Obesidade pode reduzir em até dez anos a expectativa de vida
15/07/2016 - O Globo
Estar acima do peso diminui em cerca de um ano a expectativa de vida, que pode ser reduzida em até dez anos nos casos de obesidade severa. A conclusão é de um dos maiores estudos já realizados sobre o tema, publicado ontem na revista médica “The Lancet”.
A pesquisa refuta estudos anteriores que concluíram que alguns quilos extras não faziam mal à saúde. Em vez disso, o novo estudo revelou evidências de que o risco de morrer antes dos 70 anos aumenta, “de forma gradual e acentuada”, conforme a cintura se expande.
— Esse estudo mostra, definitivamente, que o excesso de peso e a obesidade estão associados a um risco de morte prematura — disse à AFP a professora e líder da pesquisa, Emanuele Di Angelantonio, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Usando dados de quase quatro milhões de adultos de quatro continentes, o estudo descobriu que as pessoas com excesso de peso perdem em média um ano de expectativa de vida, e as pessoas “moderadamente obesas” perdem cerca de três anos. Todos os riscos de doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral, doenças respiratórias e câncer aumentam, segundo a pesquisadora, e “pessoas severamente obesas perdem cerca de 10 anos da expectativa de vida”, diz ela.
Uma equipe internacional de pesquisadores selecionou dados a partir de mais de 10,6 milhões de participantes de 239 grandes estudos realizados entre 1970 e 2015 em 32 países na América do Norte, Europa, Austrália, Nova Zelândia e no Leste e Sul da Ásia. O trabalho foi considerado o maior conjunto de dados sobre excesso de peso e mortalidade já reunido.
Para descartar o impacto de outros riscos de mortalidade, a equipe excluiu fumantes e exfumantes, portadores de doenças crônicas e pessoas que morreram nos primeiros cinco anos das pesquisas — e ficaram com uma amostra de 3,9 milhões de adultos.
RISCO DE MORTE 10,5% MAIOR
A equipe dividiu a amostra em categorias de acordo com seu Índice de Massa Corporal (IMC, peso dividido pelo quadrado da altura) e comparou os números e as causas de morte em cada grupo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um IMC de 18,5 a 24,9 é considerado normal; de 25 a 29,9 excesso de peso; de 30 a 34,9 obesidade moderada; de 35 a 39,9 obesidade severa; e acima de 40, obesidade mórbida.
Os pesquisadores descobriram que o risco de morrer antes dos 70 anos aumentou de 19% em homens com peso normal para 29,5% em homens moderadamente obesos. Entre as mulheres, esse risco aumentou de 11% para 14,6%. “Isso corresponde a um aumento absoluto de 10,5%, para os homens, e 3,6%, para as mulheres”, contextualiza um comunicado da revista “The Lancet”.
Se todas as pessoas com sobrepeso e obesidade tivessem níveis normais de IMC, isso evitaria uma em cada cinco mortes prematuras na América do Norte, uma em cada seis na Austrália e na Nova Zelândia, uma em cada sete na Europa e uma em cada 20 no Leste da Ásia, concluiu o estudo.
Em 2014, pela OMS, mais de 1,9 milhão de adultos em todo o mundo estavam acima do peso. Desses, mais de 600 milhões eram obesos.
Zika e dengue podem ter interação perigosa
15/07/2016 - Folha de S.Paulo
Quando se encontram, os vírus da dengue e da zika interagem de maneira perigosa, mostra novo estudo da revista “Science” que fez testes in vitro e em roedores. Os resultados apontam que quem já teve zika pode ter uma infecção de dengue pior que o esperado.
Trata-se do efeito conhecido como potencialização dependente de anticorpos (anti body-dependentnhancement, ou ADE): anticorpos, em vez de neutralizar e promover a aniquilação de um vírus, acabam se ligando a ele de uma forma “frouxa”, permitindo que ele se reproduza sem dificuldades no interior de células do organismo.
Esse fenômeno biológico vem sendo estudado jáhá algum tempo e é uma das explicações mais plausíveis para o aparecimento das febres hemorrágicas em uma segunda (ou terceira ou quarta)infecção pelo vírus da dengue.
Quatro é o número limite de infecções por um motivo: só há quatro subtipos do vírus da dengue (DENV1 a DENV4).Geralmente, há uma predominância de um em cada epidemia, o que não impede que os demais também circulem na mesma época.
A esse notório quarteto de vírus, juntou-se o vírus da zika(ou ZIKV)—até pouco tempo atrás restrito à África e à Ásia. Só há um subtipo dele e ainda não se sabe exatamente como ele entra nessa ciranda dos flavivírus relevantes para a saúde pública Para entender melhor essa interação, pesquisadores de diversos países estudaram 119 tipos de anticorpo de quatro doadores infectados pelo vírus da zika —dois deles haviam pegado dengue também.
Boa parte dos anticorpos (41) atacou uma proteína não estrutural (chamada NS1)que é produzida por células infectadas pelo vírus da zika enquanto ele tenta driblar o sistema imune. A NS1 funciona como “bomba de fumaça”, enganando o organismo enquanto o vírus se multiplica.
Anticorpos contra essa proteína podem ser úteis em testes diagnósticos que diferenciem dengue de zika. O organismo também produziu anticorpos contra a proteína E, que forma a cápsula de proteína que envolve o vírus.
Em testes in vitro, os cientistas viram que o plasma (fração do sangue onde estão os anticorpos) de pacientes que já foram infectados pelo DENV3 ou pelo ZIKV potencializou a ação do DENV1. Esse seria um indício de que uma infecção prévia poderia significar um risco de uma doença mais severa.
Estudos anteriores já haviam feito testes semelhantes e alertado para essa possibilidade.
Desta vez, no entanto, os pesquisadores deram um passo a mais no quesito complexidade ao fazer testes em roedores.
Anticorpos de alto poder de neutralização (particularmente eficazes em se ligar aos vírus), tanto anti zika quanto antidengue, acabaram piorando a doença causada pelo DENV2 nos bichos —que morreram após cinco dias.
VACINA
A caracterização do efeito de potencialização dependente de anticorpos (ADE)representa mais um obstáculo para os fabricantes de vacinas contra dengue e zika.
Ao deixar um “buraco” na imunidade contra a zika,uma vacina contra os quatro vírus da dengue poderia deixar os imunizados mais predispostos a casos graves de zika, ligada a casos de microcefalia e outras más-formações em bebês, além da síndrome paralisante de Guillain-Barré.
Para Jorge Kalil, professor titular da USP e diretor do Instituto Butantan,o risco dessa potencialização existe, mas isso não invalida a busca da vacina contra a dengue, que está em fase final de estudos no órgão.“Dengue mata muito mais que zika”, diz.
Ele faz a ressalva de que ainda não há estudos que comprovem que esse efeito em humanos. “O raciocínio é lógico, mas, em biologia, tudo tem que ser demonstrado.” Segundo Kalil, a vacina contra a dengue poderia minimizar o risco de uma pessoa, já infectada com o zika, morrer por causa de uma infecção por dengue.
A menor gravidade da infecção por zika justificaria, segundo Kalil,imunizar imediatamente a população contra a dengue assim que houver vacina disponível. “Temos que pensar no nível da saúde pública para saber quem tem risco de ter dengue e quem se beneficiaria mais dessa vacina”, afirma Kalil.
O professor diz ainda que o desenvolvimento das vacinas no país está atrasado por causa da redução de verbas federais. “É muita burocracia para se obter o dinheiro em uma situação de emergência, e sem dinheiro a gente não consegue fazer nada.” A Sanofi Pasteur, empresa que está produzindo a primeira vacina contra a dengue aprovada no país, diz estar preparada para prosseguir com as análises da possível potencialização dos efeitos dos vírus em estudos que serão feitos após a venda da vacina, baseados em relatos.
Decisão de Lewandowski pode elevar em R$ 2 bi gasto da Farmácia Popular
14/07/2016 - Folha de S.Paulo / Site
Uma decisão do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, pode aumentar em R$ 2,1 bilhões por ano gastos do Programa Farmácia Popular.
O ministro manteve nesta quinta-feira (14) uma determinação do Tribunal Regional Federal da 1ª Região que autorizou a inclusão de pessoas com deficiência como beneficiárias do programa e estabeleceu que lhes fossem fornecidas fraldas.
O pedido para ampliar o programa foi feito pelo o Ministério Público Federal que ajuizou ação civil pública contra a União, o Estado de Minas Gerais e o Município de Uberlândia (MG).
O MPF argumenta que a lei prevê "a inclusão social das pessoas portadoras de necessidades especiais ao sistema público de saúde, visando dar eficácia plena aos comandos da Constituição, que garante a todos o acesso à saúde, devendo o Estado, em casos que tais, efetivar esse direito sem qualquer discriminação".
Ao Supremo, o governo argumentou que há dificuldades orçamentárias para cumprir a decisão, uma vez que o orçamento total do programa neste ano é de R$ 2,6 bilhões.
"O orçamento previsto não possibilita, de imediato, a inclusão de novos produtos e nem de novos grupos de beneficiários, sem que haja um estudo de viabilidade de implementação, envolvendo estudos de dotação orçamentária, quantificação do público alvo e adequação do sistema de vendas do programa, o que não é possível de ser feito em poucos dias", justificou o governo.
O presidente do STF disse, no entanto, que o governo não conseguiu comprovar "a ocorrência de grave lesão à ordem e à economia públicas, a autorizar o deferimento do pedido de suspensão, que, de outra banda, teria o condão de aniquilar direitos garantidos pela Carta Constitucional. "
O ministro ressaltou a importância da assistência. "Penso que está em jogo a proteção das pessoas com deficiência que necessitam do auxílio do Estado para garantir o pleno exercício do seu direito à saúde.
E entendo que a essas o Estado não deve faltar. Os entes federados, responsáveis solidários na assistência à saúde, deverão cumprir o seu múnus [tarefa] constitucional de garantir plenamente o direito à saúde mediante políticas efetivas, tomando por norte a Constituição Federal e as leis do país", disse.
Pesquisa: risco de zika nos Jogos é pequeno
15/07/2016 - O Globo
A epidemia de zika já alcançou o período de pico e agora começa a perder força na América Latina, afirma uma análise publicada hoje na revista americana “Science”. O estudo reforça a tese de que o risco de contrair zika durante a Olimpíada do Rio é pequeno.
Uma outra pesquisa, do Centro de Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), acrescenta que, para a maioria dos visitantes, viajar para o Rio não traz risco extra porque o vírus está amplamente disseminado pelo mundo. Um boletim da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado ontem informa que o zika está presente em 65 países e territórios.
Segundo o CDC, somente viajantes de Djibouti, Iêmen, Chade e Eritreia correriam maior risco de contrair zika durante a Rio-2016 e levar a doença para seus países de origem. Isso porque os quatro países não registram grande fluxo de visitantes, mas têm o mosquito transmissor e uma população sem imunidade.
O virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, o único brasileiro no comitê de emergência sobre zika da OMS, observa que os estudos da “Science” não significam que o Brasil está livre da doença. Muito pelo contrário. O zika está amplamente disseminado e continua a ser um dos maiores problemas de saúde pública. Porém, devido à redução da temperatura no inverno, que inibe o mosquito, e ao fato de muita gente já ter sido infectada — e, portanto, em tese, estar menos vulnerável —, a atual epidemia perdeu força.
— O alívio é temporário. O número de casos deverá voltar a crescer no verão. Doenças transmitidas por mosquitos são muito influenciadas pela temperatura e pelas chuvas — explica Vasconcelos, que é considerado um dos maiores especialistas do mundo em arbovírus (aqueles transmitidos por artrópodes como os insetos) e dirige o Instituto Evandro Chagas, em Ananindeua, no Pará.
Ele observa que as pesquisas da “Science” se referem principalmente ao Nordeste brasileiro, onde foram registrados cerca de 80% dos casos de infecção no país, além da maioria esmagadora dos casos de microcefalia e outros distúrbios neurológicos. O Nordeste tem 1.446 dos 1.687 casos com associação ao zika confirmados pelo Ministério da Saúde.
— Foi no Nordeste que a epidemia explodiu no Brasil. E lá as condições de pico da epidemia, como a existência de uma grande população nunca exposta antes ao vírus e, por isso, vulnerável, não devem se repetir com a mesma intensidade da observada em 2015 e 2016 — diz Vasconcelos.
RIO PODERÁ TER EPIDEMIA
Mas o cientista faz um alerta especial para o Rio:
— Estados onde o número de casos não foi expressivo, mas têm infestação pelo Aedes aegypti, como Rio de Janeiro e São Paulo e os das regiões Norte e Centro-Oeste, não estão livres de uma grande epidemia. Isso depende, claro, de outros fatores, como a temperatura e o volume de chuvas. Mas, se o Nordeste dificilmente verá uma epidemia tão avassaladora nos próximos anos, o mesmo não pode ser dito de outras regiões do país.
De acordo com o especialista, um dos casos mais complexos é o do Estado do Rio:
— Não se sabe muito bem como o zika se comporta no Rio. Esperavam-se muitos casos, mas quem causou surpresa foi o chicungunha.
Um dos estudos publicados na “Science”, liderado por Neil Ferguson, do Imperial College London, além de estimar que a epidemia na América Latina está em declínio, prevê que a região não deverá sofrer outra tão grave antes de aproximadamente dez anos.
— Essa previsão leva em conta o tamanho da população feminina em idade fértil e nunca exposta ao zika. Mas, se pensarmos somente em população sem imunidade, podemos dizer que esse prazo é de três a quatro anos para Nordeste, Colômbia e Venezuela, todos muito atingidos pela atual epidemia. Rio de Janeiro, São Paulo e o Norte do Brasil têm situação mais incerta — salienta.
O fato de o Nordeste ter sofrido a maior parte do impacto do zika ainda é um mistério.
— Uma possibilidade é genética. Pode ser que exista alguma variante genética que confira resistência ou vulnerabilidade a algumas populações. Mas é só uma hipótese que ainda precisa ser investigada — comenta o pesquisador.
Outra hipótese é que os anticorpos contra o dengue influenciem a resposta ao zika. Ela é discutida tanto pelo grupo de Ferguson quanto pelos autores da outra pesquisa, coordenada por Justin Lessler, da Universidade Johns Hopkins (EUA). Os sinais aí, porém, são contraditórios. Algumas pessoas poderiam se tornar mais vulneráveis a casos agressivos. Já outras ficariam protegidas.
Ponto pacífico é que o combate ao mosquito tem fracassado e é apenas paliativo. Lessler destaca que nenhum país teve sucesso em controlar o Aedes aegypti. E nem há sinais de que isso acontecerá.
— Enquanto o Brasil sofrer com a falta de saneamento, é impossível pensar na erradicação do mosquito. Eficiente mesmo é a vacina. É a única prevenção eficaz contra epidemias — diz Vasconcelos, cujo grupo é um dos 18 no mundo que trabalham no desenvolvimento de um imunizante.
NÚMERO DE NOTIFICAÇÕES DESPENCA
A 21 dias da Olimpíada, os casos suspeitos de zika caíram 93,4% no município do Rio em relação a janeiro deste ano, quando a cidade viveu um surto da doença. A circulação do vírus, que pode estar relacionado a casos de microcefalia, é um dos principais temores de atletas estrangeiros que virão para os Jogos. Houve ainda queda das notificações de dengue e chicungunha, cujos vírus também são transmitidos pelo Aedes aegypti.
Em janeiro, foram notificados 7.747 casos suspeitos de zika. Em junho, o total chegou a 510. Já o número de casos de dengue passou de 8.671 em abril para 671 no mês passado. No caso do chicungunha, as notificações caíram de 1.074 em março (período de pico) para 660 em junho.
Minha Casa: microcefalia terá prioridade
15/07/2016 - O Estado de S.Paulo
Famílias com pessoas com microcefalia passarão a ter prioridade na obtenção de um imóvel do Minha Casa Minha Vida. A decisão foi anunciada ontem pelo presidente em exercício, Michel Temer, após reunião de trabalho do núcleo social, composto pelos ministérios da Casa Civil, Cidades, Esporte, Cultura, Educação, Desenvolvimento Social e Agrário e Saúde.
Temer disse que a divulgação da medida era importante para que as famílias agora pudessem passar a procurar as prefeituras e fazer o cadastro para recebimento da moradia pelo programa federal.
Para rebater as críticas da presidente afastada, Dilma Rousseff, de que seu governo quer extinguir os programas sociais, Temer afirmou que, além de mantê-los, sua equipe está trabalhando para aprimorá-los.
Presente na cerimônia, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, informou que a prioridade para famílias com membros com microcefalia estará dentro da faixa 1 do programa. “Temos 200 mil unidades que ainda não foram entregues e não têm destinatários”, afirmou, explicando que este será o universo no qual essas famílias terão prioridade. “Pelo número de unidades disponíveis, há garantia de atendimento a essas famílias”, completou.
Segundo o ministro, atualmente o Brasil tem 8.450 casos notificados da má-formação, sendo 1.687 já com diagnósticos confirmados. Bebês com microcefalia de famílias de baixa renda já têm direito ao benefício de prestação continuada, no valor de um salário mínimo (R$ 880).
ZIKA
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que todas as crianças com microcefalia, independentemente de terem contraído a síndrome por causa do vírus zika, serão dispensadas do sorteio das unidades habitacionais. “A microcefalia pode ter outras causas que não especificamente a zika, todas as crianças com microcefalia estarão dispensadas do sorteio”, disse o ministro.
“Quando você vai destinar as habitações do programa Minha Casa Minha Vida é feito um sorteio entre as pessoas que têm a renda e o cadastro adequado para aquele empreendimento. No caso da microcefalia estão dispensadas do sorteio, portanto, automaticamente atendidas e o sorteio fica para as demais pessoas”, acrescentou Barros.
Questionado se haveria alguma restrição de idade e se apenas os bebês que nasceram recentemente com a doença seriam atendidos, Barros afirmou que não há esse tipo de determinação.
“Não está diferenciada a idade”, disse.
Combater o ‘Aedes’ pode prolongar surto de zika, diz estudo
15/07/2016 - O Estado de S.Paulo
De acordo com um artigo publicado ontem na revista Science por cientistas britânicos, a epidemia de zika na América Latina desaparecerá sozinha dentro de no máximo três anos.
Mas a estratégia de combater o Aedes aegypti, transmissor do vírus, pode ter efeito contrário ao esperado, prolongando o surto.
De acordo com o líder do estudo, Neil Ferguson, do Imperial College London (Reino Unido), a explicação para o fim da epidemia é o fato de que as pessoas ficam imunes ao vírus após a primeira infecção. Isso produz um fenômeno conhecido como “imunidade de rebanho”: cada vez mais gente produz anticorpos e a epidemia atinge um estágio no qual o número de pessoas suscetíveis à infecção é tão pequeno que a transmissão não se sustenta em larga escala.
“Nossa análise sugere que não é possível conter o avanço da zika com as medidas existentes, mas a epidemia vai acabar sozinha em dois ou três anos”, disse Ferguson. Segundo ele, combater o mosquito em larga escala, como os governos estão fazendo, pode ser uma má estratégia.
“Retardar a transmissão entre as pessoas faz com que a população leve mais tempo para atingir o nível de ‘imunidade de rebanho’ necessário para que a epidemia cesse”, disse.
Segundo Ferguson, se as projeções estiverem certas, os casos de zika já terão redução substancial no fim de 2017, ou antes.
“Isso significa que, quando as vacinas estiverem prontas para serem testadas, talvez não tenhamos casos de zika suficientes na comunidade para fazer os ensaios clínicos”, afirmou.
POLÊMICO
Para o virologista Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas e membro do comitê de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o artigo “tem aspectos interessantes, mas é polêmico”. Segundo ele, abrir mão do combate ao mosquito pode não ser uma boa ideia, pois amenizará a epidemia, mas não erradicará a doença.
“A imunidade de rebanho pode, sim, contribuir para a diminuição dos casos de zika, mas não para a eliminação da doença.
A vacina será fundamental para obter êxito na eliminação do vírus”, disse. Segundo ele, a tendência é que a zika se torne endêmica, como a dengue, “causando surtos esporádicos e epidemias a intervalos variáveis”.
Segundo Vasconcelos, o combate ao mosquito realmente tem se mostrado incapaz de controlar epidemias como a dengue, mas isso se deve à falta de investimentos em saneamento.
“Temos visto, ano após ano, a ocorrência de epidemias enormes com tendência sempre de crescimento, mostrando a ineficiência do controle vetorial em países como o Brasil, onde há enorme déficit de saneamento e pouco investimento em educação em saúde nas escolas.”
Vírus mais agressivo da dengue avança no País
15/07/2016 - O Estado de S.Paulo
Embora a maioria dos casos de dengue no Brasil ainda seja causada pelo tipo 1 da doença, cresce em alguns Estados a circulação do sorotipo 2, o mais agressivo dos quatro vírus existentes.
Dados do mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, com estatísticas de 3 de janeiro até 28 de maio, mostram que, de um total de 2,2 mil amostras positivas para dengue analisadas em laboratório neste ano, 6,4% já são do tipo 2, ante 0,7% no ano passado. No Estado de São Paulo, esse tipo de vírus já é responsável por 13,6% dos casos da doença, ante 0,5% em 2015.
Além de ser considerado por especialistas o mais virulento dos quatro sorotipos da dengue, o tipo 2 ainda está relacionado a outro risco no País. Como parte da população brasileira já foi infectada pelo tipo 1, a ocorrência de uma segunda infecção por outro sorotipo aumenta o risco de desenvolvimento de uma das formas graves da doença, que podem levar à morte, como a febre hemorrágica.
Segundo o infectologista Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, o risco maior em uma segunda infecção pela doença está relacionado à resposta imunológica do paciente que já contraiu o vírus uma vez.
“Como já existem anticorpos contra um tipo de dengue no organismo, há uma reação inflamatória exacerbada, que prejudica o organismo, mas que não consegue neutralizar o novo sorotipo.
O risco de desenvolvimento de uma forma grave da dengue é de 15 a 20 vezes maior quando se trata de uma segunda infecção.” O grande número de brasileiros infectados pelo tipo 1 nas epidemias de dengue dos últimos anos é uma das razões que explicam o crescimento dos casos provocados pelo tipo 2, segundo especialistas. “Como o vírus tipo 1 da dengue está circulando há muito tempo no Brasil, já temos muitas pessoas imunes a ele. Quando há o contato dessa população com outro sorotipo, aumenta mesmo o número desses tipos de casos porque há mais pessoas suscetíveis a ele. E uma segunda infecção por dengue tem tendência a uma gravidade maior”, explica Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria Estadual da Saúde.
Além de São Paulo, outros Estados registram circulação do tipo 2 da dengue acima da média nacional. No Pará, 33,3% das amostras analisadas correspondem a esse sorotipo. No Distrito Federal, esse índice é de 26,8% e em Rondônia, de 13,1%.
INTERIOR
Segundo Boulos, no Estado de São Paulo, esse sorotipo está presente predominantemente na região de Ribeirão Preto, no interior paulista. Em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde do município, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto têm feito a vigilância virológica dos casos de dengue na cidade para estabelecer qual é o porcentual de casos de cada sorotipo.
“O que a gente tem visto é que, do fim do último ano para cá, houve mesmo um aumento dos casos de dengue tipo 2. Dependendo do mês, eles já representam cerca de 25% a 30% dos casos na cidade. Mas não acho que isso seja restrito a Ribeirão.
Esse aumento deve estar acontecendo em outras áreas do Estado também”, afirma Benedito Antonio Lopes da Fonseca, professor de Infectologia da faculdade e um dos coordenadores do monitoramento virológico no município.
O pesquisador disse ainda que pelo menos uma das sete mortes por dengue registradas neste ano na cidade aconteceu por uma infecção provocada pelo tipo 2 da doença. A paciente apresentava uma doença crônica, condição que aumenta o risco de complicações.
Segundo Boulos, diante do avanço do tipo 2 da dengue no Estado, a Secretaria Estadual da Saúde deverá reforçar com médicos e outros profissionais de saúde as diretrizes de atendimento a pessoas com suspeita da doença. “Todos têm de ficar mais atentos aos sinais de agravamento da dengue. Teremos de pensar duas vezes antes de liberar o paciente.”
Saúde sofre com falta de laboratórios, de médicos e até com a violência.
14/07/2016 - G1 - Bom dia Brasil
O Bom Dia Brasil exibiu nesta semana série de reportagens sobre a atenção básica no Brasil e recebeu mais exemplos de problemas na área de saúde que se espalham pelo país.
Em Foz do Iguaçu, no Paraná, a Fundação Municipal de Saúde está sem laboratório para fazer exames. Além dos problemas que são rotina na saúde pública, esta semana os pacientes de Foz do Iguaçu ainda tão tendo que se virar para conseguir exames. É que o laboratório que prestava serviço para a prefeitura deixou de atender os pacientes. O contrato venceu no dia 4. A Fundação de Saúde da cidade conseguiu uma liminar que obrigava o serviço a continuar, mas o dono do laboratório conseguiu suspender a decisão na Justiça. Segundo ele, o contrato não foi renovado por causa de uma dívida de R$ 2 milhões. Ao todo, cem mil exames por mês eram feitos no laboratório. A Secretaria de Saúde informou que negocia com outras duas empresas para assumir os exames preventivos e que está em fase de contratação emergencial de outros laboratórios.
Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, faltam pediatras. A Secretaria Estadual de Saúde diz que faltam 117 pediatras nas unidades básicas de saúde. Há um processo seletivo que fica permanentemente aberto, mas não há procura por parte dos profissionais.
Em Maceió, os postos de saúde têm sido alvo de bandidos. Os serviços de um posto de saúde que atende em média 100 pessoas por dia foram suspensos depois de um assalto. Quem chega atrás de atendimento dá de cara com um aviso na porta. Os bandidos levaram vários equipamentos, inclusive computadores. O secretário de Saúde pediu reforço na segurança ao estado, mas o governo disse que a segurança patrimonial é dever da prefeitura. E nesse jogo de empurra, quem perde é a população.
Poluição é causa de 16% das mortes por câncer de pulmão no mundo
14/07/2016 - G1 - Bem Estar
A gente tosse, espirra, coça o nariz. Respirar nesse tempo seco está difícil. E o tempo está assim em grande parte do país. Em São Paulo, por exemplo, não chove há mais de um mês. Em Brasília, há quase dois meses não cai uma chuva boa.
Como está a sua saúde com o tempo assim? Para explicar como amenizar os efeitos da poluição, o Bem Estar convidou o alergista, Doutor José Carlos Perini.
E uma coisa puxa a outra, com a umidade do ar muito baixa, a poluição fica mais concentrada e tem ainda a tal da inversão térmica. Aquele dia que começa mais frio e depois fica quente.
Pra falar sobre isso também, a clínica geral e pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, Doutora Lúcia Garcia, esteve no estúdio ao vivo.
Dicas de saúde para amenizar o impacto da poluição para quem mora nas grandes cidades:
- Limpar a casa diariamente;
- O pico da poluição pela manhã é das 6h às 8h e no período da tarde, das 17h às 20h. Durante estes períodos, manter a casa fechada (portas e janelas);
- Usar umidificador caso o ar esteja seco, abaixo de 40%. Ar seco e poluição pioram as alergias;
- Ar condicionado diminui o impacto da poluição porque filtra o ar, mas é importante reforçar a hidratação, aumentando a ingestão de líquidos;
- Usar colírios lubrificantes para prevenir o ressecamento dos olhos;
- Beber muita água;
- Lavar as vias aéreas respiratórias com soro fisiológico;
- Evitar morar muito próximo a grandes avenidas ou viadutos;
- Morar em andares altos de apartamento (os andares baixos são mais atingidos pelas partículas poluidoras).
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