CLIPPING - 18/04/2016
Assessoria de Comunicação do CRF-SP
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Anvisa quer ir à justiça contra ‘pílula do câncer’.
16/04/2016 - Folha de S.Paulo
A Anvisa(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estuda ir à Justiça contra a liberação da produção, distribuição e uso da fosfoetanolamina sintética, substância conhecida como “pílula do câncer”.
A medida ocorre após a presidente Dilma Rousseff (PT) sancionar a lei que autoriza o uso da substância no tratamento de pacientes com câncer, mesmo após recomendação contrária de órgãos do governo, como o Ministério da Saúde e a própria Anvisa.
Para a agência, a liberação transforma em “medicamento” autorizado uma substância que, apesar de desenvolvida há 20 anos no Brasil em um a laboratório da USP, nunca passou pelos estudos clínicos necessários para comprovar sua segurança e eficácia.
“É importante ressaltar que liberar medicamentos que não passaram pelos devidos critérios técnicos significa colocar em risco a saúde da população”, afirma a Anvisa, em nota.
A agência alega ainda que jamais recebeu nenhum pedido de solicitação de registro ou de autorização para que os ensaios clínicos obrigatórios fossem realizados por pesquisadores e produtores interessados.
Outros motivos também pesam para a agência avaliar a possibilidade de recorrer à Justiça contra a fosfoetanolamina. A avaliação é que, além de trazer riscos à saúde, a autorização pela presidente Dilma Rousseff também interfere na autonomia e reconhecimento da agência, responsável pelo acompanhamento e liberação de medicamentos no país.
Outros órgãos de governo evitaram se manifestaram com a mesma força sobre a decisão.
Questionada, Emília Curi, ministra interina do Ministério da Ciência e Tecnologia, pasta que financia pesquisas sobre a fosfoetanolamina, disse que a decisão ocorreu devido à forte comoção social e do Congresso, mas foi tomada “com cuidado” pela presidente.
Inicialmente, Curi negou que a medida tenha sido precipitada. Em seguida, porém, disseque, se pudesse, “como cientista e pesquisadora”, teria pedido mais prazo para que o tema fosse analisado ou “que esperassem um amadurecimento das pesquisas”.
A previsão é que os estudos pré-clínicos (em animais e células) sejam finalizados neste ano. Em nota, o Ministério da Saúde informou que deve criar um comitê para estabelecer critérios para a prescrição, uso e distribuição do produto.
Uma liberação temerária
18/04/2016 - Época
A presidente Dilma Rousseff sancionou na quarta-feira, dia 13, a lei que autoriza a produção e distribuição de fosfoetanolamina sintética para pacientes com câncer. Chamada de “pílula do câncer”, a substância nunca passou por estudos em seres humanos e não tem eficácia comprovada. Entidades de médicos e da indústria farmacêutica protestaram. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que a medida é um risco sanitário porque libera o uso de uma substância que não passou por testes de segurança e eficácia.
OMS aprova o uso da 1ª vacina contra dengue no mundo
16/04/2016 - O Estado de S.Paulo
GENEBRA - A Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou o uso da primeira vacina contra a dengue, depois de investimentos pelo setor privado de 1,5 bilhão de euros durante 20 anos. Após a reunião nesta sexta-feira, 15, do Grupo de Especialistas sobre Imunização (SAGE, sigla em inglês), a entidade anunciou a recomendação em locais onde a doença é endêmica.
A informação foi dada pelo presidente do SAGE, John Abramson, que indicou que tem confiança no efeito da nova vacina, a Dengvaxia, produzida pela multinacional francesa Sanofi Pasteur. Na avaliação da OMS e da empresa, pode mudar a história do combate à doença.
No Brasil, no México, em El Salvador e nas Filipinas, os governos e agências de regulação já haviam dado sinal verde para o uso do produto. Agora, a OMS chancela a decisão. Mas, para Abramson, governos devem usar apenas em locais onde exista uma alta taxa de transmissão da dengue, e com surtos recorrentes. Um critério que deve ser usado, segundo a OMS, é de que o vírus tenha uma prevalência de mais de 50% na região afetada.
A ideia é de que a vacina possa ser usada em programas de imunização. Segundo a recomendação da OMS, ela deve ocorrer entre crianças de 9 a 11 anos. Mas Abramson admitiu que a eficiência da vacina aumenta com os mais velhos. A vacina ainda terá de ser dada em uma série de três doses.
"Nossas recomendações levam em conta o custo-benefício", indicou Joachim Hombach, um dos membros do SAGE. "Se temos dúvidas se uma vacina pode ter efeitos colaterais em crianças, recomendamos que ela seja dada a partir dos 9 anos", explicou.
Segundo a Sanofi, a decisão vai abrir o caminho a amplas campanhas de vacinação na América Latina e na Ásia. A cada ano, a dengue afeta 390 milhões de pessoas pelo mundo, dos quais 96 milhões precisam de tratamento - 500 mil ainda são internados, e é letal em 2,5% dos casos.
A decisão da OMS foi tomada depois da revisão de 25 estudos realizados pelo mundo, tanto em países endêmicos como em locais onde os casos não tem frequência elevada.
De acordo com a empresa, um dos principais estudos mostrou que a vacina protegeu dois terços das pessoas vacinadas na América Latina, envolvendo mais de 40 mil crianças e adolescentes.
No que se refere às formas mais severas da dengue, o produto teria sido eficiente em 93% dos casos, com uma redução de hospitalização de 80%.
Na avaliação da empresa, o novo produto deve permitir que os países onde a dengue é endêmica possam atingir os objetivos da OMS de reduzir em 50% a mortalidade e de até 2020.
Os dados da Sanofi indicam que, em 50 anos, os casos de dengue foram multiplicados por 30. Especialistas também alertam que, com o aquecimento global e as mudanças em certos ambientes, a densidade do mosquito vetor do vírus deva se acentuar.
A farmacêutica estima que 35 países devam agora autorizar o uso da vacina até o final do ano. A Sanofi garante que, em um primeiro momento, vai produzir cerca de 100 milhões de doses ao ano. Neste mês, o grupo lançou sua primeira campanha de vacinação, nas Filipinas. O projeto previa a imunização em 2013. Mas acabou atrasada em três anos. Duzentas mil pessoas já foram beneficiadas.
Pedaladas malignas.
17/04/2016 - Folha de S.Paulo
A liberação da mal denominada "pílula do câncer" (fosfoetanolamina), por meio de lei sancionada pela presidente Dilma Rousseff (PT) e não pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), reproduz em microcosmo a decadência institucional dos últimos 18 anos.
Em 1998, muitos brasileiros, incluindo jornalistas de ciência interessados na então controversa engenharia genética, foram surpreendidos pela notícia de que alimentos transgênicos estavam em fase final de liberação pelo governo. No Planalto, estava o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Em dezembro daquele ano, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), autorizou o plantio em escala comercial da soja geneticamente modificada.
Seguiu-se uma longa batalha jurídico-institucional. Adversários da tecnologia combatiam-na com ajuda de juízes e procuradores alarmados, ainda que sem nenhum conhecimento de causa.
Produtores embasbacados com a promessa vazia de milagres agronômicos adotaram o cultivar transgênico, plantado com sementes contrabandeadas da Argentina. Em 2003, o governo Lula legalizou a tal "soja Maradona".
Resumindo a ópera: corpos técnicos do Estado trabalharam pelo sucesso comercial de um produto longe das vistas do público. Mesmo com as resistências surgidas, o governo federal capitulou diante do fato consumado imposto por produtores de soja.
O processo que levou ao vergonhoso licenciamento da "fosfo" seguiu um roteiro semelhante. No que ele tem de diferente daquele de 1998, a mudança foi para pior.
Na berlinda está não a inovação tecnológica de uma multinacional demonizada, mas uma panaceia farmacológica produzida naquilo que, em termos científicos, equivale a um fundo de garagem: um laboratório de ensino de química. Enfeitado, vá lá, com a grife acadêmica "USP".
Um obscuro e messiânico pesquisador elege sua pílula como causa de vida. Por duas décadas, a distribui entre portadores desesperados de câncer. A fosfo cai na boca do povo e da imprensa menos rigorosa.
Quando a universidade acorda e tenta acabar com a festa populista, a Justiça se encarrega de continuá-la. Liminares e mais liminares obrigam da USP a fabricar e fornecer a garrafada em cápsulas.
