37015
ESTABELECIMENTOS REGISTRADOS

83507
PROFISSIONAIS INSCRITOS ATIVOS

CLIPPING - 24/08/2015

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

Crise deve fortalecer mercado de genéricos

24/08/2015 - Folha Web


O desaquecimento econômico pelo qual passa o País não impedirá o mercado de medicamentos de crescer 5,6% em 2015, mas deve contribuir para a elevação da participação dos genéricos. Mais baratos do que os remédios inovadores, ou "de marca", o segmento tende a ser o que mais terá alta no ano devido à crise e ao aumento do número de lançamentos. A movimentação financeira total do setor deve subir dos R$ 125,070 bilhões do ano passado para R$ 132,150 bilhões em 2015, conforme expectativa de estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).

A fatia de mercado dos genéricos pulou de 17% para 25% nos últimos quatro anos, tanto pelo preço mais em conta quanto pela redução do preconceito por parte do consumidor. Liberado em 1999 no Brasil, o comércio do produto ainda engatinha no País, principalmente se comparado ao dos Estados Unidos (80% do total de unidades), Alemanha (66%) e Reino Unido (60%), conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Progenéricos).

Para o presidente do Conselho Superior e coordenador de estudos do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, a tendência é que os genéricos continuem a ganhar espaço. "Ocorre anualmente a expiração das patentes de medicamentos inovadores, o que faz com que outros laboratórios possam lançar genéricos", explica. "Com a queda da atividade econômica e da renda, o mercado também fica mais atrativo", completa.

Aliado ao maior acesso da população à saúde, com a expansão de usuários de planos e de seguros privados e com aumento do uso da rede pública, o setor farmacêutico se mantém em alta. Tanto que gerou 560 mil postos de trabalho no ano passado, dos quais 87 mil na indústria. "Os medicamentos terão melhor performance neste ano do que outros segmentos, mas esse ritmo de crescimento não será o mesmo em termos de empregabilidade. Ao menos, não teremos queda", avalia Amaral.

Os laboratórios farmacêuticos faturaram R$ 47,650 bilhões em 2014 e devem lucrar R$ 50,180 bilhões neste ano, diferença de 5,3%. No mesmo comparativo, o varejo deve passar de R$ 50,830 bilhões para R$ 54,180 bilhões (6,5%) e os distribuidores e outros, de R$ 26,590 bilhões para R$ 27,790 bilhões (4,5%). O coordenador de estudos do IBPT destaca, porém, que o aumento será nominal, mas com queda real de 3% devido à alta inflação.

Distribuição regional

Outro mercado que deve ter melhor desempenho durante a crise é o de distribuição regional de medicamentos. Somente em maio, os associados da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan) tiveram faturamento de R$ 12,8 bilhões e movimentaram 802 milhões de unidades. Também forte no mercado de genéricos, o segmento teve alta de 17,1% no faturamento no semestre sobre o mesmo período do ano anterior e de 11,7% em itens.

Tributação

O diretor de negócios do IBPT, Cristiano Lisboa Yazbek, afirma que uma redução de impostos seria ainda mais benéfica ao setor e à população, principalmente pelo fato de os produtos farmacêuticos serem considerados de primeira necessidade. "A alta carga tributária incidente na produção de medicamentos, também retratada no estudo, resulta em mais de 30% sobre o preço pago no produto pelo consumidor final, sendo um dos principais obstáculos ao crescimento deste mercado e ao acesso da população à saúde. A redução da carga tributária nos remédios poderia ampliar o consumo, além de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos", observa Yazbek, em nota.




Enfim, a pílula rosa

22/08/2015 - Época


Foram seis anos, duas reprovações e mais de US$ 100 milhões até que o mundo conhecesse na semana passada a primeira droga para tratar a falta de desejo sexual feminino. Na terça-feira, dia 18, a agência americana que regula medicamentos, conhecida como FDA, liberou a comercialização nos Estados Unidos do Addyi. A aprovação da droga, que já ganhou o apelido de Viagra feminino, era aguardada com ansiedade por mulheres ao redor do mundo, insatisfeitas com suas vidas sexuais, e pela indústria farmacêutica, de olho no mercado bilionário. Dois dias após o anúncio, a empresa que desenvolveu a droga, a americana Sprout Pharmaceuticals, foi vendida para a canadense Valeant Pharmaceuticals por US$ 1 bilhão.

A conquista da cobiçada pílula rosa - uma referência à azul, do Viagra - chama a atenção para problemas sexuais femininos que, por muito tempo, permaneceram em segundo plano na pesquisa científica. Porém, para um grupo numeroso de especialistas, ainda é cedo para comemorar. Eles acreditam que o medicamento pode trazer mais sombras do que luz à sexualidade feminina. "Há muitos perigos em potencial", afirma o australiano Ray Moynihan, que pesquisa o uso excessivo de medicamentos na Universidade Bond. "A droga pode ser usada em excesso e de forma desnecessária por pessoas sem nenhum distúrbio", diz Moynihan, autor do livro Sex, lies and pharmaceuticals (algo como Sexo, mentiras e drogas, sem edição no Brasil).

Ao solicitar a aprovação à FDA, a agência reguladora que influencia as demais ao redor do mundo, a Sprout foi específica. Isso não impede que qualquer mulher queira usar o medicamento. A droga é destinada a tratar uma condição chamada transtorno do desejo sexual hipoativo, em mulheres na pré-meno-pausa. Ele é caracterizado pela ausência de desejos ou fantasias sexuais, desde que isso cause sofrimento. O problema é que essa condição não existe mais. Em 2013, o termo mudou de nome no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais dos Estados Unidos, a bíblia da psiquiatria mundial. Virou desordem de desejo/excitação. A mudança revela a dificuldade de entender a libido feminina: não é que muitas mulheres não sintam desejo. Às vezes, ele aparece depois da ex-citação erótica, e não o contrário, como se pensava. "Menos de 5% das mulheres não têm desejo sexual algum", diz a americana Emily Nagoski, especialista em comportamento sexual. "Cerca de 30% têm o chamado desejo responsivo: precisam ser excitadas antes. Mas elas e os parceiros não criam clima." Especialistas como Emily temem que a pílula rosa seja encarada como uma solução milagrosa, que desestimule as mulheres a se conhecer e a conversar com os parceiros. "Essa pílula pode trazer mais malefícios do que benefícios", afirma o sexólogo brasileiro João Borzino. "Esse medicamento não atua nas causas reais do problema, que geralmente são repressão sexual, insegurança com o próprio corpo e falta de intimidade." Ainda há o risco de a propaganda do medicamento criar padrões ideais — e irreais - de desejo. "Não existe nível normal de libido, isso é uma invenção da indústria", diz a médica americana Adriane Fugh-Berman, que estuda estratégias de marketing da indústria farmacêutica na Universidade Georgetown. Existe o temor de que as campanhas de conscientização levem mulheres até então satisfeitas a questionar sua freqüência sexual. "A propaganda da indústria é feita para incitar pessoas felizes a perguntar aos médicos se elas também não precisam se tratar", diz Cindy Pearson, diretora da entidade americana Rede Nacional pela Saúde da Mulher. "As mulheres ficarão inseguras." O caminho tortuoso do Addyi até sua aprovação é um termômetro da polêmica que cerca a nova droga. A flibanserina, seu princípio ativo, foi testada como antidepressivo pela primeira vez em 2009 por uma das grandes da indústria, a alemã Boehringer Ingelheim. O efeito antidepressivo não apareceu 110 teste, mas mulheres relataram aumento de libido. A empresa pediu à FDA para aprovar a droga como tratamento para a falta de desejo, mas os resultados não convenceram a agência. O aumento no número de relações sexuais satisfatórias das mulheres que tomaram a droga em relação às que ingeriram uma substância sem ação foi mínimo. Elas tiveram 0,8 relação sexual a mais, muito pouco, segundo a FDA, para compensar possíveis efeitos colaterais. A Boehringer desistiu da droga e a vendeu ao casal Cindy e Robert Whitehead - hoje os felizes e bilionários ex-donos da Sprout. A pequena empresa fez outros testes, mais uma vez recusados pela FDA, que pediu estudos adicionais.

Enquanto eles eram realizados, em 2014, surgiu um movimento de organizações de mulheres americanas, financiado pela Sprout e por outras farmacêuticas, chamado Even the Score (algo como Empate o Jogo). O grupo acusava a FDA de preconceito de gênero por nunca ter aprovado uma droga para problemas femininos. Os homens, por sua vez, contavam com 26 (algumas, como o Viagra, com efeitos colaterais graves, como interação perigosa com outros remédios). Coincidência ou não, meses após o barulho, a FDA aprovou a flibanserina. "Criou-se um precedente perigoso que sugere que uma campanha agressiva de relações públicas é parte cio processo de aprovação", diz Leonore Tiefer, líder do grupo The New View Campaign, que acusa a Even the Score de mudar os critérios de aprovação de drogas, de científicos para políticos. No Brasil, a venda do Addyi precisa ser autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Não há previsão, porque a Anvisa não informa se o processo está em andamento.

O mecanismo de ação do Addyi permanece desconhecido, sua eficácia polêmica e há efeitos colaterais importantes. Ele pode provocar quedas de pressão e desmaios e não deve ser combinado com álcool. Mas também é possível olhar pelo lado cor-de-rosa da questão. A repercussão pode despertar as mulheres para conhecera própria sexualidade."E uma oportunidade para desmitificar a vida sexual feminina", diz a psiquiatra Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo. "Que elas possam ter mais prazer, com ou sem medicamentos."




Baixa produtividade reduz lucro das fabricantes de remédios

24/08/2015 - DCI


A indústria farmacêutica é um dos setores que mais investem em inovação de produtos no País, mas tem perdido lucro com a baixa produtividade, de acordo com o estudo Benchmarking Competitividade Operacional (BCO Farma).

O levantamento, produzido pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGO), mostra que as farmacêuticas instaladas no mercado brasileiro foram beneficiadas por fatores que estimularam a demanda de remédios nos últimos anos.

"O aumento da população e a mobilidade socioeconômica, com o aumento das classes B e C, foram dois fatores que ajudam a explicar o crescimento do setor no período", comenta o presidente do IBGO, Fabio Bussinger.

Um dos principais problemas do setor, conforme ele, é ter concentrado investimentos e políticas de gestão no ganho de market share nos últimos anos. "Os executivos dessa geração olham muito para o ganho de participação em um segmento que tem concorrência grande, mas não consideram a produtividade como um fator importante", ressalta ele.

O reflexo dessa disparidade na estratégia das indústrias do setor aparece no desempenho financeiro. Segundo Bussinger, ao observar rankings de maiores farmacêuticas com operação no País, entre 2014 e 2015 a margem de lucro vem caindo. "Essa redução é resultado da queda do preço médio dos medicamentos, mesmo com a alta no volume de vendas", explica.

Para manter o crescimento do setor, o consultor afirma que as fabricantes precisam adotar metas agressivas de produtividade, incluindo a redução de custos. "Não teremos mais a junção dos dois fatores [aumento da população e mobilidade socioeconômica], que até então ajudaram o setor."

Bussinger citou, durante a apresentação do estudo na última semana, que as empresas podem ampliar de 12% a 15% da capacidade produtiva ao adotar processos para medir e acompanhar produtividade. Nos próximos anos, entretanto, as pesquisas usadas pelo BCO Farma como referência indicam que os executivos continuam focados no lançamento de produtos e melhora de portfólio, sem temas como produtividade e gestão aparecendo em destaque.




Anvisa mata-mosquito

23/08/2015 - Folha de S.Paulo


Agência protela registro comercial de tecnologia para combater epidemia de dengue, que se agrava.

Se alguém duvida que a epidemia de dengue é coisa séria, que atente para as estatísticas do Ministério da Saúde (bit.ly/1UVUOsn): 1.350.406 casos prováveis notificados até o final de julho, entre os quais 1.144 graves e 15.403 com sinais de alarme, que resultaram em 614 mortes.

Os casos fatais aumentaram 57% sobre os 390 registrados no mesmo período do ano passado. Em 2014 haviam sido 589.107 notificações no total anual. Em apenas sete meses de 2015 chegou-se ao patamar do ano inteiro de 2013, o pior já registrado, com 1.452.489 casos.

Parece evidente que o combate ao mosquito transmissor, o famigerado Aedes aegypti, não está funcionando bem. Na ausência de uma vacina, qualquer instrumento para exterminar o inseto vetor seria bem-vindo. O sentido de urgência, contudo, não lubrifica as engrenagens da burocracia nacional.

Uma tecnologia promissora se acha em fase final de testes de campo. Trata-se da linhagem de mosquitos geneticamente modificados OX513A –sim, mosquitos transgênicos– pela empresa britânica Oxitec (que tem filial em Campinas) para ter prole inviável.

Só os machos transgênicos são liberados. Voando por aí, eles competem com os congêneres silvestres por fêmeas (só elas picam humanos e chupam seu sangue, transmitindo o vírus da dengue). Após copular, as fêmeas não podem mais ser fertilizadas por outros mosquitos.

Acontece que os ovos postos pela fêmea inseminada com espermatozoides transgênicos dão origem a larvas que morrem antes de ultrapassar a fase de pupa e chegar à vida adulta –que dura só 2 a 4 dias. Um estudo publicado no mês passado no periódico científico "Plos Neglected Tropical Diseases" mostrou que a soltura de indivíduos OX513A em Juazeiro (BA) conseguiu reduzir em 95% a população de A. egypti.

A Oxitec obteve licença da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) para liberação dos seus insetos no ambiente, em larga escala (comercial), em abril de 2014. Ato contínuo, buscou orientação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para obter o registro comercial da inovação, sem o qual não poderia vendê-la.

A dificuldade: não há um trâmite estabelecido para obter esse registro. Como classificar o mosquito OX513A – substância tóxica inseticida? Agente de saneamento mais inofensivo, como água sanitária?

A empresa enviou correspondências para a Anvisa em janeiro, maio e julho de 2015 reiterando o pedido para que a agência defina quais informações e ensaios tem de apresentar para iniciar o processo. Obteve resposta vaga: o assunto se acha sob estudo e análise.

A coluna pediu à Anvisa um prazo para que o processo de registro comece de fato. A agência respondeu que aprovou uma proposta de regulamentação sobre "controle de vetores patógenos urbanos" que ainda será posta sob consulta pública, mas não informou quando.

A solicitação da Oxitec está em análise pela diretoria colegiada do órgão e só após sua conclusão será possível fixar um prazo para finalização. "Não é possível estimar o tempo para o registro comercial do produto, tendo em vista que, após a publicação da norma sobre o assunto, a empresa deverá protocolar o pedido de regularização perante a Anvisa."

Poderia ter dito simplesmente: vamos estar providenciando.




