Processos quintuplicaram no Estado em 5 anos
04/06/2016 - O Estado de S.Paulo
Em cinco anos, o número de ações judiciais contra planos de saúde quintuplicou em São Paulo, segundo o estudo da FMUSP. Ao levantar todos os processos contra operadoras no Estado, os pesquisadores verificaram que o número de ações julgadas em segunda instância passou de 2.294, em 2010, para 11.480 em 2015, alta de 400%. A alta foi muito superior ao índice de crescimento de clientes de planos de saúde no Estado. No mesmo período, passou de 17,3 milhões para 18,3 milhões o número de beneficiários, avanço de 5%.
Coordenador do estudo, o professor da FMUSP Mário Scheffer afirma que o excesso de processos contra planos mostra a fragilidade do sistema de saúde privado no respeito aos direitos do consumidor. “É um sinal de continuidade de práticas abusivas por parte das empresas.” Para o especialista, deveria haver um diálogo maior entre a Agência Nacional de Saúde Suplementar e o Judiciário. “Seria importante aprimorar a atividade regulatória ao aproximá-la um pouco da interpretação da Justiça. Se a maioria das decisões dá ganho de causa para o consumidor, a ANS tem de estar atenta a isso”, afirma.
Sobre o excesso de ações, principalmente entre idosos, a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) diz que aguardará a publicação do estudo para entender a metodologia e diz que os beneficiários maiores de 59 anos fazem mais 40,1% de consultas, 76,8% de exames, 96,7% de internações e 110,1% de terapias do que as demais faixas etárias.
Decisões judiciais elevam custo de cirurgias e congestionam UTIs
05/06/2016 - Folha de S.Paulo
Os gestores públicos se queixam de que a crescente judicialização atrapalha o planejamento das políticas.
Segundo Humberto Fonseca, secretário de Estado da Saúde do Distrito Federal, o preço de produtos tende a ficar, por exemplo, mais alto.
Uma prótese que normalmente é comprada a R$ 20 mil pode chegar a R$ 80 mil para atender à urgência da demanda judicial.
"Isso prejudica todo o nosso planejamento em saúde. Para fazer cumprir esses mandatos, deixamos de atender outras prioridades", diz.
No Distrito Federal, em 2015, a Secretaria de Saúde recebeu 1.711 mandados judiciais para vaga em leito de terapia intensiva e 824 para cirurgias e outros procedimentos. Segundo Fonseca, na maioria dos casos de cirurgias judicializadas, não há risco iminente de morte.
No Estado de São Paulo, entre as demandas atendidas por força da lei, há desde cirurgias cardíacas e de redução de estômago a decisões (quatro no total) que determinam a inscrição de pacientes na lista de transplantes sem a avaliação de equipe médica especializada, o que fere uma política nacional em vigor há 20 anos.
Em relação às cirurgias cardíacas infantis, por exemplo, há hoje 2.500 crianças na fila de espera –metade de outros Estados. Os serviços de saúde do Estado têm condições de atender 1.250 por ano.
"É uma cirurgia complexa, não há cirurgiões-cardiologistas infantis suficientes e são poucos os hospitais que oferecem", diz David Uip, secretário de Saúde.
Segundo ele, a forma como as liminares são cumpridas pode trazer mais prejuízos do que benefícios: "Não sabemos se a criança tem realmente indicação para a cirurgia naquele momento, se a transferência de um hospital para o outro não aumenta o risco de morte".
Superbactérias
04/06/2016 - Folha de S.Paulo
Há décadas infectologistas alertam para o risco representado pelas bactérias resistentes a antibióticos. Algumas delas já são problema grave em UTIs do mundo inteiro.
A OMS estima que os supermicróbios (vírus, fungos e protozoários também desenvolvem imunidade) respondam por vários milhões de mortes anuais. E o viés é de alta.
Para piorar o problema, cientistas norte-americanos acabam de identificar um caso de E. coli insuscetível à colistina numa mulher que padecia de infecção urinária.
Não se trata de apenas mais um caso ordinário. Os pesquisadores constataram que o gene que confere resistência à colistina (antibiótico conhecido como polimixina E) não estava localizado no DNA cromossômico, como de costume, mas num plasmídeo —pequena molécula circular de DNA que fica largada no interior da célula.
