CLIPPING - 18/07/2016
Assessoria de Comunicação do CRF-SP
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Disponibilidade de remédios deve ser mais transparente, diz promotora
16/07/2016 - Folha de S.Paulo
Quem precisa de remédio da rede municipal pode ter de peregrinar por várias UBS (Unidades Básicas de Saúde) até conseguir. Falta informação aos usuários.
Uma das soluções da prefeitura, o “Aqui tem remédio”, plataforma digital para localizar medicamentos, ainda não decolou. O site teve cerca de 295 mil acessos e a versão app foi baixada 53 mil vezes, desde dezembro de 2015. Se comparada ao número de pessoas que retiraram medicação nas UBS —5 milhões, até 30 de junho—, a quantidade de acessos é baixa.
A falta de informação sobre a disponibilidade de remédios na rede foi objeto de inquérito do Ministério Público do Estado. A promotora responsável, Dora Martin Strilicherk, afirma que a divulgação não é eficiente.
Além disso, pessoas sem acesso à internet ou com dificuldades com o aplicativo ficam fora do alcance.
Ela destaca ainda a importância das informações para orientar médicos na prescrição de drogas.
Biológico aumenta déficit comercial
18/07/2016 - Valor Econômico
Estudo produzido pelo Grupo FarmaBrasil (GFB), que reúne grandes farmacêuticas brasileiras com investimento em inovação, mostra que a importação de medicamentos biológicos cresceu mais de cinco vezes na última década, para quase US$ 2 bilhões. Em 2015, esses produtos responderam por pouco menos de um terço do déficit comercial do setor, de US$ 6,6 bilhões.
Até 2005, os biológicos respondiam por 12% do saldo negativo. No ano passado, tiveram participação de 28,6%, refletindo a expansão da compra de medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "Como os biológicos são caros e importados, houve um aumento muito grande do déficit. E esse aumento é tendencial, não pontual", afirma o presidente do GFB, Reginaldo Arcuri.
A tendência é desenhada pelo rápido envelhecimento da população brasileira, com crescente participação de idosos sobre o total e maior proporção de doenças relacionadas à idade. Assim, gastos com vacinação e tratamento pediátrico devem ser relativamente menores, com aumento proporcional dos dispêndios com tratamento da população madura. "É justamente nessa faixa que atuam os biológicos", ressalta Arcuri.
Conforme o estudo, entre 2000 e 2005, o déficit comercial com biológicos foi de US$ 200 milhões por ano em média. De 2006 a 2010, saltou a US$ 800 milhões e, a partir de 2011, cresceu significativamente até atingir o pico de US$ 2,1 bilhão em 2014. No ano passado, caiu a US$ 1,9 bilhão, na esteira da desvalorização do real e da desaceleração da economia brasileira.
Para mitigar o aumento dos custos com saúde e, ao mesmo tempo ampliar o acesso a tratamentos médicos, o governo desenvolveu a política de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), para desenvolvimento e produção de medicamentos estratégicos ao SUS. Conforme o GFB, o Ministério da Saúde estima que projetos conduzidos por meio de PDPs devem gerar economia da ordem de R$ 5 bilhões ainda em 2016.
Por meio dessas parcerias, a indústria farmacêutica nacional vai começar a produzir biossimilares em maior escala no país. Como consequência, o déficit comercial deveria parar de crescer - com compras externas menores de medicamentos de alta complexidade - e as exportações de medicamentos aumentariam. Mas a crise política e trocas na equipe da Saúde estão atrasando, ou até mesmo paralisaram, alguns projetos.
Para a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), que reúne os laboratórios multinacionais, o avanço do déficit da indústria é sinal de que o país está perdendo a corrida pela competitividade internacional no setor. "Sem inovação, estaremos condenados à dependência tecnológica e econômica", afirma em nota o presidente-executivo da entidade, Antônio Britto.
Os investimentos em biossimilares podem proporcionar redução temporária do saldo negativo, mas há risco de o lançamento de novos medicamentos tornar obsoletos esses produtos em uso. "Precisamos dizer que o Brasil se tornou inovador, responsável pela criação de tecnologias no setor farmacêutico que sejam atraentes mundo afora", diz o dirigente.
Mercado Aberto: Importações e exportações de remédios caem em 12 meses
18/07/2016 - Folha de S.Paulo
A compra de medicamentos do exterior caiu 9,4% nos 12 últimos meses até maio, com um total de US$ 5,9 bilhões (R$ 19,2 bilhões), segundo a Interfarma, que reúne as empresas do setor.
A variação cambial e a redução na compra de remédios por parte dos governos estaduais são apontadas como causas da retração.
"As importações são altas, mas nenhum país é autossuficiente no setor farmacêutico", afirma Antonio Britto presidente da Interfarma.
Os números se referem a medicações prontas, mas o país também importa química fina. Hoje, quase 90% dos princípios ativos, a matéria-prima para a confecção de remédios, vêm de fora.
A balança comercial do setor registrou redução de 8,4% do déficit. As exportações caíram, mas, como são menos expressivas, não alteram tanto o saldo das trocas.
O país ainda concorre com o exterior sem ter preços competitivos, avalia Britto.
"O Brasil vende para países que não se recuperaram de crises, como Argentina e Venezuela", diz Pedro Bernardo, diretor da entidade.
A baixa do dólar impactou as vendas de forma negativa.
Pacientes com câncer conseguem de graça remédios que não existem no país
17/07/2016 - Época Online
O mais difícil, o potiguar Roberto Medeiros, de 42 anos, havia conseguido. Depois de quase dois meses de espera, o medicamento importado, sua última esperança contra um câncer de pulmão, chegara ao hospital em que ele estava internado, em Natal. Medeiros pegou o comprimido rosado e o levou à boca, seguido de um copo com água. Nos meses anteriores, os tratamentos haviam sido inócuos e os tumores aumentaram a ponto de dificultar sua respiração. Uma máscara de oxigênio ajudava a suprir o ar que faltava. Mas foi à emoção, e não à dificuldade de respirar, que Medeiros atribui o engasgo na hora de engolir o comprimido. Ficou na dúvida se o danado escapulira. No quarto, sua mulher, Ana Paula, a mãe, a irmã e o cunhado, que assistiam à cena, lançaram-se ao chão. Foram minutos de inspeção minuciosa, até Medeiros certificar-se de que o medicamento estava onde deveria: a caminho de destruir as células do tumor que começara no pulmão três anos antes, atingira o cérebro e se espalhara para os ossos. “Imagina desperdiçar um dia de remédio?”, diz o administrador de fala mansa, típica de quem se deu conta da brevidade da vida e aprendeu a valorizar cada momento. Desde que foi diagnosticado com um tipo de câncer que costuma afetar jovens que nunca fumaram, como ele, seu maior desejo é ver crescer os filhos, um menino de 8 anos e uma menina de 6. “Sempre pedi força e coragem para conviver mais tempo com os meus filhos.”
O comprimido rosado é tão valioso porque Medeiros sabe que suas opções estão se esgotando. Ele percorreu um roteiro comum a pacientes com câncer: cirurgia para extirpar o tumor inicial, sessões de quimioterapia e radioterapia. Por algum tempo, bastou para retardar a doença. Quando os tumores se espalharam pelos ossos sem dar sinal de responder às drogas tradicionais, Medeiros chegou a tentar um novo tipo de tratamento, considerado uma das armas mais promissoras contra o câncer, a imunoterapia. Esse tipo de droga deixa o tumor mais vulnerável à ação das defesas do organismo. Era vendido nos Estados Unidos, e não no Brasil. Um funcionário da empresa da família de Medeiros viajou para buscar o medicamento. Foram US$ 15 mil, posteriormente reembolsados pelo plano de saúde, acionado na Justiça pela família de Medeiros. Um mês e meio de tratamento. Nenhum resultado. Diante do fracasso, o médico de Medeiros adotou o último recurso naquele momento: o comprimido rosado, uma droga que não estava à venda.
Ainda considerado experimental, o medicamento não tinha sido aprovado por autoridades sanitárias em nenhum país. Havia apenas os resultados da segunda etapa de testes em seres humanos – normalmente são exigidas três fases para que uma empresa possa pedir a autorização para vender uma droga. Os resultados pareciam promissores para pacientes com quadro semelhante ao de Medeiros, cujo tumor carregava uma mutação que se fortaleceu em resposta aos tratamentos anteriores. Seu médico entrou em contato com a empresa que pesquisava a droga, uma multinacional com sede no Reino Unido, para explicar o caso e pedir que fornecessem o medicamento. O argumento tem nome: compaixão.
A empresa não tinha obrigação de atender ao pedido e, seguindo a legislação brasileira, deveria fornecer gratuitamente a droga, que, ao chegar ao mercado, custaria dezenas de milhares de dólares. “Trata-se de reconhecer o sofrimento do outro e estabelecer uma relação de ajuda”, diz José Roberto Goldim, professor de bioética da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Esse tipo de pedido, que recebe o nome de uso compassivo – adjetivo derivado de compaixão, por seu caráter solidário –, está se tornando um instrumento importante para possibilitar o acesso de pessoas com doenças graves a medicamentos que, virtualmente, não existem. Estão fora do alcance por ainda seguirem em estudo e não serem tratamentos comprovados. Alguns têm potencial, se não de salvar vidas, de estendê-las. Em muitos casos, são apenas meses, mas preciosos para o paciente e sua família. É uma tentativa de conciliar o tempo escasso de quem tem uma doença ao tempo da ciência, necessariamente cadenciado pelas etapas da pesquisa e das regras regulatórias, que garantem a segurança humana.
