Zika leva a deformidade nas juntas, diz estudo
10/08/2016 - O Estado de S.Paulo
Um novo estudo desenvolvido por cientistas brasileiros descreveu pela primeira vez com detalhes como a infecção por zika em mulheres grávidas faz com que os bebês desenvolvam artrogripose, síndrome que provoca graves deformidades nas articulações, especialmente em braços e pernas. A pesquisa, publicada na revista científica BMJ, analisou sete bebês que nasceram em Pernambuco com infecção por zika.
De acordo com a autora principal do estudo, Vanessa Van Der Linden, neuropediatra do Hospital Barão de Lucena, no Recife, a análise mostrou que a artrogripose dos bebês não está relacionada a anomalias específicas das articulações, mas tem origem neurogênica, isto é, ligada ao processo de formação dos neurônios.
“Dois estudos anteriores, feitos no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, já haviam identificado três pacientes com zika e artrogripose, levantado a possibilidade de que a má-formação também estivesse ligada à infecção pelo vírus. Mas até agora nenhum trabalho havia descrito as deformidades em detalhes nem investigado se ela tem origem neurogênica”, disse Vanessa ao Estado.
Segundo a pesquisadora, a artrogripose pode estar relacionada a várias causas e é diagnosticada quando há deformidades em articulações em pelo menos duas partes diferentes do corpo. Para estabelecer a relação com a zika, os cientistas excluíram todas as outras possíveis causas da má-formação, usando exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética.
“Fizemos estudos detalhados dos cérebros e das articulações de sete crianças com artrogripose e diagnóstico de infecção congênita por zika. Nenhuma delas apresentava alguma das demais causas desse tipo de deformidade congênita”, disse.
MICROCEFALIA
Seis das sete crianças tinham microcefalia e todas apresentavam sinais de calcificação no cérebro, problema causado pelo acúmulo de cálcio nos tecidos cerebrais. Segundo Vanessa, a hipótese é de que o vírus da zika destrói células do cérebro, formando lesões semelhantes a “cicatrizes”, onde o cálcio é depositado.
Ao observar as imagens de alta definição das articulações e dos tecidos próximos, os cientistas descobriram que não havia anomalias na parte óssea nem nos ligamentos. “Isso nos levou a concluir que a artrogripose tinha origem na parte neurológica. Por isso, fomos investigar”, afirmou Vanessa.
A principal hipótese é de que a má-formação seja produzida por um processo que envolve os neurônios motores – as células cerebrais que controlam a contração e o relaxamento dos músculos –, levando a posturas fixas no útero que provocarim as deformidades. “Observamos também que quatro crianças apresentavam uma medula espinhal mais fina do que o normal e danos cerebrais, mostrando que realmente existe uma associação entre a artrogripose e as consequências neurológicas da infecção por zika”, disse a pesquisadora.
Segundo Vanessa, o estudo ajudará a entender melhor os sintomas provocados pelo vírus zika, o que contribuirá para entender seus mecanismos de infecção. Os cientistas recomendam na pesquisa que a síndrome da zika congênita seja acrescentada ao diagnóstico diferencial de infecções congênitas e de artrogripose.
O fato de um dos bebês não ter microcefalia também é relevante, segundo Vanessa. “Isso nos levou a concluir que não há uma correlação necessária entre a gravidade da infecção por zika, uma vez que o caso de uma das crianças não era grave, com a artrogripose.”
Incidência de sífilis e HIV é até 13 vezes maior em usuários de crack
10/08/2016 - Folha de S.Paulo
Cléber (nome fictício), 32, passou os últimos anos nas ruas. Na cracolândia, usava 30 pedras de crack por dia. Com magreza extrema,45 kg, fazia sexo em troca da droga. Antes, ganhou a vida na República, também no centro. Envolvido com prostituição, tinha dez clientes fixos por semana e outros eventuais. Ganhava R$ 6.000 por mês.
A trajetória de Cléber, com a mistura constante de drogas e sexo inseguro, retrata um problema frequente entre os usuários de crack em São Paulo: a exposição às infecções por sífilis e HIV. A incidência de sífilis entre viciados atendidos pelo Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas) é mais de dez vezes superior à média da população da América Latina, segundo pesquisa do Estado. A frequência de infectados surpreendeu os pesquisadores.
