
CLIPPING - 26/08/2015
Assessoria de Comunicação do CRF-SP
Vacina contra meningite B está em falta
26/08/2015 - O Estado de S.Paulo
Lançada em maio, a vacina que protege contra a meningite B já está esgotada em clínicas particulares do País. A reportagem entrou em contato com cinco clínicas na capital e o cenário era o mesmo: a vacina estava em falta e a previsão é de que a imunização seja retomada somente em novembro.
Em junho, a engenheira de alimentos Laís Zechineli, de 28 anos, conseguiu vacinar a filha Júlia, de 1 ano e 4 meses, mas encontrou dificuldades para ter acesso à segunda dose. “Disseram que estava em falta no Brasil inteiro. No domingo passado, o avô da minha filha fez exames e perguntou se tinha. Informaram que, para quem tinha tomado a primeira dose, eles reservaram a segunda. Foi assim que ela tomou.” A doença tem índice de letalidade de cerca de 30% e pode causar graves sequelas, como surdez e amputação de membros.
“Com os casos no Sul (do País), imagino que deve ter acabado, mas os pais devem ficar tranquilos, pois não há registro de surtos”, diz Flávia Bravo, presidente da Regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Imunizações. O laboratório GSK, responsável pela vacina, informou que a alta demanda causou o desabastecimento. A empresa afirmou ainda que já deu orientações às clínicas para que gerenciem estoques.
População e governo compram menos remédio
26/08/2015 - Revista Valor 1000
O setor farmacêutico brasileiro, que nos últimos anos ostentou um crescimento anual de dois dígitos, deve terminar 2015 com percentual inferior a 10%. A queda é reflexo da crise econômica, que começa a ser sentida na redução do consumo de medicamentos pela população e que impacta também as compras públicas.
As vendas do varejo farmacêutico, que representa 68% do mercado nacional - o restante é diluído entre governo, hospitais e clínicas -, tiveram variação positiva de 10,82% em 2013, para RS 37,5 bilhões, e de 11,88% no ano passado, totalizando RS 42 bilhões.
Como no Brasil as pessoas são responsáveis por 74% do total das compras de medicamentos, Antonio Britto, presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), afirma que se notam sinais de restrição de consumo dos chamados produtos eletivos, que não dependem de prescrição médica.
O cenário desfavorável também afeta as compras públicas, que respondem por 25% das aquisições de medicamentos. "Os governos estão demorando mais para comprar ou estão comprando em menor quantidade, ou estão comprando e demorando para pagar."
O panorama da saúde no Brasil nos próximos anos é desafiador, segundo Britto. Com o envelhecimento da população e o surgimento de doenças complexas e crônicas, cujo tratamento é mais caro, o governo terá que comprometer parcelas maiores de recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o atendimento à população.
Mas há um crescente processo de "judicialização de saúde", ou seja, ações na Justiça motivadas pela falta de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), seja pela falta de remédios ou porque os tratamentos não foram incorporados à rede pública. Segundo a Interfarma, as despesas do Ministério da Saúde geradas por ações judiciais saltaram de RS 367 milhões para R$ 844 milhões entre 2012 e 2014, correspondendo a um aumento de 129%. O acumulado desse período é de RS 1,76 bilhão.
Rumo a uma vacina universal contra a gripe
25/08/2015 - O Globo
A prodigiosa capacidade do vírus da gripe ( influenza) de mudar a configuração externa de suas proteínas e assim escapar das defesas de nosso organismo é o principal obstáculo na busca por uma chamada vacina universal contra a doença, isto é, que ensine o sistema imunológico a atacar todos os seus variados subtipos, dispensando a elaboração e a administração anual de um novo imunizante. Entre estas proteínas está a hemaglutinina ( HA), que o vírus usa para se ligar às nossas células para poder invadi- las e se multiplicar em seu interior.Mas enquanto a “ponta” da hemaglutinina, alvo primário de nossos anticorpos para a gripe, passa por alterações frequentes, o que impede que estas pequenas moléculas em forma de Y que são os “soldados” de nosso sistema imunológico se unam ao vírus e evitem que ele infeccione nossas células, a estrutura base da proteína, ou seja, seu “caule”, praticamente não sofre mutações, justamente para não atrapalhar seu trabalho de abrir caminho para que o vírus invada nossas células. E é de olho nesta estabilidade que dois grupos de pesquisadores, atuando de forma independente, relataram ontem avanços na obtenção de uma vacina que estimule as defesas do organismo a atacar esta base da hemaglutinina e não apenas sua “ponta”, oferecendo assim proteção contra as diversas “versões” do vírus.
— Nosso estudo mostra que estamos caminhando na direção certa na procura por uma vacina universal contra a gripe — comemora Ian Wilson, cientista do Instituto de Pesquisas Scripps, nos EUA, e integrante de um dos grupos, cujos resultados foram publicados on- line ontem no site da prestigiada revista “Science”. — Se o corpo consegue produzir uma resposta imunológica contra o caule da hemaglutinina, o vírus terá dificuldades de escapar.
TREINANDO UMA “TROPA DE ELITE”
Para isso, os cientistas criaram uma maneira de remover a variável “ponta” da proteína viral, expondo sua estrutura base à reação do sistema imunológico. Assim, ele pode produzir em grande quantidade os chamados anticorpos de ampla neutralização ( bnAbs, na sigla em inglês) contra o influenza, algo como uma “tropa de elite” no exército de defesa do organismo que raramente é “treinada” para combater a gripe. Em testes com camundongos e macacos, um imunizante feito com uma versão da hemaglutinina “decapitada” protegeu os animais de vários subtipos do vírus, inclusive os da família do H5N1, causador da gripe aviária, contra o qual as atuais vacinas anuais não surtem efeito e que já provocou diversos surtos epidêmicos ao redor do mundo, matando quase 400 pessoas desde que a primeira infecção de seres humanos por ele foi identificada, em 1997.
— Esta foi a prova do princípio — conta Wilson. — Os testes demonstraram que os anticorpos produzidos com um dos subtipos do influenza deram proteção contra outros subtipos. E embora ainda reste muito trabalho a ser feito, o objetivo final, é claro, será criar uma vacina que dure a vida inteira.
Já o trabalho do segundo grupo de pesquisadores, publicado na edição desta semana da revista “Nature Medicine”, teve uma abordagem ligeiramente diferente. Nele, os cientistas produziram nanopartículas estáveis similares ao “caule” da hemaglutinina do subtipo 1 ( H1), que foram ligadas a substâncias adjuvantes, desenhadas para estimular ainda mais a resposta imunológica, para criar a vacina. Administrado em camundongos e furões, o imunizante protegeu os animais não só contra os vírus com o mesmo subtipo da proteína como evitou os piores sintomas e a morte quando eles foram deliberadamente infectados com quantidades potencialmente letais do H5N1 — apesar de os anticorpos gerados não terem se mostrado capazes de neutralizar por completo o subtipo da gripe aviária. Os adjuvantes usados nesta pesquisa, no entanto, não são aprovados para administração em humanos, e os cientistas ainda precisam provar que obteriam o mesmo tipo de resposta imunológica com substâncias permitidas para uso humano.
— Estes são achados animadores vindos de pesquisadores altamente respeitados e conhecidos por sua atenção aos detalhes — comenta Garry Lynch, professor da Universidade de Sydney, na Austrália, e especialista em gripe, que não tem relação com nenhum dos dois grupos de cientistas responsáveis pelos avanços na busca por uma vacina universal contra a doença. — O mais importante é que estes estudos trazem as necessárias evidências sólidas de que anticorpos que têm como alvo uma região estável da hemaglutinina podem fornecer uma proteção ampla contra diferentes linhagens do influenza. Mas para uma proteção verdadeiramente universal, é preciso estudar e testar outros subtipos do influenza. De qualquer modo, esperamos mais avanços maravilhosos nesta área de forma que uma vacina verdadeiramente universal contra a gripe se torne uma realidade.