Logo aparecem os penetras: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), que torram dinheiro público com testes clínicos intempestivos; Congresso Nacional, que só enxerga dividendos na prática de enganar o povo; Dilma Rousseff, que não enjeita nem o mais vergonhoso expediente na tentativa vã de reverter sua impopularidade.
Se hoje se provaram infundados os temores com os transgênicos, menos sólidas ainda são as razões para acreditar na fosfo. Aqueles ao menos passaram por ensaios controlados antes de liberados pela CTNBio; esta nunca passou por teste algum e jamais chegou a ser submetida ao crivo da Anvisa.
Resumindo a ópera, tornada bufa: em vez de endeusar, como fez o Executivo em 1998, agora os três Poderes da República se juntaram para dar pontapés no corpo técnico-científico ao qual se delegou, democraticamente, a missão de zelar pelos medicamentos. E o fizeram por motivos torpes, irresponsabilidade e total ignorância.
Placebos, médicos e charlatães
16/04/2016 - Folha de S.Paulo / Site
O conceito de que placebos são preparações inertes deve ser abandonado. O efeito causado por eles é definido como "a melhora dos sintomas resultante da participação da pessoa doente num encontro terapêutico, com seus rituais, simbologias e interações".
É um efeito precipitado pelo contexto e o ambiente em que acontece a intervenção, seja realizada por médicos e outros profissionais da saúde, curandeiros ou charlatães.
A diversidade de sinais e comportamentos associados ao placebo inclui o avental branco, o estetoscópio, o ambiente hospitalar, o contato com as mãos que examinam e a empatia.
A neurobiologia do efeito é mais complexa do que imaginávamos. Envolve neurotransmissores (endorfinas, canabinoides e dopamina) e a ativação de regiões cerebrais de alta relevância funcional (córtex pré-frontal, ínsula e amígdala), os mesmos circuitos ativados por diversos medicamentos.
Pesquisas recentes conseguiram identificar alguns genes presentes nas pessoas mais suscetíveis à ação dos placebos. A elucidação desses mecanismos básicos trouxe credibilidade científica aos placebos. Sua atividade é mediada por fenômenos biopsicossociais que vão além das remissões espontâneas das doenças e das flutuações dos sintomas que as caracterizam.
O que aprendemos sobre eles, nos últimos anos?
Primeiro: Embora sejam capazes de aliviar sintomas, eles não curam nem alteram a fisiopatologia das enfermidades.
Por exemplo, não há evidência de que consigam reduzir as dimensões de massas tumorais, mas podem aliviar sintomas do câncer e os efeitos indesejáveis do tratamento: fadiga, náuseas, vômitos, dores ou ondas de calor da menopausa induzida.
Nos casos de asma, não melhoram os índices das provas de função pulmonar, mas podem diminuir a intensidade das crises de falta de ar.
Respostas semelhantes foram encontradas em afecções neuromusculares, gastrointestinais e urogenitais.
Segundo: O impacto da simbologia e das interações com o médico podem potencializar a eficácia dos medicamentos tradicionais.
Há um estudo em que pessoas com enxaqueca foram divididas em dois grupos: um deles recebeu um comprimido que continha 10 mg de rizatriptano, rotulado erroneamente como placebo; ao outro, foi administrado um comprimido de placebo com o rótulo de rizatriptano. Com a troca de rótulos, o alívio da cefaleia foi idêntico em ambos os grupos
Quando os mesmos pacientes receberam os 10 mg de rizatriptano rotulados como tal, o efeito analgésico foi 50% superior ao do placebo. Resultados semelhantes foram descritos com morfina, diazepan e fentanila.
Terceiro: Os mesmos fatores psicossociais que promovem os benefícios dos placebos, podem dar origem a efeitos indesejáveis (efeito nocebo).
É o caso das náuseas antecipatórias dos pacientes que vomitam ao chegar no hospital, antes de entrar na sala de quimioterapia.
Num estudo, portadores de aumento benigno da próstata medicados com finasterida, previamente informados de que a droga poderia interferir com a potência sexual, queixaram-se três vezes mais desse inconveniente, do que aqueles tratados com a mesma droga, sem ter recebido essa informação.
Num estudo com um anticonvulsivante no tratamento da enxaqueca, pacientes que receberam comprimidos de talco (placebo), aparentemente idênticos aos do medicamento, queixaram-se de perda de memória e do apetite.
Um levantamento de vários ensaios clínicos mostrou que em 4% a 26% dos casos, os participantes interrompem o placebo por causa de reações colaterais.
Uma variedade infinita de placebos é receitada por vizinhos, curiosos, avós, religiosos e navegadores da internet. Os benefícios obtidos fazem a fama de curandeiros e de alguns médicos que trabalham na área da assim chamada medicina alternativa. A elucidação dos mecanismos neurobiológicos envolvidos na ação dos placebos começa a dar sentido ao bem-estar que certos pacientes referem sentir com eles.
Por outro lado, precisamos aprender como a atenção, a empatia, o exame físico cuidadoso e as palavras de conforto podem tirar partido da neurobiologia do efeito placebo, na prescrição dos medicamentos de alta eficácia à disposição da medicina moderna.
Médicos vão ao STF contra pílula do câncer.
16/04/2016 - O Estado de S.Paulo
A Associação Médica Brasileira (AMB) protocolou ontem ação direta de inconstitucionalidade (ADI) e mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a lei que permite o uso da fosfoetanolamina sintética, a “pílula do câncer”.
O coordenador jurídico da entidade, Carlos Michaelis Júnior, argumenta que a lei, sancionada anteontem pela presidente Dilma Rousseff, representa ameaça à saúde pública. “Não há nenhum estudo mostrando que o produto é eficaz. Além disso, há grave risco de pacientes abandonarem tratamentos para usar algo que não sabemos nem mesmo a composição.” A lei libera produção, uso e prescrição do composto para pessoas com câncer, apesar de ele nunca ter sido avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Pacientes podem adquirir o produto desde que apresentem laudo médico e termo de consentimento.
A expectativa é de que nas próximas 48 horas haja uma decisão sobre o pedido de liminar.
A fosfoetanolamina sintética começou a ser produzida em um laboratório do Instituto de Química de São Carlos, da Universidade de São Paulo (USP), há mais de 20 anos pelo professor Gilberto Chierice. Até 2014, as pílulas eram distribuídas para pessoas interessadas. Foi quando a prática acabou interrompida pela USP, iniciando uma série de ações judiciais.
Ontem, Chierice falou a uma rádio de São Carlos (SP). “É uma vitória para o doente de câncer”, afirmou, destacando que a batalha até uma distribuição total para os interessados será longa. Segundo ele, os resultados variam de acordo com a pessoa, mas já recebeu “relatos de centenas de pacientes que registraram efeitos positivos com o uso da fosfoetanolamina”.
Por enquanto, cerca de 900 pacientes receberam o produto regularmente da USP.
Para Chierice, a pílula representa “um fato novo, uma teoria nova” na forma como encarar o câncer. “O tumor deixa de ser visto como doença e passa a ser encarado como ‘modificação celular’”, ressaltou, para falar da eficácia terapêutica.
Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Gustavo Fernandes diz que a ação da AMB representa o pensamento das entidades médicas.
“É uma unanimidade. Ninguém quer colocar o paciente em situação de risco.” Ele acredita que, mesmo com a liberação, a fórmula não será prescrita por especialistas. “É uma substâncias em dosagem. Qualquer prescrição será falha.” Anvisa. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária avalia também a possibilidade de ingressar com medidas regulatórias para tentar reduzir os riscos dos efeitos da lei. A autarquia descartou a possibilidade de entrar com ação na Justiça. Desde que a proposta foi aprovada na Câmara, a Anvisa sustenta que a liberação do uso do composto traz riscos para a saúde pública e abre um perigoso precedente, pois despreza as regras existentes para a produção e desenvolvimento de medicamentos e coloca no mercado, sob força de lei, uma substância que fica à margem de qualquer possibilidade de controle.
“Quem garantirá ao consumidor que a substância que está adquirindo não é uma inescrupulosa falsificação? Quem garantirá que a quantidade da substância informada na embalagem é efetivamente a que existe no interior de cada cápsula?”, questionou a autarquia.
Governo paulista só vai produzir fosfoetanolamina para pesquisa.
16/04/2016 - O Estado de S.Paulo
O secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, disse ontem ser contra a liberação do uso da fosfoetanolamina sem comprovação de sua eficácia e afirmou que o laboratório contratado pelo governo estadual para produzir cápsulas que serão usadas em pesquisas clínicas não fornecerá o produto para pacientes que não estiverem participando dos estudos.
