Criador da técnica opera mesmo sem aval do CFM
09/04/2016 - Folha de S.Paulo
A cirurgia experimental à qual Faustão se submeteu não é aprovada pelo CFM(Conselho Federal de Medicina) porque, segundo a entidade, faltam estudos que comprovem sua eficácia e segurança aos pacientes e, portanto, ela só pode ser feita dentro de protocolos de pesquisa.
Na época, o apresentador afirmou que sabia que a cirurgia era experimental.
Em seu programa, ele disse que com a operação, que o fez perder mais de 30kg, seria mais fácil controlar o diabetes e a pressão alta.
Mesmo sem respaldo do conselho, o cirurgião que operou o apresentador e também criador da técnica, Áureo Ludovico de Paula, continua realizando-a.
“Os resultados do estudo do Sírio são coincidentes com os nossos de mais de dez anos. A vantagem é que ele sai da minha experiência e compara outras modalidades de tratamento”, diz o médico, que não participou da pesquisa.
Em 2010, após uma paciente processar o cirurgião alegando problemas de saúde após a cirurgia, a Justiça Federal de Goiás proibiu, em caráter liminar, a realização do procedimento até que ele fosse aceito pelo CFM e pela Conep( Comissão Nacional de Ética em Pesquisa).
Mas, de acordo com o médico, outra decisão de janeiro de 2014 reverteu a anterior, baseada em avaliação de uma câmara técnica do CFM. “Judicialmente, estou autorizado a fazer a cirurgia.Mas o CFM formalmente não autorizou”, disse à Folha.
O conselho, porém, afirma que as câmaras técnicas propõem subsídios para que o plenário decida, mas não são um órgão autônomo dentro do conselho.
Segundo o CFM, médicos que infringem as regras do conselho, que estabelece limites éticos e práticos para a prática da medicina, estão sujeitos a penalidades.
Zika pode estar associado a outra doença neurológica
11/04/2016 - O Estado de S.Paulo
Além da microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré, o vírus zika pode estar associado a mais uma doença neurológica: a encefalomielite aguda disseminada (ADEM, na sigla em inglês), uma síndrome autoimune que causa inflamação no sistema nervoso central.
Um estudo feito no Recife e que será divulgado na sexta-feira, dia 15, no encontro anual da Academia Americana de Neurologia, em Vancouver, no Canadá, encontrou evidências de associação entre o vírus e a ADEM em pelo menos dois casos.
Cientistas já desconfiavam de uma conexão entre a zika e a ADEM, conforme foi noticiado pelo Estado em fevereiro. Mas só agora serão apresentados os resultados científicos do estudo liderado por Maria Lucia Brito Ferreira, chefe do Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração, no Recife.
“Embora seja um estudo pequeno, ele pode fornecer evidências de que, nesse caso em particular, o vírus causa no cérebro efeitos diferentes daqueles que haviam sido identificados nos estudos em curso. Mas muita pesquisa ainda terá de ser feita para explorar se há uma relação causal entre o zika e esses problemas cerebrais”, disse Maria Lúcia.
No estudo os cientistas acompanharam, entre dezembro de 2014 e junho de 2015, todos os casos de pessoas que chegaram ao Hospital da Restauração com sintomas de infecção por arbovírus – a família de vírus que inclui zika, dengue e chikungunya.
Todos os pacientes estudados chegaram ao hospital com febre e erupções na pele. Alguns também apresentavam coceiras, dores em músculos e articulações, além de olhos vermelhos. Alguns tiveram sintomas neurológicos logo em seguida e outros os apresentaram cerca de 15 dias depois.
Os autores registraram 151 casos com algum tipo de manifestação neurológica entre os pacientes, mas seis deles desenvolveram sintomas neurológicos típicos de doenças autoimunes – aquelas nas quais o sistema imunológico do paciente ataca e destrói células de tecidos saudáveis de seu próprio organismo.
TESTES
Os seis pacientes foram submetidos a exames e testes sanguíneos. Quatro apresentavam a síndrome de Guillain-Barré que, assim como a microcefalia, tem sido associada à infecção por zika. Outros dois foram diagnosticados com ADEM. Os testes revelaram que os seis já haviam sido infectados por zika, mas nenhum deles por dengue ou chikungunya.
Nos pacientes com ADEM, segundo os especialistas, as células de defesa do organismo no cérebro e na medula espinhal atacam a bainha de mielina, uma cobertura de gordura que envolve as fibras nervosas e tem função semelhante à da capa de um fio condutor de eletricidade. A síndrome de Guillain-Barré também é autoimune e envolve danos à bainha de mielina.
