Os planos de saúde "populares" e a lógica da segregação
18/08/2016 - Carta Capital Online
A intenção já vinha sendo anunciada – e provocando barulho – há algumas semanas, mas foi só na sexta-feira 5 que o ministro interino da Saúde, Ricardo Barros, deu o primeiro passo para sua concretização. O titular da pasta escolheu uma data, o Dia Nacional da Saúde, para editar portaria que define que em até 120 dias uma proposta de plano de saúde “acessível”, novo nome para o que até então era chamado de plano “popular”, será apresentada ao País.
Independente do adjetivo escolhido, a ideia é alterar exigências mínimas de cobertura hoje vigentes para estimular as empresas operadoras de planos a oferecer produtos mais baratos para a população. O governo provisório argumenta que a medida vai desafogar os serviços públicos e gerar economia de recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Entidades como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Pediatria e Rede Unida marcaram posição contra a proposta, somando-se à Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e ao Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) que, com base nas declarações anteriores do ministro, já haviam divulgado que pretendem entrar com ação na Justiça contra o governo caso a proposta vingue.
Além dos argumentos oficiais, contestados, o próprio método de construção foi alvo de críticas. Isso porque a proposta deve sair de um grupo de trabalho composto pelo ministério, pela Confederação Nacional das Empresas e Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CnSeg) e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A Agência, contudo, deixou o governo em uma saia justa ao emitir nota ainda no dia 5 informando que não tinha conhecimento prévio sobre a criação do grupo de trabalho.
Para entender o que está em jogo, o Portal da Escola Politécnica Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) conversou com dois especialistas na relação entre o Sistema Único e a saúde suplementar que apontam que a proposta, longe de desafogar ou desonerar, pode ser um plano B ao SUS.
LUTA CONTRA A COBERTURA REDUZIDA
“A justificativa de desafogar o SUS é totalmente equivocada. É uma proposta das empresas, isso é muito claro. Essa proposta é reincidente no histórico da regulamentação dos planos de saúde. E é uma proposta ilegal”, aponta Mario Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo ele, antes de 1998 – quando a lei dos planos foi aprovada – a saúde suplementar era terra de ninguém. “Por mais de 30 anos essas empresas atuaram sem nenhuma regra. A cobertura reduzida era a grande característica dos produtos que elas vendiam. Por exemplo, excluíam doenças infecciosas e cardíacas, órteses e próteses, fisioterapia. Os planos tinham segmentação de dias de internação, não atendiam internação em UTI até tantos dias. Esse caos total levou a uma grande reação na década de 1990”.
No contexto pós-ditadura, surgiu um movimento que exigia uma lei para regulamentar o setor, composto por organizações de defesa do consumidor, entidades médicas e entidades de portadores de patologias então excluídas dos planos, como os renais crônicos e HIV/AIDS.
Uma das grandes tensões no processo de regulamentação foi o fato de as empresas não aceitarem incluir na lei uma regra para uniformizar a cobertura dos planos.
Mais regras vieram em 2000, quando a ANS foi criada e estipulou um rol de procedimentos mínimos de cobertura. “As empresas de planos nunca engoliram essa legislação. E tensionam o tempo todo para que volte a ser como antes. E aí pode dar o nome que for: popular, acessível. É um plano de baixo preço em troca de cobertura reduzida”, diz.
NOVA INVESTIDA
Segundo Mario, as empresas chegaram perto de conseguir reverter essas restrições em duas situações. Em 2001, quando o governo Fernando Henrique Cardoso editou uma Medida Provisória instituindo o plano subsegmentado. “Os planos poderiam, de acordo com os serviços disponíveis naquela cidade, naquela região, dar ou não cobertura. Isso gerou uma grande mobilização, pressão no Congresso e a MP foi revogada”. Em 2013, continua ele, a proposta do governo Dilma Rousseff era expandir o mercado de planos populares através de subsídios públicos.
“E agora essa pauta volta pelas mãos de um ministro da Saúde que tem uma proximidade muito grande com esses interesses, ele teve sua campanha eleitoral financiada pelo setor. A novidade é que as empresas passaram da reivindicação à formulação. É uma formulação do setor privado, tanto que descaradamente se cria um grupo de trabalho passando por cima até da ANS. E olha que a Agência também tem uma proximidade grande com esse mercado, mas nem ela foi consultada”, situa.