“A secretaria está comprando a síntese desse sal por contrato de um laboratório privado para uso exclusivo em pesquisa. E nem poderia ser diferente, porque há um pedido de registro de patente dos pesquisadores. Então,não podemos entrar na seara da discussão de algo que pretende ser patenteado e provavelmente vai ser explorado por pesquisadores ou por laboratórios privados. Isso não tem nada a ver com o Estado de São Paulo”, afirmou.
O secretário disse ainda que a liberação da pílula só deveria acontecer após a conclusão dos estudos. “Sou absolutamente contra (a liberação). Não vou desdizer minha história. Além de secretário, eu sou professor de Medicina e fiz pesquisa a vida inteira.O Estado de São Paulo resolveu dar uma solução para isso ao fazer a pesquisa clínica por meio de um projeto muito bem elaborado pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), que vai se iniciar assim que o laboratório responsável pela síntese da fosfoetanolamina der para a Furp (farmácia do Estado) encapsular.
Segundo o laboratório PDT Pharma, de Cravinhos, responsável pela produção, o primeiro lote da fosfoetanolamina sintética que será usado na pesquisa do Icesp começará a ser produzido nos próximos dias. O lote inicial renderá 70 mil cápsulas.
Os testes devem começar ainda neste mês e, no total, a primeira etapa do projeto prevê a fabricação de 360 mil cápsulas.
Juristas questionam validade da lei que autoriza ‘pílula do câncer’ .
16/04/2016 - O Globo
Além de provocar a ira da comunidade científica, a decisão da presidente Dilma Rousseff de liberar a fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”, está sendo contestada por juristas. A falta de consulta à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é apontada como o principal ponto fraco da nova lei. Especialistas acreditam que, sem os testes clínicos exigidos para que a substância seja classificada como “medicamento”, a disponibilidade do produto com o consentimento do governo federal põe em risco a segurança do consumidor.
Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio) e mestre em Direto da Regulação, Rafael Véras reconhece que o paciente deve ter autonomia para buscar qualquer tratamento que garanta a sua sobrevivência, incluindo métodos científicos, alternativos e religiosos. No entanto, a Anvisa, que exerce o papel de “polícia sanitária”, segundo ele, é imprescindível para definir se um medicamento é ou não seguro e eficaz.
— Essa nova lei caracteriza um contorno institucional para que a vontade política prevaleça sobre a vontade reguladora, independente e isenta, já que o governo esvaziou a competência da Anvisa — condena Véras.
O advogado Marcelo Calixto, professor de Direito do Consumidor da PUC-Rio, também considera que a aprovação da medida acarreta em danos à saúde do usuário da “pílula do câncer”.
— É direito fundamental do consumidor ter segurança contra os riscos provocados por serviços perigosos e nocivos — ressalta. — É um problema, porque, como a substância não passou pelos testes necessários, não conhecemos seus riscos. Sem um estudo rigoroso, temos uma lei formada por uma antecipação inadequada e criticável.
CAUSAS PERDIDAS
Consumidores insatisfeitos com o tratamento à base de fosfoetanolamina sintética, no entanto, precisarão trilhar um caminho obscuro na Justiça. A ação civil pública começa na vara federal, mas o governo pode alegar que só aprovou a substância com base nos estudos conhecidos até a assinatura da lei.
— Os fabricantes, por sua vez, responderiam a ações nas varas estaduais, mas eles podem afirmar que não sabiam os efeitos adversos da “pílula do câncer” — explica Calixto. — Mas, na verdade, eles têm muitos meios para obter informações sobre os produtos, já que aprofundam os estudos sobre as substâncias antes de vendê-las. E os fornecedores também poderiam ser acionados.
Conselheira da OAB-RJ e professora de Pós-Graduação de Direito da Uerj, Vânia Aieta avalia que a abordagem dada pelo governo à fosfoetanolamina sintética pode determinar sua validade jurídica.
— Muitos produtos, como vitaminas e pílulas anticoncepcionais, são comercializados em larga escala sem a aprovação da Anvisa. Se a pessoa aceita tomar, tem também uma parcela de responsabilidade — diz. — Outra situação, muito mais grave, seria se o governo tivesse apresentado a substância como a cura do câncer.
Ainda assim, Vânia acredita que as ações judiciais contra a “pílula do câncer” são causas perdidas: os fabricantes da fosfoetanolamina sintética podem se proteger descrevendo uma série de possíveis efeitos colaterais na bula, por exemplo.
— Quem lê bula não toma remédio. Há sempre uma lista de inúmeras recomendações — afirma. — Ainda estamos tateando possibilidades legais sobre a fosfoetanolamina sintética, porque não conhecemos uma situação semelhante.
Pressa que ameaça vidas
17/04/2016 - O Estado de S.Paulo / Site
No Brasil têm sido dados muitos passos para trás na economia, comprometendo conquistas como a estabilidade fiscal e financeira. Agora se está jogando fora o que foi construído nos últimos 40 anos em termos de fiscalização na área de saúde. Não podia haver momento pior para a presidente Dilma Rousseff avalizar a decisão precipitada do Congresso Nacional de liberar, por lei, o uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida como a “pílula do câncer”, sem nada que garanta a eficácia e a segurança dela. A sanção presidencial ao projeto originário do Congresso foi uma decisão pouco responsável, tomada em meio à crise moral, política e econômica que abala o País e em pleno caos na saúde pública, particularmente em prejuízo dos mais carentes.
O poder público precipitou-se ao autorizar a produção, manufatura, distribuição e dispensação da substância, sem atentar para a falta de provas de que ela de fato cura sem prejudicar a saúde de quem a usa. Muito requisitada por pacientes terminais de câncer, a cápsula em questão é fabricada há 20 anos num laboratório do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos, no interior paulista. A atividade tem provocado intensa polêmica.
Em 2014, a USP proibiu a entrega de produtos experimentais a pacientes e a proibição se estendeu à fosfoetanolamina sintética. Mas era tal seu êxito de vendas que a instituição teve de responder na Justiça a 15 mil ações. Esses processos chegaram ao Supremo Tribunal Federal (STF), que normalmente adota uma atitude prudente, e, se concede liminares aos pacientes, logo recua dessas decisões. A questão levantou mais celeuma ainda depois que a universidade mandou lacrar o laboratório que a produzia. Isso não pôs fim à confusão, pois o STF mandou entregar cápsulas até o estoque acabar.
O Legislativo deu, então, sua contribuição para a lambança. A toque de caixa, contrariando o moroso ritmo habitual do trâmite legislativo, um projeto de autoria de 26 deputados federais foi aprovado na Câmara e no Senado. Os parlamentares não o discutiram nem deram ouvidos a especialistas cônscios dos riscos que correm pacientes que abandonem tratamentos e remédios já testados para adotar outro, sobre cujos efeitos no combate à gravíssima moléstia, ou colaterais no organismo, não há nenhuma comprovação científica.
A Lei 13.269 de 2016 foi sancionada sem nenhum veto da presidente da República, que não deu a mínima importância para as advertências feitas por autoridades e especialistas em saúde. Dilma Rousseff não levou em conta nenhum dos argumentos deles, como o fato de a tal pílula só ter sido testada em camundongos, nunca em humanos. De acordo com técnicos do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), esta não se mostrou pura nem eficaz contra o câncer em testes in vitro. E, açodados, Legislativo, Executivo e Judiciário não esperaram a conclusão de testes clínicos feitos no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
O empenho em atender ao clamor dos pacientes não justifica o açodamento. Os legisladores só pensaram nos votos que podem ganhar nas próximas eleições com a divulgação de seu apoio à aprovação da lei. Dilma não levou em conta o risco de vida dos pacientes, sobre o qual foi alertada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Emília Curi, titular do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, interina como vários colegas na Esplanada dos Ministérios na atual quadra política, disse que a sanção presidencial é uma reação à “comoção da sociedade”. A Anvisa, porém, recorrerá à Justiça, na esperança de que o STF perceba que não há nenhum motivo lógico para tanta precipitação em assunto de tal gravidade. Como advertiu em nota, o Conselho Federal de Medicina não recomenda a “pílula do câncer”, pelo menos até que a eficácia e a segurança dela sejam reconhecidas em pesquisas científicas abalizadas. Que mal haverá em esperar um pouco mais?