No ano passado, no Brasil, 190 pessoas solicitaram à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, autorização para que empresas fornecessem drogas ainda não aprovadas no país. Neste ano, até a primeira semana de julho, foram 292 pedidos, um crescimento de 53%. A solicitação de uso compassivo é individual, mas é possível recorrer a outro tipo de programa, chamado acesso expandido, que permite a formação de grupos de pacientes para receber um medicamento em fase de desenvolvimento ou sem registro. Em 2015, foi solicitada à Anvisa a formação de seis grupos. Neste ano, até a semana passada, de três.
O uso compassivo ganhou destaque no país nos últimos meses, desde que grupos de pacientes com câncer passaram a invocá-lo para pedir acesso à fosfoetanolamina sintética. A substância, apelidada de “pílula do câncer”, nunca completou as etapas mais básicas de pesquisa em animais. Assim mesmo, foi distribuída por anos, irregularmente, pelo químico Gilberto Chierice, às portas do Instituto de Química da Universidade de São Paulo em São Carlos, como se fosse a cura para todo tipo de tumor. Como não há indícios científicos de sua ação, apenas relatos anedóticos, a fosfo não cumpre os pré-requisitos para o uso compassivo.
Uma resolução da Anvisa estabelece os critérios para autorizar o uso experimental de uma droga. Em vigor desde 2013, ela determina que apenas substâncias que estejam em processo de desenvolvimento clínico, com alguns dados de eficácia e segurança em seres humanos, possam ser pedidas para uso compassivo.
Um médico, e não o paciente, deve fazer a requisição da droga à empresa desenvolvedora e à Anvisa, que a autoriza a fornecer uma substância sem registro a um paciente que não faz parte de uma pesquisa. “A decisão é médica. Não pode ser emocional”, diz o advogado americano David Farber, que já atuou pela indústria farmacêutica nos Estados Unidos e estuda os impactos do uso compassivo. “É comum a pessoa pensar que tem o direito de tentar de tudo porque está no fim da vida. Mas uma droga pode tornar esse período mais doloroso ou até apressar a morte.”
Essa é a aposta que médico e paciente têm de fazer ao cogitar um composto experimental: vale a pena correr o risco? Uma nova droga é aprovada quando os benefícios comprovadamente superam os perigos. Para uma experimental, não há certeza. “Às vezes, não compensa tentar”, diz o oncologista Carlos Gil, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). “É mais seguro manter a qualidade de vida, controlando os sintomas, do que arriscar efeitos colaterais.”
Como dosar esses riscos é um desafio até para os próprios médicos. Em um artigo no jornal americano The New York Times, o pediatra Darshak Sanghavi conta como ele e a irmã, também médica, escreveram uma carta ao convênio de saúde do pai, nos Estados Unidos, pedindo que cobrisse um tratamento ainda não comprovado para o patriarca da família. O convênio aceitou, e uma nova droga passou a ser administrada ao pai de Sanghavi, em estágio avançado de uma doença que causa dificuldade de respirar. Três vezes por semana, ele recebia injeções de uma substância já aprovada para tratar doenças do esqueleto e do sistema imunológico, mas cujos estudos para desordens respiratórias mal começavam. Apenas nove pacientes haviam sido submetidos ao tratamento. Os resultados no pai de Sanghavi decepcionaram. Ele passou a sofrer com febres e dores que o deixaram preso à cama. Os pulmões não melhoraram. Morreu dois anos depois da publicação do estudo que inicialmente havia dado esperança à família. “Teria sido melhor que ele nunca tivesse feito o tratamento”, escreveu Sanghavi. Três anos após a morte do pai, o médico leu em uma revista científica o veredicto final sobre o uso da substância para tratar o pulmão: era ineficaz e aumentava o risco de infecções respiratórias. Sanghavi e a irmã convivem com o peso de ter feito a aposta errada. E são médicos. É possível que o desejo fervoroso de encontrar uma saída tenha sobrepujado o discernimento de ambos para avaliar a insuficiência de evidências sobre o tratamento.
Adequar a expectativa de cura do doente e seus familiares a um prognóstico pessimista é uma das tarefas mais delicadas de médicos que tratam pacientes em risco de morrer. Ironicamente, o avanço científico a torna ainda mais complicada. “Abrem-se frentes enormes e há um excesso de entusiasmo”, afirma o oncologista Paulo Hoff, diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). O aperfeiçoamento de técnicas para analisar e manipular o material genético permitiu a criação de moléculas capazes de atacar mutações específicas. Algumas estenderam de maneira significativa a vida de pacientes. Criou-se a sensação de que a cura está a caminho. E o uso compassivo virou um atalho para atingi-la. “De um lado, o paciente quer ouvir boas notícias”, afirma Hoff. “Do outro, o médico quer comprar tempo para o paciente e postergar a conversa difícil sobre o esgotamento das opções de tratamento.”
Nos Estados Unidos, país que concentra a maior parte da pesquisa farmacêutica, o número de pedidos de uso compassivo cresceu 25% em cinco anos. No ano passado, a agência que regula medicamentos, a FDA, recebeu 1.262 solicitações, das quais afirma aprovar 99%. Para alguns grupos de pacientes, não basta. Eles afirmam que as regras da agência – que, como no Brasil, restringem o uso a substâncias que já tenham alguns dados clínicos – obstruem a autonomia do paciente de decidir que tratamentos fazer. A pressão resultou na criação de leis que garantem o “direito de tentar” em 31 Estados. Em tese, elas eliminam a necessidade de a FDA autorizar o acesso a drogas experimentais: o pedido pode ser feito diretamente pelo paciente a empresas e universidades. Na prática, a validade dessa legislação é polêmica. “Que empresa vai assumir o risco de dar uma droga em fase de teste a um paciente, sem autorização da FDA?”, afirma o advogado americano Farber. “E se o paciente piorar? É um risco jurídico.”
O acesso a substâncias experimentais, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, depende da inclinação à compaixão da empresa responsável pela pesquisa. Ela avaliará se está disposta a fornecer o composto gratuitamente, o que é regra. Em muitos casos, o custo de fabricação é alto e a produção é feita na medida para atender apenas os inscritos formalmente nos protocolos de pesquisa. A preocupação com a reputação da substância em desenvolvimento também afeta a decisão. “Existe o risco de criar uma imagem inadequada da droga caso ela não ajude aquele paciente”, afirma Eurico Correia, diretor médico da farmacêutica Pfizer no Brasil. Mesmo que casos isolados, fora dos protocolos de pesquisa, não influenciem a aprovação, a repercussão negativa pode afetar as vendas do medicamento no futuro. O contrário também vale. Para o oncologista Carlos Barrios, professor da PUC-RS, mais que benevolência das empresas, há um interesse prático na concessão para uso compassivo. “O laboratório quer que os médicos daqueles pacientes ganhem experiência com o medicamento e comentem com os colegas sobre os bons resultados.”
Os critérios que levam uma empresa a fornecer a droga não costumam ser públicos. No caso da Pfizer, que desde 2011 forneceu medicamentos ainda não aprovados no Brasil para 52 pacientes com câncer de pulmão, mama e leucemia, a decisão vem da sede da empresa, nos Estados Unidos. “Tentamos usar critérios muito parecidos com os do protocolo de pesquisa”, afirma Correia.
A Janssen, uma farmacêutica do grupo Johnson & Johnson, adotou nos Estados Unidos uma iniciativa pioneira para tornar seus parâmetros transparentes. Para escolher quem poderia ter acesso a uma droga que estava em desenvolvimento para tratar mieloma múltiplo, um tipo de câncer do sangue, a empresa montou um comitê de especialistas, em parceria com o grupo de ética médica da Escola de Medicina da Universidade de Nova York. A droga era um medicamento biológico, produzido a partir de células vivas, num processo complexo e caro. A empresa recebeu 76 pedidos, mas o comitê recomendou que 60 pacientes fossem contemplados. “O primeiro critério é não fazer mal”, diz o bioeticista Arthur Caplan, diretor da divisão de ética médica da Universidade de Nova York e um dos membros do comitê. “Se um paciente está doente demais a ponto de a droga poder matá-lo, não deve recebê-la. Quem está doente há mais tempo e quem tem dependentes têm prioridade.” A ideia é estender o comitê para avaliar os pedidos de uso compassivo para outras drogas. No momento, o grupo seleciona pacientes de fora dos Estados Unidos, já que lá a droga foi aprovada pela FDA em novembro. O tratamento custa cerca de US$ 20 mil por mês.
Os critérios pouco transparentes não são os únicos obstáculos ao uso compassivo. Há um filtro socioeconômico invisível. “Aqueles que podem pagar por melhor atendimento têm mais chances de conseguir drogas experimentais”, afirma a bioeticista Alison Bateman-House, da Universidade de Nova York. Isso ocorre porque os médicos bons e bem relacionados é que ficam a par das novidades nas bancadas dos laboratórios. Além disso, o prestígio do profissional também pode pesar na decisão da empresa. Um médico admirado tem maior potencial para influenciar outros com sua opinião sobre o novo medicamento. “O laboratório tem de ter confiança no médico”, afirma Barrios, oncologista da PUC-RS. “A empresa precisa ter certeza de que o profissional cuidará do paciente adequadamente e passará informações sobre os efeitos da droga que poderão ser úteis.”
O médico também tem de ter disposição – e uma equipe de apoio – para montar o dossiê exigido pelo órgão de vigilância sanitária e pela empresa, a fim de pedir o uso compassivo. No Brasil, a burocracia é alvo de críticas. “Perde-se tempo aguardando a resposta da Anvisa, fazendo o pedido para a empresa farmacêutica, aguardando o medicamento, geralmente importado, chegar e ser liberado”, diz o oncologista Rafael Kaliks, diretor científico do Instituto Oncoguia, entidade que defende os direitos dos pacientes. “Nessa brincadeira, um paciente em estado grave espera até dois meses.”