Nos dois casos registrados, as tomografias do cérebro mostraram que os pacientes com ADEM tinham sinais de danos na matéria branca cerebral. Segundo os cientistas, os sintomas são semelhantes aos de uma esclerose múltipla, mas em geral a ADEM provoca um único ataque do qual a maior parte dos pacientes se recupera em cerca de seis meses.
Quando tiveram alta do hospital, cinco dos seis pacientes continuavam apresentando problemas motores. Um dos pacientes teve problemas de visão e outro apresentou problemas de memória e de capacidade de raciocínio.
“Isso não quer dizer que todas as pessoas infectadas com o zika terão esse tipo de problema cerebral. Daqueles que apresentaram problemas no sistema nervoso, a maior parte não tem sintomas cerebrais. No entanto, nosso estudo pode ajudar a esclarecer possíveis efeitos duradouros com os quais o vírus pode estar associado no cérebro”, disse Maria Lúcia.
“Neste momento, não parece que os casos de ADEM estejam ocorrendo com uma incidência tão grande como a dos casos da síndrome de Guillain-Barré, mas essas descobertas feitas no Brasil sugerem que os médicos devem ficar vigilantes quanto à possível ocorrência de ADEM e de outras doenças autoimunes relacionadas ao sistema nervoso central”, disse James Sejvar, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) de Atlanta, nos Estados Unidos.
“A questão que permanece é: por que o vírus zika parece ter essa forte associação com a síndrome de Guillain-Barré e, potencialmente, com outras doenças autoimunes e inflamatórias do sistema nervoso? Felizmente, as pesquisas em curso sobre o vírus zika e as doenças neurológicas mediadas pelo sistema imune deverão esclarecer essas importantes questões”, afirmou Sejvar.
Estudo do Rio pode ajudar a testar vacina ou remédio contra zika
11/04/2016 - O Globo
O mesmo grupo de pesquisadores do Rio de Janeiro que flagrou, pela primeira vez, a destruição causada pelo zika dentro de células humanas comprovou agora que o modelo usado por eles pode ser empregado para testar vacinas e medicamentos com segurança. O estudo revela ainda mecanismos da ação do zika nos neurônios. O trabalho está na edição desta semana da “Science” e é uma das raras pesquisas inteiramente produzidas no Brasil publicadas na revista, uma das bíblias da ciência mundial.
Desde 1887, a “Science” publicou 170 mil artigos, mas só 79 deles de produção integralmente brasileira, sendo 35 de São Paulo. A nova pesquisa foi realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro e no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), tendo sido financiada, majoritariamente, por fundos públicos, como Faperj, Finep e CNPq.
— É importante para o combate ao zika e para a autonomia da ciência brasileira. O triste é que, com os cortes de bolsas e fundos de pesquisa deste ano, não será mais possível desenvolver trabalhos assim. Pudemos responder rapidamente à demanda da sociedade brasileira, mas tememos pelo futuro — afirma o líder do trabalho, o neurocientista da UFRJ e do IDOR Stevens Rehen.
Ele e o grupo integrado por Amílcar Tanuri, Patrícia Garcez, Rodrigo Brindeiro e outros seis cientistas usaram tecnologia de ponta para investigar como o zika destrói células do sistema nervoso. Trabalharam com células-tronco do sistema nervoso e estruturas chamadas neuroesferas e organoides cerebrais, os minicérebros.
ZIKA: PIOR QUE DENGUE 2
O trabalho obteve células tronco por meio de uma tecnologia que as induz a “regredirem”. Com isso, células maduras se tornam células-tronco. Com elas, Rehen e seu grupo puderam desenvolver neuroesferas, que a grosso modo são estruturas 3D do tecido nervoso e minicérebros.
Esses são uma ferramenta poderosa para simular o cérebro humano em desenvolvimento. Permitem acompanhar a devastação que o zika provoca no sistema nervoso dos fetos, o que seria, por motivos óbvios, impossível de se fazer de outra forma. O estudo revelou que os minicérebros infectados pelo zika sofreram maciça morte de neurônios, malformações e tiveram redução de crescimento de cerca de 40%. Para fins de comparação, os cientistas testaram o efeitos do vírus da dengue 2 nos minicérebros.
— A dengue 2 é capaz de infectar, mas não destrói as células nervosas. Nem de longe tem os efeitos do zika — diz Rehen.
