CLIPPING - 05/05/2016
Assessoria de Comunicação do CRF-SP
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Antidepressivo rápido e sem efeito colateral
05/05/2016 - Correio Braziliense
Dos quebra-cabeças farmacêuticos, um que tem merecido especial atenção de médicos e cientistas é a ação da cetamina. A substância, usada como anestésico, demonstra também grande poder de amenizar rapidamente, em questão de horas, os sintomas da depressão. Essa última característica representaria uma imensa vantagem em relação aos antidepressivos convencionais, cujos benefícios só passam a ser sentidos após cerca de oito semanas, mas a cetamina gera um outro resultado: efeitos colaterais perigosos, especialmente para depressivos, como alucinações e dissociação (percepção de estar fora do próprio corpo).
Um artigo publicado na edição desta semana da revista Nature aponta um caminho para superar essa limitação. Nele, pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, mostram que, em testes com ratos, um composto presente na cetamina, depois de isolado, manteve o potencial para reverter quadros depressivos em ratos sem provocar efeitos adversos.
“Pelo que sei, este é o primeiro trabalho a verificar o potencial terapêutico de um composto da cetamina no comportamento depressivo. O avanço permitirá que pacientes com depressão obtenham benefícios rápidos e sustentados, mas sem efeitos colaterais”, prevê o autor-sênior do estudo, Todd Gould.
Professor e coordenador do curso de farmácia da Universidade Feevale (RS), Rafael Linden avalia que os resultados são particularmente interessantes por demonstrarem que os efeitos antidepressivos da cetamina se devem à ação desse composto, o metabólito (2R,6R)-hidroxinorcetamina (HNK).
“O estudo pode abrir caminho para o desenvolvimento de novos fármacos antidepressivos, com estruturas químicas semelhantes a (2R,6R)-HNK, e que compartilhem com essa substância uma característica única: o rápido início de ação”, analisa Linden, que não participou da pesquisa. “Cabe destacar que a maioria dos antidepressivos clássicos requer algumas semanas para apresentar efeitos clínicos, o que pode ser um perigo elevado para pacientes com depressão severa, particularmente com risco para suicídio”, completa.
TESTES
A cetamina pertence à classe de drogas bloqueadoras do NMDA, receptor celular para o principal mensageiro químico de excitação no cérebro: o glutamato. No entanto, testes em humanos com outros bloqueadores de NMDA não reproduziram a ação da cetamina, enfraquecendo a teoria de que o bloqueio de NMDA gera efeitos antidepressivos. Para desvendar, então, as verdadeiras vias de atuação, os cientistas desmembraram o analgésico em duas fomas: a (2S,6S)-HNK e (2R,6R)-HNK. Ambas são três vezes mais presentes em ratas, que apresentam melhores efeitos antidepressivos em relação aos machos.
Para saber qual das combinações está por trás da ação antidepressiva, os pesquisadores submeteram roedores machos a sete experimentos comportamentais estressantes, como natação forçada, choques nas patas e convivência com ratos violentos. Os animais que apresentaram comportamentos análogos à depressão, como apatia e respostas reduzidas de sobrevivência, foram selecionados para receber doses das formas (S)- e (R)-.
Os cientistas notaram que ratos medicados com metabólitos (2S,6S)-HNK tiveram seus receptores de NMDA bloqueados, mas não a redução da depressão. O efeito esperado foi alcançado com o (2R,6R)-HNK. Os animais tratados com esse composto passaram quase imediatamente a apresentar atitudes mais pró-ativas, como nadar pela sobrevivência quando colocados em um recipiente de água, e não apenas boiar, como faziam antes. E os efeitos duraram cerca de três dias.
Além disso, enquanto ratos tratados com cetamina pura apresentam dissociação e euforia, o mesmo não foi observado nos animais do experimento. E uma análise posterior mostrou que a ação antidepressiva da cetamina não vem da inibição dos receptores de NMDA, mas da ativação do AMPA, outro receptor de glutamato, um efeito gerado pelo (2R,6R)-HNK.