Vitamina C e xarope não ajudam a curar a gripe

23/08/2015 - O Globo


O pneumologista Carlos Alberto de Barros Franco e a alergista Teresa Seiller, palestrantes do Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, desmistificaram as doenças respiratórias e algumas crenças populares, durante o evento na Casa do Saber O GLOBO. Ambos especialistas, convidados por Cláudio Domênico, responderam a diversas questões dos leitores que se inscreveram para participar do debate.— A vitamina C não adianta para nada. Não há comprovação científica que ajude no tratamento da gripe e dos resfriados. E o xarope nada mais é do que água com açúcar. Podemos colocar qualquer remédio aí dentro. Até para o coração. Aí, terá função — brincou o pneumologista, afirmando também que pisar descalço no chão gelado ou tomar vento nas costas não causa doenças — É só desagradável.

Já Teresa esclareceu que as bombinhas não fazem mal à saúde se usadas corretamente:

— Há novos broncodilatadores associados ao corticoide. E o corticoide é o melhor antiinflamatório já inventado. Um santo remédio. Que, sabendo usar, na dose certa e na sequência certa, não faz mal. Bombinha não mata, não!

Os espaçadores, acoplados às bombinhas, também foram recomendados. Barros Franco disse que eles servem para facilitar a coordenação entre a respiração e a entrada do remédio, que passa pelo espaçador antes de chegar à boca.

Outra questão respondida pelo pneumologista foi sobre a importância da tosse para o diagnóstico das doenças respiratórias. A tosse pode ser resultado do refluxo gastroesofágico, da sinusite ou da asma.

— A tosse é um espetáculo! Além da função respiratória, o pulmão é treinado para tossir e produzir secreção quando algo o agride. Se não, morreríamos a cada caroço engasgado. Mas, se a tosse persistir, mesmo após o sumiço do catarro, do tratamento para a asma ou para a sinusite, será preciso pesquisar a nova causa.




Justiça americana indefere processo iniciado por cientista da Unicamp

24/08/2015 - Folha de S.Paulo


A Justiça de Massachusetts, nos EUA, indeferiu o processo de difamação movido pelo professor da Unicamp Mario Saad contra a Associação Americana de Diabetes. Foi o mais recente capítulo na disputa, que começou no início de 2014, entre a associação e um dos mais produtivos cientistas brasileiros.

A revista "Diabetes", publicada pela associação, diz que há indícios de duplicação de resultados e manipulação de imagens em quatro trabalhos com Saad. A entidade publicou uma "nota de preocupação" –um alerta para pontos problemáticos de um artigo– mencionando as acusações.

Inocentado em duas investigações independentes feitas por pesquisadores da Unicamp e de outras universidades, Saad decidiu ir à justiça para tentar tirar do ar esse material.

Na decisão, na semana passada, o tribunal entendeu que a revista tem o direito de manifestar sua opinião sobre o assunto, e por isso o processo por difamação era improcedente. O médico ainda pode recorrer.

Após ser notificada pela revista de que "leitores haviam indicado problemas" nos artigos, a Unicamp conduziu uma investigação interna para avaliar o caso, que concluiu que houve de fato alguns erros (repetição não intencional de imagens), mas que esses não alteravam as conclusões dos papers.

Pouco após ser comunicada do resultado, em fevereiro de 2015, a revista não aceitou o parecer e fez um novo pedido de investigação. Paralelamente, impôs uma "moratória" à universidade, que ficou impedida de publicar na revista.

A Unicamp fez uma segunda investigação, agora com cientistas externos, incluindo um estrangeiro. Novamente Saad foi inocentado.

Notificada em maio sobre o novo relatório, a "Diabetes" não se manifestou e manteve o alerta contra Saad.

Ex-diretor da Faculdade de Ciências Médicas e candidato derrotado a reitor em 2013, Mario Saad é um dos cientistas brasileiros mais produtivos. Segundo o ranking da plataforma Google Acadêmico, é o 43º pesquisador mais citado do país, com cerca de 11 mil menções.

"A orientação da NIH [agência americana] é de guardar o material por cinco anos. Um dos artigos é de 1997. Eu não era obrigado, mas guardei as coisas. Pude provar que não teve fraude."

Saad reconhece, porém, erros na montagem do material. "Eu assumo que a repetição de imagem passou por mim, assim como passou pelos três revisores e pelo editor da revista, além dos outros autores. Cada artigo tem entre 150 e 300 imagens como aquelas. Infelizmente, passou", diz.

Os problemas aconteceram no processo conhecido como "splicing", de cortar e unir pedaços de um mesmo gel usado nos experimentos para compor uma imagem.

OUTROS CASOS

Além da "Diabetes", Saad também precisou prestar esclarecimentos sobre um artigo publicado na revista "PLoS One", que também tinha problema com as imagens. O periódico não invalidou o artigo, mas divulgou uma correção das imagens duplicadas.

Um outro trabalho nos "Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia" chegou a ser retratado por cópia de trechos. Mas, meses depois, a revista republicou o artigo, com alterações no texto.

Procurada, a Unicamp afirmou que "a comissão reconheceu a 'não desonestidade dos pesquisadores', 'não alteração do resultado fundamental das pesquisas' e a 'não intenção de burlar o resultado ou enganar os potenciais leitores dos artigos'."




MUITO BARULHO, POR NADA?

22/08/2015 - IstoÉ


Será possível tratar a falta de desejo sexual sentida pelas mulheres com uma pílula? Esta foi a pergunta que estudiosos do tema se fizeram ao longo de toda a semana passada. A indagação, presente há algum tempo, ganhou força após a aprovação pela Food and Drug Admi-nistration (FDA), dos Estados Unidos, da Addyi, o primeiro remédio do mundo indicado para aumentar a libido da mulher a receber autorização de venda. A decisão de permitir sua comercialização foi tomada pela agência americana na terça-feira 18 e imediatamente acirrou a polêmica que envolve a discussão sobre tratamentos que visam resgatar a vontade feminina de fazer sexo.

O medicamento, cujo princípio ativo é o composto flibanserin, já foi batizado de Viagra feminino, numa alusão à famosa pílula azul, fabricada pela Pfizer, pioneira no tratamento da disfunção erétil. A Addyi é produzida pela empresa americana Sprout Pharma-ceuticals e havia sido desenvolvida inicialmente para ser um antidepressivo. Sabe-se que age sobre duas substâncias - serotonina e dopamina - envolvidas na regulação do humor e também alvo dos remédios para tratar a depressão. Mas não está claro de que maneira ela atua para devolver a libido.

O FDA determinou que a medicação pode ser receitada nos dois tipos do distúrbio de desejo sexual hipoativo. O transtorno é caracterizado por uma falta persistente de pensamentos em sexo, fantasias e vontade de ter uma relação sexual que prejudica a paciente ou suas relações. A queda no desejo também não pode estar associada à presença de doenças que interferem (a depressão é uma delas) ou ao consumo de compostos comprovadamente vinculados ao problema. O remédio deve começar a ser vendido nos Estados Unidos dentro de um mês. Não há previsão de seu lançamento no Brasil.

O anúncio de sua chegada provocou reações antagônicas. Defensores de sua utilização afirmam que a droga seria o maior avanço para a saúde sexual da mulher desde a introdução dos anticoncepcionais, na década de 1960. E que a Addyi representaria para a qualidade do sexo feminino o que o Viagra significou para a sexualidade masculina. De tato, a falta de libido é a principal queixa das mulheres - e a dificuldade de ereção a deles - e não havia nada até hoje que tivesse recebido a chancela do FDA para poder ser usado com a indicação de reverter o problema.

Porém, há questões importantes levantadas. A primeira se refere especificamente sobre a eficácia e segurança do remédio em si. A droga já havia sido rejeitada duas vezes pela FDA exatamente porque não havia atendido aos padrões da agência nesses dois quesitos. A vitória agora só foi alcançada depois da apresentação de novos estudos, totalizando a análise dos efeitos da medicação em onze mil mulheres.

Os resultados mostraram que o medicamento aumentou o desejo, diminuiu o estresse causado pela perda do desejo e melhorou o índice de satisfação na vida sexual. Mas nenhum desses benefícios foi expressivo. "O estudo demonstrou algo pouco significativo", afirma a psicóloga Iracema Teixeira, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Por isso, a crítica é a de que os efeitos foram pequenos demais diante do risco apresentado pelo remédio. Há efeitos colaterais mais brandos, como náuseas. No entanto, ele pode causar baixa perigosa de pressão arterial e desmaios. Também não pode ser tomado por quem consome álcool e/ou apresenta doenças hepáticas. Além disso, as principais organizações que pressionaram o FDA para liberar a pílula rosa receberam recursos da Sprout. O outro aspecto é o questionamento sobre qual seria o impacto real de uma pílula para a melhora da vida sexual feminina. É preciso ficar claro que, assim como o Viagra não é a solução para todos os problemas da sexualidade masculina, a Addyi também não o será para as dificuldades femininas. São aspectos complexos demais para serem resolvidos com um comprimido. "Há muitos fatores que influenciam a sexualidade das mulheres", diz Iracema. Condições clínicas, estresse, baixa autoestima e a qualidade da relação afetiva com o parceiro estão entre eles. "Desta forma, não se pode depositar no remédio a esperança de solução para a felicidade sexual."




O REI DAS PATENTES

22/08/2015 - IstoÉ Dinheiro


O brasileiro é o segundo maior consumidor de medicamentos do mundo, em número de doses, atrás apenas dos chineses. A venda de medicamentos no País movimentou R$ 69 bilhões nos 12 meses encerrados em abril deste ano, o que faz do Brasil um dos seis maiores mercados farmacêuticos do mundo, em faturamento. A força econômica das vendas de remédios, no entanto, não se reflete na área de pesquisa e desenvolvimento dos laboratórios nacionais, negligenciada pela maior parte dos fabricantes ao longo de décadas. Mais de 90% das patentes requisitadas pelo setor farmacêutico junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), no ano passado, vieram de companhias estrangeiras. "A indústria nacional se especializou apenas em copiar medicamentos", afirma o médico psiquiatra Ogari Pacheco, presidente e fundador do laboratório paulista Cristália. "Esse é um dos efeitos dos genéricos." Reverter essa lógica desfavorável à indústria nacional é o principal objetivo do Dr. Pacheco, como é chamado o empresário por seus funcionários. Com 76 patentes obtidas nos últimos dez anos, e mais de uma centena de projetos em curso, o Cristália é, atualmente, o maior registrador nacional de patentes farmacêuticas.

Dono de um faturamento de R$ 1,6 bilhão, no ano passado, o laboratório coleciona alguns casos de sucesso no âmbito da propriedade intelectual. O mais recente envolve uma enzima, a colagenase, utilizada na produção de pomadas para o tratamento de ferimentos e no pós-operatório. Com um número restrito de fornecedores internacionais, o Cristália vinha tendo dificuldade para obter a matéria-prima. "Descobrimos que era possível produzir a mesma enzima a partir de bactérias que encontramos aqui no interior de São Paulo", afirma Pacheco, se referindo à bactéria Clostridium Histolyticum descoberta em uma amostra de terra colhida na cidade de Espirito Santo do Pinhal, a poucos quilômetros da sede da companhia, localizada em Itapira, na região de Campinas. A bactéria brasileira possui, ainda, uma vantagem em relação às estrangeiras: ela é vegetariana. Tradicionalmente, a colagenase é produzida a partir de insumos vindo do gado, o que traz o risco de transmissão de doenças, como a da vaca louca. O método desenvolvido e patenteado pelo laboratório, que consumiu invés timentos de R$ 100 milhões, elimina esse risco. A empresa aguarda a liberação da Anvisa para começar a exportar o produto. "Será um grande sucesso", afirma Pacheco.

A falta de uma cultura voltada para a pesquisa e o desenvolvimento é, segundo Pacheco, a grande barreira para a criação e a descoberta de novos medicamentos no Brasil. "A indústria se acostumou a copiar, porque é mais fácil", diz. "A questão é que, dessa forma, a fabricante fica muito dependente da capacidade de vender barato, o que é insustentável." Atualmente, o Cristália produz 50% das matérias-primas utilizadas na fabricação de medicamentos, em seu complexo farmoquímico, que inclui, além das fábricas de remédios e insumos, uma unidade de biotecnologia. Trata-se de um número fora da curva da indústria farmacêutica brasileira, cuja balança comercial registrou um déficit de cerca de US$ 6 bilhões, no ano passado. Suas primeiras aventuras no mundo da propriedade intelectual vieram da área de embalagens. O Cristália possui tecnologias exclusivas para o acondicionamento de substâncias anestésicas, como uma embalagem que garante a assepsia do produto até sua abertura na sala cirúrgica. Essas iniciativas ajudaram o laboratório a se tornar o maior fabricante de anestésicos da América latina.

O tempo necessário para registrar uma patente no Brasil dificulta ainda mais o desenvolvimento do setor, acrescenta o empresário. Atualmente, é preciso esperar uma década para obter uma resposta do INPI. Isso cria um cenário favorável aos laboratórios estrangeiros. Uma patente médica tem prazo de validade mínimo de dez anos. Mas, como a proteção à propriedade intelectual passa a valer a partir do momento em que o pedido é registrado, na prática, esse prazo é de 20 anos no Brasil. Segundo Luiz Otávio Pimentel, presidente do INPI, a falta de profissionais dificulta o aumento da produtividade e a diminuição da fila de pedidos. Atualmente, a entidade conta com 211 técnicos. Outros 140 já passaram em concurso e poderiam começar a trabalhar, mas, em virtude do ajuste fiscal, o governo suspendeu as contratações. Enquanto isso, a indústria se vira do jeito que dá. Para acelerar o processo, o Cristália passou a registrar suas patentes no exterior. Das 76 que possui, apenas quatro foram, originariamente, solicitadas às autoridades brasileiras.




Mais que mercado, a meta é prestígio

24/08/2015 - Época Negócios 360º


Em 2013, a Libbs perdeu Alcebíades de Mendonça Athayde, o homem que transformou o pequeno laboratório que comprara, em 1965, numa das maiores empresas de capital nacional da indústria farmacêutica. A morte do empreendedor, aos 85 anos, pôs em marcha de vez um processo de mudanças na gestão, que incluiu o reforço do conselho de administração com profissionais de mercado, de fora da família. Era o passo adiante necessário para preparar a empresa para suas novas metas, que incluem o hastear de bandeiras no mercado externo. E essa mudança administrativa ficou patente no desempenho da gestão da empresa em 2014.

Campeã geral do setor, a Libbs ficou também em primeiro, justamente, em governança corporativa. O que é, aliás, coerente com outro top, em visão de futuro. "A empresa tem, por exemplo, adotado medidas para aumentar sua transparência", diz Alcebíades de Mendonça Athayde Júnior, presidente da Libbs. E, a despeito de o presidente da empresa ser filho do homem que a encabeçou por décadas, o parentesco não será pré-requisito para os ocupantes dos futuros postos de comando. "Estamos trabalhando para que, no futuro, a direção da empresa seja ocupada por pessoas de mercado, e não da família."

