Bebês de mães com zika serão acompanhados, diz ministro da saúde
24/05/2016 - O Estado de S.Paulo
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse nesta segunda-feira, 23, em Genebra que os bebês que não desenvolveram microcefalia, mas cujas mães contraíram o vírus zika na gestação, também serão acompanhados, para garantir que não há sequelas. Uma instituição parceira, que possa fazer esse monitoramento, deve ser definida em breve.
Segundo o ministério, dos 7.534 casos suspeitos de microcefalia no País, 2.818 foram descartados, mas devem continuar em observação. Outros 1.384 casos da doença foram confirmados e 2.818 estão sob investigação. Barros discursou nesta segunda na Assembleia Mundial da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS). Sua prioridade foi tranquilizar a comunidade internacional sobre os riscos relacionados às transmissão de dengue, chikungunya e zika durante os Jogos Olímpicos, no Rio, em agosto.
Barros apresentou um mapa que mostra que, na época em que a Olimpíada será realizada, a incidência das três doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti será menor por causa da diminuição da temperatura e das chuvas.
A preocupação central é mostrar que o País está preparado e garantir que as doenças estão controladas e não devem influir na segurança do evento. Segundo o ministério, o País deve receber de 350 mil a 500 mil turistas estrangeiros no período.
Barros procurou reforçar que o Brasil não é o único país que lida atualmente com o surto de zika. Segundo ele, a doença está presente em 60 países. O ministro afirmou que 3,5 mil agentes externos foram contratados para garantir que a região dos Jogos estará livre do mosquito.
Para Margaret Chan, diretora-geral da OMS, que também falou ontem, a epidemia de zika na América Latina é o resultado do abandono das políticas de combate ao Aedes nos anos 1970.
Samu mais lento
24/05/2016 - Folha de S.Paulo
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), tem o hábito de propagandear as realizações que dão à sua administração uma feição avançada, como as faixas pintadas para bicicletas e ônibus. Já quando se trata de explicar atrasos, seu governo tropeça e fica pelo meio do caminho.
Um caso flagrante é o desempenho do serviço de ambulâncias de emergência, o Samu. Reportagem publicada nesta Folha na segunda-feira (23) revelou que, no ano passado, o tempo médio dos atendimentos em que há risco de morte aumentou em quatro das cinco regiões da capital em relação a 2014.
No plano internacional, aceita-se que o intervalo de espera ideal fique entre 10 e 12 minutos. Com a ampliação da demora verificada em 2015, duas regiões da cidade —centro-oeste, com 13min08s, e sul, com 15min08s— ficaram acima disso; em 2014, nenhuma área ultrapassara o recomendado.
A prefeitura fica devendo uma explicação mais detalhada e convincente para a piora no desempenho do Samu.
Em reação à reportagem, no lugar de informações específicas sobre as equipes disponíveis, restringiu-se a afirmar que o tempo médio é determinado por fatores como as distâncias percorridas, a dificuldade de acesso a alguns locais e a velocidade média da frota.
A resposta beira a obviedade e nada esclarece nem justifica. Mais ainda, o retrocesso no Samu aparece em contradição evidente com a tendência de melhora no trânsito paulistano verificada do ano passado para este.
O prefeito gostaria talvez de imputar a queda na lentidão no horário de pico apenas a suas iniciativas de mobilidade urbana, como os mais de 400 km de faixas exclusivas de ônibus que alardeia ter implantado na cidade.
Mas decerto ela resulta também da crise produzida por Dilma Rousseff (PT), sua correligionária e presidente afastada, com a diminuição de deslocamentos.
É lícito deduzir ainda que o serviço de emergência deveria tornar-se mais eficiente —e não menos— com a diminuição da quantidade de acidentes e lesões graves no trânsito. Com menos dessas ocorrências típicas de atendimento pelo Samu, cai também a demanda pelo serviço e se espera que haja mais ambulâncias disponíveis para cada deslocamento.