TESTES AINDA VÃO LEVAR ANOS
Outro que está otimista é o pneumologista brasileiro Carlos Alberto de Barros Franco, que, no entanto, destaca que ainda vai demorar para uma vacina universal contra a gripe chegar ao mercado.
— Existem várias pesquisas sobre o tema há bastante tempo. E “estar perto”, na medicina, não é uma viagem do Rio de Janeiro a Petrópolis. Estar perto na medicina são, no mínimo, cinco anos — diz Barros Franco. — Mas, se der certo, será fantástico. As pessoas não precisarão encarar a vacina todo ano. E isso poderá ser um passo enorme para a criação de outras vacinas cujos vírus sofrem mutação, assim como o da gripe, em que os antígenos da superfície se modificam. A dificuldade é exatamente essa: identificar e isolar o antígeno que não sofre a mutação e desenvolver a vacina.
Opinião semelhante tem Walter Orenstein, professor da Escola de Medicina da Universidade Emor y, nos EUA , e também não relacionado com ambos os grupos de pesquisadores. — As abordagens que estão sendo desenvolvidas de fato oferecem potencial para uma vacina universal contra o influenza, mas estes são estudos com animais, então ainda estamos muito longe de desenvolver e testar uma vacina em humanos — considera. — Mas as técnicas são promissoras e um passo na direção certa. Os estudos devem ser aprofundados mais e esperamos que sejam bem-sucedidos.
Por fim, Sarah Gilbert, professora da Universidade de Oxford, no Reino Unido, destaca que, ao ter como alvo parte do vírus que não sofre mutações, ambas as vacinas superaram um grande obstáculo, mas ainda devem passar por ensaios clínicos controlados com humanos para se saber como e por quanto tempo ofereceriam proteção contra o vírus.
— São desenvolvimentos excitantes, mas as novas vacinas precisam ser testadas agora em ensaios clínicos para saber o quão bem elas funcionam em humanos — lembra Sarah. — Esta será a próxima fase da pesquisa, que ainda vai demorar muitos anos. Assim, ainda estamos um tanto distantes de ter melhores vacinas contra a gripe para serem aplicadas em seres humanos.
Contra qualquer gripe, uma só vacina
25/08/2015 - Correio Braziliense
Uma nova estratégia de imunização possibilitou a criação de vacina capaz de proteger contra várias linhagens do vírus da gripe. A técnica consiste em combater uma estrutura que é similar em todas as cepas do influenza e que permanece a mesma apesar das constantes mutações adquiridas pelo micro-organismo. O método foi testado por dois grupos de cientistas, que conseguiram imunizar animais contra diferentes cepas do influenza. Atualmente, não há intervenções licenciadas que fornecem esse tipo de proteção. Os resultados, divulgados nesta semana na revista Science e na Nature Medicine, podem ser o primeiro passo para o desenvolvimento de um composto protetor universal e o fim das campanhas de imunização pontuais.
Um dos grandes desafios no combate à gripe é a grande variedade de cepas do patógeno causador dela. As versões atacam em épocas diferentes do ano e, eventualmente, sofrem mutações, dando origem a novas linhagens. Isso obriga os profissionais de saúde e os cientistas a manterem constante vigilância, desenvolvendo e designando novos tipos de vacinas de acordo com o tipo de doença em voga.
Felizmente, as diferentes linhagens do vírus compartilham um ponto fraco em comum: a haste que serve como suporte para a hemaglutinina, estrutura usada pelo patógeno para invadir a célula hospedeira. A glicoproteína é a parte que realmente entra em contato com a célula durante a infecção. Normalmente, é ela que o organismo aprende a combater quando atacado pelo micro-organismo da gripe. Como cada cepa do vírus usa um tipo de hemaglutinina, o sistema de defesa acaba sendo surpreendido sempre que é acionado por uma nova linhagem. Mas, ao aprender a atacar a base dessa estrutura, a célula pode adquirir uma estratégia de defesa que sirva contra todas as armas que compõem o arsenal do influenza.
Os pesquisadores do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas da agência governamental de saúde norte-americana, a NIH, recriaram a haste da hemaglutinina da gripe A, como é conhecido o vírus H1N1, e usaram a estrutura para desenvolver uma vacina. A substância foi usada para inocular ratos e ferrets, que, depois, receberam uma dose mortal do vírus H5N1, o da gripe aviária. Todos os roedores vacinados sobreviveram ao influenza, enquanto todos os bichos que não receberam a imunização morreram depois de serem infectados.
O resultado, no entanto, foi um pouco menos animador com os ferrets, considerados o melhor modelo animal para prever a resposta humana a infecções. Apenas quatro de seis bichos sobreviveram ao H5N1 depois de serem vacinados. Os pesquisadores explicam que os anticorpos produzidos a partir da inoculação não foram capazes de neutralizar completamente a gripe aviária, mas que a defesa era forte o suficiente para combater diferentes formas da doença.
Para comprovar a eficácia da proteção conferida pela vacina, os cientistas injetaram somente os anticorpos produzidos pelo organismo de ratos imunizados em outros roedores que não receberam a vacina e infectaram os bichos. A maioria dos animais sobreviveu à dose letal do vírus, confirmando que a defesa adquirida a partir da inoculação tem uma eficiência notável contra o influenza.
Aperfeiçoamento
Os cientistas ainda não sabem afirmar se a vacina produzida a partir da haste da hemaglutinina também pode combater outras linhagens do vírus. Afirmam que é necessário aperfeiçoar o método e realizar novos experimentos em animais antes de se considerar estudos clínicos em humanos. No entanto, como a sazonalidade das linhagens do vírus é imprevisível, ainda não se pode determinar quanto tempo levaria até que a iniciativa resultasse em uma vacina real.
“A avaliação da eficácia será difícil para esse tipo de vacina. Seria necessário um grande teste de campo comparado com as vacinas convencionais porque elas não induzem o anticorpo inibidor de hemaglutinina, que é o único biomarcador aceito como um representante da eficácia da vacina contra o influenza”, explica Gary Nabel, um dos autores do estudo e pesquisador do NIH. Também colaboraram com o trabalho cientistas da Universidade de Osaka, do Instituto Ragon, e das companhias MedImmune e Sanofi.
Combinação perigosa
A gripe A é o resultado da combinação de segmentos genéticos do vírus humano da gripe, do da gripe aviária e do da gripe suína. A cepa causou grande preocupação em 2009, quando uma pandemia se espalhou por todo o mundo. Estima-se que mais de 5 mil pessoas tenham contraído o vírus H1N1 somente no Brasil, onde o número de mortes causadas pela doença passou de 500 em apenas quatro meses.
What's News: A Allergan
25/08/2015 - Valor Econômico
A Allergan anunciou ontem um recall de alguns lotes de medicamentos oftalmológicos nos EUA, inclusive das marcas Refresh e Lacri-Lube. A farmacêutica irlandesa afirmou ter recebido um pequeno número de reclamações de usuários sobre uma pequena partícula preta que pode cair nos produtos quando a tampa da embalagem de alumínio é desenroscada.
Filantrópicos buscam capital estrangeiro
25/08/2015 - Valor Econômico
Os hospitais filantrópicos também querem aproveitar o momento para atrair capital estrangeiro e têm procurado os escritórios de advocacia para se tornarem sociedades com fins lucrativos - por meio de um processo de desmutualização.