A doença não espera. “Já perdi muito paciente por causa dessa demora para conseguir drogas experimentais”, diz o oncologista Antônio Carlos Buzaid, diretor-geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes do Hospital São José, em São Paulo. No fim do ano passado, ele viveu com Medeiros, o paciente do início desta reportagem, a angústia de lutar contra o tempo. Foram oito semanas até ter em mãos o comprimido importado. Poderia ter demorado mais. Buzaid encontrou outra paciente no Brasil que já havia importado o medicamento e que aceitou emprestar alguns comprimidos a Medeiros. No dia em que ele engasgou e achou ter perdido o aguardado comprimido, o frasco tinha acabado de chegar a Natal pelas mãos de sua irmã, que fora ao Rio de Janeiro buscá-lo com a paciente solidária. “Meu anjo”, é como Medeiros se refere a ela.
Os comprimidos o encontraram prestes a ser entubado. Foram sete dias de medicação até Medeiros ter alta, uma recuperação com que ele não sonhara nem nas previsões mais otimistas. Sete meses após o início da medicação, os tumores nos pulmões e as metástases nos ossos não desapareceram completamente, mas diminuíram de tamanho. Ele aproveita para buscar os filhos na escola e passar todo o tempo com eles. Sabe que podem vir dias difíceis. Nesse caso, caberá a seu médico, Buzaid, pensar em novas respostas. “O que mais faço no fim de semana é mandar e-mails para meus amigos médicos, que trabalham com pesquisa fora do país, perguntando se sabem de novas drogas em desenvolvimento”, diz Buzaid.
Quando o medicamento chegou a Medeiros, no final de novembro, fazia duas semanas que a droga fora aprovada em um processo de registro acelerado da FDA nos Estados Unidos. Isso significa que ainda faltam estudos que confirmem sua eficácia, para que ela receba a aprovação definitiva. Por enquanto, 411 pacientes participaram dos testes. Em até 70%, houve redução parcial dos tumores, algo semelhante ao que aconteceu com Medeiros. Como ele conseguiu acesso ao medicamento por compaixão, não há custos com o tratamento. Nos Estados Unidos e na Europa, onde o medicamento já é vendido, ele pode custar US$ 12 mil por mês.
Não é raro que drogas pedidas para uso compassivo, sem registro no Brasil, já tenham sido aprovadas – ainda que provisoriamente – nos Estados Unidos e na Europa. Dos 16 medicamentos solicitados à Anvisa entre 2015 e maio deste ano, 13 já tinham registro na FDA antes de 2015.
A lentidão para registrar novas drogas no Brasil tem dois componentes. O primeiro é a demora das empresas em submeter seus medicamentos à aprovação no Brasil. “Muitos demoram porque sabem que a Anvisa pedirá mais dados, que eles ainda não têm, ou porque preferem investir primeiro no mercado americano e europeu, maiores”, diz o oncologista Gilberto Lopes, do grupo Oncoclínicas, no Brasil, e professor da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Um levantamento feito por ele sugere que as farmacêuticas levam mais de um ano, após enviar o pedido de aprovação nos Estados Unidos, para tentar o registro no Brasil. Em segundo lugar, há a demora da Anvisa em analisar o pedido. O levantamento sugere que a Anvisa demora, em média, oito meses a mais que a FDA para aprovar uma droga oncológica. Se nos Estados Unidos o registro sai em seis meses, no Brasil demora 14.
“Falta estrutura na Anvisa para analisar os pedidos com mais agilidade, mas há também um componente ideológico”, diz Antônio Brito, presidente da Interfarma, entidade que representa a indústria farmacêutica. “Há resistência em aceitar análises feitas por agências de outros países e uma pressão dos escalões superiores da Anvisa para negar ou postegar a aprovação de medicamentos. É uma maneira de fazer com que não seja pedida a incorporação desses medicamentos ao Sistema Único de Saúde.”
Um levantamento da Interfarma sugere que, mesmo quando os medicamentos oncológicos são aprovados no Brasil, não é regra serem incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Das 18 principais drogas usadas para tratar os cânceres mais comuns em 2014, 17 tinham registro, mas apenas seis estavam disponíveis na rede pública.
A Anvisa nega qualquer motivação financeira. “Se há demora, se deve a nossa própria fragilidade, e não a nenhuma influência”, diz o médico sanitarista Jarbas Barbosa, diretor-presidente da Anvisa. Ele diz defender o aumento do intercâmbio de informações entre agências sanitárias para agilizar o registro de medicamentos, mas não abre mão da autonomia sobre a análise. “É uma questão de soberania nacional. Se acatarmos as decisões de outras agências, estaremos abrindo mão da nossa responsabilidade sanitária”, afirma Barbosa, com um argumento compreensível. Em seguida, usa outro, um tanto alienígena à questão. “Se aprovássemos automaticamente as drogas porque foram registradas nos Estados Unidos, teríamos uma enxurrada de produtos americanos e liquidaríamos a indústria nacional.”
No meio da troca de acusações, resta ao paciente recorrer à Justiça para pedir que planos de saúde ou o SUS arquem com medicamentos sem registro. Ou ter a sorte de contar com médicos e centros de saúde informados sobre a possibilidade do uso compassivo. “No Brasil, com a dificuldade de acesso a medicamentos de ponta, o uso compassivo é uma arma poderosa”, diz Gil, da Sociedade de Oncologia Clínica. “É uma maneira de o paciente ter acesso a uma tecnologia a que nunca teria no SUS.”
É o caso da estudante paulista Sabah Mohamed Ali, de 18 anos, atendida no Icesp, centro de referência no tratamento de câncer que adota o uso compassivo como uma estratégia. Sabah usa desde setembro de 2015 uma droga para combater um câncer de pulmão, depois de passar por quimioterapia e radioterapia nos últimos dois anos. Sabah lida com uma forma rara de câncer, descoberto depois de sentir dores no peito. Por meses, ela ignorou o incômodo, que julgava resultar da má postura nas horas de estudo. Quando recebeu o diagnóstico, no 2o ano do ensino médio, estudava para o vestibular. A princípio, cogitou engenharia. Depois de descobrir o tumor de 7 centímetros no pulmão esquerdo, a medicina entrou em seus planos. “Quero ajudar as pessoas”, diz a jovem, que faz cursinho.
O medicamento está aprovado nos Estados Unidos desde abril de 2014. A fabricante afirma que submeteu o pedido de registro no Brasil à Anvisa. No mercado americano, o tratamento com a droga custa cerca de US$ 13 mil por mês. “Não sei até quando terei de tomar, mas o médico me disse para pensar como se fosse um remédio de pressão”, diz Sabah, que se angustia a cada três meses com uma nova rodada de exames. Até agora, o tumor que tomava parte do pulmão parece estar se fragmentando. “É um bom sinal”, diz Tiago Takahashi, o oncologista que acompanha Sabah no Icesp. Para ela e sua família, a droga é a maior esperança. “Quando jogam uma bomba como a notícia do câncer, a única coisa que você espera é que o medicamento dê certo”, diz Sahar, de 16 anos, irmã de Sabah, que raspou os cabelos em solidariedade à irmã nos tempos da quimioterapia. Agora elas veem os cabelos crescer e a vida prosseguir.
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Laboratório Libbs eleva aposta em remédio inovador
18/07/2016 - Valor Econômico
Perto de inaugurar a maior fábrica de medicamentos biossimilares de uso único da América Latina, a Libbs Farmacêutica ampliou a aposta em inovação, atenta às necessidades médicas não atendidas, de acordo com o presidente do laboratório, Alcebíades Athayde Júnior. Nesse sentido, ingressou no início do ano em consórcio internacional para desenvolver um medicamento biológico que poderá salvar a vida de recém-nascidos, participa do codesenvolvimento de um novo produto usado no tratamento de diabetes e, junto com pesquisadores americanos, está desenvolvendo uma terapia inovadora para tratamento da pré-eclampsia. Esse último estudo está perto de entrar na fase 2.
"Não existe um medicamento para retardar o parto. Se tivermos, isso vai mudar o patamar da Libbs no país", afirmou Athayde Júnior. O projeto, também na área de biotecnologia, ainda não tem estrutura de financiamento equacionada. Mas a percepção é a de que deverá atrair o interesse de farmacêuticas multinacionais. "Uma empresa nacional, sozinha, não consegue financiar. Mas queremos manter os direitos e a independência da Libbs", contou.
Em 2015, o faturamento líquido do laboratório atingiu R$ 1,33 bilhão, frente a R$ 1,22 bilhão um ano antes, e deve crescer mais R$ 100 milhões em 2016.
Mas o grande salto nos negócios virá com o início de produção e comercialização do primeiro biossimilar da Libbs, que poderá adicionar R$ 1,4 bilhão ao faturamento em um prazo de cinco anos após o início de comercialização.
O primeiro lote de rituximabe, um anticorpo monoclonal usado no tratamento de linfoma não Hodgkin, artrite reumatoide e outros tipos de doenças autoimunes, foi produzido em março. A inauguração da fábrica estava prevista para setembro, mas foi postegarda para novembro "em linha com a estratégia da companhia e a da área de eventos". "Essa é uma tecnologia disruptiva. Há grande expectativa que dê certo", disse.
A unidade Biotec foi construída dentro do complexo industrial da Libbs em Embu das Artes (SP), com investimento de R$ 250 milhões para construção e compra de equipamentos, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outros R$ 250 milhões foram levantados junto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e aplicados na realização de estudos clínicos.
O projeto foi viabilizado por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP), com transferência de tecnologia da argentina Mabxience.
"A partir disso, passamos a ter um compromisso com o país", afirmou Athayde Júnior. Iniciativas dessa natureza, conforme o empresário, mostram que o Brasil é capaz de fazer estudos envolvendo um medicamento biossimilar e pode produzi-lo, sob o olhar de uma agência reguladora bastante rigorosa. "Ao contrário de outros momentos, dessa vez o Brasil está junto com o mundo", comentou.