O cientista observa que a tecnologia para desenvolver minicérebros é de extrema relevância.
— Esse tipo de trabalho é caro, mas a epidemia causa danos incalculáveis — destaca.
Uma das raras especialistas em microcefalia do país, a neurocientista Patrícia Garcez espera que a continuação do estudo revele muito mais sobre o avanço do zika no cérebro dos fetos.
Quanto vale prevenir contra o HIV?
11/04/2016 - Época
O Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (CRT), em São Paulo, ocupa um prédio pintado de amarelo, com aparência de gasto pelo tempo, na esquina de uma avenida movimentada. Por ele passam, todo mês, 9 mil pessoas em busca de tratamento. Quem trabalha no local percebe, no dia a dia, o que as estatísticas oficiais costumam acomodar em tabelas: o número de casos continua a crescer no Brasil. No final de 2014, viviam no país 781 mil pessoas com HIV/aids. Entre 2005 e 2014, o número de novas infecções entre brasileiros subiu 6%. No mundo, no mesmo período, caiu 28%.
A resistência em adotar métodos de prevenção nas relações sexuais é uma das principais causas. “Trabalho com aids há 25 anos”, diz o infectologista José Valdez Madruga, diretor do CRT. “Há 25 anos, digo ‘usem camisinha’. Mas não usam.”
Apenas pouco mais da metade da população sexualmente ativa diz usar camisinha em todas as relações sexuais, segundo um estudo do Ministério da Saúde. Por isso, uma combinação de drogas que reduz as chances de contrair o vírus é considerada um grande avanço no combate à epidemia.
O comprimido Truvada, produzido pela empresa americana Gilead Sciences, combina duas substâncias que bloqueiam a multiplicação do vírus, o teno-fovir e a emtricitabina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou sua adoção como método de prevenção em políticas públicas para homens que fazem sexo com homens. É nesse grupo que a epidemia mais cresce: 35% dos homens brasileiros infectados em 2015 faziam sexo com outros homens. Em 2014, esse grupo respondeu por 45% das novas infecções.
O Ministério da Saúde estuda desde 2014 incorporar o Truvada a sua política pública de distribuição de medicamentos. O objetivo é oferecê-lo a pessoas em grupos vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, transexuais e profissionais do sexo. Encomendou uma pesquisa com 500 voluntários, no Rio de Janeiro, em São Paulo e Porto Alegre, para entender se os brasileiros teriam disciplina para usar o medicamento todos os dias e se não abandonariam o preservativo por já se sentirem seguros com o remédio. Esse é o pior dos pesadelos de especialistas que são contra esse tipo de prevenção, chamada profilaxia de pré-exposição. Há a possibilidade de as pessoas apostarem apenas no comprimido como prevenção, em vez de usá-lo como complemento, e se exporem ao vírus, ao não usarem preservativo. Se elas não tomarem o remédio rigorosamente todo dia, aumentarão seu risco de contrair o vírus HIV.
Os resultados preliminares sugerem que tomar o Truvada não afetou a disposição dos participantes para usar preservativos. “Há indícios de um aumento no número de relações protegidas, em que a pessoa usa camisinha”, diz Madruga, que coordenou o trabalho com voluntários do CRT, em São Paulo.
O estudo deveria acabar em 2015, mas foi prolongado para mais um ano. “Quando pensamos que o estudo acabaria, ao final do primeiro ano, alguns voluntários juntaram dinheiro para tentar comprar o Truvada em uma importadora”, diz Madruga. O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, diz não haver dúvidas de que o Truvada será incorporado ao programa de prevenção do Ministério em 2016. “Os resultados preliminares dos diversos estudos são muito animadores”, diz Mesquita. A incorporação, prevista para o início deste ano e adiada sem prazo definido, esbarra em uma questão significativa: o preço do medicamento.
Críticos afirmam que o maior mérito do Truvada é servir como uma mina de ouro para a Gilead Sciences. Nos Estados Unidos, um mês da droga custa US$ 1.000.0 paciente, ou seu plano de saúde, deve bancar a compra. O Reino Unido, cujo sistema público de saúde se assemelha ao brasileiro, acaba de decidir que não é sua responsabilidade bancar o acesso da população à droga. Na Austrália, um dos países que cogitam oferecer o método, um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde concluiu que ele é caro demais, nos preços atuais, para ser ofertado a toda a população que poderia ser beneficiada. No Brasil, o ministério procura formas de driblar os preços altos: além da negociação com a Gilead, já procurou fabricantes de genéricos fora do país. Quer chegar a um valor inferior a US$ 320 por ano por pessoa.
