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CRF-SP - Clipping de Notícias

CLIPPING - 27/06/2016

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

 

No combate à sífilis, Anvisa dispensa registro de cristalina

27/06/2016 - O Estado de S.Paulo


A falta de medicamentos para tratamento de sífilis congênita (transmitida da mãe para o bebê durante a gravidez), que se arrasta há quase dois anos, pode ser reduzida nos próximos meses. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou na semana passada a dispensa de registro da matéria-prima para produção da penicilina cristalina, usada para tratamento das crianças, até dezembro.

A permissão, requisitada pelo laboratório Blau Farmacêutica, se estende até dezembro. A matéria-prima necessária para o medicamento teve redução drástica nos últimos anos, deixando fabricantes nacionais sem alternativa para produção. O sanitarista Artur Kalichman, do Programa Estadual de DST/Aids, afirma que, em São Paulo, o estoque de cristalina está próximo do fim, mas o problema atinge todo o País. Para contornar a falta do produto, médicos têm sido orientados a receitar o remédio apenas para casos mais graves.

O Ministério da Saúde admitiu a falta do remédio e disse estar em contato com a Organização Pan-Americana de Saúde para compra emergencial. O número de casos de sífilis congênita praticamente triplicou em seis anos. Em 2008, eram 5.728. Em 2014, foram 16.172.

Antibiótico impede infecção pelo vírus zika

27/06/2016 - Folha de S.Paulo


E se a gestante pudesse tomar um remédio contra os efeitos da zika? É com essa pergunta em mente que cientistas da Universidade da Califórnia em San Francisco (EUA) realizaram um estudo para entender como o vírus da zika passa da mãe para o bebê e como a infecção pode ser evitada.

“A nossa motivação para esse trabalho é o ônus devastador que o vírus da zika tem levado à população brasileira e à do mundo todo”, diz uma das autoras do estudo, Hanna Retallack.

Hanna faz parte de um time interdisciplinar de pesquisadores que se juntaram para lidar com a alarmante situação de saúde pública causada por esse vírus. Juntos, eles identificaram como o vírus passa da mãe para o bebê pelas células da placenta, e como as células-tronco neurais do feto são particularmente suscetíveis ao vírus durante o primeiro e o segundo trimestre de gestação.

O que as células da placenta e do cérebro do bebê têm em comum é um receptor, uma “porta de entrada” para a célula, chamado AXL, que permite a entrada do vírus —quando o receptor é bloqueado, não há infecção.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram tecidos de diferentes idades infectados pelo vírus da zika, criando um mapa temporal mostrando o rastro de devastação do vírus, passando da mãe para as células-tronco neurais do feto através da placenta.

Uma vez determinados o tipo das células infectadas e o receptor presente, um simples experimento usando anticorpos que bloqueiam o receptor foi suficiente para confirmar que o vírus usa essa molécula como porta de entrada na célula.

O mais curioso no estudo é que os cientistas mostram como o antibiótico azitromicina bloqueia a proliferação do vírus, protegendo as células do efeito devastador do vírus da zika. Embora o exato mecanismo para essa proteção seja desconhecido, é sabido que antibióticos da mesma classe têm uma ação similar contra o vírus da dengue e da febre amarela.

Como o antibiótico o já é aprovado para uso até mesmo em mulheres grávidas, a opção ganha ares de promissora para o tratamento da doença. “Essa descoberta é extremamente importante porque ela pode mudar como mulheres grávidas expostas ao vírus são tratadas clinicamente, e essa é a nossa motivação para publicar o nosso trabalho numa plataforma de acesso aberto”, diz Arnold Kriegstein, um dos líderes da pesquisa. O trabalho está disponível on-line no repositório bioRxiv.

Apesar da facilidade de implementação, “os resultados ainda são experimentais e não foram testados clinicamente, mas queremos que os médicos saibam que eles existem, devido à urgência da situação”, diz Elizabeth Di Lullo, outra autora do estudo.

Mesmo com o grande progresso no entendimento da relação entre zika e microcefalia, a estratégia do vírus para entrar nas células revela se cada vez mais complexa.

Estudos voltados para um tratamento que reduza ou suprima qualquer efeito do vírus da zika em fetos podem ser a solução para essa doença. “Espero que nossas descobertas ajudem outros pesquisadores a procurar medicamentos e vacinas para acabar de vez com essa epidemia”, conclui Hanna.




ONG recolhe remédios excedentes e os distribui a pacientes carentes no Egito

25/06/2016 - Folha de S.Paulo / Site


Quando Waleed Shawky encontrou um grande depósito de medicamentos doados, em uma mesquita do Cairo em 2010, ele ficou espantado. Sabendo o quanto era difícil para seus clientes de baixa renda pagar pelos medicamentos de que precisam, o farmacêutico há muito queria saber onde iam parar os medicamentos não usados ou vendidos.

Ele diz que o desperdício causado pela medicina comercial no Egito equivale a cerca de um bilhão de libras egípcias ao ano (US$ 112 milhões). "Perguntei para onde iriam aqueles remédios e o pessoal da mesquita respondeu que um farmacêutico talvez fosse lá apanhá-los, e talvez não", recordou Shawky, acomodado em sua modesta farmácia.

Logo depois, ele criou a Medicine for All, uma ONG que recolhe medicamentos excedentes e os distribui a pacientes necessitados. Primeiro, ele formou uma parceria com estudantes de farmácia para abrir farmácias assistenciais e atender aos funcionários das universidades. Depois ele expandiu seu programa, e beneficiou 60 mil egípcios por meio dele no ano passado.

A medicação representa o maior custo no sistema de saúde egípcio, e está fora do alcance de número significativo dos quase 90 milhões de habitantes do Egito. De acordo com o Banco Mundial, embora mais de metade dos egípcios tenha acesso a alguma forma de seguro-saúde, 72% dos custos de tratamento continuam a ser pagos diretamente pelos pacientes. Já que um quarto da população do país vive baixo da linha da pobreza, e 17% têm dificuldades até para comprar comida, muita gente vive sem remédios.

A Medicine for All trabalha por redistribuição, ligando medicamentos excedentes –não usados ou parcialmente usados– a pacientes que deles necessitam. A maioria das doações vem de farmácias e companhias farmacêuticas, porque elas não podem vender remédios com data de expiração inferior a três ou seis meses, mesmo que o remédio continue válido.

As doações também vêm de pessoas físicas que, por lei, devem comprar pacotes inteiros de remédios mesmo que só precisem de quantidades menores. Em alguns casos, as pessoas mudam de remédio ou morrem antes de consumir o estoque que têm. Pacientes abastados podem doar medicamentos usados, por altruísmo ou porque essas doações podem ser descontadas do imposto de renda e contam como doações à igreja ou mesquita do doador.

A ideia de Shawky lhe valeu reconhecimento. Ele foi um dos finalistas do Fórum Árabe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e foi apontado como bolsista da Ashoka.org, em 2013.

Na sede da Medicine for All, em Nasr City, um bairro do leste do Cairo, uma grande doação de uma empresa farmacêutica está depositada em seis grandes sacolas plásticas, à espera de separação. Shawky treina estudantes voluntários de farmácia para separar e selecionar os medicamentos doados, o que lhes confere experiência inestimável no trabalho com medicamentos reais.

A equipe dele descarta os medicamentos expirados ou deteriorados, cataloga os demais no banco de dados e depois os distribui por meio da ONGs parceiras, que selecionam os recipientes com base em suas necessidades médicas e meios econômicos, e fazem acompanhamento para garantir que os pacientes usem os remédios da forma receitada. A cada mês, caravanas médicas também entregam remédios para pacientes em áreas remotas. No ano passado, a Medicine for All distribuiu 1,6 milhão de libras egípcias em remédios doados, ante as 300 mil libras egípcias distribuídas em 2013, quando a organização foi criada oficialmente.

