
CLIPPING - 28/09/2015
Assessoria de Comunicação do CRF-SP
Mercado Aberto: Remédio em Expansão
27/09/2015 - Folha de S.Paulo
Colunista: Maria Cristina Frias
A rede gaúcha de farmácias Panvel, do grupo Dimed, investirá cerca de R$ 35 milhões em 2016 em seu projeto de expansão.
Deverão ser abertas 35 unidades -uma a mais do que em 2015. Dos novos pontos, 50% ficarão no Paraná (Estado onde a companhia foca sua ampliação).
"Nosso setor é mais resistente que a média, e a expansão das lojas independe da crise", afirma o sócio da empresa, Julio Mottin Neto.
"Neste ano, temos uma alta [nominal] de 10% no faturamento considerando apenas as lojas que já existiam em 2014. Não há motivo para botar o pé no freio."
Quando as novas unidades são incluídas no cálculo, o incremento é de 14%.
A situação do setor de distribuição do grupo, porém, é diferente. Nele, as vendas caíram quase 10%.
"As margens são muito pequenas nesse segmento. O aumento dos custos, como o do combustível, prejudica muito", acrescenta.
Hoje, esse braço do grupo é responsável por 25% do faturamento. "Vamos reduzir essa parcela nos próximos anos", diz Mottin Neto, sem dar outros detalhes.
R$ 2 bilhões foi o faturamento do grupo no ano passado
R$ 2,2 bilhões é o faturamento previsto para 2015
6.000 são os funcionários
338 é o número de farmácias
USP descobre molécula para 'remédio inteligente' que reduz efeitos colaterais
27/09/2015 - G1
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP), pode ajudar na produção de "remédios inteligentes", mais precisos contra doenças e com menos efeitos colaterais. Segundo os pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), novas moléculas descobertas após sete anos de estudos podem reduzir a necessidade dos médicos em receitar vários medicamentos para evitar diferentes reações nos pacientes.
A administradora de empresas Renata Barros levou meses para descobrir que as dores que sentia na cabeça eram provocadas pelo anticoncepcional que tomava diariamente. "Procurei até um oftalmologista, pensando que pudesse ser falta de óculos, mas minha ginecologista indicou o uso do anticoncepcional adesivo, dizendo que tem menor passagem pelo fígado, e realmente, faz dois meses que parei de tomar e melhorou".Além desse tipo de reação provocada pelo anticoncepcional, outros efeitos colaterais foram observados por diversos estudos envolvendo o assunto. São comuns, por exemplo, anti-inflamatórios provocarem dores de estômago e antialérgicos causarem sonolência.
"Quando você usa de quatro a cinco medicamentos a sua chance de ter reação adversa é praticamente 100%, então todo cuidado é pouco", comentou a professora da Faculdade de Farmácia da USP, Julieta Ueta.
Células doentes
Em laboratório, os pesquisadores encontraram uma maneira de os medicamentos atingirem somente as células doentes e não as saudáveis, que é o que desencadeia os efeitos colaterais. "É como se abríssemos uma torneira com água suja. O medicamento clássico simplesmente fecha a torneira e o que a gente está tentando desenvolver é um medicamento que feche a torneira, mas que permita que continue saindo a água e não a terra", explicou o pesquisador Cláudio Costa-Neto.O grupo identificou novas moléculas sintéticas que quando testadas em receptores celulares causaram uma atividade de sinalização seletiva, atuando em vias benéficas e bloqueando vias de sinalização não benéficas, que poderiam causar os efeitos colaterais.
"É uma chave ligando uma fechadura que consegue, quando girada, ativar aqueles sistemas de travamento, desenvolvendo um novo tipo de chave que selecione quais são as trancas que devem ser ativadas e quais não devem ser ativadas", disse o pesquisador.
De acordo com os pesquisadores, inicialmente o foco da pesquisa está em doenças cardiovasculares, que costumam exigir remédios de uso contínuo. A próxima etapa dos estudos é criar uma empresa para desenvolver tecnologia para produção dessas moléculas e ainda não há prazo para que esse tipo de medicamento esteja disponível nas farmácias. "Em alguns anos teremos um protótipo", afirmou Costa-Neto.
Prazo para adequação à norma da Anvisa é curto
27/09/2015 - Diário do Nordeste Online
Os fabricantes de medicamentos do Brasil têm até dezembro deste ano para disponibilizar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) os dados de rastreamento completo de três lotes de seus produtos. Todos os remédios produzidos em território nacional devem ser rastreados de uma ponta a outra da cadeia até o fim de 2016. São essas as determinações da agência na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 54/2013.
Os prazos firmados, entretanto, são insuficientes para a adequação das empresas às exigências, na avaliação da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
"Na RDC, houve um requerimento de que a informação recolhida ao longo da cadeia deveria voltar para a indústria e para o varejo. O varejo (farmacêutico) conseguiu uma liminar que é contrária a essa disposição. Consequentemente, a gente fez um movimento juntamente com as outras entidades, no sentido de que esse requerimento não fosse necessário. Estamos solicitando uma postergação dos prazos", defende o diretor de assuntos econômicos da entidade, Marcelo Liebhardt. A Interfarma possui cerca de 56 indústrias associadas que, juntas, respondem por mais da metade do faturamento do setor no País.
Liebhardt avalia que a Anvisa ainda precisa publicar instruções normativas que sejam mais precisas, como a gestão de informações do sistema de rastreabilidade do ponto de vista tecnológico. "Primeiro, a regulamentação precisa ser finalizada. A partir daí, seria necessário um ano para os três lotes pilotos, depois mais oito meses para a validação dos pilotos e, depois dessa fase, mais três anos para tudo estar funcionando", propõe.
Investimento
Segundo o diretor presidente do Grupo Pague Menos, Deusmar Queirós, as farmácias precisariam investir R$ 3 bilhões para adaptar seus pontos de venda, captar informações e repassá-las ao consumidor. Na opinião dele, o investimento não se justifica
Outra resolução da Anvisa, a RDC 24/2015, diz que as empresas do setor alimentício devem implementar rastreabilidade dos seus produtos de forma a garantir o recall (recolhimento) de itens, quando for necessário.
A norma passa a valer em dezembro deste ano. Assim, toda a cadeia do setor deverá manter registros que identifiquem as origens e os destinos dos produtos. "É possível, sim, fazer o recolhimento e comunicação. O maior desafio é alcançar essa organização de processos por parte das empresas, dentro do tempo estabelecido", avalia Giampaolo Buso, diretor comercial da PariPassu, empresa que desenvolve soluções para a rastreabilidade dos alimentos.
Sem medicação inovadora, judicialização cresce
28/09/2015 - Folha Web
Cada vez mais pacientes que não têm acesso a terapias inovadoras estão buscando seus direitos na judicialização. Estudo realizado pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), aponta que, nos últimos três anos, o gasto do Ministério da Saúde (MS) com ações na Justiça que pedem ao governo a compra de medicamentos ou o custeio de tratamentos não incorporados ao SUS cresceu 129%, saltando de R$ 367 milhões em 2012 para R$ 844 milhões em 2014. No acumulado, governo teve que desembolsar R$ 1,7 bilhão. Ao ser acionado pela Justiça, o MS pode realizar os pagamentos de duas formas. A mais frequente é a modalidade "Compra", que em 2014 representou 83,32% dos gastos, enquanto a modalidade "Depósito em conta judicial" foi de apenas 16,68%.
Outro levantamento da Interfarma apontou que, no mesmo período, o governo federal recebeu 265 pedidos para incorporação de novos medicamentos ao SUS e, até julho deste ano, havia avaliado apenas 199. Desse total, mais da metade foi negada (56,3%). A grande maioria dos pedidos rejeitados (79%) foi realizada por agentes externos ao governo, como associações de pacientes e indústria farmacêutica. "Quando um medicamento tem sua incorporação rejeitada, o governo ‘fecha a porta’ do acesso à população e as pessoas ‘entram pela janela’ da judicialização. Negar o medicamento é um estímulo à judicialização. Seria mais interessante discutir critérios para que passem pela porta", defende o presidente-executivo da Interfarma, Antônio Britto.
De acordo com a Interfarma, dos 80 medicamentos incorporados ao SUS, a maioria (45) é formada por terapias disponíveis no mercado há mais de 15 anos. Já os remédios lançados mais recentemente, com até cinco anos de mercado, tiveram uma incorporação menor, de apenas 13 produtos.
Mas, segundo o MS, desde a criação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), em 2012, 133 novos medicamentos e procedimentos foram inclusos no SUS, o que equivale a quase três vezes a média anual de incorporações feitas nos últimos seis anos, antes da criação da Conitec. Os pedidos de incorporação podem ser feitos por qualquer cidadão, associações de pacientes, profissionais de saúde e também pelo próprio ministério.
POLÊMICAS
O tema que gerou bastante discussão e questionamento por parte dos participantes do Foro de Pacientes com Câncer de Mama foi a última revisão e atualização de procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS). Nessa revisão, que estava em consulta pública até o último dia 18 de agosto, um dos principais medicamentos orais para câncer de mama avançado, o everolimo, foi retirado do novo rol. Essa exclusão foi considerada um retrocesso tanto pelos representantes de sociedades médicas quanto pelas associações de pacientes. De acordo com o MS, esta medicação foi incorporada no SUS e indicada apenas para o tratamento de pacientes portadores de falência ou rejeição de transplante de rim, transplantados e que se enquadram nos critérios clínicos previstos na publicação.
Outro medicamento em debate foi o trastuzumabe, que foi incorporado ao SUS em 2013 para o tratamento de câncer de mama HER2 positivo no estágio de doença inicial e localmente avançada. Mas em relação à sua indicação para a fase metastática, a Conitec avaliou que a relação entre os benefícios e os riscos do seu uso é desfavorável e, por esse motivo, sua incorporação não foi recomendada.