Para a psiquiatra Helena Moura, membro da Sociedade Brasília de Psiquiatria (SBP), é animadora a possibilidade de criar uma versão da cetamina livre dos efeitos colaterais mais temidos. A cetamina, lembra a médica, é uma droga com grande potencial viciante. “Para explicar melhor, os efeitos dissociativos são uma sensação de desligamento da realidade, o que muitos indivíduos sentem como prazeroso, uma espécie de ‘barato’. E é isso que provoca o vício”, diz. E, de fato, em experimentos nos quais os animais podiam se “automedicar”, eles preferiram a cetamina pura, não o metabólito.
Todd Gould frisa que o estudo é ainda experimental e que, embora as cobaias não tenham apresentado as mesmas reações adversas, só será possível constatar a segurança do composto para humanos após testes toxicológicos com outros animais e também pessoas. “Se tudo der certo, imagino que poderemos vender o (2R,6R)-HNK na forma de um único medicamento”, aposta o cientista.
O avanço do estudo permitirá que pacientes com depressão obtenham benefícios rápidos e sustentados, mas sem efeitos colaterais”
Todd Gould, pesquisador-sênior do estudo.
Para analistas, reajustes dos preços de medicamentos elevam inflação em abril
05/05/2016 - Valor Econômico
A autorização para reajuste de mais de 12% dos remédios no início do mês deve fazer com a que a inflação volte a acelerar em abril, após dois meses em que a tendência contrária foi predominante. Segundo a estimativa média de 22 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,52% em abril, alta um pouco mais forte do que o aumento de 0,43% registrado em março.
As projeções para o indicador oficial de inflação, a ser divulgado amanhã pelo IBGE, vão de alta de 0,46% até 0,56%. No acumulado em 12 meses, porém, o índice deve continuar a perder força, ao sair de 9,39% para 9,18% na passagem mensal.
Para Leonardo França Costa, economista da Rosenberg, os medicamentos não devem incorporar de uma só vez todo o reajuste autorizado pela Anvisa, de 12,5%. Ainda assim, em suas estimativas, os produtos farmacêuticos devem ter subido 4,75% em abril, levando o grupo saúde a acelerar de 0,78% para 1,84% na passagem mensal. "E essa variação deve explicar quase toda a aceleração do IPCA no mês", diz ele.
A habitação, que até março estava mostrando deflação mais acentuada, afirma Costa, deve ter caído um pouco menos no mês passado, para -0,4%. Segundo ele, ainda que a bandeira tarifária tenha passado de amarela para verde no período, o que reduziu as contas de luz, o reajuste de água e esgoto pela Sabesp em São Paulo deve mitigar parte desse efeito.
Já os alimentos e bebidas, que têm aparecido como principal vetor de aceleração do IPCA nos últimos meses, devem perder um pouco de força, mas muito lentamente. Em março, a alta foi de 1,24%. Para o mês passado, a Rosenberg estima avanço de 1,06% desse grupo. "Daqui para a frente, porém, a sazonalidade mais positiva e a ajuda da valorização do real em relação ao dólar devem favorecer um movimento de descompressão desses itens", diz ele.
Para Flavio Serrano, economista-sênior do Haitong, apesar dessas pressões, a forte redução dos preços do álcool para o produtor deve chegar ao consumidor final, com queda do etanol e, em menor grau, da gasolina. "O grupo transportes deve ajudar a compensar um pouco essa alta significativa de medicamentos", diz.
Costa, da Rosenberg, estima queda de 3,15% do álcool em abril, o que deve levar o grupo transportes a ter deflação no mês, de 0,14%, resultado um pouco mais favorável que a alta de 0,16% um mês antes.
Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, as pressões de remédios e alimentos também devem ser em algum grau compensadas pelo aparente esgotamento da capacidade dos empresários de repassar custos, o que está contribuindo para desaceleração da inflação de serviços. Na prévia de abril, essa categoria aumentou 7,2%, a menor variação desde 2012.
"Esse movimento tende a reforçar o processo de flexibilização da taxa de juros esperada no segundo semestre, que deverá recuar pelo menos 1,5 ponto percentual até dezembro de 2016, para 12,75%", afirmou em relatório.