No quesito visão de futuro, um dos pontos de destaque é a decisão da Libbs de ganhar espaço no mercado externo. A empresa tem quatro projetos em andamento em parceria com universidades dos Estados Unidos. Para essa frente, o investimento previsto equivale a 2,5% do faturamento da companhia - em 2014, a receita líquida foi de R$ 1,1 bilhão, 21,1% acima da de 2013. "Existe uma rede mundial de inovação, formada por muita pesquisa e desenvolvimento. Queremos fazer parte disso, e atuar no exterior é o caminho", diz o presidente.

Esse passo tornou-se possível com o amadurecimento da regulação do mercado brasileiro de fármacos. A Anvisa, órgão que libera novos medicamentos, tem hoje exigências para o registro de produtos mais em linha com as de mercados maduros - Estados Unidos, Europa e Japão - do que quando foi criada, em 1999. "Internacionalmente, a Anvisa já é vista como um órgão mais exigente. Isso melhora a imagem das empresas e do mercado brasileiro no exterior", diz Márcia Martini Bueno, diretora da Libbs.

A maneira como a Libbs é vista por suas concorrentes e pelo mercado em geral está diretamente ligada ao objetivo de mais do que ter uma fatia específica de mercado ou um número-chave de faturamento, ser a mais admirada. Pode parecer meta subjetiva demais para quem está de fora, mas o executivo a vê como bastante concreta. "O que se pode querer além disso?", pergunta Júnior, como é chamado na empresa. Por isso os investimentos no mercado externo, em parcerias com centros de pesquisa de países-chave da indústria.

A empresa, além disso, constrói uma fábrica de biossimilares, a primeira do gênero no Brasil. Diferentemente dos genéricos, registrados com base em seu principio ativo, os biossimilares podem ser registrados com base em uma marca comercial própria.

O princípio ativo é obtido pela manipulação de microrganismos ou células geneticamente modificadas. Isso dá origem a proteínas mais complexas, que têm, em geral, menos efeitos colaterais. O custo para o desenvolvimento de biossimilares é muito mais alto que o dos genéricos, o que faz com que dessa linha saiam produtos de maior valor agregado. A nova planta, em Embu das Artes, na Grande São Paulo, deve ficar pronta até o fim de 2015.0 investimento na construção é de RS 250 milhões.




Sorridents lança plano odontológico próprio

24/08/2015 - Valor Econômico


Com 170 clínicas entre franqueadas e próprias, a Sorridents iniciou neste mês a venda de um plano odontológico próprio para ser usado em suas unidades. O investimento inicial para estruturação do convênio dental foi de R$ 10 milhões e outros R$ 40 milhões serão aplicados no decorrer dos próximos cinco anos. O plano dental cobre procedimentos de prevenção como limpeza, aplicação de flúor e selante, raspagem e emergência. Nos demais procedimentos, o usuário tem direito a um abatimento entre 30% e 40% no valor de tabela da Sorridents. "Optamos por um modelo que privilegia a prevenção. Quando a pessoa compra um plano dental, há um gasto maior no começo do tratamento, mas com acompanhamento e limpeza frequente esse gasto cai", disse a dentista Carla Renata Sarni, fundadora e presidente da Sorridents. O novo plano dental é vendido ao consumidor por R$ 19,90 ao mês e exige permanência mínima de um ano.

O investimento foi feito com recursos de Carla que, há três anos, comprou uma operadora do interior de São Paulo chamada Sorriden. É por meio dessa operadora que foi criado o novo plano dental que permanecerá com o nome Sorriden. "Nossa estimativa é ter 120 mil usuários em dois anos, sendo 60 mil no primeiro ano de atividade. O faturamento previsto é de R$ 2 milhões em 2015", disse Marcos Colussi Carneiro, consultor especializado na área de odontologia contratado para estruturar a operação. Carneiro foi dono da Fleming Dental, operadora vendida para a Tempo em 2008.

Ainda, segundo o consultor, há uma negociação em andamento com 120 pequenas e médias empresas e a previsão é que os clientes corporativos representam metade da carteira da Sorriden. Para atrair esse público, a operadora fechou parceria com a seguradora AIG que venderá, em conjunto, seguro de vida, serviços de assistência e título de capitalização. Sua maior concorrente é a Odontoclinic, rede com mais de 150 unidades controlada pela gestora de recursos Bravia e ex-sócios de Tarpon.

O plano dental é a nova aposta da dentista que, até o ano passado, era dona de 40 consultórios, mas vendeu metade para montar a operadora. Fundada em 1995, em cima de uma padaria na Vila Cister, bairro pobre da zona leste de São Paulo, a Sorridents ganhou escala quando migrou para o modelo de franquias em 2007. "Construi as minhas primeiras clínicas com pedreiro bem barato, colocava o material de construção no nosso carro para não pagar frete da entrega", lembra Carla. Na época, seu marido, militar, deu baixa no exército para se matricular num curso de odontologia e ajudá-la no negócio que, até então, perdia dinheiro. Neste ano, a estimativa é que o faturamento da rede de franquias seja de R$ 220 milhões e o da franqueadora aumente 25% para R$ 15 milhoes.

Segundo Carla, a atual crise econômica não afetou a Sorridents. "Continuamos com demanda para abertura de novas franquias e o número de procedimentos não caiu. Acompanhamos esse indicador diariamente", disse. A dentista conta que o cartão de crédito de bandeira própria, lançado em janeiro, tem ajudado, uma vez que os pacientes podem parcelar o tratamento em até 18 vezes, sem juros. Em oito meses, 20 mil clientes adquiriram o cartão de crédito da Sorridents, emitido em parceria com a financeira SoroCred. Um paciente gasta em média R$ 850 por tratamento nas clínicas da Sorridents que não aceitam outro tipo de plano dental desde 2000.




What's News: A GlaxoSmithKline

24/08/2015 - Valor Econômico


A GlaxoSmithKline, farmacêutica britânica, vai vender à suíça Novartis os direitos de seu remédio ofatumumabe para uso em doenças autoimunes, como esclerose múltipla. A Novartis, que já havia comprado os direitos da droga como anticancerígeno e a vende sob a marca Arzerra, pagará até US$ 1 bilhão e mais royalties de 12% sobre as vendas ligadas a doenças autoimunes. O negócio ocorre na esteira de uma troca de ativos de US$ 20 bilhões que as empresas concluíram neste ano.




USP cria exercícios para reduzir o volume do ronco

23/08/2015 - Folha de S.Paulo


Pesquisadores do Laboratório do Sono do Incor (Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP) desenvolveram uma técnica de tratamento do ronco que pode até torná-lo quase imperceptível.

A técnica consiste em exercícios que já eram usados por fonoaudiólogos no tratamento de pacientes com os músculos de cabeça, do pescoço e da língua comprometidos –por causa de uma cirurgia, por exemplo.

São seis exercícios que fortalecem os músculos envolvidos no aparecimento do ronco e da apneia do sono. Basicamente eles envolvem movimentos da língua –como empurrá-la contra o céu da boca e deslizá-la para trás"", do céu da boca e dos músculos da bochecha. Um dos exercícios é feito durante a alimentação: ao deglutir o paciente apoia a língua no palato (céu da boca).

Os pesquisadores do Incor decidiram testar os exercícios em pacientes cuja queixa principal era o ronco.

Foram 39 pacientes, com apneia leve ou moderada ou apenas com ronco primário – aquele ligado ao afrouxamento dos músculos da garganta, entre 20 e 65 anos, de ambos os sexos, que foram divididos em dois grupos: o grupo terapia e o grupo placebo.

Os pacientes do grupo terapia fizeram os seis os exercícios por três meses, todos os dias. Os pacientes do grupo placebo fizeram outros exercícios, para respiração nasal –incapazes de surtir efeitos no ronco e na apneia.

Os exercícios eram feitos três vezes por dia, "como uma tarefa", e os pacientes eram avaliados semanalmente por fonoaudiólogos, conta Vanessa Ieto, autora da pesquisa.

Os exercícios não eliminaram completamente o ronco, mas o volume foi reduzido em 70% dos pacientes, e 35% tiveram redução do total de episódios durante a noite.

A avaliação dos pacientes foi feita por polissonografia, exame que mede uma série de parâmetros fisiológicos durante o sono, e por um gravador, para registrar o número total de roncos por noite. Os pacientes e seus companheiro de quarto também responderam a questionários sobre qualidade do sono.

NÃO É PARA TODOS

Luciane de Mello Fujita, médica do Instituto do Sono, diz que já utiliza exercícios de fonoaudiologia no consultório, mas que eles não são indicados para todos os pacientes.

"É preciso obter o diagnóstico correto do ronco e o acompanhamento do fonoaudiólogo, para que se tenha certeza de que os exercícios estão sendo feitos corretamente", diz Geraldo Lorenzi Filho, coordenador da pesquisa do Incor.

"O paciente obeso que ronca, por exemplo, não vai melhorar com esses exercícios. Eles são indicados para pacientes que têm flacidez musculatura da garganta, ou apneia que não responderam bem aos tratamento convencionais", diz Luciane.

É o caso da assistente social Marisa Cury, 56, que faz os exercícios há três meses. Ela tem asma e foi diagnosticada com apneia do sono. Ela conta que procurou tratamento médico porque acordava cansada e sentia muito sono ao longo do dia.

"O tratamento que me indicaram foi o CPAP [máscara que abre as vias aéreas por meio de um fluxo de ar], mas eu não queria usar. Fiquei desconfiada de dormir com uma máquina ligada na tomada."

Diante da recusa em fazer o tratamento, então, ela foi selecionada para participar da pesquisa do Incor.

"Melhorei bastante. Meu marido conta que eu melhorei e percebo que consigo dormir uma noite inteira. Agora que eu ronco só de vez em quando e ele também consegue dormir a noite toda", diz.

"Os exercícios são uma alternativa interessante, mas é complicado garantir que o paciente vá praticá-lo todos os dias" diz o neurologista Luciano Ribeiro.

O gerente de restaurante Francisco Loureiro, 49, está em tratamento no Incor há dois anos e diz que faz os exercícios todos os dias.

"Como trabalho de noite, acabo não fazendo as três vezes recomendadas, mas pelo menos de manhã e de tarde eu faço. Prefiro fazer os exercícios a que voltar a roncar", diz.

Segundo o último estudo epidemiológico do sono na cidade de São Paulo, em 2007, diz que 33% da população sofre com apneia.




Seminário debate o uso e o acesso da tecnologia na saúde brasileira

24/08/2015 - Folha de S.Paulo / Site


A Folha realiza no dia 31 de agosto o Fórum Tecnologia e Acesso à Saúde, sétimo seminário da série promovida pelo jornal para discutir temas do cotidiano dos brasileiros. Nas edições anteriores, os temas abordados foram Saúde, Mobilidade Urbana, Sustentabilidade, Exportação e Contrabando.

Os debates e palestras ocorrem no Tucarena (rua Monte Alegre, 1.024, Perdizes), das 9h às 13h20.

O seminário reunirá 14 convidados para palestras e debates. Entre eles, representantes do poder público –como Jarbas Barbosa, presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), José Carlos de Souza Abrahão, presidente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e Lumena Furtado, secretária de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde.

O neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho fará a abertura do evento. Estarão presentes também pesquisadores e empresários do setor.

Os temas abordados serão a ampliação do acesso à saúde e o uso de novas tecnologias; modelos de negócios para atender a 200 milhões de brasileiros; a importância do diagnóstico para a prevenção e tratamento e as principais inovações em saúde, pesquisas e novas tecnologias.

Segundo pesquisa Datafolha realizada no ano passado, a saúde no Brasil é apontada como a área de maior importância para 87% brasileiros e é também indicada por 57% como tema que deveria ser tratado como prioridade pelo Governo Federal. O seminário terá cobertura pelo site da Folha.

INSCRIÇÕES (11) 0800 777 0360 ou seminariosfolha@grupofolha.com.br

FÓRUM TECNOLOGIA E ACESSO À SAÚDE

QUANDO Segunda (31/08)

HORÁRIO Das 9h às 13h

VAGAS limitadas

ONDE Tucarena (rua Monte Alegre, 1.024, Perdizes, São Paulo)




Liberação do uso de drogas é questão de saúde pública, diz especialista

21/08/2015 - Folha de S.Paulo / Site


Presidente da Fiocruz e da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, Paulo Gadelha defende que a descriminalização das drogas para uso próprio é uma questão de cidadania e saúde pública. Segundo ele, a ideia de que o sistema de saúde não tem espaço para receber viciados é um absurdo.

O julgamento na descriminalização, no STF (Supremo Tribunal Federal), voltou a ser suspenso nesta quinta depois que o ministro Luiz Edson Fachin pediu vista do processo para analisar com mais profundidade o caso. Não há data para que a discussão seja retomada.Folha - De que forma a Fiocruz e a Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia atuam na decisão desta quinta-feira?

Paulo Gadelha - Um dos pontos centrais da discussão é a subjetividade da legislação para discriminar quem é o usuário e quem é o traficante. A novidade que a comissão trabalhou com o Instituto Igarapé é que, por meio de uma série consultas na experiência internacional e pesquisas de uso de drogas no Brasil, desenhamos três cenários de porte no caso da maconha, cocaína e crack. Um deles mostra uma situação mais conservadora e dois cenários são mais realistas do ponto de vista do padrão de uso nacional.

No caso da maconha, a gente defende que essa quantidade seja de 40 a 100 gramas. No caso de plantas para consumo próprio, que seja de dez a vinte pés e, no caso da cocaína e crack, de 12 a 15 gramas. Estamos tentando, portanto, dar subsídio ao STF para enfrentar a questão mais complexa e mais decisiva que é a fixação das quantidades de uso próprio.

É fundamental que haja essa decisão e que se encaminhe para uma especificação de quantidade porque, senão, nós teremos uma lacuna jurídica que é terrível pra todos os atores envolvidos.

Por que você é a favor?

Porque eu acho que esse é um passo fundamental para você distinguir as coisas. O usuário que chega a uma situação de abuso precisa de cuidado. Ele não pode ser penalizado duas vezes. Não pode ser penalizado por ter um problema e não saber lidar com uma situação de risco e ao mesmo ter o sofrimento de ser considerado um criminoso. Isso é terrível, porque impede a sociedade de criar estruturas de atenção e suporte a quem está sofrendo.

Uma pessoa que usa álcool de forma abusiva e tem sérios problemas de saúde, também pode ter sérios problemas sociais, mas ninguém propõe que ela seja encarcerada enquanto não fez nenhum crime sob o efeito do álcool.

A partir momento em que a pessoa está utilizando uma droga lícita ou ilícita e não está criando nenhum dano aos outros, essa questão tem que ser trabalhada como direito à privacidade e individualidade. Quando você criminaliza, cria um estigma muito forte. É uma questão da cidadania, da maneira como os cidadãos interagem em relação a problemas relacionados a comportamentos e sofrimentos. É uma questão relacionada a reduzir os efeitos nefastos do combate às drogas, que geram muito mais violência. E é também uma forma de possibilitar que a área da saúde possa exercer sua função de cuidar das pessoas. Enquanto elas são consideradas criminosas, tem uma barreira imensa que impede isso.