Em Zeitoun, um bairro no leste do Cairo, a Al-Nour Al-Mohamedy, distribui remédios a cerca de 30 pacientes por mês. "Não consigo comprar nem meia pílula", disse Saber Mostafa Mohamed, 64, encanador aposentado. Mohamed recebe aposentadoria de 360 libras egípcias por mês, mas seus remédios lhe custariam quase o dobro disso.

Antes mesmo que tivesse de parar de trabalhar por causa de seu problema cardíaco, Mohamed enfrentava o dilema de escolher entre sustentar sua família e comprar seus remédios. "Eu deixava meu destino nas mãos de Deus", ele disse.

Com cerca de 100 mil libras egípcias em despesas anuais, a Medicine for All por enquanto está se bancando sozinha, em parte com a bolsa que Shawky recebe da Ashoka.org. Ele espera ampliar a escala de suas operações, e está em busca de novas verbas e de novas parcerias.

Ele lançou um programa de patrocínio para pacientes cronicamente doentes, portadores de males como a hepatite C e a esquistossomose, endêmicos no Egito e que requerem medicamentos caros. Em Zeitoun, a zeladora Bakry Ahmed, 54, exibia seus mais recentes resultados de exames, que mostravam que ela havia extirpado o vírus da hepatite C graças a remédios doados pela Medicine for All.

Desperdício de remédios e o alto custo dos medicamentos são problema para diversos países do mundo, e resultaram em dificuldades semelhantes em outros lugares. Nos Estados Unidos, a organização Sirium usa um sistema online para redistribuição de medicamentos entre usuários.

"Onde existir o problema de uso indevido de remédios, o projeto pode funcionar", disse Shawky. "Sei que pode ser replicado no Oriente Médio e na região do Golfo Pérsico. Meus amigos nessas regiões me dizem ter o mesmo problema que o Egito".

Para além dos benefícios médicos e de desenvolvimento, a Medicine for All trouxe mudanças de mentalidade, encorajando até as pessoas mais necessitadas a compartilhar. "A organização me ensinou como viver", disse o encanador Mohamed. "Se me sobram remédios, eu os devolvo a Helmy".




Suíça Roche traça estratégia para enfrentar remédios biossimilares

27/06/2016 - Valor Econômico


O futuro da indústria farmacêutica global será muito mais criativo do que tem sido até agora, graças aos avanços tecnológicos, e o grupo suíço Roche aposta em produtos melhores para enfrentar a primeira onda de biosimilares que entra no mercado. É o que diz André Hoffman, bisneto do fundador da Roche e chefe do "pool" de sete acionistas da família que continua a controlar o grupo, em entrevista ao Valor, algo raro, já que prefere manter-se discreto. Ele é vice-presidente não executivo do conselho de administração, e sabe para onde a empresa está se direcionando.

O grupo suíço está confrontado à expiração de patentes de remédios contra o câncer Mabthera, Herceptin e Avastin, que juntos geraram vendas de US$ 20,4 bilhões em 2015. No caso de Mabthera, o valor alcançou US$ 7,1 bilhões, quase 15% do faturamento total da companhia no ano passado.

A concorrência de biosimilares na Europa começará no segundo semestre de 2017 e nos EUA a patente expira em 2018. Pfizer, Teva Pharmaceutical e Merck estão na disputa. A primeira versão biossimilar do Herceptin também poderá entrar no mercado no segundo semestre de 2017. Os biosimilares podem custar até 75% menos que o remédio copiado, segundo fontes do setor.

"O princípio é de que o remédio é caro quando está com a patente.

Atualmente, estamos vendo a primeira onda de biosimilares, e na Roche precisamos encontrar um produto melhor para ter nova patente. O que queremos é novos produtos na Roche", afirma André Hoffmann.

Segundo analistas, o grupo suíço continuará tendo lucro mesmo com uma perda de 40% a 50% do mercado para biosimilares nos três anos seguintes à sua entrada no mercado. É que a Roche tem uma reserva importante de produtos em estado avançado de desenvolvimento. Inclui o potencial de um novo remédio contra esclerose em placa e novas oportunidades na imunoterapia anticancerígena.

Mark Belsey, do UBS, exemplifica em nota a clientes que Roche é um dos grupos suscetíveis de se impor no mercado de mais de US$ 20 bilhões do câncer do pulmão.

A decisão de Roche, conforme Hoffmann, é de manter-se na ponta de medicamentos para doenças que colocam a vida em risco, que no jargão do setor são chamados de "medicamentos éticos". A oncologia é a atividade mais lucrativa do grupo, contribuindo com 47% do faturamento. O setor de diagnósticos pesa 22%.

Para ele, o uso enorme de dados, sequência genética e outros instrumentos tecnológicos está dando novos meios para aprofundar o exame das causas da doença, como nunca antes. "A tecnologia permite alvos específicos para atacar e que o futuro da indústria seja mais criativo para fazer avançar a saúde, com novos remédios", afirmou.

Hoffmann lamenta, porém, certas limitações legais. "O que eu gostaria era de poder utilizar a identificação de risco de cada paciente para prevenir a doença", afirmou. "E aí o importante é conseguir ter condições legais para colocar em ação um verdadeiro sistema de prevenção. Mas, no momento, não temos o direito de usar esses dados, que pertencem ao paciente". A situação é mais confortável para farmacêuticas nos EUA, onde o Congresso fixou regras mais abrangentes de como " desidentificar" os dados, para permitir a pesquisa e desenvolvimento. "Mas na Europa a situação é diferente. E no Brasil também é complicado", diz.

Hoffmann deixa claro que a família controladora mantem integral apoio para a estratégia de longo prazo da companhia. "Se você compra ações da Roche, tem que entender que estamos e estaremos lá no longo prazo". Em direção de acionistas ativistas, interessados em ganhos maiores no curto prazo, a mensagem é clara: "Os que vem e querem mudar logo as coisas, não funcionará. O direito dos portadores de bonds (obrigações) não é o mesmo dos acionistas".

Roche tem dois tipos de títulos: os portadores de obrigações e as ações. A empresa tem 160 milhões de ações com valor nominal de 1 franco suíço. E 702 milhões de obrigações, sem direito de voto, com valor atual no mercado de 239,70 francos suíços. Os membros das famílias Hoffmann e Oeri possuem juntos 50,1% das ações, representando 9,3% de todos os títulos (incluindo obrigações).

A família decidiu não ter nunca posição executiva no grupo. Indagado, em evento da consultoria EY em Mônaco, sobre o que afinal ele faz relacionado no grupo, André retrucou: "Meu principal cargo é administrar a família".

A situação econômica do Brasil "inquieta um pouco" o grupo suíço, diz Hoffmann. "No setor de saúde é complicado", diz. Ele destaca a importância do mercado brasileiro, e a estratégia da Rocha de política de preços diferenciados para mais acesso a remédios nos países em desenvolvimento.

"Estamos abertos a toda discussão (sobre redução de preços). O importante é que o medicamento chegue ao paciente. Mas se for preciso bater para obter o reembolso de um medicamento fica difícil, o paciente precisa do remédio". A Roche está investindo no aumento da capacidade fabril no Estado do Rio por confiar no longo prazo.




O caminho dos remédios oncológicos

26/06/2016 - Correio Braziliense


Em primeiro lugar, o medicamento precisa de um registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “No caso de um fármaco inovador, ou seja, caso a substância ativa ainda não tenha sido registrada na mesma concentração, forma farmacêutica ou indicação desejada, será necessário todo um processo de Pesquisa e Desenvolvimento. Descrito de forma geral, se inicia com a descoberta e síntese de uma molécula, desenvolvimento farmacotécnico do medicamento e posteriormente realização de estudos pré-clínicos (em animais) até se chegar na pesquisa em humanos (fase de pesquisa clínica)”, explica a assessoria do órgão.