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Mercado Aberto: Mercado das Arábias
18/04/2016 - Folha de S.Paulo
Os Emirados Árabes Unidos buscam fechar parcerias com empresas paulistas, sobretudo de segmentos como saúde, alimentação e serviços.
O potencial de investimento dos estrangeiros nos setores público e privado do Brasil pode chegar a US$ 20 bilhões (R$ 70,2 bilhões), segundo a Investe São Paulo (agência paulista de promoção).
Além disso, a Câmara de Comércio de Dubai deve abrir em São Paulo, ainda no segundo semestre, seu primeiro escritório na América Latina, de acordo com Juan Quirós, presidente da entidade.
Também haverá incentivos para que companhias paulistas instalem representações naquele país. "O empresário poderá operar em Dubai e ganhar mercado mais facilmente na África e no Oriente Médio. A estrutura será de uma incubadora de inovação."
Em novembro e dezembro, estão programadas duas missões no Estado de São Paulo de investidores árabes.
"A abertura do Irã também permite o acesso a um mercado comprador de grande potencial. As empresas que se instalarem nos Emirados poderão usar a região como uma ponte para exportar."
20% dos tumores de tireoide não são câncer
16/04/2016 - Folha de S.Paulo
Um tumor de tireoide que hoje responde por 20% dos casos de câncer nessa glândula foi reclassificado e agora passa a ser considerado uma lesão benigna. Ou seja, deixou de ser câncer.
Com isso, 46 mil pessoas que são diagnosticadas por ano com esse tipo de tumor no mundo passarão a ser poupadas da remoção completa da tireoide e da iodoterapia (um tipo de radioterapia), que é atualmente o tratamento padrão nesses casos.
A reclassificação foi feita por um painel internacional de especialistas, composto por 24 patologistas de sete países (dentre eles o Brasil), dois endocrinologistas, um cirurgião da tireoide, um psiquiatra e uma paciente.
O estudo que embasou a mudança foi publicado nesta quinta (14) na revista científica "Jama Oncology".
Chamado de "variante encapsulada folicular do carcinoma papilar da tireoide (EFVPTC, na sigla em inglês)", o tumor reclassificado é um pequeno nódulo na tireoide que está cercado por uma cápsula de tecido fibroso. O núcleo se parece com um câncer, mas as células não ultrapassam o invólucro.
Portanto, a cirurgia para a retirada total da glândula seguida de iodoterapia é "desnecessária e nociva", dizem os autores do artigo.
Segundo Venâncio Avancini Ferreira Alves, diretor do centro de patologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e um dos autores do trabalho, a partir de agora, a indicação será apenas a retirada do nódulo, com preservação da glândula, e o acompanhamento do paciente.
"Vamos poupar complicações da cirurgia, como a rotura do nervo vago, que pode causar rouquidão, ou a retirada das paratireoides, que geram alterações de vitamina B e do metabolismo do cálcio. A iodoterapia também está associada a lesões na regiões vizinhas da irradiada."
Para Clóvis Klock, presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Patologia), a mudança também terá economia para os sistemas de saúde. "Estima-se o custo para tratar cada paciente com esse tipo de tumor varie entre US$ 5.000 e US$ 8.500 por paciente. Quando a gente multiplica isso por 46 mil por ano, o impacto é grande."
Venâncio Alves explica que a reclassificação só foi possível graças a estudos citológicos e moleculares que permitiram diferenciar o tumor de outros realmente malignos e com potencial de metástases.
"Os critérios e as evidências em medicina são dinâmicos. Até ontem de manhã [quinta, data da publicação do artigo], os médicos não tinham acesso a essa informação. Então, quem foi operado sem necessidade, não foi por erro médico", diz Alves.
Segundo Klock, as novas recomendações serão repassadas aos patologistas para que, a partir de agora, passem a usar os novos critérios em seus diagnósticos.
ESTUDO
O estudo que motivou a reclassificação do tumor analisou 109 pacientes com uma forma não invasiva da doença e 101 pacientes que desenvolveram a forma invasiva. Os grupos foram acompanhados por períodos que variaram de dez a 26 anos.
Também foi feita uma revisão dos materiais (como amostras dos tumores) coletados pelos patologistas.
Todos os casos, pelos critérios até então adotados, foram classificados como câncer. Os pacientes com tumores encapsulados, porém, não foram tratados após a remoção. Nenhum deles teve qualquer evidência de câncer após dez anos.
"Os pacientes cujos tumores estão confinados dentro de suas cápsulas tem um excelente prognóstico. Eles não precisam de uma tireoidectomia. Eles não precisam de radioterapia. Eles não precisam de ser acompanhadas a cada seis meses", diz Yuri Nikiforov, do departamento de patologia Universidade de Pittsburgh (EUA).
"Se não é um câncer, não vamos chamá-lo de câncer", disse John Morris, presidente eleito da Associação Americana de Tireoide e professor de medicina da Clínica Mayo.
Para Clóvis Klock, o estudo servirá para embasar debates sobre outros tumores, como de mama e de próstata, que não são invasivos e os pacientes poderiam ser poupados de terapias agressivas.
Técnica acha genes que fazem controle de qualidade do DNA
18/04/2016 - Folha de S.Paulo
Um novo método para identificar genes responsáveis pelo “controle de qualidade” do DNA pode ajudar no diagnóstico e tratamento de vários tipos de câncer.
O trabalho, que combinou técnicas de bioinformática com análises funcionais, encontrou 182 genes do tipo GIS, sigla inglesa para supressores de instabilidade do genoma. Desses, 98 nunca haviam sido descritos antes.
“Isso tem potencial para levar a novas terapias, bem como a testes que podem predizer quão agressivo é um dado tumor”, diz Sandro de Souza, pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e um dos autores do estudo, publicado na “Nature Communications”.
A pesquisa ajuda a ilustrar como o que se convenciona chamar de câncer na verdade é uma complexa série de doenças diferentes, que só têm em comum o crescimento descontrolado de células que sofreram mutação. (Isso reforça a ideia de que dificilmente haverá uma pílula capaz de resolver todo os casos, como a fosfoetanolamina.) Os pesquisadores se concentraram num fenômeno que se observa com grande frequência em alguns tipos de câncer, como o colorretal, mas não em outros, como a leucemia. É um embaralhamento forte do genoma da célula, referido tecnicamente pela sigla GCR, de rearranjo cromossômico grosseiro.
Ele acontece quando genes responsáveis por manter o DNA todo organizado falham nessa função e induzem ao surgimento de mutações, que por sua vez aumentam as chances de surgir um tumor maligno. Mas quais exatamente são esses genes, os tais GIS? Achar a resposta era o objetivo principal do estudo.
Sob a liderança de Richard Kolodner, pesquisador do Instituto Ludwig para Pesquisa sobre o Câncer, nos EUA, o grupo se concentrou primeiro no genoma da levedura Saccharomyces cerevisiae.
A caça aos tais genes não seria trivial, pois não é fácil bolares quem as capazes de revelá-los em culturas de células. Eis então a inovação: o trabalho começou numa “caçada virtual”, em computador.
Usando técnicas de bioinformática aperfeiçoadas ao longo dos últimos anos, os pesquisadores “pescaram”, no genoma da levedura, uma série de possíveis candidatos.
Então, com esses genes na mira, partiram para testes práticos com culturas de células. Foram descobertos 182 genes do tipo GIS, além de outros 438 que não são da mesma categoria, mas agem em concerto para que o sistema de preservação da integridade do genoma funcione.
EM HUMANOS
Uma vez identificados os candidatos, o trabalho voltou ao computador, com a comparação entre os genes da levedura e os do genoma humano. Ao confrontar os genes GIS identificados com os contidos nos dados do Atlas do Genoma do Câncer, os pesquisadores notaram que há uma correlação forte entre defeitos nessas sequências genéticas e o surgimento de cânceres como o ovariano e colorretal.
O estudo oferece mais lampejos sobre como funcionam certos tipos de câncer, provavelmente induzidos por mutações que levam ao colapso do sistema de controle de qualidade do DNAe ao surgimento de rearranjos cromossômicos grosseiros.
Segundo os autores, ele também abriria portas para o desenvolvimento de novos tratamentos. “Se tivermos como restaurar a função desses genes, isso traz um potencial terapêutico”, diz Souza.