PREVENÇÃO
A redução da mortalidade de pacientes de câncer de mama está diretamente ligada ao aumento do diagnóstico precoce da doença, ou seja, da realização da mamografia. Isto porque por meio deste exame é possível descobrir pequenos tumores ou nódulos em estágio inicial, o que aumenta a chance de cura em 98%.
Mas, segundo Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% das mulheres entre 50 e 69 anos não fizeram a mamografia recomendada para esta faixa etária, sendo que 27,2% das entrevistadas não acreditavam que o exame era necessário.
Na avaliação do oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor de Oncologia do Instituto Oncoguia, Rafael Kaliks, a prevenção é a melhor arma para proteger as mulheres da morte por câncer de mama. "Se a população se conscientizar da importância de se fazer anualmente a mamografia isto vai ter um impacto maior na redução da mortalidade de câncer de mama do que qualquer nova medicação que esteja sendo incorporada. Então se eu tivesse a chave do cofre eu gastava todo o meu dinheiro em prevenção", conclui Kaliks.
Infecções são causa de 30% das internações de quem tem câncer
28/09/2015 - Folha de S.Paulo
Um levantamento do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) mostra que 30% das internações de pacientes com câncer se devem a infecções generalizadas (também conhecida como sepse), o que equivale a cerca de 100 pacientes por mês na instituição.
O objetivo do estudo é ressaltar a importância de os hospitais padronizarem o atendimento a quem tenha suspeita de sepse –isso acontece no Icesp, mas não em boa parte dos hospitais, o que deve fazer com que os números sejam ainda mais altos em outras instituições.
Um dos problemas é que os sintomas são inespecíficos, o que significa que o diagnóstico nem sempre é imediato.
No caso de pacientes com câncer, é especialmente preocupante. O organismo já é naturalmente imunologicamente mais frágil nesses pacientes, o que justifica tomar uma série de cuidados, como, por exemplo, lavar as mãos e ter bons hábitos de higiene.
O choque séptico é a forma mais grave da sepse, quando a função dos órgãos já está comprometida. O índice de mortalidade no país é de 55%. Na Europa, América do Norte e Austrália o índice é de 25%, de acordo com a cardiologista especialista em UTI do Icesp, Ludhmila Abrahão Hajjar, que também é professora da Faculdade de Medicina da USP.
TRATAMENTO DE CÂNCER
O próprio tratamento contra o câncer podem aumentar o risco de infeção, explica o oncologista do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo Fernando Maluf.
Isso porque técnicas como a quimioterapia e a radioterapia também podem agredir as células brancas do sangue ou provocar lesões locais, respectivamente.
No primeiro caso, o organismo perderia a principal linha de defesa interna ao organismo. Já no segundo, as lesões funcionam como porta de entrada para germes.
No entanto, as chances variam de acordo com o tipo de tumor. No caso de um câncer no sangue como a leucemia, por exemplo, a chance de a internação se dever a uma infecção é muito maior do que quando uma mulher está fazendo controle de metástase com uma quimioterapia, diz Maluf.
No tratamento de alguns cânceres mais complicados, que apresentam risco de gerar infecção, podem ser administrados antibióticos profilaticamente e existe até um medicamento injetável que é capaz de estimular a produção de células brancas para proteger o organismo.
Uma doença aumenta aumenta muito agressividade da outra, explica Ludhmila: um paciente com câncer tem uma chance maior de morrer.
"O pior é que depois do choque séptico, a pessoa fica pelo menos 20 dias internada. O paciente fica débil, fraco, desnutrido e para voltar ao tratamento oncológico pode demorar de meses a anos."
A sepse atinge 400 mil pessoas anualmente no país e grande parte das pessoas morre por conta de uma demora em iniciar o tratamento –algumas horas podem fazer a diferença.
Entre as possíveis causas da da infecção generalizada e do choque séptico estão infecções mal resolvidas, como a urinária, a gástrica ou mesmo uma pneumonia. Os pacientes que tenham infecções recorrentes também devem estar atentos e procurar um médico.
A reação inflamatória provocada pelos micróbios acaba afetando o funcionamento de todos os órgãos, lesando os tecidos e prejudicando seu funcionamento normal. "O rim para, o fígado para"¦ é complicado", diz a médica.
Que m&%$a de transplante!
27/09/2015 - Folha de S.Paulo
O transplante de fezes pode até ajudar a tratar algumas doenças no futuro, mas não tente fazer isso em casa
Tem muita gente louca no mundo, como decerto já é de conhecimento do nobre leitor, mas desconfio que poucos parecem mais desvairados, à primeira vista, do que a florescente comunidade das pessoas que defendem o transplante fecal na modalidade faça-você-mesmo e divulgam a prática no YouTube. Refiro-me à gente que não só tem coragem de enfiar as fezes de outrem no próprio reto como posta vídeos sobre o procedimento na internet.
Por mais calafrios que a ideia provoque nos estômagos (ou nos cólons) mais sensíveis, porém, os transplantes são assunto sério. Já há bancos públicos de fezes para doação nos Estados Unidos, como o OpenBiome, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), e dois de seus fundadores, o microbiólogo Mark Smith e o professor de bioengenharia Eric Alm, publicaram uma defesa apaixonada dos estudos sobre o tema na "Nature", uma das mais importantes revistas científicas do mundo.
A questão é que, fator "eca!" à parte, a chamada bacterioterapia fecal simplesmente funciona. Diversos testes clínicos indicam, para começo de conversa, taxas de sucesso em torno de 90% quando o transplante é feito para combater infecções persistentes com a bactéria Clostridium difficile, a qual, como o nome diz, e com o perdão da infâmia, realmente pode ser difícil de eliminar com antibióticos convencionais. Desde que o doador seja saudável, os riscos parecem ser pequenos.
No fundo, o sucesso desse tipo de procedimento é um sintoma de como pesquisadores e médicos estão sendo forçados a re-examinar o papel dos micróbios no organismo humano. Em seu artigo na "Nature", Smith e Alm lembram que a microbiota, ou seja, o ecossistema de milhares de espécies de micro-organismos que habitam o corpo das pessoas como peixes e crustáceos habitam um recife de coral, pode ser considerada uma espécie de órgão virtual.
Com efeito, embora normalmente só recordemos que tais bactérias existem quando estamos com a garganta inflamada e cheia de pus, a verdade é que em um humano há mais células bacterianas do que células de gente. As interações entre os habitantes desse micromundo impedem que eles saiam do controle e são essenciais para a correta absorção de nutrientes no intestino, por exemplo.
Os antibióticos já salvaram incontáveis vidas humanas, mas o problema é a falta de seletividade com que eles dizimam esse microecossistema. Daí a vantagem dos transplantes: entre um quarto e metade do conteúdo sólido das fezes humanas são bactérias. Ao repovoar o trato intestinal com uma "semente" representativa da microbiota normal, as competidoras naturais da C. difficile retornam ao cenário e podem controlá-la.
A questão é se é possível usar a bacterioterapia fecal para outros fins. Já há alguns resultados positivos para outros problemas do sistema digestivo, como colite ulcerativa, síndrome do intestino irritável e mesmo a simples constipação. Perspectivas mais intrigantes ainda dizem respeito a uma variedade de doenças inflamatórias e autoimunes, nas quais o organismo reage de forma intempestiva e danifica a si mesmo.
Como a presença de uma comunidade saudável de micro-organismos ajuda, em tese, a calibrar direito as reações do sistema de defesa do corpo, o transplante fecal poderia ser útil até contra problemas como esclerose múltipla e diabetes. Por enquanto, porém, o clichê ainda vale: não tente fazer isso em casa.
Cresce nº de mortes por câncer de mama em regiões pobres
28/09/2015 - O Estado de S.Paulo
A variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama é até 11 vezes maior em áreas pobres do País,em comparação com regiões ricas. É o que mostra estudo inédito da Sociedade Brasileira de Mastologia, feito em parceria com pesquisadores da Rede Goiana de Mastologia. A dificuldade de acesso a métodos de detecção e de tratamento em áreas do Norte e Nordeste do País é a principal razão apontada para a diferença.
A pesquisa avaliou as taxas de mortalidade por esse tipo de tumor em um intervalo de dez anos, entre 2002 e 2011, em todos os Estados e relacionou os dados com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada local. Embora o Sul e Sudeste tenham taxa de mortalidade maior do que as demais regiões do País, a velocidade de crescimento das mortes pela doença é significativamente maior nas áreas mais pobres.
De acordo com o estudo, no período analisado, a variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama chegou a 11,2% no Maranhão, Estado com o maior aumento porcentual e com um dos piores IDHs do País. Situação semelhante foi observada nos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3%.
No outro extremo, regiões mais ricas observam estabilização ou queda na variação da taxa.
São Paulo, por exemplo, teve variação negativa média de 1,7% ao ano. Paraná,Rio Grande do Sul, Rio e Distrito Federal, todos Estados com IDHs altos, também tiveram queda na variação das taxas de mortalidade.
O artigo, publicado no periódico BMC Public Health, aponta como razões para os resultados a falta de recursos disponíveis para o tratamento nos Estados menos desenvolvidos e a dificuldade de acesso a esses recursos para a maioria da população.“Em alguns casos,a situação seria comparável à encontrada na Nigéria, onde não há programas específicos de rastreamento do câncer dentro do sistema nacional de saúde e só existem dois hospitais que oferecem o tratamento terciário para a doença(radioterapia e quimioterapia)”, diz o estudo.
Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos autores do estudo,embora o sistema de saúde tenha melhorado nas últimas décadas, a estrutura ainda é insuficiente, sobretudo nas regiões mais pobres. “O crescimento ou a queda das taxas de mortalidade dependem muito das ações de saúde que estão sendo implementadas em cada local. É no Norte e Nordeste exatamente onde temos as menores coberturas mamográficas”, diz ele.
Espera. Foi esse o drama vivido pela cabeleireira aposentada Maria do Rosário Almeida Martins, de 60 anos. Em novembro do ano passado, ela percebeu um caroço no seio e passou na ginecologista no mês seguinte para fazer um ultrassom.“Em janeiro,a médica já viu um nódulo, mas disse que o resultado do exame estava escuro e que eu tinha de fazer outro. Como ia demorar, paguei R$ 89 para fazer particular porque estava desesperada”, conta ela, moradora de São Luís,no Maranhão.
A paciente ainda foi encaminhada para a mastologista e teve de passar por outros exames antes de iniciar o tratamento.
Só fez a cirurgia de retirada do tumor em agosto, oito meses após o diagnóstico.“A mastologista disse que no primeiro exame o tumor aparecia bem pequenininho, e que cresceu bastante desde então. E só não demorou mais a cirurgia porque eu paguei do meu bolso parte dos exames pré-operatórios. No SUS, eu estava na lista de espera”, conta ela, que agora faz quimioterapia.
O Ministério da Saúde afirma que ampliou o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer de mama, “em especial nas Regiões Norte e Nordeste”. Entre 2011 e 2014, o número de exames do tipo realizados em mulheres de 50 a 69 anos aumentou 66,3% no Nordeste e 125,6% no Norte, de acordo com a pasta. O ministério afirma ainda que, no período, cresceu o número de cirurgias oncológicas e de sessões de radioterapia e quimioterapia nessas regiões.
A caminho da fertilização personalizada
28/09/2015 - Correio Braziliense
O sucesso de países como a Espanha no campo da fertilização in vitro — a nação é a terceira entre as europeias em quantidade de reproduções assistidas por ano, cerca de 54 mil — se deve, em muito, aos investimentos em inovação. Pesquisadores como o médico Buenaventura Coroleu, um dos expoentes mundiais na área, têm colaborado para manter o país na vanguarda. Ele compartilhou parte do que borbulha nos laboratórios e nos consultórios em um simpósio da Associação Médica de Brasília, na última sexta-feira.
Buenaventura desembarcou na capital justamente na semana em que o Conselho Federal de Medicina atualizou as normas para a reprodução assistida no Brasil. Segundo ele, a decisão de derrubar a obrigatoriedade de uma autorização do órgão para que as mulheres com mais de 50 anos usem as técnicas de reprodução assistida é acertada. “A idade já não pode ser determinante, e sim a saúde reprodutiva, a saúde do óvulo”, defendeu.
O pesquisador, que também é especialista em ginecologia e chefe do Serviço de Reprodução do Instituto Universitário Dexeus, em Barcelona, observa que a medicina está caminhando para a personificação dos tratamentos. “A idade não é mais um protocolo de restrição. Cada caso é analisado, é feito um estudo na paciente”, explica Buenaventura, que, no mês passado, publicou no periódico Reproductive Biomedicine Online um estudo sobre a implantação de mais de um embrião em uma mesma mulher e a possibilidade de gerar uma gravidez indesejada de gêmeos.
Um pouco incomodado com o calor impiedoso dos últimos dias na cidade, o médico, que conversou com a reportagem no lobby do hotel em que ficou hospedado, também fez observações sobre a edição genética de embriões, tanto dos que podem ser implantados quanto dos descartados. “A ética, sem abusar, é aplicar os conhecimentos que temos pelo bem da pessoa e da sociedade”, defende.
O pesquisador falou ainda sobre a polêmica recompensa financeira a doadoras de embriões e sobre novas apostas da reprodução assistida, como o transplante do tecido ovariano e o diagnóstico genético.
Resolução atualizada
Antes da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), até mesmo as pacientes que haviam começado a fazer o tratamento tinham que interrompê-lo quando entravam na sexta década de vida. Agora, tanto a paciente quanto o médico devem assumir os riscos da gravidez. O documento também deixa claro que a doação de gametas é restrita ao sexo masculino e determina novas regras para o descarte de embriões. As clínicas devem mantê-los congelados por cinco anos e, depois, podem descartá-los ou doá-los para estudos. Não foram contempladas pelas normas da CFM técnicas recentes, como a edição genética em embriões e o transplante de tecido ovariano.
Como a ciência explica que, em alguns casos, uma mulher de 50 anos tenha mais chances de gestar do que uma de 40 anos ou menos?
Habitualmente, a medicina marcou os 50 anos como limite para conseguir uma gestação saudável porque era a idade em que começavam a aparecer doenças, tanto na mulher quanto nos óvulos. Mas, ao longo dos anos, a expectativa de vida aumentou e o estilo de vida possibilita que mulheres com 50 anos ou mais tenham chances de engravidar de forma saudável. Isso era impossível de se imaginar há alguns anos. Concordo com a resolução (do Conselho Federal de Medicina) que permite que o tratamento de reprodução assistida, nesses casos, seja uma decisão entre a paciente e o médico, havendo uma personificação desse tratamento. Cada caso deve ser analisado, a idade não pode restringir. Mas é importante fazer um estudo pré-concepcional porque, a partir de uma idade, a gravidez se torna arriscada.
A idade, então, não é mais um fator determinante para quem quer fazer o tratamento de fertilização?
Acredito que ainda deve haver uma consciência do limite de 50 anos porque as chances de o tratamento dar certo diminuem a partir dos 38 anos. Antes, os protocolos eram muito restritos. Agora, as técnicas e os laboratórios são melhores, a idade não é mais um protocolo de restrição. Cada caso é analisado, faz-se um estudo dele. Há mais chances de conseguir um nascimento. Por isso, é importante fazer um estudo da paciente antes e depois do tratamento.
E sobre a questão do uso do próprio óvulo no caso de mulheres com 50 anos? Há um estudo espanhol recente, publicado pela European Society of Human Reproduction and Embryology, que alerta os médicos a orientarem as pacientes com mais de 44 anos a usar óvulos doados por mulheres com menos de 35. Por que isso é importante?
Essa é uma discussão que ocorre porque a mulher normalmente quer gestar o próprio óvulo. A análise desse estudo é muito importante, porque ele começa a separar em grupos de observação mulheres a partir dos 38 anos, quando as taxas de gravidez por reprodução assistida começam a cair. Antes, os estudos eram misturados. Colocavam mulheres com mais de 38 anos num grupo e as com menos de 38 em outro. Depois que fragmentaram as faixas etárias, foram percebendo a queda nas taxas de sucesso do tratamento. A partir dos 38 anos, diminui a chance de engravidar, a taxa podia chegar a 1% de sucesso. E observaram que, quando as mulheres usavam óvulos doados por outras mais jovens, os índices de sucesso aumentavam. É uma questão de saúde do óvulo e da mulher.
Quanto à questão da preservação da fertilidade, a ciência tem conseguido reverter a dificuldade de pessoas que têm câncer e são submetidas à quimioterapia e à radioterapia em terem filhos? Isso é realmente possível?
A preservação da fertilidade, graças às técnicas de reprodução assistida, tem solucionado ou pode solucionar — porque não podemos generalizar em reprodução assistida, não se pode garantir com toda segurança a gravidez — a questão de criar uma possibilidade para que um homem ou uma mulher tenha um filho depois do tratamento contra o câncer. Isso se dá por meio do congelamento do tecido ovariano ou do esperma antes da químio e da radioterapia. O primeiro nascimento graças ao transplante de tecido ovariano foi na Bélgica, há cerca de 11 anos, e, a partir desse momento, abriram-se as portas da preservação da fertilidade.
Esse é o procedimento mais atual no sentido de preservar a fertilidade?
Hoje, a técnica mais utilizada na preservação é a vitrificação de ovócitos, mais do que o congelamento do tecido ovariano. Esse congelamento é feito principalmente em meninas antes da puberdade, que não podem ser estimuladas, ou em tratamentos com contraindicação clara de uma estimulação posterior. Até agora, foram divulgados os nascimentos de mais de 60 crianças graças ao transplante de tecido ovariano. Mas essa é uma técnica que ainda é considerada experimental, embora tenha suas indicações.
O que falta avançar nessa técnica para que ela seja consolidada como a de vitrificação do ovócito, por exemplo?
O número de casos que são publicados. Por isso, é muito importante que todos os que trabalham em preservação da fertilidade publiquem os resultados, tanto positivos quanto negativos, para que realmente saibamos perfeitamente a utilidade do transplante do tecido ovariano. Assim, acredito que em um ou dois anos, ele possa ser mais analisado e autorizado.
Há uma discussão sobre a promoção do comércio de embriões quando as doadoras são recompensadas financeiramente. No Brasil, a legislação proíbe essa prática e mesmo o altruísmo. Como funciona na Espanha?
Acreditamos que deve haver uma recompensa pelo esforço que a doadora faz. Na Espanha, a quantia máxima permitida é de mil euros por doação e, até o momento, consideramos ser um bom sistema. É feito um estudo na doadora e isso significa, para ela, uma perda de horas no trabalho, há um deslocamento também. Isso tem que ser recompensado. A doadora tem que se submeter a uma intervenção cirúrgica, a uma punção folicular. Deve-se fazer uma diferenciação entre essas condições e a exploração das mulheres. É preciso haver um ponto de equilíbrio que considere o bem-estar delas.
Outra discussão bioética diz respeito à pré-seleção, ou mesmo à edição genética, de embriões para eliminar doenças, implantando apenas o considerado mais saudável. Qual é a sua opinião sobre esse tema?