A agência, então, analisa os dados e, se aprovados, recebem um número de registro e podem seguir para a precificação. O processo de análise do registro de um medicamento novo dura, em média, de oito a 12 meses, podendo ser maior, dependendo da complexidade da análise. Medicamentos oncológicos seguem o mesmo caminho de qualquer outro remédio.

O processo passa, então, para a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). O órgão é formado por cinco Ministérios: Saúde, Fazenda, Indústria e Comércio, Casa Civil e Justiça. “A câmara tem que enquadrar o medicamento em uma das seis categorias definidas pela resolução. Se o produto conseguir, por meio de estudos e evidências científicas robustas, provar que é um grande diferencial em termos de eficácia ou de menor efeito colateral em relação ao tratamento antigo, ele recebe o menor preço pelo qual é comercializado entre nove países definidos”, conta Pedro Bernardo, diretor de Acesso da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).

Como a indústria farmacêutica gasta pelo menos 15 anos e muito dinheiro para criar um novo medicamento, ela espera que o preço esteja de acordo com a expectativa de lucro. Se o valor definido pela CMED não for aceito, a indústria pode solicitar uma revisão da proposta ou simplesmente desistir de lançar o produto.

A partir daí, o medicamento tem dois caminhos. Para seguir para o SUS, é preciso mandar um pedido para incorporação do medicamento junto à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec). “Apesar de ser responsabilidade e interesse do Ministério da Saúde oferecer novos tratamentos, quem faz o pedido são as indústrias, as associações de paciente e a sociedade de oncologia. O Ministério tem obrigação de cuidar das pessoas”, pressiona Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

Segundo uma pesquisa da Interfarma, 56% dos pedidos de incorporação são negados e 79% das solicitações, em geral, é feita por agentes externos ao governo. “A maior parte das negativas diz que as drogas não funcionam, o que é uma leitura diferente do que acontece no resto do mundo. É discordar de especialistas do mundo inteiro, porque o medicamento que chega aqui já é usado lá fora. Gente que nunca participou de uma pesquisa clínica avalia o que os outros fizeram e reprova”, continua o presidente da SBOC. Outra justificativa comum é a falta de dinheiro ou que o custo-benefício não vale a pena. Sem acesso ao medicamento pelo SUS, o paciente pode entrar na justiça para garantir a droga.O outro caminho é para entrar no rol de medicamentos que devem ser ofertados pelos planos de saúde.

A lista é atualizada a cada dois anos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Esse processo de revisão ocorre com a participação da sociedade, no âmbito do Comitê Permanente de Regulação da Atenção à Saúde (Cosaúde), formado por representantes de órgãos de defesa do consumidor, prestadores de serviços, operadoras de planos de saúde, conselhos e associações profissionais, representantes de beneficiários, dentre outras entidades”, explica a assessoria da ANS. São avaliadas a segurança e a efetividade do tratamento, custo-benefício e disponibilidade de rede prestadora, entre outros quesitos. A proposta final vai para uma consulta pública e, depois de aprovada, entra na lista de medicamentos disponíveis. A última atualização foi feita em janeiro deste ano e foram incluídos 40 medicamentos quimioterápicos orais.

O grande obstáculo nesse processo é a demora na atualização pela ANS. O paciente tem que esperar pelo menos um ano pela aprovação na Anvisa, a precificação e, depois, mais dois anos para contar com o tratamento. “Imagina a quantidade de gente que morre nesse tempo, a quantidade de gente que deixa de ser atendida. O paciente de câncer não tem esse tempo para esperar. A lei dos 60 dias existe no atendimento público, mas no particular o paciente pode esperar mais de 700 dias?”, questiona Gustavo. Segundo a ANS, o método atual só pode ser modificado quando a lei for mudada.


VOCÊ SABIA?

Dos 80 medicamentos de indicações gerais incorporados ao SUS, a maioria, 45 deles, é formada por terapias disponíveis no mercado há mais de 15 anos. Já remédios lançados mais recentemente, com até cinco anos no mercado brasileiro, tiveram uma incorporação bem menor, de apenas 13 produtos.

Fonte: Interfarma: Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa


Onde se tratar na rede pública de Brasília


Hospital Universitário de Brasília/Fundação da Universidade de Brasília (Unacon com serviço de Radioterapia)

Hospital de Base do Distrito Federal/SES do Distrito Federal (Cacon serviço de Oncologia Pediátrica)

Hospital Sarah /Associação das Pioneiras Sociais (Unacon)

Produção em série contra a crise

25/06/2016 - IstoÉ Dinheiro


A farmacêutica nacional Libbs vai produzir no Brasil medicamentos biológicos para combate ao câncer e a doenças autoimunes. Para isso, uma planta de biotecnologia foi construída em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Na hora de definir o Estado que receberia o investimento de R$ 500 milhões, incluindo obras e pesquisas, a direção da empresa não teve dúvidas. “A mão de obra qualificada foi o fator decisivo”, diz Márcia Bueno, diretora de Relações Institucionais da Libbs, que vai protocolar em 2017 o pedido de registro dos medicamentos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “São Paulo tem grandes universidades e centros de pesquisas.”

Assim como a Libbs, diversas empresas têm escolhido a maior economia do País para aportar seus recursos. Com um PIB de US$ 568 bilhões, quase o triplo da economia argentina, o Estado de São Paulo contabiliza onze projetos anunciados desde o início do ano, totalizando R$ 1,8 bilhão em novos investimentos. São indústrias como a AGC, líder mundial na fabricação de vidros, a Mercedez-Benz e a Hyundai-Rotem que estão investindo em Guaratinguetá, Iracemápolis e Araraquara, respectivamente. Há ainda 50 projetos em processo de implantação e outros 62 em negociação, somando quase R$ 60 bilhões. “Há muito interesse do setor privado nos setores de celulose, petróleo, gás, etanol, energia e fármaco, entre outros”, diz à DINHEIRO o vice-governador paulista Márcio França (PSB), que acumula o cargo de secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação.

Em seu gabinete, no Palácio dos Bandeirantes, o vice-governador recebe comitivas de empresários que buscam oportunidades em São Paulo. A atração de investimentos virou prioridade na agenda de França durante a crise econômica, que provocou uma queda na arrecadação de impostos. O presidente da agência Investe São Paulo, Juan Quirós, participa das reuniões na capital paulista e promove road shows internacionais para divulgar a competitividade e a imagem do Estado. “Metade do volume de investimentos em carteira é de empresas voltadas para a exportação”, diz Quirós. “A nossa infraestrutura dá competitividade para as empresas exportadoras”, lembra França.

Outra companhia que anunciou investimento em São Paulo é a Serasa Experian, que presta serviços de informações para apoio na tomada de decisões das empresas. Serão destinados R$ 30 milhões na construção de um centro de tecnologia em São Carlos, que vai englobar áreas de captação de dados, tecnologia da informação e finanças. Estão sendo contratadas 500 pessoas, mas haverá capacidade para até 1,5 mil empregados. O processo de definição do local durou um ano e avaliou 50 municípios. “A escolha de São Carlos ratifica a estratégia da Experian em criar centros especializados com alta tecnologia e inovadores, como já fez em outras regiões do mundo”, afirma o CEO José Luiz Rossi.

O governo de São Paulo garante que não pratica guerra fiscal para atrair as empresas, fato confirmado pela Serasa Experian. Segundo a companhia, os fatores determinantes para a escolha do local foram o Índice de Desenvolvimento Humano, a segurança, rede educacional e de saúde, proximidade dos grandes centros urbanos, universidades e disponibilidade de profissionais qualificados. Segundo estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), há um professor doutor para cada 180 habitantes da cidade, índice superior ao de muitos países europeus.

Outro ponto destacado pelos investidores que buscam oportunidades em território paulista é a previsibilidade institucional. Nas palavras do vice Márcio França, a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) é como as listras da bandeira de São Paulo, “reta, igual, repetida, sem surpresas”, e tem como uma de suas principais características a “austeridade fiscal”. O controle das finanças públicas é um item caro aos investidores, pois quanto mais equilibrado estiver o caixa de um Estado, maior a chance de execução de obras de infraestrutura.

