CLIPPING - 20/06/2016
Assessoria de Comunicação do CRF-SP
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A batalha por medicamentos na Venezuela
19/06/2016 - El País (Brasil)
Sofía, uma menina de sete anos, desenhou-se ao lado de sua família com uma mensagem para sua mãe: “Você vai sobreviver”. As pinturas da filha de Mildred Valero, pregadas em um quarto escuro de sua casa em Caracas, são a recordação de uma promessa a se consumar: vencer o câncer de mama em um país sem remédios.
Os caminhos para abrir um canal humanitário se fecharam na Venezuela. O Supremo Tribunal – controlado pelo Governo – anulou recentemente a lei especial criada para atender a crise de saúde aprovada em 3 de maio pela maioria de oposição no Parlamento por considerar que a norma “usurpa” competências do Executivo em assuntos de relações exteriores.
A postura do Governo de Nicolás Maduro é rígida. Luisana Melo, ministra da Saúde, garantiu que no país se produz 75% dos remédios consumidos pelos venezuelanos. “É uma questão de acesso ou de como os estamos consumindo?”, perguntou-se recentemente em uma entrevista para a Globovisión. Melo questionava as denúncias de uma crise de saúde na Venezuela feitas por diversas ONGs para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O Servicio de Elaboraciones Farmacéuticas (Sefar), um dos mais importantes produtores de medicamentos estatais deste país, fabricou apenas 714.000 unidades de medicamentos, quando a meta era de 20 milhões de unidades no ano passado, por falta de matéria-prima, segundo dados do Ministério da Saúde.
As estantes vazias das farmácias evidenciam uma escassez de medicamentos que supera 85%, segundo cálculos da Federação Farmacêutica da Venezuela. Esta é uma crise anunciada há quatro anos. Em 2012, o país destacou-se na América Latina por fazer o menor investimento de seu Produto Interno Bruto, apenas 4,7%, em saúde, segundo os relatórios do Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos.
Entretanto, muitos dos que não encontram remédios se organizaram ou criaram fundações e associações para consegui-los por conta própria e injetar uma dose de pressão nas autoridades de saúde do país. Ainda não há um registro que contabilize com exatidão o número deste tipo de organizações, mas muitas afirmam terem sido criadas recentemente com este fim.
Para cumprir a promessa feita a sua filha, Mildred e outras três mulheres com câncer de mama fundaram este ano a Associação Civil Conquistando a Vida. “Somos poucos, mas nossa voz é a de milhares”, diz o lema do grupo.
A associação, que reúne mais de 60 mulheres e três crianças com câncer, se organiza para solicitar remédios às autoridades, apelam à solidariedade nas redes sociais e às vezes saem às ruas para se manifestar com cartazes. Em Caracas, há apenas três clínicas com equipamentos em boas condições para fazer radioterapia, afirmam na associação. Mas o panorama pode ser pior no restante do país.
Em abril, Irene Bautista, de nove anos, já acumulava mais de dez viagens acompanhadas de seus pais por várias cidades da Venezuela para procurar fármacos e médicos especialistas que detivessem o avanço de um tumor cancerígeno em seu tronco cerebral. “Somos de San Cristóbal e ali a crise é pior. Quando viajamos para Caracas de carro paramos no caminho para perguntar sobre os remédios nas farmácias, às vezes encontramos alguns e outros não”, disse Derly Durán, mãe da menina, em uma entrevista a este jornal há um mês.
Em San Cristóbal, a capital do Estado de Táchira (no oeste do país), nenhum hospital foi capaz de tratar a menina pela falta de especialistas em neuro-oncologia. O deslocamento para Caracas se intensificou no fim do ano passado porque Irene sofreu uma paralisia quase absoluta de seu corpo. “Não é só a falta de remédio, mas de equipes, alimentos e até de médicos”, lamentava a mãe. A menina faleceu em 30 de maio.
Fernando Bautista, pai de Irene, afirma que das extenuantes viagens pelo país ficaram alguns medicamentos, guardados em um armazém improvisado de sua casa, que doarão a outras pessoas que precisem na Venezuela: “Nós agora lutaremos pela entrada de tratamentos experimentais no país e de remédios”.
DOAÇÕES ESTRANGEIRAS
O futebol não apaixonava María Gonçaves, uma ourives de 41 anos, até que soube que o jogador Dani Alves doou tratamentos a doentes de hepatite C na Bolívia, Brasil e Espanha. A partir de então, acompanha o jogador nas redes sociais para lhe fazer um pedido: enviar medicamentos contra a doença para a Venezuela.
Gonçalves, presidente da associação Hepatitis C de Venezuela, garante que os fãs de Alves responderam o pedido: “Escrevemos para DM do Twitter, mas é preciso que o Governo (de Nicolás Maduro) aceite a ajude para a entrada de remédios no país”. Sem essa exigência, a doação pode ser impedida.
Para a entrada de remédios na Venezuela, é necessária a autorização do Executivo. Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda e ex-candidato à presidência, denunciou que o Governo negou doações de fármacos vindos do exterior em maio.
Enquanto a tensão continua, Gonçalves garante que no país se esgotam os tratamentos antirretrovirais obrigatórios para a cura do vírus. “Por isso, há alguns meses criamos a associação que quer ser um canal imparcial para ajudar os doentes de hepatite C. Não é uma questão de ideologia”, diz.
O abastecimento de remédios foge do controle das fundações. Na Organização Nacional de Transplante da Venezuela, não sabem como ajudar Luis Gerardo Block. Ele necessita de um transplante de rim, mas a cirurgia parece uma quimera no país por não haver doador nem medicamentos suficientes para evitar a rejeição do órgão. “Sei que se conseguir um rim, morro do mesmo jeito”, diz Block. Sua insuficiência renal fê-lo visitar vários hospitais, mas garante que este ano “foram paralisados” os transplantes na Venezuela em função da crise de saúde. María Yanez, nefrologista, corrige, dizendo que há uma redução “importante” do número de transplantes no país. Em maio, a comunidade médica enviou uma carta ao presidente Maduro alertando para a situação de deterioração dos programas de transplante.
A morte já começou a atingir as fundações. Jesús Leonett, um dos membros da Hepatitis C Venezuela, faleceu há alguns dias por não ter acesso aos remédios. Gonçalves, que sofre do vírus e de diabetes insípida, só pode lhe dedicar algumas palavras: “Voa alto, querido amigo, e conte a Deus o que estamos vivendo na Venezuela”.
Remédio: a indústria do alívio da dor
19/06/2016 - Jornal da Cidade (Bauru) Online
O Brasil é o 4º maior mercado de comércio de remédios do mundo. Uma ‘dose’ dessa situação explica-se pela cultura da automedicação. Mas outra parcela significativa da sociedade brasileira alimenta vertiginosamente o faturamento de farmácias no País não necessariamente porque as pessoas estão adoecendo mais. O marketing da poderosa indústria farmacêutica explora com sucesso uma característica singular do brasileiro: “o alívio imediato”.
Ou seja, em Bauru ou em qualquer canto do País os brasileiros demonstram que há exacerbada intolerância em lidar com as alterações naturais do corpo. É a falsa ideia embutida no modismo comportamental de que as pessoas poderiam estar “100%” todos os dias. E a indústria farmacêutica sabe, como ninguém, oferecer o “colo” do consumo, ou a muleta da promessa de alívio imediato para milhões de pessoas atarefadas, angustiadas e estressadas com a já conturbada correria diária. E, então, engolem-se remédios como se fossem balas de açúcar o tempo todo.