A piora no tempo de resposta do Samu não parece preocupante, à vista de flutuações constatadas nos anos anteriores, mas a falta de explicações objetivas pode minar a confiança que a população deposita no serviço.
ANS propõe novo modelo para tratar idoso
24/05/2016 - Folha de S.Paulo
A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) vai propor um novo modelo de atenção à saúde de idosos na rede privada com a justificativa de evitar as atuais falhas que geram má assistência e aumento crescente de custos.
Hoje, 12,5%dos cerca de 50 milhões de usuários de planos de saúde têm 60 anos ou mais. No Brasil, há mais de 20 milhões de idosos —serão 65 milhões em 2050. Quase 90% têm algum tipo de doença crônica, como diabetes, hipertensão, artroses e câncer.
Atualmente esses idosos estão “soltos” no sistema de saúde. Passam por vários especialistas, fazem inúmeros exames, usam muitas medicações (que podem interagir entre si e causar danos), mas não há ninguém cuidando deles como um todo.
A meta do projeto “Idoso bem cuidado”, que será lançado nesta terça (24), no Rio de Janeiro, é mudar essa lógica. Uma das propostas é que os planos de saúde criem estruturas, como centros geriátricos, capazes de reconhecer riscos que podem agravar a saúde do idoso e atuem de uma forma preventiva.
O idoso passará por uma avaliação clínica para saber dos seus riscos e dos cuidados que precisa. Será criado um registro eletrônico com seu histórico, que poderá ser acessado de qualquer lugar, inclusive pelo próprio idoso.
Outra novidade é que o paciente contará, além de um médico de referência, com a figura de um “navegador” dentro do sistema, um enfermeiro que vai orientá-lo conforme a necessidade, como tirar dúvidas sobre medicação.
De acordo com Martha Oliveira, diretora de desenvolvimento setorial da ANS, o novo modelo será testado inicialmente em um projeto piloto que envolverá 15 organizações, como operadoras e hospitais (ainda a serem escolhidos), a partir do segundo semestre deste ano.
Para ela, a identificação precoce do risco e os cuidados ao idoso prestados de forma integrada são o cerne da proposta. “É uma oportunidade para monitorar a saúde e não a doença”, afirma.
A ideia, diz Martha, é que as emergências dos hospitais deixem de ser a porta de entrada, ficando reservadas aos aos momentos mais graves.
Na opinião do médico Renato Veras, professor da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e especialista em envelhecimento, o Brasil precisa fazer o que está sendo feito em outros países — cuidar de forma integral.
“Não pode ter fragmentação do cuidado, o idoso não pode ficar passando por quatro, cinco médicos, fazendo um monte de exames a cada 15 dias e ninguém estar cuidando dele de fato. Todo mundo sabe o que fazer, mas ninguém faz”, afirma.
Por que não faz? Para Martha, a razão está na forma como o sistema suplementar de saúde foi organizado, que “vende” acesso a especialistas,a exames e a hospitais, por exemplo, e não um modelo de promoção à saúde e prevenção de doenças.
Além da mudança assistencial, o projeto prevê formas alternativas de remuneração.
A proposta, inspirada no modelo norte-americano, é um sistema híbrido, com remuneração fixa mais uma bonificação pela performance.
Segundo Veras, o objetivo é que todos ganhem com esse modelo. “O médico ganha mais se tiver um bom desempenho, o paciente pode receber bônus [descontos na mensalidade, por exemplo], além do ganho da melhor assistência,e a operadora poderá ter redução de custos.” Para Ligia Bahia, professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a nova proposta da ANS é bem vinda, mas precisa ir além dos projetos pilotos.
“O setor suplementar vive de projeto piloto, um substitui o outro.
E a assistência ofertada é muito ruim. É comum a queixa ‘o médico nem olhou na minha cara’. Para o idoso isso é mortal.”
