ser por planos coletivos ou individuais. Na maioria dos casos, paga-se um valor alto por um bom plano de saúde – e não podemos esquecer de dizer que idosos, muitas vezes, chegam a entregar sua aposentadoria por inteiro para ter acesso a um hospital particular via plano.
Para regulamentar esse mercado foi sancionada, em junho de 1998, a Lei 9.656. Dois anos depois, foi criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar.
A ANS é hoje o órgão fiscalizador e controlador dos planos de saúde que vem apresentando um excelente trabalho, garantindo que as operadoras de saúde não qualificadas sejam banidas do mercado e estabelecendo um rol de coberturas mínimas, garantindo um mínimo essencial para o usuário.
Com essas ações, a saúde suplementar avançou muito na área da oncologia, como por meio da incorporação dos quimioterápicos orais, da inclusão de exames e procedimentos de alta complexidade, coberturas para transplante de medula óssea e incorporação de novas tecnologias a cada dois anos.
Temos de reforçar que, se não fosse a regulação da ANS, dependeríamos da vontade da operadora de saúde em atender seus usuários, o que poderia aumentar o número de pacientes que teriam de recorrer à Justiça para ter acesso a tratamentos.
Dentre as principais dificuldades enfrentadas pelos pacientes em relação às suas operadoras de saúde estão: negativas de coberturas/atendimentos (exames, cirurgias, quimioterapias, radioterapias), rede de atendimento insuficiente, com poucas opções de laboratórios e clínicas especializadas, além da mudança de clínicas especializadas durante o tratamento, devido ao descredenciamento de serviços pelo plano.
A Abrale, por meio do seu departamento de apoio ao paciente, recebe todos os dias inúmeros de casos assim. Nossos pacientes, mesmo que pagando por uma saúde melhor, acabam enfrentando essas e outras dificuldades durante o processo de tratamento, que, cá entre nós, já é bastante doloroso.
Buscando melhor solução, criamos a cartilha Direitos dos Pacientes, com informações completas sobre as garantias dadas aos usuários de convênios médicos, e também a cartilha Planos de Saúde, que explica de forma aprofundada e com uma linguagem simples como a saúde suplementar funciona no Brasil, garantindo informações essenciais como: o que deve ser considerado antes de contratar um bom plano de saúde? O que fazer em casos de negativas de coberturas? Como buscar acordos extrajudiciais? E, em último caso, como entrar na Justiça em situações que a conciliação não deu resultado? Ainda temos muito que avançar.
É preciso garantir um teto de reajuste para os planos coletivos, pois hoje só temos para planos individuais, o que tem levado esse tipo de plano quase à extinção; garantir que as operadoras cumpram com o fornecimento dos medicamentos e procedimentos estabelecidos no rol, sem ser preciso buscar a via judicial; estabelecer um critério de exceção que permita que, em alguns casos, a incorporação de droga órfã ocorra anualmente.
Por esses motivos é que a criação dos planos populares, proposta pelo atual ministro da Saúde, vai contra tudo o que foi construído até hoje em matéria de regulação da saúde privada. Comercializar planos que não garantam o atendimento ao paciente nem sequer atendam ao rol de cobertura mínima fere o princípio da finalidade da assistência à saúde.
Varias associações de pacientes, como também o Conselho Nacional de Saúde, repudiam essa medida do atual governo. Trata-se de mais um retrocesso à saúde no Brasil.
ANS registra redução de 1 milhão de contratos de planos de saúde
13/10/2016 - G1 - Jornal Nacional
O trabalhador desempregado também fica sem o plano de saúde da empresa. Um levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar mostrou uma redução de mais de um milhão de contratos.
Primeiro, a péssima notícia da demissão. Depois, a administradora de empresas Sabrina Aguirre ainda descobriu que não poderia continuar com o plano de saúde da empresa. O marido e a filha de 1 ano eram dependentes dela.
“Qualquer procedimento a gente vai ter que arcar com o particular. Para hoje não tem plano nenhum”, disse Sabrina.
O trabalhador demitido, sem justa causa, perde o direito de permanecer no plano de saúde empresarial em duas situações: no benefício coparticipativo, quando paga um percentual do valor de cada procedimento; e no plano em que a empresa arca com o valor total do benefício. O funcionário ainda perde o direito ao plano quando pede demissão.