Planos de saúde em risco
18/04/2016 - Correio Braziliense
Os participantes de planos de saúde de autogestão — administrados diretamente por empresas, fundações e caixas de assistência — podem preparar o bolso. O aumento contínuo dos custos acima da inflação e a paulatina redução do patrimônio das instituições reforçam a tendência de elevação das mensalidades para que o atendimento aos associados possa ser mantido. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a Geap, principal operadora dos servidores públicos federais, que reajustou as contribuições em 37,55% no ano passado, depois de uma alta de 14,62% em 2014.
Planos de autogestão podem ser subsidiados pelas empresas patrocinadoras — Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Petrobras, por exemplo — ou por rateio entre os participantes. Todos eles têm como uma das maiores preocupações, no momento, a elevação dos custos de procedimentos médicos, por conta do uso de tecnologias mais complexas e da alta do dólar e da energia elétrica.
A situação vem se agravando desde 2007. Mas em 2015, pela primeira vez nos últimos cinco anos, os resultados financeiros do setor despencaram. As receitas de contribuições caíram para R$ 12,25 bilhões, ante R$ 14,81 bilhões em 2104. Enquanto isso, as despesas assistenciais baixaram de R$ 13,74 bilhões para R$ 11,75 bilhões, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula o setor. A se manter a atual conjuntura, de aumento no desemprego, juros elevados e alta do custo de vida, os 5,4 milhões beneficiários dessa modalidade no país serão chamados a pagar parte da conta.
A tendência é de paulatina redução do patrimônio das entidades, com o consequente aumento nos valores das mensalidades, e de redução na oferta de procedimentos médicos, na avaliação de Luiz Carlos Cotta, diretor da Comissão Técnica Nacional de Planos de Autogestão em Saúde, da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp).
INFLAÇÃO MÉDICA
Em 2012, a Abrapp calculou que, em seis anos, a inflação médica acumulada foi de 118%, contra 46% do IPCA. “Em 2015, a inflação oficial foi de 10,6%; a médica chegou a 20%”, lembrou Cotta. “E as operadoras não obtêm, hoje, a rentabilidade de outrora nas aplicações financeiras”, assinalou. No ano passado, o Ibovespa, principal índice da BM&F Bovespa, teve queda de 13,31%, o terceiro ano seguido de perda. Desde 2012, a baixa acumulada é de 29%.
O desequilíbrio das receitas atinge em cheio empresas e associações públicas e privadas. A Associação Brasileira dos Empregados em Telecomunicações (Abet), que obteve resultado positivo de R$ 358,7 mil em 2014, registrou deficit de R$ 7,9 milhões no ano passado. O superavit da Postal Saúde, que presta assistência aos empregados dos Correios, desabou de R$ 118,1 milhões em 2014 para R$ 10,1 milhões em 2015. O número de beneficiários caiu de 420,3 mil para 416,4 mil nesse período, encolhendo as receitas. Em todo o sistema, de acordo com a ANS, 90.940 beneficiários saíram dos planos de autogestão no ano passado.
A Postal Saúde informou que, em 2014, quando começaram as operações, teve recursos para a constituição de provisões técnicas. Em 2015, no entanto, só conseguiu ganho nas aplicações financeiras, com resultado nulo entre receitas e despesas operacionais. Para enfrentar a situação, a entidade cogita “rever e renegociar contratos, além de reduzir custos administrativos, investir na prevenção de doenças dos beneficiários, exercendo controles mais rígidos e aperfeiçoando a governança da operadora.” A Abet não se posicionou. A Geap, a maior das empresas de autogestão, foi uma exceção à regra. Em 2014, amargou um deficit de R$ 98,3 milhões. Em 2015, com o reajuste das contribuições, saltou para um superavit de R$ 202,4 milhões.
O aumento da longevidade da população é outro problema para os planos, que têm 26% da carteira composta por pessoas com mais de 60 anos de idade, que demandam mais procedimentos médicos. “A autogestão é o segmento que tem o maior número de idosos. Isso traz para as empresas um aumento sensível de sinistralidade”, avalia o sócio-fundador do escritório Toro e Advogados Associados, José Luiz Toro da Silva.
As possíveis saídas dessa encruzilhada não são fáceis. Cotta elenca, entre elas, parcerias dos planos em compras de insumos para reduzir despesas. Aconselha, também, que o governo crie incentivos para o setor, na forma de redução de Imposto de Renda dos associados. Um projeto em discussão é a criação do PrevSaúde — com ou sem a participação patronal —, um tipo de seguro que os trabalhadores pagariam na atividade para gozar na aposentadoria. “Os recursos seriam administrados por empresa de previdência complementar. Mas há resistência do Ministério da Fazenda”, disse.
“Em 2015, a inflação oficial foi de 10,6%; a médica chegou a 20%. E as operadoras não obtêm, hoje, a rentabilidade de outrora nas aplicações financeiras”
FLEXIBILIZAÇÃO
Na opinião do setor, o desequilíbrio nas receitas poderia ser amenizado, ou até revertido, se a ANS flexibilizasse algumas medidas. Entre as principais teses da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas) está a ampliação do prazo para a formação das margens de solvência, que hoje é de 10 anos. A entidade defende que, para as instituições do segmento, o tempo seja pelo menos o dobro.
Corpo reproduz efeito medicinal da maconha
18/04/2016 - Correio Braziliense
Os nomes são anandamida e 2-AG, mas você pode chamá-las de maconha do cérebro. O termo é informalmente usado por cientistas para se referir às duas substâncias produzidas pelo corpo que agem protegendo o cérebro em situações de risco. Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) debruçam-se sobre esse mecanismo: querem entendê-lo para desenvolver medicamentos que estimulem a atividade do chamado sistema endocanabinoide, no qual esses compostos atuam.
“Sabemos que esse é um sistema protetor do cérebro, com função de resguardá-lo de estímulos que representem ameaça, por exemplo, uma pessoa que passou muito estresse e desenvolveu depressão ou transtorno do pânico. Descobrimos que essas substâncias agem no sentido de tentar atenuar esses efeitos com o intuito de proteção, como se fosse um sistema imunológico do cérebro”, detalha Fabrício Moreira, professor de farmacologia da UFMG e líder do projeto com a colega Daniele Aguiar.
A pesquisa foi iniciada em 2010, no Laboratório de Neuropsicofarmacologia do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da universidade. Envolve também parcerias com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto; e o Instituto Max Planck de Psiquiatria, em Munique, na Alemanha. Segundo Moreira, ainda não há perspectiva de quando um medicamento com essa finalidade estará disponível no mercado.
O nome maconha do cérebro deve-se ao fato de a anandamida e o 2-AG agirem no mesmo receptor em que atua o tetrahidrocanabinol (THC), principal substância responsável pelos efeitos entorpecentes da droga. “Nos receptores do cérebro, onde agem medicamentos como analgésicos, há um específico do THC. O que ninguém sabia era o porquê, já que, só depois, foi achada essa ‘espécie de THC endógeno’, ou seja, produzido pelo cérebro. Isso abriu nova e imensa perspectiva para entender o funcionamento do órgão”, contextualiza o professor.
Paralelamente, os pesquisadores mineiros estudam o canabidiol, outra substância presente na planta da maconha (Cannabis sativa) e que tem rendido aplicações medicinais consideradas interessantes. “Ele não induz aqueles efeitos da maconha como droga de abuso, causados pelo THC. É possível isolá-lo e já se sabe que ele estimula a produção da anandamida e do 2-AG. Sutilmente, facilita a ação dessas substâncias”, explica.
REFERÊNCIA
A descoberta dessas substâncias não foi feita por Fabrício Moreira. Entidades como o próprio Max Planck e as universidades da Califórnia, nos Estados Unidos, e de Nápoles, na Itália, também investigam a anandamida e o 2-AG. No Brasil, há grupos acadêmicos com esse foco em São Paulo, Santa Catarina e Brasília — o da UFMG apresentará resultados da pesquisa neste ano em congresso na Polônia.
“Pesquisas com maconha são feitas há bastante tempo”, acrescenta o pesquisador. Ele cita, entre os pioneiros, o professor Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que, há cerca de 50 anos, estuda como a maconha atua no cérebro e as possíveis aplicações medicinais da droga. “É o grande nome, o primeiro a ser citado. Ele sempre foi também um grande formador de pesquisadores, fazendo com que o Brasil seja um país importante nesse ponto de vista”, completa Moreira. O surgimento de um remédio baseado nesses princípios poderia substituir, por exemplo, a fluoxetina (Prozac é um dos seus nomes comerciais), bastante utilizada no combate à depressão. “Buscamos o desenvolvimento de medicamentos que ajam por outro mecanismo e possam ter relação de segurança e eficácia mais favorável em relação ao que já existe, ou seja, mais seguros e com menos efeitos colaterais. A fluoxetina, por exemplo, tem vários efeitos e muitos pacientes não respondem a ela”, diz.