Mosquitos infectados com zika são achados na natureza pela 1ª vez
24/05/2016 - Folha de S.Paulo
Pesquisadores do IOC (Instituto Oswaldo Cruz)identificaram mosquitos da espécie Aedes aegypti infectados com o vírus da zika na natureza.
Os insetos foram coletados no bairro carioca do Realengo e em São João de Meriti,na Baixada Fluminense.
Ainda haveria alguma dúvida sobre o elo entre o zika e o mosquito da dengue? “A verdade é que sempre há”, explica Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC.
“Desde que o zika emergiu de modo epidêmico em locais como a Polinésia Francesa, a Micronésia e a Nova Caledônia, ninguém tinha encontrado nenhum mosquito infectado naturalmente com ele.” A associação com o A. aegypti e outros mosquitos do mesmo gênero, porém, parecia lógica por causa da origem africana comum do vírus e do inseto e pela presença de ambos em ambientes urbanos.
Além disso,o zika pertence ao grupo dos Flavivirus, parasitas microscópicos como os causadores da dengue e da febre amarela, que são transmitidas pelo mosquito.
Para confirmar a hipótese, os pesquisadores coletaram cerca de 1.500 mosquitos (de diversas espécies) no entorno e dentro das casas de pacientes que tinham tido sintomas de infecção pelo zika.
Por meio de análises genéticas e de uma técnica que isola as partículas do vírus, a presença do zika foi confirmada em quatro mosquitos A. aegypti. “Essas taxas de infecção geralmente são baixas mesmo”, diz Lourenço.
Ele lembra que a maior parte dos mosquitos nasceu faz pouco tempo e não teve tempo de ser infectar ainda; alguns podem não picar pessoas com zika ou seu organismo pode eliminar o vírus antes que possam transmiti-lo a algum ser humano.
Os dados sobre o trabalho do Instituto Oswaldo Cruz estão em fase de publicação.
Os especialistas estão tentando analisar se a presença do zika pode ter algum efeito sobre a viabilidade de outros vírus carregados pelo A. aegypti, como o da dengue e o da chikungunya. “Estamos testando todas as combinações possíveis desses vírus”, afirma Lourenço.
É concebível que haja uma competição entre eles dentro do organismo dos insetos, ou mesmo que zika e dengue troquem material genético.
Também ainda é cedo para dizer se outras espécies de mosquitos seriam capazes de atuar como vetores do zika.
Fase extra de campanha começa sem vacina
24/05/2016 - Folha de S.Paulo
Muitos dos que acreditaram na promessa do governo do Estado de que um novo lote de vacinas contra a gripe estaria disponível nesta segunda-feira (23) não conseguiram ser imunizados.
A Folha visitou 11 postos de saúde de São Paulo e encontrou a vacina disponível em apenas um deles. Na semana passada, o governo anunciou a prorrogação da campanha até o dia 31 —ela terminaria na sexta-feira (20).
Em alguns desses postos, o estoque estava completamente zerado. Em outros, havia vacinas disponíveis apenas para crianças que já haviam tomado a primeira dose e precisavam da segunda para completar a imunização.
O aposentado Dino Tallia, 87, precisou ir cinco vezes, em dois postos diferentes, para finalmente conseguir a vacina.
“Fui no início, no meio e no final da campanha. É uma vergonha, um descaso com os idosos. Não adianta nada prorrogar, se não tem doses.
Não tem justificativa.” Ele e sua mulher, Nilda Barreto, 76, foram primeiro em um posto na Mooca, onde foram informados de que ainda havia vacinas na unidade da Vila Gomes Cardim. Mesmo assim,o casal teve que esperar duas horas na fila.
“Somos aposentados e vendemos artesanato na rua.
Para nós, é impossível pagar R$ 300 por duas doses na rede particular”, disse Tallia.
Na unidade Dr. Humberto Pascale, no centro, as vacinas acabaram na segunda feira passada. “Todo dia vem gente aqui e pergunta se a vacina chegou, hoje já vieram umas 30”, disse uma funcionária, por volta das 10h.