São negociações superfechadas, segundo um advogado que acompanha uma delas. "A movimentação é grande porque com a abertura para o capital estrangeiro [autorizada pela Lei nº 13.097] vai ficar muito difícil um filantrópico concorrer com um particular, que estará muito mais ágil e com facilidade de captação de investimentos", afirma o advogado.
A advogada Maria Fernanda de Almeida Prado, do Mattos Filho Advogados, confirma que há interesse de investidores por hospitais filantrópicos. "Tem se discutido bastante o efeito e a forma dessa migração. Há muitos ativos e bons ativos. Sabemos que existe interesse das partes em viabilizar negócios", diz.
A rede privada de saúde é vista como um mercado muito promissor. Estima-se que cerca de 80 milhões de brasileiros utilizem hospitais particulares. Lior Pinsky, do Veirano Advogados, destaca que a população está envelhecendo e o Brasil tem a maior cobertura de plano de saúde do mundo, o que desperta o interesse.
Presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin, lembra que os representantes das instituições tentavam a abertura para investimentos estrangeiros há 15 anos. Ele diz que a maioria vem se preparando e investindo, ao longo dos anos, na qualificação dos serviços.
O advogado Thiago Sandim, do Demarest Advogados, diz que a procura dos investidores, por enquanto, é maior por hospitais em grandes centros. "Eles buscam escala", diz. Sandim aposta que os grandes hospitais estarão posicionados até o fim de 2017.
Ele chama a atenção ainda para um outro movimento do mercado: da centralização em hospitais regionais. "Ficará mais difícil para os pequenos, municipais, competirem."
Mercado Aberto: Farmácia Alemã
26/08/2015 - Folha de S.Paulo
Colunista: Maria Cristina Frias
A cooperação entre Brasil e Alemanha no setor de fármacos só deve beneficiar a Bayer quando novos remédios para tratamento de câncer ficarem prontos, diz o presidente da empresa no Brasil, Theo van der Loo.
Um acordo firmado na quinta-feira (20) em Brasília, durante visita da comitiva de Angela Merkel, pode facilitar o acesso de empresas de capital alemão ao sistema público de saúde.
Mas os alemães precisarão repassar tecnologia a laboratórios brasileiros. Como os medicamentos já terão sido submetidos a testes na Alemanha, a produção no Brasil não precisará dessa etapa, que tem custo elevado, segundo o executivo.
"O mercado do SUS é importante, mas hoje não dependemos tanto dele. Nossos produtos em desenvolvimento precisarão mais [de compras governamentais] porque eles tratam doenças bastante específicas."
Outra alemã, a Merck, espera que o acordo dê oportunidade para fechar contratos para venda de remédios biológicos específicos, como o de câncer retal, diz Guilherme Maradei, presidente da empresa no Brasil.
€ 42,2 bilhões
foi o faturamento global da Bayer em 2014 (R$ 167 bilhões)
€ 11,1 bilhões
foi quanto a Merck faturou no ano passado (R$ 44 bilhões)
Traumas afetam genes até de filhos das vítimas
26/08/2015 - Folha de S.Paulo
Mudanças genéticas derivadas de traumas sofridos por sobreviventes do Holocausto podem ser transmitidas aos filhos destes, no mais claro sinal até o momento de que as experiências de vida de uma pessoa podem afetar as gerações subsequentes.
A conclusão de uma equipe de pesquisa liderada por Rachel Yehuda no hospital Mount Sinai, de Nova York, deriva de um estudo genético com 32 homens e mulheres que foram prisioneiros de campos de concentração nazistas, testemunharam ou sofreram torturas, ou tiveram de se esconder durante a Segunda Guerra Mundial.
Os pesquisadores também analisaram os genes dos filhos dos participantes, que sabidamente são mais propensos a distúrbios de estresse, e compararam os resultados aos de famílias judias que viviam fora da Europa durante a guerra. "As mudanças nos genes dos filhos só podem ser atribuídas à exposição de seus pais ao Holocausto", afirmou Yehuda.
O trabalho de sua equipe é o exemplo mais claro, em seres humanos, da transmissão de traumas a um filho por meio da chamada "herança epigenética" –a ideia de que influências ambientais como o fumo, hábitos alimentares e estresse são capazes de afetar genes de seus filhos e possivelmente até de seus netos.
A ideia é controversa, já que as convenções científicas dispõem que genes contidos no DNA são a única maneira de transmitir informação biológica de geração a geração. No entanto, nossos genes são modificados pelo ambiente o tempo todo, por meio de marcadores químicos que se afixam ao nosso DNA, ativando e desativando genes.
Recentes estudos sugerem que alguns desses marcadores poderiam, de alguma forma, ser transmitidos de geração a geração, o que significa que o nosso ambiente pode ter impacto sobre a saúde de nossos filhos.
Outros estudos propuseram uma conexão menos explícita entre as experiências de uma geração e as da seguinte. Por exemplo, as meninas filhas de mulheres holandesas que passaram pela severa fome que assolou o país no final da Segunda Guerra Mundial apresentavam risco mais elevado de desenvolver esquizofrenia.
Da mesma forma, outro estudo demonstrou que homens que haviam começado a fumar antes da puberdade tinham filhos mais pesados do que homens que começaram a fumar depois da puberdade.
A equipe estava especificamente interessada em uma região de um gene associado à regulação dos hormônios de estresse, sabidamente afetado por traumas. "Se existe um efeito de trauma transmitido, ele teria de envolver um gene relacionado ao estresse, que dá forma à maneira pela qual lidamos com o nosso ambiente", disse Yehuda.
Eles encontraram marcadores epigenéticos na mesma parte desse gene tanto nos sobreviventes do Holocausto quanto em seus filhos. A mesma correlação não foi identificada nos membros do grupo de controle e seus filhos.
Por meio de uma análise genética posterior, a equipe descartou a possibilidade de que as mudanças epigenéticas resultassem de traumas sofridos pelos filhos.
"Até onde sabemos, isso oferece a primeira demonstração, em seres humanos, da transmissão de efeitos de estresse anteriores à concepção que resultam em mudanças epigenéticas tanto nos pais expostos quanto em seus descendentes", disse Yehuda.
Fenômeno ainda é difícil de explicar
26/08/2015 - Folha de S.Paulo
O que não está claro para o pesquisadores, ainda, é como marcadores que servem para ativar ou desativar genes podem ter sido transmitidos de pais para filhos.
Informações genéticas nos óvulos e espermatozoides não deveriam ser afetadas pelo ambiente ""quaisquer marcadores epigenéticos no DNA deveriam ser eliminados logo depois da fertilização.
No entanto, pesquisas de Azim Surani, da Universidade de Cambridge, e colegas recentemente demonstraram que alguns marcadores epigenéticos escapam a esse processo de limpeza na fertilização e persistem.
O fato de o gene em questão estar ou não ativo poderia ter impacto tremendo sobre a quantidade de hormônio de estresse produzido, e sobre como lidamos com o estresse, disse Rachel Yehuda, líder da pesquisa.
Não está claro, porém, se as mudanças que o estudo encontrou no gene observado afetariam a saúde de um filho permanentemente. E, é bom ressaltar, os resultados não alteram substancialmente qualquer de nossas teorias de evolução.
O impacto da sobrevivência ao Holocausto sobre a próxima geração vem sendo estudado há anos. O desafio era mostrar que os efeitos intergeracionais não são transmitidos apenas pelas influências sociais dos pais ou pela herança genética regular, disse Marcus Pembrey, professor emérito de genética pediátrica no University College London.