E é exatamente esse pragmatismo avesso do comportamento que serve de alerta e, em parte, explica porque estamos no topo dos países que mais consomem remédios no mundo. Para o infectologista, secretário municipal de Saúde e membro da entidade que congrega os gestores públicos de saúde no Brasil, Fernando Casquel Monti, a cultura da intolerância com a dor preocupa.
“O consumo no mercado livre das farmácias é que preocupa. Acho que o questionamento a ser colocado é a de uso de remédios em razão da intolerância do brasileiro, em particular, em lidar com as alterações normais, naturais, biológicas, do corpo. É impossível obter resultado com o marketing do bem-estar 100%. É impossível estar bem o tempo todo”, adverte.
E aqui reside o ponto de reflexão para a compra, indiscriminada ou não, de remédios de venda livre nos balcões e gôndolas de uma infinidade de drogarias na praça. “O brasileiro lida muito mal com o desconforto. As pessoas passam por dissabores, ansiedade, tensão, correria, angústia. E, mesmo que isso tudo não existisse, é normal ter desconfortos ligados a questões pontuais, porque dormiu mal ou comeu algo que não fez bem e uma série de outras consequências que o corpo manifesta. Mas o brasileiro lida muito mal com isso”, reforça Monti.
E a indústria sabe ‘pegar’ o brasileiro pela dor ou pelo amor. “A propaganda televisiva é maciça também com a venda de remédios. E o marketing do alívio imediato está lá todo dia martelando. A cultura do corpo em perfeito estado e do bem-estar está todo dia em nossas casas”, amplia o secretário.
Para Monti, do ponto de vista de análise do comportamento diante da dor, o brasileiro, na média, tende a atender mais facilmente aos apelos de consumo. “Veja o nível de consumo de analgésicos, de descongestionante. O sujeito tem uma gripe e não consegue conviver com o desconforto normal que ela traz. O corpo reage e dá sinais. Aqui ninguém está falando em não ir ao médico ou não tomar medicamento. Mas de alertar que é preciso ter tolerância com o mal-estar”, conclui.
Do ponto de vista da comercialização de remédios controlados, Fernando Monti considera que o País evoluiu. “A última medida mais firme nesse sentido veio com o controle dos antibióticos. A regulação percebeu que o uso de antibióticos chegou a tal ponto que em pouco tempo não teria mais o que usar para combater a bactéria, tal o exagero no uso. E isso se regulou a partir do controle por receita. Mas a venda livre no balcão para os remédios comuns é que preocupa”, posiciona. Do que se distribui, por prescrição médica, nos programas da rede pública de saúde, Monti vê estabilidade e tem avanços significativos e controle melhor, porque passam pelo crivo do médico.
O COMPORTAMENTO
Que fatores psicológicos explicam o uso indiscriminado de medicamentos por parte da população: por modismo, desinformação e automedicação?
Para o especialista em psicologia cognitiva-comportamental Arnaldo Vicente, parte da sociedade está dependente do remédio devido às crenças distorcidas de incapacidade: “-O remédio me deixa 100%; - “sem o remédio não ficarei bem, melhor nem diminuir”; - “só melhorei por causa do remédio”, elenca. Na visão de Vicente, estas crenças maximizam os efeitos dos remédios e minimizam, ou desconsideram, as capacidades pessoais desenvolvidas antes e durante o uso dos medicamentos. “Isso gera ansiedade e aflição nas pessoas que só diminuem quando ingerem os medicamentos, caracterizando a dependência exagerada. Estas crenças são apoiadas na família e na cultura popular, principalmente por falta de informações”, aborda.
De outro lado, o psicólogo também sugere a observação do típico consumidor que tem aversão exagerada aos remédios. “Na contramão desse movimento devemos lembrar que a aversão exagerada ao remédios é ancorada em crenças como: - se tomo, sou fraco; - se tomo não vou mais ser o mesmo; - esses remédios são perigosos e podem matar”, pondera.
Assim, entre um extremo e outro, o psicólogo reflete que “tomar remédios exige que haja uma necessidade pontual e comprovada e sempre prescrito pelo médico, evitando a automedicação e a crença popular”.
Em síntese, é razoável tomar cuidado com o dito: “Se serviu para ele, serve para mim”. Ou seja, o uso responsivo de medicamentos resulta em benefícios e pode salvar vidas. Lembrando que remédios não mudam pensamentos, mas pode contê-los em sua intensidade emocional”, menciona Vicente.
OS MAIS VENDIDOS
A tese de que o brasileiro não sabe lidar ou lida muito mal com a sensação de dor está estampada no ranking dos remédios mais vendidos no Brasil em 2015 sem prescrição médica. Quase metade dos medicamentos no “top 10” do mercado farmacêutico brasileiro é de analgésicos, sendo pesquisa da IMS Health. O primeiro da lista é um descongestionante, cuja eficácia, inclusive, é controversa entre médicos em razão do chamado “efeito rebote” que esse medicamento pode causar nas pessoas.
Os dados de faturamento e vendas “entregam” boa parte do consumidor brasileiro visita farmácia até mais que supermercado e, certamente, mais que feira livre e academia, na média. A lista dos 10 mais vendidos em 2015, na ordem a partir do mais vendido, traz o descongestionante (Neosoro), antidiabético (Glifage Xr), anticoncepcional (Ciclo 21), hipertensivo (Losartana potássica), analgésico (Dorflex), para disfunção erétil (Cit sildenafila), hipotireoidismo (Puran T4), analgésico de uso externo (pele) (Salonpas), analgésico (Dipirona sódica) e analgésico (Torsilax). Os quatro mais vendidos dos campeões de vendas no Brasil são analgésicos. Apenas três são de uso permanente para controle ou de natalidade (anticoncepcional), ou de hipertensão ou contra o diabetes.
‘Pílula do câncer’ falha em mais um teste, o sétimo
18/06/2016 - O Estado de S.Paulo
A fosfoetanolamina, conhecida como “pílula do câncer”, teve mais um resultado negativo na série de testes encomendada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O trabalho, divulgado ontem, mostrou que a substância não é capaz de combater câncer de pâncreas e melanomas nem em alta concentração. O composto também mostrou desempenho desanimador em células de câncer de pulmão.
Feito com fosfoetanolamina produzida pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), trata-se do sétimo estudo com resultados pouco animadores sobre o potencial da substância no tratamento do câncer. O Estado apurou que o resultado foi considerado tão desanimador que, em reunião realizada com o grupo de especialistas no MCTI, foi sugerida até a interrupção dos trabalhos.
A proposta, no entanto, não foi aceita. Parte dos integrantes do grupo considera necessária a realização de outros estudos para indicar se a fosfoetanolamina tem de fato algum tipo de ação no organismo. “Pode haver até uma ação anti-inflamatória ou analgésica. Mas os trabalhos mostram que, para os tipos de câncer avaliados até agora, ela não é eficaz”, afirmou um integrante do comitê, sob condição de anonimato.
Diretor-geral do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo, o oncologista Paulo Hoff afirma que o resultado, por si só, não é suficiente para interromper os estudos. “Temos de construir um prédio, estamos ainda nos alicerces”, avaliou.
SEM MILAGRES
Hoff reconheceu, no entanto, que os resultados até agora reunidos indicam que o produto não é milagroso como alguns pacientes avaliavam ser. “O debate sobre essa substância é ainda muito carregado de emoções. Precisamos dar um passo atrás. E observar que, estudos pré-clínicos, laboratoriais, em animais, apresentam limitações”, completou.