No país, há outros projetos de biossimilares em curso, que também envolvem PDPs. Em Valinhos (SP), a Bionovis se prepara para produzir até nove biofármacos, com transferência de tecnologia da Janssen e da Merck, além de ter anunciado o desenvolvimento de produtos próprios. A Orygen, que no passado contava com a participação da Libbs - a farmacêutica deixou a sociedade para investir na Biotec -, terá uma fábrica para produção de anticorpos monoclonais em São Carlos (SP).
No ano passado, a Eurofarma obteve a aprovação do Fiprima, primeiro medicamento biossimilar da América Latina para tratamento de pacientes submetidos a quimioterapia. E o Cristália já conta com dias unidades de biotecnologia certificadas e em operação.
A Libbs também quer fomentar a integração entre indústria farmacêutica, setor público e academia no país e deu a largada na ocupação do Parque Tecnológico do Jaguaré, na zona oeste de São Paulo. Ali, o laboratório quer construir uma nova unidade, que reunirá seu Centro de Desenvolvimento Integrado (CDI) e o pessoal da área administrativa, inspirada no moderno prédio do Sanford Consortium, localizado em San Diego, nos Estados Unidos.
Consultório virtual
18/07/2016 - O Globo
De um lado da tela está o cirurgião Milton Steinman, coordenador de Telemedicina do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Do outro, médicos e enfermeiros de centros médicos espalhados por todo o país, em busca de especialistas que podem auxiliar no atendimento a pacientes. Steinman testemunha o crescimento desse serviço há quatro anos e amanhã participa do debate sobre consultas virtuais na primeira edição do Fórum de Telemedicina, promovido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Um diagnóstico da nova técnica foi traçado na edição da semana passada da “New England Journal of Medicine”. Os pesquisadores americanos Ray Dorsey, da Universidade de Rochester, em Nova York; e Eric Topol, do Instituto Scripps, na Califórnia, avaliam que o crescimento da prestação virtual de cuidados aliviará as preocupações com a distribuição de médicos em um território e oferecerá mais flexibilidade aos profissionais e seus pacientes. Ao contrário do Brasil, onde o diálogo na tela é restrito à troca de ideias entre profissionais de saúde, nos Estados Unidos os pacientes já podem ser atendidos à distância.
ACESSIBILIDADE E MONITORAMENTO
Dorsey aponta três tendências que estão redefinindo a telemedicina. A primeira é o potencial desta técnica para tornar os cuidados mais acessíveis, o que poderia reduzir o seu custo. A segunda é a possibilidade de monitoramento a portadores de doenças agudas. Por último, a expectativa de que este serviço migre de hospitais e clínicas para a casa e os celulares de pacientes. Com as consultas virtuais, o médico poderia atender mais pacientes e reduzir o preço da consulta.
— Devemos expandir a medicina até que chegue à casa das pessoas — defende o pesquisador. — Mas alguns problemas ainda devem ser debatidos. Registramos mais doenças crônicas justamente no público que têm menor acesso à internet: idosos, pobres e moradores da zona rural.
De acordo com Steinman, que estuda o progresso da telemedicina nos Estados Unidos, mais de 15 milhões de consultas virtuais são realizadas por ano naquele país, onde o serviço já é aplicado em 32 estados. Os médicos são cadastrados e o seguro de saúde do paciente é responsável por pagar o atendimento.
— É uma técnica que estreita a relação entre médico e o paciente, que terá mais acesso a dados da sua doença e, assim, vai se engajar mais no tratamento — avalia. — O Google possibilitou a democratização da informação, mesmo que ela nem sempre esteja correta. As pessoas já chegam ao consultório tendo alguma noção de seus problemas. A telemedicina é uma nova forma de interação, que pega carona nesta conectividade.
O cardiologista André Volschan, coordenador científico do Hospital Pró-Cardíaco, acompanhou à distância mil exames realizados em cinco centros de saúde fluminenses nos últimos três anos. Em 308 casos, a equipe recebeu pedido de assistência remota devido à ocorrência de acidente vascular cerebral.
— A janela de tempo é muito pequena e, nos locais onde não há neurologistas, dizemos aos médicos que estão ao lado do paciente como devem proceder — conta. — Damos orientações depois de nos mostrarem imagens de ressonância e tomografia. Os exames físicos também são acompanhados por telas de alta resolução. Tudo é acompanhado ao vivo. É diferente de pedir uma segunda opinião.
Para Angélica Bösiger, cardiologista do Hospital Federal dos Servidores do Estado, a principal utilidade da telemedicina é trocar impressões sobre cirurgias com seus colegas.
— Médicos de 83 instituições do país são convidados a assistir conectados a uma operação. Basta ter um login. Às vezes, debatemos como foi o procedimento — explica. — Acredito que a telemedicina beneficiará principalmente as especialidades cirúrgicas e intervencionistas, como ortopedia, neurorradiologia e cardiologia.
Coordenador da Câmara Técnica de Informática em Saúde do CFM, Aldemir Humberto Soares adianta que, no fórum de amanhã, o Conselho de Medicina abordará a evolução de softwares interativos que podem ser usados em consultas, assunto revisado pela última vez em uma regulação de 2002.
PREOCUPAÇÃO COM SEGURANÇA
Soares ressalta que uma série de condições devem ser analisadas antes da adoção de novas mídias na medicina.
— A confidencialidade é uma grande preocupação: precisamos ter certeza de que não haverá vazamento de informações trocadas entre médico e paciente. É necessário ter segurança contra hackers e alertar os profissionais para que não sejam descuidados — pondera Soares, que também é primeiro-secretário da Associação Médica Brasileira. — A ética profissional não deve ser ignorada. O médico não deve se esconder atrás da máquina. Ele continua responsável por seus atos.
A relação entre tempo de consulta e preço aventada por Dorsey também deve ser descartada.
— Para examinar uma pessoa, o médico pode precisar de uma hora; em outro caso, 15 minutos já são suficientes — descreve. — Não se deve baixar o preço para que o profissional receba mais pacientes. Há sempre fatores que interferem na velocidade do trabalho. Por exemplo, o envelhecimento da população está provocando o surgimento de novas doenças. Precisamos de tempo para analisá-las.
Os médicos são unânimes ao afirmar que as consultas virtuais podem complementar as visitas pessoais, mas jamais vão substituí-las. De acordo com Soares e Volschan, a presença do paciente no consultório reforça a intimidade e facilita a identificação de uma enfermidade, inclusive de sintomas que não foram motivo do agendamento da consulta.
— O médico ainda precisará de informações do histórico do paciente e analisar seu corpo — avisa Soares. — Mesmo com a nova tecnologia, um médico local deve acompanhar a evolução do tratamento. Em algumas áreas do país pode ser difícil encontrar um profissional que realize este monitoramento. Então, é possível que o regulamento da telemedicina não avance da mesma maneira em todas as regiões.
— Existem sutilezas típicas do contato presencial, levando a relação entre médico e paciente a um nível que não seria alcançado por um meio eletrônico — argumenta Volschan. — O exame físico nos permite analisar emoções que podem contribuir para realizar o diagnóstico.
A maior parte da pesquisa médica não é confiável
18/07/2016 - Época
O médico americano John Ioannidis, de 50 anos, cria motivos aos montes para contar com a antipatia dos colegas. O título de um de seus estudos mais recentes, publicado em junho, é Por que a maior parte da pesquisa clínica não é útil. Seu artigo mais famoso, divulgado em 2005, afirma haver maior probabilidade de estudos médicos publicados estarem errados do que certos. Ao denunciar os erros das pesquisas, porém, Ioannidis conquistou o respeito e não a inimizade na academia. Ele vem mostrando que a aprovação de novas drogas e a adoção de novas práticas têm nascido de um jeito viciado de fazer ciência, que inclui de enganos corriqueiros e involuntários a manipulações mal-intencionadas e sofisticadas. Diretor do Centro de Pesquisa em Prevenção, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, Ioannidis se tornou um dos cientistas mais influentes do mundo em pesquisa médica. Seu trabalho descreve como a indústria farmacêutica se apropriou de estudos para favorecer a aprovação de novas drogas e como cientistas que trabalham nas universidades ficam presos à necessidade de encontrar resultados gritantes, ainda que forçados, para alcançar reconhecimento. "Não culpo os pesquisadores por fazer isso nem a indústria por querer aumentar sua participação no mercado", afirma. "Nós os forçamos a fazer isso." ÉPOCA - Estamos na era das evidências na medicina. Há mais de 1 milhão de testes sobre drogas e intervenções. Por que o senhor diz que ainda não basta? John Ioannidis -Fizemos progressos nos últimos 25 anos. Deixamos de perguntar a opinião de professores de medicina e passamos a adotar estudos comparativos para nos guiar.
Entretanto, a maior parte da literatura biomédica não é nada útil. Muitas pesquisas não são sobre problemas relevantes para os pacientes. E o grosso dos estudos está perto do zero na escala de credibilidade. Há erros aleatórios e vieses propositais, que interferem nas conclusões.
ÉPOCA - Isso quer dizer que muitos estudos são fraudes?
Ioannidis - Não é que sejam fraude ou que os cientistas sejam fraudulentos. Eles só estão fazendo o melhor para chegar a resultados estatisticamente relevantes, que sejam extremos e incomuns. Nós os incentivamos a fazer isso. Conseguir esse tipo de resultado é a única maneira de publicar o estudo, conseguir financiamento e ser promovido na universidade. Então, eles farão o seu melhor: torturarão os dados até encontrar algo muito significativo. Além disso, existem pessoas com uma agenda que vai além de chegar a conclusões incomuns.