"O estudo de Yehuda propicia progresso útil. O que estamos conseguindo aqui é o início de uma compreensão sobre como uma geração responde às experiências da geração precedente", disse.
Pesquisadores já demonstraram que certos medos podem ser herdados ao longo de gerações, pelo menos em animais.
Cientistas da Universidade Emory, em Atlanta, treinaram ratos de laboratório machos a temer o cheiro de flores de cerejeira, ao associar esse aroma a um pequeno choque elétrico. Ao final da experiência, os ratos tremiam quando sentiam o cheiro mesmo que este não viesse acompanhado do choque elétrico.
A despeito de jamais terem sentido o cheiro de flores de cerejeira, os descendentes dos ratos de laboratório usados no teste tinham a mesma resposta de medo diante desse aroma ""tremiam ao encontrá-lo. E alguns dos descendentes dessa segunda geração de ratos de laboratório apresentavam a mesma reação.
Por outro lado, descendentes de ratos condicionados a temer outro cheiro, ou de ratos que não haviam passado por condicionamento, não temiam o cheiro das flores de cerejeira.
Unimed investirá R$ 49 milhões em home care
26/08/2015 - DCI
A Central Nacional Unimed (CNU) deve investir R$ 49 milhões no segmento de home care em 2015. O objetivo é reduzir os gastos com internações – que mais crescem dentro de custos assistenciais.Em 2014, o investimento na área foi de R$ 48 milhões.
Atualmente são 753 pacientes acompanhados e a meta é atingir sete mil até junho de 2016. “Investir em home care é uma tendência mundial. Além de ser bom para o paciente, por colocá-lo na assistência familiar, também reduz a reinternação”, diz o vice-presidente da CNU, Humberto Isaac.
Segundo ele, a taxa de retorno de internação na CNU [com o uso do programa] varia entre 5% e 6%, enquanto o mercado tem uma média de 12,5%. “O home care reduz o risco de infecção e agrega a relação afetiva que são aspectos psicológicos importantes na cura.” O custo mensal por paciente, segundo o executivo, é de R$ 7 mil e inclui enfermeira, máquinas, medicamentos e os insumos necessários para o tratamento do paciente. “Que remos aumentar o alcance do programa, mas antes precisamos aumentar a equipe e a infraestrutura, porque exige pessoal qualificado. Só este ano fizemos 21 mil visitas presenciais”, analisa o executivo.
Rede D'Or investe mais R$ 500 milhões
26/08/2015 - Valor Econômico
Mesmo num cenário de economia debilitada, a Rede D'Or, maior rede de hospitais do país, com as bandeiras São Luiz e D'Or, planeja investir no mínimo R$ 500 milhões nos seus projetos de expansão em 2016. Trata-se do mesmo montante destinado pelo grupo neste ano.
Segundo Heráclito Gomes, presidente da Rede D'Or, a companhia vem de um processo agressivo de crescimento, principalmente por meio de aquisições, e não é possível desacelerar os investimentos de uma só vez, ainda que ocorresse uma forte desaceleração no segmento de saúde.
Nos últimos seis meses, foram fechadas quatro aquisições e atualmente o grupo tem cerca de 30 hospitais, distribuídos nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Recife. "Já carregamos para 2016 esse crescimento. Estamos também construindo novos hospitais e ampliando os já existentes", disse o executivo, ressaltando que em duas semanas inicia as análises do orçamento de 2016.
A estimativa de Heráclito é que o faturamento neste ano da Rede D'Or cresça 30% e atinja R$ 6,5 bilhões. "No primeiro semestre, a movimentação no nosso setor foi normal. Mas em julho e agosto, houve uma redução da demanda", disse. Ele não acredita, no entanto, que a retração nos dois meses vá comprometer a expansão do ano.
O executivo afirmou que o resultado deste ano também é efeito de um forte programa de austeridade realizado dentro da companhia e que garantiu redução de custos importantes. "Os hospitais que adquirimos estão com desempenho ainda melhor do que quando compramos", afirmou.
A Rede D'Or tende a continuar investindo também em aquisições, principalmente, porque neste ano ganhou dois sócios bem capitalizados, o fundo soberano de Cingapura (GIC) e o Carlyle, que juntos injetaram R$ 5 bilhões no grupo hospitalar. O controle continua na mãos da família Moll, que fundou o negócio e detém 60% do capital. O outro sócio é o BTG Pactual que, atualmente, possui uma participação de 15% no negócio. Mas, segundo fontes do setor, o BTG negocia com o Carlyle a venda dessa fatia.
Sobre o efeito da crise econômica no ramo de saúde, Heráclito observa que os efeitos costumam demorar mais para chegar nesse setor. Antes de demitir, as empresas tendem a dar férias coletivas e, quando demitem, costumam prolongar a cobertura dos planos de saúde dos dispensados. "Se até 2016, o cenário econômico e político melhorar, a crise pode nem chegar no nosso setor", disse. Por isso, ele não considera altamente provável que haja demissões no grupo. "Nossos maiores custos são os insumos e os medicamentos. E nessa frente, estamos conseguindo comprar bem, pois temos uma grande escala", afirmou.
Apesar do setor de saúde ser mais resiliente, o presidente da Rede D'Or Mas afirma que existe uma preocupação com o cenário econômico no país. "Se as taxas de desemprego aumentarem, certamente, menos vidas serão cobertas pela área de saúde. A queda será uma consequência natural". Neste primeiro semestre, o mercado de planos de saúde registrou uma redução de 193 mil usuários devido ao aumento na taxa de desemprego. É a primeira queda em número de usuários em dez anos no setor.
Questionado sobre que medidas de curto prazo o governo poderia tomar para estimular a volta dos investimentos, o executivo diz ver com muitos bons olhos a redução dos gastos públicos, a exemplo da extinção de ministérios anunciada na segunda-feira pelo governo federal. "Esse é o caminho. Reduzir custos na máquina pública. Não vejo como positiva nenhum aumento de carga tributária", afirmou.
Pesquisadores descobrem como ‘desligar’ células cancerígenas
25/08/2015 - O Globo
Os tratamentos contra o câncer envolvem debilitantes cirurgias e sessões de rádio e quimioterapia, mas uma descoberta anunciada ontem pode abrir caminho para novas terapias capazes de reprogramar as células cancerígenas, revertendo-as em saudáveis. De acordo com Panos Anastasiadis, diretor de Biologia do Câncer no campus Flórida da Clínica Mayo e coautor do estudo, o achado representa “uma nova biologia que fornece o código, o software para desligar o câncer”.
A pesquisa foi publicada na revista acadêmica “Nature Cell Biology”. O “software” foi revelado pela descoberta que proteínas de adesão, uma espécie de cola que mantém as células unidas, interagem com o microprocessador, no caso o microRNA (miRNA), que desempenha papel fundamental na produção de moléculas.
Os pesquisadores descobriram que, quando células normais entram em contato, o miRNA suprime os genes que promovem o crescimento celular. Entretanto, quando a adesão acontece entre células cancerígenas, o miRNA fica desregulado e a multiplicação das células, fora de controle. Em experimentos em laboratório, o restabelecimento do nível normal do miRNA em células cancerígenas foi capaz de reverter a sua multiplicação.
— O estudo revela uma nova estratégia para terapias contra o câncer — afirmou Antonis Kourtidis, líder do estudo.