O dilema de incorporar ou não drogas caras a políticas de saúde pública não é exclusividade do programa de aids. Acontece em outras áreas e é cada vez mais frequente, à medida que crescem os preços dos novos medicamentos. As opções nos tratamentos de câncer dão uma dimensão do problema: um estudo da Associação Econômica dos Estados Unidos concluiu que, entre 1995 e 2013, os preços de novas drogas oncológicas aumentaram US$ 8.500 em média a cada ano. Um dos motivos é a dificuldade para inovar. “Os medicamentos precisam ficar cada vez mais específicos. É mais difícil desenvolvê-los”, diz Antônio Britto, presidente executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. Estima-se que o custo de desenvolvimento de uma nova droga a partir do zero fique próximo de USS 850 milhões. A OMS alerta sobre o problema em seu site: “Há um conflito de interesses inerente entre o objetivo legítimo das indústrias (de ter lucro) e as necessidades sociais, médicas e econômicas dos prestadores de serviços de saúde e do público de selecionar e usar remédios de maneira racional”. Segundo a OMS, as dez maiores farmacêuticas do mundo trabalham com margem de lucro superior a 30%. Juntas, elas detêm mais de 30% do mercado. Hillegonda Maria Novaes, professora de medicina preventiva da Universidade de São Paulo, considera o setor concentrado demais. ‘‘Essas empresas podem impor preços”, afirma a pesquisadora.
O reflexo dos custos altos aparece nas contas do governo. Em 2003, 5,8% do orçamento do Ministério da Saúde era destinado a essas compras. Em 2015, a fatia cresceu para 14,4% do orçamento (leia 0 quadro acima). “No Brasil, a avaliação de eficiência laboratorial predomina sobre a avaliação de eficiência econômica”, diz Lia Hasenclever, economista especializada em saúde e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Como qualquer outro critério, ele tem consequências. “O cobertor é curto. Há sinais de que os medicamentos de alto custo têm prioridade e há problemas de desabas-tecimento, de falta de outros medicamentos”, diz Lia.
O governo tem algumas táticas para tentar reduzir o custo dos novos medicamentos. A primeira é negociar com os fabricantes. O limite de ação é restrito. “As empresas sabem que, se baixarem os preços no Brasil, vão ser pressionadas para baixar no resto do mundo”, diz José Miguel do Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Mesmo negociações bem-sucedidas não garantem medicamento barato. No ano passado, o governo conseguiu incorporar ao Sistema Único de Saúde três novos medicamentos para tratar hepatite C. Juntos, o sofosbuvir, o daclatasvir e o simeprevir dobram as chances de cura da doença em menos tempo de tratamento. O Ministério da Saúde conseguiu descontos de 95% na compra das drogas. Mesmo assim, tratar um paciente custa US$ 9 mil. Hoje, 1,4 milhão de brasileiros sofrem com hepatite C.
A segunda tática é firmar acordos de transferência de tecnologia e produzir o medicamento em laboratórios de propriedade do governo. A terceira tática, mais agressiva, é a emissão de licenças compulsórias, também conhecida como quebra de patente. Quando um medicamento de alto custo é considerado de interesse público, o governo pode requerer sua produção em empresas nacionais, à revelia de quem o desenvolveu (embora a companhia que criou a droga receba royalties).
Prevenir o avanço da aids é urgente. “Cada mês que passa sem o acesso ao medicamento representa uma oportunidade perdida de proteger a população”, afirma Alexandre Grangeiro, especialista em saúde pública e pesquisador da Universidade de São Paulo. O mesmo vale para tratar a hepatite C ou vacinar contra o vírus H1N1. No Brasil, o acesso à saúde é um direito constitucional. Com novos medicamentos cada vez mais caros e recursos limitados, é também um desafio para todos os governos.
Gripe ‘fora de hora’ antecipa campanhas de vacinação.
09/04/2016 - Folha de S.Paulo
A preocupação com o avanço da gripe H1N1 já ultrapassa São Paulo, Estado que concentra a maioria dos casos, e se estende para outros pontos do país.
O alerta ocorre diante de sinais de alta antecipada nos registros de casos da chamada SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e de mortes pelo vírus em outros Estados.
Ao todo, ao menos cinco deles, somados ao Distrito Federal e SP, já decidiram antecipar a vacinação, até então prevista para ocorrer em todo o país só a partir de 30 de abril.