ÉPOCA - O senhor se refere a pesquisadores que conduzem estudos patrocinados pela indústria farmacêutica?
Ioannidis - A maior parte dessas pesquisas é patrocinada por fabricantes que, claramente, querem chegar a um resultado determinado ou, pelo menos, interpretá-lo segundo suas intenções. Quando a indústria farmacêutica está envolvida em pesquisa, não é pela curiosidade da descoberta científica ou para salvar as pessoas. Ela quer ganhar dinheiro. Pesquisadores de um estudo em que há um patrocinador com conflito de interesses podem até chegar aos mesmos resultados de outros envolvidos em uma pesquisa em que não há patrocínio. Mas, na etapa de analisar os resultados, talvez o grupo patrocinado interprete o mesmo número como indício de que a droga é incrivelmente eficaz e de que todo mundo precisa usar, e o segundo ache que ele não justifica alguém tomar a medicação, levando em consideração os efeitos colaterais e o custo do tratamento. Eu não culparia a indústria por querer chegar a resultados que aumentem sua participação no mercado. Nós a forçamos a fazer isso também.
ÉPOCA - O que o senhor quer dizer? A indústria aprendeu a usar o sistema científico a seu favor?
Ioannidis - Absolutamente. Não os culpo por fazer isso. Vinte anos atrás, se você quisesse vender uma droga, tinha de encontrar os professores de medicina com maior prestígio e ter certeza de que eles se tornariam membros do conselho de sua empresa. Eles apresentariam sua droga em grandes congressos, muitos médicos estariam ouvindo e seriam convencidos. Agora, as pessoas não ouvem mais a professores com prestígio, mas a pesquisas clínicas e a grandes estudos que compilam e analisam os achados de uma área. São as chamadas revisões sistemáticas e meta-análises. A indústria mudou o foco de sua atenção dos experts para esses testes e levantamentos. Todo o pensamento sobre como elaborar o estudo, que evidências encontrar, que manipulação analítica fazer são escolhas para conseguir resultados favoráveis.
ÉPOCA - O senhor pode dar um exemplo?
Ioannidis - Recentemente, meu grupo investigou levantamentos sobre antide-pressivos. Encontramos 185, um número impressionante. Precisamos de 185? Talvez de um ou dois. Quatro estaria ótimo. Cerca de 80% desses levantamentos tinham algum tipo de envolvimento da indústria. Eles nunca diziam nada ruim sobre os antidepressivos. A conclusão era muito favorável: eram ótimos, eficazes e sem grandes perigos. Era algo do tipo "vá em frente e tome mais". Quando esses levantamentos eram feitos por pessoas sem conexão com a indústria, mais da metade trazia ressalvas: afirmava que eles não eram tão eficazes ou que tinham alguns riscos a ser levados em consideração.
ÉPOCA - Como evitar o sequestro de um sistema de verificação científica que levou décadas para ser estruturado?
Ioannidis - A única maneira é desvincular os fabricantes de testar seus próprios produtos. Assim, não haveria razão para chegar a um resultado favorável exagerado ou para interpretar os resultados de maneira enviesada. A indústria deve ter todo o incentivo para desenvolver a melhor droga, o melhor tipo de exame diagnóstico. Mas é preciso ter os melhores testes para avaliar esses produtos, elaborados, conduzidos e analisados por cientistas independentes -idealmente com financiamento público. A indústria poderia contribuir com recursos, num fundo público, que custearia essas avaliações. Uma pequena parte das vendas dos medicamentos alimentaria esse fundo.
ÉPOCA - O que poderia ser feito para melhorar a qualidade das pesquisas sem fins comerciais, mas que o senhor também diz não serem úteis e críveis?
Ioannidis - Precisamos realinhar os incentivos com o tipo de ciência que queremos. Outros critérios deveriam ser usados para decidir se um trabalho será publicado numa grande revista científica, se o pesquisador receberá financiamento ou será promovido na universidade. Precisamos avaliar outras dimensões, como a transparência dos dados e do método usado, se outros pesquisadores conseguiram reproduzir o estudo e chegar aos mesmos resultados e se há potencial de aplicação para melhorar a vida das pessoas.
ÉPOCA - Há grupos de pacientes que questionam a necessidade de haver várias etapas na pesquisa de novas drogas. O senhor não teme, com seu trabalho, acabar fortalecendo esse tipo de desconfiança em relação à ciência?
Ioannidis - Existe esse risco. Mas charlatões sempre usarão qualquer argumento absurdo para apoiar suas alegações. Muita gente tem atacado os testes em que novas drogas são comparadas a outras mais antigas, o tipo de estudo mais confiável para avaliar a eficácia de medicamentos. Esses grupos usam argumentos que soam muito emocionais. Dizem que pessoas estão morrendo, que precisamos ser mais rápidos nesses testes que "duram para sempre" e citam todos os erros metodológicos - que eu nem posso negar, porque fui eu que descrevi. Mas daí a abandonar esse tipo de estudo comparativo... E fazer o quê? Voltar para a Idade Média? Não é assim que se progride na ciência. A única maneira de fazer frente a esses grupos é se apegar ao método científico, baseado na transparência, no escrutínio dos erros, na reflexão cuidadosa sobre vieses. Estamos falando de ceticismo saudável sobre como os estudos são elaborados. Dizer que nunca estamos errados não é ciência, é dogma.
ÉPOCA - Mas, na prática, os pacientes - e mesmo os médicos - podem ficar confusos ao considerar os problemas apontados pelo senhor. Estamos sem parâmetros para tomar decisões médicas?
Ioannidis - Não devemos ficar pessimistas sobre nossa habilidade de tomar decisões ou sobre a utilidade da ciência médica. Há muitas coisas na medicina baseadas em ciência muito sólida. Fumar, por exemplo. Sabemos muito bem que é devastador. As vacinas são um sucesso. Mas há muitas outras coisas sobre as quais não temos tanta certeza, como novos e caros tratamentos. Precisamos reconhecer as incertezas. Temos de comunicar primeiro para os médicos e depois para os pacientes que um novo tratamento tem 1% de chance de funcionar, ou 5%, ou 10%. Você toma a decisão consciente dos riscos e se estiver disposto a pagar—ou a fazer seu governo pagar. É preciso integrar a ciência à vida cotidiana.
Sexo pode explicar prevalência da zika em mulheres
16/07/2016 - Folha de S.Paulo
Na batalha contra o vírus da zika, muito já se falou sobre picadas de mosquito. No entanto, pesquisadores estão começando a se preocupar com outra rota de transmissão conhecida: a do sexo.
O contato íntimo pode responder por mais infecções de zika do que se suspeitava, segundo esses especialistas, ainda que todos os peritos concordem que os mosquitos são o principal fator da epidemia.
Dois relatórios recentes sugerem que as mulheres na América Latina têm probabilidade muito maior do que os homens de serem infectadas, embora, supostamente, ambos os sexos estejam expostos igualmente aos mosquitos. A diferença aparece na idade em que começa a atividade sexual e depois diminui entre os adultos mais velhos.
O vírus da zika pode persistir durante meses no sêmen. É por isso que as mulheres que desejam engravidar são aconselhadas a não fazer sexo sem proteção com homens que estiveram em áreas que têm o vírus.
A peça mais discutida nesse quebra-cabeça médico é um estudo divulgado em maio por bioestatísticos brasileiros e europeus. No Rio de Janeiro, cidade de 6,4 milhões de habitantes, eles encontraram “um aumento maciço de zika em mulheres, em comparação com os homens”.
Os autores, da Fundação Getúlio Vargas e de outros grupos de pesquisa brasileiros, franceses e escoceses, tiveram o cuidado de levar em conta dois fatores para ajustar seus números: grávidas são testadas para zika com maior frequência que qualquer outro grupo, e as mulheres geralmente consultam os médicos com maior frequência que os homens.
Mesmo assim, disse Flavio C. Coelho, bioestatístico da FGV e o principal autor do estudo, as mulheres ainda têm 60% mais probabilidade que os homens de ser infectadas pela zika. A transmissão sexual, segundo ele, é “a causa mais provável”.
Alguns especialistas, no entanto, incluindo Donald A. Berry, bioestatístico do Centro de Câncer M. D. Anderson da Universidade do Texas, rejeitaram o estudo. Segundo Berry, o medo das mulheres da zika é tão grande e a confusão com a dengue tão comum que essas variáveis sozinhas poderiam ter explicado a diferença em infecções entre homens e mulheres.
Outro estudo, de pesquisadores do Ministério da Saúde da Colômbia e dos CDC (sigla em inglês para Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, examinaram defeitos de nascença ligados ao vírus. Eles também encontraram disparidades de idade e de gênero.
Jovens meninos e meninas na Colômbia foram infectados com o vírus da zika mais ou menos na mesma porcentagem. Depois, com mais de 15 anos, quando começava a atividade sexual, os índices entre as mulheres disparavam. Dos 25 aos 29 anos, as mulheres tinham três vezes mais probabilidade que os homens da mesma idade de ser diagnosticadas com zika. Conforme envelheciam, a margem diminuía; depois dos 65 anos, os índices de infecção eram quase iguais.
A “diferença mais intrigante”, segundo Margaret A. Honein, do CDC, era que na Colômbia as mulheres de 45 a 64 anos tinham quase o dobro de probabilidade de ser infectadas que os homens da mesma faixa etária.
Não há evidência de que a transmissão sexual tenha tido um papel importante nos primeiros surtos modernos de zika, em 2007 na ilha Yap na Micronésia e em 2013 na Polinésia Francesa.
No entanto, esses surtos se espalharam rapidamente e se extinguiram em meses, por isso os mosquitos podem ter simplesmente encoberto os sinais de que o sexo também servia como fator dessas epidemias.