Pode parecer mero detalhe técnico, mas faz toda a diferença. Plasmídeos se reproduzem independentemente do DNA cromossômico —e bactérias trocam plasmídeos umas com as outras.
Isso faz com que seja questão de tempo até que o gene da resistência se dissemine pelas populações de bactérias.
A colistina já é uma espécie de droga de último recurso. Embora tenha sido desenvolvida em 1949, ficou muito tempo sem ser utilizada por humanos, pois afetam os rins. À medida, porém, que as bactérias foram aprendendo a evitar antibióticos mais comuns, ela voltou a ser usada em casos especiais.
Como esse remédio nunca deixou de ser empregado na veterinária, o mais provável é que o gene da resistência tenha se desenvolvido entre animais e, depois, atravessou a barreira das espécies.
As medidas para tentar conter a proliferação de superbactérias são conhecidas, mas nem por isso de fácil implementação. A mais óbvia é a utilização judiciosa de antibióticos, evitando principalmente seu uso para finalidades não médicas, como acelerar o crescimento dos rebanhos animais.
O ideal seria aprovar tratados internacionais a fim de disciplinar o uso desses fármacos e reservar alguns para situações extremas, segundo protocolos bem definidos.
Governos também deveriam investir mais na pesquisa de novas classes de antibióticos —as indústrias privadas se desinteressaram desse filão que, embora vital, não proporciona grandes lucros.
O lamentável, porém, é que essas medidas dificilmente avançarão sem que recebam o nefasto impulso de uma grande crise sanitária.
Sites de buscas ajudam a mapear doenças
04/06/2016 - Folha de S.Paulo
Toda vez que uma pessoa faz uma pesquisa na internet, acessa um site de rede social, ou simplesmente usa seu celular, uma ou mais informações eletrônicas são geradas.
Essa avalanche de dados faz muita gente temer pela sua privacidade; "Big Brother", o "Grande Irmão" criado pelo escritor inglês George Orwell no romance "1984", "está de olho em você".
Mas há um lado positivo no uso xereta desses "grandes dados" ("big data") que se tornou uma nova linha de pesquisa em saúde pública: a epidemiologia digital, o uso de informações eletrônicas para mapear surtos e epidemias de doenças infecciosas, ou mesmo ajudar a diagnosticá-las e tratá-las.
Três exemplos vêm de estudos bem recentes sobre Aids, cólera e catapora, três doenças infecciosas com modos de transmissão distintos, mas que deixam pistas eletrônicas se o cientista-detetive achar um método para identificá-las.
Um estudo com dados do site Google Trends permitiu descobrir o número de pessoas interessadas em informações sobre catapora. Dados de 11 anos de pesquisas de 36 países, incluindo o Brasil, se correlacionaram com o aumento de casos regionais e sazonais da doença.
"Estudos de transmissão de doenças a nível global e o sucesso das intervenções são limitados pela disponibilidade de dados. Vigilância da doença é um grande obstáculo no esforço global para melhorar a saúde pública e é dificultada pela subnotificação e barreiras linguísticas", escreveram os autores na revista científica "PNAS".
Para eles, a "epidemiologia digital" é um instrumento de fácil acesso que pode ser usado para complementar a vigilância tradicional de doenças. "E pode ser a única fonte de dados prontamente disponível para o estudo de doenças de transmissão sazonal não notificáveis em certos casos", adicionam.
A tecnologia também pode ajudar a prever fluxos de pessoas e o espalhamento de cólera (doença causada por uma bactéria e transmitida pelo contato com água ou comida contaminadas). A conclusão é de estudo feito no Senegal, país da África Ocidental onde uma peregrinação religiosa faz muitas pessoas de repente conviverem em locais de péssima higiene.
Pesquisadores conseguiram estimar os fluxos diários da população em 2013, que foram incorporados em um modelo do surto de cólera local em 2005. Com isso, foi possível demonstrar como depois do auge do surto os peregrinos espalharam a doença pelo país.