Em SP, por exemplo, a partir de segunda (11),a vacina estará disponível para gestantes, crianças de seis meses a até cinco anos e idosos.
Para Cláudio Maierovitch, diretor do departamento de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, apesar de haver indícios de aumento de casos em outros pontos do país —principalmente em Santa Catarina,Goiás e Distrito Federal, segundo ele—ainda não é possível saber se esse avanço será mantido, assim como ocorre em São Paulo.
“Em Estados de menor população [e com menor número de casos], essa análise é mais difícil”, afirma ele. “Fazendo uma análise nacional, temos a impressão que a estação de gripe já chegou.” Para Maierovitch, apesar da necessidade de atenção, não há razão para alarme exagerado em todo o país.
“A ideia de que gripe é uma doença menor ainda é muito disseminada. Dificilmente vou me queixar de um alarme excessivo. Mas pelos dados que temos por enquanto, não parece que já tenhamos razão para isso”, afirma.
“Mas temos razões, sim, para alertar, especialmente pelo risco de uma situação de maior gravidade passar despercebida. Não temos que esperar uma epidemia para falar de prevenção.” antecipação Em Goiás,a imunização para o público considerado de maior risco de complicações da gripe (como gestantes, crianças menores de cinco anos e idosos) deve começar já no dia 12 na capital e em outras cidades do entorno.
No dia 18,a vacinação será estendida para os demais municípios goianos.
A medida ocorre diante de um aumento de casos graves ligados ao vírus H1N1.
Dados da Secretaria de Saúde do Estado apontam dez casos de síndrome respiratória aguda grave por H1N1 e seis mortes já confirmadas —no mesmo período de 2015, não houve registros.
O número de casos em investigação, no entanto, é maior, afirma o titular da pasta, Leonardo Vilela.
“Houve um aumento bastante expressivo. Em duas a três semanas, tivemos mais de uma centena de casos suspeitos notificados. É bastante significativo, e há possibilidade de aumentar. Temos um surto em Rio Verde e na capital”,diz o secretário, que reativou um comitê de especialistas em gripe A com reuniões semanais para acompanhar o cenário.
Outro alvo de alerta é Santa Catarina, Estado que já soma 41 casos graves e seis mortes confirmadas pelo H1N1.
O diretor de vigilância epidemiológica, Eduardo Macário, diz que ainda não é possível falar em surto.
“A quantidade de casos é atípica para o momento, mas não em termos de carga, porque já tivemos quantidade maior”, completa ele, que lembra que a última vez em que ocorreu forte aumento de casos foi em 2013.
“Oque geralmente acontece é que os casos iniciam no começo de maio. É a primeira vez que temos casos de influenza tão antes do inverno.” Assim como os casos surgiram mais cedo, o Estado também decidiu iniciar antes a vacinação contra a gripe: será em 25 de abril.
A decisão foi seguida pelos outros Estados da região Sul, Rio Grande do Sul e Paraná.
No Norte, após uma morte por H1N1, o Amapá também decidiu antecipar a imunização.
No Distrito Federal, a secretaria anunciou que irá iniciar a vacinação contra gripe no dia 25, para crianças até seis anos e gestantes. A data, porém, poderá ser adiantada para o dia 18, caso mais doses da vacina sejam enviadas até a próxima semana.
Balanço da pasta aponta 22 casos de síndrome aguda respiratória grave e três mortes por H1N1. Não houve registros no ano anterior. Em 2014, foram quatro casos da síndrome no mesmo período.
Professor é investigado por uso de equipamento da USP em consultas
10/04/2016 - Folha de S.Paulo
A imagem de Ronaldo Nazário, de sunga e touca, tentando perder uns quilinhos adquiridos após sua aposentadoria dos gramados virou evidência em um inquérito civil que o Ministério Público de São Paulo instaurou para investigar um professor com mais de duas décadas de USP.
As cenas, televisionadas pelo “Fantástico” em 2012,faziam parte do quadro “Medida Certa”, em que o ex-jogador era auxiliado por uma equipe na busca por um corpo mais saudável.
Um dos profissionais que apareceu no primeiro episódio foi o nutricionista Antonio Lancha Jr., que usou em seu consultório uma máquina chamada Bod Pod para medir, com rajadas de vento, o nível de gordura de Ronaldo.
PESQUISA
O equipamento de ponta custa US$ 50 mil (cerca de R$ 180 mil) e fora comprado para uma pesquisa científica da USP sobre mulheres e lipoaspiração financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de SP).