Transplante de órgãos, mais um desafio
18/07/2016 - Folha de S.Paulo
Atualmente realizam-se no Brasil transplantes de rim, fígado, coração, pâncreas, pulmão e medula óssea, com resultados comparáveis aos de centros mais desenvolvidos. Em número de procedimentos, somos superados apenas pelos Estados Unidos.
Recentemente, tem-se realizado um novo tipo de transplante para o tratamento da falência intestinal consequente ao encurtamento do intestino delgado por defeito genético ou ressecção cirúrgica.
Estima-se que no Brasil ocorram de 400 a 600 casos novos por ano, sendo 60% pediátricos e 40% em adultos. Em média, 90% desses pacientes são controlados clinicamente por nutrição por via endovenosa prolongada (NPP). Nos outros 10%, indica-se o transplante de intestino e, conforme o caso, também dos órgãos agredidos pela NPP prévia: fígado, baço, pâncreas e rim (transplante multivisceral).
Ressalte-se, desde já, que, devido à falência de intestino, os pacientes pediátricos necessitam de doadores com aproximadamente 70% de seu tamanho. Em alguns casos, doadores com meses de vida.
Entre nós, como nos centros do exterior, faltam doadores desse tipo. Em São Paulo foram viabilizados 1.411 doadores nos últimos 18 meses, nenhum deles com idade igual ou inferior a um ano.
Compreende-se assim que já tenham sido realizados, esporadicamente entre nós, alguns transplantes multiviscerais em adultos, mas nenhum pediátrico.
Em consequência, decisões judiciais vem obrigando o Ministério da Saúde a responsabilizar-se por esse tratamento no exterior, a um custo entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões por paciente. Como já defendi em artigo publicado nesta Folha em outubro do ano passado, seria mais proveitoso aplicar esses recursos públicos em centros nacionais experientes em transplantes pediátricos.
Essa conduta se justificaria ainda pelo fato de que há 30 anos enfrentamos aqui no Brasil a mesma dificuldade em relação à falta de doadores de baixo peso para o transplante de fígado pediátrico.
Para contornar esse obstáculo, desenvolvemos a técnica de transplante de fígado intervivos, no qual um doador adulto sadio autoriza a retirada de parte de seu órgão para ser transplantado na criança, salvando-lhe a vida.
Atualmente essa técnica é empregada em todos os países com dificuldades em obter doadores falecidos suficientes. Somente uma equipe na Coreia do Sul já realizou mais de 4.000 procedimentos desse tipo, preservando a vida de pacientes que, de outra forma, não poderiam ser transplantados, uma vez que princípios culturais e religiosos proíbem o manuseio de cadáveres em muitos países do Oriente.
Compreende-se assim que alguns pesquisadores nos EUA e no Reino Unido tenham empregado, nos transplantes para tratamento da falência intestinal em crianças, doadores adultos vivos, neles captando um fragmento de fígado (menos de 30%) e pequena porção do intestino delgado.
Baseiam-se, de um lado, na experiência com transplante de fígado intervivos, no qual o segmento retirado do doador se regenera em poucas semanas, e, de outro, na observação da cirurgia gastrointestinal, na qual é possível ressecar até um metro do intestino delgado sem causar efeitos mensuráveis.
Frente a todos esses dados, valorizam-se os resultados da equipe do Hospital Sírio-Libanês, com mais de 800 casos de transplante de fígado pediátrico intervivos operados com sobrevida de 95% após um ano, sem mortalidade entre os doadores. Abrem legítimas perspectivas também para a realização de transplantes de fígado/intestino intervivos pediátrico entre nós.
Indianos tentam reverter morte cerebral
18/07/2016 - Folha de S.Paulo
A história se passa no pequeno Hospital Anupam, na cidade de Rudrapur, na Índia, próximo à fronteira com o Tibete. Esse foi o local eleito para um polêmico experimento para tentar reviver o cérebro de pessoas com morte cerebral.
O grupo do cirurgião ortopédico e pesquisador indiano Himanshu Bansal conduzirá a pesquisa no local. O projeto deve durar em torno de um ano.
Os “voluntários” serão 20 pacientes que tiverem morte cerebral diagnosticada e passarão por intervenções —como injeções de células-tronco e um coquetel de “reprogramação” celular— com o intuito de regenerar e recuperar (mesmo que parcialmente) a função do órgão ao longo de duas semanas.
Os pacientes deverão estar com diagnóstico de morte cerebral de 8 a 24 horas antes de os testes começarem.
O novo estudo também tem participação americana, da empresa de biotecnologia Bioquark, e está devidamente registrado como um ensaio clínico—como aqueles necessários para a aprovação de novas drogas contra o câncer.
A diferença óbvia é que no caso em questão os pacientes já morreram, e isso facilitou na hora de registrar o ensaio.
O projeto passou por um comitê de ética local e independente da região do hospital e foi beneficiado pela ausência de uma legislação específica que tratasse de estudo com esse perfil de voluntários.
Para Bansal, mesmo que só uma pequena fração dos pacientes saísse do estado de morte cerebral para qualquer nível de consciência, ainda que o paciente permanecesse em coma, seria uma quebra de paradigma.
Ele diz que há grande variabilidade das normas que caracterizam a morte cerebral entre os países. “Pode soar engraçado, mas queremos provar que a Índia pode ser exemplo na área médica e provavelmente todo o mundo vai seguir as nossas diretrizes de definição de morte cerebral”, afirma.
A classificação para definir uma morte cerebral é debatida em diversos países,incluindo o Brasil. Um exemplo que gera controvérsia é o teste de apneia,que consiste em desligar a ventilação artificial para ver se há algum reflexo respiratório. O problema é seu alto índice de mortalidade devido a complicações cardíacas, na casa de 25%.
Quanto à nova tentativa de reviver cérebros, apelidada de “Dead Man Walking”, Bansal disse à Folha que não enxerga espaço para críticas.
“Após o diagnóstico de morte cerebral, há espaço para que as células sejam rejuvenescidas e que a pessoa volte a ter respiração espontânea e atividade elétrica no cérebro.Apessoa tem chances não desprezíveis de recuperar a consciência.” Não é o que pensam profissionais como o neurocirurgião André Gentil.
“O estudo é um desrespeito aos anos de empenho da comunidade científica na definição cuidadosa de morte cerebral e não segue normas básicas de metodologia científica”, afirma.
JEITÃO DE ÓVULO
Curiosamente, apesar de ser um estudo em seres humanos, não houve teste prévio em animais —Bansal diz que o motivo é não haver um conceito estabelecido do que seria morte cerebral em animais menos complexos.
A lógica em que apostam os cientistas e patrocinadores da pesquisa é a de métodos que promovem regeneração e reparo tecidual.
Uma delas é o tratamento com células-tronco —coletadas da gordura e da medula óssea do próprio voluntário.
Outra é a estimulação do nervo mediano do antebraço, técnica auxiliar para tentar recuperar a consciência de pacientes em estado de coma.
Já a estimulação com laser visa aumentar a produção de ATP —molécula que fornece energia para que a célula realize suas funções— nas mitocôndrias (organela responsável por essa função).
Com mais energia,teoricamente, os neurônios moribundos teriam a possibilidade de recuperar sua função —há estudos que mostram que ele é capaz de melhorar o grau de alerta em pacientes que estiveram em estado de consciência reduzida.
Apesar de as células-tronco serem o tratamento favorito de Bansal,por causa de sua maior experiência com elas, o mais inusitado é o uso do produto Bioquantina.
Trata-se de uma solução cujo objetivo é fazer células“voltarem no tempo”e se tornarem algo próximo de um oócito (célula que dá origem ao óvulo). A bizarra origem do produto? O ócitos de anfíbios.
A proposta é que o extrato seja capaz de reprogramar as células para um estágio pluripotente —capaz de se transformar em vários tipos celulares diferentes.
No entanto, ainda não há um número substancial de estudos prévios que justifiquem algum otimismo nessa aplicação da Bioquantina.
“Em nossa abordagem,certamente não haverá uma única solução mágica. Qualquer teste usando apenas uma droga seria provavelmente inútil”, diz Bansal. Para ele, a intervenção para reviver um cérebro seria análoga ao tratamento mais moderno contra Aids, baseado em um coquetel de medicamentos.
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Calor fora de época não deixa aedes ‘sumir’
16/07/2016 - Folha de S.Paulo
No verão, é difícil controlar as viroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti –como dengue e zika. Os mosquitos se reproduzem em taxas aceleradas e parecem não ter fim.
Já no inverno, há uma "pausa" nessa proliferação demasiada, que pode ser abalada quando surgem veranicos –como o que viveu São Paulo nesta semana– ou quando o inverno não é tão rigoroso.
Isso acontece porque o metabolismo do inseto é bastante dependente da temperatura e umidade do ambiente. Quanto mais quente, mais os mosquitos voam, picam e se procriam.
Durante o inverno, mais seco na região Sudeste, por exemplo, os ovos dos mosquitos que estão espalhados pelo ambiente conseguem sobreviver por meses –mostrando um pouco de sua resiliência.
A estação também tem um "sumiço" temporário dos mosquitos, mas na verdade eles existem em menor número. Com o frio, eles se movem menos e quase não incomodam.
Se a cada verão há grandes picos de incidência de arboviroses (doenças transmitidas por artrópodes, como os aedes), no inverno o esperado eram vales, que indicam incidência mínima. Quando não esfria tanto, esses vales não são tão profundos –há numerosos casos de dengue o ano inteiro.
Especialistas defendem que combater ovos e larvas de A. aegypti no tempo frio pode reduzir a dimensão das epidemias como a dengue no ano seguinte.