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Robôs operados remotamente auxiliam médicos do hospital Oswaldo Cruz
04/05/2016 - Valor Econômico / Site
Dois robôs de telepresença são os mais novos ajudantes da unidade de terapia intensiva do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Eles foram adquiridos para auxiliar a interação entre os médicos intensivistas e os que são responsáveis pelos pacientes internados na unidade.
Os equipamentos custaram R$ 15 mil ao hospital e foram produzidos pela Inbot Technology, da China. Começaram a funcionar nesta semana.
Constituído por uma base e uma haste, cada equipamento tem 90 cm. Na ponta da haste, um tablet exibe a imagem do médico que está à distância, como se fosse a cabeça do robô, com liberdade de movimentos. O equipamento aceita tablets de 7 a 10 polegadas. Tem rotação de 360 graus, quatro níveis de velocidade e sistema de prevenção de colisão e queda. Assim, pode circular livremente por corredores e salas da UTI sem oferecer riscos, segundo o hospital.
Mesmo se estiver muito distante do hospital, o médico pode ativar e conduzir o robô até o local em que se encontra o paciente e visualizar tudo, inclusive os sinais vitais, por meio de uma câmera acoplada ao tablet. Para isso, precisa de uma conexão Wi-Fi e um aplicativo do sistema em seu smartphone. O celular funciona como um controle remoto. Depois, é só interagir com o paciente e a equipe que estiver no plantão para receber informações e dar instruções sobre o tratamento.
O plano do hospital é permitir que familiares dos pacientes que estiverem distantes também possam ter contato audiovisual futuramente.
A autonomia de bateria é de quatro horas, com carregamento rápido, segundo o hospital.
Pesquisadores mantêm embriões ‘in vitro’ por tempo recorde
05/05/2016 - O Globo
Pesquisadores de dois diferentes grupos de estudo das universidades de Cambridge, Rockefeller e Case Western anunciaram ontem uma quebra de recorde para o cultivo de embriões humanos em laboratório, mantendo-os vivos e ativos por 13 dias, além da fase em que eles naturalmente se implantariam no útero materno.
O feito foi saudado pela comunidade científica como um marco e pode levar a avanços no conhecimento sobre reprodução assistida e terapias com células-tronco, além de dar pistas sobre o início da formação humana. Mas desafia uma lei que proíbe o cultivo de embriões em laboratório por mais de 14 dias, em vigor em diversos países. Ainda que tenham sido cultivados por 13 dias — e, portanto, dentro do prazo — o estudo traz à tona reflexões sobre pedidos de revisão do limite legal.
— Esse é o mais enigmático e misterioso estágio do desenvolvimento humano. É neste momento que é determinada a forma básica do corpo — disse em entrevista à agência de notícias “Reuters” a professora Magdalena Zernicka-Goetz, uma das líderes do estudo pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que foi publicado nas revistas “Nature” e a “Nature Cell Biology”.
LIMITES EXPANDIDOS
Segundo ela, uma cultura mais longa poderia claramente fornecer informações críticas sobre a biologia humana básica.
— Mas isso também levanta a questão de onde colocaríamos o próximo limite — analisou a pesquisadora.
Até agora, acreditava-se que os embriões não pudessem resistir e amadurecer fora do útero por tanto tempo, mas os cientistas usaram um método de criação de culturas biológicas, já testado em embriões de ratos, e conseguiram observar de perto o crescimento dos embriões humanos até o 13º dia de desenvolvimento.
Os dois grupos de pesquisa relatam vários acontecimentos ocorrendo entre 10 e 13 dias de desenvolvimento, desde a formação do blastocisto — uma fase de embrião em que divisões celulares estão em curso — à fase pós-implantação, que ocorre depois que o embrião adere à parede do útero, ou, neste caso, um substrato de fixação.
AUTO-ORGANIZAÇÃO
Estas observações destacam as diferenças de desenvolvimento entre ratos e embriões humanos, incluindo a especificação do tipo de célula e organização do tecido.