Acredito que temos em nossas mãos uma técnica que pode garantir que o embrião a ser implantado seja saudável, não morfologicamente normal, mas saudável. Isso é uma técnica de prevenção magnífica para solucionar um problema grande. Sabemos que a idade da mulher é um fator negativo para a qualidade dos óvulos. Com o tempo, aumenta a probabilidade de alterações cromossômicas, como as síndromes de Down e de Turner, diferentes enfermidades que podem ser terríveis quando essas crianças nascem. Se temos a possibilidade de, antes de uma transferência embrionária, saber que o embrião que vamos transferir é geneticamente normal, penso que seria uma prática ruim por parte dos médicos não utilizar essas ferramentas. Por isso, acredito que, dentro de quatro anos, não faremos a fecundação in vitro da forma como fazemos atualmente. Agora, selecionamos o embrião que tem um aspecto, nada mais. Dentro de pouco tempo, poderemos selecionar o embrião que não somente tem um bom aspecto, morfologicamente normal, mas também é geneticamente normal. Isso é o que vão nos pedir as pacientes e a própria sociedade. Em um momento em que as ajudas sociais vão de mal a pior, não ter uma grande quantidade de crianças com problemas pode ser uma solução. A ética, sem abusar, é aplicar os conhecimentos que temos pelo bem da pessoa e da sociedade.
E quanto ao futuro da reprodução assistida? Qual é o próximo objetivo a ser alcançado?
O diagnóstico genético é uma linha magnífica, mas sigo dizendo que um objetivo claro é a diminuição de possíveis complicações, além de evitar a gravidez múltipla e fazer a implantação seletiva de um embrião, sabendo que ele é normal. A média de embriões implantados agora é bem diferente da de 20 anos atrás. Viemos diminuindo e descartando menos porque cada vez sabemos mais. O trabalho de laboratório é uma peça importante na fertilização in vitro. Para mim, o futuro é a seleção e a implantação de um único embrião que garanta êxito.
Glúten, autoimunidade e história
26/09/2015 - Carta Capital
Diarreia crônica, distensão abdominal, fadiga, lesões de pele e emagrecimento, os sinais e sintomas sugestivos da doença celíaca, foram reconhecidos pela medicina há séculos. Em 1880, o pediatra inglês Samuel Gee suspeitou haver alguma propensão hereditária, embora não conseguisse identificar algum tipo de "fraqueza constitucional" associada à doença, naquele tempo conhecida como "infantilismo intestinal".
Gee supôs que o quadro fosse consequência de um erro na dieta, hipótese em consonância com o pensamento em voga. E perguntou: "Por que entre vários filhos dos mesmos pais, criados da mesma forma, apenas um apresenta a doença?" "O que coloca em risco uma das crianças e não as outras?" Por décadas essa questão provocaria especulações sobre a etiologia da doença celíaca.
Quando a bacteriologia iluminou os espíritos no início do século XX, a presença de um microrganismo oculto serviu de explicação para qualquer patologia. Em 1908, Christian Archibald, em Nova York, defendeu que a causa da doença celíaca estaria ligada à colonização dos intestinos por alguma bactéria ainda desconhecida.
Em 1940, o pediatra holandês Willem Dicke observou a associação entre a ingestão de proteínas do trigo e as manifes tações clínicas. A diminuição da mortalidade por doença celíaca durante a epidemia de fome que devastou a Holanda em 1944, fortaleceu a suspeita.
Foi em 1952 que a i nglcsa Charlotte An-derson demonstrou que o glúten, existente no trigo, na cevada e no centeio, era o causador das lesões histológicas encontradas na mucosa intestinal dos doentes.
Nessa época, diversos autores buscavam et iologias pouco ortodoxas para explicar enfermidades como o lúpus erite-matoso disseminado, artrite reumatoi-de, esclerose múltipla e anemia hemo-lítica, entre outras. As suspeitas recaíram sobre a possibilidade de existirem reações aberrantes do sistema i munoló-gico, em afronta ao dogma de que a imunidade serviria apenas para nos defendei- das agressões externas.
Nos anos 1960, vários estudos demonstraram mecanismos imunopatoló-gicos envolvidos na gênese e na progressão da doença celíaca, mas foram necessários mais 20 anos paraque fossem aceitos sem reservas pelacomunidadecientífica.
Mais tarde ficou evidente que determinadas proteínas que regem a compatibilidade genética entre os indivíduos (an-tígenos de histocompatibil idade - HLA) indicavam predisposição para diversas enfermidades autoimunes, entre elas a doença celíaca.
Uma epidemia da enfermidade em crianças suecas nascidas entre 1984 e 1996 gerou indagações sobre o papel da hered itariedade e dos padrões dietéticos. Quanto mais curto o período de amamentação e mais precoce a introdução do glúten na dieta, maior o risco em crianças geneticamente predispostas.
Nossos conhecimentos sobre a resposta imunológica, o papel dos genes e os mecanismos moleculares avançaram muito nos últimos anos, mas os detalhes das interações entre hereditariedade, desenvolvimento e o ambiente em que vivemos ainda permanecem obscuros
O milagre da 28° semana
26/09/2015 - Veja
A MÃE ainda não pode acolher o filho nos braços. O bebê é carinhosamente levado para um canto da sala e cercado por médicos que o examinam velozmente. Os profissionais registram uma queda brusca de temperatura no organismo da criança. A pele fininha, com vasos quase expostos, e a escassa gordura do corpo não armazenam o calor a contento. O processo tem de ser drasticamente interrompido. O bebê é envolto em um saco de plástico fino, feito de polietileno, para frear a perda calórica. Incapaz de respirar sozinho, recebe suporte de oxigênio por meio de uma cânula que entra na boca, passa pela garganta e vai até os pulmões. Ele é acomodado sobre um colchão térmico. A cabecinha é protegida com uma touca de lã. A mãe o vê sair. Ele é levado para a UTI do hospital, onde permanecerá por no mínimo dois meses, tempo necessário para que os órgãos amadureçam e se fortaleçam com a ajuda de aparelhos. O sistema digestivo do corpinho frágil não consegue digerir alimentos, tampouco o leite materno é aceito com naturalidade. As paredes das artérias do cérebro são tão finas que podem se romper a qualquer instante. Os rins têm pouca capacidade de filtrar o sangue.
Assim correm os primeiros minutos da vida de um bebê nascido com 28 semanas de gravidez, apenas 1 quilo e 29 centímetros de comprimento. Hoje, seis a cada dez crianças com medidas assim, tão diminutas, conseguem sobreviver sem nenhum tipo de seqüela. "Houve espetacular avanço, um dos mais fascinantes da medicina", diz Suely Dornellas do Nascimento, pediatra neonatologista do Hospital Santa Joana, em São Paulo. Há duas décadas, apenas quatro venciam a dramática travessia inaugural. No patamar das 28 semanas deu-se o grande salto estatístico (veja na abertura desta reportagem). Mesmo em bebês ainda mais prematuros, de 25 semanas, celebra-se alguma conquista — de 18% de sobreviventes sem danos posteriores, taxa registrada em 1997, saltou-se para 22% agora. Crescidos, esses bebês levarão vida igual à dos nascidos a termo, de 38 a 42 semanas, com 3 quilos e os órgãos completamente desenvolvidos. A animadora informação faz parte do maior estudo já realizado sobre a pre-maturidade, recém-publicado na revista científica The Journal of the American Medicai Association (Jama). Conduzido pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), o trabalho avaliou 35000 bebês nascidos antes do tempo ao longo de dezenove anos. É um marco.
Extraordinárias inovações da medicina neonatal permitiram que vidas começassem mais cedo — como a criação do teste de Apgar (do nome da médica americana Virgínia Apgar), que, em 1950. estabeleceu critérios para definir os sinais vitais de um recém-nascido. Ela também propunha que outro médico cuidasse exclusivamente da saúde da criança. A presença de especialistas na sala de parto permitiu uma melhora na saúde do bebê ao nascer. Já mais recentemente, em 2011, autorizaram-se procedimentos cirúrgicos ainda no ventre da mãe. Na neonatologia, contudo, a tecnologia anda de mãos dadas com a delicadeza do contato materno e, em menor grau. também do paterno. Valoriza-se tanto o uso de cateteres, sondas e eletrodos, garantia de bom funcionamento das funções vitais, quanto o colo dos pais e uma UTI com iluminação reduzida de modo a acalmar os pequenos pacientes.
Num passado não muito remotaf há menos de três décadas, subestimava-se o sofrimento dos bebês prerçvatu-ros submetidos aos métodos inv/Ssivos dos tratamentos. Agora se sabe que eles sentem, sim, dor, e essa dor atrapalha o sucesso na recuperação, afetando, por exemplo, a oferta de oxigênio circulante no organismo. A identificação da sensação desagradável é feita por meio de sinais sutis, como um chorinho mais forte, uma careta ou pequenas mudanças no ritmo cardíaco. Pesquisas recentes mostram que até na vida intrauterina é possível identificar uma reação de desconforto. Nas cirurgias realizadas dentro do ventre da mãe, nos momentos mais dramáticos, o coraçãozinho do feto dispara.
Em 2003, a Organização Mundial de Saúde recomendou o chamado "método canguru", o contato da pele do bebê com a da mãe, atalho para estimular o sistema imunológico e estabilizar os batimentos cardíacos do pequeno. O mecanismo pode estar associado à liberação do hormônio oxitoci-na. composto da sensação de bem-es-tar, do aconchego e da tranqüilidade. A qualidade do sono dos bebês também passou a ser reconhecida, sobretudo para a saúde cerebral. Por causa disso, os serviços de excelência de saúde começaram a adotar o "horário do psiu". qualidade das imagens intrauterinas". Atualmente, médicos e mães dispõem de imagens que permitem a visualização do feto em detalhes jamais vistos.