Em breve, todos os pacientes passarão a ser testados para essas doenças.
“A grande pergunta é se isso está restrito a São Paulo ou se espalha por outras cracolândias pelo Brasil”, diz Ronaldo Laranjeira, psiquiatra que conduziu esse levantamento e é coordenador do Recomeço —programa da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) que fornece tratamento a dependentes de drogas.
Entre janeiro e maio, cerca de 800 pessoas foram testadas para sífilis e HIV na unidade da Secretaria de Estado da Saúde, a maioria deles frequentadores da cracolândia.
A análise encontrou resultados positivos do vírus da Aids em 5,3% dos dependentes testados. Isso representa prevalência até 13,5 vezes maior do que a da população brasileira em geral—que é de 0,4% a 0,7%, de acordo com relatório da Unaids.
O programa Recomeço, instituído por Alckmin em 2013, trabalha a saída do vício com tratamentos que incluem isolamento em comunidades terapêuticas.
Ele é desenvolvido na cracolândia simultaneamente ao Braços Abertos, criado em 2014 pela gestão Fernando Haddad (PT) e baseadona redução de danos —os dependentes são incentivados, por meio da oferta de emprego e renda, a diminuir o uso de drogas, sem internação.
INFECÇÃO
Em relação à sífilis, os testes deram positivo para a doença em 22% dos usuários.
Esse resultado, porém, considera não só as pessoas com a infecção, mas também quem já teve a doença e se tratou, mas ainda apresenta a chamada “cicatriz sorológica”.
A prevalência foi de 36% entre as mulheres, contra 18% nos homens. Do total de infectados, 40% nunca se trataram, 29%o fizeram, mas de forma irregular, e 31% foram tratados previamente com sucesso.
Descartando esse grupo que só tema “cicatriz sorológica”, a incidência da doença na amostra foi de 15% — prevalência 11 vezes maior do que a encontrada na população da América Latina (1,3%).
“O desafio do tratamento é ser o mais simples e objetivo para facilitar para as pessoas mais vulneráveis socialmente, para diminuir a chance de continuar transmitindo a doença”, diz Laranjeira.
Uma das medidas para isso, no Cratod, foi a incorporação de uma infectologista à equipe de médicos. O centro dá o coquetel para os dependentes soropositivos e aplica a penicilina nos usuários com sífilis. Isso para evitar que eles precisem se deslocar em busca dos medicamentos.
Em relação ao HIV, há outro problema: casos de pacientes moradores de rua que resistem em carregar os remédios, com medo de se exporem. A saída foi a administração do coquetel na própria unidade, diz a infectologista Viviane Briese.
Quem vai empurrar a minha cadeira de rodas?
10/08/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O provocativo título acima foi tema de uma conferência no último congresso de geriatria e gerontologia. Ele cutuca um ponto que a gente prefere não pensar: de que estamos envelhecendo e, provavelmente, nos tornaremos dependentes de alguém, seja um familiar ou um cuidador profissional.
Várias pesquisas apontam que o "ficar dependente" é o principal temor da população acima de 60 anos. Em um passado não muito distante, em que as pessoas morriam mais jovens, o tempo de dependência era bem menor. Agora, pode durar anos e até décadas.
Dias atrás, Adriano, um eletricista de 38 anos, me contava o que enfrenta com o pai, na cama há 15 anos com sequelas de dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral). Embora tenha dois irmãos, nenhum quis assumir ou dividir os cuidados com o pai, que ficou viúvo há dez anos. Adriano, 38, cuida dele sozinho. Para isso, abdicou do trabalho regular (faz bicos quando algum vizinho ou parente aceita ficar com o pai) e da vida pessoal (a mulher o deixou).
É um pequeno exemplo dos desafios que teremos pela frente e o quanto temos que aprender. A ciência e a tecnologia estão muito mais à frente do que a nossa capacidade de cuidar. E ninguém está preparado para isso. Nem como indivíduos nem como sociedade.
Hoje é grande o número de pessoas que não puderam ou não quiseram ter filhos, as famílias estão menores, os filhos estão distantes, as mulheres, antes cuidadoras naturais, estão no mercado de trabalho, enfim, por uma série de razões não há mais certeza alguma para a pergunta: quem vai cuidar de mim?