O problema surgiu por causa de estudos conflitantes sobre a e-caderina e a p120-catenina, proteínas de adesão essenciais para a formação de tecidos epiteliais normais, e que há muito eram consideradas supressoras de tumores. Entretanto, diz Anastasiadis, a hipótese parecia falsa, pois pesquisas recentes mostraram que ambas as proteínas estão presentes em células cancerígenas:
— Isso nos levou a crer que essas moléculas têm duas faces. A boa, que mantém o comportamento normal das células, e a má, que leva ao surgimentos dos tumores.
Essa teoria se mostrou verdadeira, mas faltava descobrir o que regulava esses comportamentos. A peça que faltava era outra proteína, chamada PLEKHA7, que se associa de forma superficial às outras duas e mantém o estado normal das células, formando um complexo com o miRNA, a ecaderina e a p120-catenina.
— Quando esse complexo é interrompido pela perda da PLEKHA7, o miRNA fica desregulado, e a e-caderina e a p120catenina mudam de lado para se tornarem oncogênicas — explicou Anastasiadis. — Nós acreditamos que a perda do complexo PLEKHA7-miRNA é um evento precoce e, de alguma forma, universal no câncer. Na vasta maioria das amostras de tumores humanos que examinamos, essa estrutura está ausente.
CÉLULA RESISTE A TRATAMENTOS
De acordo com Anastasiadis, experimentos iniciais de restabelecimento dos níveis normais da PLEKHA7 “se mostraram promissores em alguns tipos agressivos de câncer”:
—Éo equivalente a ter um carro em alta velocidade sem freio. Ao restabelecer os miRNAs aos níveis normais, nós consertamos os freios, e a função celular voltou ao normal.
Entretanto, ainda é cedo para se pensar em uma nova terapia. Para o oncologista Celso Rotstein, consultor médico da Fundação do Câncer, a descoberta “aprofunda o conhecimento sobre os mecanismos que fazem a célula cancerígena se reproduzir sem controle”. — Mas para transformar esse achado em um medicamento, o passo pode ser muito distante — avalia. — Não é algo que possa ser considerado todas as vezes que você aprende mais sobre o mecanismo.
De acordo com o Rotstein, a ciência está passando por um período de rápido aprofundamento do conhecimento sobre o fenômeno oncogênico, sobre o surgimento dos tumores, e novas formas de combate à doença estão surgindo, como as imunoterapias e os medicamentos alvo moleculares.
— O problema é que a célula neoplásica é extremamente instável. Isso significa que ela vai se tornando resistente aos tratamentos — diz ele.
Jovens criam fábrica de óculos de grau e doam as peças para pacientes do SUS
25/08/2015 - Folha de S.Paulo Online
Criado em um orfanato de São Paulo e adotado por uma família de Brasília, o paulistano Alex Sandro dos Santos, 34, fugiu aos 11 anos de volta para a capital paulista em busca dos parentes biológicos. Após duas passagens pela antiga Febem (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor, atual Fundação Casa), foi preso aos 18 anos por assalto à mão armada. Sua pena: uma década em que passou por seis cadeias diferentes.
"A única coisa que eu queria era mudar minha vida", conta Santos, sobre quando retornou à liberdade, em abril de 2014. Conheceu a Renovatio, uma Oscip (organização da sociedade civil de interesse público), e se integrou ao projeto Ver Bem, onde recebeu oportunidade de trabalho e de desenvolvimento educacional e cultural. Foi aí que sua vida começou a mudar.
A organização –formada por 35 voluntários, alunos de economia e administração do Insper (Instituto de Pesquisa e Ensino)– há pouco mais de um ano produz óculos de grau feitos com uma tecnologia de baixo custo. As peças são doadas para pacientes com receitas do SUS.
Para a produção, a Renovatio contrata pessoas em situação de vulnerabilidade social, como ex-presidiários, refugiados e moradores de comunidades. Eles também desenvolvem atividades educacionais, culturais e plano de carreira para os beneficiados.
"Isso [o projeto] é meu alicerce, que me dá oportunidade de me reerguer e mostrar que sou capaz e que posso ajudar alguém", afirma Santos, que produz 30 óculos por semana, atende os pacientes que chegam ao Instituto da Visão, recebe R$ 800 por mês e se prepara para realizar o sonho de cursar gastronomia.
Para fazer parte do projeto Ver Bem e ser beneficiado com a bolsa que varia de R$ 800 a R$ 1.400, é preciso obrigatoriamente estudar e fazer as atividades culturais propostas pelos membros da Renovatio, desenvolvidas por um professor de história. Cerca de 50% do valor da bolsa depende do desempenho nos estudos, atividades culturais e da meta de produção de óculos de cada um.
"O principal objetivo é que essas pessoas estudem, trabalhem as habilidades linguísticas, o pensamento crítico e a erudição para que, assim, consigam escolher um caminho para seguir na vida", explica Fábio Rodas Blanco, 22, presidente e cofundador da Renovatio. No elo educacional, os beneficiados que não são plenamente alfabetizados passam por curso de letramento para depois seguirem os demais estudos. Eles devem se preparar para o vestibular ou carreira técnica. Testes vocacionais e entrevistas também são realizados para indicação de cursos específicos para a carreira almejada.
Idas a museus e cine debates, por exemplo, estão incluídas na parte cultural. Além disso, cada beneficiado tem a meta de produzir sete óculos por dia.
"Não queremos que a pessoa entre no projeto para ficar produzindo óculos para sempre, a permanência dela é de no máximo três anos. Queremos desenvolvê-la para que empreenda, consiga um emprego que pague mais que o projeto e que saia mais autônoma de que quando entrou", diz Blanco. Conforme um beneficiado deixa o projeto, abre vaga para o outro.
TECNOLOGIA ALEMÃ
Desde fevereiro de 2014, a Renovatio é o braço no Brasil da ONG alemã One Dollar Glasses, criadora da técnica. Com a tecnologia, é possível fabricar óculos feitos de aço, plástico hipoalérgico e lentes de policarbonato por U$ 1 (cerca de R$ 3,60). No entanto, incluindo as taxas de impostos para importar o material e os custos com o beneficiado, cada um sai por R$ 25 para os brasileiros.
Pessoas com diagnóstico de miopia, hipermetropia, presbiopia podem receber os óculos.
Para a distribuição em São Paulo, a Renovatio mantém uma parceria com a Escola Paulista de Medicina, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com o Instituto da Visão e agora também com a Faculdade de Medicina do ABC, que divulgam o trabalho e indicam o posto de distribuição e fabricação, que fica no Instituto da Visão, os pacientes.
A parceira com os órgãos públicos acontece por meio do oftalmologista, presidente do Instituto da Visão e professor da Unifesp, Rubens Belfort, que atestou a qualidade do material. "Isso [distribuição gratuita de óculos] já acontece em muitos países do mundo. Não adianta o SUS disponibilizar a receita dos óculos e não os entregar à população. Os pacientes não têm dinheiro para comprar óculos que custam R$ 500", diz.
Para levantar o capital inicial, os alunos realizaram um crowdfunding (financiamento coletivo on-line) por quatro meses e conseguiram levantar R$ 45 mil. A proposta era que, a cada R$ 25 doados, um par de óculos seria entregue a quem não pudesse comprar. Em pouco mais um ano, mais de 1.400 óculos foram doados para pessoas de São Paulo, de comunidades ribeirinhas do Pará e de regiões pobres da Bahia.
RECOMEÇO
A diarista Maura Lima, da cidade de Cansanção, no interior da Bahia, está há um mês aprendendo o novo ofício para se tornar uma das beneficiadas na comunidade Vila Nova Esperança, extremo sul paulistano. Lá, a pedido dos moradores, funciona a segunda fábrica da Renovatio e é onde Maura vive há seis anos com seu esposo e filho de seis anos.