Para ministro, pacientes imaginam doenças
16/07/2016 - O Estado de S.Paulo
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse ontem que a maioria dos pacientes que procuram atendimento em unidades de atenção básica da rede pública apenas “imagina” estar doente, mas não está. De acordo com o ministro, é “cultura do brasileiro” só achar que foi bem atendido quando passa por exames ou recebe prescrição de medicamentos e esse suposto “hábito” estaria levando a gastos desnecessários no Sistema Único de Saúde (SUS).
Entidades médicas criticaram a fala de Barros.
“A maioria das pessoas chega ao posto de saúde ou ao atendimento primário com efeitos psicossomáticos. Por que 50% dos exames laboratoriais não são retirados pelos interessados? Por que 80% dão resultado normal? Porque foram pedidos sem necessidade”, disse o ministro, na manhã de ontem, em evento na sede da Associação Médica Brasileira (AMB), em São Paulo.
Barros disse que a população costuma associar uma boa consulta à solicitação de exames e defendeu que os médicos ajudem a mudar esse pensamento.
“Se (o paciente) não sair ou com receita ou com pedido de exame, ele acha que não foi ‘consultado’. Isso é uma cultura do povo, mas acho que todos nós temos de ajudar a mudar, porque isso não é compatível com os recursos que temos”, declarou. “Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que não são necessários só para satisfazer as pessoas, para elas acharem que saíram bem atendidas do postinho de saúde.” O ministro defendeu que os médicos façam uma investigação mais criteriosa do paciente, antes de solicitar exames ou prescrever remédios. “O médico tem de apalpar o cliente, fazer anamnese, tem de conversar com a pessoa”, afirmou.
CRÍTICAS
Representantes de entidades médicas discordaram da afirmação de Barros de que a maioria da população procura postos de saúde sem estar, de fato, doente. “De maneira geral, qualquer unidade de saúde terá 70% dos exames com resultado normal. Isso acontece porque o paciente não é bem examinado, não é bem interrogado, e são solicitados os exames errados. Ou então, na rede pública, o exame demora tanto para ficar pronto que, até lá, o paciente já sarou e não vai retirar o resultado”, diz Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
Ele afirma que a solicitação de exames desnecessários está relacionada a falhas na formação ou na postura do médico.
“O paciente não tem culpa nisso.
A maioria tem queixa real, que não é devidamente valorizada pelo médico”, afirmou.
Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso afirmou que o paciente nem tem o poder de escolher se quer fazer exames ou tomar remédios e é preciso avaliar melhor os dados informados pelo ministro antes de qualquer conclusão. “O julgamento do que o doente precisa é médico. Às vezes está lá que o doente não foi pegar (o resultado do exame), mas o doente ou o médico viram na internet.
Precisamos saber quais lugares têm essa população de pacientes atendidos com exames normais ou que não foram buscálo. Porque, senão, fica algo jogado no ar.”
Hospitais não estão preparados, diz Cremerj
16/07/2016 - O Estado de S.Paulo
A 21 dias da Olimpíada, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) concluiu que a rede de saúde da cidade não está preparada para receber pacientes de um incidente com múltiplas vítimas durante os Jogos Olímpicos. De acordo com o conselho, os cinco hospitais designados como de referência para o atendimento de emergência estão superlotados.
A Secretaria Municipal de Saúde, porém, nega superlotação e atribui as críticas a questões políticas.
A conclusão do Cremerj veio após fiscalização realizada por conselheiros do órgão, entre os últimos dias 5 e 11. O Cremerj constatou que todos os hospitais de referência – Souza Aguiar, Salgado Filho, Miguel Couto, Albert Schweitzer e Lourenço Jorge – não têm capacidade para receber mais pacientes.
O relatório parcial das vistorias foi divulgado ontem e será entregue à Secretaria de Saúde do município na segunda-feira.
“Há superlotação e as vagas para leitos estão escassas. Há a necessidade, não quero pensar no pior, de aumentar a estrutura de atendimento. Estou preocupado, porque hoje há lotação e na Olimpíada teremos mais de 1 milhão de visitantes. Ainda dá tempo (de agir para mudar a situação)”, afirmou o presidente do Cremerj, Pablo Vazquez.
Segundo Vazquez, outro fator que preocupa é a redução de verbas para a saúde. “O Rio teria que investir pelo menos 12% de seu orçamento na saúde.
Tem investido 4%”, comentou.
O vice-presidente do Cremerj, Nelson Nahon, afirmou que a diferença entre o total do Orçamento e o que foi investido até agora representa menos R$ 370 milhões aplicados na saúde. “Teriam que ser investidos R$ 400 milhões. Em junho, só foram investidos cerca de R$ 25 milhões. Os hospitais estão precários, faltam medicamentos e as equipes médicas estão reduzidas”, disse.
Os conselheiros criticaram a iniciativa de, durante a Olimpíada, atender pacientes de média gravidade em uma cantina desativada no Salgado Filho, caso haja acidente com muitas vítimas.
“É um espaço aberto, ainda com os balcões da antiga cantina”, apontou Nahon.
As salas de emergência estão com ocupação superior à sua capacidade.
Foram encontrados muitos pacientes acomodados nos corredores das unidades, de forma improvisada, em macas de transporte, poltronas e cadeiras. Os Centros de Terapia Intensiva e de Tratamento de Queimados estão com ocupação de 100% dos leitos. Há pós-graduandos atuando na rede para suprir o atual déficit de médicos nas equipes. Faltam equipamentos para monitorização de pacientes graves e leitos precisam de manutenção.
O secretário municipal de saúde, Daniel Soranz, negou que os hospitais estejam superlotados e afirmou que “o Cremerj e o sindicato dos médicos são oposição política a Prefeitura do Rio”. Além disso, disse que o Rio é uma das cidades mais preparadas para atender acidentes com múltiplas vítimas.
Fila por consulta pode cair com nova organização
16/07/2016 - Folha de S.Paulo
É possível reduzir a fila de consultas com especialistas sem aumentar o número de profissionais, afirmam pesquisadores em saúde pública. Para isso, é preciso mudar o encaminhamento dos pacientes.
Hoje, durante atendimento inicial, ao primeiro sinal de doença o paciente é encaminhado para médico especialista. Analistas defendem que muitos casos poderiam ser tratados ainda no primeiro atendimento, nas unidades básicas de saúde.
O paciente espera atualmente cinco meses por atendimento na rede municipal, em média.
Eugênio Vilaça Mendes, médico e consultor da área de saúde do Banco Mundial, diz que atendimento especializado é mais caro, porque exige mais exames.
“O especialista não olha a saúde como um todo, vai direto num órgão. Aí vai medicar, pedir exame.” O presidente do Sindicato dos Médicos de SP, Eder Gatti Fernandes, também defende a prioridade à atenção básica, pois nessa etapa é possível até evitar o surgimento de doenças.
Centros da prefeitura ajudam idosos, mas vagas são escassas
16/07/2016 - Folha de S.Paulo
A copeira aposentada Conceição Rodrigues, 71, passava os dias sozinha em casa por ter dificuldade para descer e subir as escadas do prédio. Agora, ela participa de atividades físicas e culturais no centro-dia para idosos de Sapopemba (zona leste da capital)—que também fornece um motorista para ajudá-la.
“Antes eu ficava do quarto para a sala, da sala para a cozinha. No centro, tem espaço e gente para conversar”, afirma Conceição.
Criado em 2015 na gestão Fernando Haddad (PT), o centro é uma espécie de creche que busca evitar problemas que o isolamento pode causar nos idosos, como depressão. O equipamento funciona em parceria com entidades sociais.
O problema é a escassez de vagas. Para a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Luciana Temer, o ideal seria que o serviço estivesse em todas as 32 subprefeituras. Atualmente há seis unidades.
Especialista da USP em políticas públicas do envelhecimento, Marilia Louvison diz que a atenção ao idoso deve ser mais ampla.
Se houvesse mais calçadas acessíveis na cidade, os idosos teriam mais condições de se locomover e acessar equipamentos públicos já disponíveis.
EUA registram transmissão sexual do zika de mulher para homem
16/07/2016 - Folha de S.Paulo
Os Estados Unidos registraram o primeiro caso em que o vírus da zika foi transmitido sexualmente de uma mulher para um homem.
O contrário, a transmissão de homem para mulher, já tinha sido apontado anteriormente também nos EUA e na Europa. Cientistas já haviam levantado ainda a possibilidade de o vírus da zika ser transmitido pelo sexo oral.
Os casos eram basicamente de homens que viajaram para áreas onde ocorre a transmissão pelo Aedes aegypti e depois voltaram para sua terra natal, onde não há sinal do mosquito, e levaram o vírus da zika às suas parceiras pela relação sexual.
A história agora é de uma mulher jovem de Nova York que viajou para um país onde há transmissão do zika -o CDC (Centro de Controle de Doenças) dos EUA não informou onde- e, na volta, fez sexo com seu parceiro sem preservativo.
Ela começou a sentir os sintomas da infecção do zika no dia seguinte; ele, apenas alguns dias depois.
Os dois se consultaram com o mesmo médico, que levantou a possibilidade da transmissão sexual já que o rapaz não sai dos EUA há mais de um ano.
O caso foi levado ao Departamento de Saúde e Higiene Mental de Nova York, que entrevistou o casal. Os relatos eram consistentes e, pela sucessão dos eventos, a hipótese mais provável é que ela tenha passado o vírus ao rapaz.
Um estudo publicado no último dia 11 na revista médica inglesa "The Lancet Infectious Diseases" tinha descrito, pela primeira vez, o achado do vírus da zika no trato genital feminino. Ele já tinha sido encontrado na saliva, na urina, no sangue, sêmen, no leite materno e também no líquido amniótico.
O artigo conta o caso de uma mulher de 27 anos de Guadalupe, departamento ultramarino da França no Caribe e área oficial de transmissão do vírus.