Na verdade, envelhecer é uma novidade para nós. Famílias, administradores públicos e profissionais de diversas áreas ainda estão tentando entender e se adaptar a esse fenômeno. O desafio se torna ainda maior diante da crise financeira. Vamos dobrar a proporção de idosos nos próximos 18 anos: de 12,5% para 25%. Nenhum país do mundo viveu isso nessa velocidade.
E, ainda assim, a gente segue feito avestruz, com a cabeça no buraco. Ninguém pensa, por exemplo, que o estilo de vida que se leva hoje terá um impacto decisivo lá na frente. Sim, tem gente que vai sofrer doenças crônicas, degenerativas, independentemente do seu comportamento por uma condição hereditária, congênita. Mas a imensa maioria dos problemas pode ser prevenida com hábitos saudáveis, investindo em prevenção das doenças crônicas.
Isso pode reduzir muito o tempo de dependência na velhice, segundo vários estudos. Mas quem pensa sobre isso na juventude? No imaginário, os jovens até se imaginam velhos. Mas sempre numa perspectiva bem idealizada. Um exemplo foi o concurso de redação que a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia fez neste ano em que estudantes secundaristas citaram que querem envelhecer como Mick Jagger e Tina Turner.
Além da dieta e da atividade física, tem um fator cada vez mais determinante para um envelhecimento ativo: as relações sociais. Bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e mais saudáveis. A solidão é tóxica. Pessoas mais isoladas são menos felizes, a saúde decai rapidamente, o cérebro se deteriora mais cedo e elas vivem menos. A mensagem vem desse maravilhoso TED do Robert Waldinger: "Do que é feita uma vida boa? Lições do mais longo estudo sobre felicidade".
País já registra 38 mortes por febre chikungunya este ano
09/08/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O número de mortes confirmadas no Brasil relacionadas à febre chikungunya já chega a 38, quantidade seis vezes maior do que a registrada em todo o ano passado.
Os dados são de novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, elaborado a partir de informações enviadas pelos Estados entre os dias 3 de janeiro a 9 de julho deste ano.
Balanço anterior, com dados até 11 de junho deste ano, confirmava 17 mortes –um crescimento de 123% nos registros em um mês.
O número pode ser ainda maior, já que há outras mortes por suspeita de infecção por dengue, zika e chikungunya ainda em investigação no país ou que, após serem avaliadas em exames pelos Estados e municípios, esperam confirmação também do órgão federal.
Só em Pernambuco, por exemplo, dados da secretaria estadual de Saúde já indicam 34 mortes relacionadas a chikungunya –o que mostra que o número nacional ainda pode crescer.
DEMORA
Apesar do avanço nos números, a avaliação de autoridades de saúde é que houve uma demora na confirmação dos casos, que ocorreram ainda nos primeiros meses do ano.
No Recife, por exemplo, o auge dos casos de infecção por chikungunya ocorreu até meados de março e seguiu até maio. Desde então, a tendência é de queda, diz o médico e secretário municipal de saúde Jailson Correia.
Entre as 38 mortes confirmadas por chikungunya no país, 36 ocorreram no Nordeste e duas no Rio de Janeiro. Em geral, as vítimas eram idosos –a média de idade das vítimas é de 71 anos.
O alto número de registros assustou secretarias de saúde. "O registro de mortes por chikungunya já era conhecido em outros países, mas não tínhamos ainda dimensão de como isso ia acontecer no nosso território", explica Correia.
Em nota, o Ministério da Saúde diz que as mortes "estão sendo investigadas detalhadamente para que seja possível determinar se há outros fatores associados, como doenças prévias, comorbidades, uso de medicamentos, entre outros".
CASOS PROVÁVEIS
O avanço das mortes por chikungunya ocorre em meio a um crescimento no número de casos prováveis da doença neste ano no país.
De janeiro até julho, foram 169.656 registros de atendimentos de pacientes com sintomas de chikungunya, distribuídos em 2.154 municípios. Já em todo o ano de 2015, foram 38.332, um aumento de 342%. A abrangência também era menor: 696 municípios.
Em geral, especialistas atribuem o aumento ao panorama de expansão da doença. Identificado em 2014, o vírus chikungunya se manteve, nos primeiros meses, restrito a poucas cidades, a maioria de pequeno e médio porte.