Ela faz diárias por R$ 120, incluindo o transporte, em casas de regiões nobres de São Paulo, mas, agora, pretende mudar de profissão. "Quero ficar aqui porque o serviço de doméstica é muito pesado. Depois, quero fazer um curso na área da beleza", conta.
Para o futuro, os universitários pretendem expandir e tornar os negócios autossustentáveis. Em parceiras com algumas ONGs de todo o país, os óculos passarão a ser comercializados em uma plataforma on-line a preço de custo, R$ 25. O valor será revertido parte para o projeto e parte para a organização que ceder espaço e um computador com acesso à internet para o consumidor.
O atendimento e acompanhamento educacional será terceirizado para que mais pessoas possam ser beneficiadas.
Estudos apontam caminho para vacina universal contra a gripe
25/08/2015 - O Estado de S.Paulo
Há anos a ciência busca uma vacina universal contra o vírus influenza, capaz de proteger contra uma ampla variedade de gripe, mas todos os esforços foram frustrados pela grande capacidade de mutação do vírus.
Agora, dois grupos de cientistas descobriram uma estratégia que torna os anticorpos mais eficazes para múltiplos subtipos do vírus. Segundo os autores, o novo método pode ser o caminho para o imunizante universal,que dispensaria a vacinação anual contra a doença.
Segundo os cientistas,a estratégia deu proteção total a camundongos contra os vírus H5N1, da gripe aviária, e H1N1, da gripe suína, os mais agressivos e, assim, devem funcionar contra os demais. As duas pesquisas – que chegam ao mesmo resultado – foram publicadas ontem, simultaneamente, nas revistas Science e Nature.
“Estamos nos movendo na direção certa para uma vacina universal contra a gripe”, disse Ian Wilson, do Instituto de Pesquisas Scripps, nos EUA, um dos autores da pesquisa da Science.
As vacinas atuais têm como alvo a molécula hemaglutinina (HA), proteína que tem como principal função ligar o vírus ao receptor da célula hospedeira – e está presente em todos os subtipos de influenza. O problema é que a “cabeça” dessa molécula se modifica rapidamente e, por isso, as vacinas precisam ser reformuladas continuamente.
Nos dois estudos, os cientistas tentaram outra estratégia: criar vacinas que atuem no “tronco” da molécula HA, e não na “cabeça”. Eles descobriram que,embora a“cabeça”da molécula se modifique muito, o “tronco” sofre poucas mutações e se mantém nas diversas cepas de vírus.Eles isolaram essa parte da molécula e desenharam uma vacina que força o corpo a produzir anticorpos específicos.
“Se o corpo humano puder produzir uma resposta imune contra o caule da molécula HA, fica difícil para o vírus escapar”, disse Wilson.
Eficácia. No experimento da Science, liderado por Antonietta Impagliazzo, do Instituto Crucell de Vacinas,na Holanda, o imunizante experimental deu a camundongos proteção total contra os vírus H5N1 e H1N1.
Ela foi menos eficaz em macacos,mas os animais tiveram sintomas menos severos de gripe.
A vacina doe Saúde dos Estados Unidos, também deu proteção completa a camundo grupo que publicou na Nature,liderado por Barney Graham, do Instituto Nacional dngos e parcial a furões.Os animais receberam doses do H5N1 que foram fatais para não vacinados. O próximo passo é descobrir se a estratégia é eficaz para o desenvolvimento de uma vacina para humanos. “Há muito a ser feito, mas o objetivo final, com certeza, é criar uma vacina que dure a vida”, disse Wilson
A cada 3 segundos, uma pessoa é diagnosticada com demência
26/08/2015 - O Globo
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Imagine o seguinte cenário: alguém lhe oferece um copo de suco de laranja e, de repente, você não tem mais ideia do que a expressão “suco de laranja” significa. A cada três segundos, uma pessoa no mundo começa a apresentar sintomas como este, estreitamente relacionados à demência. Hoje, são 46,8 milhões de pessoas vivendo com o problema, das quais 1,2 milhão estão no Brasil. E a estimativa para os próximos anos é alarmante: em 2030, devem ser 74,7 milhões de pessoas com demência no mundo, e, em 2050, esse número passará para 131,5 milhões. Os dados são do Relatório Mundial de Alzheimer, publicado ontem pela federação Alzheimer’s Disease International.
A projeção para os próximos anos é feita a partir da rápida mudança ocorrida nos últimos tempos. De 2009 para cá, quase 12 milhões de novos casos surgiram. No Brasil, são cem mil a cada ano, dizem pesquisadores.
— Geralmente, os sintomas aparecem depois dos 60 anos, mas o processo de demência começa cerca de três décadas antes. Como temos um número excessivo de neurônios, não sentimos. Só quando se chega ao limite é que se percebe — diz Wagner Gattaz, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
Demência é um termo geral para doenças que afetam o cérebro e as funções cognitivas. O mal de Alzheimer, que não tem cura, é a causa de 60% desses quadros. Em segundo lugar, vêm as doenças vasculares, provocadas por obesidade, diabetes e hipertensão, por exemplo.
— Para tentar evitar o problema, é preciso se alimentar bem, praticar exercícios, manter o peso ideal, controlar o estresse, beber com moderação e não fumar — elenca o geriatra Rubens de Fraga Jr., conselheiro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia ( SBGG). — E, quanto maior o grau de escolaridade, menor a chance de desenvolver qualquer tipo de demência. O melhor exercício nem é fazer palavras cruzadas, mas ler, porque estimula muito mais o raciocínio e a fantasia.
A IMPORTÂNCIA DO SOL
O levantamento internacional destaca que 58% das pessoas com quadros de demência vivem em países em desenvolvimento ou pobres. A estimativa indica que, em 2050, esse índice chegará a 68%. A explicação vai ao encontro do que sugere Fraga Jr.: nações com baixo índice de educação, menos acesso à saúde e menos infraestrutura têm populações mais expostas às doenças que desencadeiam demência.
— Pessoas que mantêm estabilidade emocional ao lidar com as dificuldades da vida e que exercitam continuamente a área do cérebro destinada à resolução de problemas têm menos chance de desenvolver demência — diz o neurologista Cícero Galli Coimbra, professor da Unifesp.
Ele também explica que o hormônio conhecido como vitamina D, sintetizado pela pele a partir da exposição ao Sol, ajuda a manter a vitalidade dos neurônios. Quem quase não toma sol, portanto, tem mais chance de ter demência.
O relatório estima que o custo global do problema pode saltar para US$ 1 trilhão já em 2018 e, por isso, pede que os governos criem políticas públicas para tornar o diagnóstico e os possíveis tratamentos mais eficientes e baratos.
Pagamento no SUS por especialidade vai mudar
26/08/2015 - O Estado de S.Paulo
O ministro da Saúde, Arhur Chioro, afirmou que o Mais Especialidades trará uma reviravolta na lógica de pagamento do Sistema Único de Saúde (SUS). “É uma mudança que se arma há vários anos, outros países já fizeram e precisamos fazer”, disse. A expectativa é de que o programa, uma promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff, seja lançado este ano com duas áreas: oftalmologia e ortopedia. A lógica de pagamento será feita por atendimento global.
Em cada pacote seria incluído, por exemplo, os valores para todos procedimentos envolvidos, desde consulta e cirurgia até tratamento de reabilitação. “E a remuneração maior será feita quando todo atendimento for feito no mesmo local, para que o paciente não tenha de ficar como doido de um serviço para outro”, disse Chioro.