Segundo o contrato de bolsa científica, que era orientada por Lancha Jr., a máquina podia ficar no Instituto Vita, em Higienópolis. É onde o nutricionista atende pacientes particulares, mas só poderia ser usada gratuitamente em mulheres de 20 a 35 anos que tivessem sobrepeso — o grupo analisado.
O nutricionista nega que tenha usado equipamentos públicos em suas consultas.
Um dos profissionais mais conhecidos do mercado de nutrição e suplementação no país, Lancha Jr. escreveu cinco livros, dá entrevistas na TV e tem clientes famosos.
Uma consulta com ele custa R$ 850. É também professor titular da Escola de Educação Física e Esporte da USP.
OUTRO LADO
Em um primeiro contato da reportagem, Lancha Jr. negou ter usado equipamentos financiados com recursos públicos em consultas particulares.
“Havia um acordo com a Fapesp e o Instituto Vita, de conduzir lá as pesquisas.” O Instituto Vita, onde foram feitos os testes em Ronaldo e em dezenas de outros clientes, segundo inquérito ao qual a Folha teve acesso, afirma que “está tomando conhecimento de uma série de informações e está colaborando com o Ministério Público no inquérito civil”.
A USP também afirma colaborar com a investigação.
A TV Globo informou que não pagou pela consultoria do nutricionista e que desconhecia a natureza pública do equipamento.
Procurada, a Fapesp afirma que o bem “foi devidamente doado à USP quando do encerramento do projeto de pesquisa, conforme determinam as normas”.
A máquina foi devolvida à universidade, mas apenas em 2016, segundo o inquérito.
Quatro anos após o fim da pesquisa — e de ter ficado famosa na televisão.
Questionado posteriormente pela reportagem, que questionou onde esteve o Bod Pode para que ele foi usado nesse período de quatro anos, Lancha Jr. não respondeu a e-mails e ligações.
Qualidade médica
11/04/2016 - Folha de S.Paulo
É correta a ideia por trás da decisão do governo de implementar a Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina (Anasem).
Trata-se de um exame que pretende aferir a qualidade técnica dos egressos de cursos de medicina. Alunos que iniciaram sua graduação a partir de 2015 terão de submeter-se à prova no segundo, no quarto e no sexto ano. Só conseguirá diploma o estudante que for aprovado no último teste.
O desempenho individual, além disso, será considerado nos processos seletivos para a residência médica. Espera-se a primeira edição da prova para agosto.
Hoje, basta o aluno concluir a graduação para estar legalmente habilitado a atender pacientes em todos os níveis de complexidade, diagnosticando, prescrevendo e até mesmo operando. Não há nenhum filtro qualitativo, como o exame da OAB para advogados.
A certificação da qualidade justifica-se como medida de proteção ao público, que não tem meios de saber por conta própria se o profissional que o atenderá tem a competência técnica necessária.
No papel, a Anasem tem vantagens sobre o teste a que o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) submete os egressos de faculdades paulistas.
Por idiossincrasias da legislação, o Cremesp pode obrigar o aluno a fazer a prova, mas não bloquear a concessão do diploma -o estudante o receberá mesmo que erre todas as respostas.
Também parece melhor que a avaliação seja feita ao longo de várias etapas do curso, e não apenas no último ano, quando o aluno já investiu muito tempo e dinheiro.
Apesar das vantagens, há muitas questões em aberto na sugestão do governo federal. A lacônica portaria 168/16, que regula a matéria, não traz aspectos importantes. Não diz, por exemplo, o que acontece com o aluno reprovado.
Na entrevista coletiva em que anunciou a Anasem, o ministro Aloizio Mercadante (Educação) afirmou que apenas o teste do sexto ano será eliminatório. Os do segundo e do quarto serviriam para a autoavaliação dos estudantes -o que, registre-se, compromete um pouco a ideia de avaliação seriada.
Em relação ao sexto ano, porém, a dúvida permanece: quantas vezes ele poderá fazer a prova de novo em caso de reprovação? A instituição que o formou terá a obrigação de tentar recuperá-lo? Ele continuaria vinculado à faculdade? Como os resultados das instituições afetarão a nota que ela recebe do Ministério da Educação?
São perguntas importantes que a pasta ainda precisa esclarecer.