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Mortes causadas por H1N1 chegam a 91 em SP; vacinação atinge 1/3 da meta
16/04/2016 - O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Em uma semana, o número de mortes confirmadas por gripe H1N1 no Estado de São Paulo subiu de 70 para 91, alta de 30%, conforme balanço divulgado ontem pela Secretaria Estadual da Saúde. O número é nove vezes maior do que o registrado em todo o ano passado, quando dez pessoas morreram pela doença. O medo do surto precoce nas cidades paulistas teve reflexo na adesão à campanha de vacinação contra a gripe, iniciada no dia 4 para profissionais de saúde e no dia 11 para idosos, gestantes, crianças e indígenas da capital e da região metropolitana. Em duas semanas de imunização, 36% do público-alvo já foi vacinado.
O balanço mais recente da secretaria mostra ainda que já foram notificados 715 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causados pelo H1N1 neste ano, ante 33 registrados em todo o ano de 2015. Tratam-se dos relatos graves da doença, que exigem internação. Somados todos os tipos de gripe, o Estado já acumula 886 casos de SRAG e 96 óbitos.
Também ontem a secretaria divulgou que 1,6 milhão já recebeu a vacina contra a gripe no Estado de São Paulo, somados os públicos-alvo da capital, da Grande São Paulo e de 67 municípios da região de São José do Rio Preto, onde o surto teve início. O número é 74% maior do que o público vacinado na primeira semana da campanha do ano passado, quando o produto já estava disponível para todos os grupos de risco e em todo o Estado. Na ocasião, 916 mil pessoas foram imunizadas.
Neste ano, ainda não foi iniciada a vacinação para doentes crônicos e puérperas (mulheres que deram à luz há menos de 45 dias) da capital e da Grande São Paulo, que começarão a ser imunizados na próxima segunda-feira, e para o restante dos paulistas que fazem parte dos grupos de risco mas que não moram em nenhuma das regiões onde o imunizante foi oferecido de forma antecipada. Estes só poderão imunizar-se a partir do dia 30, quando a campanha nacional será iniciada.
Comparando os balanços da primeira semana de campanha de 2015 e 2016, é possível ver que o maior crescimento na adesão aconteceu nos grupos dos profissionais de saúde e das crianças. No ano passado, foram 70,8 mil trabalhadores e 123,9 mil crianças imunizadas. Neste ano, já são 402,3 mil e 396,2 mil, respectivamente. Podem ser vacinados maiores de 6 meses até 5 anos incompletos.
Já entre os idosos, o número de imunizados passou de 576 mil para 779 mil no período analisado. No grupo de gestantes, a adesão cresceu de 46,7 mil para 65,2 mil, mesmo com os números do ano passado incluindo também puérperas.
BOA NOTÍCIA
Para Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a alta adesão à campanha já era esperada com o aumento de casos da doença e deve ser comemorada. “É bastante prudente essa procura antecipada porque, depois de aplicada, a vacina ainda demora cerca de três semanas para fazer efeito, então, quanto antes os grupos de risco se imunizarem, mais cedo teremos a população protegida.”
O especialista afirma que a expectativa é de que a meta governamental de vacinar 80% do público-alvo seja atingida daqui a duas semanas no Estado de São Paulo. “No ano passado, só chegamos a esse índice no fim de junho. Infelizmente, nossa cultura é de se preocupar com um problema somente depois que ele aparece”, diz. Conforme o Estado mostrou no fim de março, o índice de paulistas vacinados contra a gripe em 2015 foi o menor dos últimos três anos.
Começana 2ª vacinação de doente crônico contra gripe
16/04/2016 - Folha de S.Paulo
Pessoas com doenças crônicas e mulheres que deram à luz há até 45 dias vão poder tomara vacina da gripe a partir da próxima segunda (18) nos postos de saúde da capital e da Grande São Paulo.
Os dois grupos, além dos detentos e funcionários de presídios, são os próximos a receber as doses antes da campanha nacional de vacinação, que vai do dia 30 de abril até 20 de maio.
O surto de gripe H1N1, que já deixou 91 mortos no Estado de São Paulo, levou a Secretaria de Saúde da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) a antecipar a imunização dos grupos de risco na região (o restante do Estado segue o calendário nacional).
Dos 886 casos de infecção grave pelo vírus influenza no Estado, 715 deram positivo para H1N1. Em todo o ano passado, foram confirmados 141 casos e 10 mortes pelo mesmo vírus em São Paulo.
Idosos, crianças de seis meses a cinco anos de idade e grávidas começaram a ser vacinados na última segunda-feira (11) e continuarão a ser atendidos até maio.
Para as mulheres que tiveram filhos recentemente, a vacinação é importante porque a imunidade fica mais baixa durante a gravidez e aumenta nas semanas após o parto. Já os doentes crônicos —entre eles pessoas com diabetes, obesidade, pressão alta, câncer e doenças do coração—correm mais risco de sofrer complicações.
Plantão Médico: Vírus da zika continua sendo um grave problema.
16/04/2016 - Folha de S.Paulo
O "British Medical Journal" desta sexta-feira (15) confirma problemas em bebês de mães afetadas pelo vírus da Zika. O estudo radiológico assinado pela professora Maria de Fátima V. Aragão e por colaboradores afasta, em seus 23 bebês diagnosticados com a infecção congênita, outras causas da microcefalia, como toxoplasmose, citomegalovírus, rubéola, sífilis e HIV.
O exame de raios X sugere "danos extremamente severos no cérebro, indicando um pobre prognóstico para a futura formação neurológica desses bebês".
Na revista "American Journal of Public Health", Enny S. Paixão e colaboradores da London School of Hygiene and Tropical Medicine e da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, concluem que a situação atual relacionada ao Zika não é muito animadora: não existe vacina ou tratamento para a doença, nem bons testes sorológicos para o diagnóstico e o controle do Aedes permanece um desafio.
A dificuldade com o aedes, explicam, é que o mosquito se reproduz até em pouca água, como uma tampinha de garrafa, e seus ovos são extremamente resistentes. Esses ovos podem sobreviver em local seco por mais de um ano.
A estimativa para a taxa de infecção pelo zika, assim como para outras arboviroses, é alta, pois cerca de 2,5% da população brasileira seria portadora do vírus. Para os autores, uma estimativa acurada inclui alto índice de infecções inaparentes e afasta reações cruzadas do zika e dengue no teste sorológico.
Hipóteses da Zika.
17/04/2016 - Folha de S.Paulo
Nas últimas semanas, a taxa de crescimento dos casos de microcefalia arrefeceu, o que indica que o pior do primeiro e impactante surto brasileiro de zika já deve ter passado. De saldo para a ciência biomédica ficam poucas certezas e muitas dúvidas, especialmente os mecanismos pelos quais o vírus direta ou indiretamente consegue agredir células nervosas.
O surto que pegou de surpresa o país e o mundo deixou pelo menos 1.113 casos de microcefalia. Se a taxa de confirmação se mantiver, serão ao menos 2.500 casos de crianças com a má-formação.
Já parece ruim, mas pode ser somente a ponta do iceberg: há mais complicações neurológicas do que a microcefalia, que pode ser considerada um problema mais extremo.
Outros achados incluem calcificações, alargamento de cavidades cerebrais e até problemas oculares que podem causar cegueira.
Uma das maneiras pelas quais o vírus da zika pode atrapalhar o organismo é interferindo na função de retrovírus endógenos—que foram há muito incorporados ao nosso genoma e que hoje somam cerca de 8% do total do DNA humano—, explica Augusto Penalva, diretor do Grupo de Pesquisa em Neurociências do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Os retrovírus endógenos assumiram funções como a de promotores de crescimento celular. Ou seja, sem um no caso de defeito, as células poderiam deixar de se multiplicar ou de migrar para a região correta do encéfalo, provocando más-formações. Segundo essa hipótese, os casos mais graves dessa briga de vírus poderiam gerar quadros de microcefalia.
A pesquisa brasileira foi pioneira ao descrever as alterações oculares em bebês decorrentes da infecção congênita pelo ZIKV (vírus da zika), além de sua capacidade de infectar e “se esconder” na placenta —ampliando o tempo de permanência no organismo de mulheres grávidas.