Para o economista Carlos Ocké, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a proposta cumpre um duplo papel para o governo neste momento. “Num contexto de recessão, de desemprego, de redução da renda média, e, portanto, de maiores dificuldades para a expansão do mercado de planos de saúde, do ponto de vista de um governo liberal ou neoliberal, essa proposta é a tentativa de criar um novo filão de mercado”.
O segundo ponto, de acordo com ele, se liga ao contexto político. “Cumpre um papel de legitimação. O consumo de plano de saúde se tornou um valor positivo na sociedade brasileira. Isso, inclusive, foi estimulado pelos próprios governos do PT. Agora, esse ministro joga essa proposta. É uma tentativa de se legitimar junto às classes populares”, diz.
E completa: “É uma proposta extremamente perversa porque trabalha com uma ideologia que é difundida, mas que é, digamos assim, uma falsa consciência. Porque apesar de ter se transformado em status, plano de saúde não resolve de forma concreta o problema de cobertura dos trabalhadores, das classes populares. E não desafoga o SUS, pelo contrário”.
EFEITO REBOTE
Isso porque, segundo os especialistas, um plano “acessível” remeterá o atendimento mais caro e complexo de volta para o SUS. “Vai desafogar o que no SUS? Desafogar consultas e exames? Existe um gargalo nas especialidades, mas a grande questão que a perda de capacidade fiscal dos estados e municípios e da própria União traz é a diminuição da capacidade de alta e a média complexidade. O SUS está perdendo capacidade de cirurgias, os grandes hospitais do SUS estão fechando leitos e enfermarias por conta da diminuição de recursos. Planos que não cumprem a obrigação de dar uma assistência mínima sobrecarregarão o SUS”, afirma Mario Scheffer.
“A clientela da medicina privada utiliza o SUS e vai continuar utilizando. Quando não dá conta no setor privado irá para o SUS sem nenhum tipo de planejamento, de racionalidade”, completa Carlos Ocké.
O economista rebate ainda os cálculos do ministro interino, que afirmou que o plano acessível permitiria colocar entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões por ano no que ele vem chamando de “saúde pública”. “Esse número foi tirado da cartola, é um número mágico. Não tem nenhum estudo que indique isso, pelo contrário. Pode trazer custos administrativos para o SUS porque vai tornar difusa a racionalidade do público e do privado, vai onerar o gasto das famílias. É um grande negócio para as operadoras de planos de saúde”.
PLANOS BARATOS JÁ EXISTEM
Segundo Scheffer, planos baratos já existem hoje no mercado de dois jeitos. Um é o plano ambulatorial, que a lei permitiu. “Hoje você pode vender plano só de consulta e exame”. Mas, segundo o professor, esse plano não ‘pegou ‘no mercado: foi a opção de menos de 4% dos 58 milhões de pessoas que têm plano de saúde – seja coletivo ou individual. “Em São Paulo esse plano tem uma média de preço de R$ 100 a mensalidade para uma faixa etária de 34 a 39 anos”, informa ele.
O segundo tipo de plano barato que já existe é aquele que tem uma rede credenciada de serviços reduzida. “Há uma verdadeira multiplicação desses planos que a gente chama de falsos coletivos. Eles são baratos no preço, mas são uma arapuca para as pessoas. Hoje está explodindo a judicialização contra esses planos”, conta o especialista. De acordo com ele, de 2010 a 2015, cresceu quase cinco vezes o número de ações contra planos no estado de São Paulo.
“Então o que é essa proposta? O que vai ser plano barato? Não fica muito claro. Seria uma cesta em que o consumidor teria que escolher entre ter ou não internação? Se tiver internação vai ter só de alguns tipos? Ainda não sabemos como isso vai se materializar. E existirá um problema seríssimo com a Justiça em operacionalizar isso, com a perspectiva de explodir ainda mais as ações judiciais contra as operadoras”, prevê.
E Mario Scheffer aponta mais consequências: com a redução da cobertura mínima, os médicos não terão condição, muitas vezes, de dar os meios diagnósticos e terapêuticos necessários para atender aquela necessidade de saúde. “Isso é muito sério, é uma questão ética. Não é à toa que os médicos começaram a se manifestar, já viram o quanto isso vai doer na autonomia e também no bolso porque plano de baixo preço vai diminuir honorário médico”.