Ao contrário de experiências anteriores, em que o crescimento não ultrapassava sete dias, os blastocistos desta vez mostraram uma inesperada capacidade de se auto-organizarem fora do útero.
— O desenvolvimento embrionário é um processo extremamente complexo, e, embora o nosso sistema não seja capaz de reproduzir completamente cada passo, revelou uma capacidade incrível de auto-organização que antes era desconhecida — explicou a pesquisadora Marta Shahbazi.
Grandes redes faturam R$ 9 bi no 1º trimestre
05/05/2016 - DCI
São Paulo - As maiores redes de farmácia tiveram no 1º trimestre de 2015, sobre um ano antes, alta de 13,3% no faturamento, somando R$ 9,3 bilhões.
Os dados, compilados pela Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP) e pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), apontam ainda um crescimento de 12,21% na receita bruta só do mês de março, na comparação interanual. No acumulado dos últimos 12 meses, relatou a entidade, o movimento foi de R$ 37,04 bilhões. Segundo a Abrafarma, o resultado do trimestre foi impulsionado especialmente pelos itens da categoria "não medicamentos", responsáveis por movimentar R$ 3,21 bilhões entre janeiro e março - acréscimo de 12,9% em relação ao mesmo trimestre de 2015. A categoria representa 34,43% do total comercializado.
Profarma tem prejuízo.
05/05/2016 - Valor Econômico
A Profarma, empresa de atacado e distribuição na área farmacêutica, registrou um prejuízo líquido de R$ 9,25 milhões no primeiro trimestre, o que representa um aumento de 21,15% em relação a igual período de 2015. A receita líquida teve alta de 18,7%, para R$ 978 milhões. Com isso, o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) passou de R$ 13,5 milhões para R$ 20,7 milhões, alta de 53,3%. A relação entre dívida e Ebitda passou de 3,1 vezes para 3,3 vezes.
Engessamento na ciência me fez deixar o Brasil
05/05/2016 - Folha de S.Paulo
Não dá mais para fazer ciência de ponta no Brasil, diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, que está prestes a trocar o Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) pela Universidade Vanderbilt, em Nashville (EUA). “Não na área biomédica”, pondera Herculano, para quem a crise de financiamento da pesquisa no país foi o “estopim” necessário para aceitar o convite da instituição americana.
A pesquisadora e colunista da Folha define com uma única palavra tudo o que, na sua opinião, está errado com o jeito brasileiro de fazer ciência e que fortaleceu sua decisão de deixar o país: engessamento. “É um engessamento que se aplica a vários aspectos —à questão salarial, a essa ideia de isonomia que é maldita para a academia.” O anúncio de sua mudança foi feito à revista “Piauí’.
Autora de best-sellers sobre neurociência e de estudos de impacto sobre como a arquitetura do cérebro humano surgiu, Herculano conversou com a Folha pouco antes de partir para Nashville com um dos filhos, de 12 anos — seu marido já está lá, e seus cachorros estão a caminho da cidade do sul dos EUA. Confira a entrevista.
A negociação sobre sua ida para os EUA já está acontecendo faz bastante tempo, certo? Sim, o processo começou no ano passado, em setembro.
Quando surgiu a possibilidade de uma vaga, começaram os procedimentos, que incluem uma entrevista, palestras que eu fui dar por lá, minha visita aos departamentos da universidade —é um processo complexo porque é uma vaga com estabilidade.
No meio desse trâmite, em nenhum momento a sra. se sentiu tentada a olhar para trás e reconsiderar a decisão de sair do país? Olha, se eu trabalhasse numa universidade americana e estivesse descontente por qualquer razão, ou mesmo se estivesse contente e fosse sondada por outra instituição, haveria maneiras de eu conversar com a direção da universidade e perguntar: vocês acham que é do interesse de vocês cobrir a oferta, criar um caminho de negociação? Aqui, por outro lado, o que vale para mim vale para todo mundo, em salários, benefícios e condições de trabalho.
Sempre foi tudo muito claro: o que você tem é isso e acabou.
Se existe alternativa, ela está do lado de fora.