Essa liderança também despontou na pesquisa com minicérebros —elaborados modelos in vitro do órgão humano—, do cientista da UFRJ Stevens Rehen. O vírus da zika tem potencial para atazanar as células de forma que a perda neuronal se torna um cenário mais que provável.
As evidências apontam para a característica neurotrópica do vírus, ou seja, o fato de que ele tem uma afinidade química, molecular, por células nervosas. Dentro da célula, usurpando seus recursos, o promissor futuro de um neurônio (ou de uma célula-tronco progenitora) é apagado.
Curiosamente, as explicações para o dano neurológico do ZIKV começaram a surgir bem antes do surto de microcefalia.
Um estudo inglês de 1971 já havia mostrado a capacidade desse vírus para atacar neurônio sem fetos de camundongos. À época, seria impossível para os autores imaginar que o assunto fosse voltar à tona com tanta força.
Na pesquisa inglesa foi mostrado que o vírus também é capaz de atacar células da glia, que servem de arcabouço para os neurônios e criam condições para que funcionem adequadamente.
Outra possível sabotagem indireta causada pelo ZIKV é a reação inflamatória desencadeada por glóbulos brancos na presença do agente. O organismo não funciona adequadamente e pode até lesar o tecido nervoso.
É possível que mais de um desses mecanismos danosos do vírus da zika operem simultaneamente e ainda que se retroalimentem.
Com a comoção global, já proliferam trabalhos científicos em diversos países, inclusive alguns que associam o vírus a outras doenças neurológicas, como a paralisante síndrome de Guillain-Barré e a encefalomielite aguda disseminada (Adem).
Nos exemplos, trata-se de um tropeço da natureza: em vez de fabricar um anticorpo que ataque somente o ZIKV, o organismo faz um que ataca a bainha de mielina, capa que reveste axônios, os longos braços de neurônios que permitem uma rápida transmissão do impulso nervoso.
Sem essa capa, a informação passante acaba sendo deteriorada rapidamente.
Atacar o sistema nervoso, no entanto, não é prerrogativa exclusiva da zika. Outras arboviroses (doenças transmitidas por artrópodes, como os mosquitos aedes), a exemplo da dengue e da encefalite japonesa, também têm característica neurotrópica.
Expansão de radioterapia atrasa no país
18/04/2016 - Folha de S.Paulo
Enquanto discussões sobre terapias não comprovadas como a “pílula do câncer” avançam no país, iniciativas para ampliar o acesso a tratamentos reconhecidos têm sofrido entraves.
Quatro anos após o lançamento de plano para a expansão da radioterapia no SUS, nenhum dos 80 novos aparelhos previstos para ofertar o serviço a pacientes com câncer está funcionando. Eles nem sequer foram instalados.
Anunciada em 2012, a iniciativa, considerada um marco no setor, previa entre as ações a instalação de aceleradores lineares —aparelhos usados na radioterapia— em 80 hospitais de 23 Estados.
Além de capitais e cidades com maior demanda, entraram na lista à época 41 municípios onde não havia oferta desse tratamento no SUS.
Inicialmente, a previsão era que as primeiras máquinas começassem a operar em 2014, quando a Folha noticiou o atraso pela primeira vez.À época, a resposta foi de que o serviço estaria finalizado até este ano. Até agora, não há serviços habilitados.
Documentos do Ministério da Saúde indicam que houve atraso na elaboração de projetos para reforma dos hospitais, que precisam construir uma espécie de “bunker” para acolher os equipamentos.
Dos 80 hospitais, só dez já tiveram obras iniciadas.
Outros 63 estão em fase de licitação, licença ambiental ou ainda em readequação dos projetos.
Para complicar, sete hospitais saíram do plano —dois por problemas técnicos e cinco por conta própria, devido às dificuldades em pagar os custos adicionais do projeto, como contratação de profissionais especializados.
“Se continuássemos, teríamos de fechar o hospital”, diz Darci da Costa Filho, administrador do Hospital de Caridade São Braz, em Santa Catarina, que solicitou a saída.
O Ministério da Saúde diz que os hospitais que saíram devem ser substituídos, mas não divulgou os novos locais.
Nos demais hospitais, dados indicam que a previsão é que as obras sejam finalizadas até o fim de 2018.
LONGE DO IDEAL
Como projeto, a expectativa é que o total de serviços de radioterapia no SUS seja ampliado em até 28%. Hoje, há 286 máquinas para o tratamento disponíveis na rede.
O número, porém, ainda está longe do ideal, diz Eduardo Weltman, da Sociedade Brasileira de Radioterapia.
Ele estima, a partir de critérios da Organização Mundial de Saúde, deficit de 300 máquinas para as redes pública e privada do país.
“Muitos pacientes têm indicação de radioterapia, mas como não tem vaga, começam a quimioterapia, tratamento que não é o melhor [para o caso]”, afirma.
Hoje,a estimativa é que 60% dos pacientes com câncer no país precisem da radioterapia.
Neste ano, são esperados 597 mil novos casos, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Sem amplo acesso aos serviços, pacientes esperam na fila por tratamento. A situação é mais difícil quando há necessidade de tipos específicos de radioterapia.
Diagnosticada com um linfoma raro, a professora Elaine de Moura Cabral, 51, que mora em Brasília, só conseguiu acesso ao tratamento que precisa em Campinas (SP), em 2014, após dez meses de espera. “Agora, tive uma recidiva e devo entrar na fila de novo”, relata.
Para Luciana Holtz, presidente da Oncoguia, associação que representa pacientes, apesar da expansão da rede ser uma conquista para o setor, é preciso investir em medidas para melhorar o cenário também a curto prazo.
“A nossa angústia é o paciente hoje, que precisa da radioterapia e enfrenta esperas gigantescas”, afirma.
No Hospital Dom Pedro de Alcântara, de Feira de Santana (BA), um dos poucos com as obras adiantadas, hoje o aparelho disponível atende a cem pessoas por dia. O tratamento dura cerca de 40 dias.
A diretora da unidade de oncologia, Lídia Matos, espera resolver a fila coma chegada do novo aparelho.
Vacina contra a gripe em SP começa para doente crônico
18/04/2016 - Folha de S.Paulo
Depois de quase um milhão de pessoas receberem a imunização contra a gripe na rede pública da capital paulista em uma semana de vacinação, começa nesta segunda-feira (18) uma nova etapa da campanha contra o vírus H1N1. Agora, o público-alvo são pessoas com doenças crônicas e mulheres que deram à luz há menos de 45 dias.
De acordo como último balanço da Secretaria de Estado da Saúde,96 pessoas morreram em São Paulo devido a complicações causadas pelos vírus mais graves da gripe, sendo que 17 delas estavam na capital. Ao todo, foram 715 casos de H1N1.
A campanha de vacinação foi antecipada no Estado devido à circulação também antecipada do surto da gripe.
Especialistas avaliam que, cada vez menos, as doenças chamadas de sazonais vão ter ciclos determinados, uma vez que o brasileiro tem viajado mais e trazido microrganismos ativos em outras partes do mundo para o país.
Na Grande São Paulo, a imunização na rede pública começou com profissionais de saúde —ao menos 200 mil foram vacinados—e avançou para crianças maiores de seis meses e menores de cinco anos, gestantes e idosos.
No Estado, até agora, segundo a Secretariada Saúde, a cobertura vacinal chegou a 36% do público-alvo.
RISCO
Reportagem da Folha do último dia 10 revelou que o público que também terá acesso à vacina a partir de agora, como diabéticos, pessoas com doenças cardiovasculares, renais, e neurológicas crônicas, além de obesos mórbidos e imunodeficientes, formam o grupo com mais chances de desenvolver quadros complicados de gripe.
A previsão da Secretaria Municipal da Saúde é vacinar 642.877 pessoas com doenças crônicas e 21.679 mulheres que tiveram bebê há menos de 45 dias na capital.
Neste último caso, a vacinação é importante porque a imunidade fica mais baixa durante a gravidez. Isso acontece devido a uma reação do corpo para evitara rejeição do feto, mas se normaliza algumas semanas após o parto.
DOCUMENTO
Para receberem a vacina gratuitamente, as pessoas com doenças crônicas— também está incluso quem tem Síndrome de Down— devem levar aos postos de saúde um atestado médico com o código da doença no CID-10 (Código Internacional de Doenças) da OMS (Organização Mundial da Saúde) A receita de um médico com o medicamento de uso contínuo também é válida para receber a dose de vacina.