Já o estudo sobre Aids, publicado na revista "Sexually Transmitted Infections", envolveu a participação de homossexuais que visitam sites de relacionamento e páginas no Facebook de revistas gays.
Os sites incluíram links para questionários sobre comportamento sexual e a opção de pedir anonimamente um kit de detecção do vírus causador da doença.
A princípio se usou apenas um kit de detecção por fluido oral, depois por sangue. O estudo se focou primeiro em Londres e depois foi estendido ao resto do Reino Unido.
Resumindo: a abordagem conseguiu levar a novos diagnósticos de pessoas infectadas. Ainda que só uma parte tenha requisitado o teste (cerca de 10 mil de 66 mil usuários), a ação foi considerada positiva pelos pesquisadores, levando-se em conta que muitos gays não fazem o teste por preocupações com privacidade, estigma ou o simples medo de agulhas.
Quimioterapia ‘expressa’ é melhor em tumor de ovário
04/06/2016 - Folha de S.Paulo
O tratamento de câncer de ovário pode sofrer uma importe mudança em um futuro próximo, sugere um novo estudo. A ideia dos cientistas é usar a via intraperitoneal para reforçar a ação da quimioterapia.
O peritônio é a membrana que envolve os órgãos e vísceras do abdome –uma injeção intraperitonial significa uma entrega "expressa" da droga, sem ter de passar antes pela corrente sanguínea.
Pesquisadores do Canadá, Reino Unido e EUA viram que ao diversificar a abordagem e aplicar um quimioterápico dessa maneira, além da via intravenosa, pacientes tiveram maior grau de sucesso em um protocolo de tratamento de câncer de ovário em estágio avançado.
No caso, o tratamento final era cirúrgico e a quimioterapia precedia a operação. Nas pacientes que só se valeram do tratamento intravenoso –tratamento-padrão até então–, 42,2% tiveram um avanço da doença nove meses após a cirurgia.
Entre as que combinaram tanto a forma tradicional de aplicação do medicamento (intravenosa) com a intraperitonial, só 23,3% tiveram progressão da doença.
Os resultados foram apresentados na tarde desta quinta (3), no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco).
A explicação para o sucesso da combinação intravenosa-intraperitonial seria a possibilidade de uma quantidade maior da droga chegar ao tumor e aniquilá-lo, como se dois exércitos cercassem um acampamento inimigo.
"Mesmo sem o poder estatístico para avaliar a sobrevivência, nosso estudo informa como incorporar o tratamento quimioterápico intraperitonial por mulheres com câncer de ovário seguida por cirurgia", diz Helen Mackay, médica do Sunnybrook Odette Cancer Centre em Toronto, Canadá, e líder da pesquisa.
O índice de efeitos colaterais foi semelhante e não houve indício de maior toxicidade no grupo de terapia combinada.
Participaram da pesquisa 275 mulheres com idade média de 62 anos, que foram acompanhadas entre 2009 e 2015. O estudo é de fase 2, ou seja, ainda não é conclusivo ao ponto de ser capaz de recomendar a abordagem atual de tratamento, mas a ideia, segundo Mackay, é compor um cenário, junto com outros estudos semelhantes, de novas possibilidades de abordagem no tratamento de casos avançados de câncer.
Ainda é prudente que médicos e pacientes contenham qualquer empolgação. Um outro estudo com 1.560 pacientes que avaliou o efeito da quimioterapia intraperitonial (com outra droga, bevacizumab, vale frisar) não viu qualquer ganho em pacientes com cânceres de ovário, de peritônio ou de tuba uterina, lembra o oncologista clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e do Centro Paulista de Oncologia Jacques Tabacof. Todos os grupos sofreram com a alta toxicidade do tratamento.
"Alguns estudos mostram benefícios, mas, em outros, poucas pessoas conseguiram completar o tratamento. Como esse novo estudo atual foi feito com poucas pacientes, temos de ter cautela ao extrapolar", diz Tabacof. "É uma quimioterapia que dói, feita com um cateter que entra na barriga. Tem mulheres que não toleram. A distribuição da droga nem sempre é tão homogênea quanto gostaríamos. A vantagem seria a de dar um 'banho' nas células, valendo-se da proximidade com o tumor, mas é ainda um tema controverso."