Gripe fora de hora
11/04/2016 - Folha de S.Paulo
Quadros gripais costumam ter evolução benigna. Assim, basta o controle dos sintomas a base de analgésicos e antitérmicos, hidratação, boa alimentação e repouso, que a doença tende a desaparecer em poucos dias. Em alguns casos, no entanto, a infecção pelo vírus influenza pode trazer complicações, principalmente em pessoas que possuem baixa imunidade ou fazem parte dos grupos mais vulneráveis, como os idosos, crianças, grávidas e doentes crônicos.
Quando o vírus A H1N1 retornou em forma de pandemia, em 2009, o susto foi grande. Não havia vacina à época. Somente em São Paulo foram registrados 9,7 mil casos e 641 mortes. Passados sete anos, já se sabe que a gripe causada pelo H1N1 não é mais nem menos perigosa do que as causadas pelas cepas mais comuns em circulação pelo mundo. Os cuidados relativos à prevenção e ao tratamento são os mesmos.
Em 2016 a gripe surgiu fora de hora no Estado de São Paulo, antes de o inverno chegar. Até 29 de março foram notificados pelos serviços de saúde 465 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) confirmados para o vírus influenza, com 82,5% de predominância para o tipo A H1N1, e 59 mortes.
O número de casos graves de gripe já supera os registrados durante todo o ano de 2015, quando o vírus A H3N2 foi predominante, respondendo por 55,6% do total. Mas o cenário não se assemelha, nesse momento, ao ano da pandemia.
Ao analisarmos os gráficos do Centro de Vigilância Epidemiológica, observamos que em novembro de 2015 se nota um aumento na frequência de casos de SRAG por H1N1 e, concomitantemente, há elevação do número de casos pelo influenza B, cenário que se manteve até a nona semana epidemiológica deste ano, quando, de fato, a circulação do H1N1 se mostrou prevalente.
Em 2015, a presença de uma ou mais comorbidade foi verificada em 60% dos óbitos por SRAG notificados no Estado. Neste ano, o índice é parecido: 61,5%. É precipitado dizer o que causou a circulação antecipada e não prevista dos casos de influenza antes do período de junho a agosto, como costuma ocorrer. Os institutos Adolfo Lutz e Butantan, ligados à Secretaria estadual da Saúde, estão investigando o porquê.
Evidentemente que não é possível esperar respostas para agir. Ao detectarmos uma circulação mais intensa do vírus no noroeste do Estado, iniciamos em 23 de março uma campanha extra de vacinação em 67 municípios da região de São José do Rio Preto, com doses de 2015.
Com o apoio do Ministério da Saúde, que enviou doses da campanha deste ano, o governo paulista antecipou a vacinação na capital e na região metropolitana de São Paulo, iniciada no dia 4 de abril para 532 mil profissionais de saúde de hospitais públicos e particulares e que a partir desta segunda-feira (11) também será estendida a idosos, gestantes e crianças entre seis meses e cinco anos incompletos, totalizando, nesta imunização antecipada, 3,5 milhões de paulistas.
Já a partir do dia 18, a imunização atenderá portadores de doenças crônicas e em tratamento com imunossupressores, puérperas (até 45 dias após o parto), e população indígena residente na capital e região metropolitana de São Paulo.
Para as demais cidades do Estado a campanha de vacinação contra a gripe deve seguir o calendário do Ministério da Saúde, com início previsto para o dia 30 de abril.
As vacinas –trivalentes– são produzidas pelo Instituto Butantan e protegem contra os três tipos de influenza que circularam no último inverno do hemisfério norte. Importante ressaltar que a vacina, além de prevenir a gripe, ajuda a evitar complicações decorrentes da infecção por esses vírus, a exemplo de pneumonias, otites e sinusites.
São Paulo está enfrentando sua onda de gripe fora de hora com a seriedade e a serenidade que o momento exige. Há motivo para alerta entre as autoridades de saúde, mas nenhum para pânico entre a população. Vida normal.
SP tem 70 mortes por H1N1; mais 2 hospitais registram surto.
09/04/2016 - O Estado de S.Paulo
Subiu para 70 o número de mortos por consequência da gripe H1N1 no Estado de São Paulo, conforme balanço divulgado nesta sexta-feira, 8, pela Secretaria Estadual da Saúde. O número é sete vezes maior do que o registrado em todo o ano passado, quando dez pessoas morreram. Do total de óbitos de 2016, 17 foram registrados na capital paulista. Os dados do governo do Estado e da Prefeitura mostram ainda que já são 534 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causados pelo H1N1, 201 deles na cidade de São Paulo. Em 2015, foram 33 registros no Estado e 12 na capital.