Com apenas quatro semanas de gestação, já é possível identificar pontos específicos, como a formação do saco gestacional, estrutura que protege o embrião. A partir de onze semanas (dois meses e meio de gravidez), vê-se com precisão se o tronco e o crânio estão se formando adequadamente. O exame feito nesse momento é crucial para o diagnóstico de outros tipos de má-forma-ção. 0 rastreamento de cavidades cerebrais vazias ou de contornos anormais da cabeça é um indicador decisivo para a detecção precoce de anomalias no sistema nervoso central.
"O refinamento na qualidade das imagens permitiu intervenções extremamente precoces e de altíssima complexidade", diz Márcia Maria da Costa, obstetra e coordenadora da maternidade do Hospital São Luiz, de São Paulo. Elas guiam o profissional de forma a medicar o feto, ainda no útero, fazer transfusão de sangue e submetê-lo a cirurgia. É o caso dos bebês diagnosticados com mielomeningocele, defeito congênito da coluna e da medula espinhal. Por meio de operação intraute-rina, é possível tratar a doença, que pode causar comprometimento cognitivo e motor à criança no futuro.
Na última década, as imagens tridimensionais configuraram-se como o mais sofisticado recurso nessa área. Elas permitem o cálculo do volume dos órgãos, da nutrição, da oxigenação e a detecção de defeitos superficiais no organismo, como os presentes nos lábios, nas mãos e nas pernas. Elas ainda alimentam uma sensação aparentemente co-mezinha, mas, a rigor, excepcional. As imagens hiper-realistas atuais estimulam antes mesmo do nascimento az interação da mãe com seu bebê. É um mundo espetacular dentro do útero.
Durante uma hora, três vezes por dia, as luzes dos leitos são apagadas para que eles possam dormir. Os ruídos são proibidos. É um tempo no qual ninguém os incomoda, nem mesmo para examiná-los.
Os bebês nascidos antes da 28' semana de gestação representam o maior desafio da neonatologia. Chamados de prematuros extremos, têm peso inferior a 1 quilo. No Brasil, a cada ano, eles formam um contingente de 20 000 bebezinhos. São alimentados por meio de cateteres fincados nas veias dos braços ou no umbigo. O dispositivo joga os compostos diretamente na corrente sangüínea. Recentemente, porém, descobriu-se a importância da complementação do leite materno na prematuridade extrema, mesmo em quantidades ínfimas. Os protocolos médicos modernos ditam o consumo inicial de vinte goti-nhas de leite da mãe (1 mililitro) por quilo corporal, de três em três horas. Um bebê com peso normal, para efeito de comparação, consome 100 mili-litros por mamada. Não há, enfim, alimento que proteja o sistema imu-nológico do bebê com a mesma eficácia do leite materno.
O pulmão é um dos últimos órgãos a ter plena capacidade de funcionamento no desenvolvimento do corpo humano. Por isso, a imaturidade pulmonar é uma das principais causas de seqüelas e morte nos prematuros. O maior marco na neonatologia ocorrido nas três últimas décadas foi a chegada de um medicamento que age nos pulmões, o surfactante. O remédio abre os alvéolos, as estruturas que retêm o ar, facilitando a respiração. A medicação cortou pela metade as mortes de bebês nascidos antes da hora. Se existisse na década de 60, o surfactante muito provavelmente teria salvado a vida de Patrick, o terceiro filho do presidente americano John F. Kennedy (1917-1963). A primeira-dama Jacqueline deu à luz quando estava com 34 semanas de gestação. O bebê nasceu com pouco mais de 2 quilos. Nada que soe tão dramático nos dias atuais. A causa da morte do filho de Kennedy, registrada 39 horas depois do nascimento, foi a síndrome do desconforto respiratório. A doença é decorrente da deficiência do surfactante pulmonar.
Os bem-sucedidos cuidados com prematuros são filhos de uma ampla gama de mudanças comportamentais e demográficas das últimas décadas. Hoje, um em cada dez partos ocorre prematuramente (antes, portanto, da 38® semana) — um índice que dobrou se comparado às estatísticas de 25 anos atrás. As mulheres engravidam mais tarde para adiar o afastamento do mercado de trabalho. A gravidez acima dos 40 anos eleva o risco de hipertensão e diabetes. Outra causa da prematuridade é a gestação de tri-gêmeos ou quadrigêmeos. Esse tipo de gravidez aumenta em 24 vezes o risco do parto antecipado. Isso porque o crescimento acelerado do útero pode desencadear contrações. As gestações múltiplas tornaram-se mais comuns com os métodos de fertilização artificial, técnica da medicina reprodutiva cuja utilização não para de crescer. Um terço das mulheres que hoje recorrem aos tratamentos de inseminação tem mais de 40 anos.
Muitas vezes, na medicina, a celebração de um passo dado. monumental, como o milagre de salvar vidas com apenas 28 semanas, carrega um dilema. Se já é possível fazer vingar bebês nascidos com apenas 25 semanas, se 60% dos recém-nascidos com apenas 1 quilo estão aí, e eles viverão saudavelmente, o que pode acontecer se a linha do tempo for puxada para trás, salvando vidas ainda mais prematuras? Atualmente, bebês com apenas 350 gramas podem sair-se vitoriosos na luta contra a morte. Sim, mas dificilmente estarão livres de seque-las. Diz Alice Deutsch, coordenadora da UTI Neonatal do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, ancorada na fortaleza e humildade de quem tudo já viu numa maternidade: "Hoje, garante-se a sobrevivência com limites cada vez menores, mas é fundamental considerar sempre a qualidade de vida". A medicina consegue fazer respirar prematuros — mas não pode garantir vida saudável a todos.
Criou-se a ideia de médico bandido e doula guardiã
27/09/2015 - Folha de S.Paulo
César Fernandes, 64, que assume em janeiro a presidência Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, diz não ter simpatia alguma pelo parto domiciliar.
"Em dois minutos você pode perder um bebê", afirma o professor titular da Faculdade de Medicina do ABC.
Com 40 anos de profissão, ele critica doulas –acompanhantes de parto– que tentam intervir na atividade dos médicos. "A doula tem de se restringir ao seu papel. 'Doutor, mas você vai ligar o soro agora?' Quem é ela para isso?"
Na entrevista abaixo, ele trata ainda do alto número de cesáreas no país e dos relatos de violência obstétrica.
Folha - O que o senhor pensa do parto domiciliar?
César Fernandes - O parto pode sem um evento perfeitamente tranquilo. A gente pode ficar só assistindo. Mas quando eu sei que o parto foi assim? Só quando acaba. Por isso não tenho nenhuma simpatia pelo parto domiciliar.
Você pode ter espaço nas maternidades para partos de baixa complexidade, feitos inclusive pelas enfermeiras, mas com o médico supervisionando. Porque em dois minutos você pode perder um bebê.
Exemplo: o prolapso do cordão umbilical. A cabeça do neném comprime o cordão. Falta sangue e ele morre rapidamente. Acontece sempre? Não. Mas e se for com você?
Não há aí uma questão maior, o atrito entre as profissões da saúde? Quer dizer, certo espírito de "lá vem o médico arrogante dando ordem"...
Eu vejo que tudo tem uma hierarquia. Em uma orquestra, o cara que toca bumbo é fundamental. Mas há um maestro –embora também o maestro tenha fama de arrogante"¦
Não existe no Brasil um excesso de funções atribuídas aos médicos, até por corporativismo? Veja o Ato Médico"¦
Sim, talvez a gente tenha cometido esses erros históricos. Sem dúvida você precisa aproveitar o médico em atividades mais complexas.
E quanto às doulas?
A doula é nova para nós. Quem é? É profissão? Não. Ela não precisa ter nenhum conhecimento, saber diâmetros de uma bacia, ritmo de contração, efeitos das medicações.
A doula é acompanhante. Deve dar suporte emocional. Então ela pode pegar na mão, acalmar. "Doutor, posso passar um óleo na barriga dela?" Claro. Fazer massagem no pé, cantar musiquinha no ouvido"¦ Sem dúvida que pode.
Mas ela tem de se restringir ao seu papel. "Doutor, mas você vai ligar o soro agora?" Quem é ela para isso? É como o engenheiro falar para o pedreiro fazer a parede aqui e ouvir que não, vamos fazer ali.
Mas quão frequente é isso?
Há muitos relatos de mal estar entre doulas e obstetras. Não haveria se cada um se limitasse a sua função. O médico também não vai fazer massagem, cantar. Mas há doulas que não conhecem seu papel.
A doula, se estiver integrada, é ótima, nada contra, embora eu pense que o acompanhante ideal é o marido.
Uma acusação comum é que os médicos ficam querendo empurrar a cesária, insistindo até o último momento. E me parece inegável que, para o médico, é mais confortável.
É uma grande decepção para mim pensar que a paciente está pedindo parto normal, mas o médico está desrespeitando. Sempre vejo tais relatos: abandonei o médico porque ele queria a todo custo que eu fizesse cesárea. Com certeza há médicos assim. Até porque, como você falou, é mais fácil para ele. Mas não creio que seja a regra.
Qual o papel dos médicos no alto número de cesáreas?
Temos um percentual inaceitável de cesáreas no país. Uma primeira análise culpa o obstetra, e ele é demonizado.
Mas veja as maternidades. Viraram casas de cesáreas. Não se acha mais vaga. Liga no Einstein agora. Se não estiver agendado, não há vaga.