No mundo, estima-se que anualmente surjam 239 mil casos de câncer de ovário. No país, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), há 6 mil casos anuais, e cerca de metade deles resulta em mortes.
A ausência de sintomas específicos dificulta o diagnóstico, que, quando chega, geralmente é tardio.
Zika e sexo oral
05/06/2016 - O Estado de S.Paulo
O relato de um possível caso de zika transmitido por sexo oral pegou pesquisadores de surpresa na semana passada. Um homem de 46 anos, que esteve no Rio e apresentou febre, dor de cabeça e manchas na pele antes de voltar para a França, pode ter infectado sua parceira, que não havia deixado aquele país.
Segundo os especialistas, em carta publicada no periódico New England Journal of Medicine, uma mulher de 24 anos teria desenvolvido sintomas da doença dez dias após seu namorado ter voltado do Brasil. Os dois fizeram sexo vaginal sete vezes no período, mas o homem só teria ejaculado no sexo oral – o casal estava evitando uma gestação.
A mulher nunca viajou para países em que há ameaça de zika por picadas de mosquito e não recebeu transfusão de sangue, duas das formas possíveis de transmissão. Depois de ela ficar doente, os dois foram testados e o resultado deu positivo. Na mulher, o vírus foi encontrado na urina e na saliva, mas não na vagina. No homem, o vírus apareceu no sêmen e na saliva. A transmissão sexual, embora mais incomum, passou a ganhar destaque nos últimos meses, com casos registrados em pelo menos dez países em que não há presença do Aedes aegypti.
Segundo o artigo divulgado pelo jornal Daily Mail, para os cientistas do Instituto Francês de Saúde e Pesquisa Médica, apesar de a maior suspeita recair sobre o sêmen no contato oral, não é possível descartar totalmente a hipótese de o vírus ter sido transmitido pelos líquidos pré-ejaculatórios (eliminados pelo pênis durante o sexo vaginal) ou até mesmo pela saliva.
No mês passado, especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) já haviam alertado que a transmissão sexual do zika era mais comum do que se pensava. Eles agora recomendam que mulheres que pretendem engravidar devem evitar sexo ou usar camisinha por ao menos oito semanas, após seus parceiros voltarem de áreas em que existe a doença. A recomendação anterior era que esse período fosse de quatro semanas. A mudança aconteceu depois que pesquisadores encontraram o vírus no sangue e em outros fluidos corporais por um tempo mais longo.
Se o homem tiver apresentado sintomas típicos de zika após visitar áreas em que há a doença, a recomendação de cuidados no sexo para o casal que quer engravidar se estende para seis meses. A transmissão pelo beijo continua pouco evidente, apesar de o vírus ter sido isolado na saliva. Dessa forma, cuidados que se aplicam para uma série de doenças transmitidas pelo sexo (DSTs) também poderiam ser usados, pelo menos temporariamente, para evitar zika, até mesmo a proteção no sexo oral.
BOAS NOTÍCIAS
Por falar em DSTs, a Unaids, programa da ONU para a aids, divulgou relatório na semana passada em que aponta uma queda de 26% no número de mortes pela doença nos últimos cinco anos, em função da expansão do tratamento, principalmente na África. Apesar do avanço, mais da metade das pessoas infectadas pelo HIV continua sem acesso aos antirretrovirais. A redução das mortes foi mais importante entre as mulheres, uma vez que os homens tendem a iniciar o uso dos medicamentos mais tarde.
O número de novas infecções não variou significativamente entre 2010 e 2015, o que mostra a importância da testagem, de programas educativos, de maior uso de preservativos, de acesso aos tratamento para “zerar” a carga viral (o que reduz muito a chance de transmissão), além de estratégias como profilaxias pré e pós-exposição.
Outra pesquisa da semana passada, feita pela Universidade British Columbia, no Canadá, publicada na revista Aids Care, mostra que homens que fazem sexo com homens e que moram em cidades pequenas tendem a fazer menos testes de HIV, provavelmente pelo medo de se expor para os profissionais de saúde. Nesse sentido, o acesso a testes rápidos, feitos a distância ou comprados em farmácias, pode fazer a diferença.