Houve gente que sugeriu que eu tentasse ir para São Paulo, onde pelo menos há a Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]. Aí o caminho seria pedir transferência da UFRJ para a Unifesp [Universidade Federal de São Paulo].
Mas isso não muda nada. Eu teria um laboratório um pouco maior, talvez, mas a questão do salário, da verba para pesquisa e, principalmente, da dificuldade de usar os recursos continuariam sendo praticamente as mesmas.
Pensando a longo prazo, o que pesou mais na sua decisão? Em uma palavra: engessamento.
É um engessamento que se aplica a vários aspectos —à questão salarial, a essa ideia de isonomia que é maldita para a academia, que tem como princípio a busca por conhecimento e o fato de que pessoas diferentes têm capacidades diferentes.
Fora daqui, você pode incentivar isso para poder recompensar o trabalho bem feito e, inclusive para estimular as gerações seguintes. Por outro lado, há avaliações e riscos que eu corro se meu desempenho não é satisfatório.
No Brasil, o engessamento é para cima e para baixo — além de haver pouca recompensa para o mérito, falta também o risco de punição, de você perder o seu posto caso não produza.
No nosso instituto a gente tentou implementar mecanismos de avaliação da qualidade das aulas pelos alunos, ou da produção de pesquisa feita por pares [outros cientistas] externos, mas até onde sei as iniciativas nunca davam em nada. Por acaso você vai poder tirar um professor pouco produtivo do seu laboratório? Não vai. Esse engessamento da carreira tira toda a motivação para se empenhar a produzir mais.
Há um engessamento administrativo.
Os US$ 600 mil que recebi de um prêmio dos EUA [da Fundação James Mcdonnell] são administrados pela UFRJ, ou seja, vão para a conta da União. Queria usar esse financiamento para contratar pessoas para um projeto sobre a relação entre metabolismo e número de neurônios, mas nunca consegui porque não dá para contratar sem concurso público.
Volta e meia eu tenho de pedir “compra por favor US$ 10 mil desse anticorpo” e preciso arranjar cartas do fabricante atestando que só eles fabricam aquilo. Se você tem a sorte de usar algo que só uma empresa fabrica no mundo, como a gente, maravilha, não precisa sofrer com licitação. Mas ainda assim leva no mínimo três meses de trâmite, mais impostos absurdos, mais burocracia.
Enquanto isso, nossos concorrentes —e ciência tem concorrência, sim—podem pegar o telefone, ligar para a empresa e, no dia seguinte, o produto está na mesa deles, não estou exagerando. Isso quando a empresa não tem uma sala dentro da universidade e você pode ir até lá, abrira geladeira e pegar o que precisa.
Sem a crise econômica atual, a sra. acha que teria saído do Brasil mesmo assim? Eu diria que a crise foi um estopim que facilitou a negociação do lado americano.
O convite partiu deles, então? Sim, eles consideram isso como “opportunity hire” [algo como “contratação de oportunidade”], quando você identifica uma pessoa que quer trazer por causa do perfil dela e do que ela pode trazer para a universidade. Essa é mais uma amostra do sistema flexível e ágil que eles implementaram por lá.
Qual o risco de as pessoas interpretarem sua atitude como algo “antipatriótico”, com o de alguém que está “dando uma banana” para o Brasil? Pelo que tenho visto nas redes sociais, as reações são maciçamente de apoio. A ciência não tem fronteiras. O importante é produzir conhecimento. O que as pessoas estão dizendo, em geral, é: “Vá sim, aproveite que querem te dar condições boas, mas não se esqueça da gente”. tenho esse gosto muito grande pela divulgação científica e acho que a ciência é patrimônio da humanidade.
A única grande barreira é não poder gerar mais conhecimento, e infelizmente não dá mais para conseguir fazer ciência de ponta aqui —não em biomédicas, pelo menos.
O que você tem são ilhas de excelência, como o trabalho do Stevens [Rehen, também da UFRJ], que continua como professor da UFRJ mas também recebe recursos da iniciativa privada [do Instituto d’Or de Pesquisa e Ensino].