Além disso, as pacientes foram entendendo que cesárea é algo social, que ela avisa todo mundo. Por fim, o parto deve ser de responsabilidade dos plantonistas no hospital. O médico faz o pré-natal e, ao fim, entrega um bom relatório. Se a mulher quiser escolher o médico, isso está fora do plano de saúde, embora não exista necessidade. Na Inglaterra, a princesa deu à luz no hospital e o médico era o que estava de plantão.
Os próprios médicos incentivam essa comportamento.
Sim, quanto mais partos, mais ele ganha. Tem a ver também com a origem privada da saúde brasileira. Quando comecei, não havia planos. A mulher perguntava: doutor, quanto você cobra pelo parto? O valor era bom e estava subentendido que incluía consultas, ligações de madrugada. Os convênios se popularizaram, o valor do parto caiu muito, mas a cultura se manteve.
Outra reclamação frequente é quanto à violência obstétrica.
A violência obstétrica existe, mas não podemos aceitar.
Eu já ouvi vários relatos de pacientes que escutaram coisas como "na hora de fazer não achou ruim". É absolutamente recriminável. Tanto agressões verbais quanto atos médicos desnecessários.
Em algumas situações o médico tem de tomar decisões. Mas é condenável que o parto esteja ocorrendo bem e ele, por estar cansado, pense "vou fazer uma cesárea porque quero ir embora". Essa minoria deve ser denunciada ao conselho de medicina.
Mas os relatos não acabam justamente afastando as pacientes dos médicos e as aproximando de pessoas como as doulas?
Você está falando uma coisa absolutamente verdadeira. Acaba criando a ideia de que o médico é o bandido, enquanto a doula é uma guardiã, que vai protegê-la desse bandido que o é o obstetra. Não é assim que tem de ser.
Para terminar, queria ouvir o senhor sobre o aborto.
Eu, pessoalmente, tenho muita dificuldade para aceitar. Há paciente que diz que não gostaria de levar adiante a gravidez. O que você fala?
Se ela insistir, só há a clandestinidade. Tem coisas com razoável nível de segurança e tem barbaridades. A gente sabe onde tem as clínicas; todo mundo sabe, inclusive a polícia. Sou respeitoso com as pacientes, mas creio que não cabe ao médico encaminhar.
Há muito arrependimento?
Há mulheres que passam por isso e depois nunca mais conseguem ter filho. E há mulheres que fazem três, quarto abortos... É complicado.
Plantão Médico: Uma ajuda ao doente terminal
26/09/2015 - Folha de S.Paulo
A nova área médica dedicada a cuidados paliativos vem melhorando a qualidade de vida de doentes graves ao lhes proporcionar alívio dos sintomas dolorosos e apoio psicológico na angustiante situação.
Nos últimos anos, essa especialidade vem se expandindo e sua atuação já consta no atual Código de Ética Médica.
O artigo 41 do código determina ser vedado ao médico abreviar a vida do paciente. Mas, nos casos de doença incurável e terminal, "o médico deve oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis, sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis".
No Brasil, segundo a professora Marysia M. R. De Carlo, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, os serviços especializados em cuidados paliativos surgiram na década de 80.
O Rio Grande do Sul foi pioneiro nessa atividade, em 1983, ao instalar o atendimento no Hospital das Clínicas da UFRS.
Em 1986, a Santa Casa de São Paulo criou o Serviço de Dor e Cuidados Paliativos e em 1989 Florianópolis e Rio de Janeiro já dispunham de serviços de atenção especializada a doentes incuráveis e terminais.
Atualmente, os cuidados paliativos estão disponíveis na maioria dos principais hospitais brasileiros.
Serviços de prevenção em hospitais incluem genética e check-up jovem
27/09/2015 - Folha de S.Paulo
Além de atender doentes, hospitais paulistanos tem sofisticado seus programas de prevenção e de controle de riscos à saúde, como tratamentos para parar de fumar e perder peso e check-ups aprimorados para detectar doenças como câncer e depressão, inclusive em adolescentes.
Uma das áreas com maiores avanços nos últimos cinco anos foi a de mapeamento genético. Hoje, um exame feito a partir da saliva ou do sangue consegue apontar, a partir do DNA, se a pessoa terá cânceres hereditários como mama, ovários e intestino.
Atualmente, o teste custa entre R$ 2.000 e R$ 8.000, dependendo do número de genes a serem analisados.
"Ele transforma uma desvantagem em vantagem para o paciente. Mesmo que ele tenha a doença, nunca passará pelo mesmo que os seus parentes, pois conseguirá detectar o problema no início", diz Bernardo Garicochea, coordenador de pesquisa no hospital Sírio-Libanês. "Entre um terço e 50% dos cânceres humanos têm como agentes uma composição de genes."
Quando o mapeamento encontra mutação nos genes, é possível tomar várias medidas para se precaver, como tomar doses de Aspirina, que ajudam a prevenir câncer no intestino, aumentar a frequência de exames de ressonância ou, em casos extremos, retirar tecidos do corpo, como fez a atriz Angelina Jolie, que se submeteu a uma cirurgia para remover os seios após um exame mostrar que ela tinha 87% de risco de câncer.
Fabiana Monte, 37, realizou procedimento similar. Ela foi a quarta pessoa da família a ser vítima de câncer de mama. Diante desse histórico, ela fez um mapeamento genético completo por orientação de seus médicos. "Não encontraram nenhuma mutação genética que pode ser identificada pela ciência hoje, mas mesmo assim decidi remover também a mama direita", conta Fabiana. "Quis tentar o suficiente para brigar de igual para igual com a doença."
A prevenção contra o câncer pode ser feita também com exames como a colonoscopia, que investiga o intestino usando um tubo inserido pelo reto. "É um exame perfeito, porque consegue observar toda a mucosa e, ao identificar uma lesão, permite fazer a retirada na hora", explica Angelita Gama, presidente da Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino.
Raphael Alcântara, 36, faz o exame desde os 25 anos, pois seu pai teve a doença. "Ele fez um check-up sem esse exame, não acusou nada e, dois meses depois, descobriu um tumor avançado", lembra o empresário. "Há preconceito contra o exame, mas toma-se um sedativo e não se sente nada", explica. Seu pai se recuperou e segue saudável 20 anos após o diagnóstico.
ADOLESCENTES
Os hospitais também oferecem exames específicos para adolescentes. No Sírio-Libanês, a avaliação, coordenada por um hebiatra, consegue identificar distúrbios alimentares, como anorexia, problemas psicológicos como depressão e ansiedade, uso de drogas e sedentarismo.
"A maior parte dos hábitos que geram danos à saúde, como o tabagismo, começam na adolescência", diz Danielli Dezen, coordenadora do núcleo de check-up do Sírio.
Criado há cinco anos, o programa para adolescentes atende pessoas com idade entre 9 e 20 anos. As conversas com o jovem e com os pais são feitas separadas. "Há sigilo. O medico só contará aos pais se o problema coloca em risco a saúde do paciente ou de outras pessoas", pondera a médica.
OBESIDADE
Para quem quer abandonar um hábito de risco, como o tabagismo, ou corrigir um distúrbio alimentar, os hospitais também oferecem ajuda em centros com equipes que reúnem profissionais de várias áreas, como endocrinologista, nutrólogo, psicólogo e preparador físico.
A perda de peso começa a ocorrer após um mês. O tratamento tem tempo indeterminado, pois a obesidade é considerada uma doença crônica. "Esses indivíduos têm alterações nos mecanismos de saciedade. Não é como uma gripe, que vai pra casa e melhora", diz Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do hospital Oswaldo Cruz.
No Oswaldo Cruz, os especialistas também tiram dúvidas de pacientes via mensagens de celular, como a forma certa de tomar um remédio. Caso não haja outras formas de baixar o peso, o paciente é encaminhado para uma cirurgia de redução de estômago. A operação também mexe em parte do intestino, o que diminui a fome.
A analista de sistemas Gabriela D'avila, 27, procurou o centro do Oswaldo Cruz depois de se tratar por dois anos com um endocrinologista e um psiquiatra em lugares separados. Ela chegou a pesar 103 quilos e descobriu que o excesso de peso estava ligado à ansiedade.
Em abril, Gabriela foi submetida à cirurgia de redução do estômago depois de ser diagnosticada com gordura no fígado. Ela seguiu o tratamento após o procedimento e, hoje, pesa 71 kg. "Aprendi a mastigar da forma correta. Hoje, percebo como as pessoas comem rápido demais."
CIGARRO
Fumantes que sonham em se livrar do vício podem contar com apoio de equipes multidisciplinares. O programa do Hospital das Clínicas inclui cinco consultas médicas ao longo de três meses. Os pacientes recebem remédios de acordo com o perfil genético, se aceitarem participar de uma pesquisa.
"Temos dois medicamentos que inibem o efeito recompensa da nicotina. Um teste genético permite identificar qual deles funciona melhor para cada um", explica Jaqueline Scholz, diretora do programa de tratamento de tabagismo do Incor, vinculado ao HC. "Em torno de 50% dos participantes conseguem largar o cigarro."
No Albert Einstein, o programa para fumantes que querem parar inclui consultas virtuais e presenciais com psicólogos. O processo dura 12 semanas.
Em alguns casos, é preciso recorrer até a antidepressivos. "Alguns têm dependência física e outros, psicológica", diz Regina Tranchesi, diretora-técnica do hospital Nove de Julho, que também dispõe do tratamento. O estabelecimento oferece, ainda, controle de peso e atividades gratuitas para idosos, como caminhadas acompanhadas de fisioterapeutas. "Queremos cuidar da saúde das pessoas, e não só da doença", diz Tranchesi.