Após câncer, usuárias de talco processam J&J
05/06/2016 - Folha de S.Paulo
Deane Berg achou que iria morrer, e queria saber o motivo. Ela tinha 49 anos, jovem demais para ter um câncer avançado nos ovários, pensou.
Vasculhando sites que listavam possíveis causas do câncer de ovário, uma delas chamou sua atenção: o talco. Ela não tinha fatores de risco como infertilidade ou endometriose, mas havia polvilhado talco entre as pernas diariamente ao longo de 30 anos.
“Fui ao banheiro, peguei meu talco Johnson e o atirei na lixeira”, conta Berg, profissional de saúde que vive em Sioux Falls (Dakota doSul) e hoje tem 59 anos. “Eu disse: ‘O que mais poderia ser?’.” Berg foi a primeira de milhares de vítimas do câncer de ovário que processaram a Johnson & Johnson, citando os muitos estudos que associam o talco ao câncer. Essas pesquisas remontam a 1971,quando cientistas encontraram partículas de talco incrustadas em tumores de ovário e colo do útero.
Segundo um recente trabalho com mulheres afro-americanas, o uso de talco na região genital está associado a um aumento de 44% no risco de desenvolver um invasivo câncer epitelial de ovário.
A Johnson & Johnson diz que seu talco é seguro e planeja recorrer de duas indenizações multimilionárias ordenadas pela Justiça.
Em 2006, a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer classificou o pó de talco, quando usado na área genital feminina, como um possível agente carcinogênico humano. “Não há como sabermos ao certo se uma exposição necessariamente tem relação causal com uma doença”, disse Shelley Tworoger, professora de medicina e epidemiologia do Hospital Brigham and Women e da Universidade Harvard. O máximo que podemos fazer, segundo Tworoger, “é examinar a preponderância dos indícios”.
O talco é um mineral argiloso composto de magnésio e silício. Costuma ser extraído perto do amianto, um conhecido agente cancerígeno. Muitas mulheres usam talco entre as coxas para evitar assaduras, outras o polvilham no períneo, em absorventes e na calcinha para manterem a região genital seca e “fresca”.
Em 1982, um professor de Harvard chamado Daniel Cramer e seus colegas compararam 215 mulheres com câncer do ovário e 215 mulheres saudáveis, que compunham um grupo de controle.
Em comparação com as não usuárias, as mulheres que usavam talco em pó tinham quase o dobro de propensão ao câncer ovariano, e o risco mais do que triplicava entre as que usavam regularmente o produto na região genital e nos absorventes.
Pelo menos dez estudos subsequentes confirmaram esses resultados. Um pequeno número de pesquisas, por outro lado, não apontou nenhum risco agravado para as usuárias de talco.
Quando os pesquisadores reuniram os resultados de estudos semelhantes envolvendo cerca de 20 mil mulheres, concluíram que o uso do talco estava associado a um aumento de 24% no risco de câncer de ovário, uma doença que é rara, mas muitas vezes fatal.
Larry Copeland, oncologista do Centro Médico Wexner, da Universidade Estadual de Ohio, e consultor da Johnson & Johnson, cita um estudo financiado pelo governo dos EUA. No início desse trabalho, os pesquisadores perguntaram a 61.576 mulheres se alguma vez elas haviam usado talco no períneo e então monitoraram a saúde delas durante 12 anos. Nenhuma relação entre o uso de talco e o câncer foi encontrada.
No entanto, Steven Narod, especialista em genética do câncer, disse que a amostra do estudo não foi suficientemente grande e que o monitoramento tampouco foi suficientemente longo. As conclusões, diz, não invalidam as pesquisas anteriores que apontaram um vínculo entre o talco e o câncer.
A empresa que fornece o talco para a Johnson & Johnson acrescentou um alerta em seus rótulos desde 2006, mas a J&J não fez o mesmo, segundo documentos incluídos no processo.
Pediatras desencorajam o uso de talco em bebês, que podem adoecer e até morrer se respirarem as partículas. Fabricantes de preservativos e luvas cirúrgicas já pararam de polvilhar talco em seus produtos.