Sei que não é por falta de tentativa de apoio da Faperj [fundação estadual de amparo à pesquisa do Rio]. O Jerson Lima Silva [diretor científico do órgão] é um cara extraordinário, empenhado, bem-intencionado. Mas ele depende de recursos que vêm do Estado, e se o Estado já não libera nada, não há o que se fazer—ainda estamos esperando recursos prometidos no final de 2014.
O que termina de piorar a situação, sobretudo no caso do CNPq [principal órgão federal de apoio à pesquisa], é a prática nociva, ainda que bem-intencionada, de pulverizar recursos, financiando o maior número de projetos com algum dinheiro que seja.
Mesmo os mais bem avaliados receberão um terço do que pediram, e note que o teto dos pedidos já era de apenas R$ 120 mil para três anos.
Esse teto limita o tipo de perguntas científicas que você pode fazer. Falta coragem de desagradar a algumas pessoas que talvez estejam há décadas fazendo coisas que não têm ambição e de ter um foco em projetos excelentes, que precisam de condições reais para fazer seu trabalho. O jeito de se fazer ciência no Brasil precisa ser completamente repensado e repaginado.
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Saúde mental espera por dias melhores
05/05/2016 - Folha de S.Paulo / Site
Quando Valencius Wurch assumiu a Coordenação Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, iniciaram-se manifestações, em todo o país, lideradas pelo chamado movimento antimanicomial.
A indignação em relação ao novo coordenador deve-se ao fato de que Wurch dirigiu a Casa de Saúde Dr. Eiras, fechada em 2012 por apresentar irregularidades.
Apesar de também discordar desse formato, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) decidiu conhecer a proposta da nova gestão antes de partir para julgamentos. Durante tempos, essa coordenação negligenciou a importância do tratamento do doente mental, a ponto de nos fazer pensar que não tinha como piorar.
No Brasil, o cenário atual é gravíssimo. Só na cidade de São Paulo, por exemplo, dos 15 mil moradores de rua, 70% têm transtornos psiquiátricos. Já no Estado, dos 230 mil presos, ao menos 12% possuem transtornos mentais graves, como esquizofrenia, deficiência mental ou depressão. Questionamos se nesses casos, respectivamente, eles vivem na rua por opção ou se a cadeia é o local apropriado.
Somos todos antimanicomiais e a favor da combinação das melhores técnicas e tecnologias em prol da recuperação, reabilitação e reinserção dessas pessoas na sociedade.
O modelo de assistência centrado no hospital (hospitalocêntrico) é obsoleto e desnecessário. Mas o hospital psiquiátrico especializado tem o seu espaço, assim como as unidades especializadas em cardiologia e em oncologia são indispensáveis.
O Sistema Único de Saúde (SUS) precisa se tornar uma rede abrangente, de fácil acesso, com opções coerentes de tratamento. Ao invés disso, faltam ambulatórios e leitos em hospitais gerais e psiquiátricos.
A antiga coordenação não tinha sensibilidade para compreender que o paciente com transtorno mental necessita de um atendimento diferenciado.
Ao contrário, insistiu apenas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), o que chamamos de capscêntrico, modelo que só existe no Brasil, e que notoriamente é insuficiente e falido.
Enquanto no sistema público há tantos problemas, no privado o nosso país é referência em psiquiatria - o que é bastante contraditório, pois os mesmos profissionais atuam em ambos.
A diferença é que, no público, médicos e outros profissionais não têm condições de trabalho. Esse desequilíbrio ocorre há quase 30 anos e não pode continuar. Não suportamos mais ser vítimas dessa inquisição governamental.
A situação atual é tão desoladora para médicos, profissionais de saúde mental, pacientes e familiares que nossos votos são de esperança.
A ABP espera que a nova coordenação crie uma política pública de assistência em saúde mental que privilegie a promoção da saúde, a prevenção da doença e o tratamento ideal. Buscando dias melhores, preferimos nos colocar à disposição para ajudar. Optamos por conhecer a proposta e, se nada acontecer, teremos argumentos para cobrar.