Um dos argumentos contra é o de que a área da saúde não teria espaço para receber pessoas com problemas além do tabaco e do álcool. Isso é um absurdo. É a mesma coisa que dizer que, se surgisse um surto de ebola, eu não poderia cuidar disso porque já estou tratando outras questões. Nosso trabalho é lidar com a realidade e a realidade de hoje é que que as drogas são um problema de saúde pública. Eu reconheço que a população precisa, mas vou discriminar o que atendo ou deixo de atender? Temos que enfrentar a situação, e não escolher a fatia que vamos tratar.

E quanto ao argumento do impacto das drogas na saúde do indivíduo?

Já foi mais do que comprovado que não há evidência científica que sustente a classificação das drogas legais e ilegais. Os efeitos do alcoolismo, no ponto de vista da saúde individual, são muito mais impactantes que o uso da maconha. A decisão de colocar o álcool como uma droga legal e a maconha como ilegal é feita por critérios alheios aos campos da ciência e da medicina. É feita por critérios de natureza social, política, de forma que a sociedade resolva considerar o que ela acha nocivo. Não se pode querer valer da ciência para responder coisas que não estão na alçada da ciência.

Você acha que o debate sobre a descriminalização demorou a ser feito?

Sim. Primeiro porque toda a apreciação na raiz do direito indica que essa criminalização fere os direitos fundamentais do cidadão. Segundo porque existe a percepção de que essa é uma questão crucial para a sociedade. A consequência de não se pronunciar sobre ela é deixá-la em um vácuo que só tem trazido confusão.




Pequeno e precioso tratamento

22/08/2015 - Correio Braziliense


Um anel decorado com uma grande pedra preciosa pode impressionar, mas, ao menos no caso dos diamantes, o verdadeiro valor pode estar nos menores exemplares. Uma versão ultraminiaturizada desse cristal tem sido estudada por cientistas em diversas aplicações na medicina, que incluem exames de imagem de altíssima precisão e terapias personalizadas. A pequena figura poligonal produzida em laboratório é 7,5 mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo e pode ser projetada para assumir diferentes funções, inclusive levar combinações de medicamentos direto para as células do organismo. Se for adotada para o desenvolvimento de tratamentos reais, a tecnologia pode reduzir o tempo necessário para a criação de uma droga, além de diminuir os riscos e os efeitos colaterais causados por medicamentos mais agressivos. [ O uso das nanoestruturas de carbono na medicina ganhou destaque pela primeira vez em 2007, quando uma equipe de pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e do Argonne National Laboratory, nos Estados Unidos, estudou o potencial eletrostático dessas estruturas e como essa propriedade poderia ser útil na interação com outros materiais. Essas minúsculas joias têm formatos que lembram uma bola de futebol, uma configuração que permite que se se liguem a diferentes moléculas. Descobriu-se que os nanodiamantes não tinham aplicação somente na fabricação de supermateriais, mas também como um importante componente para potencializar o efeito de medicamentos.

Quando uma droga contra o câncer entra no organismo, por exemplo, grande parte dela é absorvida por células saudáveis, e muitas das moléculas que conseguem chegar às partes doentes do corpo sequer penetram nas estruturas inimigas. Da pequena parcela do medicamento que consegue de fato atingir o tumor, boa parte acaba expulsa pelas células malignas antes de conseguir derrotá-las.

Estudos em laboratório e em cobaias mostram que os nanodiamantes podem ser a arma que os medicamentos precisam para combater esse inimigo. Os cristais servem como um tipo de veículo, carregando as moléculas da droga através da barreira criada pelo tumor e garantindo que elas ficarão ali até executarem a sua função. O método demonstrou resultados positivos em testes de tratamentos contra o câncer no cérebro, uma área extremamente delicada e que oferece muitos riscos aos pacientes.

“A quimioterapia com os nanodiamantes permite que a atividade da droga fique restrita ao tumor, ao mesmo tempo em que evita que as moléculas tóxicas da droga se espalhem para outras partes do cérebro, o que resultaria em uma alta toxicidade”, explica Dean Ho, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles que estuda o uso dos nanodiamantes no tratamento de tumores cerebrais. “A quimioterapia comum é muito tóxica e causa grandes efeitos colaterais. Quando drogas como doxorrubicina são ligadas aos nanodiamantes, a atividade delas é atenuada ou blindada até que sejam liberadas”, descreve Ho.

Segurança

Em um experimento feito com ratos, os pequenos cristais provaram que podem tornar uma terapia invasiva, como a quimioterapia, mais segura aos pacientes. Uma dose letal do quimioterápico foi injetada em um grupo de animais com tumores, e outros bichos com câncer receberam a mesma quantidade de medicamento, mas combinada a nanodiamantes. Todos os animais que receberam a terapia tradicional morreram, enquanto os que foram tratados com a droga associada com os cristais sobreviveram.

Dean Ho trabalha no desenvolvimento de uma plataforma que permita o desenvolvimento de medicamentos combinados a partir da tecnologia dos nanodiamantes e que possibilitaria a criação de drogas mais seguras e personalizadas. “Nós usamos uma poderosa plataforma tecnológica para desenvolver combinações otimizadas de drogas”, explica o pesquisador, que descreveu o trabalho em um artigo publicado hoje na revista Science Advances.

Além do câncer, a ferramenta poderia ser usada para combater condições como problemas oftalmológicos e inflamações, além de agir na cicatrização e até mesmo na regeneração óssea. “Essas combinações se tornam ainda mais potentes se considerarmos a eficácia e a segurança dessas drogas quando elas são projetadas a partir de nanodiamantes”, observa Ho.

Para saber mais

Foco em outras nanoestruturas

Mais tipos de nanoestruturas são investigadas como possíveis ferramentas para uso em tratamentos médicos. Antes dos diamantes, os nanotubos de carbono já eram testados como veículos para o transporte de agentes terapêuticos. Esses cilindros são atraídos por tumores e conseguem penetrar as células cancerosas, possibilitando um tratamento mais eficiente e menos tóxico. Outra nanojoia da medicina são as partículas de ouro, que são revestidas com um composto que as ajuda a localizar o tecido doente dentro do organismo. Dentro das células malignas, o metal precioso absorve a radiação da radioterapia, amplificando o efeito do tratamento sobre o tumor. No Brasil, as tecnologias fazem parte de uma linha de pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A ação dessas nanoestruturas sobre células tumorais está sendo testada pelos pesquisadores brasileiros em tumores de difícil tratamento, como os de cabeça e pescoço. “Não podemos dizer que a nanotecnologia é algo do futuro, ela já é uma realidade”, ressalta Lídia Maria de Andrade, estudante de pós-doutorado do Laboratório de Nanometria do Departamento de Física da UFMG.




Os riscos do aborto ilegal

24/08/2015 - IstoÉ


A discussão sobre o aborto ainda é polêmica em muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil, onde a prática é ilegal. Um estudo divulgado na semana passada feito com 26 nações da América Latina, Ásia e África revelou dados assustadores em relação ao aborto. O levantamento joga luz sobre um assunto que deveria ser analisado independentemente de tabus. Segundo a Organização Mundial da Saúde, dos 22 milhões de abortos clandestinos realizados no mundo, 98% acontecem nas nações em desenvolvimento, causando a morte de 300 mil mulheres a cada ano. Já nos países desenvolvidos, onde em muitos há legislação que permite o aborto, é próximo de zero o número de mortes.




O DESEJO EM PÍLULAS

22/08/2015 - Veja


Vamos falar de sexo? A hora é boa e incontornável, com a liberação, na semana passada, pela FDA, o órgão americano regulador de remédios e alimentos, da flibanserina, um medicamento que será vendido, em forma de drágeas cor-de-rosa, a partir de outubro nos Estados Unidos com o nome comercial de Addyi. A pílula foi anunciada como atalho para estimular o apetite sexual feminino. O tempo responderá a uma dupla questão que naturalmente se impõe depois da estrondosa autorização: ela terá a força comportamental revolucionária dos anticoncepcionais deflagrada nos anos 60 ou, em escala menor, o impacto nas relações sexuais imposto pelo uso do Viagra, a partir da década de 90? Não e não, é o que se pode responder agora. E. no entanto, essas negativas. ao contrário de encerrar um capitulo, abrem uma extraordinária janela capaz de iluminar uma busca comu-mente associada a um tabu, feita de silêncios e recuos: a compreensão do funcionamento do desejo da mulher, algo que a ciência e os estudos da psique humana estão muito longe de traduzir adequadamente.

A flibanserina age diretamente no cérebro. O remédio atua de forma a aumentar a liberação de dopamina. composto associado ao prazer e à excitação, e reduzir a quantidade de serotonina, relacionada à diminuição do interesse sexual. Esse intrincado mecanismo de ação foi descoberto ao acaso. Em 2006. técnicos do laboratório alemão Boehrin-ger Ingelheim testavam um medicamento para a depressão. Em sucessivos experimentos, as voluntárias relataram um efeito colateral imprevisto — a melhora na vida sexual. A reação "adversa" (frisem-se aqui as aspas) surpreendeu os cientistas, já que antidepressivos tendem a apagar o fogo da libido. Desde então, a empresa mudou o rumo das pesquisas, investindo em estudos com o novo enfoque. Em 2010, contudo, a FDA barrou o lançamento comercial do remédio pela primeira vez (faria isso numa segunda oportunidade, até o recente aval). Desinteressada, a Boehrin-ger vendeu o medicamento quase na bacia das almas para a americana Sprout. Na última quinta-feira, dois dias depois do sim para o Addyi, a Sprout foi adquirida pela Valeant Pharmaceuti-cals. do Canadá, por 1 bilhão de dólares. Assustavam, nas recusas de comercialização do medicamento, os fortes efeitos colaterais apontados pelo próprio fabricante, como manda a legislação — a sedação, a queda da pressão arterial e os previsíveis desmaios decorrentes dessa condição. Mas o grande impeditivo foi a interação do remédio com bebidas alcoólicas. A combinação provoca uma baixa drástica e repentina da pressão arterial, podendo ievar à síncope. A Sprout, sem saída, foi forçada a ampliar os estudos clínicos. Cerca de 11000 mulheres participaram de ensaios com o composto. A FDA acatou as novas informações, verificou que os riscos estavam dentro de limites aceitáveis e cedeu — mas foi vencida mesmo por uma movimentação paralela. O laboratório americano coordenou uma agressiva campanha de marketing cuja ponta mais visível era um grupo feminista. As ativistas do Even the Sco-re ("empatar o jogo") chegaram a acusar publicamente a FDA de sexismo pela negação do pedido de aprovação do remédio. Da soma de trabalhos nos laboratórios e do lobby em um tema sensível à sociedade americana, deu-se o o.k. definitivo. A flibanserina agora liberada pela agência de saúde americana não é muito diferente da flibanserina anteriormente rechaçada. Os efeitos colaterais permanecem: 11% das mulheres sofrem com tonturas, outros 11% com so-nolência, 10% com náuseas e 9% com fadiga. E a antiga preocupação da FDA com a mistura ao álcool não só existe, como será estampada em letras garrafais nas embalagens. Impôs-se, ainda, como condição para a aprovação que tanto médicos quanto farmacêuticos recebam treinamento para compreender com profundidade a combinação nociva da medicação com bebidas alcoólicas. Para as mulheres que adotarem o Addyi, não há dúvida, sexo e bebida serão um casamento proibido. E a quem essa pilula vai ser indicada? Ela foi desenvolvida para mulheres que ainda não entraram na menopausa e que sofrem de um problema sexual especifico — o transtorno de desejo sexual hipoativo (TDSH). Em outras palavras, a falta crônica de libido. Ressal ve-se que a afecção tem origem fisiológica — não se trata, de modo algum, de problema comum a mulheres "emocio-nalmente imaturas", como afirmou erroneamente o pai da psicanálise, Sig-mund Freud, no início do século XX — embora nunca se deva esquecer a escassez de informações bioquímicas sobre o organismo humano então disponíveis para o gênio austríaco. O TDSH atinge cerca de 7% das mulheres. Para elas, um comprimido de 100 miligramas da flibanserina ingerido diariamente ao longo de pelo menos oito semanas resultará no aumento de uma relação satisfatória a cada 28 dias. Significa que uma mulher que tenha uma relação sexual prazerosa passará a ter duas nesse período. Duas se transformarão em três etc. É pouco? Não convém transformar sexo e sentimentos em estatísticas. Diz o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, diretor do Centro de Pesquisas Clínicas (CPClin), em São Paulo: "A medicação não é milagrosa, tem pouca eficácia em comparação ao placebo e possui efeitos colaterais relevantes. Mas é melhor ter algo que apresente alguma diferença do que não ter absolutamente nada". Tudo ou nada, a rigor tanto faz, cada mulher tem sua conta própria, única, personalíssima e inexplicável, ao menos em condições de saúde normais. Nas sábias palavras do sociólogo americano Tim Wadsworth, da Universidade do Colorado: "Vejo que as pessoas se preocupam mais em ter a freqüência sexual divulgada por amigos ao redor do que refletir sobre a assiduidade em si que gostariam de ter". Por atalho didático, rapidamente a flibanserina foi apelidada de "Viagra feminino". Como recurso semântico, é perfeito, faz todo o sentido. Mas está errado. Se a flibanserina, com sua capacidade antidepressiva, mexe com o circuito cerebral da libido, no caso do losango azul do Viagra, o funcionamento é mecânico, relaxando a musculatura do pênis, aumentando o aporte de sangue ao órgão e levando-o à esperada ereção. Convenhamos, é mais simples,mais fácil. A engrenagem da libido feminina é ainda um grande mistério. A lubrificação, vital para o sexo, é mero detalhe, embora boa parte dos homens não se dê conta dessa constatação. O intumescimento do organismo feminino é regido por uma delicada sinfonia de hormônios, neurotransmissores, receptores cerebrais e mais tantos outros elementos desconhecidos da ciência. Os problemas de irrigação sangüínea, os descontroles hormonais ou qualquer outra disfunção têm ainda como barreiras as repressões psicológicas e com-portamentais. É dura a vida da mulher se comparada à do homem. Como a flibanserina não pode ser posta em pé de igualdade com a pílula anticoncepcional, que promoveu enorme mudança na sociedade, é o caso de considerá-la como filha desse avanço monumental. Em 1968, a escritora americana Pearl S. Buck (1892-1973), Nobel de Literatura, disse: "Todo mundo sabe o que a pílula é. Um objeto pequeno, mas que pode ter um efeito mais devastador em nossa sociedade que a bomba atômica". Ela estava certa. O anticoncepcional facilitou o controle da natalidade e libertou a mulher. O orgas-mo, enfim, pôde ser dissociado do risco de engravidar. E o que se procura, agora, no limite, são mais orgasmos — mesmo que precisem ser induzidos com produtos químicos. Não é fácil, mesmo em tempos tão liberais, enfrentar o assunto publicamente, mas seria ainda mais complicado sem a bravura pioneira de gente que cutucou preconceitos. O biólogo americano Alfred Kinsey (1894-1956) causou furor ao mapear os hábitos sexuais de homens e mulheres numa monumental série de 18000 entrevistas. O célebre estudo, batizado de Relatório Kinsey, revelou que a masturbação era um hábito comum entre as mulheres. Mais: o clitóris, e não o canal vagi-nal, era o gatilho do prazer feminino. Uma revisão de seus dados, na década de 70, mostrou que nada do que ele publicou em seu primeiro relatório e no ainda mais polêmico Comportamento Sexual na Fêmea Humana, de 1953, pede revogação. Kinsey ajudou a derrubar os mitos sobre o prazer da mulher (que levariam seu tiro de misericórdia com outro relatório famoso feito nos mesmos moldes, pela feminista Shere Hite, nos anos 70). Ventilou, enfim, assuntos sobre os quais se guardava silêncio ou que se reservavam, na melhor das hipóteses, ao divã do psicanalista (Kinsey, aliás, detestava Freud, a quem considerava um mis-tificador). Pego em cheio pela onda moralista do macarthismo, Kinsey teve suas verbas cortadas e morreu logo em seguida, em 1956, aos 62 anos, sem testemunhar a revolução sexual da década seguinte, que ele indubitavelmente ajudou a impulsionar. Na cola de seu trabalho, vieram a psicóloga Virgínia Johnson e o gineco-logista William Masters. Entre 1957 e 1965, o casal americano mediu a exci-tação sexual de 382 mulheres e 312 homens. O trabalho, que revelou os mecanismos da lubrificação vaginal e do orgasmo, resultou em descobertas então ruidosas e hoje plenamente aceitas, como a de que as mulheres podem ter múltiplos orgasmos. É uma quimera imaginar que 100 miligramas diários de flibanserina possam resolver o mal-estar da civilização, as tais inadequações. Em um artigo publicado em 2010, a ensaísta americana Camille Paglia. critica inteligente do feminismo sem sutilezas, estabelece os limites do medicamento, pondo homens e mulheres em seus respectivos papéis nessa história. Camille: "A vida familiar pôs os homens burgueses em uma situação difícil. Eles são simplesmente engrenagens de uma máquina doméstica dirigida pelas mulheres. As mães contemporâneas são virtuosas superadministra-doras de uma complexa organização centrada no cuidado e no transporte das crianças. Mas não é tão fácil passar com um estalar de dedos do controle apolineo ao êxtase dionisíaco". Para ela, sem meias palavras, as empresas químicas nunca vão encontrar o Santo Graal de um "viagra feminino", a drágea levada aos céus na semana passada. "As inibições são teimosamente interiores. E a luxúria é demasiadamente impetuosa para ser deixada nas mãos do farmacêutico", anotou. Ela tem razão. Para um homem, o sexo é sempre mais simples. O que vai pela cabeça masculina, salvo exceções, tem apenas duas nuances. Para as mulheres, é tudo fascinantemente mais complexo, vai muito além dos cinqüenta tons. Uma charge popular nos anos 90. até hoje reproduzida (veja o quadro abaixo), mostra com didatismo as diferenças. No mundo masculino, há um único botão: liga/desliga. O feminino é um vasto e rico painel de controles dos mais variados tipos, incompreensível até que alguém acredite compreendê-lo. Não há, enfim, um remédio milagroso capaz de pôr desejo feminino onde ele inexiste, como também não há um que apague o prazer na marra. Dificilmente haverá. Diz Carmita Ab do. psiquiatra e sexóloga da Universidade de São Paulo (USP): "O novo remédio pode ser útil para uma parcela das mulheres, mas com certeza não será uma só pílula que vai servir para melhorar o desejo de todas". Não há dúvida, no entanto, de que o feito extraordinário da autorização anunciada pela FDA, para além de seu uso prático. foi iluminar uma discussão que nos acompanha desde sempre e não terminará. porque nunca sabemos o lugar certo onde pôr o desejo. No pequeno e belo conto Ruído de Passos, de 1974. Clarice Lispector apresentou dona Cândida Raposo, uma senhora de 81 anos de idade com "vertigem de viver" que "fora linda na juventude". Como o "desejo de prazer não passava", ela procurou um ginecologista. De Clarice: "— Quando é que passa? — Passa o quê. minha senhora? — A coisa. — Que coisa? — A coisa, repetiu. O desejo de prazer, disse enfim. — Minha senhora, lamento lhe dizer que não passa nunca. Olhou-o espantada.