Carlos Ocké concorda: “Ao processo de concentração e centralização desse mercado, o estímulo aos planos baratos tende a intensificar o achatamento do salário dos profissionais de saúde”.
ALÉM DP PLANO POPULAR, VGBL
O economista também chama atenção para uma passagem de bastão das entidades que representam os interesses do mercado que pode apontar mais mudanças, ainda pouco conhecidas.
“Até então era a Confederação Nacional de Saúde quem vocalizava o setor. A grande novidade desse grupo de trabalho é a participação da CNSeg que, como o próprio nome diz, representa também empresas de seguros gerais, previdência privada e capitalização”.
Para ele, isso junto com a pista do ministro de que ele pretende mexer tanto no plano de saúde individual quanto no plano empresarial, aponta uma tendência de financeirização da saúde: “Provavelmente para o plano individual vai ser esse modelo subsegmentado, ou seja, um plano ambulatorial reduzido, com cobertura reduzida. Mas é preciso iluminar um pouco isso porque embora o foco esteja no plano popular, as pistas nos levam a acreditar que do ponto de vista do plano empresarial, é bem provável que surja a ideia do VGBL na saúde”, diz, citando a sigla para Vida Gerador de Benefícios Livres.
Desde 2011, a ANS anuncia a criação de um novo tipo de plano de saúde que une assistência médica e previdência privada. O apelo do produto é permitir acumular recursos em um fundo de capitalização individual que, em tese, ajudariam a custear os gastos com saúde na velhice.
“Isso vai pressupor recursos públicos – provavelmente renúncia fiscal – e tem um mix de poupança financeira com assistência médica que é extremamente atrativo num primeiro momento, porque ele vende o seguinte: você vai fazer uma poupança e só vai usar se você ficar doente. Mas a probabilidade de um idoso ficar doente é muito grande. Na prática, quando precisar de certos procedimentos, vai ter que pagar do seu bolso porque o rol é muito limitado, além da instituição da franquia por uso”, explica.
PRESSÃO INTERNACIONAL
Os especialistas ligam a pressão pela desregulamentação das regras da saúde suplementar no Brasil à entrada de empresas e investidores internacionais no mercado, sacramentada em 2015 com a aprovação da lei do capital estrangeiro.
“O movimento da internacionalização da economia demonstra que uma estratégia muito clara do capital internacional é emplacar mudanças normativas, institucionais, fazendo com que a legislação dos países se torne mais favorável. Na verdade, eles querem o quê? Acumular ao máximo e reduzir qualquer tipo de restrição”, afirma Ocké.
Mario Scheffer completa: “O capital estrangeiro é volátil, ele quer rentabilidade. E a rentabilidade estará nesses produtos populares que não têm compromisso nenhum com a assistência à saúde, o compromisso é com o faturamento imediato. É a volta do plano do copo d´água e aspirina, e as pessoas vão ter uma falsa ilusão que terão um plano de saúde”.
Reino Unido taxa refrigerante açucarado para combater obesidade
18/08/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O Reino Unido disse nesta quinta-feira (18) que vai taxar companhias que vendem refrigerantes açucarados e investir o dinheiro arrecadado em programas de saúde para crianças em idade escolar. A decisão faz parte de uma estratégia para combater a obesidade há muito aguardada, mas que críticos dizem ser muito tímida.
Os fabricantes de bebidas também atacaram o plano, que pede a eles que reduzam urgentemente os níveis de açúcar em produtos direcionados ao público infantil sob o argumento de que quase um terço das crianças entre 2 e 15 anos já está acima do peso ou obesa.
Em comunicado com detalhes da estratégia, que tem sido desenhada por anos, o governo disse que a obesidade custa bilhões de libras ao Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) todos os anos.
Mas o professor de medicina cardiovascular e presidente do conselho do grupo Ação contra o Açúcar, Graham MacGregor, criticou o plano e disse que ele não é uma resposta à altura da crise de obesidade e diabetes, que "irá quebrar o NHS a menos que algo radical seja feito".
Ao estabelecer um imposto sobre o açúcar, o Reino Unido junta-se a Bélgica, França, Hungria e México, que já impuseram alguma forma de taxação sobre bebidas com adição de açúcar. Países escandinavos também têm adotado impostos similares.
Os planos do Reino Unido preveem que o imposto incida sobre bebidas com um teor de açúcares totais superior a 5 gramas por 100 ml, com possibilidade de taxas maiores para bebidas ainda mais açucaradas.
