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CLIPPING - 22/06/2015

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

Devagar, quase parando

22/06/2015 - Época


Um novo medicamento só chega ao mercado se for testado em milhares de pessoas e, quase sempre, em vários países. É uma exigência básica de entidades regulatórias como a Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil. Se não conseguir incluir um número adequado de pacientes nesses estudos clínicos, a indústria farmacêutica não produz - e não lucra. Ela é a primeira interessada em realizar testes em humanos com rapidez. Mas não é a única. A pesquisa clínica traz desenvolvimento científico aos investigadores (médicos e outros profissionais), recursos financeiros às instituições públicas ou privadas onde ela é realizada e oportunidade de tratamento aos pacientes. Para muitos, ser voluntário é a única chance de receber atendimento adequado e acesso a um medicamento promissor, quando os remédios disponíveis deixam de funcionar.

Os milhares de pesquisas clínicas realizadas no Brasil não são regidos por lei. As normas são ditadas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão ligado ao Conselho Nacional de Saúde. Um novo projeto de lei, apresentado em abril pelos senadores Ana Amélia (PP-RS), Waldemir Moka (PMDB-MS) e Walter Pinheiro (PT-BA), pretende regulamentar a atividade. O tema foi debatido numa audiência pública em março do ano passado. "Chegamos ao consenso de que havia lentidão na análise dos processos e de que era necessário criar um marco regulatório", diz a senadora Ana Amélia. "O projeto é um primeiro passo na busca de aperfeiçoamento da pesquisa clínica." O texto, apoiado pelas empresas e por grande parte dos pesquisadores, desagrada a Conep e outras entidades, como a Sociedade Brasileira de Bioética.

A dificuldade de aprovação de estudos clínicos é uma reclamação recorrente das empresas e dos cientistas há pelo menos oito anos. Segundo a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), um estudo chega a levar um ano para ser aprovado no Brasil -bem mais que em outros países (dois meses nos Estados Unidos, seis no Reino Unido, sete na Argentina). Um levantamento realizado pela entidade em março revelou que, nos quatros meses anteriores, sete multinacionais haviam desistido de realizar 16 estudos no país de drogas contra o câncer, doenças raras, diabetes e esclerose múltipla. Não foi por falta de interesse. A diversidade genética da população e a qualidade dos investigadores das ilhas de excelência em pesquisa fazem do Brasil um dos países mais atrativos para a realização de estudos clínicos - apesar das condições regulatórias desfavoráveis. A lentidão na análise dos processos impede o cumprimento dos prazos internacionais. A razão é a exigência de avaliação dos projetos em duas ou até três instâncias: o comitê de ética da instituição de pesquisa, a Conep (quando a empresa patrocinadora é estrangeira) e a Anvisa (se a droga ainda não estiver aprovada no Brasil). Nos Estados Unidos e na maioria dos países, o processo ocorre em apenas duas: o comitê de ética e a agência regulatória.

"O projeto de lei é um sinal de desespero, uma tentativa de que se abra uma negociação sobre um tema que prejudica os pacientes e a ciência no Brasil", afirma Antônio Britto, jornalista e ex-governador do Rio Grande do Sul, que atualmente é o presidente executivo da Interfarma.

"Não queremos diminuir a ética nem em um milímetro, mas precisamos aprovar os estudos com celeridade", diz o oncologista Paulo Hoff, diretor clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). O 12a andar do maior hospital oncológico da América Latina abriga 54 estudos patrocinados pela indústria. Em alguns casos, o valor dos contratos com as empresas é mais que suficiente para financiar todo o trabalho. "Quando isso acontece, usamos a verba excedente para realizar projetos de interesse da instituição que não recebem patrocínio", diz Hoff. Os testes são disputados pelos pacientes. Entre 2008 e 2014, mais de 1.000 doentes foram tratados com drogas não oferecidas pelo SUS. Quarenta e quatro receberam o remédio ipilimumabe, contra o melanoma, cujo tratamento custa R$ 400 mil por ano.