Nesse sistema, o pagamento por procedimento, há tempos criticado pelo ministro, deverá cair em desuso. “Estamos em um processo de desconstrução da tabela”, disse. A tabela é a forma como parte de prestadores de serviços recebe do SUS. Ela é feita de acordo com número de cirurgias, consultas ou exames de diagnósticos realizados.
“Esse é um sistema injusto. Um hospital, por exemplo, tem uma estrutura que precisa ser mantida. Tenha ele feito 20 ou 100 cirurgias.” Nos últimos anos, porém, além de ganhar, por exemplo, por atendimento médico e por cirurgia, instituições credenciadas receberam por meio de incentivos, definidos por meio da contratos.
Embora o pagamento para prestadores do SUS seja feito de forma mista, o governo vem sendo duramente criticado pelos valores atualmente concedidos para a tabela de procedimentos. “Essa é uma reivindicação feita principalmente pela oposição”, disse. Ele avalia, porém, que o discurso usado é obsoleto e está longe de corresponder à realidade. “O pagamento não é feito somente pela tabela. E garanto que ninguém gostaria que o sistema de gratificações, hoje existente, fosse substituído novamente pelo sistema antigo.” O ministro, que participou no Congresso de uma audiência para prestar contas sobre os primeiros meses de gestão, afirmou que vem conversando com representantes de Colégio Brasileiro de Oftalmologia e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia para acertar detalhes do Mais Especialidades. O objetivo maior é quebrar resistências.
Sucesso. Chioro informou que, em outra etapa, quando o Mais Especialidades for estendido para doenças crônicas, entrará no cálculo do pacote concedido para prestadores de serviço o pagamento de taxas de sucesso. “Quanto mais o paciente aderir ao tratamento, quanto menor for o grau de agravamento de seu quadro, mais os serviços ganharão”, informou.
O modelo é inspirado no sistema inglês. Nessa lógica, serviços receberiam um bônus, por exemplo, no caso de pacientes que deixam de fumar. “Ou seja, benefícios são concedidos em caso de sucesso.” A lógica se aplica, por exemplo, para aqueles doentes que apresentam problemas como disfunções endócrinas, sem cura, mas controle. “Esse terá sempre de ser acompanhado. Fazer exames com regularidade. Isso vai permitir uma melhora geral na qualidade de vida do paciente.”
Cursos de Medicina. Os critérios para a abertura de cursos de Medicina foram afrouxados pelo governo, afirma o Conselho Federal de Medicina (CFM). As mudanças estabelecidas em uma portaria em abril, na avaliação da entidade, tornam genéricas as exigências criadas em 2003 sobre o número de leitos e de equipes de saúde da família necessárias à abertura de novos cursos.
“Há casos em que o hospital de ensino está distante 400 quilômetros da escola”, diz o presidente do CFM, Carlos Vital. “Isso impede a boa formação.” As conclusões estão no estudo “Radiografia de Ensino Médico”. Ele mostra que, dos 42 municípios que receberam escolas desde 2013, 5 estão em regiões que não atendem aos critérios mínimos de leitos do Sistema Único de Saúde para cada aluno matriculado - equivalente a 11%.
Galderma inicia obras
26/08/2015 - Valor Econômico
A empresa farmacêutica Galderma, subsidiária da suíça Nestlé Skin Health, inicia na sexta-feira a construção de uma nova fábrica em Hortolândia, no interior de São Paulo. O investimento será de R$ 200 milhões. O início das operações é esperado para 2018. A capacidade de produção é estimada em 64 milhões de unidades por ano, um aumento de 640% em comparação ao volume atual. Entre os produtos a serem fabricados estão as linhas dermatológicas Cetaphil e Daylong e os medicamentos Loceryl e Mirvaso. A nova fábrica vai gerar 300 empregos diretos, nos cálculos da companhia.
Unimed Paulistana encolhe
26/08/2015 - Valor Econômico
A Rede D'Or, a maior rede de hospitais do país, o hospital Santa Paula e o grupo de medicina diagnóstica Dasa romperam contrato com a operadora de plano de saúde Unimed Paulistana por falta de pagamento.
Nota enviada ao Valor pela Unimed Paulistana confirmou o rompimento com a Rede D'Or. A operadora informou que o contrato com o Santa Paula está suspenso temporariamente. A Unimed não se pronunciou sobre a Dasa.
Segundo fontes do setor, a Unimed Paulistana tem uma inadimplência com os hospitais da Rede D'Or (da bandeira São Luiz e outros), de cerca de 60 dias.
A Dasa, dona dos laboratórios Delboni Auriemo, Lavoisier, entre outras marcas, deixou de atender os clientes da Unimed Paulistana no sábado. A Unimed Paulistana tem cerca de 744 mil usuários.
No ano passado, a Unimed Paulistana registrou um patrimônio líquido negativo de R$ 169,2 milhões. Em abril, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estendeu por mais 18 meses a intervenção (direção fiscal e técnica) na Unimed Paulistana.
Máfia das próteses
25/08/2015 - Folha de S.Paulo / Site
Para ampliar o alcance das inovações científicas é preciso mais transparência em todos os elos da cadeia de produção e uso de novas tecnologias, afirmou Aurimar José Pinto às jornalistas Cláudia Collucci e Iara Biderman na edição ao vivo da "TV Folha" dedicada ao especial "Tecnologia e Acesso à Saúde".
Diretor de Relações Institucionais da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde), Pinto sugere que representantes da indústria, do governo e dos setores de saúde pública e privada "sentem-se à mesa" juntos para diminuir os gargalos que aumentam o custo das novas tecnologias, tornando-as insustentáveis ao sistema de saúde –um problema que também afeta os países mais ricos.
Entre os gargalos específicos do Brasil, segundo o representante da Abimed, estão os entraves burocráticos e regulatórios.
A discussão com todos os setores envolvidos seria uma forma de resolver impasses que dificultam a entrada de novas tecnologias e evitar distorções como a que levaram ao esquema criminoso envolvendo médicos, fornecedores e indústria que ficou conhecido com "máfia das próteses", disse Pinto.
Para ele, a descoberta foi salutar para o setor porque "ajudou a separar o joio do trigo"
Novos cursos de medicina burlam regras, diz conselho
26/08/2015 - Folha de S.Paulo
Cerca de 60% dos municípios que abriram cursos de medicina desde 2013 têm menos leitos por aluno do que o recomendado, aponta levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina.
Dos 42 municípios que receberam essas escolas, segundo o estudo, 25 têm menos de cinco leitos por aluno de medicina matriculado –parâmetro exigido pelo MEC (Ministério da Educação).
Os dados são até junho deste ano. O estudo mapeou indicadores disponíveis nas bases de dados do Cnes (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), do Ministério da Saúde, além de informações de IBGE e MEC.
Para o presidente do CFM, Carlos Vital, a falta de infraestrutura das escolas para a prática dos alunos compromete o aprendizado.
Vital critica o que chama de sequência de flexibilizações das regras para a abertura de cursos de medicina.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que parte das críticas ocorre por "disputa política" e que muitas das faculdades antigas não conseguiriam cumprir os critérios estabelecidos para os novos cursos.
Detetives de rótulo
25/08/2015 - Folha de S.Paulo
Quantos morangos existem num potinho de iogurte de morango? Quais são os outros termos usados para indicar a adição de açúcar em um produto? A versão light é sempre mais saudável?
A onda de blogs e páginas em redes sociais que desvendam letras miúdas e ingredientes de nomes difíceis nas embalagens de alimentos, iniciada na Inglaterra e nos EUA, está também se espalhando no Brasil.
Os criadores do sites fazem um trabalho de detetive, muitas vezes consultando artigos científicos e regulamentações internacionais, além de encherem de perguntas os SACs (serviço de atendimento ao cliente) das fabricantes.