O departamento de saúde do governo diz que bebidas açucaradas são a maior fonte de açúcar para as crianças, e que uma criança pode consumir mais do que o volume diário recomendado com apenas uma lata de refrigerante, que contém nove colheres de chá de açúcar.
Por outro lado, o diretor-geral da Associação Britânica de Bebidas Leves, Gavin Partington, disse que o imposto é "punitivo" e irá "causar milhares de perdas de empregos sem causar um impacto significativo nos níveis de obesidade".
Pessoas com ELA sofrem para conseguir os benefícios do INSS
19/08/2016 - Folha de S.Paulo
Com uma voz simpática, mas cansada, Marcelo Rodrigues, 49, conta como percebeu os primeiros sintomas da ELA (esclerose lateral amiotrófica). A voz enfraquece e ele faz pausas para recuperar o ar. Depois de 15 minutos de conversa, pede para desligar. Ele precisa descansar e usar um aparelho que ajuda na respiração. “Queria estar com mais fôlego.” Marcelo, assim como outros portadores da ELA ouvidos pela reportagem, relata dificuldades para conseguir a aposentadoria por invalidez, um benefício concedido pelo INSS. Médicos especialistas e a Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (Abrela) afirmam que, em muitos casos, os pacientes encontram barreiras até para obter o auxílio-doença. No caminho para colocar o saco de lixo na rua, a perna desaparece. Ela, por alguns instantes, deixa de responder. Essa foi a primeira manifestação da ELA na vida de Marcelo e de sua esposa, Miralva Rodrigues, 51.
A fraqueza muscular costuma ser o principal sintoma da doença neurodegenerativa que mata os neurônios motores. Conforme o tempo passa, os músculos vão se tornando mais frágeis. Andar se torna difícil e, mais cedo ou mais tarde, um andador ou uma cadeira de rodas serão necessários. Para Rodrigues, atualmente, até usar o celular já não é tão simples.
A atrofia nos músculos se espalha pelo corpo e a ingestão de líquidos e a própria respiração ficam debilitados. Os pacientes começam a utilizar um pequeno respirador não invasivo, o bipap. Após o diagnóstico, a taxa de sobrevida é de, aproximadamente, cinco anos.
A morte costuma ocorrer por insuficiência ou infecções no trato respiratório, segundo especialistas. Stephen Hawking, famoso físico portador da doença, é um raro caso de longa sobrevida. Pela falta de condição de trabalho e pelo pouco tempo que resta de vida saudável, os diagnosticados com a doença procuram o INSS em busca do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, dinheiro direcionado a pessoas sem condição de trabalho e que contribuíram para a previdência. “O paciente vai, volta e não consegue o benefício. Há dificuldade de compreender que não é porque a pessoa está andando que ela não tem uma doença grave”, afirma Hideraldo Cabeça, neurologista especialista em ELA.
Rodrigues já estava diagnosticado quando fez a primeira perícia que poderia resultar em sua aposentadoria. Na ocasião, somente o auxílio-doença foi concedido. “O Marcelo perguntou por que não poderia aposentar, se ele estava morrendo. A perita falou que ele era muito novo”, diz Miralva. Na perícia seguinte, quase um ano depois, ele se aposentou.
A “conquista” de Marcelo, contudo, não é uma regra. O supervisor operacional Filipe Cardena, 27, descobriu ser portador da doença há dois anos. Conseguiu, por um ano, receber o auxílio-doença. Depois disso, o benefício foi cortado. Ele anda com dificuldade e, para longas distâncias, utiliza a cadeira de rodas. “Me deram como capacitado para trabalhar”, afirma Cardena. “Eu perguntei para o meu médico se eu iria morrer mais rápido se voltasse a trabalhar. Ele foi bem direto ao afirmar que sim. José Gomes, 55, passa por situação semelhante. Ele não consegue mais tomar banho sozinho e ainda não conseguiu a aposentadoria. Segundo a Abrela, a concessão dos auxílios-doença tem demorado cerca de um ano e meio. Para aposentadoria, o tempo é o dobro. “A pessoa chega com crédito para outra vida”, diz Cecilia Campos, da associação. Antes do encerramento da reportagem, Rodrigues foi internado em um Centro de Tratamento e Terapia Intensiva e Cardena foi para um retiro espiritual em busca de cura.