Foram feitas coletas de material genital e do colo do útero da paciente, e todos deram positivo para o vírus. Onze dias depois do início dos sintomas as amostras de sangue e urina deram resultado negativo, mas o muco do colo do útero dela ainda dava sinais do vírus da zika.
"Já imaginávamos que isso seria possível [a mulher transmitir o vírus para o homem], ainda mais depois desse estudo, mas é importante que haja a descrição para confirmar a hipótese e fortalecer a ideia de que existe uma transmissão sexual do zika", diz Max Igor Banks, infectologista do HC da USP.
Para Paolo Zanotto, virologista da USP, o registro faz com que seja necessário reavaliar o papel da transmissão sexual na epidemia.
"O que estamos vendo é que o vírus da zika está persistindo por bastante tempo nas pessoas e, com isso, a questão sexual passa a ter um papel extremamente relevante na epidemia."
Segundo Zanotto, os casos de transmissão sexual do zika são mais facilmente identificáveis quando o casal mora em áreas sem o mosquito e um dos parceiros viaja para região de risco. No Brasil, diz, é mais difícil provar que esse foi o meio de transmissão porque os dois podem ter sido picados pelo mosquito.
O cientista, porém, afirma que um grupo de homens que têm zika no sêmen está sendo acompanhado na USP. "Vamos desenvolver estudos para entender a transmissão sexual no Brasil e ver se aqui ela é exceção ou um componente da epidemia."
Epidemia de Aids não está sob controle
16/07/2016 - Folha de S.Paulo
A população acredita que a epidemia de Aids já está sob controle.
Não está, segundo a Unaids, o programa da ONU de ajuda aos países para o combate à doença. Ela informa, em relatório apresentado nesta semana, que os números são preocupantes.
No Brasil, o número de pessoas vivendo com Aids aumentou 18% (de 700 mil para 830 mil pessoas).
Muitas pessoas imaginam haver cura para a doença.
Existe o tratamento, mas não a cura, segundo a Organização Mundial da Saúde.
As drogas antirretrovirais controlam a replicação viral e ajudam a prevenir a transmissão da doença. Fortalecem o sistema imunológico do paciente e recuperam a capacidade do organismo de lutar contra as infecções.
Estudos confirmam que uma pessoa portadora do HIV em tratamento com antirretrovirais reduz em 96% o risco de transmitir o vírus para um parceiro saudável.
Os avanços no tratamento e diagnóstico precoce do HIV nos últimos dez anos possivelmente contribuíram para que as pessoas passassem a dispensar os necessários cuidados nas relações de risco. Entre esses cuidados está o uso da camisinha, tanto pelo homem quanto pela mulher, no caso de o homem recusar-se a colocar o preservativo.
Um significativo avanço também observado nos últimos anos é a profilaxia após exposição ao HIV. O início do tratamento é indicado em até 72 horas, buscando prevenir a infecção.
Plano popular pode atrasar tratamentos
17/07/2016 - O Estado de S.Paulo
A proposta do ministro Ricardo Barros de criar planos de saúde populares com cobertura mais básica, divulgada há duas semanas, nem será capaz de aliviar a falta de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) nem vai acelerar o atendimento a pacientes com doenças mais complexas.
E ainda pode ter efeito contrário, de desorganizar o sistema e atrasar o início de alguns tratamentos. Essa é a visão de vários especialistas em saúde pública ouvidos pelo Estado e reforçada por dados do próprio ministério.
Segundo a pasta, o gasto com ações de atenção básica, como consultas em postos de saúde, representou, no ano passado, 13,7% do orçamento do ministério, enquanto as despesas com procedimentos de média e alta complexidade, como internações e cirurgias, consumiram 42,1%. “Não consigo entender isso como uma solução, pelo contrário, porque muito da alta complexidade quem banca e vai continuar bancando é o SUS.
Então a gente percebe que é uma medida que, do ponto de vista técnico, parece não ter justificativa e vai na contramão do que vem sendo feito pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que é evitar planos com baixa cobertura”, diz Walter Cintra Ferreira Junior, professor do curso de especialização em administração hospitalar e de sistemas de saúde da Fundação Getulio Vargas.
Para Claudia Travassos, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o estímulo a planos de baixa cobertura não atenderá às necessidades de saúde da população nem trará economia para o ministério. “O SUS vai continuar arcando com o que é mais caro, portanto, precisando de mais dinheiro. Ou isso é uma ficção ou é uma forma de enganar as pessoas”, afirma.
DEMORA
Os especialistas dizem que os clientes que optarem por um plano de saúde com cobertura restrita poderão ter dificuldades caso precisem de atendimento mais complexo, como uma cirurgia ou um tratamento contra câncer.
“Pode atrasar o início do tratamento para alguns pacientes porque eles podem até conseguir a primeira consulta e o diagnóstico no plano, mas não conseguirão ter continuidade e terão de voltar no início do caminho no SUS, porque não conseguirão usar o encaminhamento do plano na rede pública”, diz Mario Scheffer, professor da Faculdade de Medicina da USP e um dos vice-presidentes da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
“Isso gera mais gastos, porque vai exigir a realização de novas consultas. Quebra com a organização de um cuidado mais sistêmico e parece que só vem atender aos interesses do setor privado de planos, porque não atende aos interesses nem da saúde nem do ministério nem da população”, diz Claudia.
Scheffer afirma que, mesmo hoje, com a regulação feita pela ANS, clientes de planos de saúde com cobertura básica já enfrentam dificuldades. “A gente já conhece esse plano de menor preço com rede credenciada reduzida.
Eles acabam criando obstáculos e barreiras para a assistência.
Essa medida de criar planos populares poderia piorar esse quadro.” A estudante Mayr Santos Teixeira, de 28 anos, foi uma das vítimas da demora na autorização de um tratamento oncológico por parte do plano. Em 2009, ela foi diagnosticada com leucemia aguda e foi avisada pelos médicos de que poderia morrer se não iniciasse a quimioterapia em dez dias. “Meu plano só foi aprovar o tratamento 20 dias depois.
Por sorte, tive a ajuda de uma médica para conseguir o tratamento pelo SUS e pude começar mais rápido. Acabei fazendo todas as sessões de químio na rede pública porque o plano dificultava demais. Mas tenho vários amigos que morreram no meio do caminho por não conseguir nem no plano nem no SUS”, conta.
“Acho que a política do ministério não deveria ser fragmentar mais o sistema, mas estruturar a rede básica e secundária do próprio SUS para dar a atenção de forma mais rápida”, diz Ferreira Junior.
‘Quem vai fazer a proposta é o mercado’
17/07/2016 - O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA
Ricardo Barros, ministro da Saúde
‘Quem vai fazer a proposta é o mercado’
l Como a criação de planos populares afetaria o SUS? Quanto mais pessoas tiverem saúde suplementar, mais dinheiro teremos na saúde brasileira.
Só estou propondo flexibilização na regulação para que as empresas possam lançar no mercado planos com cobertura diferenciada e preços interessantes.
l No caso de um paciente que precisasse de tratamento mais complexo que não fosse coberto, como o oncológico, isso não o prejudicaria ou atrasaria o início do tratamento?
Se ele tiver um diagnóstico de câncer, vai procurar um encaminhamento da rede pública para fazer o tratamento. Ele não perdeu nada, só descobriu que tinha câncer mais cedo e terá mais chances de cura.
l Especialistas dizem que a proposta precisa ser detalhada...
Não tem como entender a proposta porque quem vai fazer a proposta é o mercado. A minha única proposta é botar mais dinheiro na saúde. Não vou definir o plano. Quem vai definir são os interesses de mercado. Não é meu papel desenvolver plano, saber qual é a cobertura, nada disso. / F.C.
Ministro diz que não incentivará alta de imposto para financiar Saúde
15/07/2016 - Valor Econômico / Site
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou nesta sexta-feira que não incentiva o governo a aumentar os impostos para o financiamento do setor.
“Eu não vou patrocinar, dentro do governo, uma tentativa de que a área da saúde seja o oásis e o resto seja o deserto, porque não vai funcionar", disse.
Segundo ele, o governo é um só. "E nós temos que conviver, disputando, dentro das prioridades do governo, a fatia da saúde”, afirmou Barros, que participou de debate com dirigentes de entidades médicas de todo o país na sede da Associação Médica Brasileira, em São Paulo.
De acordo com o ministro, o objetivo é “fazer mais com os mesmos recursos”, tomando medidas para reduzir o desperdício. Barros deu como exemplo o caso de centenas de unidades de pronto-atendimento (UPA) que foram concluídas e equipadas e estão fora de uso.
O ministro disse que a informatização da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) será a prioridade do governo, que, com isso, espera reduzir a corrupção. “A informação é inimiga da fraude. Com informatização, alguém vai perder uma boquinha com desvio de medicamentos, de insumos da saúde. Isso tudo vai acabar”, afirmou.
Com o sistema, que usará biometria, os usuários serão identificados pelo CPF, o que facilitará a compensação automática dos custos quando um cliente de plano de saúde usar o SUS. Os atendimentos a pessoas estrangeiras, que, a cada consulta, geram um novo número do SUS, também serão resolvidos com a informatização.
Barros disse também que o SUS precisa reduzir o desperdício com a realização de exames, já que 50% deles sequer são retirados pelos pacientes e 80% dão resultado normal. “Temos que mudar a cultura do brasileiro de que, se não sair com pedido de exame, não fez a consulta. Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que não são necessários, só para satisfazer a pessoa que quer achar que foi bem atendida no posto de saúde.”
Para o ministro, a telemedicina, é alternativa para diminuir gastos com viagens de pacientes, que precisam se deslocar de cidades pequenas do interior para os grandes centros, onde é possível o diagnóstico. “As pessoas viajam demais para ter atendimento de saúde. A medicina tem que ir para perto das pessoas”, acrescentou.
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