O surto antecipado da doença levou o governo do Estado a antecipar a campanha de vacinação contra a gripe. A previsão original era de que fosse iniciada no dia 30 deste mês, mas foi adiantada na capital e na Grande São Paulo para a segunda-feira passada para profissionais de saúde e será expandida para idosos, gestantes e crianças de 6 meses a 5 anos a partir da próxima segunda.
HOSPITAIS
A circulação precoce do vírus no Estado provocou surto interno em pelo menos mais dois hospitais públicos: o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas. Conforme revelado pelo Estado na quarta-feira, o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo também relatou surto interno, com 171 casos suspeitos.
A ocorrência de dois casos da doença por transmissão interna em um período de sete dias já configura um surto, segundo a vigilância municipal. De acordo com a Prefeitura, nos dois casos, o problema já foi controlado. A Secretaria Estadual da Saúde, responsável pelo Dante Pazzanese, negou a ocorrência. Já o Hospital das Clínicas admitiu que houve casos da gripe H1N1 no Instituto da Criança, mas informou que a situação está controlada.
Apesar do crescimento de casos na cidade, o secretário municipal da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta sexta que não há razão para que a população tema nova pandemia da doença, como a de 2009. “Não há ‘reemergência’ do vírus nem mutação. Estamos tendo uma antecipação da circulação dos vírus gripais, mas não há indícios de que repetiremos o cenário de 2009. Naquela ocasião, não tínhamos a vacina adequada nem tínhamos clara a função do oseltamivir (Tamiflu) na redução das complicações”, disse.
PERFIL
Segundo o secretário, do total de mortos na capital, 14 eram idosos ou tinham alguma doença crônica, ambos grupos de risco para desenvolver quadros mais graves da doença. Os outros três óbitos ainda estão em investigação.
Com o surto na cidade, a quantidade de cápsulas de oseltamivir distribuídas na rede municipal triplicou na última semana, segundo a secretaria, passando de 30 mil na última semana de março para 109 mil na primeira semana de abril.
Padilha afirmou que, para reforçar a estrutura das unidades de saúde durante o período de surto, as Organizações Sociais da Saúde (OSSs), unidades conveniadas à Prefeitura que administram serviços municipais, foram autorizadas a contratar médicos de forma emergencial na modalidade de pessoa jurídica. A secretaria municipal disse ainda que montará bancos de reservas de médicos que possam ser deslocados para unidades com maior demanda.
Segundo o secretário, a estrutura das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) também será reforçada na próxima segunda-feira, por causa do início da campanha de imunização. “Poderemos usar mais de uma sala só para isso e desmarcar vacinações agendadas contra outras doenças”, disse Padilha.
Em crise, Hemorio suspende coleta de sangue
11/04/2016 - O Estado de S.Paulo
A grave crise financeira do Estado do Rio afetou os serviços do Instituto Estadual de Hematologia (Hemorio), órgão que capta e distribui sangue a pacientes em tratamento em pelo menos 200 unidades da rede estadual. O atendimento no local foi suspenso ontem. Os funcionários já tinham reduzido o horário de coleta na última semana, após dois meses sem receber os salários.
De acordo com comunicado do Hemorio, o atendimento foi interrompido em caráter “excepcional”. A previsão é de que o atendimento ocorra normalmente hoje, das 7h às 18h.
“Contamos com a solidariedade de todos os nossos doadores e da população do Rio”, informa o aviso publicado no site da instituição.
O Hemorio tem cerca de 180 funcionários, dos quais 90% são terceirizados, com salários atrasados. De acordo com o instituto, os próprios médicos e enfermeiros têm feito as funções administrativas, como forma de não interromper o atendimento. Ainda assim, a coleta de sangue teve o horário reduzido desde a última terça. Na semana passada, os empregados tiveram os vales refeição e transporte suspensos. Alguns funcionários relataram não ter dinheiro para chegar ao trabalho.
Na semana passada, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) fiscalizou o instituto e constatou problemas, como a suspensão parcial dos atendimentos e a falta de medicamentos. Segundo o Cremerj, no último dia 2, o atendimento aos doadores já havia sido interrompido. A estrutura do prédio do Hemorio, no centro, também está precária, com infiltrações. O Cremerj estuda denunciar a situação ao Ministério Público Estadual.
GREVE
A crise financeira do Estado atinge ainda servidores de outras categorias, que deflagraram greve na semana passada. A paralisação atinge parcialmente 33 categorias, como policiais civis, professores e servidores de órgãos como o Detran e o Instituto Médico-Legal (IML).
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