Na terça-feira 21, um relatório da Unctad mostrou que o volume de investimento estrangeiro direto no mundo cresceu 38% em 2015, totalizando US$ 1,76 trilhão. No Brasil, no entanto, houve queda de 11,5%, para US$ 64,6 bilhões. Significa, na prática, que os Estados disputam fatias de um bolo que encolheu. Porém, ao superar a atual crise, o País voltará a atrair recursos. “A trajetória macroeconômica do Brasil será retomada a partir do ano que vem”, diz Maurício Godoi, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios. “Nesse contexto, as regiões Sul e Sudeste levam vantagem, com São Paulo à frente.”


MARTELO BATIDO


Conheça alguns investimentos já confirmados em São Paulo este ano

AGC (indústria de vidros)
Projeto: ampliação de fábrica em Guatinguetá
investimento: r$ 750 milhões
empregos: 524

Libbs (indústria farmacêutica)
Projeto: construção de fábrica de biofármacos de uso único em Embu das artes
investimento: r$ 500 milhões
empregos: 60

Equinix (serviços de data Center interconexão)
Projeto: construção do quinto data Center em santana do Parnaíba
investimento: r$ 274 milhões
empregos: dado não informado

Canadian Solar (energia renovável)
Projeto: construção de fábrica de painéis solares em Sorocaba
investimento: r$ 80 milhões
empregos: 400

Chem Trend (setor químico)
Projeto: construção de fábrica em Valinhos
investimento: r$ 60 milhões
empregos: 160

Scomi (bens de capital)
Projeto: construção de fábrica para a produção de monotrilhos em Taubaté
investimento: r$ 50 milhões
empregos: 500

Johnson Electric (autopeças)
Projeto: construção de fábrica de eletroventiladores em Arujá
investimento: r$ 35 milhões
empregos: 135

Serasa Experian (serviços)
Projeto: construção de centro de tecnologia em São Carlos
investimento: r$ 30 milhões
empregos: 1,5 mil




‘Estamos preparados para fazer uma aquisição’

27/06/2016 - O Estado de S.Paulo


Wilson Borges atuou nos campos de futebol como atacante do Palmeiras e defendeu o time grego Panathinaikos Atenas, nos anos 1970, mas sua carreira deslanchou mesmo nos laboratórios farmacêuticos do País. O executivo, que desde o início do ano está à frente da Natulab, farmacêutica que tem a gestora Pátria Investimentos como acionista majoritária, diz que a companhia está em busca de aquisições para crescer no setor. Ex presidente da Medley, laboratório controlado pelo grupo francês Sanofi, e Zambon, de origem italiana, Borges afirma que a Natulab quer expandir sua atuação em medicamentos fitoterápicos e isentos de prescrição (OTC).

O setor farmacêutico até o ano passado estava mais imune à crise. O ano de 2016 será diferente?

A Natulab está em expansão. Não temos do que reclamar. Estamos concluindo um projeto de ampliação da unidade de Santo Antônio de Jesus, na Bahia, onde faremos aporte de R$ 40 milhões este ano. A companhia quer avançar ainda no segmento de dermocosméticos e aerossol (remédio voltado para problemas respiratórios).

A Natulab está avaliando aquisições no Brasil?

Estamos olhando ativos sim e não descartamos crescer por meio de aquisições. Estamos em conversas e podemos fechar negócio nos próximos meses. Nosso plano é dobrar de tamanho até 2018 (o faturamento bruto da companhia em 2015 foi da ordem de R$ 250 milhões).

Muitas farmacêuticas estão com estoques altos e reduzindo descontos de medicamentos, o que afeta seus resultados. É o caso da Natulab?

Temos controle de estoques e não temos política agressiva de preços. Atuamos em segmentos com forte potencial de crescimento e menos concorrentes.




SUS: perda de R$ 12 mi

26/06/2016 - Correio Braziliense


Levantamento feito por especialistas em gastos com a saúde aponta perda de R$ 12,72 milhões em dois anos para o setor, caso seja aprovada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que estabelece teto para os gastos públicos limitados à variação da inflação do ano anterior. O projeto está no Congresso Nacional, onde precisa ser aprovado para passar a valer a partir de 2017. A PEC é defendida pela equipe econômica interina como uma das medidas para recuperar o crescimento econômico do país, mas é polêmica por limitar os gastos com saúde e educação.

O estudo sobre a perda de recursos, elaborado pelo Grupo Técnico Interinstitucional de Discussão sobre o Financiamento do SUS, que reúne especialistas em orçamento de diversas entidades de saúde, faz uma comparação entre a projeção de gastos com o cálculo atual — que vincula as despesas à variação da receita corrente — e a proposta do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, com a perspectiva de oscilação do IPCA, que mede a inflação.

Segundo a tabela, em 2017, o Sistema Único de Saúde (SUS) perderia R$ 4 milhões e, em 2018, R$ 8,6 milhões. Outra projeção faz estimativas de orçamentos caso a PEC tivesse sido aplicada desde 2003 até 2015, indicando uma redução constante e cumulativa do orçamento disponível para a saúde. Nesse período, segundo o estudo, a perda acumulada seria de RS 318 milhões.

A proposta do Planalto estabelece esse teto por 20 anos. Consultor da Comissão Permanente de Orçamento e Financiamento (Cofin) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Francisco Funcia, um dos autores do levantamento, diz que o governo escolhe priorizar o pagamento as dívidas de juros. A tendência, acusa Funcia, é de que o subfinanciamento seja crônico. “Esse efeito de 2003 a 2015 é o que vai se repetir para os próximos 20 anos.

O especialista cita que o parâmetro internacional é de gastos de 7% do PIB com a saúde. No Brasil, o índice é de 3,9%, o que mostra o subfinanciamento. “Não se pode reduzir o gasto. Todo o perfil demográfico mudou. A população está vivendo mais. O gasto para atender a população idosa é maior”, analisa.

Caso seja aprovada, a aplicação mínima de recursos em Educação e Saúde terá como base o valor obrigatório de 2016, que será elevado seguindo a variação da inflação do ano anterior. No mesmo dia em que apresentou a proposta, o Ministério da Fazenda explicou que é possível que haja aumento na aplicação na Saúde e na Educação, mas que isso depende de que outros gastos primários tenham redução, para que haja um contrabalanço.

Cortes

Alteração tirará ainda mais recursos da saúde (em R$ milhões)

Como é Como fica

2016 92.021,05 —
2017 102.731.12 98.637,37
2018 112.698,21 104.062,92

Rio atrasa fórmula para criança alérgica a leite

27/06/2016 - O Estado de S.Paulo


Em estado de calamidade financeira, o governo do Estado do Rio está atrasando o fornecimento de fórmula especial para bebês e crianças alérgicas ao leite de vaca. Trata-se de um alimento fundamental – muitas vezes, o único possível – para quem não pode consumir leite comum. Famílias ouvidas na semana passada pelo Estado contam que já faz um mês que não conseguem retirar o produto, cuja lata custa, em média, R$ 180, e pode durar apenas um dia – o que dá um gasto mensal de R$ 5.400.

Estão em falta o Neocate LCP e Neocate Advance, ambos à base de aminoácidos. No caso de crianças com alergias alimentares múltiplas – a frutas, legumes, glúten, grãos e carnes –, a fórmula se torna ainda mais necessária. “É uma sensação de impotência muito grande. Minha filha se alimenta exclusivamente de Neocate, tem risco de choque anafilático. Além de não receber a fórmula, também não consigo a caneta de adrenalina, que é o que salva a vida dela em caso de choque, embora exista uma decisão judicial em dezembro que obriga o Estado a fornecer”, disse a dona de casa Monique Araújo.