Pedimos ao ministro da Saúde que a coordenação mudasse e fomos ouvidos. Não foi uma indicação nossa, mas acreditamos que a estratégia do Ministério da Saúde trará melhorias, e não retrocessos.
Há anos, a nossa luta é chamar a atenção para o paciente psiquiátrico, que vem sendo estigmatizado, excluído, sem o direito a um atendimento digno condizente com o seu real problema.
Hoje a nossa maior preocupação é que, finalmente, o Brasil tenha uma assistência em saúde mental efetiva, igualitária e qualificada. Não permitiremos que nossos pacientes sejam esquecidos.
Casos de microcefalia crescem 6% e chegam a 1.271 no país, diz ministério
04/05/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O Brasil já soma 1.271 casos confirmados de bebês com microcefalia e outras alterações do sistema nervoso, segundo boletim atualizado do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta-feira (4).
Os dados foram contabilizados até o dia 30 de abril. Balanço anterior, com dados até 23 de abril, apontava 1.198 casos confirmados, o que representa um aumento de 6% no período.
Ao todo, os casos confirmados estão espalhados em 470 municípios de 25 Estados. A região Nordeste, no entanto, ainda concentra 90% dos registros.
O balanço aponta ainda que, desde outubro de 2015, quando iniciaram as investigações sobre a microcefalia, já foram notificados 7.343 casos de bebês com suspeita do problema, situação que é verificada pelo perímetro da cabeça do bebê. Destes, cerca de metade, ou 51%, já foram classificados após resultados de exames: 1.271 confirmados e 2.492 descartados.
Essa última avaliação ocorre após exames não demonstrarem alterações no cérebro dos bebês ou apontarem causas não infecciosas para o problema, como fatores hereditários.
Já entre os casos confirmados, 203 tiveram resultado positivo para o vírus zika em exames. Apesar do número baixo de confirmações, o Ministério da Saúde diz considerar que a maioria dos casos esteja ligado ao vírus, identificado no país em abril de 2015.
Bactéria é usada para 'vacinar' Aedes contra zika
04/05/2016 - Folha de S.Paulo / Site
Uma bactéria que infecta boa parte das espécies de insetos do planeta pode ser usada para "vacinar" o mosquito Aedes aegypti, diminuindo muito ou mesmo eliminando o risco de que ele transmita o vírus zika, demonstraram pesquisadores brasileiros.
Se a ideia tiver sucesso em testes de larga escala, o combate às doenças transmitidas pelo A. aegypti finalmente deixará de depender de métodos trabalhosos e ineficientes, como a eliminação de criadouros e o uso de inseticidas.
Ainda não se sabe exatamente como a bactéria Wolbachia atrasa a vida do zika e de outros vírus semelhantes, como o da dengue. O certo é que o micróbio evoluiu para se tornar um especialista na manipulação do organismo de insetos, direcionando a reprodução deles para seus próprios fins.
Talvez por usar recursos do organismo do inseto que também são cruciais para os vírus, a Wolbachia é capaz de impedir que eles se estabeleçam com tranquilidade nos mosquitos.
Embora afete cerca de 40% dos insetos do mundo, a Wolbachia normalmente não "mora" no organismo do A. aegypti. Por isso, os pesquisadores do Centro de Pesquisas René Rachou, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Belo Horizonte, precisaram, em primeiro lugar, criar uma população que carregasse o micróbio.
"Os efeitos sobre o mosquito dependem da cepa da bactéria", explica Luciano Andrade Moreira, coordenador do estudo.
"No nosso caso, nós soltamos tanto machos quanto fêmeas com a Wolbachia. O macho infectado que cruza com a fêmea que não tem a bactéria faz com que ela fique estéril. Já a fêmea com Wolbachia é fértil e transmite a bactéria a todos os seus descendentes, o que faz com esse tipo de mosquito invada a população natural com bastante facilidade."
DA URCA
O passo seguinte do grupo foi infectar esses bichos com duas variantes diferentes do zika que circulam no Brasil e, ao mesmo tempo, contaminar também mosquitos sem a bactéria (coletados no bairro carioca da Urca).