Só há um caso em que o trabalhador demitido, sem justa causa, pode permanecer no plano de saúde empresarial: quando paga uma parte da mensalidade e o valor é descontado no contracheque. A cobertura para consultas, procedimentos e internações não muda, mas a conta, que antes era dividida com a empresa, passa a ser paga integralmente pelo beneficiário.
Isso vale para os planos contratados a partir de 1999. O prazo para ter acesso aos serviços depois do desligamento varia de acordo com o tempo de trabalho e é limitado ao mínimo de seis meses e ao máximo de dois anos.
Quem perdeu o plano de saúde pode contratar, por exemplo, um plano individual, que costuma ser mais caro que o empresarial. Outra opção, é o plano coletivo, oferecido por associações de classe e sindicatos. Nesse caso, o Procon alerta para ficar de olho nos reajustes.
“Primeiro que ele verifique quantos são os segurados, porque quanto maior o número de segurados, melhor. Procurar saber, historicamente, quais os reajustes que esse plano sofreu. É o contrato que determina o reajuste, e não a Agência Nacional de Saúde Suplementar”, explicou Marcelo Barbosa, do Procon - Assembleia Legislativa de Minas.
Engenheira desempregada, Andrea Oliveira teve direito ao plano de saúde da empresa. Mas o prazo está acabando e agora ela aderiu a um plano de um conselho de classe.
“Se ele não me atender eu tenho como, pelas cláusulas, cancelar o plano, mas é o que me atendeu hoje por estar desempregada”, disse Andrea.
Entrevista: Conheça os direitos das portadoras de câncer de mama
13/10/2016 - Portal EBC
A campanha Outubro Rosa visa conscientizar e prevenir as mulheres contra o câncer de mama. A descoberta da doença e o tratamento são etapas importantes e difíceis.
As trabalhadoras portadoras do tumor devem ficar atentas e buscar informações, pois há uma série de direitos trabalhistas e benefícios previdenciários que podem ser requeridos.
Nesta entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM, a advogada com especialização em Direito de Saúde, Sivone Da Silva, explica : “Qualquer trabalhador portador da neoplasia maligna, denominado câncer, pode sim, dirigir-se a uma Caixa Econômica Federal (CEF), qualquer agência em sua cidade, e solicitar o resgate dos depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) que está la disponível, além do saque do PIS/PASEP”
Ela explica como agir juridicamente para fazer valer o direito de fazer exames preventivos, principalmente a mamografia.
Suplementos de cálcio podem causar danos ao coração, diz estudo
13/10/2016 - O Globo
Em um novo estudo que alerta para a grande diferença entre obter nutrientes naturalmente ou através de pílulas, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, EUA, descobriram que dietas ricas em cálcio podem ser benéficas para o coração, mas a ingestão exagerada do mineral por meio de suplementos eleva o risco de acúmulo de placas nas artérias (aterosclerose) e danos ao órgão. Segundo os cientistas, uma das principais motivações da investigação foram justamente pesquisas anteriores indicando que o cálcio dos suplementos não chegava aos ossos nem era totalmente excretado na urina dos consumidores, o que implica que ele deveria se acumular em alguma parte do corpo.
Assim, a distinção entre a absorção e os efeitos na saúde dos nutrientes dependendo de sua fonte ganha ainda mais importância diante de levantamento recente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins Especiais e Congêneres (Abiad). Ele revelou que 54% dos lares brasileiros abrigam ao menos um indivíduo que toma algum tipo de suplemento. E embora as vitaminas liderem a lista, com 48% do consumo, os minerais, como o cálcio, ficam em segundo lugar no consumo, com 22%, à frente de substâncias extraídas de plantas, com 19%. Já nos EUA, o Instituto Nacional de Saúde estima que 43% da população adulta toma suplementos com cálcio, inclusive mais da metade das mulheres acima de 60 anos, a maioria sem orientação médica, por acreditar que assim podem se prevenir da osteoporose.