Consultados, Ministério da Saúde e MCTI afirmaram que pesquisas com a “pílula do câncer” vão continuar e os resultados obtidos até o momento são iniciais. O governo federal não é o único a fazer pesquisas. Hoff, por exemplo, deverá conduzir uma avaliação, um misto de exames fase 1 e fase 2, para avaliar o impacto da substância em pacientes com câncer. O trabalho será com um número pequeno de voluntários. “O grupo já está formado”, contou. A pesquisa aguarda apenas a chegada da fosfoetanolamina, sintetizada pelo laboratório PDT Pharma.
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Mercado Aberto: Operação mãos limpas
19/06/2016 - Folha de S.Paulo
A divulgação mais cedo neste ano de casos de gripe H1N1 também antecipou o aumento da produção de álcool em gel, recomendado para a higienização das mãos.
A alta da demanda é diretamente ligada à atenção que a mídia dá aos casos, diz Ari Alcântara, da Abraspea (associação dos produtores). "Se o assunto não tiver destaque no noticiário, as empresas não se animam a produzir mais."
Na Garden Química, houve aumento na procura por insumos usados na fabricação do álcool em gel.
"Nossas vendas cresceram de 400 quilos, em janeiro, para 2 toneladas em abril", calcula José Roberto de Arruda, diretor da companhia.
A Doctor Clean, que confecciona antissépticos para uso pessoal e profissional, viu os pedidos de álcool em gel subirem em abril, mais cedo que em anos anteriores.
"A demanda aumentou muito em 2009 e 2010, quando houve um surto da doença", lembra Fabiana Tichauer, sócia da fabricante."Isso incentivou outras empresas a entrarem no mercado."
Laboratórios caminham para nova rodada de consolidação
20/06/2016 - Valor Econômico
A indústria farmacêutica instalada no Brasil é palco, neste momento, de negociações que podem dar origem a uma nova rodada de consolidação, com maior concentração no segmento de genéricos. Notícias sobre potenciais operações, que podem chegar à casa do bilhão, circularam entre executivos de laboratórios na última semana e envolveram grandes nomes do mercado, entre os quais Medley, Teuto e TheraSkin, todas na ponta vendedora.
Dois dos maiores fabricantes de genéricos, a Medley, da francesa Sanofi, e o Teuto, que tem a americana Pfizer e a família fundadora como acionistas, estão entre as empresas que poderão trocar de mãos, segundo fontes ouvidas pelo Valor. A Medley teria entrado na mira do grupo nacional Cimed, apurou o Valor. Já os acionistas do Teuto teriam contratado bancos para buscar interessados em comprar o ativo, segundo nota da revista "Exame". Essa não é a primeira vez que circulam notícias sobre uma possível venda do laboratório.
Em outro segmento da indústria, o Valor apurou que a TheraSkin, empresa familiar que é líder em prescrição de medicamentos e dermocosméticos por dermatologistas no país, contratou o Credit Suisse para assessorá-la na busca de potenciais compradores. No passado, já houve comentários na indústria sobre uma possível venda da farmacêutica, o que é tratado como especulação pela direção da empresa.
Terceira maior fabricante de genéricos do país, a Medley foi comprada pela Sanofi em 2009, por R$ 1,5 bilhão, e estaria sendo cortejada tanto pela Cimed quanto por outra grande farmacêutica nacional. Procurada, a Sanofi negou que seu negócio de genéricos e similares esteja à venda. "Em relação a especulações de mercado, o grupo Sanofi não confirma que a Medley esteja à venda", informou, em nota. A farmacêutica francesa afirmou ainda que a empresa "ocupa papel fundamental nos planos de negócios" no país.
A Cimed, por sua vez, publicou em seu site uma nota de esclarecimento, informando que "não existe, no momento, negociação oficial" com a Sanofi. "O grupo Cimed, empresa em franco crescimento e no momento estudando possíveis aquisições, reitera sua admiração pela Medley S/A e esclarece que não existe, no momento, negociação oficial entre as partes", informa a nota.
Já o Teuto, que está atrás da Medley no ranking nacional de fabricantes de genéricos (ver gráfico acima), teria sido colocado à venda por seus acionistas. Segundo a revista "Exame", o Goldman Sachs teria sido contratado para coordenar o processo de venda do lado da Pfizer, que tem 40% de participação no laboratório, e o BTG Pactual teria ficado responsável pela assessoria à família Melo, que detém os outros 60%.
No fim de 2010, a farmacêutica americana pagou R$ 400 milhões por 40% do laboratório brasileiro. Por contrato, a Pfizer tem até o ano que vem para fazer uma oferta pelos 60% que ainda não detém no Teuto, por um valor final que depende do desempenho do laboratório. O múltiplo da aquisição foi estabelecido em 14,4 vezes o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), considerado elevado mesmo para os padrões da indústria farmacêutica.
Fontes da indústria afirmam que a chegada da Pfizer ao laboratório de genéricos resultou em melhoria de qualidade e fortalecimento dos negócios. Os sócios, porém, não teriam chegado a pleno acordo sobre a estratégia para a operação e os descontos cada vez mais elevados concedidos pelo Teuto acabaram corroendo as margens.
No ano passado, enquanto a receita líquida do laboratório avançou 8,6%, a R$ 543,5 milhões, o custo dos produtos vendidos saltou 28,6%, para R$ 393,2 milhões. Esse desempenho, associado a despesas financeiras mais altas, resultou em prejuízo líquido de R$ 26,3 milhões, frente a lucro de R$ 28,8 milhões um ano antes, conforme balanço publicado em 11 de maio. Procurados, Pfizer e Teuto informaram que não comentam especulações.
Já no caso da TheraSkin, segundo fontes da indústria, a empresa da família Scaravelli já esteve à venda no passado e o negócio não foi fechado porque não houve consenso quanto ao preço. Dona de produtos que estão entre os mais indicados na área de dermatologia, como Verrux (para o tratamento de verrugas) e Theracne (linha de produtos de tratamento de acne), a empresa teria sido avaliada em mais de R$ 500 milhões, de acordo com uma fonte.
Em resposta a questionamento do Valor, o diretor de Marketing e Vendas, Celso Coelho, disse ainda que "a Theraskin é uma marca brasileira líder no mercado de dermatologia em que atua e está em constante crescimento". "É uma empresa familiar com mais de 60 anos e que distribui seus produtos nas principais redes de farmácia de todo o Brasil. Nós não abrimos dados de faturamento/investimento e informamos que este assunto é uma especulação sem confirmação oficial", disse.
De acordo com uma fonte da indústria, os ativos farmacêuticos no país ainda não estão baratos, porque o mercado segue com bom ritmo de crescimento em plena crise econômica. Mas já não estão tão caros quanto há cinco ou seis anos, quando houve uma rodada importante de compra e venda no setor.
No mercado de genéricos, especificamente, uma nova rodada de concentração já era esperada, uma vez que o segmento tornou-se altamente concorrido, segundo outra fonte. A prática de concessão de descontos elevados e o aumento de custos de produção - pressionados pelo real desvalorizado, que eleva os gastos com insumos importados, e dispêndio maior com mão de obra e energia - comprimiram a margem dessas empresas e tornaram a escala ainda mais relevante nessa área de negócio.
Farmacêuticas recrutam executivos
20/06/2016 - Valor Econômico
Não há sinal de crise para os profissionais do setor farmacêutico. Somente no primeiro trimestre de 2016, o Fesap Group, de recrutamento de executivos, registrou um crescimento de 30% nas demandas para gestores do segmento, ante o mesmo período de 2015. "A procura aumenta em razão da maior profissionalização do mercado e de movimentos de fusão e aquisição que aconteceram nos últimos anos", avalia Taís Cundari, vice-presidente da consultoria.