— Mas eu tenho oitenta e um anos de idade! — Não importa, minha senhora. É até morrer. — Mas isso é o inferno! — É a vida, senhora Raposo.




Maioria das cesarianas no País é agendada

22/08/2015 - O Estado de S.Paulo


Mais da metade das cesarianas feitas no Brasil é agendada previamente pelos médicos, revelou a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013. De todos os 3,9 milhões de nascimentos entre 1º de janeiro de 2012 e 27 de julho de 2013, 54,7%, ou 2,1 milhões, foram por via cirúrgica. Dessas cesáreas, 53,5% haviam sido marcadas com antecedência durante o pré-natal, ou seja, não foram operações de emergência.

São casos em que a gestante não chega a entrar em trabalho de parto; por isso, o risco de prematuridade é aumentado.

Divulgada ontem, a pesquisa, realizada em 62.658 domicílios, mostrou também que o índice de agendamento na rede particular é de 74,2%. Nas unidades do Sistema Público de Saúde (SUS), fica em 35,8%. “Não se trata de criminalizar a cesárea, ela salva vidas. Mas o que se tem é uma marcação inaceitável com antecedência, um exagero que atende a outros interesses, que não são o da natureza”, criticou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, ao comentar os números, citando o índice de cesáreas recomendado pela Organização Mundial de Saúde (15%) e os registrados em países como a Alemanha (16%.

A PNS ainda mostra que 40% das mulheres brasileiras entre 50 e 69 anos não se submeteram a uma mamografia nos dois anos anteriores à coleta dos dados. A OMS preconiza que a cobertura seja de pelo menos 70%. O exame é aconselhado nessa faixa etária com essa periodicidade para a detecção precoce do câncer de mama, que é o mais frequente no Brasil.

Casos de câncer são vistos como ‘rotina’ em Lagoa Real 23/08/2015 - O Estado de S.Paulo

Ao longo da estrada de terra que deixa a praça central de Lagoa Real e avança para a zona rural do município, onde vivem 80% de seus 15 mil habitantes, a caatinga é cortada por uma série de casas de taipa,erguidas com barro emadeira. Muitas delas, conforme pôde ser verificado pela reportagem, foram abandonadas por famílias que enfrentaram casos fatais de câncer.

Estudos realizados até agora não apontam vínculo entre a exploração da mina de urânio pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e os casos de câncer na região. O crescimento de tratamentos relacionados à doença, no entanto, já é claramente sentido pela prefeitura de Lagoa Real.

O secretário municipal de Meio Ambiente,Willike Fernandes Moreira, relatou que os casos de câncer passaram a ser tão frequentes na região que atualmente absorvem a maior parte dos recursos que a prefeitura dispõe para a área de saúde.Como são complexos, o dinheiro é gasto com as duas ambulâncias da cidade, que levam pacientes para serem tratados em Salvador, a 620 quilômetros de distância, ou até mesmo em São Paulo, a 1.420 km. “É uma situaçãograve.Nós não temos dados oficiais de câncer na região, mas sabemos que está matando muito”, disse Moreira.

“(Os casos) já são uma rotina de assistência para a prefeitura, infelizmente. Às vezes, conversamos com os motoristas das ambulâncias. Eles ficam abismados com o número de biópsias”, disse o secretário. “Há mais de 15 anos, não se ouvia falar nisso. Agora é o tempo todo, mas a causa disso a gente não sabe qual é. Não podemos culpar ninguém, nem mesmo o urânio. Mas que é algo muito preocupante, isso é.” Em Caetité, na comunidade conhecida como Riacho da Vaca, ao lado da mina de urânio da INB, mora Elenilde Alves Cardoso, que há 19 anos é agente da Secretaria Municipal de Saúde.

Seu trabalho é visitar a populaçãolocal,identificar problemas de saúde e dar encaminhamento.

“Temos só 50 famílias nessa vila,180 pessoas.Dessas,27passaram a ter problemas de hipertensão”, disse. “Tem acontecido de crianças nascerem com anomalias.Também é muito comum animais nascerem com problemas de formação.No último ano, tivemos dois casos de óbito por causa de câncer.” Morador de Lagoa Real, Sebastião José Gerino conta que, dois meses atrás, sua filha, que está grávida de 7 meses, perdeu o marido, de 33 anos. Entre a descoberta do câncer e a morte, foram 45 dias. “As pessoas falam muita coisa sobre as causas da doença, mas é difícil saber o que aconteceu”, disse.

Fiocruz. Um relatório divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em abril de 2014 se propôs a fazer um levantamento de casos de câncer na região,mas enfrentou limitações, por causa das dificuldades em coletar dados oficiais. O estudo, que teve participação da organização francesa Commission de Rechercheetd’Information Indépendantes sur la Radioactivité (Criirad), registrou oficialmente 21 casos de câncer na região da mina de urânio entre 2005 e 2014. Outros 113 casos foram levantados desde o início da exploração da mina, em 2000, mas não puderam ser confirmados, por causa de restrições,como falta de documentação fornecida pela família.

Segundo os especialistas,é comum a situação em que óbitos e tratamentos de câncer são registrados em outros locais, como Salvador e São Paulo, para onde segue a maioria dos pacientes. Moradora a poucos metros da cerca que delimita a área restrita da INB, Vidália Maria de Jesus, de 62 anos, diz que apoia a presença da INB. “As pessoas falam da água daqui, mas a gente ouve da INB que não tem problema. Então, eu acho que não tem mesmo.Doençaécoisaque anda no mundo, seu menino.

Não fica parada assim não”,afirmou ela, que também tem um filho empregado nas instalações da estatal federal.

“Eles ajudam a gente, trazem uma cesta básica de vez em quando, dão um pão pra gente, então não pode reclamar, não está certo”, disse Vidália. “Eu vou construir uma casinha bem ali, do lado da mina.”




Gestantes chinesas fazem SUS 'falar' mandarim em SP

23/08/2015 - Folha de S.Paulo


"H? shui! H? shui!", repete a enfermeira Patrícia Pinheiro às gestantes que passam pelo pré-natal na UBS (Unidade Básica de Saúde) da Sé, nos arredores da avenida do Estado, no centro de SP.

A recomendação para que as grávidas bebam água é feita assim mesmo, em mandarim, a um contingente cada vez maior de chinesas que chegam ao local.

Segundo dois médicos, duas enfermeiras e uma tradutora ouvidos pela Folha, as imigrantes relatam a expectativa de, com um filho brasileiro, garantirem a permanência no país –a lei veta a expulsão de pais de crianças nascidas em território nacional.

"Assim como muitos brasileiros buscam ter filhos em outros países, o mesmo ocorre com estrangeiros aqui. É comum", diz Clóvis Silveira Júnior, médico e coordenador das unidades de saúde municipais no centro de SP.

Além da busca pelo visto, também contribuem para a alta no movimento de chinesas a atuação de tradutores contratados pelas pacientes e o fluxo migratório em si –atualmente são mais de 58 mil chineses legalizados no país, segundo o Ministério da Justiça, sem contar os que estão em situação irregular ou em estágio de regulação.

COMUNICAÇÃO

As grávidas chinesas também buscam consultórios particulares, mas as unidades do SUS registram o maior movimento –principalmente a UBS da Sé, aonde vão mulheres que trabalham no varejo da rua 25 de Março, e a maternidade estadual Leonor Mendes de Barros, no Belém.

Segundo Andréa Garanito, gerente da unidade municipal, cerca de 100 dos 300 pré-natais ativos na UBS são de mães chinesas –há cinco anos, havia a metade disso.

Em uma tarde de quinta-feira, a Folha encontrou, em pouco mais de uma hora no local, sete delas.

Quase todas tinham receio de falar. Uma exceção era a dona de casa Weini Zhou, 33, mãe do menino Lucas, de dez meses, que estava ali buscando ajuda para o filho com dores no ouvido.

Em chinês, traduzido por sua amiga, Weini diz que seria mais fácil se houvesse um tradutor fixo no consultório, mas que o esforço da equipe de saúde ajuda.

Para minimizar a dificuldade de comunicação, a UBS editou uma cartilha em mandarim com recomendações para o pré-natal e os cuidados após o parto –medida que também será adotada pela maternidade Leonor Mendes de Barros, segundo o diretor, Corintio Mariani Neto. Os ideogramas explicam, por exemplo, que a amamentação reduz sangramentos comuns no pós-parto e o risco de doenças como câncer de mama, diabetes e anemia.

Segundo médicos, muitas imigrantes amamentam os filhos por pouco tempo. A lista de particularidades inclui ainda resistência a ultrassom e interrupção de relações sexuais durante a gestação (leia texto na pág. 3).

IMPROVISO

O desafio é superar as diferenças culturais sem falar a mesma língua. Nessas horas, se a cartilha não dá conta, os profissionais apelam a dicionários, tablets, mímicas, Google Tradutor –e, se nada funcionar, à imaginação.

"Tem vez em que a gente até desenha uma lua para indicar que a medicação deve ser tomada à noite", diz a enfermeira Patrícia.




Acompanhante cobra R$ 50 por consulta

23/08/2015 - Folha de S.Paulo


Há seis anos, Hsu Hui Min, 60, trabalhava como dentista em São Paulo. Mas decidiu mudar de atividade quando uma amiga chinesa indagou se ela conhecia alguém que poderia atuar como tradutora em uma consulta médica.

Hoje, ela, que é conhecida entre brasileiros como Noemi, cobra R$ 50 sempre que alguma cliente sua chinesa precisa ir ao médico.

"Elas não sabem nada de nada aqui do Brasil, nem aonde ir nem como andar de metrô. Eu ajudo, busco em casa e faço a tradução", diz ela, com sotaque carregado, mesmo depois de décadas morando por aqui.

Na última semana, Hsu acompanhava as gestantes Shuixia Wang, 29, e Yanju Han, 30, em consultas de pré-natal, na UBS da Sé. As duas são donas de casa e mulheres de comerciantes que vieram explorar o mercado popular na região da 25 de Março e do Brás.

Há dois anos no Brasil, Yanju, que espera o primeiro filho, pouco aprendeu da língua portuguesa. Quando muito, diz um encabulado "brigada" aos profissionais de saúde. Sua amiga Shuixia está há oito meses no país e ainda não aprendeu nenhuma palavra local.

Por isso, as duas contrataram os serviços de Hsu, que entra na sala de consultório e acompanha a consulta. Ela traduz as dúvidas das gestantes e as recomendações de enfermeiros e médicos.

A tarefa só é interrompida quando o celular de Noemi toca –o que não é raro. "É assim o dia todo. A gente quase não dorme de tantos casos para atender", afirma.