— Quando o assunto é o uso de suplementos de vitaminas e minerais, particularmente de cálcio para a saúde dos ossos, muitos americanos acham que quanto mais é sempre melhor — resume Erin Michos, vice-diretora de cardiologia preventiva e professora da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, uma das autoras do estudo, publicado esta semana no periódico “Journal of the American Heart Association”. — Mas nosso estudo oferece evidências de que o excesso de cálcio na forma de suplementos pode prejudicar o coração e o sistema vascular.
ALIMENTOS SÃO A FONTE MAIS SEGURA
Na pesquisa, os cientistas acompanharam 2,7 mil dos cerca de 6,8 mil voluntários do Estudo Multiétnico da Aterosclerose (Mesa, na sigla em inglês), projeto de longo prazo financiado pelo governo americano para investigar este que é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas. Com idades que variavam de 45 a 84 anos quando do início do estudo, em 2000, os participantes responderam na época um extenso questionário sobre seus hábitos alimentares, o que permitiu avaliar quanto cálcio ingeriam a partir do consumo de alimentos como laticínios, verduras e outros alimentos ricos ou enriquecidos com o mineral, como cereais matinais.
Separadamente, os pesquisadores também fizeram um inventário dos remédios e suplementos que cada um dos voluntários tomava diariamente. Por fim, eles foram submetidos a exames de tomografia computadorizada para medir sua taxa de cálcio nas artérias coronárias, um marcador de risco de desenvolvimento de doenças no coração. No início do estudo, 1.175 dos participantes apresentavam alguma formação de placas nas suas artérias coronárias nos exames. Estes foram repetidos em todos os participantes dez anos depois, para avaliar se as placas haviam aumentado, diminuído ou aparecido nos que estavam livres delas.
Na análise, os pesquisadores inicialmente dividiram os voluntários em cinco grupos baseados no total de cálcio que ingeriam, seja por meio da dieta ou através de suplementos. Depois de ajustarem os dados de acordo com a idade, sexo, etnia, prática de exercícios, tabagismo, educação, peso, uso de álcool, pressão sanguínea, glicemia e histórico médico familiar dos participantes, os cientistas separaram os 20% deles com maior consumo total de cálcio, acima de 1,4 grama por dia. Os cálculos mostraram então que este subgrupo tinha 27% menos chances de desenvolver problemas no coração indicados pelo marcador de cálcio nas artérias coronárias do que os 20% dos voluntários com menor ingestão do mineral, abaixo de 400 miligramas diários.
A seguir, no entanto, os pesquisadores decidiram se focar nas diferenças entre aqueles cujo cálcio vinha apenas da dieta daqueles que obtêm o mineral por meio dos suplementos, consumidos por 46% dos integrantes do estudo. Novamente levando em conta as mesmas diferenças demográficas e de estilo de vida que também podem influenciar no desenvolvimento de problemas cardíacos, como na análise anterior, os cientistas descobriram que os usuários dos suplementos tinham uma chance 22% maior de verem suas taxas de cálcio nas artérias coronárias subirem ao longo da década.
— Há claramente algo diferente em como o corpo usa e responde aos suplementos frente à ingestão pela dieta que os torna (os suplementos) mais perigosos — comenta John Anderson, professor emérito de nutrição da Universidade da Carolina do Norte e coautor do estudo. — Pode ser porque os suplementos contêm sais de cálcio, ou pode ser que isso aconteça por se tomar uma grande dose de uma vez que o corpo não seja capaz de processar.
CIENTISTAS RECOMENDAM CAUTELA
Já entre os participantes que tinham a maior ingestão de cálcio exclusivamente por meio da dieta, com mais de 1.022 miligramas por dia, os pesquisadores não observaram nenhum aumento na taxa de cálcio nas artérias coronárias, e consequentemente do risco de desenvolver problemas cardíacos de acordo com este marcador, nos dez anos do estudo.
— Baseados nestas evidências, podemos dizer a nossos pacientes que não parece haver qualquer risco em ter uma dieta saudável para o coração que inclua alimentos ricos em cálcio, e que talvez isso até seja benéfico para o coração — conclui Erin. — Mas os pacientes devem realmente discutir com seus médicos planos de tomar suplementos de cálcio para definir qual seria a melhor dosagem ou mesmo se realmente precisam deles. |