O surgimento de grandes grupos varejistas, a pesquisa de novos medicamentos e a expansão dos negócios na indústria puxam as contratações. Fabricantes como Roche Farma Brasil, Novartis, Pfizer e Bristol-Myers Squibb têm mais de 40 vagas abertas para gerentes e diretores. Somente no ano passado contrataram 132 candidatos para postos de liderança, segundo informações das empresas.
A Roche Farma Brasil tem cerca de 20 posições disponíveis para cargos gerenciais, em setores como negócios, pesquisa clínica e recursos humanos. No ano passado, do total de colocações abertas para líderes, 51% ficaram com candidatos externos e o restante foi para funcionários da companhia. Foram contratados 42 gestores e cinco novos profissionais vieram de quadros da multinacional no exterior. "Ao mesmo tempo, 'exportamos' 20 executivos, abrindo oportunidades no país para os sucessores", diz a diretora de recursos humanos, Denise Horato.
Com sede na Suíça, a Roche tem 1,3 mil funcionários em São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. No ano passado, faturou R$ 2,6 bilhões no país e anunciou um aporte de R$ 300 milhões na fábrica que mantém no Rio de Janeiro. Com isso, a produção deve crescer cerca de 10% a partir de 2017, e a ideia é transformar o local em um polo de exportação para a América Latina.
Essa arrancada da companhia será vivenciada de perto por Alexandre Augusto Teixeira, gerente de produto oncológico da Roche, admitido no ano passado. Como trabalhava no exterior, o ex-gerente de trade marketing da Johnson & Johnson foi selecionado por meio de entrevistas on-line. "Fiquei sabendo da oportunidade por colegas", diz o executivo, que também deu consultoria de planejamento estratégico, nos Estados Unidos, para startups de biotecnologia voltadas para o tratamento do câncer. "A combinação entre ciências e negócios sempre me fascinou."
Para ele, o profissional da área deve entender as necessidades de médicos, pacientes e hospitais, além de conhecer o mercado público de acesso a medicamentos. "É preciso transformar estratégias complexas em algo simples de ser explicado para a chefia direta e a força de vendas", diz Teixeira. No último ano, ele participou de quatro processos seletivos em paralelo ao da Roche, e ainda recebeu dois convites de trabalho nos Estados Unidos.
Segundo Alexandre Rangel Sabbag, sócio-diretor da Boyden Global Executive Search, assim como a Roche, grupos farmacêuticos de nichos como oncologia, doenças raras e reprodução assistida têm apresentado boas oportunidades para currículos qualificados. "É um mercado ainda longe da saturação, com um avanço tecnológico acelerado", explica. "O profissional que consegue aplicar melhor os recursos das companhias e fazer mais com menos é bastante valorizado."
No ano passado, a Boyden recrutou mais de 15 executivos para o setor. Em 2016, totaliza seis demandas entre gerentes e diretores, com destaque para o setor de OTC (da sigla em inglês "over the counter" ou venda de remédios sem o intermédio de um farmacêutico). A expectativa da consultoria é superar o número de contratações de 2015 ao longo do próximo semestre. As funções mais demandadas são de gerentes e diretores de perfil técnico ou de relacionamento, para atividades de gestão médica e assuntos regulatórios.
Com 2,7 mil funcionários no Brasil, a também suíça Novartis tem dez vagas para líderes nas áreas médica, de marketing, jurídica e de acesso a mercados, segundo a diretora de RH, Valéria Carmignani Barbosa. No ano passado, contratou 47 executivos e, só em 2016, realizou 20 admissões de nível gerencial ou maior.
Os processos de seleção na Novartis começam com uma avaliação do mapa sucessório para encontrar talentos internos. Em seguida, o RH prioriza indicações de funcionários e, para contratações confidenciais ou que requerem maior expertise, recorre às consultorias de recursos humanos. "Os profissionais precisam ser 'plug and play'", diz a diretora. "O foco é contratar pessoas que já têm valores exigidos pela empresa, o que facilita a adaptação e a entrega de resultados."
É o caso de André Abrahão, diretor médico da oncologia da Novartis, contratado em fevereiro. Há 18 anos na indústria farmacêutica, ele é formado em direito e medicina, com pós-graduações em clínica médica, medicina física e neurociências, além de um MBA em administração e marketing. No novo emprego, o ex-diretor da Merck Serono lidera um grupo de 60 integrantes, entre farmacêuticos e biólogos, na pesquisa de soluções para pacientes com câncer.
Segundo o executivo, o maior desafio que os profissionais de saúde enfrentam no setor é saber aplicar a experiência médica e científica no desenvolvimento de novas terapias. "A nossa formação médica é essencialmente assistencialista", diz Abrahão, que recebeu duas propostas de trabalho no ano passado, antes de entrar na Novartis. "Nenhum profissional é treinado para ingressar no mundo corporativo da indústria farmacêutica."
Irene Camargo, diretora de RH da Pfizer Brasil, com um quadro de 2,1 mil funcionários, concorda com o executivo. Para ela, não é fácil para os recrutadores alavancarem contratações para a área médica dos laboratórios. "Há uma oferta menor de profissionais, considerando o número de pessoas que se especializa em medicina farmacêutica", diz.
A companhia realizou 264 contratações em 2015, sendo 31 para cargos de gerência e diretoria. Em 2016, fez mais cinco admissões, sendo quatro gerentes e um diretor. Além disso, houve mais de 100 novos contratos para os times de vendas. Atualmente, há sete vagas para gestores em unidades como produtos e vacinas. "Cada contratação é avaliada a partir das demandas de negócio da empresa", diz.
Em 2015, a Pfizer concluiu o processo de aquisição da americana Hospira, de medicamentos injetáveis. As operações encorpam a unidade de negócios de produtos estabelecidos, segmento da indústria que atua com itens sem proteção de patentes, e que também procura profissionais no Brasil.
Na Bristol-Myers Squibb (BMS), que tem 350 funcionários no país, 23 gerentes e diretores entraram na companhia em 2015, segundo a diretora de RH, Jennifer Wendling. "A expansão foi planejada para que iniciássemos 2016 com equipes prontas para o lançamento de um novo produto de imuno-oncologia", explica. Somente em 2016, já foram 33 contratações, sendo 12 para funções de liderança. Há nove postos vagos para gestores nas áreas médica, de eventos, comercial e relações públicas.
Cerca de 63% dos cargos executivos da BMS são ocupados por mulheres, como a médica Maria Angélica Dimantas, nova diretora de imuno-oncologia, efetivada no ano passado. "O mercado farmacêutico tornou-se atrativo para os médicos por conta da chance de trabalhar com especialistas de outras formações", afirma.
Novos grupos disputam profissionais no país e no exterior
20/06/2016 - Valor Econômico
As contratações no mercado farmacêutico devem continuar aquecidas em 2016, segundo consultorias de recrutamento e empresas do setor. Desde 2011, há um movimento de expansão entre varejistas do segmento, com a criação da Raia Drogasil, a partir da fusão da Droga Raia e da Drogasil, e da DPSP, união das Drogarias Pacheco e São Paulo, além da chegada ao Brasil da americana CVS Caremark, que comprou a Onofre, em 2013. Com a alta na disputa por profissionais, até prêmios em dinheiro são oferecidos por boas indicações de currículos. Recrutamentos fora do Brasil também estão no radar das companhias.
Maria Susana de Souza, vice-presidente de recursos humanos da Raia Drogasil, com 1,2 mil lojas em 17 Estados e mais de 26 mil funcionários, diz que, somente em 2015, foram movimentados cerca de 900 profissionais para postos de comando, entre promoções e contratações externas. "Inauguramos 156 pontos comerciais em 2015", explica.