Numa carta encaminhada aos comitês de ética das instituições de pesquisa, a Conep afirma que o projeto de lei ameaça os direitos dos pacientes. "É um desserviço à sociedade brasileira", diz o médico Jorge Venâncio, coordenador da Conep. Uma das críticas diz respeito à perda do direito de continuar recebendo o medicamento quando o estudo termina. O projeto propõe que a empresa seja autorizada a fornecer o remédio apenas se a interrupção implicar risco de morte ou piora relevante do estado de saúde do doente - e se não houver alternativa de tratamento no Brasil. A ampliação do uso de placebo (pílulas sem efeito terapêutico) é outro aspecto controverso. Atualmente não é permitido oferecê-lo a um voluntário se existir tratamento para a doença que se pretende investigar. Pelo novo texto, o recurso pode ser adotado, desde que haja justificativa científica. Outra mudança é a criação de comitês de ética independentes. Isso abre a possibilidade de que a ética dos projetos seja julgada por comitês financiados pela indústria ou por associações de pacientes ligados a ela - o que representaria um claro conflito de interesses. "A Conep está fazendo um carnaval porque não se dispôs a ter um protagonismo para resolver o problema", diz a senadora Ana Amélia. Todos perdem com a burocracia. Mudanças são tão necessárias quanto o respeito aos voluntários.




CVS adia nova aquisição no Brasil

22/06/2015 - Valor Econômico


As negociações para aquisição do grupo DPSP, dono das redes de farmácias Pacheco e Drogaria São Paulo, pela cadeia americana CVS foram interrompidas semanas atrás, depois que a multinacional decidiu "segurar" planos de novas aquisições, segundo interlocutor próximo às empresas. A CVS ainda avalia o negócio como um ativo estratégico e interessante, portanto, a hipótese de a transação ser fechada futuramente não está descartada, antecipou na sexta-feira o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

"Eles [CVS] estão 'segurando' um pouco as compras depois de terem feito duas aquisições muito grandes lá fora em pouquíssimo tempo. Eles precisam digerir isso melhor e reduzir os efeitos no endividamento", diz uma fonte. As partes não se manifestaram. Com R$ 6,1 bilhão em receita líquida no ano passado, o grupo DPSP tem cerca de 950 lojas no país. A CVS é dona da rede Onofre, com 47 lojas.

A CVS gastou US$ 12 bilhões nos últimos 30 dias comprando a Omnicare, fornecedora de serviços farmacêuticos, e a rede Target, com 1,6 mil farmácias, ambas com sede nos Estados Unidos. Ela financiou as transações se alavancando mais e anunciou que tomará medidas para reduzir essa maior pressão nos números. A relação entre dívida e lucro antes de juros impostos, amortização e depreciação foi para 3,2 vezes (meta é 2,7 vezes).

Para um interlocutor ligado às negociações, ao esfriar as conversas, a CVS poderia tentar negociar melhores condições mais à frente.

As conversas entre as partes avançaram mais nos últimos dois meses, desde que a DPSP decidiu, no começo do ano, voltar à mesa de negociações - com patamar para aquisição do negócio na faixa de R$ 6 bilhões, apurou o Valor, cerca de US$ 2 bilhões (mesmo montante desembolsado para adquirir a rede de drogarias Target).

A transação avançou até que outros negócios foram sendo fechados pela rede nos EUA. Segundo uma fonte ouvida, a valorização da moeda americana pesa favoravelmente ao fechamento do negócio no país, pois "barateia" a farmácia brasileira, mas a receita da DPSP em reais perde valor ao ser reportada no balanço da CVS em dólar.

Segundo fontes próximas ao grupo DPSP, os controladores teriam ficado irritados com a interrupção nas conversas. A família Barata, com 51% das ações, assim como o grupo de 12 sócios da Drogaria São Paulo, após alguns desentendimentos (os Barata resistiam inicialmente), concordaram em se desfazer da empresa e voltaram a procurar a CVS para retomar as conversas neste ano.

Circulam informações no mercado de que há divergências entre os sócios da DPSP em relação às estratégias de crescimento e forma de gestão das redes - a Pacheco, com foco maior no Rio de Janeiro e a Drogaria São Paulo, no estado paulista - e que a possibilidade de venda seria uma forma de encerrar a parceria.