Mulheres que deram à luz recentemente devem levar a certidão de nascimento do bebê, o cartão gestante ou uma declaração do hospital onde o parto foi realizado.
Em média, a vacina leva de duas a quatro semanas para começar a fazer efeito no organismo. Medidas de higiene pessoal, como lavar as mãos, segundo os médicos, são fundamentais para evitar a proliferação dos vírus.
A imunização de agora é para moradores da Grande SP. O restante dos municípios do Estado deve começar a vacinação da população a partir de 30 de abril.
Um ano após 1º caso oficial de zika, microcefalia faz bebê tomar até Rivotril.
17/04/2016 - O Estado de S.Paulo
João chora. Chora sem parar, molhado de suor, mesmo usando apenas uma fraldinha descartável. Parece inchado. Chora aos berros na varanda da casa de quatro cômodos onde vive com a mãe, o pai e cinco irmãos, na Praia de Pau Amarelo, em Paulista, na região metropolitana de Recife. O calor é escaldante sob as telhas de amianto. Não dá para saber se o choro é por calor, fome, fralda suja ou dor. Já sabem, porém, como aquietá-lo. É só dar o remédio: a dose de Rivotril.
Ele tem microcefalia causada pelo zika, vírus transmitido pelo Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e da chikungunya. Os primeiros casos da zika foram oficialmente notificados há um ano, em abril de 2015, na Bahia. Entre setembro e outubro, gestantes que tiveram a virose começaram a dar à luz bebês com cabeças menores. Dezenas. Centenas. Segundo o Ministério da Saúde, 1.113 casos de má-formação foram confirmados – 189 têm relação com o zika. Nesta semana, o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA afirmou que “não restam dúvidas” da causa.
Em crianças como João, de 7 meses, quase tudo é um enigma para a ciência. Imagine para os pais. O choro aflitivo é só um dos desafios. O pai, Fabio da Silva Araújo, de 34 anos, nem sabe explicar como vai criar o filho. Está sem carteira assinada há dois anos e vive de bicos. A mãe, Neide Maria Ferreira da Silva, de 41, diz que não entende muito bem o que é microcefalia, mas já sabe que a sua experiência não vale muito: João é o 12.º filho. É irmão gêmeo de Ana, que não tem a má-formação.
João chora no colo de Neide. A vizinha Valéria Gomes Ribeiro, de 45 anos, pega o menino. Vira de frente. De lado. Balança. João vai sossegando. Agora, porém, ele olha para o vazio. Parece ausente. Está duro. Costas rígidas. Perninhas rígidas. Bracinhos retraídos. “Ele é assim. Nervoso. Meio durinho. É da doença. Mas o remédio acalma”, explica Valéria.
Rivotril e Neuleptil, ambos tarja preta, são apenas alguns dos medicamentos usados para controle de ansiedade que foram adotados nos primeiros meses de vida de bebês para aplacar o choro.
“São crianças com alterações neurológicas, e quem tem esse tipo de alteração costuma ser mais irritado”, diz Danielle Cruz, coordenadora do Laboratório de Microcefalia do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). “Alguns são calmos, mas outros a gente só acalma com remédios.” Rivotril ganhou espaço porque tem a versão em gotas. “A gente precisa ir tateando até achar a quantidade certa.”
Sem padrão. Realidade desconcertante. Por ser uma anomalia nova, a microcefalia causada por zika não tem tratamento testado, aprovado e prescrito. Está sendo desenvolvido à medida que as crianças crescem e as sequelas surgem – sequelas essas que, por sua vez, não têm um padrão. Há casos leves, outros críticos e alguns, fatais: 48 bebês morreram em Pernambuco, não de microcefalia, mas das fragilidades derivadas dela. Especialistas reconhecem que não têm como prever o dia de amanhã. “É tudo novo”, diz a neuropediatra Ana Van Der Linden, do Imip.
Ana é uma das médicas que identificaram que havia um surto de microcefalia no Estado e acompanha a evolução dos casos – e do tratamento. “Nos dois primeiros meses, eles choravam muito. Agora vieram as convulsões. A maioria tem uma boa audição, mas descobrimos que a formação da visão está comprometida.”
Para as mães, a peregrinação imposta pela dedicação diária a múltiplos exames, idas e vindas a hospitais e testes de remédios é uma dor adicional. “Vivo entre a cruz e a espada”, diz a dona de casa Gabriela Ananias, de 31 anos. O filho Lucas, de 6 meses, há três iniciou o tratamento com o antiepilético Sabril. Sem condições de comprar o remédio, que não está na rede pública e custa entre R$ 300 e R$ 350, ela tem recorrido à ajuda de amigos e parentes. “Eu não queria dar o remédio porque é muito forte, mas não tive escolha. Ele estava tendo mais de 50 convulsões por dia.” O bebê já havia sido medicado com Gardenal, mas não respondeu bem.
Aos 8 meses, Marcela também teve de tratar convulsões. Acompanhada pela equipe do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, ela toma Trileptal. A mãe, a diarista Maria do Carmo da Silva, de 32 anos, não se conforma. “Minha filha era agitada, mas comia bem e eu conseguia fazer nela os exercícios que a fisioterapeuta ensinou”, diz. “Desde que começou a tomar o remédio, só dorme e vomita muito, mas, se eu não dou, me arrependo logo, porque aí os tremores e o choro ficam fortes.”
O pior de tudo é que ninguém, nem especialistas, sabe que limitação a microcefalia vai causar e qual tratamento será o adequado. Juliana da Silva, de 22 anos, define bem a situação. Pedro Henrique, de 5 meses, chora muito, mas não toma remédios, sorri para ela, faz fisioterapia. Ainda assim, ela vive tensa. “Eu não sei o que ele vai ter quando acordar amanhã.”
Prefeitura de SP vacina 1 mi contra gripe
17/04/2016 - O Estado de S.Paulo
Na primeira semana da campanha de vacinação contra a gripe para crianças menores de 5 anos, idosos e gestantes, os postos municipais de saúde imunizaram 1,032 milhão de pessoas – 40,4% do público-alvo.
Iniciado no dia 11, o programa foi antecipado por causa do surto de H1N1 e do aumento de mortes no Estado.
Segundo a Prefeitura, a quantidade de vacinas aplicadas é a maior já registrada. “A população está bastante preocupada.
A divulgação e a antecipação (do surto de H1N1) chamaram a atenção de todos”, disse o secretário municipal da Saúde, Alexandre Padilha, ontem.
As mortes por H1N1 no Estado de São Paulo subiram de 70 para 91 em uma semana, segundo balanço da Secretaria Estadual da Saúde divulgado anteontem. O índice é nove vezes superior a todos os casos registrados em 2015, quando houve dez mortes.
O secretário, no entanto, afirmou que a situação na capital é menos grave do que em anos anteriores.
“Estamos muito distantes do que foi a pandemia.
Não existe a possibilidade de chegar à situação de 2009.” Filas. Na semana passada, a população formou fila durante a madrugada nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). “Chegamos a ter, em média, mais de 300 pessoas vacinadas por minuto nas 453 UBSs da cidade”, disse Padilha. Segundo o balanço, foram imunizados 36,3% dos idosos, 33,3% das crianças e 28,7% das gestantes esperadas na campanha. Também foram atendidos trabalhadores da saúde(76,3%do total do público-alvo) e puérperas (9,2%).
Padilha orientou que os interessados tentem se vacinar no fim da semana ou à tarde, períodos considerados mais tranquilos.
Nas 87 UBSs integradas a unidades da Assistência Médica Ambulatorial (AMA), o horário de funcionamento da sala de imunização é das 7 às 19 horas durante a semana e aos sábados.
Nas demais UBSs é possível se vacinar só até as 17 horas.
“Todos estamos preocupados”, disse Rula Masri, de 40 anos, que levou o filho de 1 ano para ser imunizado na manhã de ontem em uma unidade municipal no Pari, zona leste. Ela é libanesa e mora há 15 anos no Brasil. “Minha família me ligou do meu país pedindo para eu dar a vacina. Eles ficaram sabendo do surto pela TV”, contou.
Amanhã começará uma nova etapa da campanha, para portadores de doenças crônicas. Segundo Padilha, pacientes que não fazem tratamento no posto têm de apresentar receita médica que comprove que a pessoa integra o grupo de risco.
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