Santa Casa tem de reduzir quadro, diz executivo
28/09/2015 - O Estado de S.Paulo
Após um processo seletivo comandado por uma empresa especializada na busca de executivos, a Santa Casa escolheu o engenheiro José Carlos Villela, de 55 anos, como seu novo superintendente. Ele terá pela frente uma missão difícil: tirar a instituição financeira, cuja dívida ultrapassa os R$ 800 milhões, da maior crise de sua história.
Por 28 anos, Villela trabalhou como consultor para uma multinacional na área de tecnologia. Pediu demissão do cargo e, há dois meses, passou a atuar como voluntário no plano de reestruturação da Santa Casa. Nomeado para a superintendência na semana passada, ele confirmou ao Estado que a recuperação da entidade passa por “medidas amargas”, como corte de funcionários, e disse que a instituição deverá demorar dez anos para pagar a dívida bancária. Afirmou ainda que, se tudo correr bem, a Santa Casa vai operar no azul até o fim do ano.
Qual é o diagnóstico depois de dois meses na Santa Casa?
É uma situação muito difícil, mas temos duas grandes conclusões. A primeira é que o problema é grave. Mas a conclusão mais importante é que a Santa Casa é viável. De fora é difícil acreditar, dada a situação em que se encontra, mas também é verdade que a correção não vai ser suave. A gente tem um problema de gestão e a solução passa por uma maneira diferente de administrar a Santa Casa, passa pelo grupo da liderança dos médicos e enfermeiros engajados em virar o jogo da Santa Casa e passa também necessariamente por um trabalho conjunto com o governo. Então, a solução passa não por doações, mas por um trabalho conjunto.
Quais as medidas urgentes?
As duas principais são a redução de quadro e a segunda, que é tão importante quanto, é esse trabalho conjunto com as esferas governamentais e com os bancos para trabalhar o tema da reestruturação da dívida. Tivemos reunião com a Caixa e com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). E ambos se mostraram amplamente positivos, existe um esforço do governo federal com as Santas Casas. A Santa Casa é eminentemente SUS e será eminentemente SUS.
Qual é a proposta de vocês? A estrutura básica desse programa tem uma taxa de juros um pouco mais palatável que a de mercado e o modelo é dez anos de prazo para a gente pagar. Do ponto de vista de base para a negociação é disso que estamos partindo.
E quando sai esse acordo?
Tem de ser neste ano.
Já se sabe quantas pessoas serão demitidas e com que dinheiro a Santa Casa pagará as verbas rescisórias? Não. Primeiro, a Santa Casa vai pagar todos os direitos. Só vai fazer um processo se puder arcar com as obrigações e os direitos de todas as pessoas que saírem do nosso quadro. O modelo depende do possível aporte de capital, para que a gente tenha caixa.
Qual é o déficit da operação da Santa Casa hoje?
Em maio, eram R$ 18 milhões.
Com esse movimento de ajuste de quadro, mudanças no Hospital Santa Isabel e sorte em alguns recebíveis, a gente acredita que consegue chegar ao fim do ano com um operacional equilibrado. É o equilíbrio operacional, não financeiro, porque isso depende do que a gente vai conseguir acertar com os financiadores.
Vocês estão pensando em vender imóveis da Santa Casa para auxiliar no pagamento da dívida?
Imóvel não é uma coisa que você movimenta com velocidade, então tem de ter um pouco de calma com esse processo.
Agência Nacional de Saúde reformula site com índice de reclamações de operadoras
27/09/2015 - O Estado de S.Paulo
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou em seu portal na internet um novo Índice de Reclamações, ferramenta que permite ao consumidor comparar a atuação das operadoras de planos de saúde. O índice é calculado com base nas queixas que são registradas na ANS e foi reformulado. Foram incluídos instrumentos que ajudam a identificar qual foi a conduta da operadora na resolução das queixas e os principais motivos das reclamações. Para facilitar a visualização, são apresentados gráficos e também o ranking com a lista das dez operadoras com maior índice geral de reclamações, divididas por porte e por tipo de atenção (assistência médica ou exclusivamente odontológica). O consumidor também poderá ver detalhadas as reclamações por subtema (rede de atendimento, prazos máximos para atendimento, rol de procedimentos, reembolso). Ainda é possível calcular os indicadores de cada operadora individualmente. O site é o www.ans.gov.br/espaco-da-qual
Coma menos, mexa-se e um pouco de sorte!
27/09/2015 - O Estado de S.Paulo
Se você tem cerca de 25 anos e acha que anda muito difícil perder peso, saiba que não está sozinho! Nova pesquisa sugere que mesmo que você faça a mesma atividade física que seus pais faziam na sua idade e coma exatamente a mesma quantidade de calorias que eles ingeriam, o mundo parece ter se tornado mais duro para quem quer se manter em forma.
Trabalho realizado pela Universidade de York, em Toronto (Canadá), publicado no periódico Obesity Research & Clinical Practice, que analisou dados de 36 mil americanos de 1971 a 2008, revelou que para uma mesma ingestão calórica, os jovens estão hoje com peso 10% superior ao das gerações anteriores. Já para um mesmo nível de atividade física, o peso é 5% mais elevado. Os resultados foram revelados pelo jornal inglês Daily Mail. Para os pesquisadores, além de alimentação e sedentarismo, outras questões podem estar envolvidas na maior dificuldade para perder peso. Dessa forma, só se mexer mais e comer menos, apesar de elementos fundamentais, podem não fechar a equação para evitar obesidade e sobrepeso. Infelizmente, parece que não basta que o balanço energético seja equilibrado (que se gaste o que se coma).
Fatores como poluição, maior nível de estresse no dia a dia, maior exposição à luz à noite, menos horas de sono, uso de medicamentos, influência genética, bactérias que colonizam nosso intestino e até a rapidez com que as pessoas comem podem levar a uma batalha mais árdua contra a balança.
Ameaça para a Europa. Por falar em obesidade, levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), revelado na última semana pela AFP, mostra que ela é um dos fatores que podem dificultar a meta de se reduzir ainda mais a mortalidade precoce na Europa. Junto com o consumo elevado de álcool e tabaco, o excesso de peso está afetando seriamente a saúde da população, apesar de os europeus estarem vivendo hoje mais do que nunca. Segundo os dados da OMS, o número de mortes prematuras por doenças não transmissíveis (como problemas cardíacos, diabetes e câncer) estão diminuindo rapidamente no continente. Mas peso, álcool e cigarro podem dificultar mais avanços. Hoje, de 20% a 30% dos habitantes da Europa ainda fumam (a taxa varia entre os 39 países pesquisados) e quase 60% deles têm sobrepeso ou obesidade. São também 11 litros de álcool consumidos por pessoa a cada ano. Os europeus bebem e fumam mais do que em qualquer outra parte do mundo.
As autoridades em saúde pretendem reduzir as taxas de mortalidade precoce por doenças não transmissíveis em 1,5% até 2020. Mas sem alterar os fatores de risco no estilo de vida, esse objetivo pode não ser alcançado. Embora altas, as taxas de consumo de álcool e de tabagismo estão em ritmo de queda na maior parte dos países europeus. Já a obesidade e o sobrepeso seguem na contramão e só têm aumentando nos últimos anos. Os especialistas enfatizam que uma situação não vai conseguir compensar a outra.
Como vimos no primeiro trabalho citado, a tendência é que essa luta seja ainda mais difícil para as gerações mais novas. Além de aumentar o nível de atividade física para um ritmo superior ao das gerações anteriores e consumir menos calorias que décadas atrás (dois objetivos por si só difíceis), seria fundamental trabalhar os demais fatores que podem dificultar a batalha dos mais novos contra o ganho de peso. Como o Brasil segue uma tendência semelhante à dos países mais desenvolvidos, a luta por aqui contra obesidade e sobrepeso deve se intensificar nas próximas décadas.
Impeachment do SUS
28/09/2015 - O Globo
O súbito aparecimento do Ministério da Saúde na cena política não se deveu a seus méritos ou deméritos para atender a população. O tema que trouxe a saúde à pauta foi o pacote contendo redução de ministérios e troca de nome do titular da pasta. A conversa, portanto, não se referiu ao valor que a saúde tem para cada indivíduo e para a sociedade. O assunto se concentrou em torno do quanto vale o cargo de ministro, medido pelo volume do orçamento da área, quantidade de nomeações para unidades de saúde, articulações com prefeituras e desdobramentos em termos de licitações e contratos. Em vez de votos de saúde, pronto restabelecimento, melhoras, deseja- se o Ministério. A chocante frieza das tentativas de acordos, envolvendo o Ministério da Saúde com bancadas de partidos políticos e de subacordos com parlamentares de unidades da Federação admitem interpretações diversas. Dar o anel para não perder os dedos, uma grande prova de compromisso para a formação de maioria no Congresso e discordância com a histórica agenda do SUS. Como na prática argumentos, intenções e interesses se embolam, a oferta do Ministério da Saúde ao uso e abuso de negócios acoplados a projetos políticos eleitorais provavelmente teve múltiplas motivações.
Desde o início do ano, as medidas e ameaças para desmantelar o SUS se intensificaram. Propostas de cobrança no SUS e separação de atendimento para quem é trabalhador formal e o restante da população, e autorização indiscriminada de investimentos estrangeiros nas atividades assistenciais foram idealizadas e aprovadas pelos apoiadores e postulantes ao cargo de ministro. A desidratação do sistema público agravou. Com o corte de mais de 10% dos gastos federais para a saúde, de um orçamento já racionado a partir de 2014. O SUS aprovado pela Constituição de 1988 foi questionado, modificado e deixado à míngua. A história é longa, os governos de distintos matizes partidários trocaram o SUS, uma política encarada por alguns como velha, desgastada, por programas, com os antecedidos pelo prefixo mais em voga.