Com receita bruta de R$ 9,4 bilhões, a companhia adquiriu, no ano passado, o controle acionário da 4Bio, de medicamentos especiais, e aumentou a meta de abertura de lojas de 2016 e 2017, com 165 e 195 unidades, respectivamente. "O executivo que buscamos deve se adaptar rapidamente às mudanças de mercado e ter um bom relacionamento interpessoal. A expectativa é que entregue os resultados esperados, baseado em indicadores e metas."
Para encontrar os melhores profissionais do ramo, a Bristol-Myers Squibb criou um programa de indicações batizado de Free Market. A ação abre oportunidades para promoções internas e recebe das equipes recomendações de nomes do mercado. "No caso de candidatos contratados, quem indicou o novo integrante é remunerado com um prêmio em dinheiro", explica a diretora de RH, Jennifer Wendling. As iniciativas de recrutamento são complementadas por meio de ferramentas digitais, como o LinkedIn, e consultorias.
Taís Cundari, do Fesap Group, afirma que seus recrutadores conduzem atualmente uma busca por um profissional em empresas na Europa. "Em média, o tempo gasto em uma contratação é de três meses, desde a abertura da posição até o candidato aceitar a proposta."
Segundo Alexandre Rangel Sabbag, da Boyden Global Executive Search, os salários do mercado variam de acordo com o nível de senioridade do candidato e o porte da contratante. "Os ganhos mensais de um gerente costumam variar de R$ 16 mil a R$ 28 mil, enquanto um diretor pode receber de R$ 30 mil a R$ 60 mil", afirma.
"As companhias são muito competitivas em benefícios e muitas estão aumentando o peso do salário variável na remuneração total." Mesmo com a recessão econômica, é difícil achar um profissional qualificado sem um crachá. Em geral, um executivo com experiência está empregado e é frequentemente assediado pela concorrência, diz.
Contratada pela Pfizer há nove meses, a diretora de marketing Cristina Viana da Fonseca trabalhou por 18 anos na Johnson & Johnson, onde entrou como estagiária em 1997, até chegar à diretoria para a América Latina da divisão de beleza.
"O conhecimento adquirido no desenvolvimento e na gestão de marcas de consumo foi uma competência importante para ganhar o novo posto", diz a executiva, que lidera um time de 16 pessoas. Desde a chegada de Cristina, sua equipe já recebeu quatro novos contratados - dois no segundo semestre de 2015 e o restante em 2016.
Estudos de neurociência superaram a psicanálise
20/06/2016 - Folha de S.Paulo Online
Com 60 anos de carreira, 22.794 citações em periódicos, 60 premiações e 710 artigos publicados, Ivan Izquierdo, 78,é o neurocientista mais citado e um dos mais respeitados da América Latina. Nascido na Argentina, ele mora no Brasil há 40 anos e foi naturalizado brasileiro em 1981. Hoje coordena o Centro de Memória do Instituto do Cérebro da PUC-RS.
Suas pesquisas ajudaram a entender os diferentes tipos de memória e a desmistificar a ideia de que áreas específicas do cérebro se dedicariam de maneira exclusiva a um tipo de atividade.
Ele falou à Folha durante o Congresso Mundial do Cérebro, Comportamento e Emoções, que aconteceu esta semana, em Buenos Aires. Izquierdo foi o homenageado desta edição do congresso.
Na entrevista, o cientista fala sobre a utilidade de memórias traumáticas, sua descrença em métodos que prometem apagar lembranças e diz que a psicanálise foi superada pelos estudos de neurociência e funciona hoje como mero exercício estético.
É possível apagar memórias?
É possível evitar que uma memória se expresse, isso sim. É normal, é humano, inclusive, evitar a expressão de certas lembranças. A falta de uso de uma determinada memória implica em desuso daquela sinapse, que aos poucos se atrofia.
Fora disso, não dá. Não existe uma técnica para escolher lembranças e então apagá-las, até porque a mesma informação é salva várias vezes no cérebro, por um mecanismo que chamamos de plasticidade. Quando se fala em apagamento de memórias é pirotecnia, são coisas midiáticas e cinematográficas.
O senhor trabalha bastante com memória do medo. Não apagá-las é uma pena ou algo a ser comemorado?
A memória do medo é o que nos mantém vivos. É a que pode ser acessada mais rapidamente e é a mais útil.
Toda vez que você passa por uma situação de ameaça,a informação fundamental que o cérebro precisa guardar é que aquilo é perigoso. As pessoas querem apagar memórias de medo porque muitas vezes são desconfortáveis, mas, se não estivessem ali, nos colocaríamos em situações ruins.
Claro que esse processo causa enorme estresse. Para me locomover numa cidade, meu cérebro aciona inúmeras memórias de medo. Entre tê las e não tê-las, prefiro tê-las, foram elas quem e trouxeram até aqui, mas se pudermos reduzir nossa exposição a riscos, melhor.o problema muitas vezes é o estímulo, não a resposta do medo.
Mas algumas memórias de medo são paralisantes,e podem ser mais arriscadas do que a situação que evitam. Como lidar com elas?
Antes parado do que morto. O cérebro atua para nos preservar,essa é a prioridade. Claro que esse mecanismo é sujeito a falhas. Se entendemos que a resposta a uma memória de medo é exagerada,podemos tentar fazer com que o cérebro ressignifique um estímulo. É possível, por exemplo, expor o paciente repetidas vezes aos estímulos que criaram aquela memória, mas sem o trauma. Isso dissocia a experiência do medo.
Isso não seria parecido com o que Freud tentava fazer com as fobias?
Sim, Freud foi um dos primeiros a usar a extinção no tratamento de fobias, embora ele não acreditasse exatamente em extinção.Com a extinção,a memória continua, não é apagada, mas o trauma não está mais lá.
Mas muitos neurocientistas consideram Freud datado.
Toda teoria envelhece. Freud é uma grande referência, deu contribuições importantes. Mas a psicanálise foi superada pelos estudos em neurociência,é coisa de quando não tínhamos condições de fazer testes, ver o que acontecia no cérebro. Hoje a pessoa vai me falar em inconsciente? onde fica? Sou cientista, não posso acreditar em algo só porque é interessante.
Para mim, a psicanálise hoje é um exercício estético, não um tratamento de saúde. Se a pessoa gosta, tudo bem, não faz mal, mas é uma pena quando alguém que tem um problema real que poderia ser tratado deixa de buscar um tratamento médico achando que psicanálise seria uma alternativa.
E outros tipos de análise que não a freudiana?
Terapia cognitiva, seguramente. Há formas de fazer o sujeito mudar sua resposta a um estímulo.
O senhor veio para o Brasil com a ditadura na Argentina.
Agora, vivemos um processo no Brasil que alguns chamam de golpe, é uma memória em disputa. Oque o senhor acha disso enquanto cientista?
Eu vim por conta de uma ameaça. Não considero um golpe, mas é um processo muito esperto. Mudar uma palavrares significa toda uma memória. Há de fato uma disputa de como essa memória coletiva vai ser construída. A esquerda usa o termo golpe para evocar memórias de medo de um país que já passou por um golpe. Conforme essa palavra é repetida, isso cria um efeito poderoso. Ainda não sabemos como essa memória será consolidada, mas a estratégia é muito esperta.
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Diagnóstico mais preciso para tratamento caro
20/06/2016 - O Globo
Começa a chegar ao Brasil um tipo de exame que promete melhorar o tratamento do câncer. Acena com mais eficácia e menos sofrimento. A chamada biópsia líquida é simples e indolor. Basta uma coleta de sangue convencional. Diferente é a análise molecular sofisticada, capaz de identificar fragmentos de DNA de tumores na corrente sanguínea e indicar sua presença antes mesmo destes se tornarem visíveis em análises convencionais, numa fase em que podem ser bloqueados.