A filha, Maria Eduarda, de 2 anos, tem alergia múltipla e apresenta reações, como urticárias e dificuldades respiratórias, mesmo sem comer os alimentos proibidos – basta sentir o cheiro deles. Na quinta-feira, Monique passou quatro horas na Secretaria Estadual de Saúde tentando um posicionamento sobre os produtos e saiu de mãos vazias. A caneta de adrenalina é importada e chega a custar R$ 1,5 mil a dose única.

“O governo não dá previsão nem explica o motivo. O Neocate é o principal alimento do meu filho. A falta me revolta, ainda mais depois que vi a licitação do governo do Estado para compra de filé mignon e framboesa”, criticou a tatuadora Alessandra Klabin, referindo-se a uma compra que seria feita para abastecer o Palácio Guanabara, sede do governo estadual – mas foi cancelada, depois que a notícia veio à tona. Seu filho, Johann, também com alergia alimentar múltipla, tem 5 anos e síndrome de Cri du Chat, o que faz com que o Neocate seja crucial para seu desenvolvimento.

Algumas famílias relatam que no fim de 2015 já haviam tido dificuldade em receber a fórmula; na ocasião, houve uma compra emergencial. “Minha filha tem alergia a 34 alimentos, não come nenhuma proteína animal, apenas cinco legumes, orgânicos, e o Neocate. Só a família mesmo para ajudar a comprar as latas. Tive de reduzir a quantidade recentemente, pela falta do repasse, e ela ficou doentinha”, lamentou a funcionária pública Tatiane Póvoas, mãe de Manuela, de 3 anos, que consome 19 latas por mês.

A Secretaria de Estado de Saúde informou, por meio de nota, que “vem realizando esforços para regularizar o fornecimento de Neocate”, sem dar mais explicações sobre o motivo do desabastecimento.


CAPITAL


O município do Rio, que afirma estar em “situação fiscal absolutamente confortável”, segundo palavras do prefeito Eduardo Paes, também está com o fornecimento falho. A administradora Luiza Saraiva, mãe de um bebê de 1 ano com alergia a 11 alimentos, liga todos os dias para saber sobre a chegada da fórmula (usa duas latas por semana). E não recebe previsão. “Uma funcionária chegou a me dizer: ‘É sempre assim em ano eleitoral’. É esse leite que mantém meu filho com o peso adequado e crescendo”, lamentou.

A Secretaria Municipal de Saúde explicou que “por mudanças na distribuição do fabricante do Neocate houve atraso no repasse do produto” e garantiu, na sexta-feira, que “a entrega do produto aos pacientes já está restabelecida”. Beneficiários contaram que as latas estão sendo racionadas e ouviram a promessa de que somente nesta semana a distribuição estaria regularizada.




Cesáreas crescem 40% e têm domínio consolidado

25/06/2016 - Folha de S.Paulo


Ao mesmo tempo em que há uma leve queda no número de nascimentos, a quantidade de partos por cesariana no Brasil aumentou mais de 40% em uma década e meia. Nesse período, a predominância do parto normal foi desfeita: se no ano 2000 as cesáreas representavam 38% dos nascimentos, os dados recentes mais completos indicavam uma taxa de 57%.

As estatísticas, que fazem parte do Sistema Nacional de Informações sobre Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde, mostram como esse procedimento cirúrgico, indicado para partos de alto risco, ganhou espaço mesmo em casos sem indicação médica e se consolidou como líder no país nos últimos seis anos.

O alto crescimento de cesáreas tem levado governo e entidades profissionais do setor a tomarem medidas para diminuir os riscos aos bebês.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) lançou nesta semana uma resolução que define que gestantes têm direito de optar pela cirurgia, mas veta que ela ocorra com menos de 39 semanas de gestação –antes desse período, avalia que os bebês ainda não estão totalmente maduros. As cesáreas foram responsáveis em 2014 pela chegada de 1,7 milhão de bebês –contra 1,2 milhão em 2000.

Dados preliminares do ano passado, obtidos pela Folha, já mostram ao menos 1,6 milhão de cesarianas. Apesar de mais baixo que no ano anterior, a quantidade ainda pode crescer assim que todos os dados forem contabilizados.


MÚLTIPLOS FATORES


"Há mais de 30 anos que os números [de cesáreas] vêm aumentando", diz Eduardo Cordioli, da Sogesp (associação de obstetras de SP). "É um problema crônico que está chegando a um limite insuportável para o sistema."

Ele e outros especialistas ouvidos pela Folha apontam alguns dos motivos para o crescimento: medo de sentir dor no parto normal, falta de leitos nas maternidades e de profissionais, baixa remuneração dos médicos e falta de informação às gestantes.

A lista vai além. "Os médicos passaram a organizar a agenda em função de fazer partos cesáreas, os hospitais deixaram de ter lugar para parto normal e ampliaram a UTI neonatal, e as mulheres passaram a entender o parto cirúrgico como uma tecnologia. Vários mitos foram criados", diz Martha Oliveira, diretora da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Ela lembra que a situação "é mais grave" nos planos de saúde -chega a 84,6%. Em 2015, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomendou a adoção de um sistema universal de classificação da taxa de cesáreas. Com base nessa classificação, o ministério estima que a taxa de referência para o Brasil seria entre 25% e 30%.

No ano passado, a ANS lançou medidas que vetavam a cesárea agendada. Após críticas, voltou a liberar a possibilidade, desde que a gestante assine um termo de consentimento. Agora, a ideia é investir em parcerias com hospitais para reorganização do modelo de atendimento.

A mudança no modelo é defendida por Ana Cristina Duarte, do Grupo Maternidade Ativa. "Se não houver medidas, a tendência sempre vai ser fazer o que dá mais dinheiro e gasta menos tempo", diz ela, que prega a maior participação de enfermeiros obstétricos em partos de baixo risco.

Apesar de também defender uma reorganização do modelo de assistência, Olímpio Moraes Filho, membro da câmara técnica de ginecologia e obstetrícia do CFM, diz que é preciso valorizar o direito da mulher de escolher. "A melhor via de parto é a vaginal. Mas não podemos obrigá-la a fazer. Se forçar um parto normal em uma mulher que não deseja, há grandes chances de ele complicar."




A influência dos micróbios

26/06/2016 - Folha de S.Paulo


E se beber água contendo uma bactéria típica da flora intestinal fosse capaz de curar os principais sintomas do autismo?

À primeira vista, soa quase como curandeirismo, um jeito estapafúrdio de tentar enfrentar um problema neurológico altamente complexo, mas deu certo –ao menos em camundongos.

Uma descrição detalhada dos experimentos, coordenados pelo pesquisador uruguaio Mauro Costa-Mattioli, do Baylor College of Medicine (EUA), acaba de sair na "Cell", uma das mais importantes revistas científicas do mundo.

"Temos de ter muito cuidado, ainda há muitos estudos pela frente. A mensagem definitivamente não é que os pais de crianças com autismo deveriam sair por aí entupindo seus filhos de probióticos na esperança de que eles se curem. Mesmo assim, estou extremamente empolgado com as perspectivas", disse Costa-Mattioli à Folha.


OBESIDADE E DIABETES


Estudos como o do uruguaio, revelando correlações entre os micro-organismos que habitam nosso corpo e os aspectos mais insuspeitos da saúde humana, ganharam massa crítica nos últimos anos, conta a zoóloga britânica Alanna Collen em seu livro "10% Humano", que acaba de chegar ao Brasil.

Para ela, manipular a microbiota –ou seja, a coleção de milhares de espécies microbianas que fizeram do organismo humano o seu lar– poderia ter impactos positivos na epidemia global de obesidade, em doenças autoimunes tão diferentes quanto a esclerose múltipla e o diabetes e numa lista de problemas mentais que, além do autismo, inclui a depressão e o transtorno bipolar.

Aqui, é crucial frisar o verbo "poderia" porque, como enfatiza Costa-Mattioli, trata-se de uma área de pesquisa extremamente nova, com conhecimento novo sendo gerado o tempo todo num ritmo muito rápido (e, às vezes, contraditório).

O ponto de partida está resumido no título do livro de Collen: só 10% das células no corpo de uma pessoa são realmente dela. Os outros 90% pertencem a bactérias e outros microrganismos que exploram diferentes partes do corpo (como a pele gordurosa do nariz ou as regiões quentes e úmidas da virilha).

Nesse processo evolutivo de longo prazo, os micróbios não só aprenderam a se aproveitar das condições do organismo humano para se reproduzir como também aprenderam, em muitos casos, a oferecer diferentes vantagens a seus hospedeiros – é, afinal, um jogo de "ganha-ganha", no qual a saúde da pessoa permite que a comunidade microbiana fique mais próspera, e vice-versa.

É por isso que uma flora intestinal vigorosa e diversificada é uma boa, como os médicos já sabem há bastante tempo. Os micróbios do intestino ajudam os seres humanos (e muitos outros animais) a digerir alimentos difíceis, produzem nutrientes que nosso organismo não é capaz de fabricar sozinho e competem com outros seres unicelulares que, se estivessem sozinhos, causariam doenças.

Há indícios de que o tipo de microbiota pode influenciar diretamente a propensão a engordar. Alguns testes em animais de laboratório e pessoas sugerem que essa abordagem seria um caminho para enfrentar muitos casos de excesso de peso, que não teriam relação direta com o quanto a pessoa come e se exercita, mas sim com a variedade de espécies de bactéria em seu organismo.


BACTÉRIAS E AUTISMO


As possíveis conexões da flora intestinal com ao menos parte do espectro do autismo começaram a ser exploradas porque é comum que as crianças com as diferentes formas do problema também sofram de problemas digestivos, tenham usado muitos antibióticos (que costumam matar as bactérias do organismo indiscriminadamente) e sejam filhos de mães com histórico de obesidade.

Costa-Mattioli e seus colegas testaram a ideia ao comparar o comportamento de camundongos gerados por fêmeas que receberam uma dieta rica em gordura com os de filhotes que nasceram de mães com dieta normal.

Além de diferenças significativas em sua microbiota, os dois grupos tinham diferenças consideráveis de comportamento. Os camundongos do "grupo da gordura" tinham muito menos interesse em interações sociais e agiam de forma repetitiva -duas características clássicas do espectro do autismo em seres humanos.

No entanto, os cientistas dores conseguiram contornar isso simplesmente colocando filhotes dos dois grupos na mesma gaiola. Ao comer o cocô dos colegas, ingerindo assim sua microbiota intestinal, os roedores do primeiro grupo passaram a ter uma vida social normal.

O mesmo resultado foi observado quando os cientistas ofereceram a eles a água com Lactobacillus reuteri, micróbio comum no organismo dos bichos normais, mas quase ausente no dos roedores "autistas".

"Uma das possibilidades é que as mudanças na ecologia do intestino estejam levando a alterações na produção de neurotransmissores [mensageiros químicos do sistema nervoso], levando a esse efeito", explica Costa-Mattioli.

"A outra é que existe uma espécie de via expressa entre o cérebro e o sistema digestivo, que são ligados pelo nervo vago." Ele e seus colegas esperam publicar em breve um estudo elucidando esse mecanismo.

Hipóteses como essa, se estiverem corretas, provavelmente levarão especialistas e médicos a repensar quando e como receitar antibióticos ou marcar cesarianas (esse tipo de parto priva o contato do bebê com a flora microbiana da vagina da mãe).

Já há inclusive experimentos de "transplante microbiano" para bebês que nascem de cesariana –basta esfregar uma gaze na vagina materna e depois passá-la na boca e na pele da criança–, com resultados preliminares interessantes.


10% HUMANO
AUTORA Alanna Collen
EDITORA sextante
QUANTO R$ 39,90 (288 págs.)




Comida como vício

25/06/2016 - O Globo


Não basta cortar calorias, fazer exercícios, tomar remédios. Agora, além do apelo às receitas tradicionais, cresce a avaliação entre os médicos de que a obesidade deve ser tratada como dependência química — uma abordagem terapêutica já usada em outros países e que chega agora ao Brasil. O tema foi discutido esta semana em um simpósio sobre obesidade promovido pela Academia Nacional de Medicina (ANM).

Quando comemos, o cérebro libera em seu sistema de recompensa a dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer. Alimentos ricos em açúcar, gordura e sal provocam uma estimulação cerebral semelhante ao de algumas drogas. E o organismo, aos poucos, se torna insaciável: para atingir aquele nível de recompensa, precisará de cada vez mais dopamina, apelando para as comidas gordurosas e açucaradas. Este sentimento de “querer sempre mais” é semelhante ao do vício em cocaína e álcool, segundo especialistas.

— Podemos ficar até quatro dias pensando em uma comida enquanto não a tiramos da geladeira. Por isso devemos fazer exercícios mentais, como lembrar que aquele alimento só vai dar uma satisfação temporária, ou que vai nos fazer mal — explica Ana Lydia Sawaya, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da USP. — Este tratamento tem sido usado intensamente nos EUA e na Europa e é muito mais parecido com uma mudança de comportamento de viciados do que a imposição de uma dieta de 1.500 calorias, usada para obesos.

Membro da ANM e organizadora do simpósio, Eliete Bouskela destaca que o combate à obesidade pode ser mais difícil do que evitar o uso de drogas.

— É possível nunca mais usar álcool ou drogas, mas a comida não pode ser totalmente cortada — ressalta. — Ninguém tem tempo para cozinhar arroz e feijão. Por isso, apelamos para refeições semiprontas, ricas em sal e gordura.


MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA


Egberto Gaspar de Moura, professor de Fisiologia Endrócrina da Uerj, lembra que medicamentos que inibem o apetite e diminuem a absorção de gordura podem ser adotados como um estímulo para a dieta e, também, para ajudar que os pacientes não recuperem o peso.

— Usando remédios, o paciente pode perder logo quatro ou cinco quilos. Já é um impulso — analisa. — Mas este recurso deve ser moderado, porque há efeitos colaterais, como tontura, palpitação, diarreia e náuseas.

Gaspar, no entanto, assinala que a melhor maneira de combater a obesidade passa longe dos comprimidos. Trata-se da mudança de estilo de vida, o que significa ter um horário fixo para dormir, adequar a dieta e iniciar atividades físicas. Os resultados são graduais e devem ser acompanhados por endocrinologistas, nutricionistas e psicólogos.

O envolvimento de médicos de diversas especialidades é sublinhado por Francisco Sampaio, presidente da ANM. O motivo é a associação da doença com diversas enfermidades, como o câncer de próstata, a hipertensão e a depressão.

— É a epidemia do século e está avançando muito rapidamente. No estado do Rio, 52% da população sofre com sobrepeso ou obesidade. Alimentos pouco saudáveis dão uma sensação de felicidade, mas isso logo passa e, por isso, recorremos cada vez mais a eles — descreve.

A ANM planeja instalar, na área do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, no Rio, o Centro Multidisciplinar de Pesquisa em Obesidade, onde estudará diversos aspectos relacionados ao tema, da pediatria à geriatria. Avanços tecnológicos da última década abriram caminho para novas áreas de pesquisas sobre a obesidade. De acordo com Mario José Abdalla Saad, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, uma das principais conquistas foi o sequenciamento genético das bactérias no estômago e no intestino.

— Sabemos que um organismo com grande diversidade de bactérias gastrointestinais é menos propenso à obesidade, mas alimentos industrializados acabam com esta diversidade — explica. — Novos estudos também confirmam que os bebês nascidos de parto normal e que foram amamentados nos primeiros dois meses também têm menor tendência ao sobrepeso.


PROBLEMA EXIGE MEDIDAS DRÁSTICAS


Segundo um relatório da consultoria Mc Kinsey, a obesidade já está na terceira posição entre os principais problemas que acometem a Humanidade, perdendo apenas para a violência armada — que abrange terrorismo e guerras —e o tabagismo.

Professor de Endocrinologia da PUC-Rio, Walmir Coutinho revela que diversos governos se comprometeram a inibir os índices de obesidade até 2025, levando-os de volta aos registrados em 2010. Alguns projetos conseguiram sucesso parcial: no México, por exemplo, um tributo especial sobre o refrigerante diminuiu o seu consumo em 20%, mas a verba obtida por este imposto não foi revertida em subsídios para a produção, venda e publicidade de alimentos saudáveis.

— O Brasil teve boas iniciativas ligadas à amamentação e à alimentação saudável em escolas, mas os resultados gerais estão muito aquém do necessário — observa. — A obesidade é um problema que exige medidas drásticas.

Em vez de inflar os cofres com novos tributos sobre alimentos industrializados, no Brasil a obesidade contribui com um rombo no sistema de saúde pública. Segundo uma pesquisa realizado pela Datasus, o governo gastou mais de R$ 3,65 bilhões com doenças relacionadas ao excesso de peso entre 2008 e 2010.

Professor do Departamento de Clínica Médica da Uerj, Denizar Vianna atenta que a busca por cirurgias bariátricas também foi multiplicado em menos de uma década, passando de 16 mil em 2003 para 60 mil em 2010.

— Além dos aspectos ligados à saúde, o impacto da obesidade também atinge a economia — explica. — O crescimento desta epidemia é brutal, muito maior do que foi o tabagismo décadas atrás.

A ANM realizará, no dia 14 de julho, um simpósio sobre poluição ambiental. Inscrições são gratuitas pelo e-mail secretariageral@anm.org.br. Haverá emissão de certificados aos participantes.




Hospital indiano opera olhos à la fast-food

25/06/2016 - Folha de S.Paulo


O esquema de fast-food foi a inspiração de um sistema que devolve a visão a mais pessoas que qualquer outra rede hospitalar do mundo.

Quatro décadas atrás o falecido oftalmologista indiano Govindappa Venkataswamy —ou simplesmente Dr. V, como era conhecido— perguntou: “Se o McDonald’s faz isso com hambúrgueres, por que nós não podemos fazer com o tratamento de olhos?” Ele se dispôs a implementar processos padronizados de baixo custo, para eliminar a cegueira desnecessária.

Em 1976 o Dr. V fundou o Hospital de Olhos Aravind, uma clínica de 11 leitos em Madurai. Desde então, a clínica cresceu e foi transformada em uma rede de 11 hospitais espalhados pelo Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, onde já tratou 45 milhões de pacientes e realizou 5,6 milhões de cirurgias.

A maior parte dos pacientes do Aravind faz tratamentos para cataratas, que é responsável por 60% dos casos de cegueira no país.

Cada sala de cirurgia é equipada com pelo menos duas mesas. Imediatamente depois de concluir uma cirurgia, o médico aplica gel antisséptico às suas luvas em vez de substituí-las (o que é regra em muitos países) eleva o microscópio de ponta para a outra mesa, onde outro paciente já está instalado.

Esse modelo eficiente, que lembra uma linha de produção, permite aos cirurgiões oftalmologistas da Aravind realizar em média 1.500 cirurgias de catarata por ano, contra 400, em média, por cirurgião nos Estados Unidos.

Mas a Aravind se orgulha de realizar tudo com qualidade. Seus cirurgiões têm menos da metade do número de complicações por procedimentos que os do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido.

O modelo econômico singular da Aravind inclui hospitais “pagos” com instalações de padrão hoteleiro e hospitais “gratuitos” onde a qualidade das cirurgias é a mesma, mas a recuperação se dá em grandes enfermarias, deitados sobre esteiras no chão.

O sistema Aravind foi até tema de um estudo de caso em Harvard, e foram feitas tentativas de reproduzi-lo em outros países. No México, o empreendimento social Salauno adaptou as práticas da Aravinde oferece cirurgias de catarata de alta qualidade a pessoas de baixa renda.




Plantão Médico: A dolorosa orquite

25/06/2016 - Folha de S.Paulo


O número de casos de caxumba vem aumentando em São Paulo, como a Folha informou ontem, e em outros Estados também.

A imunização contra a doença é feita nos primeiros anos de vida através da vacina tríplice (caxumba, rubéola e sarampo). Ela é gratuita nos centros de saúde do Estado ou da prefeitura.

Após 1968, quando foi introduzida na rotina médica, observou-se diminuição na incidência da virose, alcançando cerca de 99% nos EUA, há dez anos.

A ressurgência da caxumba com seus eventuais surtos pode afetar aqueles que não foram imunizados e que consequentemente se tornam vulneráveis. Essa omissão tem o seu preço.

Nos adolescentes e adultos jovens do sexo masculino não vacinados, o vírus da caxumba pode atingir os testículos, provocando doloroso inchaço. É a chamada orquite.

Atrofia testicular unilateral é citada em 60% dos casos e também eventuais problemas de fertilidade.

No sexo feminino, a consequência da caxumba pode resultar em uma inflamação dos ovários.

Especialistas estimam em 40% o percentual de homens que após a puberdade podem sofrer de orquite. Também assinalam outras eventuais complicações, como surdez, meningite e pancreatite.

Se o paciente escapar ileso da caxumba, vai ter também a sorte de dificilmente sofrer de uma recaída, já que a doença gera imunidade permanente.




Aumentam mortes por linfoma no País

26/06/2016 - O Estado de S.Paulo


Doença que ganhou atenção na última semana pelo diagnóstico do ator Edson Celulari, o linfoma não-Hodgkin tem se tornado mais incidente e matado mais brasileiros do que há uma década. A boa notícia é que, com a chegada de novos tratamentos, a chance de cura desse tipo de câncer aumentou e, mesmo nos casos em que o tumor é incurável, o paciente pode viver mais de dez anos com a doença sob controle.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a taxa de mortalidade por linfoma não-Hodgkin cresceu 17% entre 2004 e 2013 (último dado disponível). Entre os homens, o índice passou de 2,06 mortes por 100 mil habitantes do sexo masculino para 2,42 no período. Já entre as mulheres, a mesma taxa cresceu de 1,59 para 1,87. Em dados absolutos, o número de óbitos pela doença cresceu de 3.255 para 4.154 nos dez anos analisados.

Especialistas explicam que o aumento do índice não está associado a uma maior agressividade da doença, mas, provavelmente, ao envelhecimento da população. “A incidência do linfoma está aumentando em todo o mundo. Embora a doença possa atingir todas as idades, ela é mais comum entre pessoas com mais de 60 anos e a idade média dos brasileiros vem aumentando”, explica o médico Carlos Chiattone, diretor da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e coordenador do Centro de Linfomas do Hospital Samaritano. Segundo o Inca, 62% dos mortos pela doença em 2013 eram idosos.

Oncologista clínico do A. C. Camargo Câncer Center, Vladmir Cordeiro de Lima diz que os dados devem ser analisados com cuidado. “Globalmente tem havido uma melhora no desfecho dos tratamentos de linfoma não-Hodgkin, mas no Brasil temos de considerar que o sistema de notificação não é bom e nem todos os pacientes têm acesso ao melhor tratamento. Se tivessem, a mortalidade seria menor”, diz. Segundo os especialistas, surgiram na última década novas opções de tratamentos quimioterápicos e imunoterápicos que melhoraram o prognóstico do paciente com linfoma.

No caso dos tumores não-Hodgkin, Chiattone explica que eles são divididos em dois grandes grupos – os agressivos e os indolentes. Os primeiros podem ser curados em 60% dos casos. Já os outros são considerados incuráveis, mas, como crescem muito lentamente, o paciente pode viver anos ou décadas com a doença sob controle. “É como se fosse uma doença crônica. Faz-se o tratamento, o linfoma é controlado, mas pode voltar após alguns anos. E outro tratamento é feito”, diz.

O administrador de empresas Jaime Waiswol, de 51 anos, recebeu o diagnóstico de um linfoma não-Hodgkin em 1997, e, após tentar, sem sucesso, três diferentes tratamentos quimioterápicos, ouviu da equipe médica que a chance de estar vivo em três anos era menor que 10%. “Mesmo assim eu sempre acreditei muito, sentia que daquela doença não ia morrer”, conta. No início de 1998, foi lançado um novo medicamento para linfoma, que acabou curando Waiswol. Em 2012, 15 anos após o tratamento, ele percorreu 94 quilômetros até o Monte Roraima para estimular outros pacientes que estão enfrentando a mesma batalha. “Ainda temos muita coisa para viver.”


DIFICULDADES


Para Merula Steagall, presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), entidade que dá apoio a pacientes, um dos maiores entraves à redução da mortalidade pela doença é a demora no diagnóstico e no início do tratamento. “Pelo SUS, às vezes a pessoa tem uma suspeita e só para agendar uma biópsia demora seis meses”, diz ela.

Erros de diagnóstico e dificuldade de agendamento da quimioterapia atrasaram o início do tratamento da auxiliar administrativa Roseane Oliveira Gomes, de 29 anos. “Comecei a ter sintomas em setembro de 2014 e passei em dois médicos. Uma disse que era virose e o outro falou que era tendinite, porque eu tinha dores no ombro”, diz ela, que só iniciou o tratamento em março de 2015. “O linfoma cresceu tanto que eu fiquei deformada de inchaço, não conseguia abrir o olho. Estava sentindo a morte chegar”, conta ela, que conseguiu finalizar o tratamento em setembro de 2015 e, embora ainda precise fazer acompanhamento, teve o tumor eliminado.




Como a obesidade leva ao diabetes

25/06/2016 - Correio Braziliense


A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que, em 2025, aproximadamente 700 milhões de adultos e 75 milhões de crianças estarão obesos. No Brasil, os números reforçam o alerta feito pela agência das Nações Unidas para um futuro próximo: em levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano passado, 85 milhões de pessoas consultadas apresentavam sobrepeso e obesidade. Entre os riscos a que essas pessoas estão expostas, está o de diabetes, que, sem controle, pode levar a derrame, cegueira e infarto. Cientistas do Instituto Alemão de Nutrição Humana apostam na interação entre genes e o ambiente, área chamada de epigenética, para evitar a combinação das duas doenças e as consequentes complicações.

Algumas mudanças epigenéticas aumentam as chances de que pessoas desenvolvam doenças. No caso da obesidade, o gene em questão é o Igfbp2. Desde 2013, cientistas liderados por Annette Schürmann estudam esse pedacinho de molécula de DNA. Em sua mais recente descoberta, publicada na revista Human Molecular Genetics, o time demonstrou que alterações epigenéticas provocam distúrbios no metabolismo da glicose e na síntese de proteína ligada à produção de insulina — dois fatores associados ao diabetes tipo 2.

A equipe demonstrou, em experimento com ratos, como se dá esse processo. Primeiro, foram selecionadas cobaias que eram geneticamente idênticas, como se fossem gêmeas. Elas foram divididas em dois grupos, sendo que um recebeu uma dieta altamente gordurosa e o outro não, formando o grupo de controle. O que teve a alimentação alterada desenvolveu, em pouco tempo, a doença do fígado gorduroso. Em aproximadamente seis semanas, o Igfbp2 dessas cobaias apresentou alto nível de metilação, as marcas de alteração epigenética, e, ao mesmo tempo, reduziu-se a síntese da proteína ligada à produção de insulina.

Em seguida, os roedores apresentaram problemas no metabolismo da glicose. O que mais surpreendeu os cientistas veio em seguida. Ao analisar amostras de células do sangue de pessoas com obesidade mórbida e cujo metabolismo da glicose é alterado, eles detectaram a mesma modificação epigenética encontrada nos roedores. “Desde que a metilação do gene ocorra cedo, bem antes de se desenvolver o fígado gorduroso, seria concebível utilizar esse conhecimento para avaliar melhor o risco de doenças em jovens e adolescentes. Com soluções apropriadas, o problema pode ser prevenido a tempo”, declarou Annette Schürman, em comunicado sobre o estudo.


MARCAS REVERSÍVEIS


Diversas pesquisas têm apontado que a predisposição para a obesidade e a síndrome metabólica envolve fatores hereditários e, de certa forma, definitivos. Com outra perspectiva, as pesquisas em epigenética sugerem que as marcas deixadas nos genes durante a metilação são reversíveis. Além disso, existe a probabilidade de a doença nunca se manifestar em filhos de pais obesos, ou mesmo não ser transmitida às próximas gerações, caso o estilo de vida seja diferente daquele levado pelos pais, com alimentação saudável, redução do estresse e prática de atividades físicas, por exemplo.

Annette Schürmann também chama a atenção para o fato de que a descoberta das marcas epigenéticas, como as deixadas no gene Igfbp2, ajuda a identificar se pessoas com sobrepeso estão saudáveis. “É importante distinguir entre os obesos saudáveis e os obesos que desenvolvem resistência insulínica, diabetes tipo 2 e outras doenças secundárias. Para os últimos, precisamos de biomarcadores apropriados que predigam o risco de sofrimento de doenças a longo prazo. Isso nos dá a chance de interferir ainda na juventude e impedir a doença”, explicou a pesquisadora em entrevista ao Correio.

Complementando essa perspectiva, o endocrinologista membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) João Lindolfo Borges nota que o meio ambiente pode ser decisivo no despertar de doenças predispostas pela epigenética. “Existem mais de 200 genes ligados à obesidade, mas nenhum deles determina que uma pessoa vai desenvolver obesidade mórbida e outras doenças. Há fatores ambientais, genéticos e emocionais que facilitam a ocorrência dos distúrbios alimentares. Então, é importante avaliar as interações com o meio ambiente”, ressalta.

Segundo o médico, quando uma pessoa vive em uma família que tem predileção por comida gordurosa e marcas epigenéticas para a obesidade, o risco da doença aumenta, mas não se trata de uma sentença definitiva. “Se o indivíduo, por outro lado, tem ânimo para praticar exercícios físicos, as chances de adquirir a doença diminuem. O gene não muda da noite para o dia. Com o tempo e o estilo de vida, vêm benefícios ou prejuízos”, conclui.

Se o indivíduo, por outro lado, tem ânimo para praticar exercícios físicos, as chances de adquirir a doença diminuem. O gene não muda da noite para o dia. Com o tempo e o estilo de vida, vêm benefícios ou prejuízos”

João Lindolfo Borges, endocrinologista




PALAVRA DO ESPECIALISTA


Impacto nas gerações

“Doenças surgem devido a múltiplos fatores. Os genéticos são relativamente bem conhecidos, mas não explicam a geração de muitas enfermidades. Também sempre soubemos que o ambiente desempenha grande influência na geração de doenças, e a epigenética veio elucidar os mecanismos moleculares pelos quais o ambiente modifica a expressão gênica. A descoberta de mecanismos epigenéticos que interferem na expressão de nossos genes poderá ser extremamente útil no diagnóstico precoce e na prevenção de doenças — como, por exemplo, a modulação do gene Igfbp2 poderá indicar na infância a predisposição à obesidade e à esteatose hepática. Demonstrou-se experimentalmente no estudo que o estilo de vida (dieta e atividade física) interfere na fisiologia e na predisposição a doenças metabólicas. Além disso, é importante ressaltar que modificações epigenéticas podem ocorrer em células germinativas, podendo afetar gerações futuras. Assim, o alerta serve para todos: um estilo de vida saudável favorece uma vida mais saudável, condição essencial para aqueles que desejam ter filhos. ”

Fabiola Zucchi, neurocientista e pesquisadora em epigenética da Universidade de Brasília (UnB)

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