Infectar ambos os tipos de inseto não ofereceu maiores desafios - bastou alimentá-los com sangue humano que carregava o zika (veja infográfico), com a ajuda de um aparato especial com uma membrana que, de certa forma, simula a temperatura da pele de uma vítima. "No Vietnã, em estudos desse tipo, pessoas de verdade são picadas", conta Moreira.
Após sete e 14 dias, o organismo dos bichos foi examinado, por meio de um teste que detecta o material genético do vírus, e a presença do zika foi medida na cabeça, no tórax, no abdômen e na saliva dos animais (esse último ponto é importante porque, afinal, é por meio da saliva, ao picar as pessoas, que o A. aegypti transmite os vírus que carrega).
Em todos os casos, a presença do zika foi muito menor nos bichos com a Wolbachia. O dado crucial, claro, é o da saliva: só 45% dos insetos que carregavam a bactéria tinham zika em sua saliva –contra 100% dos mosquitos livres do micróbio.
Mais importante ainda, quando essa saliva foi injetada em dois grupos de 80 insetos sem o vírus, nenhum dos que receberam a secreção dos A. aegypti com Wolbachia foi infectado com o zika –contra 85% dos injetados com a saliva dos mosquitos comuns.
Resta saber, é claro, qual seria o impacto prático desses achados numa cidade de grande porte sob o ataque dos mosquitos. É preciso que os mosquitos com Wolbachia sejam bons de reprodução também - só assim a bactéria poderia se espalhar por uma fração razoável da população da espécie, o que, em tese, reduziria a transmissão do zika e do vírus da dengue.
"Pelo que temos visto, os mosquitos com a nossa cepa de Wolbachia sobrevivem bem na natureza. As diferenças são pequenas - as fêmeas colocam 10% menos ovos, e esses ovos são um pouco menos resistentes quando ficam secos. Em áreas da Austrália onde a introdução aconteceu em 2011, até hoje uns 90% dos Aedes têm a Wolbachia."
Os pesquisadores ressaltam que não se trata de uma fórmula mágica, mas de uma possível arma adicional contra a doença. Por enquanto, foram feitos testes em campo em duas pequenas comunidades do Rio, cada um com 3.000 habitantes.
Moreira diz que a tecnologia já está pronta para um teste de grande escala, que envolverá também a avaliação da transmissão dos vírus para os seres humanos. "Estamos negociando como e quando fazer isso com o Ministério da Saúde e com as agências financiadoras", afirma.
A pesquisa está na revista científica "Cell Host & Microbe".
Alemanha dá passo para facilitar o uso medicinal da cânabis
04/05/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O Executivo alemão deu aval para o relaxamento das regras para o uso medicinal da cânabis.
O Ministério da Saúde do país informou, nesta quarta-feira (4), que uma legislação, que ainda precisa ser aprovada pelo Parlamento, deverá permitir que médicos prescrevam a substância na forma de flores secas e extratos nos casos em que não houver alternativa de tratamento para os pacientes.
A cânabis estará disponível nas farmácias, sob prescrição médica, e seu custo será coberto pelo sistema público de saúde, de acordo com o projeto que deve entrar em vigor no próximo ano.
Hoje, pacientes graves que querem ter acesso à droga precisam de uma autorização especial e devem pagar por ela.
O ministro Hermann Groehe (Saúde) enfatizou que a medida não significa uma legalização geral da cânabis no país. Somente o cultivo da substância para fins medicinais será permitido, sob supervisão federal.
"Nosso objetivo é que pessoas gravemente doentes sejam tratadas da melhor forma possível", disse o ministro por meio de um comunicado.
Se aprovado o projeto, a Alemanha se somará a outros países que já permitem o uso medicinal da cânabis, como a Itália e a República Tcheca.
Caminhando em outras frentes, Portugal descriminalizou o consumo das drogas para uso pessoal, alguns Estados americanos permitem o uso recreacional da maconha, e o Uruguai tem uma lei para controlar a produção e a distribuição da substância.
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