A novidade livra pacientes de procedimentos mais caros e invasivos, as biópsias tradicionais, que demandam internação, participação de vários profissionais e têm riscos. Porém, a biópsia líquida é indicadora de terapias caras, inacessíveis para a esmagadora maioria das pessoas com câncer. O exame informa ao médico que droga pode combater determinada mutação genética ligada ao câncer do paciente. São drogas chamadas de terapias-alvo. Têm menos efeitos colaterais justamente porque são específicas.
A biópsia líquida não substitui a biópsia convencional para o diagnóstico inicial do câncer, explica o geneticista Mariano Zalis, diretor técnico da Progenética e pioneiro na técnica no Brasil. Sua aplicação hoje é no acompanhamento do tratamento e no controle do tumor.
Nas palavras do oncologista clínico Carlos Gil, a biópsia líquida é uma potencial revolução tecnológica, com desdobramentos da terapia quase inexplorados.
— Muda a perspectiva de melhora e sobrevida do paciente. E estamos só no início. Todavia, também é uma caixa de Pandora. O custo do exame em si nem é o ponto principal. A grande questão é que, ao revelar mutações, leva o médico à indicação de drogas específicas, muitas ainda experimentais. Esses remédios são impossíveis de pagar — comenta Gil, coordenador do grupo Neotórax e diretor institucional da Oncologia D’Or. — O Brasil, como os outros países, terá que entrar na discussão. Buscar saídas. Ou teremos um sistema de castas na saúde, em que o câncer será tratável somente para os ricos. Só quem tiver muito dinheiro viverá mais e melhor. Condição financeira não pode ser critério de sobrevida. É um cenário assustador que precisa ser debatido agora.
O médico já viu alguns de seus pacientes se defrontarem com essa situação. Gil é um dos maiores especialistas do país em câncer de pulmão, justamente o único tipo de tumor para o qual a biópsia líquida está disponível no Brasil (existe a expectativa de chegar, em breve, o mesmo exame para outros tumores, como melanoma e cólon). DROGAS CUSTAM MILHARES DE REAIS Um desses pacientes é uma profissional liberal de 42 anos, mãe de filhos pequenos. Ela respondeu bem ao tratamento inicial. Porém, após alguns meses, o tumor começou a apresentar resistência e voltou a crescer. Por a mulher nunca ter fumado, o médico supôs que ela poderia ter uma forma de câncer associada a uma mutação chamada T79M. Essa mutação é agressiva, mas responde bem ao tratamento com uma droga nova, uma terapia-alvo.
Inicialmente, Gil a encaminhou para uma biópsia convencional. A mulher se submeteu à internação e à anestesia para a retirada de mais uma amostra do tumor. O exame, no entanto, não encontrou alterações.
— A paciente ficou desesperada. Ela já havia se submetido a um processo sofrido de biópsia, teve complicações e estava com medo da quimioterapia. Porém, na mesma época a biópsia líquida chegou ao Brasil. E esse exame identificou e analisou fragmentos realmente ínfimos de DNA do tumor. Tivemos sorte, o resultado foi positivo — conta o médico. — Esse caso foi particularmente feliz porque houve tempo de incluir a paciente num programa de doação do medicamento pelo laboratório. E só isso viabilizou o tratamento, pois ela não teria condições de pagar. Essas drogas custam milhares de reais por mês e muitas vezes nem chegam ao Brasil.
Outro paciente, um homem de meia idade, também se beneficiou do mesmo exame. E do tratamento.
— Mas esse caso é diferente. Além de não haver tanto tempo para esperar, se trata de uma família com condições de pagar R$ 75 mil por mês por caixa de remédio. Por tempo indeterminado. Quase ninguém, ninguém mesmo, tem condições de fazer isso. Para mim, como médico, é muito difícil. Por um lado, tenho recursos novos e promissores. Mas corro o risco de dizer a uma pessoa com câncer que o caso dela teria remédio, mas não há dinheiro para pagar porque custa uma fortuna — destaca o médico.
Ele frisa que está mais do que na hora de pensar em meios de democratizar e viabilizar o uso não apenas dessa classe de drogas, mas de outros tratamentos que surgem no horizonte, como as imunoterapias, também extremamente caras.
— Acho que há excessos nos preços, mas não é só isso. Há sempre uma nova droga. Então, é preciso não apenas da negociação de casos isolados, mas de uma política de saúde que reduza os custos e viabilize o acesso. A China tem experiências interessantes nesse sentido. Só recorrer à Justiça para obrigar o SUS ou os planos a pagarem não funciona, porque resolve casos isolados, mas não o problema. Precisamos buscar nosso caminho — afirma Gil.
FUSÃO DE VÁRIAS TÉCNICAS
A biópsia líquida é resultado de décadas de pesquisa sobre a genética do câncer. Ela é uma fusão de técnicas que identificam pedaços muito pequenos de DNA em circulação no sangue. A elas se soma o conhecimento de um número progressivamente maior de mutações associadas a tumores.
— Cada pessoa tem uma forma própria de câncer. Nenhum tumor é igual. A biópsia líquida é capaz de perscrutar essas especificidades. Ela é o avanço mais recente da chamada medicina personalizada. Estudos nos EUA já identificaram mais de 50 tipos de tumores que podem ser analisados dessa forma — explica Mariano Zalis.
A técnica começou a ser usada nos EUA há cerca de um ano e na Europa há seis meses. Hoje, o exame custa, no Rio, cerca de R$ 900 — uma biópsia convencional de pulmão pode chegar a R$ 15 mil, mas tem cobertura. A líquida não é ainda coberta por planos de saúde.
— Essa biópsia é um avanço muito importante, era um sonho antigo dos médicos, um instrumento valioso de acompanhamento. Mas e agora? A tecnologia continua a avançar, mas não as políticas de saúde. O abismo entre a medicina de ponta e o acesso da população a esta aumenta em escala logarítmica. O SUS hoje está cerca de dez anos atrasado em relação ao que existe de moderno no tratamento do câncer. Se nada for feito, esse atraso só vai piorar — alerta Carlos Gil.
Governo estuda antecipar campanha de vacinação contra a gripe em 2017
18/06/2016 - Valor Econômico / Site
Após registrar um aumento de casos de gripe neste ano mais cedo do que período esperado, previsto geralmente para o início do inverno, o Ministério da Saúde estuda antecipar a campanha nacional de vacinação contra a doença em 2017.
Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, a pasta também negocia a possibilidade de ampliar o número de vacinas contra a gripe distribuídas na rede pública.
Neste ano, foram distribuídas 54 milhões de doses para serem aplicadas em grupos considerados mais vulneráveis a complicações da gripe. Esse público-alvo é composto por idosos, crianças de seis meses a cinco anos, gestantes e mulheres que deram à luz há até 45 dias, trabalhadores de saúde, povos indígenas, presos, funcionários do sistema prisional e pessoas com doenças crônicas.
'Vamos rever para o ano que vem o número de vacinas e o início da campanha de vacinação', disse nesta sexta-feira (17) durante uma videoconferência com jornalistas. 'A campanha de vacinação tem uma antecedência ao período de incidência. Sabemos que não adianta vacinar as pessoas após o período adequado', informa.
De acordo com Barros, caso obtenha um maior número de doses para 2017, o ministério deve avaliar a possibilidade de estender a faixa etária para a qual a imunização é destinada. 'Vamos avaliar, ao término da incidência neste ano, quais as faixas etárias mais atingidas', afirmou.