No ano passado, no entanto, a transmissão também começou a ser registrada em cidades maiores, o que colaborou para a expansão no país.
Além da chikungunya, o boletim do Ministério da Saúde aponta ainda 1.399.480 de casos de dengue neste ano, com 419 mortes.
Embora alto, o número é pouco menor do que o registrado no mesmo período de 2015, quando registros contabilizavam 1.441.131 atendimentos. Na época, o país também registrava 789 mortes –uma redução de 47%.
Gráficos do governo federal também apontam uma queda no registro de novos casos da doença desde abril deste ano, situação que coincide com a chegada do inverno, entre outros fatores.
Avaliação semelhante ocorre em relação a infecções pelo vírus zika. Balanço atual aponta 174 mil casos registrados no país de janeiro até o início de julho – um mês antes, eram 165 mil. Novos dados devem ser divulgados nas próximas semanas.
Saúde não tem preço, mas medicina tem custo
10/08/2016 - O Globo
O trocadilho chama a atenção para a questão que envolve milhões de brasileiros: preservar a saúde tem custo alto. E a discussão é mais que oportuna quando se fala de planos de saúde populares e de reajuste das mensalidades, um dos temas que mais preocupam o consumidor. Isso no momento em que também se discutem alterações na lei, propondo-se que o indicador máximo de correção seja o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). É tema crucial, e a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) — entidade representativa de operadoras de planos e seguros de saúde — quer mobilizar toda a sociedade na busca por soluções que propiciem a menor elevação possível desses valores. Nesse sentido, propõe ações mais assertivas, como atacar a origem da alta dos custos assistenciais a taxas superiores às da inflação geral de preços. Há décadas, as despesas per capita com saúde vêm crescendo bem acima da renda e do Produto Interno Bruto, em todo o mundo. No Brasil, entre 2007 e 2015, gastos médicos aumentaram 131,4%, enquanto a variação do INPC foi de 65,9%.
As razões para essa escalada são bem conhecidas, e o avanço tecnológico é a de maior impacto. Em muitos casos, a incorporação de procedimentos ao sistema é feita de forma acrítica e sem levar em conta seu custo-efetividade. Por isso, é urgente promover a avaliação sistemática e institucionalizada das inovações previamente à adoção, ao mesmo tempo em que se deve combater seu emprego sem indicações baseadas nas melhores evidências médicas. Equipamentos mais sofisticados, novos medicamentos e materiais, muitas vezes, não substituem diagnósticos e terapias em uso. Apenas ampliam opções — consequentemente, custos.
No mercado de saúde suplementar, indicadores mostram que, entre 2014 e 2015, foram realizadas anualmente, em média, 269 milhões de consultas, 730 milhões de exames complementares e oito milhões de internações. No total, a produção assistencial do setor ultrapassa 1,4 bilhão de procedimentos anuais. Ressalte-se que, neste período, foi registrada média anual de 6,1 milhões de ressonâncias magnéticas e 6,3 milhões de tomografias computadorizadas, com crescimento de 12,5% e 10,9%, respectivamente. Não é uma entrega inexpressiva.
Outro ponto de atenção é a transição epidemiológica, com redução das doenças infectocontagiosas e crescimento das crônico-degenerativas, que requerem trato continuado, complexo e caro. O Brasil passa ainda pela transição demográfica, com rápida elevação da proporção de idosos. A longevidade é um ganho extraordinário, mas tende a aumentar a demanda por assistência médica. Os impactos apenas começaram.
Mais razões contribuem para o desequilíbrio financeiro do sistema, como falhas competitivas nos mercados de insumos que criam monopólios na distribuição, com pouca base para comparação de preço aliado à qualidade. Lembre-se ainda a crescente judicialização, que desconsidera contratos e regulação, contribuindo para ambiente institucional pouco atraente aos empreendimentos. Para que o plano de saúde seja economicamente sustentável, é preciso que a mensalidade — ou seja, o financiamento — suporte o crescimento de despesas médico hospitalares. Caso contrário, inevitavelmente, esse serviço se tornará inviável.
Texas tem 1ª morte provocada pelo vírus
10/08/2016 - O Estado de S.Paulo
Autoridades de saúde do Texas registraram ontem a primeira morte relacionada ao vírus da zika, após uma criança que morreu recentemente no Condado de Harris ter sido diagnosticada com microcefalia, problema congênito que é um dos principais sintomas da doença.