Ela diz ter atualmente cerca de cem gestantes chinesas como clientes em São Paulo.

Segundo Hsu, em geral, essas imigrantes acreditam que o SUS, por ser controlado pelo governo, é mais confiável do que um consultório privado –pensamento que seria um reflexo da cultura do Estado chinês.

"Aqui é bom, porque elas encontram todos os serviços num mesmo lugar", diz Hsu na UBS da Sé. Ela admite, no entanto, que gestantes com mais dinheiro acabam indo a médicos particulares.

Enquanto isso, o SUS não nega atendimento às imigrantes, pois o sistema de saúde foi desenvolvido para ser universal, sem distinção entre brasileiros e estrangeiros residentes no país.

GOLPES

A dificuldade das chinesas com a língua dá margem à atuação de oportunistas.

A enfermeira Andréa Garanito conta que, certa vez, uma chinesa grávida chegou acompanhada de uma peruana, que havia prometido fazer a tradução da consulta.

"Quando nós falamos que o exame de sangue da chinesa não estava bom, a peruana começou a fazer mímicas e gritou: 'Sangue. Ruim'. Em português", conta. "Para fazer mímica, eu mesma faço", diz. "Se for para se fazer de tradutora, aqui ela não entra mais."




Plantão Médico: Música é um remédio bom e barato

22/08/2015 - Folha de S.Paulo


Música ajuda na recuperação de pacientes no pós-operatório de cirurgias. Reduz a dor e a ansiedade, mas não é usada rotineiramente nas centros cirúrgicos.

A música também é de efetiva ajuda quando os pacientes estão sob anestesia geral, referem Jenny Hole e colaboradores na revista "Lancet", com base em revisão de 4.261 trabalhos publicados sobre este tema, com cerca de 7.000 pacientes.

A música na sala de cirurgia é diferente da musicoterapia, um método de reabilitação cognitiva, entre outras ações, segundo a Associação Britânica de Musicoterapia.

Estudos mostram que música antes da operação reduz a ansiedade e no pós-operatório o paciente tem redução da necessidade de remédios para dor.

Segundo os autores, mesmo durente anestesia geral algumas áreas do cérebro relacionadas à audição podem estar perceptivas.

Como a música previne o estresse pós-traumático da cirurgia sob anestesia geral, reduzindo a ansiedade, ainda não está claro. O que parece claro é que música na cirurgia é uma intervenção não invasiva, segura, barata e bem sucedida.

A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), presidida pelo professor Celso Lafer, investiu no ano passado R$ 1,153 bilhão em fomento à pesquisa.

O relatório das atividades em 2014 está disponível em www.fapesp.br/publicacoes.




Costumes da política do filho único desafiam equipes de saúde

23/08/2015 - Folha de S.Paulo


Quando chegou a sua consulta pré-natal, na UBS da Sé, Yajun Han carregava consigo uma garrafa térmica com água quente. Baseada em interpretações da medicina tradicional chinesa, Yajun diz que o líquido quente serve para manter os órgãos saudáveis, o que ajudaria no desenvolvimento bebê.

"As chinesas atendidas aqui não têm o costume de beber água. E, quando bebem, é água quente. Demorou até que a gente entendesse o motivo. No Brasil, a gente sempre recomenda água fresca para as pessoas", diz a enfermeira Patrícia Pinheiro, que trabalha na unidade.

Além da barreira da língua, profissionais de saúde ouvidos pela Folha relatam que há outros abismos culturais entre o Brasil e a China nos cuidados durante a gravidez.

Segundo o ginecologista e obstetra Hsu Chih Chin, 55, muitas chinesas chegam a seu consultório, na Vila Olímpia (zona oeste de SP), acreditando que não se pode engravidar duas vezes num intervalo de cinco anos.

Para Chin, esse é um dos muitos boatos disseminados na China, na esteira da rígida política estatal de controle de natalidade.

"Algumas mães têm medo de fazer ultrassom, porque acham que o exame pode afetar o desenvolvimento da criança." Para Chin, essa ideia surgiu da recomendação que médicos chineses recebem de não revelar o sexo das crianças aos pais.

Na China, desde o final da década de 1970, está instituída a política do filho único, que, com algumas exceções, impõe multas pesadas a casais que tenham mais de uma criança.

A política de controle do crescimento populacional, que tem se flexibilizado nos últimos anos, causou enormes desequilíbrios demográficos no país e uma série de abortos. Na imensa maioria, os fetos são de meninas, que são preteridas pela família.

A preferência pelo sexo masculino é sentida até nos consultórios brasileiros. "Muitas mães ficam deprimidas ao saberem que estão esperando uma menina. A gravidez de uma menina muitas vezes não é um evento feliz para a família", conta a enfermeira Patrícia.

Outra prática mantida pela comunidade chinesa no Brasil é a abstenção ao sexo durante a gravidez.

Com medo de prejudicar o bebê, as mães evitam ter relações sexuais com o marido. Quando isso ocorre, não é raro que as chinesas concedam que os maridos tenham outras parceiras temporárias.

"Sem métodos contraceptivos, como a camisinha, aumenta a probabilidade de contração de uma doença sexualmente transmissível", explica Patrícia.

LEITE MATERNO

Após o parto, as diferenças culturais continuam. Enquanto médicos brasileiros incentivam exercícios leves após o nascimento do bebê, o costume chinês é de repouso absoluto durante praticamente um mês. "Muitas ficam em quartos sem ventilação", relata o obstetra.

Outro hábito é o da amamentação breve das crianças. É comum ver famílias chinesas alimentando bebês de apenas três meses de vida com leite em pó misturado a ovo de codorna.

A interrupção precoce da amamentação é foco de atenção até do governo chinês, que estuda combater a cultura do leite em pó.

Em 2014, a China anunciou que apenas 28% das crianças de até seis meses de idade são alimentadas exclusivamente com o leite materno. Segundo o governo local, a forte urbanização causou uma mudança na cultura chinesa e a abreviação do período de amamentação.

No Brasil, a alimentação exclusiva por leite materno até os seis meses ocorre em 41% dos casos, segundo dados do Ministério da Saúde.




Ainda a justiça para os doentes

23/08/2015 - Folha de S.Paulo


O governo federal anunciou a inclusão de um novo tipo de tratamento da hepatite C, mas só os casos mais graves terão direito aos medicamentos.

Há 19 anos esta Folha publicou um artigo de minha autoria ("Justiça para os doentes", Tendências/Debates, 13/7/96) que abordava um novo tratamento para pacientes infectados com o vírus da Aids, combinando três diferentes medicamentos em associação. À época, alertei para a questão dos custos envolvidos na compra das medicações pelo governo, mas observei que não seria justo excluir os soropositivos da oportunidade de se tratarem com as novas drogas.

Quase duas décadas depois, já está mais do que comprovada a eficácia da estratégia de tratamento universal adotada pelo Brasil e reconhecida pela OMS (Organização Mundial de Saúde). O avanço da medicina também contribuiu para a formulação de novas drogas contra uma epidemia tão importante como a Aids, que é a das hepatites virais.

Em julho, o governo federal anunciou a inclusão de um novo tipo de tratamento contra a hepatite C, uma combinação de medicamentos que proporciona chances de cura superiores a 90%, contra 46% da terapia atual, sem droga injetável, além de menos efeitos colaterais.

O tempo de uso das medicações pelos doentes também cai de um ano para apenas três meses e, nos casos mais graves, seis meses.

Um avanço, sem dúvida. Pena que o Ministério da Saúde vai limitar a distribuição desse novo tratamento. Terão direito somente os casos mais graves. Os demais infectados com o vírus C, a priori, não terão acesso ao atual tratamento disponível na rede pública. O ministério deverá comprar em torno de 30 mil novos tratamentos nesse ano para os pacientes de todo o país. Fazendo-se a conta, calculamos que o número de tratamentos a ser disponibilizado para São Paulo representa uma quantidade muito aquém da real necessidade.

Quando as pessoas com hepatite C descobrem que o SUS (Sistema Único de Saúde) passou a distribuir um tratamento com altíssima eficácia e reais chances de cura, todas querem, o que é justo. A maioria, no entanto, vai receber a negativa e o resultado provável será uma enxurrada de ações judiciais obrigando o Estado a disponibilizar os medicamentos, o que já está ocorrendo.

Estima-se que o país tenha ao menos 1,5 milhão de casos de hepatite C. No Estado de São Paulo, nos últimos 15 anos, foram notificados 68,3 mil casos –isso representa somente 0,1% da população paulista. Como as estimativas da OMS apontam que 3% da população mundial está infectada com o vírus, acreditamos que o número de casos em São Paulo é maior do que as estatísticas oficiais apontam.

Por isso lançamos um censo inédito que tem como objetivo mapear o real número de pessoas com hepatite C no Estado e, assim, ampliar e fortalecer as políticas de prevenção e tratamento da doença.

Os infectados com o vírus da hepatite C de todo o Estado deverão preencher um cadastro on-line, disponível no site da Secretaria da Saúde. As informações pessoais serão mantidas em sigilo e utilizadas somente para esse levantamento.

É louvável que o país inclua novas terapias, mais eficazes, na rede pública. No caso da hepatite C, ao estabelecer protocolos tão limitadores, a União perde a oportunidade de avançar de forma consistente no enfrentamento da epidemia ao buscar uma economia de recursos.

Essa economia tende a se transformar em gastos muito maiores para atender aos mandados de segurança que serão impetrados pelos doentes. Diferentemente da Aids, que à luz dos conhecimentos atuais os medicamentos são para vida toda, a hepatite C tem cura.




Experiência no SUS elevará nota de cursos de medicina

24/08/2015 - Folha de S.Paulo


O governo quer aumentar a nota de cursos de medicina que tiverem maior número de professores com experiência de trabalho no SUS.

A atuação docente na rede pública é um dos novos indicadores que devem ser levados em conta na avaliação das escolas médicas no país, segundo proposta dos ministérios da Educação e Saúde.

As medidas irão compor o chamado "conceito de curso", avaliação da qualidade das graduações definida por equipes técnicas do governo após visita in loco, e cujas notas variam entre 1 e 5.

Pela proposta, cursos nos quais 50% do grupo de professores têm, no mínimo, cinco anos de experiência de trabalho no SUS ganham nota máxima neste quesito.

Já aqueles em que menos de 20% dos docentes têm essa experiência levariam a nota mais baixa, 1. Caso houver menos de 30%, a nota é 2, e assim sucessivamente.

Elaborado pelo Inep (instituto do MEC), as mudanças no "instrumento de avaliação de cursos de graduação" passarão por consulta pública.

A ideia é receber sugestões até o início do próximo mês e verificar os novos critérios de qualidade já em 2016, ano em que todos os cursos da área de saúde –como odontologia, farmácia e nutrição– passarão pelo pente fino do governo federal.

Hoje a visita in loco ocorre apenas em cursos com nota insuficiente (1 e 2). Somente de medicina, são 214 graduações avaliadas, segundo dados mais recentes, de 2013.

A área, no entanto, vive uma expansão acelerada de vagas desde o lançamento do programa Mais Médicos –o que tem gerado polêmica sobre a qualidade das futuras escolas médicas.

NOVOS INDICADORES

Ao todo, foram incluídos 15 novos indicadores em um total de 60 que serão usados para se verificar a qualidade do curso em instituições públicas e privadas.

Entre eles, além da experiência docente, estão a quantidade de atividades práticas ao longo da formação e o formato do estágio.

A nota pode ser maior se até metade da carga horária do estágio ocorrer em medicina da família e urgências –onde o médico atua principalmente em unidades básicas de saúde e pronto-socorro.

Outro indicador é que, quanto melhor a inserção do estudante e a condição da rede de saúde –seja pela organização do trabalho, seja pela infraestrutura–, melhor o desempenho do curso.

Alunos de medicina também devem ter no currículo aulas de "segurança do paciente", que visa evitar erros médicos e de prescrição.

Algumas alterações, no entanto, são propostas para todas as graduações da área de saúde. Entre elas está a "responsabilidade social".

Esse item pretende analisar a relevância do ensino, de forma que os alunos tenham atenção especial, por exemplo, para as doenças mais prevalentes na comunidade ou região e seu impacto sobre os indicadores de saúde.

MUDANÇAS

Segundo o Ministério da Saúde, as "adequações" foram necessárias após mudanças nas diretrizes curriculares de medicina em 2014.

O currículo foi alterado na esteira da lei do Mais Médicos, que previa, entre outras coisas, a realização de uma avaliação dos estudantes a cada dois anos.

O presidente da Abem (Associação Brasileira de Educação Médica), Sigisfredo Brenelli, vê com ressalvas alguns dos novos itens.

"O fato de trabalhar por cinco anos no SUS não qualifica alguém para ser um bom professor", afirma.

Para Brenelli, a inclusão do indicador não pode diminuir a importância de outros fatores já avaliados, como a exigência de docentes com títulos de mestrado e doutorado, por exemplo.




Uma nova luz sobre a depressão

22/08/2015 - Folha de S.Paulo Online


Colunista: Luiz Caversan

Recente artigo publicado em "The Atlantic" - uma das mais antigas, prestigiosas e bem feitas revistas do mundo - dá conta de que, finalmente, abre-se um novo caminho no combate à depressão.

Depois de anos girando em torno de um certo tipo de medicamentos, os mais eficientes criados até agora, diga-se, mas que não conseguiam avançar em muitos casos da doença, crânios do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos estão a estabelecer um novo paradigma no enfrentamento deste que já foi chamado de mal do século (20), cuja história é tão antiga quanto a da medicina e que só muito recentemente tem permitido que seus portadores pudessem sair (ainda não totalmente...) da escuridão do preconceito e do estigma em direção de uma vida mais digna.

Até agora, buscou-se medicamentos e terapêuticas que atacassem a depressão como um todo, numa abordagem apelidada de "one size fit all", ou seja, algo "tamanho único" ou um só tratamento para todo mundo com depressão. O futuro, garantem os especialistas americanos, é detectar, abordar e tratar cada sintoma da doença especificamente.

Esta é uma grande novidade.

O novo sistema, criado pelo cientista Bruce Cuthbert, foi batizado de RDOC, sigla em inglês para Critérios de Domínio da Investigação, e surgiu do enfrentamento de uma constatação mais ou menos óbvia, ou seja, a de que os tratamentos mais modernos da depressão atacam todos os sintomas ao mesmo tempo, prioritariamente trafegando no campo dos neurotransmissores, de preferência atuando para aumentar a produção e/ou a circulação da serotonina no organismo, para aumentar o bem estar do paciente.

Acontece que estes medicamentos, os chamados ISRS, ou inibidores seletivos de recaptação da serotonina, nem sempre atingem o objetivo almejado, demonstrando que em muitos pacientes o problema não se restringe (ou não tem a ver mesmo com...) à serotonina.