Quanto a Berg, ela ganhou a ação contra a Johnson & Johnson e espera que outros processos judiciais sobre o talco contribuam para a conscientização. “Antes eu não sabia nada a respeito disso”, afirmou. “Achava que o talco era para bebês e que, portanto, deveria ser seguro.”
Medicina evoluiu com guerras, conta livro
05/06/2016 - Folha de S.Paulo
Em uma grande guerra, morre-se aos milhares. Mas, ainda que morram depois, boa parte das vítimas passa por hospitais de campanha.
Nessas ocasiões, os médicos se encontram em uma situação particularmente propícia à inovação.Há uma profusão de pacientes, muitos deles com casos similares, novos problemas surgem, os recursos são limitados e a gravidade dos ferimentos justifica se arriscar em técnicas incipientes ou até inéditas.
“É por isso que eu digo que os campos de batalha são verdadeiros laboratórios a céu aberto para a ciência médica”, diz José Maria Orlando, médico intensivista e autor do livro “Vencendo a morte — Como as guerras fizeram a medicina evoluir”, que é lançado nesta semana.
O livro conta como técnicas cirúrgicas foram desenvolvidas e aprimoradas nas frentes de batalha, além de procedimentos como a triagem de pacientes (implementada durante as guerras na poleônicas para definir quem teria mais chance de sobreviver se recebesse cuidados médicos primeiro), o uso de ambulâncias e equipamentos de segurança. Um exemplo é o do cinto, que começou a ser usado para manter os pilotos presos aos caças durante a Primeira Guerra Mundial.
Orlando, que foi presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, já escreveu livros técnicos sobre UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo). Dessa vez, no entanto, resolveu enveredar pela história da medicina e fazer algo voltado ao público geral, sobretudo aos amantes da temática bélica.
“Não se trata de exaltar a violência, mas de ver como a medicina militar beneficiou e influenciou certas práticas da medicina civil. Se você reparar bem, o funcionamento de um pronto-socorro tem um clima de disciplina militar.” Até pouco mais de cem anos atrás, as guerras eram mais letais nas infecções e epidemias do que nos campos de batalha. Morria-se mais de malária, cólera, varíola, de fezes amontoadas em trincheiras e pernas arrancadas em cirurgias sem anestesia e com pouca higiene do que de bala ou espada.
Esse cenário só começou a se modificar a partir da Primeira Grande Guerra Mundial, em função do advento dos antibióticos, das cirurgias mais complexas que agora podiam ser conduzidas com anestésicos, da melhoria das condições sanitárias e da prevenção de muitas doenças graças ao surgimento das vacinas… E também porque as armas ficaram mais letais, a exemplo das metralhadoras, que entraram em cena no fim do século 19.
Um dos maiores avanços da medicina durante a Primeira Guerra Mundial foi que os soldados que sofriam ferimentos graves e perdiam muito sangue passaram a receber soro fisiológico diretamente na veia. Antes disso, aplicações de soro intravenosas eram incomuns e os estudos sobre choque hemorrágico eram incipientes.
Quando Guerra Civil Espanhola foi deflagrada, a medicina civil já havia descoberto as transfusões de sangue, mas seu uso era extremamente restrito. Além de fazer transfusões em larga escala, a Guerra Civil Espanhola ajudou a consolidar o conceito de banco de sangue (veja outros exemplos acima).
“A psiquiatria também fez avanços consideráveis no estudo do estresse pós-traumático”, diz Orlando.
A saúde é universal
05/06/2016 - Folha de S.Paulo
Um dos maiores desafios para a saúde pública é oferecer um serviço com atendimento, diagnósticos e tratamentos sustentáveis e de alta qualidade, mesmo diante das inevitáveis limitações orçamentárias.
Tanto no Brasil como no Reino Unido, que estão entre os maiores sistemas de saúde pública do mundo, essa é uma questão de extrema importância. Em Londres ou Londrina, não há um bem mais importante do que a saúde de sua família.