Criado em julho de 2013, o blog e canal no YouTube "Do campo à mesa" foi um dos pioneiros no país e já acumula mais de três milhões de visualizações. Em vídeos curtos, a jornalista Francine Lima "traduz" para o público leigo as muitas vezes complexas informações nutricionais das embalagens de alimentos.
"São coisas às vezes simples, mas que as pessoas não se dão conta. Eu sempre digo: leia a lista de ingredientes e saiba que ela está em ordem decrescente. Se começou com açúcar, vá procurar algo mais saudável", explica Francine, que grava os vídeos na cozinha de casa.
Entre os vídeos de maior sucesso estão a "investigação" sobre a quantidade de morango nos iogurtes e a diferença entre suco e néctar. Francine é mestre em nutrição e saúde pública pela USP, onde pesquisou rotulagem.
O site "Fechando o Zíper" vai ainda mais fundo. Comandado por duas nutricionistas e um cientista da computação, faz uma avaliação detalhada de rótulos e embalagens, a maioria enviada pelos leitores, mostrando que muitos dos alimentos que se apresentam como opções mais saudáveis não são, na verdade, tão positivos assim.
Além de esmiuçar ingredientes, o grupo atribui uma nota de zero a dez para os alimentos.
"Não condenamos nada. O objetivo é que o público leigo consiga identificar se aquilo está de acordo com alguma necessidade", diz Samantha Peixoto, criadora do site.
No exterior, a mais conhecida detetive de rótulos é a americana Vani Hari, mais conhecida como Food Babe. Com mais de 30 milhões de visitas em 2014, a morena foi eleita neste ano pela "Time"uma das 30 personalidades mais influentes da internet.
Com títulos chamativos como "o veneno que damos às nossas crianças", Hari conquistou fãs, que costumam se mobilizar em petições virtuais para a retirada de componentes por eles considerados ruins. Pelo menos cinco marcas dos EUA já se renderam à mobilização do blog.
No Brasil, a pressão é menor, mas sites e campanhas estão tentando reproduzir a experiência americana. A especialista em vigilância sanitária da Anvisa Simone Coulaud afirma que a agência acompanha essas manifestações, e que a sociedade tem um papel importante na discussão.
EMBASAMENTO
De acordo com Mário Roberto Maróstica Junior, diretor do departamento de alimentos e nutrição da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, a discussão sobre alimentos é bem-vinda, mas é preciso estar atento ao embasamento e à formação de quem produz esse conteúdo.
"A gente tem de tomar contato com o que lê. Generalizar as coisas é difícil. É mentira que produtos industrializados são sempre ruins. Esse tipo de generalização têm de ser visto com cuidado", diz.
Henrique Suplicy, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, destaca que as informações dos rótulos no Brasil melhoraram, mas ainda deixam a desejar. Apesar disso, ele acredita que há certo alarmismo em muitos sites.
A Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) informou que alerta seus membros para o cumprimento da legislação vigente e a importância de mater canais de contato com o consumidor. A entidade ressaltou a importância dos blogs, mas disse se preocupar com algumas informações veiculadas nos sites.
"É fundamental que o consumidor seja bastante crítico sobre a origem das informações compartilhadas nesses canais. Alguns deles, sem o devido embasamento acadêmico e científico, propagam mitos equivocados sobre o que seria uma dieta e uma alimentação saudável e equilibrada, gerando, assim, desinformação e preconceitos infundados sobre determinados alimentos."
Querer um SUS melhor não é sonho, é deixar de ser trouxa
25/08/2015 - Folha de S.Paulo / Site
É provável que você que lê agora este texto não seja um usuário habitual do SUS. Eu também não sou. Assim como mais de 50 milhões de brasileiros, tenho um plano de saúde.
Mas já utilizei o SUS várias vezes. Em dois acidentes de trânsito em que fui vítima, os socorristas do Samu me levaram a hospitais públicos de referência. O primeiro, o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, e o segundo, o Hospital Municipal São José, em Joinville (SP). Ainda bem. Sabia que nesses locais estavam os profissionais mais habilitados para atender traumas porque o fazem com muita frequência.
Nas duas ocasiões, fiquei um tempo em macas no corredor, aguardando atendimento. Em uma delas, sofri um corte profundo na cabeça e havia suspeita de traumatismo craniano (passou perto, houve uma fissura). Estava ensaguentada, a cabeça latejava, mas aguardei pacientemente a minha vez porque era evidente que havia ali gente em estado muito mais grave do que o meu. Acompanhei a tentativa de os médicos reanimarem um senhor de meia-idade. Um, dois, três, quatro, cinco choques com desfibrilador e nada. Ele morreu ali, do meu lado.
Na segunda vez, no hospital em Joinville, fiquei na maca encostada ao caminhoneiro que, após de dormir no volante, jogou meu carro contra o guard rail. Perda total do veículo e quase da minha vida. Fui socorrida desmaiada, mas, felizmente, depois do período protocolar de observação, saí sem sequelas.
Todas as vacinas que já tomei foram no sistema público de saúde. Meus pais têm plano de saúde, mas buscam parte das medicações de uso contínuo no Farmácia Popular. Tenho tios, primos e conhecidos usuários frequentes do SUS, que fizeram, inclusive, transplantes. Por essas e outras razões sou fã do sistema. Mas não fecho os olhos para os inúmeros problemas que ele tem. Como já escreveu o médico generalista espanhol Juan Gérvas, "no Brasil existe apenas a lei e o desejo de oferecer um sistema público, único e universal." Ele tem toda razão. Hoje, 56% do custo da saúde recai sobre as famílias brasileiras. O gasto público em saúde recuou para 44% do total. Na Inglaterra e Suécia, por exemplo, que têm sistemas de saúde públicos e universais, o percentual é quase o dobro –84% e 81%, respectivamente.
Não bastasse o subfinanciamento, tem muito dinheiro desperdiçado por má gestão, ineficiência e corrupção. A coisa está errada em todos os níveis. Do faz-de-conta da carga horária dos médicos nas unidades públicas de saúde às fraudes milionárias, como as que envolveram a máfia das órteses e próteses. O SUS necessita de mais dinheiro, não resta a menor dúvida, mas fechar o ralo do desperdício precisa, necessariamente, caminhar ao lado da discussão por mais verbas.
Ao mesmo tempo, estamos assistindo ao fortalecimento de setores privados de saúde. E a Agenda Brasil, apresentada no último dia 11 aos ministros da área econômica, deu provas evidentes disso, quando uma das propostas sugeria a possibilidade de cobrança diferenciada de procedimentos do SUS por faixa de renda. Isso só não foi pra frente porque houve uma grande reação dos setores organizados do SUS.
A grande questão, contudo, permanece: de onde sairá o dinheiro para colocar em prática o SUS que só existe no papel? Em recente evento da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), o ministro da Saúde, Artur Chioro, fez algumas provocações sobre isso. "Esse financiamento virá do imposto das grandes fortunas ou da taxação das heranças? Vamos mexer na chamada taxação do pecado (fumo, álcool, jogo de azar etc)? Vamos direcionar recursos Dpvat [Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), que hoje ficam nas mãos das seguradoras e não vão para o usuário?"
É hora de quem ainda acredita em valores coletivos de solidariedade e igualdade (princípios que norteiam o SUS) participar desse debate. Eu quero um SUS melhor, um SUS que me dê a segurança de um cuidado adequado, no tempo certo. Eu e você já pagamos impostos suficientes e temos que brigar por isso. Não acho que seja sonhar demais. É simplesmente deixar de trouxa.