Antes disso, uma outra constatação sempre intrigou os cientistas, que é o fato de que diferentes pessoas com depressão apresentarem sintomas diametralmente opostos. Como tratar com o mesmo remédio alguém que vive com sono e alguém que tem insônia permanente, alguém que come descontroladamente e engorda e alguém que perdeu completamente o apetite e emagrece, uma pessoa que passa o dia todo muito triste e outra que alterna momentos de tristeza profunda com outros de perfeita normalidade?

Numa definição para leigos, Cuthbert disse à "Atlantic" que encarar todas estas pessoas da mesma maneira seria como "comparar maçãs, peras e tangerinas..."

Ao enxergar cada "fruta" com suas propriedades e características específicas, este sistema pretende justamente avançar na individualidade de problemas que não têm sido satisfatoriamente solucionados.

Por exemplo, pacientes com depressão profunda respondem bem aos medicamentos à base de ISRS, enquanto portadores de transtornos leves não melhoram. Pior: em muitos casos _ como foi o meu próprio, anos atrás - não só o problema não se resolve, com surgem diversos outros, provocados pelos efeitos colaterais de medicamentos como Prozac ou Zoloft etc.

Como tudo nesta área, as coisas não andam muito depressa, mas a mudança de conceito no seio de uma instituição tão importante como a entidade americana é muito significativa, o que é mais emblemático para mim, que por interesse próprio acompanho este tema há quase duas décadas, é que esta abordagem se aproxima muito, conceitualmente, de um sentimento absolutamente comum aos deprimidos, que é o de que seu mal é particular, único, pessoal, específico, profundo e aparentemente sem solução.

Talvez, afinal de contas, não seja...




Refrigerante está na dieta de até 32% das crianças

22/08/2015 - O Estado de S.Paulo


Laís Helena tem 10 meses e sua dieta inclui bolo, biscoito recheado e refrigerante.Amenina tem dois irmãos mais velhos – Gustavo, de 5 anos, e Beatriz, de 10 – e quer consumir o mesmo que eles, justifica a mãe. “Ela pega da mão dos irmãos. Criei os mais velhos comendo tudo isso, e hoje eles estão saudáveis. Quando dou refrigerante, eu diluo em água”, conta a dona de casa Bianca de Paula, de 27 anos, sem se dar conta do sobrepeso da primogênita.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde 2013, os hábitos alimentares de Laís Helena são comuns no País. Seis em cada dez crianças com menos de 2 anos já comeram biscoito, bolacha ou bolo e 32% já beberam refrigerante ou suco industrializado.

No Sudeste e no Centro Oeste estão os piores índices.

Os adultos também estão se alimentando mal, e se exercitando pouco. Uma comparação entre as Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs) realizadas pelo IBGE nos períodos 2002/2003 e 2008/2009, com a PNS, mostra a evolução do sobre peso e da obesidade dos brasileiros de mais de 18 anos: de 2002 a 2013. Os gordinhos passaram de 42,4% para 57,3% da população, no caso dos homens, e de 42,1% para 59,8%, no das mulheres.

A obesidade subiu de 9,3%para 17,5%, entre os homens, e de 14% para 25,2%,entre as mulheres.São 82,4 milhões de brasileiros com excesso de peso e 30,1 milhões de obesos. A classificação é pelo Índice de Massa Corporal (divisão do peso do indivíduo pelo quadrado da altura).

Dos homens de 55 a 65 anos, 64,5% estão acima do peso; entre as mulheres da mesma faixa, a taxa é de 71,4%.A circunferência abdominal aumentada (mais de 88 centímetros para mulheres e 102 centímetros para homens) acomete 37,7% dos brasileiros, sendo mais grave dos 65 aos 74 anos, quando atinge 56,3% da população.

Os resultados relacionados aos bebês e aos adultos estão ligados. Uma criança que se alimenta mal tende a perpetuar o sobrepeso, lembrou Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, considerou os dados alarmantes e chamou a atenção para o risco de o Brasil ter mais obesos no futuro,em decorrência dos maus hábitos alimentares das crianças pequenas. Ele citou a propaganda de alimentos industrializados como um fator que contribui para as escolhas ruins dos pais.

Amamentação. Aliado à má alimentação está também o pouco tempo de amamentação. Apenas 49,4% dos bebês ainda eram amamentados pelas mães entre 9 e 12 meses, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, quando o recomendado pela OMS é que o aleitamento continue até 2 anos, pelo menos.

Vacina. A pesquisa fez questionamentos ainda sobre vacinação. Apurou que 24,1% dos bebês com 1 ano não haviam tomado as doses da vacina tetravalente, que evita difteria, tétano, coqueluche e meningite.




Cadastro de especialidades tem acordo

22/08/2015 - O Estado de S.Paulo


Depois de momentos de tensão na semana passada, governo e entidades de classe chegaram a um acordo sobre as regras para criação do Cadastro Nacional de Especialistas. O novo texto, que deverá ter os detalhes finais acertados no início da próxima semana, foi acordado em reunião entre integrantes dos Ministérios da Saúde e da Educação e entidades médicas. A versão que será apresentada atende às reivindicações de associações e retira o artigo,considerado polêmico, que permitia a criação de critérios de equivalência entre cursos de especialidade médica e acadêmicos.

“A ideia era permitir que títulos de especialidades,com algumas alterações, pudessem também ser aproveitados para obtenção de títulos de mestrado e doutorado, não o oposto”, afirmou o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Heider Pinto. “Para evitar confusões, isso foi retirado.” O diretor da Associação Médica Brasileira, Diogo Sampaio, disse estar satisfeito com as alterações.

Prevista na Lei do Mais Médicos, a criação do cadastro de especialistas foi feita por meio de um decreto, publicado há duas semanas. A versão inicial, no entanto, irritou entidades médicas que viram no texto uma série de brechas para que o governo ampliasse seus poderes na regulação dos cursos de especialidades médicas.

Decretos. Diante do descontentamento das entidades, um decreto legislativo foi apresentado para anular os efeitos do decreto presidencial. A proposta não chegou a ser votada. O ministro da Saúde,Arthur Chioro, negociou com o setor e com parlamentares,um grupo de trabalho foi criado e a nova versão do texto, foi agora acordada. “O importante é termos a adesão de todos”, disse Pinto. A nova versão do texto prevê um cadastro com base de dados distintas.Em uma delas, ficarão contidas as informações sobre especialidades. Em outra, os dados sobre títulos acadêmicos.




Longe da escola e grávida

23/08/2015 - O Estado de S.Paulo


Nova rodada da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada pelo IBGE na sexta-feira, reforça que a associação entre a gestação na adolescência e baixa escolaridade segue forte no Brasil. A PNS fez extensiva investigação em mais de 80 mil lares em 2013. A idade da primeira gestação no País aconteceu, em média, aos 21 anos. Entre as garotas com menos tempo na escola, essa idade foi de 19 anos.

O uso de métodos contraceptivos também foi mais baixo entre as menos instruídas. Naquelas com ensino fundamental incompleto, menos da metade já havia usado alguma forma de prevenção da gestação. Esse número salta para quase 70% entre aquelas com ensino superior completo.

Em julho, relatório da Unicef (Plataforma dos Centros Urbanos), já comentado nessa coluna, com dados de oito capitais, revelou que em algumas áreas do País 1 em cada 4 partos acontece em mães entre 10 e 19 anos.

Os dados da Unicef já mostravam a ligação da gravidez na adolescência com a exclusão social. As garotas jovens eram mães de 8 em cada 100 bebês que nasceram nos territórios com baixa incidência de gravidez na adolescência, ou seja, regiões em que as condições de vida são melhores. Essa proporção subia para 26 em cada 100 bebês (aumento de 2 vezes) nos territórios onde as condições são mais precárias.

Em São Paulo, por exemplo, dados do Datasus, de 2012, mostram que em bairros da região central, com bom acesso da população à educação e proteção social, a taxa de gravidez na adolescência é de menos de 1%. Já na periferia, com menos equipamentos de educação, lazer e cultura, esse número ultrapassa 18%.

Embora nas últimas décadas o País tenha conseguido diminuir, de forma importante, as taxas de gravidez na adolescência, ela ainda é uma questão preocupante em determinadas regiões (como Norte e Nordeste), em determinados territórios (áreas mais pobres dos centros urbanos) e nas populações com menor acesso à educação.

Diferenças seguem na vida. Outros dados da PNS sugerem que essas diferenças continuam ao longo da vida das mulheres: entre as adultas, na faixa dos 18 aos 49 anos, quase 70% já tinham engravidado pelo menos uma vez na vida. Já entre as que não completaram o fundamental, esse número é mais elevado: 87%. O número de abortos espontâneos e provocados também é mais alto nas mulheres com menor instrução. Ainda de acordo com o IBGE, essas taxas também são mais elevadas na população negra, quando comparadas à população branca.

A distância da escola é apenas um dos indicadores das dificuldades enfrentadas por essas garotas. A ausência de um projeto de vida, a precariedade da estrutura familiar, a falta de poder de decisão frente ao parceiro, as falhas de informação sobre contracepção, a maternidade como um “papel” no mundo, a ilusão de que vão estabilizar a relação com o pai da criança, entre outras situações, só reforçam essa exclusão social.

Se a distância da escola aumenta as chances da gravidez na adolescência, a gestação nessa fase da vida também afasta essas meninas ainda mais da escola. A maternidade precoce é a principal causa de evasão escolar. É uma espécie de círculo vicioso, que só aumenta os percalços que boa parte dessas garotas segue enfrentando no seu dia a dia.




Médicos cubanos em fuga

23/08/2015 - O Estado de S.Paulo


Trabalhar na Venezuela, país onde eles tinham de ficar horas na fila para comprar comida, qualquer gesto, por menor que fosse, era bem-vindo. Por isso, Félix Pérez, sua filha e dois colegas - trabalhadores da saúde cubanos - agarraram imediatamente a oportunidade quando foram convidados para almoçar na casa de um vizinho.

Mas, mais tarde, seus supervisores os acusaram de compartilhar uma refeição com um membro da oposição venezuelana. “Levaram nossos celulares e nossos passaportes. Praticamente tiraram tudo para que não pudéssemos nos comunicar”, conta Pérez, um especialistas em reabilitação de 50 anos. “Sabíamos que encerrariam nossa missão e nos mandariam de volta a Cuba, então decidimos fugir para a Colômbia.”

Nesta florescente capital, eles aguardavam uma passagem rápida e segura para os Estados Unidos graças ao Programa de Liberdade Condicional para Profissionais Médicos cubanos, de 2006, criado especialmente para os trabalhadores da saúde da ilha. Mas, seis meses mais tarde, Pérez e seus colegas ainda aguardam uma resposta da embaixada americana. Seu dinheiro acabou e eles passam os dias jogando baralho numa casa abarrotada de gente, outros cubanos também presos no limbo.

Exilados aqui, afirmam que foram registrados cerca de 250 trabalhadores cubanos da saúde em Bogotá à espera de ir para os EUA. A maioria acredita que seu caso será resolvido dentro de 30 a 90 dias, mas alguns chegam a esperar sete meses por uma resposta, ou simplesmente são recusados.

Os jornais Miami Herald e El Nuevo Herald visitaram cinco casas onde dezenas desses trabalhadores vivem amontoados em espaços mínimos. Esses homens e mulheres são o rosto da ajuda internacional de Cuba. A ilha começou enviando brigadas médicas ao exterior em 1963. Desde então, cerca de 132 mil médicos trabalharam no exterior, segundo um artigo de 2014 do jornal oficial Granma. Atualmente, são mais de 50 mil.

Os governos pagam à ilha comunista pelo envio dos médicos, que deste modo se tornam uma importante fonte de receitas. É provável que em nenhum lugar o programa seja mais vital do que na Venezuela, que em 2003 criou o programa Barrio Adentro - centros de assistência médica com pessoal especializado cubano.

Em troca, a Venezuela envia petróleo bruto e dinheiro vivo para Cuba. No período de 2003 a 2013, a estatal petrolífera PDVSA injetou US$ 22,4 bilhões no programa. O ministro da Saúde da Venezuela, Francisco Armada, disse à televisão estatal VTV que há mais de 10 mil profissionais de saúde cubanos na Venezuela e, desde 2003, eles deram 617 milhões de consultas gratuitas, salvando mais de 1 milhão de vidas.

Mas muitos profissionais se queixam de que, ao chegar à Venezuela, foram tratados como escravos.

Discel Rodríguez, um enfermeiro de 42 anos, disse que foi obrigado a morar com cinco outros médicos num espaço confinado. Eles tinham de obedecer ao toque de recolher às 18 horas e eram desencorajados a fazer amigos na comunidade. “Pelo menos em Cuba podíamos morar numa casa com as pessoas sob os nossos cuidados”, disse. “A Venezuela foi uma punição, uma prisão.”

Quando a escassez de alimentos se tornou um problema, os médicos do programa trouxeram feijão, alho e artigos de higiene pessoal da ilha, contou.

A criminalidade na Venezuela é muito elevada. Um dos seus supervisores foi assaltado por dois jovens de bicicleta que apontaram uma arma para ele. “Fiquei furioso porque via velhinhas sendo assaltadas”, afirmou. “A Venezuela é um país péssimo.”

Rodríguez fugiu para a Colômbia no início do ano, com US$ 600 no bolso, na esperança de conseguir sobreviver por um mês ou dois enquanto pedia um visto para os EUA. Cinco meses mais tarde, ele ainda espera uma resposta.

“Tive de vender o computador de meus filhos (em Cuba) e a televisão para pagar o aluguel de US$ 150 mensais. Se pudéssemos trabalhar ou fazer alguma coisa enquanto esperamos, a vida seria um pouco melhor. Mas neste momento, as coisas são muito difíceis.”

Questionado a respeito da demora nas respostas, o Departamento de Estado americano repassou as perguntas ao Serviço de Imigração e Cidadania dos EUA. A agencia informou que não podia responder de imediato a uma série de perguntas.

Para alguns dos médicos que se encontram na Colômbia a recente aproximação entre Cuba e os EUA pode ser parte do problema. Eles suspeitam de que Cuba esteja exigindo o fim do programa criado pelos EUA, o qual, segundo Havana, é responsável pela fuga de cérebros.

Os profissionais que trabalham no exterior recebem um salário modesto, mas a maior parte dele fica retida em Cuba. Quando eles são enviados para casa mais cedo não podem receber nem suas modestas economias.

“Estamos enfrentando uma situação extremamente difícil aqui na Colômbia”, queixou-se Pérez. “E tudo porque fomos almoçar.”