A oferta inicial da CVS pela rede brasileira em 2014 era de cerca de R$ 4,5 bilhões. Depois, subiu para cerca de R$ 5,5 bilhões, segundo fontes. Mas um desentendimento sobre os valores adiou um acordo e, neste ano, a DPSP decidiu voltar a conversar.

De acordo com balanço de resultados de 2014, publicado no Diário Oficial semanas atrás, a DPSP somou R$ 6,1 bilhões em vendas líquidas em 2014, alta de 11%, e o lucro cresceu 19%, para R$ 222 milhões, com margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês) de 6,8% em 2014, versus 6,3% em 2013.

Quatro anos após o anúncio de criação dos dois maiores grupos de varejo de farmácias do país - Raia Drogasil e DPSP - a primeira tem conseguido registrar desempenho geral acima da rival para alguns indicadores. Mas a margem Ebitda, apesar de ter subido de forma mais rápida na Raia Drogasil nos últimos anos, ainda se mantém superior na DPSP.

Segundo dados publicados, a Raia Drogasil vendeu R$ 7,4 bilhões (valor líquido) em 2014 e a DPSP, R$ 6,1 bilhões. A primeira cresceu 18,5% no ano e a segunda, 11%. Em termos de lucro líquido, a Raia Drogasil e a DPSP registram praticamente a mesma soma (R$ 221,4 milhões e R$ 222 milhões, respectivamente), mas na primeira, o valor cresceu 120% e na segunda, 19%.

A relação entre receita e despesas cresce na DPSP e cai na rival. Baixa sinergia entre as redes São Paulo e Pacheco, reflexo de uma integração ainda inicial na DPSP, pode explicar essa manutenção no nível de despesas. Na Raia Drogasil, a relação entre receita e despesas diminuiu de 21,8% para 21%. Na concorrente, subiu de 23,2% para 23,4%.

A margem Ebitda na Raia Drogasil subiu de 5,5% para 6,6% entre 2013 e 2014 e na DPSP, de 6,3% para 6,8%. Ou seja, a segunda mantém índice maior, mas na primeira a taxa subiu de forma mais acelerada. A margem líquida na Raia Drogasil passou de 2,8% para 3,6% e na DPSP, de 3,4% para 3,6%.




Fabricante nacional amplia investimento em 52% até maio

22/06/2015 - Valor Econômico


A indústria farmacêutica brasileira não apenas manteve seus planos de investimento em 2015 como está ampliando o valor dos aportes em pesquisa, desenvolvimento e expansão de capacidade produtiva, a despeito da desaceleração das vendas de medicamentos no mercado doméstico. Levantamento inédito do Grupo FarmaBrasil (GFB), que reúne nove laboratórios de capital nacional, mostra que, de janeiro a maio, essas empresas investiram R$ 538,8 milhões, 52% acima do que foi desembolsado no mesmo período do ano passado.

Só em maio, os investimentos desses laboratórios ultrapassaram R$ 142 milhões, segundo o estudo. A tendência, conforme a indústria, é a de que o volume de aportes verificado no primeiro trimestre, R$ 472,7 milhões, se mantenha nos intervalos seguintes, o que levaria o total de desembolsos no ano para quase R$ 1,9 bilhão.

Além do tamanho relevante do mercado brasileiro de medicamentos - em 12 meses até abril, as vendas no varejo superavam R$ 69 bilhões - que justifica mais investimentos, o impulso à nova rodada de crescimento foi dado sobretudo pelos projetos de desenvolvimento de drogas biotecnológicas, produzidas a partir de células vivas em processos complexos e de alto custo final.

Esses fármacos são considerados a nova fronteira da indústria global e, hoje, a demanda no país é atendida integralmente pelas importações. O desejo do governo e da indústria é transformar o país em plataforma global de remédios biológicos, com vistas também à exportação, a partir da transferência de tecnologia para alcançar produção 100% nacional. No mundo, esse mercado é estimado em mais de US$ 160 bilhões por ano.