Diagnóstico de paciente com ELA não é fácil
19/08/2016 - Folha de S.Paulo
Segundo especialistas, muitas vezes o diagnóstico nas fases iniciais da doença pode ser difícil. Acary Oliveira, neurologista da Unifesp cita um caso. “Há 4 meses, ela não tinha nada no braço. Hoje ela o levanta com muita dificuldade.
Se o perito avaliar, ele acha que ela está perfeita.” Por isso, neurologistas acreditam que mais atenção deve ser dada à doença e que os benefícios, auxílio-doença e aposentadoria por invalidez, devem ser agilizados, assim que houver diagnóstico.
A Associação Brasil Parkinson também relata dificuldades para obter auxílio doença e aposentadoria. O INSS afirmou, em nota, que as perícias são individualizadas e “apenas parte do processo de concessão de um benefício por incapacidade”.
Segundo o órgão “a decisão pericial quanto à indicação de aposentadoria por invalidez perpassa pela caracterização de incapacidade total e permanente para o trabalho, em que não seja possível reabilitação profissional, considerando os atuais avanços científicos e tecnológicos da medicina, bem como dos tratamentos médicos.”
O INSS também diz que “o perito considera não apenas o diagnóstico de ELA, mas o estágio evolutivo da doença e sua repercussão na atividade laboral.” O Ministério da Saúde afirma que “oferece assistência e medicamentos gratuitos aos pacientes com essa doença”. A Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social não havia se manifestado até o fechamento da reportagem.
As cidades e o Aedes
19/08/2016 - Folha de S.Paulo
Após o encerramento da Olimpíada neste domingo (21), o país deve voltar novamente os olhos para uma questão sanitária que não deu trégua: a epidemia tríplice de dengue, zika e chikungunya iniciada em 2015 e que ainda persiste. Embora os números de dengue e zika tenham sofrido queda no primeiro semestre, os da febre chikungunya seguem crescendo mesmo no inverno. Foram 170 mil contra 17 mil em igual período de 2015. O número de mortes saltou de 6 para 38. Até 20% das pessoas infectadas pelo chikungunya continuam com dores articulares e limitações por anos e vão precisar de reumatologistas, de remédios de alto custo e de fisioterapia.
Não é preciso ser um expert em gestão em saúde para supor o impacto disso no já combalido SUS. Sem contar os casos de transmissão do vírus da mãe para o bebê. Ao menos três Estados (Bahia, Pernambuco e Paraíba) têm registros de recém-nascidos infectados, com quadros de meningite e de hemorragia cerebral que demandam dias de UTI neonatal — estrutura sempre em falta no sistema público de saúde. Isso vem a se somar às já conhecidas falhas de assistência aos bebês com microcefalia associada ao vírus da zika.
Famílias no Nordeste se queixam da falta de remédios e de vagas nos serviços de reabilitação. Bem ou mal, os gestores públicos têm tentado dar respostas a essas questões. Mas um dos pontos centrais na guerra contra o mosquito Aedes aegypti, o saneamento básico, pouco avança na agenda política nacional. Só 58% dos domicílios brasileiros têm coleta de esgoto.
A maioria dos dejetos (61%) sai dos nossos banheiros e segue para fossas, rios e lagos. Mais de 50% dos municípios ainda não resolveram de forma adequada o destino final do lixo. No Congresso já corre novo projeto para adiar para 2024 o prazo de obrigatoriedade para o fim dos “lixões”. Perto de 85% das casas possuem rede de água, mas não há dados de quantas famílias sofrem com desabastecimento.
No último índice nacional de infestação de Aedes, 82,5% dos focos no Nordeste estavam em depósitos de água para consumo. E, no Sul, 49% no lixo urbano. As ações contra as arboviroses sempre estiveram focadas no combate ao Aedes, e não nas condições socioambientais. Há muito que o “fumacê” se mostra ineficiente. Em geral, só serve para jogar dinheiro fora e gerar mosquitos mais resistentes. Há boas perspectivas em relação aos mosquitos transgênicos, mas, sem um olhar para as cidades, para a falta de saneamento e a urbanização caótica dos grandes centros, o país pouco avançará no combate ao Aedes. Seguirá colecionando epidemias recordes, mortes evitáveis e gerações de pessoas sequeladas.
ONU admite culpa em surto de cólera que matou 10 mil no Haiti
19/08/2016 - Valor Econômico
A Organização das Nações Unidas (ONU) disse ontem que precisa "fazer muito mais" para enfrentar seu próprio envolvimento na disseminação do cólera no Haiti e o sofrimento das pessoas afetadas, estimadas em mais de 770 mil.
Pesquisadores afirmam que há amplas evidências de que o cólera foi introduzido no Haiti em outubro de 2010, pelo tratamento inadequado do esgoto de uma base da ONU para a manutenção da paz. O órgão nunca admitiu sua responsabilidade e vem respondendo a processos movidos em nome das vítimas em tribunais americanos, alegando que tem imunidade diplomática.
Um comunicado do porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, referindo-se ao "próprio envolvimento" da organização, enviado ontem à "Associated Press", chega mais perto na admissão de alguma responsabilidade e foi bem-recebido pelos advogados das vítimas.
"Essa é uma grande vitória para milhares de haitianos que vêm clamando por justiça, escrevendo à ONU e levando-a à justiça", disse Mario Joseph, um advogado especialista em direitos humanos cuja firma está liderando uma reivindicação em nome de 5 mil vítimas do cólera. "Já era tempo de a ONU fazer a coisa certa e provar ao mundo que direitos humanos para todos envolve também os haitianos."
Haq disse no comunicado que a ONU vem considerando uma série de opções e "um conjunto significativo de novas medidas" será apresentado publicamente nos próximos dois meses. A informação foi publicada em primeira-mão pelo "The New York Times".
Cinco especialistas em direitos humanos da ONU criticaram a organização em uma carta enviada à sua cúpula no fim de 2015, por negar "o direito fundamental das vítimas do cólera à justiça".
Pelo menos um processo foi rejeitado por causa da reivindicação de imunidade diplomática da ONU. Mas um tribunal federal de apelações de Nova York está avaliando se o processo em que o advogado haitiano Joseph está envolvido pode ser prosseguimento, ou se a ONU tem direito a imunidade.
Haq reiterou ontem que a posição legal da ONU em alegar imunidade diplomática "não mudou".
Segundo dados do governo, mais de 770 mil pessoas contraíram o cólera - cerca de 7% da população haitiana. Desse total, mais de 9,2 mil pessoas morreram vítimas da doença. Até março, a doença matava uma média de 37 pessoas por mês.
O Haiti é o país mais pobre do hemisfério Ocidental e apenas 24% dos haitianos têm acesso a banheiro. O esgoto raramente é tratado e as águas seguras são inacessíveis para muitos.
Pesquisadores afirmam que o cólera foi detectado pela primeira vez no Vale Artibonite, na região central do país, e citam evidências de que ele foi introduzido no maior rio do Haiti a partir de uma base da ONU que abriga tropas do Nepal, país onde o cólera é endêmico.
Zika chega a Miami Beach e autoridades cogitam alerta
19/08/2016 - O Estado de S.Paulo
Novos casos de zika provavelmente transmitidos localmente foram identificados em Miami Beach, península turística da cidade no Estado americano da Flórida. A informação foi divulgada por autoridades de saúde, que cogitam declarar a área como zona ativa de transmissão do vírus. Eles estudam ainda se mulheres grávidas serão aconselhadas a evitar a região.
Órgãos locais de saúde disseram nesta quinta-feira, 18, que há alguns casos de pacientes “com proximidade entre si”. Até a noite desta quinta, a informação não havia ganhado repercussão por parte de Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) nem do Departamento Estadual da Flórida.
Antes desse registro, uma outra localidade da cidade já havia sido declarada como área de transmissão do zika. Em Wynwood, as autoridades contabilizaram entre 25 e 35 infecções locais.
A emissora americana NBC noticiou que um dos casos em Miami Beach é de uma pessoa que trabalha na cidade, enquanto o outro envolve um turista que visitou o local há cerca de duas semanas.
ADULTOS
Uma nova pesquisa feita por cientistas americanos revelou que a infecção por zika mata células-tronco neurais em camundongos adultos. Segundo o estudo, publicado nesta quinta na revista científica Cell, ainda não foi estudado se a morte dessas células tem algum efeito de curto ou longo prazo nos animais adultos.
Os fetos têm quantidade muito maior de células que dão origem aos neurônios e já foi provado que o vírus zika as destrói, causando microcefalia e outras más-formações. Em adultos, em menor quantidade, essas células são fundamentais para a memória e para o aprendizado.
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