Existem muitas semelhanças nos desafios enfrentados pelos sistemas de saúde do Brasil e do Reino Unido. O envelhecimento demográfico -que aumenta a incidência das chamadas doenças da sociedade moderna, como diabetes e cardiopatias- e os altos custos do desenvolvimento de novos medicamentos acabam pesando nos orçamentos de ambos os países, sobretudo na atual conjuntura econômica.
Recentemente, fui nomeado pelo primeiro-ministro, David Cameron, como enviado especial de comércio para o Brasil, com a missão de estreitar os laços entre os dois países nas área de investimento.
Nesta nova função, a saúde será uma das minhas áreas de foco. Pretendo contribuir com a troca das melhores inovações entre os dois países, possibilitando o tratamento dos pacientes com medicamentos inovadores e tecnologias de ponta. Acima de tudo, quero garantir que ambos os países possam, atuando juntos, enfrentar o desafio de oferecer serviços de saúde de alta qualidade.
O Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido é considerado um dos melhores do mundo, embora a porcentagem do PIB investida em saúde seja de aproximadamente 9%, similar à aplicada no Brasil. De moradores de rua a membros da família real, todos os cidadãos têm igualdade de acesso e a mesma qualidade de atendimento.
Um milhão de pacientes são tratados a cada 36 horas pelo NHS, que é, atualmente, o terceiro maior empregador do mundo -só atrás do Exército chinês e do sistema ferroviário da Índia-, com cerca de 1,2 milhão de pessoas responsáveis por atender os 60 milhões de cidadãos do país.
É claro que o Reino Unido também tem muito a aprender com o Brasil. Já estamos compartilhando experiências sobre a melhor forma de combater o vírus da zika e temos interesse em acompanhar mais de perto os serviços de saúde oferecidos em comunidades brasileiras remotas e isoladas. A relação bilateral entre o Reino Unido e o Brasil na área da saúde já é sólida, mas temos muito mais a fazer.
Nossas empresas oferecem tecnologias médicas capazes de interromper a queda de cabelos durante a quimioterapia, bem como produzem membros artificiais mecânicos e inteligentes.
Sendo o Brasil um dos mais importantes parceiros do Reino Unido em pesquisa e desenvolvimento, a saúde representa outra área em que ambos os países podem, juntos, obter resultados surpreendentes.
De acordo com a Declaração dos Direitos Humanos, todos têm direito a uma qualidade de vida que proporcione o bem-estar do indivíduo e de sua família. Para atingirmos essa meta, nossos objetivos como parceiros devem estar alinhados. Assim, poderemos garantir que tanto nós quanto as futuras gerações levem uma vida mais saudável.
O bebê que luta contra o tempo por um coração
05/06/2016 - O Globo
De seus 9 meses de vida, Ana Kemely Albuquerque passou oito meses e meio dentro de um hospital, em Fortaleza. Ana Kemely é um bebê miúdo (pesa 4,5 quilos), com uma respiração cansada, mas “com muita vida nos olhos”, como diz a mãe, Ana Caroline Albuquerque, de 23 anos. A menina nasceu sem o lado esquerdo do coração. Sofreu paradas cardíacas sucessivas, uma convulsão, duas cirurgias. Está na lista de espera por um coração novo desde 20 de abril. Não pode esperar.— No quarto dia de vida, ela sofreu a primeira parada. Ficou entubada. Soube da cardiopatia, que era algo gravíssimo. Ela passou um mês na UTI e fez a primeira cirurgia. Os médicos me disseram que ela poderia não sair viva de lá — diz Caroline, que vive com a filha e os pais na periferia de Fortaleza.
A fila de transplante de coração para crianças é arrastada. Faltam doadores, principalmente em razão da forte resistência de pais em doar órgãos no momento da perda de filhos crianças ou adolescentes. A falta de transporte para órgãos que surgem em outros estados e a corrida contra o tempo — são apenas quatro horas para o coração sair de um peito a outro — agravam este cenário.
O Ceará concentra filas de pacientes do Norte e de boa parte do Nordeste. Recife e Salvador dividem essa demanda. O governo local oferece aeronaves para buscar órgãos doados em Sobral e Juazeiro do Norte, populosas cidades cearenses, mas a medida não é suficiente. Praticamente não há captação de órgãos fora do estado.