Neste ano, a campanha nacional de vacinação começou no dia 30 de abril e terminou em 20 de maio. Em alguns locais, no entanto, a vacinação iniciou cerca de um mês mais cedo, conforme o recebimento das doses enviadas pelo governo federal. A medida foi tomada como forma de tentar conter o aumento de casos de gripe.
Neste ano, o vírus H1N1 tem respondido por até 85% dos casos no país de síndrome respiratória aguda grave por gripe, registrados a partir da internação do paciente na rede de saúde. Desde janeiro até o dia 6 de junho, foram 5.411 casos graves de gripe -deste, 4.582 pelo vírus H1N1.
Também houve 886 mortes relacionadas o vírus, segundo balanço do Ministério da Saúde divulgado nesta sexta. Entre os Estados, São Paulo responde por metade dos casos, com 402 registros, seguido do Rio Grande do Sul (105) e Paraná (72).
O número de mortes neste ano já supera os registros de todo o ano de 2013, ano em que também houve aumento antecipado nos casos de gripe por H1N1. Naquele ano, foram 768 mortes e 3.728 casos graves de gripe A H1N1.
A quantidade de mortes também é a maior desde 2009, ano em que houve pandemia do vírus. Naquele ano, foram 2.069 mortes no Brasil relacionadas ao vírus H1N1 e 50.482 casos de síndrome aguda respiratória grave, quando há agravamento dos sintomas.
Questionado, o ministro evitou comentar os possíveis fatores que explicam o avanço na epidemia neste ano. Segundo ele, assim como o Brasil, outros países também tiveram um aumento antecipado dos casos de gripe, o que reforça a necessidade de avaliar a antecipação da campanha de vacinação no próximo ano.
Conselho Federal de Medicina diz que Rio não está preparado para Jogos
18/06/2016 - Valor Econômico / Site
Nesta mesma sexta (17) em que o governo do Rio decretou estado de calamidade pública, o Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu uma nota oficial em que manifestou sua preocupação com a capacidade da rede pública de saúde da cidade durante os Jogos Olímpicos.
O CFM lembra que a rede pública do Rio já está sobrecarregada e que a chegada de estimados 800 mil turistas vai agravar o cenário de falhas de atendimento médico.
"Os dados de fiscalização do Cremerj [conselho regional] indicam déficit de leitos na rede, falta de profissionais da saúde, baixo estoque de sangue e hemoderivados e precariedade no acesso a insumos e medicamentos nas unidades públicas", diz o texto.
"Também não se conhece a existência de plano de contingência para atendimento da população e de turistas que inclua estratégias para remoção rápida de casos graves."
A partir das constatações, o CFM "alerta as autoridades e organizadores para que tomem providências a fim de evitar que o megaevento esportivo comprometa ainda mais as dificuldades de acesso à assistência à população local".
LEIA ABAIXO A NOTA NA ÍNTEGRA:
“Diante da proximidade dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro, o Conselho Federal de Medicina (CFM) vem a público manifestar sua preocupação com os preparativos implementados pelas autoridades para garantir o funcionamento adequado dos serviços de saúde na rede pública, em especial os de urgência e emergência.
Conforme tem alertado o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), a estrutura médico-hospitalar da capital fluminense se encontra com sérios problemas. Neste cenário, a realização deste megaevento esportivo deve comprometer ainda mais as dificuldades de acesso a assistência pela população local, devido a sobrecarga causada com a estimativa de passagem pela cidade de 800 mil turistas durante os dias de competições.
Os dados de fiscalização do Cremerj indicam déficit de leitos na rede, falta de profissionais da saúde, baixo estoque de sangue e hemoderivados e precariedade no acesso a insumos e medicamentos nas unidades públicas. Também não se conhece a existência de plano de contingência para atendimento da população e de turistas que inclua estratégias para remoção rápida de casos graves.
Além disso, o Comitê Organizador Rio 2016, que garantiu a contratação de 146 ambulâncias e de quase mil profissionais para atuar nos Jogos, não deu mais informações sobre o nível de qualificação e treinamento das equipes. Tudo isso gera intranquilidade e coloca o Rio de Janeiro em situação de risco, num momento em que a atenção de todo o mundo estará direcionada para o Brasil.
Assim, o CFM alerta ao Governo, em suas três esferas de gestão, e aos organizadores dos Jogos para a necessidade de tomarem providências que evitem os problemas que possam surgir. Portanto, é relevante ter transparência e diálogo com a sociedade. As entidades médicas se colocam à disposição para contribuir neste esforço, em defesa da saúde e da vida dos turistas e da população.
OMS pede US$ 122 milhões para combater vírus zika
17/06/2016 - Valor Econômico / Site
A Organização Mundial da Saude (OMS) pede US$ 121,9 milhões à comunidade internacional para implementar a estratégia contra a epidemia do vírus zika pelos próximos 18 meses.
Na primeira demanda feita em fevereiro, a OMS recebeu apenas US$ 4 milhões, ou 20% do necessário na ocasião, segundo um porta-voz da entidade. Até agora, 60 países reconheceram sofrer com o vírus. No Brasil, cerca de 1,5 milhão de pessoas foram infectadas.
OLIMPÍADA
Esta semana, um comitê de emergência da OMS considerou muito baixo o risco de proliferação maior do vírus como resultado dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos no Brasil.
Os Jogos, que começam no dia 5 de agosto, podem atrair 500 mil turistas e 10 mil atletas para o Rio.
Para a OMS, os Jogos serão realizados durante o período de inverno no Brasil, quando a intensidade de transmissão de vírus que provocam dengue e zika será mínima. Alím disso, a intensificação de medidas de controle deverá reduzir o risco de transmissão.
4 em cada 10 demoram para tratar câncer
18/06/2016 - Folha de S.Paulo
O nódulo no seio direito apareceu em um exame de rotina em janeiro. Desconfiada, Adriana (nome fictício)resolveu pagar do próprio bolso a biópsia pedida pelo médico, para acelerar seu diagnóstico.
O resultado a levou para um hospital público especializado.
Estava com câncer de mama. O tumor poderia ser retirado em cirurgia, ouviu.
Cinco meses depois do diagnóstico, ela não sabe quando fará esse procedimento e descobriu um novo nódulo, embaixo do braço. “Apareceu também no seio esquerdo.
Está crescendo rápido.” Apesar de existir uma lei que prevê que todos os casos de câncer tenham direito a tratamento em até 60 dias depois do diagnóstico, quatro em cada dez casos registrados em um sistema do governo federal esperam mais tempo para receber atendimento.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, dos 27.248 casos com data de tratamento registrada no Siscan (Sistema Nacional de Câncer), só 57% tiveram atendimento em até 60 dias. Outros 43% iniciaram tratamento depois desse prazo —a maioria após 90 dias ou mais.
A espera desses pacientes mostra que, três anos após entrar em vigor, a lei 12.732, sancionada em 2012 e chamada de “lei dos 60 dias”, ainda não é cumprida no país.
Para oncologistas, a demora pode agravar a situação do paciente. O impacto depende do estágio e de cada tipo de câncer. Em caso de linfomas mais agressivos, a espera pode ser fatal, diz Rafael Kaliks, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Sessenta dias já não é o ideal, porque existem vários tipos de câncer. E também do ponto de vista psicológico.
Imagina esperar dois meses para começar a tratar”.
Ele lembra que, no Reino Unido, o limite é de 30 dias a partir do diagnóstico.
Gustavo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, diz que a ideia de ter um limite é importante, mas faz ressalvas.
“Há pacientes que podem esperar até 90 dias. Outros, nem 15. Não pode ser uma regra única.”
GARGALOS
Antes de tratar, pacientes enfrentam outro gargalo: a espera por diagnóstico. “A doença não passa a existir só quando a pessoa tem o papel na mão”, diz Fernandes.
“Temos pacientes esperando há mais de dois anos por exames. Isso não é contabilizado”, diz o advogado Alber Sena, da Abrale (associação de linfoma e leucemia).
É o que ocorre com o auxiliar-administrativo Camilo Oliveira, 25, que mora em São Paulo. Em agosto de 2015, descobriu um nódulo na região cervical. Atendido por um clínico-geral, foi encaminhado para exames e especialistas.
Em meio à dificuldade para agendar o serviço e novas consultas, ele ainda não tem uma resposta.
Para Rafael Kaliks, ao mesmo tempo em que a lei foi benéfica ao alertar para a necessidade de tratamento rápido, faltou planejamento para que o prazo pudesse, de fato, ser cumprido pelas instituições.
Segundo ele, a situação faz com que muitos hospitais optem por atender um número limitado de pacientes para continuar dentro do prazo.
“Se fecham a porta de entrada, não começa a contar o relógio de 60 dias”, afirma.
Para Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, que representa pacientes, a lei foi um “grito de socorro”.
“O problema é que não veio com mais recursos. Tivemos a lei, mas não se parou para corrigir as barreiras.”
Paciente com câncer fica invisível em sistema
18/06/2016 - Folha de S.Paulo
Ao mesmo tempo em que parte dos dados do Ministério da Saúde aponta um período longo de espera até o atendimento, há casos de pacientes com câncer que ainda permanecem sem resposta ou estão “invisíveis” nas estatísticas.
Dados obtidos pela Folha a partir dos registros do Siscan (Sistema Nacional de Câncer) apontam que, além dos 27.248 casos de câncer com data de início de atendimento registrada no sistema, há outros 31.046 cadastrados, mas sem essas informações.
A ausência desses dados faz com que não seja possível saber, comisso, quantos destes casos, embora tenham sido diagnosticados, ainda esperam para o tratamento.
Ou, ainda, se há entre eles casos já em acompanhamento —mas cuja data de início da quimioterapia, radioterapia ou cirurgia deixou de ser informada pelos hospitais.
ESTIMATIVA
Há ainda outro impasse que permeia os registros. Estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer) aponta que, apenas neste ano, o Brasil terá cerca de 596 mil novos casos de câncer.
Ou seja: isso representa cerca de dez vezes o registrado no Siscan —58 mil, quando somados aqueles com data de início de tratamento e os demais sem informações.
“Há muito menos pacientes do que deveria ser registrado”, diz Gustavo Fernandes, da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).
Sem os dados, não há como ter um panorama completo dos registros de câncer no país, afirmam especialistas e associações de pacientes.
Segundo Ana Lúcia Gomes, coordenadora de relações institucionais da Femama (Federação de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama), a falta de informações dificulta o controle dos atendimentos.
“A criação da lei é benéfica. Mas até hoje não conseguimos saber se foi de fato implementada”, diz. “Só pelas informações falhas, já sabemos que ela não funciona.” Ela cita uma pesquisa feita pela Femama em 2014 com 54 secretarias de saúde, órgãos reguladores e centros de assistência. Metade já tinha enfrentado falhas no funcionamento do sistema.
Entre os impasses alegados à época estavam a ausência de treinamento de profissionais e falta de acesso à internet nas unidades de saúde do interior do país, o que inviabilizava os registros.
Nos bastidores, técnicos do Ministério da Saúde admitem que ainda há dificuldades.
A avaliação é que, embora o número de municípios com acesso ao sistema tenha crescido (atualmente são 4.867), existem impasses para ele ser implementado em todos os serviços vinculados a este tipo de atendimento na rede de saúde.
Ministério diz tentar agilizar atendimento.
18/06/2016 - Folha de S.Paulo
O Ministério da Saúde afirma reconhecer a importância da lei dos 60 dias e diz que tem ampliado os serviços de diagnóstico e tratamento junto aos gestores de Estados e municípios para “dar maior agilidade ao atendimento”.
O ministério diz ainda que o Siscan está em fase final de implementação e que os ajustes e aprimoramentos em curso no sistema “não prejudicam o ritmo de atendimento e tratamento de câncer no SUS”.
“Prova disso é que, em cinco anos, houve um aumento de 34% no número de pessoas com câncer atendidas no SUS, ampliado de 292,9 mil em 2010 para 393 mil em 2015”, afirma a pasta.
Segundo o ministério, nesse período, o número de procedimentos de tratamento (radioterapia, quimioterapia e cirurgia oncológica) e de prevenção cresceu 9%.
“O Ministério da Saúde reconhece que, ainda que muitos avanços já tenham sido atingidos, há ainda muito mais a avançar tendo em vista os desafios impostos a um país com dimensões continentais, como é o caso do Brasil”, afirma a nota.
A pasta acrescenta ser prioridade “o aprimoramento da gestão para a maior eficiência e qualidade do serviço”.
Ainda segundo o ministério, os recursos para tratamentos oncológicos cresceram 68% entre 2010 e 2015 — de cerca de R$ 2,1 bilhões para R$ 3,5 bilhões.
Mercado Aberto: Hospitais se preparam para receber recurso estrangeiro
20/06/2016 - Folha de S.Paulo
Hospitais privados do país têm tomado medidas para profissionalizar seus negócios e torná-los mais atrativos a investidores estrangeiros.
Entre as iniciativas estão mudanças de gestão, busca por certificação internacional, auditoria externa e estímulo a políticas de compliance.
O setor passa hoje por um processo de consolidação semelhante ao vivido pelo mercado de educação nos últimos anos, afirmam analistas.
"Muitos hospitais, principalmente os pequenos e médios, estão se estruturando. É claro que a possibilidade de aportes vindos do exterior tem um peso grande nesse movimento", diz Thiago Sandim, sócio do Demarest.
A entrada de capital estrangeiro em hospitais foi liberada em janeiro de 2015.
A consolidação do setor só não ocorreu na velocidade esperada pois a abertura veio em um momento de desaceleração da economia, analisa Marcos Boscolo, sócio da KPMG.
Além disso, entraves como gestões pouco profissionalizadas e fragilidade de contratos trabalhistas têm dificultado negociações, afirma Francisco Balestrin, presidente da Anahp, associação que reúne hospitais privados.
São essas barreiras que as empresas do setor hoje buscam resolver. "Grande parte dos hospitais ainda não tem estrutura de governança nem auditoria, mas o interesse em fazer mudanças internas tem crescido muito", diz Boscolo.
Ministro da Saúde diz que alimentos devem indicar quantidade de açúcar nos rótulos
20/06/2016 - Folha de S.Paulo
O Ministro da Saúde, Ricardo Barros, pediu a países do Mercosul que priorizem a resolução que determina que os rótulos de alimentos comercializados no bloco tragam informações claras sobre a quantidade exata de substâncias que podem fazer mal ao corpo, como o açúcar.
SAUDÁVEL
A maioria das embalagens não discrimina o açúcar, que vem junto com a quantidade de carboidratos. Não há data prevista para que o acordo seja colocado em prática. "Cada país discutirá a questão internamente, mas acredito que não demore", diz o ministro.
SAUDÁVEL 2
Ricardo Barros ainda acha que a resolução facilitaria um acordo com a indústria alimentícia brasileira para a redução da substância nos alimentos processados. A ideia é que a mudança siga a mesma trajetória da redução de sódio, que motivou a retirada de mais de 7.000 toneladas de sal dos produtos mais consumidos pelos brasileiros.
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