A manobra de deixar o SUS de lado e buscar realizar no curto prazo ações para expandir acesso, recentralizou ações na esfera federal. A alocação de recursos específicos, as normas e mesmo leis direcionadas a programas e não ao conjunto do sistema postergaram a construção federativa do SUS. No entanto, a amálgama que permitiu alguma linha de continuidade nas ações do Ministério da Saúde, desde a redemocratização, é o SUS. Foi também em nome do SUS que a simbiose entre o setor privado, o financiamento das campanhas eleitorais e as propostas de redistribuição do fundo público prosperaram. Mas a multiplicação do enredamento do Ministério da Saúde em laços clientelistas e a possibilidade de expansão e reiteração de práticas que estão condenadas pelas operações de investigação de corrupção o tornarão apenas um campo de exploração de interesses particularistas.
A maioria dos países, inclusive na América Latina, possui ministros da Saúde competentes para conduzir debates e projetos sobre qualidade de vida no âmbito interno e nos fóruns internacionais. O desemprego, a desaceleração da economia, a escalada da violência, em suas manifestações objetivas e subjetivas causam sofrimento, adoecimento e mortes. É claro que nenhum sistema de saúde, mesmo acessível e abrangente, resolve esses problemas, mas contribui para equacionálos, tratá- los e evitar que ameacem a vida. A alocação racional, a priorização de recursos escassos de acordo com parâmetros de necessidades de saúde não é o mesmo que pulverizá- los, distribuílos entre a base parlamentar. Qualquer gestor da saúde, especialmente o ministro, tem como desafio encontrar alternativas para contornar o aumento das demandas por atenção, restrição orçamentária e os efeitos de políticas cambiais, que aumentam, duplicam, preços de medicamentos, reagentes e equipamentos importados.
A tesoura com duas superfícies de corte atinge o que estava funcionando razoavelmente bem, como por exemplo a dispensação de medicamentos e equipes de atenção primária à saúde, que além de propiciar tratamentos sem interrupções, reduzem gastos das famílias. A defesa da saúde como um domínio simultaneamente especializado e exigente de conexões políticas democráticas não significa desconhecer a força financeira e política do setor privado. É um equívoco ignorar a privatização da saúde. Pode- se não gostar da realidade, criticá- la, mas esses julgamentos, quase sempre, ignoram que sucessivas gerações de trabalhadores, entre as quais a parcela dos sindicalistas que chegou ao poder, acreditam que a assistência privada é a depositária da inovação e qualidade. O jogo não está equilibrado, os enlaces, contraídos com finalidades distanciadas do esforço de trazer a vida humana, a vida social, para o centro das decisões políticas, expulsam o pessoal da saúde pública da partida. Encerrar dessa forma um longo ciclo de batalhas pelo SUS é sintoma de profunda melancolia social. Hipócrates diagnosticaria excesso de bile, influência de Saturno sobre o humor. Nos dias de hoje, o impeachment do SUS significa abandono dos princípios de igualdade, solidariedade e respeito mútuo. A cura, seja pelos cânones da medicina grega, seja pela recusa à degradação da política de saúde, requer mudança de ares e lugares e restabelecimento de outras aspirações que não a posse e os desmandos.
Com o fígado fora de forma
26/09/2015 - Correio Braziliense
Maior órgão maciço humano, o fígado é a central elétrica do corpo. Entre as suas mais de 500 funções, está a importante tarefa de receber nutrientes do intestino e devolver ao sangue as produções das células. Glicose e glicogênio, que dão origem à produção de energia necessária à vida, são um exemplo. A rica vascularização do órgão e o tamanho dele fizeram com que, nos primórdios da medicina, ele chegasse a ser confundido com o coração. Tamanha importância também faz do fígado um órgão sensível. Há várias doenças que o acometem, agudas e crônicas. O álcool é, sim, a principal ameaça. Causa lesões hepáticas que evoluem para a cirrose e, dessa, para a necessidade de transplante.
Mas, para quem pensa que esse é o único vilão do fígado, vai o alerta: é preciso ter atenção com a hepatite e com a doença hepática gordurosa não alcoólica, principal causadora da esteatose. Caracterizada pelo acúmulo de gordura no interior das células do fígado, a esteatose pode ser causada também por hepatites, abuso de álcool e uso de medicamentos. A maioria dos pacientes tem apenas o acúmulo de gordura nas células, mas até 30% dos casos podem evoluir para esteatoepatite não alcoólica, cirrose e câncer de fígado.
Pesquisa recente sugere que 30% dos adultos tenham esteatose, doença hepática mais prevalente em todo o mundo. “O número é tão alarmante que a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) acaba de definir um consenso nacional sobre a doença. Trata-se de uma epidemia mundial. Precisamos chamar atenção porque é uma enfermidade silenciosa, que não causa sintomas”, alerta Edison Roberto Parise, presidente da entidade.
Obesidade visceral, pré-diabetes, diabetes, baixa do bom colesterol, alta do triglicérides, pressão alta, aumento da circunferência da cintura e síndrome metabólica podem denunciar o problema. Segundo o hepatologista e gastroenterologista João Galizzi Filho, testes de função hepática em exames de sangue são inespecíficos, mas o ultrassom é capaz de mostrar se existe uma esteatose significativa.
A doença tem causa genética e é agravada pelo estilo de vida sedentário e pela má alimentação, com a grande ingestão de carboidratos e gorduras saturadas. Obesidade e diabetes são os principais fatores associados. Nessas condições, a esteatose pode atingir 70% dos indivíduos. Ela também é mais frequente em pessoas na faixa dos 40 a 50 anos, mas vem crescendo entre os adolescentes em função do estilo de vida sedentário e por causa do abuso de anabolizantes.
Mas, corrigindo as causas, é potencialmente reversível. “Precisa modificar hábitos alimentares, perder peso e fazer atividade física regular e moderada, principalmente as aeróbicas”, ensina Galizzi. Seguindo essas recomendações, além de reverter a esteatose, o paciente ganha em qualidade de vida, já que muitos sofrem de apneia do sono, além de reduzir o risco cardiovascular e o de progressão para o diabetes. Quanto maior a adesão ao novo comportamento, melhor o resultado na diminuição da gordura depositada no fígado.
Já em fase avançada da esteatose, precisa-se recorrer aos sensibilizadores de insulina e aos medicamentos citoprotetores e antioxidantes. Para os obesos mórbidos, a cirurgia bariátrica é opção. “De 80% a 90% da população adulta com obesidade mórbida tem esteatose”, explica Edison Parise. Casos mais avançados podem exigir transplante.
União perigosa
Novos tratamentos estão sendo desenvolvidos no combate à doença, mas, segundo Parise, apesar de ser um problema sério de saúde pública, ainda não são destinados recursos financeiros necessários para a divulgação e os cuidados. Descoberta a esteatose, o presidente da SBH ressalta a importância de se investir na prevenção do diabetes e das doenças cardiovasculares. Segundo João Galizzi Filho, diabéticos têm cerca de 65% a 80% de chances de ter também a esteatose, que pode evoluir para câncer de fígado.
Nos Estados Unidos a doença gordurosa já é a primeira causa de cirrose e a terceira de transplante de fígado. No Brasil, dados da Central de Transplantes da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo mostram que, entre 2010 e 2014, quase 3% das indicações de transplante de fígado foram motivadas por cirrose causadas por doença hepática gordurosa não alcoólica. Neste ano, o número subiu para 5% na lista de espera.
Risco maior de câncer
26/09/2015 - Correio Braziliense
A cirrose hepática é o principal fator de risco para o câncer do fígado, quinto tipo mais frequente no mundo e terceira causa de óbito por tumores malignos. Entre as causas do hepatocarcinoma, como é chamado, estão as hepatites virais, especialmente as do tipo B e C.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há no mundo cerca de 520 milhões de pessoas com os vírus das hepatites B e C. Por serem silenciosas e não apresentarem sintomas até se tornarem graves, essas doenças virais, em sua maioria, não são diagnosticadas precocemente, razão pela qual podem se cronificar. Isso ocorre em 70% a 80% das infecções e, em média, 20% delas podem evoluir para cirrose e de 1% a 5%, para câncer do fígado.
Conforme Rogério Alves, hepatologista do A.C Camargo Cancer Center, a cirrose hepática está na origem de metade dos casos de hepatocarcinoma, por sua vez associado ao alcoolismo ou à hepatite crônica. “Para não desenvolver cirrose hepática, é preciso controlar a quantidade de álcool ingerida, nunca ultrapassando duas doses por dia. Já a transmissão do vírus da hepatite B pode ser prevenida pela vacinação. Para a hepatite C, não há vacina, mas existe tratamento”, afirma.
O problema é que milhões de brasileiros têm o vírus e não sabem disso: isso aumenta o perigo para o avanço da cirrose e predispõe o risco de desenvolvimento do tumor. Embora a cirrose esteja presente, na maioria das vezes, entre as pessoas com câncer de fígado decorrente da hepatite C, o mesmo não ocorre nos infectados pela hepatite B. Esses, caso piorem, podem ter tumor de fígado, mesmo sem cirrose.
Os tumores de fígado podem ser câncer primário (com origem no próprio órgão) e secundário ou metastático (originado em outro órgão e que atinge também o fígado). O mais frequente, que ocorre em até 80% dos casos, é o hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular, agressivo e com curto tempo de evolução.
Os sintomas do hepatocarcinoma são dor abdominal, massa abdominal, distensão, perda de peso inexplicada, falta de apetite, mal-estar, tonalidade amarelada na pele e nos olhos e acúmulo de líquido no abdômen.