
Rede de drogarias investe em painéis de energia solar
28/06/2016 - DCI
São Paulo - Na rede de farmácias Pague Menos a sustentabilidade deixou de ser uma meta e já faz parte do DNA da empresa. Com um centro de distribuição (CD) em Fortaleza abastecido parcialmente com energia solar, e diversos projetos ligados ao meio ambiente, a rede lançará em julho um novo parque gerador.
A expectativa é que o sistema, que será inaugurado no CD da região de Hidrolândia (GO), consiga suprir 100% do consumo mensal de energia do centro, gerando uma economia de mais de R$ 62 mil ao ano. Ao final de 20 anos - prazo total do contrato com a Helio Energias Renováveis - a expectativa é de uma economia de cerca de R$ 3 milhões.
Com 378 kWp de potência, o equivalente para abastecer aproximadamente 353 residências por mês, o parque terá uma capacidade mensal de produção de 50.192 kWh de energia, evitando a emissão de 557 toneladas de CO2 na atmosfera por ano. O CD de Hidrolândia recebeu investimentos de R$ 60 milhões.
"O sistema utiliza 1.426 placas fotovoltaicas, ocupando 3.801 m² instalados na cobertura do centro de distribuição. As placas estão estrategicamente dispostas para receber maior incidência solar ao longo do dia, aproveitando ao máximo sua capacidade de produção", detalha a diretora de operações da Helio Energias Renováveis, Tâmara Cidade.
Para o diretor de expansão da Pague Menos, Carlos Henrique Queirós, o investimento vem em linha com dois pilares da companhia: a inovação e a cidadania. "Nosso intuito vai além da redução de custos, queremos mostrar para os nossos clientes que estamos preocupados com tudo aquilo que impacta o meio ambiente", afirma o executivo ao DCI.
INVESTIMENTO ANTERIOR
O investimento da empresa em energias renováveis não começou agora. Na realidade, em dezembro do ano passado a Pague Menos implantou seu primeiro parque gerador de energia solar no CD de Fortaleza. A capacidade de produção desse primeiro sistema, no entanto, é consideravelmente menor do que a do que será construído em Goiás.
A meta era suprir 30% do consumo médio mensal do centro de distribuição. Atualmente, o sistema já é responsável por 26% da produção da unidade e - da data de seu lançamento até fevereiro deste ano - a economia com o sistema foi de cerca de R$ 5 mil. O CD possui uma estrutura de 588 placas fotovoltaicas e já gerou 65.525,83 kWh, o equivalente à energia que seria consumida por 32 casas durante um ano, ou 47 toneladas de carbono que teriam sido emitidos na atmosfera.
USINAS SOLARES
Na região de Fortaleza, além do parque gerador a empresa construiu também duas usinas solares, em Limoeiro do Norte, com o objetivo de abastecer com energia do sol as farmácias da região. "A ideia é que até maio do ano que vem as 111 farmácias que temos na grande fortaleza sejam abastecidas 100% com energia solar gerada dessas duas usinas", afirma Queirós, explicando que uma das usinas abasteceria 50 farmácias e a outra 61 unidades da rede. Os planos ligados ao abastecimento com energia solar das lojas da empresa também devem se estender para a região de Goiás. Em Hidrolândia, conta o executivo, uma usina solar deve ser construída em breve, visando também o abastecimento com energia do sol das farmácias dessa região.
PRÓXIMOS PASSOS
Além dos projetos ligados ao uso de energia renovável nos centros de distribuição e drogarias da rede, o diretor de expansão conta que a empresa está com um projeto inicial de construir o que seria a primeira farmácia 100% ecologicamente correta.
"Seria uma megastore de 3 mil metros quadrados, em Fortaleza. Estamos tentando viabilizar o projeto ainda. Mas a ideia seria reciclar todo o material das obras e todos os dejetos que fossem gerados dentro dessa unidade, e usar para lavar caminhão, para lavar o piso. Temos a ideia também de fazer uma coleta de água suja", explica Queirós.
Mesmo com esse projeto ainda não viabilizado, o executivo conta que a rede já tem feito um trabalho forte para adequar suas lojas aos padrões de sustentabilidade. Um exemplo é colocar lâmpadas LED em todas as unidades, que têm uma vida útil maior e são mais ecológicas.
"Temos feito também doações de árvores e, em 15 farmácias da Grande Fortaleza, tiramos duas vagas de carro, e transformamos em vagas para bicicletas. Fizemos o mesmo em oito drogarias de Goiás. Queremos fomentar o uso de um transporte que não polui o meio ambiente", explica.