Em 2014, a Central Nacional de Transplante (CNT) ofereceu pelo menos dois corações a Fortaleza, um doado em Campina Grande (PB) e outro em Natal. Mas não houve captação em tempo hábil por falta de transporte aéreo. A Força Aérea Brasileira (FAB) recusou-se a fornecer aeronaves.
As equipes médicas nos ambulatórios de transplante de coração e fígado de Fortaleza, que estão entre os maiores e mais importantes do país, têm como rotina não contar com órgãos de outros estados. A recusa é quase instantânea. Três médicos coordenadores dos ambulatórios dizem que a melhoria do transporte aéreo diminuiria o tempo de espera nas filas.
TAXA DE MORTALIDADE ALTA
No ano passado, foram transportados em voos comerciais apenas 37 corações, oito pâncreas e dois pulmões, o que revela a dependência dos aviões da FAB no caso desses órgãos. Em 2015, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), 236 pacientes estavam inscritos na lista à espera de coração. A fila tinha 49 meninos e meninas aguardando o mesmo órgão. As taxas de mortalidade foram elevadas: de 33,3% entre adultos e de 27% entre crianças.
O Brasil fez 353 transplantes de coração em 2015, sendo 33 em crianças. Apenas quatro entre dez pacientes pediátricos que entraram na fila no ano passado conseguiram um coração novo. Ana Kemely é a criança que entrou mais recentemente na fila por um coração no Ceará.
— Penso em tudo que ela já passou. Se ela não desistiu, eu não posso desistir — diz a mãe.
Aos 14 anos, Afonso Rerison de Souza está pela segunda vez numa lista de espera por um coração. No Hospital de Messejana, em Fortaleza, ele conhece praticamente toda a equipe médica. É o mesmo hospital que conduz o tratamento de Ana Kemely.
A primeira vez na fila durou quase um ano. A mãe de Rerison, Antônia Aguiar da Silva, de 34 anos, decidiu retirá-lo da lista e retornar a Tianguá (CE), a 317 quilômetros de Fortaleza, porque estava grávida. O bebê, Francisco Antônio, já completou 1 ano e 9 meses, e a família está de volta à capital para Rerison esperar por um coração.
Rerison tem uma cardiopatia congênita considerada grave pelos médicos. A vida em Fortaleza o afastou da escola, dos amigos, do futebol e da bicicleta.
— Depois de receber o coração, eu queria ser jogador de futebol, mas sei que não posso. Aqui tinha um jogador de futebol que teve de parar de jogar — diz o garoto.
Para a médica Klébia Castelo Branco, do serviço de transplante cardíaco pediátrico, um incremento no transporte aéreo aumentaria “sem sombra de dúvidas” as chances das crianças. O Messejana fez nove transplantes de coração neste ano, dois em crianças. Para o médico João David Neto, coordenador da unidade de transplante de coração, a conexão com outros estados diminuiria a fila de espera:
— Se houvesse mais disponibilidade de aeronaves, a lista seria reduzida.
ANS suspende comercialização de 35 planos de saúde
03/06/2016 - Valor Econômico / Site
A partir da próxima sexta-feira (10), 35 planos de saúde de oito operadoras terão a comercialização suspensa pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Os motivos da punição são reclamações de beneficiários relativas à cobertura assistencial, como negativa e demora no atendimento.
Juntos, os planos de saúde afetados são responsáveis pela assistência de 272 mil beneficiários, que não sofrerão com a medida. Segundo a ANS, as operadoras terão que resolver os problemas assistenciais desses clientes para que só então possam receber novas contratações.
A medida, tomada a cada três meses, faz parte de um acompanhamento periódico feito pelo Programa de Monitoramento da Garantia de Atendimento da agência reguladora. Além de ter a comercialização suspensa, as operadoras que negaram indevidamente cobertura podem receber multa que varia de R$ 80 mil a R$ 250 mil.
Das oito operadoras com planos suspensos neste ciclo, três já tinham planos em suspensão no período anterior e cinco não constavam da última lista de suspensões. Paralelamente à suspensão, sete operadoras poderão voltar a comercializar 35 produtos que estavam impedidos de serem vendidos.
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