Segundo funcionários do serviço de saúde estadual, a mãe do bebê contraiu a doença enquanto viajava grávida pela América Latina, o que fez a criança adoecer. Testes confirmaram que o quadro do bebê estava relacionado à zika.
O Texas já registrou pelo menos 97 casos de doença relacionada ao vírus da zika, entre eles de duas crianças com microcefalia no Condado de Harris, uma populosa área que abrange Houston. Todos os casos do Texas envolveram viagens para regiões do exterior que concentram a doença e nenhuma foi transmitida por mosquitos dentro do Estado.
Na semana passada, o Texas anunciou que fornecerá repelentes para grávidas e para mulheres e crianças de 10 a 45 anos. Também na semana passada, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) informou que há cerca de 1.825 casos de zika nos Estados Unidos, quase todos relacionados a infecções contraídas fora daquele país.
MIAMI
Desde o dia 1.º deste mês, o CDC já confirmou 14 casos de transmissão local do vírus da zika em Miami, na Flórida.
Os registros se concentram no bairro de Wynwood, e o órgão aconselhou que grávidas evitem o local e mulheres que visitaram a região a partir do dia 15 de junho evitem engravidar por pelo menos oito semanas.
Quando o expediente compromete a saúde
10/08/2016 - Correio Braziliense
A busca incessante por resultados, a inquietação para o cumprimento de prazos e o estresse causado pelas horas gastas no trânsito na ida e na volta ao trabalho fazem parte da rotina da maioria dos profissionais. O que poucos sabem ou fingem não saber é que tais fatores podem desencadear ou agravar um transtorno mental, como a depressão. Nas estatísticas globais, a doença aparece entre as três maiores causas de afastamento do trabalho. Essa triste realidade chamou a atenção do Ministério da Saúde, que, pela primeira vez, recorreu ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para investigar a ocorrência da depressão no meio da população ocupada. O levantamento, realizado entre pessoas com 18 anos ou mais de idade, mostra que 6,2% dos indivíduos empregados sofrem com a doença depressiva. A constatação só reforça a nossa preocupação com a saúde mental do trabalhador. Na maioria das vezes, esses profissionais, cada vez mais cobrados em suas funções, acabam não enxergando o que uma rotina estressante pode causar à sua saúde a médio e longo prazos. Mais comuns do que se imagina no ambiente profissional, os transtornos mentais despontam como a terceira causa de afastamento do trabalho, atrás apenas das lesões traumáticas e dos distúrbios osteomusculares. Para se ter ideia, em 2015, o Instituto Nacional Social (INSS) concedeu mais de 63 mil benefícios para profissionais diagnosticados com algum tipo de transtorno mental. Na Classificação Internacional de Doenças, em que o INSS se baseia, a depressão encabeça a lista de doenças mentais que mais afastam os funcionários de seus empregos. Foram cerca de 27 mil casos computados. Em segundo, com mais de 16 mil ocorrências, estão os transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de múltiplas drogas. Na sequência, vêm os afastamentos por transtornos mentais decorrentes do uso de álcool, com mais de 5 mil casos, e aqueles causados pelo uso da cocaína, que ultrapassam 2 mil. O que percebemos com esse cenário é que muitas pessoas sofrem em silêncio. Escondem fobias, depressão, transtornos de ansiedade e, pior, não procuram ajuda. Por negligência ou até mesmo por medo de serem julgadas. Tudo isso, é claro, prejudica o desempenho profissional e, consequentemente, piora ainda mais a situação. Vale ressaltar que mesmo os indivíduos que quebram a barreira do preconceito e buscam ajuda especializada envergonham-se do seu diagnóstico por temer estigmas descabidos, como de louco, acomodado, mentiroso. Precisamos mudar essa realidade. O agravamento dos transtornos mentais em decorrência de pressões no trabalho, do temor do desemprego e da crise financeira podem levar o trabalhador a situações críticas, como o suicídio. Nesse sentido, o Estado precisa investir em políticas de saúde mental fundamentada em diretrizes científicas e não, em bases ideológicas vazias. A ausência de prevenção adequada tem consequência não somente nos trabalhadores e em suas famílias, mas também na sociedade devido ao enorme custo gerado, particularmente, no que diz respeito à perda de produtividade e à sobrecarga dos sistemas de seguridade social. A Organização Internacional do Trabalho estima que os acidentes de trabalho e as doenças profissionais resultam numa perda anual de 4% do PIB mundial cerca de R$ 2,8 bilhões de dólares. As empresas, por meio de gestores de pessoas treinadas, devem atentar para o comportamento dos seus funcionários. É importante saber distinguir, por exemplo, se uma pessoa está desmotivada por algum problema pontual que ocorreu no trabalho ou se é uma característica constante dela. O saber enxergar o outro precisa ser praticado. O médico do trabalho da empresa tem papel fundamental na saúde do empregado, pois é capaz de identificar precocemente sinais e sintomas de doença mental e encaminhar o trabalhador à avaliação especializada de um psiquiatra. Da mesma forma, programas de prevenção à violência no trabalho e à dependência química precisam fazer parte da rotina da saúde do quadro funcional de uma empresa. É fundamental que toda pessoa diagnosticada com algum tipo de transtorno mental siga o tratamento corretamente e que o empregador acompanhe esse processo. Cuidar da saúde mental do trabalhador representa em todos os aspectos ganhos para o próprio colaborador, para quem o contrata e para a sociedade.
Evidências não apoiam exames de colesterol para crianças (painel)
09/08/2016 - Zero Hora Online
Não há evidências suficientes para apoiar a realização generalizada de exames para diagnosticar colesterol alto em crianças, concluiu um painel independente de especialistas americanos na terça-feira.
O painel de voluntários conhecido como a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) manteve a postura que tinha adotado em 2007, em contraste com as diretrizes de outros grupos nacionais, como a Associação Americana do Coração (AHA).
"As evidências atuais são insuficiente para avaliar o equilíbrio entre os benefícios e os malefícios dos exames para distúrbios lipídicos em crianças e adolescentes com idade inferior a 20 anos", disse a USPSTF, que faz recomendações sobre exames, serviços de aconselhamento e medicamentos preventivos.
A AHA e a Associação Nacional de Lipídeos, no entanto, recomendam a realização de exames para detectar taxas anormalmente elevadas de colesterol em crianças - especialmente aquelas com histórico familiar de doença cardíaca - como uma forma de evitar danos causados por artérias endurecidas, disse o relatório publicado na revista Journal of the American Medical Association (JAMA).
Esses grupos apoiam exames de colesterol em crianças e adolescentes como uma estratégia para identificar uma doença genética conhecida como hipercolesterolemia familiar, que atinge até 1 em cada 250 indivíduos nos Estados Unidos.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Exames de Saúde e Nutrição, cerca de 8% das crianças com entre 8 e 17 anos têm níveis elevados de colesterol total (CT) e 7,4% dos adolescentes de 12 a 19 anos têm níveis elevados de LDL-C, também conhecido como "mau colesterol", porque pode levar à obstrução das artérias.
Um editorial na mesma edição do JAMA disse que, embora haja evidências crescentes a favor das intervenções para o colesterol elevado na infância, "pode haver danos associados aos exames para dislipidemia, como a USPSTF destaca com razão".
Estes podem incluir sobrediagnósticos, custos mais elevados e ansiedade para a família, e "muitos jovens com um aumento isolado de lípidos não vão desenvolver doença cardiovascular aterosclerótica precoce", escreveu Elaine Urbina, do Hospital Infantil de Cincinnati, e Sarah de Ferranti, do Hospital Infantil de Boston.
As médicas disseram que, a longo prazo, ensaios clínicos são necessários para avaliar melhor os benefícios, danos e a relação custo-eficácia de várias abordagens de exames e tratamento.
Enquanto isso, a decisão de se fazer exames ou não corresponde em grande parte aos médicos, individualmente.
O painel da USPSTF não encontrou "provas suficientes" a partir de ensaios de curto prazo, equivalentes a dois anos ou menos, de que medicamentos como as estatinas poderiam levar a reduções substanciais no colesterol entre as crianças que herdam níveis altos.
Mas o painel não encontrou provas suficientes para mostrar se intervenções médicas na juventude poderiam ou não levar "diretamente a uma incidência reduzida de doença cardiovascular prematura".
|