Países emergentes crescem em patentes
28/06/2016 - Valor Econômico
Há dias foi divulgada a lista de patenteadores no USPTO (sigla em inglês do escritório americano de marcas e patentes) referente ao ano de 2015. É uma oportunidade para se avaliar o ocorrido nos primeiros 15 anos deste século. Inicialmente, cabe explicar que a patente tem valor apenas no país que a concede. Portanto, não existe uma patente mundial. A saída, embora não seja o ideal, é avaliar e comparar a concessão de patentes no seu maior mercado, ou seja, nos Estados Unidos.
A patente como medida do desenvolvimento de inovações tecnológicas não é um indicador ideal, mas é o único quantitativo com correlação direta. Ou seja, o desenvolvimento tecnológico acarreta mais patentes, mais competitividade e o crescimento da economia. Exemplos desse processo serão vistos nesse artigo e esse é o principal interesse dessa análise.
Vemos que o número de patentes dobrou nesse período, mas os crescimentos não foram iguais. Os EUA tiveram outorgadas 141 mil patentes no ano de 2015, crescendo 66% no século. Os demais países passaram a 157 mil nesse ano, crescendo 118% no período, ou seja, há uma progressiva dispersão da geração e controle da tecnologia. Entre os países desenvolvidos que tiveram concedidas mais de 2.000 patentes em 2015, os destaques são o Canadá, Holanda e Suíça, todos com crescimento acima de 90% no período. Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Suécia ficaram em torno dos 70%, enquanto a Itália teve o pior desempenho, apenas 56%, reflexo de sua persistente crise econômica.
O grande destaque, porém, foram os países orientais emergentes. Mesmo os emergentes há mais tempo engajados em uma política de geração de tecnologia própria, e que por isso crescem há mais tempo, ainda assim mostram um desempenho extraordinário, quando comparados aos países tradicionais já desenvolvidos: a Coreia do Sul, do tamanho de Pernambuco e com pouco mais de 40 milhões de habitantes, multiplicou por 5,4 vezes as patentes no período, alcançando 17,9 mil, superando a Alemanha e consolidando-se como o terceiro patenteador, abaixo apenas do Japão (52,4 mil) e EUA. E mesmo Taiwan, uma ilha com cerca de 22 milhões de habitantes, multiplicou as patentes por 2,5 vezes chegando a 11,7 mil, o quinto patenteador.
Seria de se esperar que a China (incluindo Hong Kong) mostrasse a sua inexorável marcha para o domínio tecnológico, porém o seu avanço é surpreendente. Chegou a 8,7 mil patentes em 2015, que cresceram 29 vezes no período e a levaram à sexta posição, bem à frente do seguinte, o Canadá. A Índia, porém, ficou no mesmo patamar, pois cresceu suas patentes 26 vezes.
E o que há em comum entre esses países para esse notável aumento das patentes? Ambos estabeleceram políticas públicas de fomento ao desenvolvimento tecnológico de inovações para alcançar competitividade e crescer. A China, começando em 1980, optou pela indústria de manufaturas. A Índia, começando em 1996 bem após a China, deu ênfase a alguns setores industriais, mas principalmente a diversos tipos de serviços de elevados conteúdos tecnológicos como os desenvolvimentos de programas computacionais (software), química de medicamentos e ensaios clínicos, cirurgias programadas e até o próprio desenvolvimento de inovações tecnológicas para empresas de outros países.
Como seriam esses processos de crescimento tão bem sucedidos? Infelizmente é difícil a consulta às leis chinesas, além da enorme diferença de ambiente político e cultural. Com a Índia, porém, é bem mais fácil, pois devido à sua diversidade linguística as leis indianas são divulgadas em inglês. E o que nos diz a sua lei de fomento, nº 44, de 16 de dezembro de 1995? O artigo 6º que define seus objetivos é muito claro e simples, mostrando que se criou o Conselho de Desenvolvimento Tecnológico para prover capital de risco (equity capital, em inglês), bem como qualquer outro apoio financeiro, aos empreendimentos industriais que desenvolvam tecnologias próprias ou "adaptações" de tecnologias estrangeiras para quaisquer aplicações no país. O termo utilizado (adapted, em inglês) é claramente um eufemismo para a cópia, que assim ficou consagrada e incentivada. Hoje a Índia é o país que mais cresce. Cresceu 283% entre 1995 e 2014, enquanto que o Brasil só cresceu 80% no período.
Esses dois últimos países estavam atrás do Brasil, quando iniciaram a sua trajetória ascendente. O que aconteceu conosco? Alcançamos a aprovação de 323 patentes em 2015, um crescimento de 3,3 vezes nesses 15 anos. Mas isso não conta a verdade, pois ficamos parados por 10 anos e crescemos apenas nos últimos cinco anos porque tivemos os incentivos fiscais da Lei do Bem, ou seja, praticamos somente um pouco e por pouco tempo o que China e Índia fazem em larga escala, assim como ainda fazem Coreia e Japão.
Quando vamos nos desprover dos preconceitos e aprender que é a indústria permanentemente inovada (ou o serviço de alto conteúdo tecnológico) que fazem o crescimento aceleradamente, o verdadeiro PAC?
Mas há algo muito importante a lembrar: somente o compartilhamento do risco tecnológico entre Estado (através das suas agências ou órgãos) e a indústria vai viabilizar a necessária universalização do fomento à inovação. Após mais de 15 anos de insistência em financiamentos subsidiados, vemos que isso resultou em muito, muito pouco. O que valeu mesmo foi o incentivo do pequeno compartilhamento da Lei do Bem, e ainda assim restrito a grandes empresas.
Se tivéssemos usado amplamente o mecanismo da subvenção econômica criado pelo artigo 19 da Lei de Inovação (à semelhança da lei indiana) certamente estaríamos entre os que crescem. Temos a nossa chance agora com a mudança dos ventos. Vamos desperdiçá-la mais uma vez?
Empresa quer fazer no Brasil remédio à base de maconha
28/06/2016 - Folha de S.Paulo
Uma start-up do ramo farmacêutico decidiu produzir o primeiro medicamento brasileiro à base de maconha. A ideia é fazer um extrato fitoterápico que trate casos de epilepsia nos quais outros remédios não funcionam.
O anúncio da iniciativa será feito nesta terça (28)no 26º congresso anual da Sociedade Internacional de Pesquisa de Canabinoides, na Polônia.
A start-up Entourage Phytolab busca desenvolver um medicamento fitoterápico à base de maconha desde que foi fundada, em 2015. A previsão dela é que a droga seja lançada em 2018.
A vantagem de um medicamento brasileiro, desenvolvido e testado no país, seria a segurança e a garantia de fornecimento para quem necessita da droga —que não precisaria mais depender, como ocorre hoje, de autorizações para importá-la.
Os principais componentes do extrato da erva são o tetra hidro canabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O primeiro é psicotrópico; o segundo, não.
Tanto o THC quanto o CBD têm propriedades farmacológicas que os fazem ser de interesse medicinal. O problema é o grande potencial de abuso, principalmente do THC —isso dificulta o licenciamento de medicamentos baseados no composto.
A iniciativa da Entourage, no entanto, está direcionada para a produção de um extrato que seja rico em CBDe com pouquíssimo THC. Para isso, serão utilizadas flores de uma variedade de cannabis fornecida pela Bedrocan, multinacional especializada em produção para uso medicinal. Os demais componentes da erva não serão eliminados, de acordo com Caio Santos Abreu, diretor-executivo da start-up.O motivo é que a pequena fração de outras moléculas pode ajudar no efeito do CBD, reduzindo os efeitos colaterais e balizando os efeitos farmacológicos desejados.
Esse efeito de várias moléculas ajudando a ação de uma outra é conhecido como “efeito entourage” e tem ganhado entusiastas no meio acadêmico, particularmente entre os que estudam o sistema de receptores canabinoides, presentes em vários tecidos do corpo humano.
Isso transformaria, em tese, a desvantagem de ter um remédio “sujo”, não puro, em uma vantagem —já que seria praticamente impossível repor artificialmente as inúmeras moléculas presentes no extrato da cannabis.
Não se sabe exatamente qual é o mecanismo de ação do CBD para tratar a epilepsia, mas isso não inviabiliza o estudo de uma nova possibilidade de tratamento, diz Fabrício Pamplona, diretor científico da Entourage.
“Sabe-se que há um controle especialmente eficaz quando há excesso de excitabilidade neuronal característico de uma crise epiléptica”, afirma o farmacêutico.
Depois da padronização da obtenção do extrato candidato a medicamento, haverá testes em ratos para garantir a segurança do processo.
É aí que entra em cena a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),que deve supervisionar e chancelar todas as etapas de testes clínicos em pessoas e animais.
Por se tratar de tecnologia desenvolvida no Brasil, em uma questão de saúde importante para a qual não há tratamento (epilepsias refratárias, como a síndrome de Dravet),Abreu espera que o projeto transite com celeridade.
Da parte científica, não são esperadas dificuldades para se cumprir as etapas necessárias, dado que diversos estudos anteriores apontam na mesma direção para a qual a start-up está mirando.
Um medicamento à base de CBD da farmacêutica GW chamado Epidiolex obteve bons resultados em estudos —54% de redução no número de crises. Em breve pode haver o registro nos EUA.
Nova classe de remédios promete trazer mais economia aos pacientes
27/06/2016 - M de Mulher
O gastroenterologista Peter Lakatos, professor da Universidade Semmelweis, em Budapeste (Hungria), esteve no Brasil para uma série de palestras. Dedicado a pesquisas sobre doenças inflamatórias intestinais, ele tem grande experiência com o uso dos biossimilares, uma classe de medicamentos que acaba de ganhar suas primeiras moléculas mais complexas e foi recentemente aprovada no Brasil e nos Estados Unidos. O objetivo desses fármacos é reduzir os custos do tratamento de doenças — a expectativa é que eles sejam até 25% mais baratos que os remédios biológicos originais. Entre uma conferência e outra, ele se encontrou com a reportagem de SAÚDE e contou detalhes sobre a introdução das novas drogas na Europa.
Qual é o significado da aprovação do infliximabe, o primeiro biossimilar complexo, no Brasil e nos Estados Unidos?
É muito importante que as agências tenham aprovado esse biossimilar. Como você disse, o infliximabe é a primeira molécula complexa da classe a ser aprovada. O maior benefício dela será a ampliação do acesso a drogas pelo paciente. Por questões financeiras, muitos não são capazes de pagar pelos remédios originais, chamados de biológicos. Com a liberação dos biossimilares, mais gente poderá se beneficiar de um tratamento efetivo.
Com a aprovação, podemos concluir que eles estão se tornando mais acessíveis à população?
Exatamente. O principal benefício que veremos é a ampliação do número de pacientes tratados. Os médicos também poderão aumentar o perfil de indivíduos que se valerão desses medicamentos, na maioria das vezes, os mais avançados para algumas doenças. Mais acesso significa mais saúde.
Os biossimilares possuem algum tipo de desvantagem em relação aos biológicos?
Não há desvantagens. Como o próprio nome diz, eles são altamente similares ao produto original em questões bioquímicas e físicas, além da eficácia e dos efeitos colaterais. A expectativa é idêntica à droga original.
Há situações em que o médico deve escolher biossimilares no lugar de suas versões originais, os biológicos?
Sempre que possível. Essa é a ideia. Já acontece assim no meu país, a Hungria, e também em toda a Europa. Os programas de reembolso exigem que o médico prescreva a droga mais barata disponível nas farmácias. Os biossimilares serão menos caros. Então é natural que os médicos passem a indicar essas drogas.
Como foi a experiência de aprovação dos biossimilares na Europa?
Na época da aprovação, realizamos uma pesquisa e mais de 40% dos médicos diziam não ter nenhum problema para prescrever os biossimilares aos seus pacientes. Passados alguns anos da chegada da classe, refizemos o levantamento, e a estatística subiu para 80%. Conforme os médicos ganham experiência com esses fármacos, aumenta a confiança em utilizá-los.
Você acha difícil explicar o que é um biossimilar para o público?
Eu não vejo nenhuma dificuldade. Existem diversas maneiras de conversar com o paciente. Até porque estamos falando de uma droga produzida por uma empresa farmacêutica diferente, mas que funciona de maneira similar à molécula original. É mais uma opção terapêutica que temos. Também precisamos explicar que, ao prescrever o biossimilar, estamos aumentando a proporção de pacientes que terá acesso ao tratamento de ponta. Vale ressaltar que a eficácia e a segurança são as mesmas. Tanto que, se você for para a Noruega, verá que eles não fazem distinções entre o que é o biológico e o biossimilar. Eles só dizem que o distribuidor da droga é diferente e ponto.
Algumas drogas, como o infliximabe, têm uma extrapolação de uso. Ou seja: os estudos clínicos foram feitos em pacientes com artrite reumatoide, mas muitas agências aprovaram sua aplicação para outras doenças. Isso é seguro?
Essa é a principal questão quando pensamos na nova classe. Se nós aceitamos o conceito de biossimilaridade, isso significa que não há necessidade de realizar estudos para todos os casos. Se não ocorrem diferenças significativas entre a droga biológica original e a similar, em meu modo de pensar não há necessidade de pesquisas para todas as doenças. Até porque, quanto mais teste a empresa fizer, mais caro sairá o remédio, o que compromete a questão de economia para o paciente. Acredito que no futuro esse processo ficará mais ágil ainda: ensaios in vitro, na bancada do laboratório, já serão suficientes para moléculas que se mostrarem praticamente iguais.
Por que essas drogas precisam ser injetáveis?
Elas são utilizadas por meio de injeções ou infusões intravenosas. Isso é necessário porque são moléculas muito grandes, que não conseguiriam ser absorvidas em comprimidos ou cápsulas.
Quais são as aplicações dos biossimilares?
As principais áreas são nas doenças reumatológicas, inflamatórias e câncer. A oncologia será, de longe, o campo que mais se beneficiará com a chegada dos biossimilares. Os remédios de última geração contra os tumores são muito caros. Ninguém conseguirá pagar por eles nos próximos cinco ou dez anos se nada for feito.
Outras áreas da medicina poderão se beneficiar dos biossimilares no futuro?
Se você pensar nas doenças crônicas, como hipertensão e diabete, na maioria das vezes há um componente inflamatório por trás do quadro. Sempre que existir um bom alvo ou um receptor nas células, é possível pensar em terapias com drogas biológicas. É uma perspectiva interessante para o futuro, sem dúvida.
Como você imagina os biossimilares daqui a alguns anos?
Eu acredito que logo eles serão tão bem aceitos quanto os genéricos são reconhecidos pela população hoje em dia. Isso acontecerá naturalmente nos próximos dois ou três anos.
"Vendo a cama, durmo no chão, mas um credor não sai sem receber dinheiro", diz fundador da Pague Menos
27/06/2016 - Época Negócios Online
Aos 69 anos, o empresário Deusmar Queirós, fundador da rede de farmácia Pague Menos, mantém seu discurso afiado. Bem-humorado, polêmico, Queirós fez sua fama como comerciante ao transformar uma pequena loja em Fortaleza, fundada em 1981, na segunda maior rede de farmácias do país. Trinta e cinco anos depois, ele diz que superou "infinitas crises econômicas" seguindo uma premissa herdada de seu pai, também comerciante. "Vendo a cama, durmo no chão, mas um credor não sai sem receber dinheiro". Ter escolhido um setor resiliente às turbulências que "vende bens de primeiríssima necessidade" foi parte importante desse sucesso. Queirós costuma dizer que a doença é a coisa mais democrática que existe - "ninguém escapa" - quando justifica para qual público fundou sua rede: "Vamos no popular para atender todo mundo".
Com um faturamento de R$ 4,9 bilhões em 2015, a Pague Menos deve fechar o ano com 940 lojas e crescimento de 20%. Mantém sua meta de chegar a 2017 com mil lojas, ampliando um projeto que leva maior responsabilidade e atribuições ao farmacêutico e trabalhando com a IBM em um levantamento para mapear os hábitos de consumo dos brasileiros. Em troca, a ideia é oferecer opções personalizadas.
Ao refletir sobre conquistas e desafios em sua trajetória, Queirós prefere falar do que mais se orgulha atualmente: ver seus quatro filhos seguindo carreira dentro da empresa. O mais novo, Mário Henrique Alves de Queirós, assumiu a presidência em janeiro - uma troca exigida pelo fundo americano GE que adquiriu 17% da Pague Menos. A troca no comando, contudo, não mudou a rotina de Queirós pai, que mantém-se próximo do processo decisório e continua a viajar para visitar fornecedores e laboratórios.
Em entrevista à Época NEGÓCIOS, o empresário explica como a Pague Menos está atuando diante da atual crise, qual foi o único momento em que ele hesitou durante 35 anos e de que forma a sua empresa acompanhou as mudanças do varejo farmacêutico.
Qual é o balanço pessoal que o senhor faz desses 35 anos?
Há 35 anos começou um sonho. Sou filho de comerciante, nasci no comércio, fui comerciante na minha adolescência. Depois eu fui para o mercado financeiro, tive experiência muito boa do mercado financeiro. Eu me formei em economia, fui professor da universidade, mas me realizo mesmo sendo comerciante, sendo lojista. E no ramo que escolhi - varejo farmacêutico - me parece que foi um tiro certeiro. Ele é muito resiliente às crises. É um bem de primeiríssima necessidade - quem é hipertenso, diabético, tem que consumir, não pode substituir. E nós temos crescido ao longo desses 35 anos usando uma estratégia de acreditar muito. Tem dado certo. Temos um histórico, nos últimos 16 anos, de crescimento em torno de 18%.
O crescimento continua a despeito da grave crise econômica?
Nós terminamos o primeiro quadrimestre com mais de 20% de crescimento em relação ao mesmo período do ano passado. E no mês de maio continua. Eu acho que esse ano vamos terminar com 20%. Eu reconheço que o Brasil passa por um momento econômico e político muito difícil, com desemprego aumentando e isso desestimula investimentos. Empresas e pessoas estão com um nível de confiança muito baixo no futuro. Quem vai consumir e investir espera mais um pouco. Esse é o grande problema da economia brasileira hoje: essa desconfiança com relação ao futuro, essa falta de esperança. O que não acontece com a gente. Ano passado tínhamos 90 lojas líquidas no final do ano. Esse ano vamos ter 120. E no próximo ano vamos abrir 150. Acredito tanto que essa crise vai passar e que nós teremos novos dias pela frente que estou investindo pesado na abertura de lojas. Tínhamos o projeto de 1000 lojas até 2017, vamos conseguir antes do prazo. A gente fecha esse ano próximo a 940 lojas. Sabe, tem um estudo que mostra que, desde 1963, somente três vezes o PIB do Brasil ficou abaixo de zero. E nenhuma dessas crises demorou mais de 3 anos para passar. Ou seja, em 2018 estará resolvida.
Qual foi o momento mais difícil dessa trajetória? Em algum momento, a despeito de tantas crises que enfrentou, o senhor hesitou?
Em 2008 tivemos um problema muito sério. Mudamos um CD antigo para um novo implementando uma tecnologia austríaca que era então considerada a melhor do mundo em termos de separação de mercadorias. A ideia era automatar tudo. De repente, no primeiro dia era para separar 500 mil unidades, só separou 50. No segundo dia, havia as 450 mercadorias do dia anterior - e só separou 50 de novo. O saldo no final da semana? Um milhão de unidades ali paradas, esperando para abastecer lojas. Fiquei maluco, falei: 'vou quebrar, não vou abastecer as lojas, não vou vender'. Demorou cerca 60 dias para os alemães resolverem esse negócio. E com isso eu perdi muito dinheiro e cliente. Mas passou e pronto. Eu tive medo de quebrar. E, olha, que tenho uma filosofia que herdei do meu pai: "Vendo a cama, durmo no chão, mas um credor não sai sem receber dinheiro". Eu não sou obrigado a abrir 120 lojas neste ano, só vou abrir se tiver caixa. E agora, numa parceria com os americanos, estou cheio da grana. Eu já era ousado liso, imagina agora com dinheiro.
O que a Pague Menos inovou no setor farmacêutico?
Nós fomos a primeira rede de farmácias, pelo menos da região Norte e Nordeste, a ter lojas 24 horas sem porta fechada. Antigamente era uma janelinha ridícula - o balconista ficava dentro, o cliente do lado de fora. Antes, os produtos ficavam todos atrás do balcão porque havia receio de assalto. Nós tiramos perfumaria e higiene do balcão e botamos nas gôndolas. Em 1989, começamos a receber conta de água, luz, condomínio, como se fôssemos banco. O Banco Central veio nos procurar perguntando como fazíamos aquilo. Nós ensinamos casas lotéricas, padaria, supermercado para começar a receber contas. Atualmente, estamos trabalhando forte com energia fotovoltaica. Já temos algumas lojas abastecidas por energia solar. Por enquanto, só em Fortaleza, mas vamos começar em Goiânia. O melhor é que isso gera economia de 10% a 15% na conta de luz de cada loja.
A Pague Menos foi fundada em Fortaleza e há alguns anos, o senhor comentava que a expansão no Nordeste exigia particularidades diferentes daquelas necessárias no Sudeste. Essas diferenças ainda existem?
Não há mais muitas diferenças no Brasil de hoje. Com TV, novelas, internet, você lança no Rio Grande do Sul e o Piauí está sabendo. As particularidades não são tão importantes. Está todo mundo copiando os outros. Nós estamos, por exemplo, lançando o Clinic Farma, que é uma área dentro da loja onde vou resgatar a função do farmacêutico. Com o tempo, ele foi para detrás do balcão. Agora, estamos criando um espaço onde ele atende personalizadamente quem procurar pelo serviço. No interior, isso acontece de modo informal. Nós vamos implementar o serviço com treinamento, registro e acompanhamento eletrônico.Vamos falar de colesterol, tabagismo e sobrepeso, entre outros pontos. Já implementamos o serviço em 200 lojas no Nordeste, vamos agora para o Sul e até 2018 todas as lojas terão essa área.
Em termos de diversificação, o que mudou nesses 35 anos?
Nós começamos a vender sorvete, refrigerante, por exemplo. A vigilância não aceitava, proibia, multava. Foi muito difícil. Aos poucos fomos convencendo eles. Teve uma época em que tivemos 11 liminares em cidades diferentes para conseguir vender esses produtos. A gente questionava o juiz: que mal faz vender sorvete na farmácia? Hoje nem precisamos de liminares para vender.
Muitas farmácias menores sofreram com essa restrição... não conseguiam entrar com liminar e algumas não conseguem vender até hoje.
Mas essa é a força do grande, não é? Nós fomos atrás e conseguimos. Às vezes, o pessoal desiste com o primeiro não. A gente ia atrás, mostrava para o juiz, e conseguia. Por isso, nós que começamos pequenos, crescemos. Todo grande um dia já foi pequeno. É só o pequeno acreditar. Tem espaço para todo mundo. Cada segmento tem um Carrefour e tem outros pequenos. Basta que você acerte o passo. E não é só o dinheiro que faz isso. Foi força de trabalho. Nós, por exemplo, nunca tivemos muito dinheiro.
Há muitas críticas à Pague Menos com relação ao preço, de que ela acabou se tornando uma rede mais cara do que se pretendia no começo.
Eu desafio alguém em São Paulo a ter um preço, um medicamento normal da Pague Menos que seja mais caro do que qualquer uma das concorrentes. Temos um preço bem mais agressivo, por isso vamos crescer 20% neste ano. A média da Abrafarma [Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias], que reúne as 20 maiores redes do Brasil, está em 12%. E nós conseguimos manter o preço cortando custos, tendo uma operação limpa, sem mordomia, com cuidado. Operação é que nem unha: tem que cortar todo dia.
Em que medida a evolução da indústria farmacêutica alterou o modo de atuação da Pague Menos?
A indústria farmacêutica está evoluindo muito. Antes, você precisava tomar produtos de seis em seis horas. Depois, foi para 12 em 12 horas e hoje você toma 1 por dia durante 3 dias e sua inflamação na garganta vai embora. O advento dos genéricos também fez com que a população passasse a ter acesso maior aos medicamentos (em alguns casos, com preço 40% menor). Isso vai continuar. No mundo todo, os genéricos têm tido um papel muito importante, principalmente para aquelas classes menos favorecidas. Ele é bom para o pobre e bom para rico. O caminho é por aí. Agora, uma coisa que tem crescido muito é a parte da perfumaria e de comésticos. As pessoas que subiram de classe social passaram a ter xampu melhor, tintura no cabelo, desodorante, sabonete no banho. Isso não vai mudar. Na última década, milhões de pessoas mudaram de classe social e elas se acostumaram com produtos que nem usavam antes. Isso aumenta nosso tíquete médio. Queremos vender mais para cada pessoa que entra na loja.
O perfil do cliente que frequentava a Pague Menos mudou?
Não, porque nós nunca tivemos um perfil. Nós somos uma loja A, B, C, D. Temos na Avenida Angélica [em Higienópolis, bairro de alta renda em São Paulo], como temos na Lapa. A coisa mais democrática que existe é a doença: preto, branco, azul, pobre, rico. Não tem essa história para de fazer loja boutique para classe A. Vamos no popular para atender todo mundo. O que ocorre é que hoje o cliente está um pouco mais exigente que antes. Mas vamos acompanhando aos poucos, para conhecer nosso cliente mais. Por exemplo, estamos fazendo um investimento muito grande com a IBM para conhecer melhor o cliente, mapear os hábitos de consumo. Se ele compra determinado remédio, eu sei o que precisarei vender para complementar. Se ele compra um Synthroid, sabemos que ele está tratando algo relacionado à tireoide. Tem ume equipe da IBM trabalhando na Pague Menos para conhecer o perfil do cliente com base no que ele consome. É o que os grandes varejistas do mundo estão fazendo. É acertar na veia, no alvo, sem perder tempo.
Qual a sua maior conquista profissional nestes 35 anos?
Conseguir que meus quatro filhos estivessem comigo aqui. Os quatro se formaram nos Estados Unidos. Hoje, eu tenho a Rosilândia Maria [administradora que atua no gerenciamento de categorias], o Carlos Henrique [administrador e diretor de expansão e novos negócios, ele viaja o Brasil para identificar pontos para fechar compra ou locação]. Tenho a Patriciana [engenheira, que cuida de compra e marketing] e o Mário Henrique, o mais novo, administrador, hoje é o presidente da Pague Menos. Ele assumiu em janeiro, foi uma das exigências da GE [General Atlantic, fundo que comprou 17% da Pague Menos no final de 2015]. Eu já queria ter um processo de sucessão, os quatro filhos se uniram e escolheram o Mário Henrique por ter boa formação na área financeira. Sabe que eu penso que posso até ser preso por trabalho infantil porque eles já estavam na loja, no caixa, para pegar o gosto aos 10, 12 anos. E hoje eles se realizam.
Mas, todos eles, quiseram mesmo seguir carreira na empresa?
Sim. Eu usei a estratégia de convencê-los mostrando que o trabalho dignifica, que a soma das partes é maior que o todo.
Não tem briga familiar?
Não. Quando tem arranca braço de um, braço de outro, mas sai todo mundo abraçado depois (risos). Brincadeiras à parte, são todos unidos.
Longe da presidência, a sua rotina mudou desde janeiro?
Não. Eu continuo atuando na área de expansão, visitando laboratórios, fornecedores, fazendo a área de relações públicas. A diferença é que agora eu tenho mais tempo para fazer melhor.
Como você quer ver a Pague Menos no futuro?
Qualquer fundador não pensa em outra coisa senão deixar um legado de sucesso, mas uma obra que continue. Esse é meu objetivo. Espero que a rede cresça tanto que o time de casa não dê conta. E olha que eu tenho 14 netos.
Investigação da Petrobras sobre fraude em plano de remédios aponta 6 responsáveis
27/06/2016 - IstoÉ Online
A Petrobras vem investigando desde julho de 2015 as irregularidades envolvendo a prestação do Benefício Farmácia, plano de benefícios aos funcionários que era concedido a 300 mil pessoas. Segundo nota à imprensa distribuída pela estatal na madrugada desta segunda-feira, 27, pelo menos seis responsáveis pela fraude já foram identificados na apuração interna, incluindo empregados da Petrobras.
Na noite de domingo, o programa “Fantástico”, da TV Globo, revelou que o Tribunal de Contas da União (TCU) investiga o esquema, que teria lesado a empresa em cerca de R$ 6 milhões por mês. O programa Benefício Farmácia tinha um custo mensal de R$ 20 milhões para a Petrobras e estima-se que 30% dos valores tenham sido desviados. Segundo a estatal, o plano de benefícios foi estabelecido em 2006 e ampliado a partir do acordo coletivo de 2013.
Na nota à imprensa, a Petrobras confirmou que o TCU mandou suspender o Benefício Farmácia em setembro passado.
Pelas regras do Benefício Farmácia, o funcionário só podia fazer as compras em farmácias credenciadas, pelo próprio beneficiário, mediante receita em seu nome e apresentação do cartão do plano de saúde da empresa, para então receber o reembolso por parte da Petrobras.
A apuração identificou fraudes como compra de remédio para próstata por mulheres, de estimulação à produção de leite materno por homens e até remédios para cachorros. Foram identificadas mais de 13 mil receitas irregulares em apenas seis meses. Entre elas, receitas sem o nome do médico e com outras informações deixadas em branco.
Um dos casos é de uma aposentada de Salvador em cujo nome foram feitas compras em farmácias de nove cidades diferentes de quatro Estados no mesmo dia. Outro é de uma beneficiária de Curitiba que adquiriu remédios veterinários – ela alegou à reportagem que o cão (doente) “também é da família”.
Segundo a nota da Petrobras, as investigações internas tiveram início a partir de denúncias recebidas pelos canais de ouvidoria. O trabalho incluiu o levantamento de documentos e depoimento dos implicados, informou a estatal.
“O contrato do benefício farmácia foi cancelado em setembro de 2015 após aplicação de multas de mais de R$ 2,9 milhões à empresa Global, então prestadora do serviço, em função do descumprimento recorrente de cláusulas contratuais. No período do contrato, foram registradas 10.250 reclamações na ouvidoria da Petrobras e 208 notificações de investigação preliminar da Agência Nacional de Saúde (ANS)”, diz a nota divulgada pela estatal.
Com a suspensão do Benefício Farmácia, “a Petrobras gerencia internamente a compra e entrega de medicamentos para doentes graves, como pacientes de oncologia, para evitar a descontinuidade do programa”, diz a nota. Segundo a reportagem do “Fantástico”, os beneficiários do plano têm sido orientados a pagar pela compra dos remédios e pedir reembolso. A conta devida pela estatal aos funcionários estaria em R$ 200 milhões.
“O relatório do Comitê de Correição que analisou as investigações está em fase final de redação. A partir das conclusões, a Petrobras punirá os envolvidos e tomará todas as medidas legais cabíveis para a responsabilização devida nas áreas trabalhista, civil e criminal, bem como a reparação e compensação de danos, com envio do material ao Ministério Público Federal”, diz a nota da Petrobras.
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