Combate às doenças respiratórias

23/08/2015 - O Globo


Bárbara Rinaldi, de 37 anos, lembra como se sentiu quando descobriu que o filho Caio, então com 4 anos, tinha asma. Foi uma mistura de medo, porque ela ainda precisaria aprender sobre o problema, e, ao mesmo tempo, alívio. Porque, finalmente, descobriu-se o motivo de tanto cansaço sentido pelo filho, mesmo quando apenas brincava na escola, e a razão para qualquer resfriado quase sempre evoluir para quadros de infecções respiratórias graves. Foi preciso trocar de pediatra e de alergista, ao longo de três anos de angústia e dúvida, para chegar à causa e aos tratamentos.— O primeiro pediatra só dava remédio para as horas críticas. Não fui orientada a fazer um tratamento preventivo. Isso só aconteceu quando mudei de médicos — lembra Bárbara, que perdeu as contas de quantas crises enfrentou. — O pior é que o quarto dele tinha mofo e eu não sabia que isso piorava a situação. Também não sabia exatamente o que ele tinha. Mas, após duas internações, uma por complicações da asma e outra por sinusite aguda, nem voltei para casa. Fui para a minha sogra até trocarmos de endereço.

A dificuldade para obter o diagnóstico das doenças respiratórias, como ocorreu com Caio, é comum. Por isso o tema foi discutido no Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, na última quarta-feira, na Casa do Saber O GLOBO. O pneumologista Carlos Alberto de Barros Franco e a alergista Teresa Seiller foram os palestrantes. O evento teve curadoria de Cláudio Domênico e mediação da editora de Saúde do jornal, Viviane Nogueira. — Um dos problemas dessas doenças é que causam os mesmos sintomas, como coriza, cansaço, dor no corpo e garganta. Por isso, os tratamentos, muitas vezes sem orientações médica, são inadequados — pondera Barros Franco. — O diagnóstico é fundamental, assim como os tratamentos preventivos.

CONTROLE DO AMBIENTE

Após se mudar de sua casa, em São Paulo, Barbara passou a “controlar o novo ambiente”. Jogou cortinas e tapetes fora. Nunca mais comprou ursinhos de pelúcia e adiou o sonho do bicho de estimação. Ela também cerca de cuidados o quarto do filho Davi, de 3 anos. Hoje com 8 anos, Caio ainda toma medicação e faz inalação, mas consegue nadar e brincar.

— Passamos grande parte do tempo no quarto. É preciso deixá- lo limpo, sem itens que acumulam poeira. É preciso também limpar o filtro do ar-condicionado — alerta Teresa Seiler, acrescentando que a asma é uma doença inflamatória do pulmão que atinge cerca de 300 milhões de pessoas no mundo.

A alergista afirma que é preciso tratar a inflamação, e não apenas “abrir o pulmão” com o uso das famosas bombinhas, para que o paciente, congestionado, consiga respirar.

— Asma é igual a cachorro. Tem de ensinar o pulmão a ficar aberto, assim como se ensina o cachorro a não fazer xixi em certos lugares. Por isso, o tratamento preventivo. Porque tratar a asma é mole. A gente tem é de tratar para a pessoa não chegar lá — diz. A alergista recomenda vacinas, confeccionadas de forma especial para cada paciente. Tanto para asmáticos quanto para quem sofre de rinite. Além de melhorar a qualidade de vida do paciente, é mais barata que remédios.

Segundo Cláudio Domênico, a rinite acomete cerca de 20% a 25% da população. Ele explica que os alérgicos têm resposta exagerada a certas substâncias (alérgenos, como poeira e ácaro), mas também a itens irritantes (fumaça e perfume), agentes físicos (umidade e poluição) e refluxo gastroesofágico. A maioria das alergias tem causa genética.

— As infecções podem precipitar as alergias e vice-versa. A rinite pode levar a asma, sinusite, otite e alterações no comportamento e no sono. No inverno, mesmo que em grande parte do país não haja queda de temperatura acentuada, o problema se acentua. A umidade, a poluição e o aquecimento global também são fatores — aponta Domênico. — Já a sinusite é uma complicação dos quadros alérgicos, quando há o acúmulo de secreção e obstrução do nariz e dos seios da face, causada por bactérias.

GRIPE X RESFRIADO

Barros Franco comenta que também há confusão com resfriado e gripe. Ele esclarece que o resfriado é uma virose frequente, que pode ser causada por cerca de 200 vírus diferentes. Neste caso, não há vacina. Já a gripe é o resultado do contato com o vírus influenza, e há vacina extremamente eficaz.

— Toda a semana fico gripado? Chance zero. Fiquei gripado e fui para o trabalho me arrastando? Também chance zero. Tomei a vacina para a gripe e fiquei gripado? Impossível. Gripe não é resfriado, e as pessoas confundem os canais — explica o pneumologista, afirmando que a gripe “derruba”. — Não acontece com frequência e impossibilita que a pessoa vá trabalhar ou para a escola.

Por isso, ele insiste na prevenção com o uso da vacina. O pneumologista afirma ainda que é preciso tomá-la de ano em ano porque o vírus influenza muda:

— É simples: ou o vírus mata você ou você mata o vírus. Ou seja, resfriado ou gripe são curados em de sete a dez dias. Em caso de complicação, é preciso checar o que de novo se manifestou.




População de peso

22/08/2015 - O Globo


Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE, mostra que 56,9% dos adultos têm excesso de peso, sendo que 20,8% estão obesos. Problema teve aumento maior entre mulheres. O relógio da estação Central do Brasil batia 15h30m enquanto a carioca Isabel Souza, de 44 anos, corria pelo pátio segurando um robusto saco de pães de queijo, na última quinta-feira. O lanche, comido apressadamente no trem, substituiria o almoço daquele dia, antes de a moça começar sua segunda jornada de trabalho, do outro lado da cidade. Hábitos como este, que têm feito Isabel ganhar peso nos últimos anos, afetam, de forma crescente, a maior parte da população. Uma pesquisa inédita do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, divulgada ontem, mostra que 56,9% dos brasileiros adultos — o que representa mais de 82 milhões — estavam com excesso de peso em 2013, ano em que as entrevistas foram feitas. Estão incluídos nessa conta os 20,8% de brasileiros obesos.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) revela também que o número de pessoas acima dos 20 anos que pesam mais do que deveriam teve um salto expressivo na última década. Em 2003, 42,4% dos homens tinham excesso de peso, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares ( POF). Já em 2013, esse índice passou para 57,3%, de acordo com a PNS. O aumento é ainda mais significativo entre as mulheres, que viram sua taxa de excesso de peso pular de 42,1% para 59,8% no mesmo período.

O crescimento da parcela feminina que sofre de obesidade também é mais acelerado do que entre os homens. Enquanto 14% delas tinham o problema em 2003, as obesas passaram a somar 25,2% em 2013. Já eles tiveram sua taxa aumentada de 9,3% para 17,5% nesses dez anos.

— Hoje, a mulher tem jornada dupla, às vezes tripla. Ela trabalha tanto quanto o homem, mas com estresse muito maior. É difícil administrar vida familiar e profissional. Elas já têm fatores hormonais e genéticos que as fazem terem mais propensão para engordar, porque precisam de mais gordura corporal do que os homens. Mas, além disso, elas sofrem com fatores sociais — diz Roberta Cassani, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN). — As mulheres ocuparam um espaço muito grande fora de casa, mas ainda existe uma cultura de centrar na figura feminina os trabalhos domésticos e os cuidados com os filhos. Em geral, se as mulheres não abarcam todas essas tarefas, elas se sentem culpadas. E isso acaba afetando a saúde delas. A análise da nutricionista ganha força quando se observa que o acúmulo de gordura abdominal — verificado a partir da circunferência da cintura — atingiu 52,1% das mulheres e 21,8% dos homens, uma diferença de mais que o dobro. Elas começam a engordar mais do que eles a partir da faixa etária que vai dos 35 aos 44 anos e chegam a ter seu índice de excesso de peso elevado a mais de 70% entre os 55 e 64 anos.

MAIS PODER DE COMPRA, MAIS PESO

Segundo o vice-presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Marcio Mancini, a piora nos hábitos alimentares é a chave para entender o aumento de peso da população. — A diferença entre mulheres e homens é expressiva, mas o que mais me chama a atenção é o grande aumento do número de pessoas de ambos os gêneros com excesso de peso nos dez anos estudados. Eu interpreto isso como um aumento do poder de compra da população, que não soube direcionar corretamente o seu gasto com alimentação — avalia.

O médico lembra que, nos Estados Unidos, país onde é amplamente difundido o hábito de consumir alimentos industrializados, a taxa de sobrepeso e obesidade na população é de 65%. Um número já não tão distante dos nossos quase 60% apresentados na PNS. — Tenho medo de que, no próximo levantamento, que será feito em 2018, o Brasil atinja o índice dos EUA. A única diferença é que, lá, a maior incidência de obesidade é entre as pessoas de renda mais baixa. Aqui, vemos um crescimento do número de obesos na classe média — observa Mancini, acrescentando que, de acordo com estimativas americanas, um obeso gasta do próprio bolso US$ 1.400, cerca de R$ 4.860, a mais do que uma pessoa com peso normal por ano.

Com o aumento do conjunto de obesos no país, cresce também o risco da incidência de doenças comumente associadas à obesidade, como hipertensão, diabetes e câncer. A PNS 2013 verificou que 22,3% das pessoas tiveram aumento da pressão arterial no momento da entrevista. A proporção de homens foi de 25,3% e, entre mulheres, o problema foi sentido por 19,5% delas.

Segundo o ministro da Saúde, Arthur Chioro, a pesquisa realizada pelo IBGE ajudará o ministério a implantar políticas públicas para melhorar o quadro. Para ele, uma saída para reverter esse cenário é dar mais espaço para a agricultura familiar no país, ampliando o acesso a produtos saudáveis.

— Eu vejo com muita preocupação esses dados referentes ao excesso de peso da população. Temos que retomar hábitos alimentares saudáveis perdidos em decorrência da vida cada vez mais rápida e agitada que nossa sociedade leva. Hoje, 74% das mortes no Brasil são causadas por doenças não transmissíveis, isto é, doenças cardiovasculares, câncer etc.. E isso está diretamente relacionado ao ganho de peso — afirmou Chioro, durante a coletiva de divulgação da pesquisa, ontem.

REFRIGERANTES E BISCOITOS PARA BEBÊS

De acordo com Lilia Gasparini, gerente da rede Vigilantes do Peso no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, a procura pelo serviço que auxilia o emagrecimento aumentou cerca de 35% nos últimos cinco anos. A maior demanda é de mulheres, que, na maioria das vezes, chegam à rede “no limite”.

— Muitas delas vêm até nós já obesas, indicadas por um médico. É inegável que elas sofrem com o mal do mundo moderno, até mais do que os homens — diz ela, que também tem notado um aumento no número de crianças e adolescentes com mais de 10 anos entre os clientes. — Atendemos muitos já obesos nessa idade, geralmente filhos de pessoas também obesas.

A pesquisa do IBGE mostra que os hábitos nutricionais que tornam as pessoas obesas começam já na primeira infância, influenciados, em grande medida, pelos pais. Entre as crianças de até 2 anos de idade, 60,8% comem biscoitos, bolachas ou bolos, e 32,3% tomam refrigerante ou suco artificial.

Abordando apenas a ingestão das guloseimas açucaradas pelos pequenos, os maiores percentuais ficaram com as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, todas com mais de 60%. Quanto aos refrigerantes e sucos artificiais, a região Sul liderou o ranking, com 38,5%. Em seguida, vieram Centro-Oeste (37,4%) e Sudeste (34,2%). O menor índice foi registrado no Nordeste, com 25,5%.

Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, Fernanda Feragioli observa que o problema atinge mais a camada da população com maior poder aquisitivo e acesso a produtos industrializados.

— Já vi muitos bebês tomando refrigerante diet na mamadeira. Muitas mães acham que, porque elas tomam, a criança também pode — lamenta.

A também pediatra Renata Lerner lembra que uma nutrição inadequada pode ocasionar sérios danos ainda na infância, como gastrite.— A alimentação nos primeiros mil dias do bebê formará o seu paladar para o resto da vida. O recomendado é não dar nada com açúcar e pouquíssimo sal até os 2 anos — diz a médica.




O risco de ser o país dos obesos

22/08/2015 - O Globo


As medidas de peso e altura de adultos obtidas pela Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo IBGE — em amostra probabilística de mais de 80 mil domicílios — trazem más notícias sobre a obesidade no Brasil. Segundo a pesquisa, feita em 2013, são obesos um em cada seis homens ( 16,8%) e uma em cada quatro mulheres (24,6%). O excesso de peso, que engloba estados de pré-obesidade, alcança mais da metade dos homens e das mulheres.

A má noticia fica pior diante dos resultados de pesquisas anteriores do IBGE. Entre 2002/3 e 2008/9, ou em seis anos, a prevalência da obesidade cresce 3,4 pontos percentuais em homens e 3,5 em mulheres. Já entre 2008-9 e 2013, pouco mais de quatro anos, o aumento chega a 4,8 e 7,7 pontos percentuais, respectivamente. A projeção desta tendência indica que, em cinco anos (2020), cerca de um terço da população adulta do Brasil será composta por pessoas obesas, igualando-nos aos Estados Unidos, um dos líderes mundiais na prevalência da obesidade.

Na medida em que a obesidade expressa o desequilíbrio entre ingestão e utilização de calorias, a explicação para o seu crescimento deve ser procurada em mudanças nos padrões populacionais de alimentação e de atividade física. Pesquisas nacionais de orçamento familiar do IBGE realizadas nas últimas três décadas revelam tendência crescente de substituição de alimentos minimamente processados como leite, feijão, arroz, hortaliças e preparações culinárias tradicionais feitas com esses alimentos por refrigerantes, biscoitos, guloseimas em geral, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo, salsichas, hambúrguer e vários tipos de produtos ultraprocessados. Essa tendência implica padrões de alimentação que impedem o organismo de regular o balanço energético, aumentando o risco de obesidade. Estudos sobre padrões de atividade física indicam mudanças menos claras, com aumento discreto na prática de atividade física no lazer e diminuição no deslocamento ativo das pessoas.

A Organização Mundial de Saúde tem chamado a atenção para o aumento da obesidade em todo o mundo e para o seu impacto sobre a saúde das pessoas e os custos dos sistemas de atenção à saúde, enfatizando que o enfrentamento do problema pelos governos requer ações que informem e eduquem a sociedade e propiciem ambiente que estimule, apoie e proteja padrões saudáveis de alimentação e de atividade física.

Passos importantes nessa direção foram dados em nosso país com a elaboração e divulgação pelo Ministério da Saúde do novo Guia Alimentar para a População Brasileira. Este guia, elogiado em todo o mundo, aconselha claramente as pessoas a basearem sua alimentação em alimentos minimamente processados e preparações culinárias desses alimentos (“comida de verdade”) e a evitar alimentos ultraprocessados. Outras ações relevantes incluem a bem-sucedida integração entre a alimentação escolar e a agricultura familiar e a multiplicação de espaços públicos para a prática da atividade física.

Ainda assim, o aumento exponencial da obesidade no Brasil reclama a implementação de políticas cruciais recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, incluindo, em particular, a restrição da publicidade agressiva dos alimentos ultraprocessados e medidas fiscais que onerem o custo de produção desses produtos e facilitem a aquisição de alimentos minimamente processados.

Icone do VLibras Widget. Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana.