Sem água, luvas e remédios, hospitais da Venezuela entram em colapso
16/05/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O dia começou com os problemas de costume: escassez crônica de antibióticos, de soluções intravenosas e até mesmo de comida.
Então a cidade sofreu um blecaute, causando o desligamento dos ventiladores pulmonares neonatais na maternidade.
Os médicos passaram horas bombeando ar manualmente nos pulmões dos bebês doentes, mas, ao anoitecer, quatro recém-nascidos já tinham morrido.
"A morte de um bebê é o pão nosso de cada dia", disse o cirurgião Osleidy Camajo, em Caracas, falando das consequências tenebrosas da falência dos hospitais da Venezuela.
A crise econômica do país explodiu em uma emergência de saúde pública que está custando a vida de inúmeros venezuelanos. E isso é apenas uma parte do desmoronamento do país, tão grave que levou o presidente Nicolás Maduro a decretar estado de emergência e está levando as pessoas a temer que o governo entre em colapso.
Os hospitais viraram pontos de convergências das forças que dilaceram a Venezuela. Luvas e sabão desapareceram de alguns deles. Medicamentos usados no tratamento de câncer muitas vezes só são encontrados no mercado negro. Há tão pouca eletricidade que o governo opera apenas dois dias por semana, para poupar a pouca energia que resta.
No hospital Universidade dos Andes, na cidade de Mérida, não havia água suficiente para lavar o sangue da mesa de cirurgias. Os médicos que se preparavam para operar usavam garrafas de água com gás para lavar as mãos.
"Parece que estamos no século 19", disse um cirurgião do hospital, Christian Pino.
ESTATÍSTICAS DEVASTADORAS
As estatísticas são devastadoras. O índice de mortalidade de bebês de até 30 dias de idade multiplicou-se por mais de cem nos hospitais públicos do Ministério da Saúde, passando de 0,02% em 2012 para mais de 2% em 2015, segundo relatório governamental disponibilizado por parlamentares.
De acordo com o mesmo relatório, o índice de mortalidade de mães que acabaram de dar à luz nesses hospitais se multiplicou por quase cinco no mesmo período.
Na cidade caribenha de Barcelona, dois bebês prematuros morreram recentemente a caminho da principal clínica pública das redondezas porque a ambulância não tinha cilindros de oxigênio. O hospital não tem aparelhos de raios-X ou de diálise renal, quebrados muito tempo atrás. Como faltam leitos, alguns pacientes ficam deitados no chão, encharcados em seu próprio sangue.
É como uma clínica de campo de batalha em um país que não está em guerra. "Algumas pessoas chegam aqui saudáveis e saem mortas", disse o médico Leandro Pérez no pronto-socorro do hospital Luiz Razetti, em Barcelona.
CRISE GERAL
A Venezuela possui as maiores reservas petrolíferas do mundo. Quando o preço do petróleo estava alto, no entanto, o governo economizou muito pouco para os tempos de vacas magras. Agora que petróleo ficou muito barato —o preço caiu mais ou menos dois terços desde 2014—, as consequências lançam uma sombra destrutiva sobre o país.
As filas para comprar alimentos, que já fazem parte da vida na Venezuela, andam se deteriorando em saques. A moeda nacional, o bolívar, não vale quase mais nada.
A crise é agravada por uma vendeta política entre o chavismo, que controla a Presidência, e seus rivais no Congresso. Em janeiro, os adversários do presidente declaram uma crise humanitária no país. Neste mês, aprovaram uma lei para permitir que o país aceite ajuda internacional para apoiar o sistema de saúde.
"É um crime que nosso país tenha tanto petróleo assim, enquanto as pessoas morrem por falta de antibióticos", diz a deputada Oneida Guaipe.
No entanto, Nicolás Maduro, o sucessor de Hugo Chávez, foi à televisão para rejeitar o esforço, descrevendo a iniciativa como uma tentativa de enfraquecê-lo e de privatizar os hospitais.
"Duvido que exista um sistema de saúde melhor que este em qualquer lugar do mundo, com a exceção de Cuba", falou.
No ano passado as máquinas que bombeavam água para o hospital da Universidade dos Andes explodiram. Meses se passaram antes que fossem consertadas.
SEM ÁGUA, LUVAS E ANTIBIÓTICOS
Assim, sem água, luvas, sabão ou antibióticos, um grupo de cirurgiões preparou-se para fazer a excisão de um apêndice supurado, apesar de a sala de cirurgia ainda estar suja com o sangue do paciente anterior.
Mesmo na capital, apenas duas das nove salas de cirurgia do hospital infantil J.M. de los Ríos estão em condições de ser usadas. "Temos pacientes que morrem por falta de medicamentos, crianças morrendo de desnutrição e pessoas que morrem por falta de médicos", lamentou uma cirurgiã do hospital, Yamilla Battaglini.
Mesmo nesse cenário de hospitais em falência, o Hospital Luiz Razetti, de Barcelona, é um dos casos mais notórios do país.
Em abril, as autoridades destituíram e prenderam seu diretor, Aquiles Martínez. De acordo com a mídia local, ele teria sido acusado de roubar equipamentos que deveriam ser do hospital, incluindo aparelhos de tratamento de doenças respiratórias, soluções intravenosas e 127 caixas de medicamentos.
Às 22h de uma noite recente, o médico Freddy Díaz percorreu um corredor que virou uma enfermaria improvisada de pacientes sem leitos. Alguns seguravam suas ataduras ensanguentadas e, do chão, imploravam por ajuda. Um paciente trazido pela polícia estava algemado a uma maca. Baratas fugiam pela porta aberta do almoxarifado.
Díaz anotou os dados médicos de um paciente no verso de um extrato bancário que alguém tinha jogado no lixo. "Estamos sem papel", explicou.
No quarto andar, sua paciente Rosa Parucho, 68, era uma das poucas que tinham conseguido um leito, mas o colchão em decomposição deixara suas costas cobertas de feridas.
MORTES À ESPREITA
Esse era o menor de seus problemas, contudo: Parucho, que é diabética, não podia fazer a diálise renal de que precisava porque os aparelhos de diálise estavam quebrados. Uma infecção já atingira seus pés, que naquela noite estavam enegrecidos. Ela estava entrando em choque séptico.
Parucho precisava de oxigênio, mas não havia oxigênio disponível. Suas mãos se contraíam e seus olhos se reviravam. "As bactérias não estão morrendo, estão se multiplicando", disse Díaz, explicando que havia meses não se encontravam três dos antibióticos de que a paciente precisava. Ele fez uma pausa. "Vamos ter que amputar os pés."
Três parentes liam trechos do Velho Testamento ao lado de outra paciente inconsciente. Ela chegara ao hospital seis dias antes, mas, como o aparelho de tomografia estava quebrado, dias tinham se passado até ser descoberto o tumor que tomara conta de um quarto de seu lobo frontal.
Samuel Castillo, 21, chegara ao setor de emergências precisando de sangue. Mas os estoques de sangue tinham acabado. O governo tinha decretado feriado para poupar energia, e o banco de sangue só recebia doações em dias úteis. Castillo morreu naquela noite.
Há dois meses e meio, o hospital não tem meios de imprimir radiografias. Os pacientes precisam usar smartphones para fotografar as radiografias e então levá-las ao médico indicado.
"Parece tuberculose", disse um médico do pronto-socorro, olhando para a radiografia de um pulmão no celular. "Mas não sei ao certo. A qualidade da imagem não é boa."
Biceña Pérez, 26, procurava alguém que lhe desse ouvidos. "Será que alguém pode atender meu pai?", perguntou. José Calvo, 61, seu pai, tinha a doença de Chagas, causada por um parasita. Mas o medicamento receitado para ele tinha acabado, e Calvo começou a apresentar falência cardíaca.
Seis horas depois de sua filha apelar por ajuda, ouviu-se um grito na sala de emergência. Era a irmã de Calvo. "Meu amor, meu amor", gemia. Calvo tinha morrido.
Sua filha caminhava sozinha pelo corredor do hospital, sem saber o que fazer, com as mãos cobrindo seu rosto. "Por que o diretor do hospital roubou os equipamentos?" repetia. "De quem é a culpa, me diga?"
45% dos infartos não têm sintomas
17/05/2016 - Correio Braziliense
Quase metade de todos os ataques cardíacos pode ser silenciosa, sem mandar sinais prévios, como dor no peito, alerta um estudo publicado no jornal Circulation, da Associação Americana do Coração. O cenário tem como uma das principais consequências o risco de maior comprometimento no atendimento emergencial do paciente. “O resultado de um ataque cardíaco silencioso é tão ruim quanto o daquele reconhecido enquanto está acontecendo”, diz Elsayed Z. Soliman, principal autor do estudo e diretor de cardiologia epidemiológica do Centro Médico Wake Forest Baptist, na Carolina do Norte. “E, como o paciente não sabe o que está sofrendo, pode não receber o tratamento necessário”, complementa.
Para chegarem a essa conclusão, os pesquisadores analisaram dados de 9.498 adultos de meia-idade que participaram da pesquisa Riscos de aterosclerose em comunidades, que analisou as causas e as consequências da condição, caracterizada pelo entupimento das artérias. Os pesquisadores examinaram diferenças nos episódios de infartos entre negros e brancos, assim como em homens e mulheres. Ao longo de nove anos depois do início do estudo, 317 participantes sofreram ataques silenciosos, enquanto 386 tiveram o problema, mas exibiram os sintomas clássicos. Os cientistas continuaram a acompanhar os pacientes por mais duas décadas para rastrear as mortes por males cardiovasculares e outras doenças.
No fim, descobriram que os infartos silenciosos foram responsáveis por 45% de todos os casos de ataque cardíaco registrados, aumentando em três vezes o risco de morrer por doenças cardiovasculares. Também houve aumento de 34% de óbitos por qualquer outra causa. Os ataques cardíacos silenciosos são mais comuns em homens, porém causam mais mortes em mulheres. “Nosso estudo também sugere que os negros têm prognóstico pior que os brancos”, observa Soliman.
Os sintomas de um ataque cardíaco silencioso são tão suaves que o paciente mal os percebe, se é que consegue sentir alguma coisa. Todos são detectados mais tarde, geralmente quando a pessoa faz um eletrocardiograma, exame que mede a atividade elétrica do coração. De acordo com Soliman, uma vez descoberta, a complicação deve ser tratada de forma tão agressiva quanto quando apresenta os sintomas clássicos, como falta de ar, dor no peito e dor que irradia para o pescoço, as costas e os braços.
Soliman lembra também que os fatores de risco para todos os casos são iguais. “Os médicos precisam ajudar os pacientes que tiveram infartos silenciosos a parar de fumar, reduzir o peso, controlar o colesterol e a pressão sanguínea, e fazer mais exercícios”, lembra. A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo acredita que, no Brasil, ocorram cerca de 720 paradas cardíacas por dia e 300 mil por ano. No mundo, são 17,5 milhões anuais, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).
PROTEÇÃO DIVINA
Ir à igreja com regularidade também é uma forma de proteger o coração, segundo estudo da Faculdade de Saúde Pública de Harvard Chan (EUA). Ao analisar dados de 74.534 mulheres, os cientistas concluíram que aquelas que frequentavam templos religiosos mais de uma vez por semana apresentavam risco 27% menor de mortalidade por doenças cardiovasculares. “Parte dos benefícios, aparentemente, é explicada pelo fato de que ir à igreja frequentemente aumenta o suporte social, desencoraja o hábito de fumar, diminui a depressão e ajuda as pessoas a desenvolverem um estilo de vida mais otimista e esperançoso”, explicou Tyler VanderWeele, principal autor. A pesquisa mostrou ainda que, nessas mulheres, as chances de morrer devido a complicações pelo câncer são 21% menores.
Três em cada 10 pacientes com morte cerebral viram doadores de órgãos
16/05/2016 - G1 - Jornal Hoje
A falta de doador de órgãos é um problema que aflige milhares de famílias brasileiras. Só nos três primeiros meses deste ano, quase sete mil doentes entraram na fila por um órgão no Brasil. Mas desde o início de 2016, 710 pacientes morreram antes do transplante acontecer - uma média de oito pessoas por dia.
Se a pessoa decidir que quer ser um doador de órgãos e tecidos, é fundamental que a família do doador saiba desse desejo. Essa conversa é importantíssima para que ninguém tenha dúvidas da vontade do doador. Até dez pessoas diferentes podem ser salvas com apenas uma doação.
Campanha de vacinação contra gripe atinge 70% do público-alvo
16/05/2016 - Folha de S.Paulo / Site
A menos de uma semana do fim da campanha nacional de vacinação contra a gripe, cerca de 35,4 milhões de pessoas já foram vacinadas na rede pública, o equivalente a 70% do público-alvo.
A campanha segue até sexta-feira (20). A meta é vacinar ao menos até 80% do público-alvo, formado por 49,8 milhões de pessoas.
Os dados, que fazem parte de balanço do Ministério da Saúde divulgado nesta segunda-feira (16), mostram uma maior adesão à campanha de vacinação contra a gripe neste ano. Nos últimos quatro anos, a campanha teve que ser prorrogada devido aos índices de cobertura estarem abaixo da meta esperada.
Neste ano, de acordo com o balanço, quatro Estados e o Distrito Federal já atingiram a meta. A pasta não informou, no entanto, se a campanha será prorrogada no país.
Em nota, o governo atribui o alto índice de cobertura ao início antecipado das campanhas de vacinação em cidades de ao menos 22 Estados do país.
A antecipação ocorreu devido à preocupação com o registro de casos graves de gripe ainda nos primeiros meses do ano, ou seja, fora do período esperado para o aumento de casos –previsto geralmente com a chegada do inverno.
Ao todo, o país já registra 2.808 casos de síndrome aguda respiratória grave por gripe. Destes, 2.375 foram pelo vírus H1N1. Os dados são contabilizados a partir da internação de pacientes na rede de saúde.
Boletim do Ministério da Saúde, com dados até 9 de maio, aponta ainda 470 mortes relacionadas ao vírus, um aumento de 14% em relação aos dados da última semana.
VACINAÇÃO
Balanço do ministério aponta que o percentual mais alto de vacinação ocorre no Paraná e em São Paulo, ambos com 85% do público-alvo já vacinado.
Já os índices mais baixos de cobertura vacinal ocorrem no Acre, Ceará e Roraima, todos com 55%.
Podem receber a vacina na rede pública idosos, crianças entre seis meses a menores de cinco anos, gestantes, mulheres que deram à luz em até 45 dias antes, profissionais de saúde, presos e funcionários do sistema prisional, indígenas e pessoas com doenças crônicas, consideradas mais vulneráveis a ter complicações da gripe.
Entre esses grupos, um dos percentuais mais baixos de adesão à vacina ocorre entre as gestantes, com apenas 56,6% do total previsto já vacinado.
A vacina protege contra três subtipos de vírus da gripe: H1N1, H3N2 e gripe B. O Ministério da Saúde reforça que a vacina é segura.
Em Ribeirão Preto, casos de dengue batem recorde histórico
16/05/2016 - Folha de S.Paulo / Site
Campeã de casos de dengue em São Paulo em 2016, Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) bateu seu recorde histórico de confirmações da doença, ao atingir 33.564 registros nos quatro primeiros meses deste ano.
De acordo com boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde local, foram confirmados 3.440 casos de dengue no mês de abril, o que fez o município superar a marca de 2010, até então a maior da história, de 29.637 confirmações.
A cidade teve quatro mortes confirmadas e há ao menos outras oito em investigação neste ano.
No total, 54.379 pessoas procuraram o polo dengue –criado para atender casos da doença– ou as UBDSs (Unidades Básicas Distritais de Saúde) com sintomas de dengue no período.
Foram registrados, no primeiro quadrimestre, 5.060 casos suspeitos de zika, dos quais 761 em gestantes que apresentaram manchas vermelhas no corpo durante a gravidez.
SETE EM DEZ
Desse contingente, apenas 319 gestantes receberam os resultados dos exames até aqui, e 232 delas tiveram confirmação da doença. Isso indica um índice de confirmações de 72% (sete em cada dez).
As outras 87 suspeitas foram descartadas. Não há, até aqui, registro de casos de microcefalia associados ao vírus.
A cidade registrou, ainda, 134 suspeitas de chikungunya, dos quais sete foram confirmados.
De acordo com a Secretaria da Saúde, houve redução no ritmo de novos casos das doenças após as contratações de agentes de Controle de Vetores, em fevereiro, e a doença tende a perder ainda mais o ritmo com a aproximação do inverno.
Foram 13 mil casos em fevereiro, 8.109 em março e 3.440 no último mês. Com isso, a prefeitura desativou o polo dengue, que operava desde fevereiro.
Prioridade é aperfeiçoar gestão do SUS
17/05/2016 - Folha de S.Paulo
Uma das prioridades do ministro da Saúde, Ricardo Barros, é aperfeiçoar os sistemas de informação e de gestão dentro do SUS para que haja mais eficiência e menos desperdício.
O objetivo, afirma, é saber “como é gasto cada centavo no SUS”. “A gestão da informação vai permitir tratar com clareza e transparência quando e onde é utilizado na saúde os R$ 110 bilhões do governo federal, R$ 70 bilhões dos Estados e R$ 60 bilhões dos municípios”, afirmou.
Em visita à Faculdade de Medicina da USP nesta segunda (16), a convite do cardiologista Roberto Kalil, Barros se reuniu com docentes, alunos e com o secretário de Estado da Saúde, David Uip.
OUVIU SUGESTÕES E CRÍTICAS
Uma delas foi sobre o programa Mais Médicos, que permite que os profissionais estrangeiros atuem no país sem revalidação do diploma. Barros prometeu avaliar a questão. Ele diz que a solução é o incentivo de mais médicos brasileiros no programa.
País precisa rever o direito de acesso universal à saúde pública
17/05/2016 - Folha de S.Paulo
O novo ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), disse nesta segunda (16) que, em algum momento, o país não conseguirá mais sustentar os direitos que a Constituição garante —como o acesso universal à saúde—e que será preciso repensá-los.
“Vamos ter que repactuar, como aconteceu na Grécia, que cortou as aposentadorias, e em outros países que tiveram que repactuaras obrigações do Estado porque ele não tinha mais capacidade de sustentá-las”, afirmou em entrevista exclusiva à Folha.
Segundo ele, que foi relator do Orçamento de 2016 na Câmara, não há capacidade financeira suficiente que permita suprir todas as garantias constitucionais. “Temos que chegar ao ponto do equilíbrio entre o que o Estado tem condições de suprir e o que o cidadão tem direito de receber.” A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha após evento na Faculdade de Medicina da USP.
Folha - A meta de implantar o cartão SUS em todo o país nunca aconteceu. Como o sr. pretende fazer isso agora?
Ricardo Barros - O cartão SUS existe, mas há 300 milhões de cartões. Ele está replicado para muita gente, mas tem gente com mais de um cartão, com cartão fraudado.
Ainda não estudei isso, mas minha missão é ter gestão do sistema. E só vou ter se tiver informação. Só assim vamos tomar as decisões corretas e disponibilizar os serviços adequados.
A gestão anterior do ministério disse que só há recursos para o Samu e para o programa Farmácia Popular até agosto. Haverá cortes?
De fato, temos um orçamento muito restrito, o governo tem repassado R$ 7,2 bilhões mensalmente para o Ministério da Saúde e temos gasto exclusivamente esses recursos. Portanto, há limitação dos procedimentos autorizados. Meu objetivo é conseguir recursos para as obrigações contratadas. Isso pode representar, como resto a pagar dos anos anteriores, algo na faixa de R$ 14 bilhões.
Mas haverá cortes?
Não posso afirmar isso agora. O que existe é a certeza de que faltam recursos, mas onde haverá o impacto dessa falta nós vamos decidir depois que a equipe econômica me afirmar que não vai ter capacidade de suprir o que estava previsto no Orçamento.
Há programas que precisam de continuidade para ter sucesso. Hipertensos ou diabéticos, por exemplo, não podem ficar sem medicamentos.
Remédios de uso contínuo estão disponíveis na rede do SUS. As prefeituras têm esses medicamentos para disponibilizar.
Precisamos avaliar com muito carinho porque já sabemos que temos fraudes na compra de remédio a preço subsidiado, o cidadão pega num posto, pega no outro, tem cartão em duas ou três cidades e depois vai vender o remédio. O programa é meritório e vamos ver quais recursos podemos disponibilizar para ele.
Fraudes parecem atingir várias áreas da saúde. Como o sr. pretende atuar nessa questão?
Vamos rever os protocolos das áreas especializadas, vamos constituir grupos de trabalho, rever protocolos, esse é o meu compromisso. Vários especialistas já me reafirmaram que alguns protocolos que estabelecemos para tratar determinadas doenças não são os mais eficazes e nem os mais baratos. Vamos rever isso para que tenha a melhor eficiência e o melhor gasto para o usuário.
Há conflitos de interesses que envolvem a indústria da saúde e as especialidades médicas...
Sim. Resistir aos lobbies será uma boa tarefa para implementarmos com a nossa equipe do ministério.
A rede de assistência tem hoje UTIs e unidades de saúde fechadas, aparelhos sem funcionar. Como lidar com isso?
Vou criar uma equipe para cuidar de todas as más aplicações de recursos. Temos muito desperdício na gestão, que não é visível para as pessoas, e que vamos cuidar com prioridade. Mas o que é visível para o cidadão, isso nós vamos tratar rapidamente, porque ninguém aceita ter o seu imposto mal gasto. quando ele passa em frente a uma unidade básica de saúde e ela está fechada, algo falhou no planejamento. Temos mais de 70 UPAs [Unidades de Pronto Atendimento] que estão funcionando sem contrapartida do ministério.
Mais de 1,3milhão de pessoas deixou de ter planos de saúde no último ano. Isso vai sobrecarregar ainda mais o SUS...
A ANS precisa ser mais ágil na regulação. A judicialização na área dos planos tem obrigado que eles façam reajustes muito acima da inflação. Cada vez que uma decisão judicial determina incluir um procedimento na cobertura do plano, aumenta o custo e ele tem que repassar para o consumidor.
Isso acaba prejudicando a todos os usuários, encarecendo o sistema e fazendo com que mais pessoas deixem de ter planos. quanto mais gente puder ter planos, melhor, porque vai ter atendimento patrocinado por eles mesmos, o que alivia o custo do governo em sustentar essa questão.
Não deveria ser o contrário, estímulo para um SUS melhor, já que pagamos impostos e temos direito à saúde?
Todos os cidadãos já pagam pela saúde, todos os cidadãos já pagam pela segurança. No entanto, os gastos com segurança privada são muito superiores aos da segurança pública. Infelizmente, a capacidade financeira do governo para suprir todas essas garantias que tem o cidadão não são suficientes.
Não estamos em um nível de desenvolvimento econômico que nos permita garantir esses direitos por conta do Estado. Só para lembrar, a Previdência responde por 50% das despesas do Orçamento da União. O Estado acaba sendo um fim em si mesmo, e não um meio. O que adianta o médico sem remédio, o pedreiro sem o tijolo, o motorista sem o combustível.
Nada. Não presta serviço para a comunidade.
O que fazer? Mudar a Constituição, que determina que a saúde é um direito universal?
A Constituição cidadã, quando o Sarney sancionou, o que ele falou? que o Brasil iria ficar ingovernável. Por quê? Porque só tem direitos lá, não tem deveres. Nós não vamos conseguir sustentar o nível de direitos que a Constituição determina.
Em um determinado momento, vamos ter que repactuar, como aconteceu na Grécia, que cortou as aposentadorias, e outros países que tiveram que repactuar as obrigações do Estado porque ele não tinha mais capacidade de sustentá-las. Não adianta lutar por direitos que não poderão ser entregues pelo Estado. Temos que chegar ao ponto do equilíbrio entre o que o Estado tem condições de suprir e o que o cidadão tem direito de receber.
Repactuar já é uma proposta?
Isso terá que ser resolvido, mas são assuntos da área econômica que não quero interferir.
São Paulo tem 69 mortes por gripe H1N1 em 2016
16/05/2016 - Valor Econômico / Site
A cidade de São Paulo registrou 3.182 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) desde o início do ano, com 167 mortes. Segunda a Secretaria Municipal de Saúde, do total de casos, 509 foram causados pela gripe A – H1N1, responsável por 69 das mortes.
Na última semana, foi registrada uma redução na evolução da circulação dos vírus na capital paulista. Os casos de SRGA caíram de 691, na 14ª semana epidemiológica, para 413 na 16ª semana, que se encerrou no último dia 10. Os hospitais da rede municipal atenderam a 228,7 mil pessoas com sintomas de gripe na última semana, contra 262,1 mil na 14ª semana.
A secretaria informou ainda que, com a distribuição de 3,12 milhão de doses, atingiu 99,3% do público-alvo da campanha de vacinação deste ano. A imunização está destinada a crianças maiores de 6 meses e menores de 5 anos, gestantes, mulheres que deram à luz há menos de 45 dias, indígenas, idosos e profissionais da saúde. Em 2015, receberam a vacina 81,72% dessas pessoas.
ESTADO
O Estado de São Paulo teve, desde o início do ano, 11,2 mil casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), ocasionando 764 mortes. Segundo os dados divulgados pelo Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado, a gripe A – H1N1 causou 1.130 desses casos, levando 202 pessoas à morte.
As ocorrências da doença estão distribuídas por 169 municípios. No entanto, 618 (54,7%) das infecções por H1N1 ocorreram na Grande São Paulo, que também teve 50,5% das mortes (102 casos).
Entre as vítimas, 36 era gestantes não vacinadas e 133 tinham outras doenças que debilitam o paciente, como as cardiovasculares, o diabetes, a pneumopatia e a obesidade.
Pesquisa mostra que 45% dos ataques cardíacos são silenciosos
17/05/2016 - O Globo
Dores e sensação de aperto no peito, falta de ar, fadiga e náuseas. Esses e outros sintomas em conjunto são fortes indicações de que uma pessoa está sofrendo um infarto, e as pessoas que sobrevivem a esse primeiro episódio em geral são aconselhadas a adotar hábitos de vida mais saudáveis, como abandonar o cigarro, melhorar a dieta e praticar exercícios. Mas 45% dos infartos são “silenciosos”, isto é, não provocam sintomas tão agudos e passam despercebidos, e assim suas vítimas correm maior risco de desenvolver doenças cardíacas, como mostra pesquisa publicada ontem no periódico científico “Circulation”, editado pela Associação Americana do Coração.
— As consequências de um ataque cardíaco silencioso são tão ruins quanto as de um ataque cardíaco que é reconhecido quando está acontecendo — alerta Elsayed Soliman, líder do estudo e diretor de cardiologia epidemiológica do Centro Médico batista de Wake Forest, na Carolina do Norte, EUA. — Mas como os pacientes não sabem que tiveram um ataque cardíaco silencioso, eles podem não receber o tratamento necessário para prevenir outro no futuro.
DADOS DE 10 MIL PESSOAS
Na pesquisa, os cientistas analisaram dados de quase 10 mil pessoas inscritas no fim dos anos 1980 em um estudo para avaliar as causas e consequências da aterosclerose, o progressivo endurecimento e acúmulo de placas nas paredes das artérias, que as entopem. De lá para cá, esses voluntários, de ambos os sexos e tanto caucasianos quanto afrodescendentes, passaram por cinco avaliações médicas em que foram submetidos a exames de eletrocardiograma (ECG).
Destas pessoas, 386 tiveram infartos sintomáticos no período da pesquisa, enquanto 317 sofreram ataques cardíacos silenciosos que só foram diagnosticados graças ao exame de ECG, ou 45% do total de episódios. Além disso, pelos cálculos dos pesquisadores, as vítimas desses infartos silenciosos apresentaram risco três vezes maior de morrerem de doenças cardíacas do que os voluntários que não tiveram ataques, além de um risco de morte por qualquer causa 34% superior a eles. Por fim, os ataques silenciosos foram mais comuns nos homens, mas são as mulheres que estatisticamente mais morrem por sua causa.
Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcus Vinícius Bolívar Malachias ficou surpreso com quão comum são os infartos silenciosos.
— Esta é uma informação nova — avalia. — Frequentemente encontramos o problema em pessoas que vêm para o consultório para um check-up ou exames, mas não tínhamos ideia que o problema era dessa magnitude. Um infarto é sempre um acontecimento muito grave e isso explica porque as pessoas que tiveram infartos silenciosos têm uma mortalidade maior do que as que não tiveram.
Malachias diz que é preciso reforçar a prevenção e a necessidade de fazer check-ups frequentes, única maneira de detectar os infartos silenciosos.
— Corrigir os fatores de risco, principalmente o chamado “quarteto mortal”: hipertensão, colesterol alto, tabagismo e diabetes. E fazer avaliações médicas periódicas são as melhores maneiras de prevenir estes riscos maiores de morte trazidos pelos infartos silenciosos — recomenda.
|