Em algumas unidades, como a da República, funcionários entregam um pequeno papel, com uma lista de postos que ainda teriam doses.
“Mas chega cedo, porque vai ter muita fila”, recomenda a atendente. Nos três locais indicados, que seriam postos de referência, a vacina estava em falta.
Para a fase extra da campanha, o governo comprou 705 mil doses para a cidade e para a Grande SP. A secretaria afirma que as novas vacinas foram entregues na semana passada para a prefeitura, que seria responsável pela distribuição. Já a gestão municipal diz que a vacinação será toda normalizada nesta terça-feira (25).
Alternativa ao SUS é a barbárie sanitária
24/05/2016 - O Globo
O ministro da Saúde indicado pelo governo Temer revelou-se um adversário do SUS, apesar de todas as evidências que indicam sua importância para o bem-estar da sociedade. A alternativa ao SUS é a barbárie sanitária. O verdadeiro desafio está em completar a implementação das políticas e programas que vêm funcionando, e não em desconstruí-los.
Os sistemas públicos de saúde — inspirados no pioneiro National Health Service da Inglaterra — demonstraram maior eficiência do que os dos países que conservam o modelo tradicional centrado no mercado. O gasto per capita inglês com atenção em saúde é metade daquele dos EUA. Em 2015, o SUS realizou 46% do total de gastos em saúde, e isso para atender 75% da população; o setor privado precisou de 56% para assistir apenas 25% dos brasileiros.
O processo de reforma sanitária precisa completar-se, a gestão precisa melhorar; entretanto, não no sentido imaginado pelo ministro. Outras medidas são necessárias, por exemplo, extinguindo o livre provimento pelo Poder Executivo de todos os cargos de gestão de programas e serviços (isto não aumentará custos); ampliando a cobertura de atenção básica para 80% das pessoas; fazendo investimentos estratégicos em saúde coletiva e em serviços regionais onde haja dificuldade de acesso a hospitais; integrando a gestão e o planejamento dos vários SUS existentes (federal, estaduais e municipais); criando política de pessoal que respeite profissionais e usuários.
A necessidade de redução dos gastos públicos não poderá ser realizada na área social. A equidade e a justiça social exigem que se considere que os grandes gastos do orçamento público estão sendo realizados em projetos da elite econômica e política. Quase 50% do imposto arrecadado em 2015 foram gastos com serviços da dívida pública; o “bolsa empresário” custou, nos últimos cinco anos, mais do que o SUS; a renúncia fiscal na saúde corresponde a mais de 15 bilhões de reais.
As diretrizes do SUS indicam o rumo para nossas políticas e para a gestão — está na Constituição. As reações imediatas obrigaram o ministro a recuar e a desdizer o que tinha dito sobre a impossibilidade de assegurar o direito de todos à saúde. Mais que isso: as reações demonstraram que esse princípio democrático está enraizado na sociedade brasileira porque nasceu da sociedade (e não do Estado) em luta pela democracia nos anos 1970 e 1980, inscreveu-se na Constituição de 1988 e se disseminou por todos os rincões do Brasil com a implantação do SUS.
Mas todos sabem que o SUS apresenta muitas deficiências, com serviços superlotados e de má qualidade. E todos sabem que, entre as causas dessas deficiências, está o baixo investimento. Qualquer ministro comprometido com a Saúde não pode se furtar a reconhecer essa realidade. O próprio PMDB lançou o documento “A travessia social” — espécie de plataforma de governo para Michel Temer, em que afirma, no capítulo Saúde, que é preciso “melhorar a gestão financeira e (...) elevar os recursos para o financiamento do sistema”. Esperamos que a fala inicial de Ricardo Barros não tenha sido um balão de ensaio e que seu recuo tenha sido sincero. De todo modo, ele e o governo interino como um todo já devem ter percebido que estarão entrando em confronto com a cidadania brasileira se insistirem em mexer no direito à saúde.
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