"O grosso desses investimentos é destinado a novas fábricas de anticorpos monoclonais, que representam também grande parte dos gastos do SUS [Sistema Único de Saúde]", disse ao Valor o presidente do GFB, Reginaldo Arcuri. Esses biofármacos, usados no tratamento do câncer e de doenças autoimunes (como esclerose múltipla e lúpus), representam hoje 4% das unidades compradas pelo SUS e 40% do orçamento do sistema, segundo o executivo.

Com os investimentos em curso, financiados pelas próprias empresas, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), os gastos serão reduzidos e o acesso aos tratamentos, ampliado.

Como parte do projeto que poderá colocar o país na vanguarda da indústria, a Orygen, a BioNovis e a Libbs Farmacêutica são três das empresas que estão fazendo apostas nesse segmento que partem de R$ 500 milhões. Esses desembolsos são graduais, conforme a evolução do projeto, e o valor dos investimentos apurado pelo GFB compreende também aportes em medicamentos sintéticos e fitoterápicos, destinados ao varejo farmacêutico. Fazem parte do GFB, além desses três laboratórios, Aché, Biolab, Cristália, EMS, Eurofarma e Hebron.

Os biossimilares, ou cópias de medicamentos biológicos de referência cuja patente já expirou, que serão produzidos inicialmente pelas empresas do GFB custarão entre R$ 2 mil e R$ 15 mil a dose, com economia significativa frente aos preços praticados hoje.

A BioNovis, joint venture entre Aché, EMS, Hypermarcas e União Química, está investindo R$ 739 milhões para erguer uma fábrica de medicamentos biológicos em Valinhos (SP), dos quais R$ 200 milhões provenientes do caixa das sócias. De acordo com o principal executivo do laboratório, Odnir Finotti, um dos grandes atrativos do projeto reside no fato de já existir um importante comprador para os medicamentos, o Ministério da Saúde.

"Existe uma política industrial. Se há um parceiro internacional que faça a transferência de tecnologia, o retorno é bastante razoável nessa primeira fase", afirmou. No ano passado, o laboratório anunciou uma parceria com a alemã Merck para desenvolvimento, fabricação e comercialização de medicamentos biológicos, com foco principalmente em câncer, artrite reumatóide e esclerose múltipla.

Na avaliação de Andrew Simpson, principal executivo da Orygen, que reúne Biolab e Eurofarma, a proposta do governo brasileiro de estimular a transferência de tecnologia por meio das chamadas Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) é "genial". O laboratório vai investir R$ 500 milhões na instalação de uma fábrica em São Carlos (SP) e o projeto foi viabilizado por uma parceria com a multinacional americana Pfizer.

"O Brasil é o lugar para isso [investimento em medicamentos biotecnológicos]. Além do mercado interno grande, a Anvisa trabalha com padrões internacionais e uma aprovação da agência pode indicar que o medicamento será aceito em outros mercados", afirmou Simpson.

Inicialmente, a Libbs e o Cristália também faziam parte da Orygen, porém deixaram a parceria para empreender projetos próprios nessa mesma área. A Libbs, por exemplo, está investindo R$ 500 milhões, com recursos do BNDES e Finep, em uma unidade fabril de drogas biológicas em Embu das Artes (SP), onde está instalado seu complexo industrial. Desse valor, R$ 250 milhões serão aportados na fábrica e R$ 250 milhões em estudos clínicos.

De acordo com a diretora de relações institucionais da farmacêutica, Márcia Martini Bueno, o potencial é grande nesse mercado, porém há desafios que transcendem a alta complexidade tecnológica das drogas biológicas. "O Brasil pode ser um grande 'player'", afirmou a executiva. "A concorrência entre os projetos é importante, mas é preciso ter cuidado para que essa política de incentivos não leve a uma competição acirrada em preços", ponderou Márcia.




Pílulas ilícitas viram combustível para os hipercompetitivos

22/06/2015 - Valor Econômico


Após quebrar uma perna e engordar 22 quilos, John Smith começou a tomar o medicamento Vyvanse para inibir o apetite. Fez isso aconselhado por um amigo estudante de medicina que havia perdido 9 quilos sem nenhuma mudança em seu estilo de vida.

O Vyvanse deu conta do recado e rapidamente Smith eliminou o excesso de peso. Mas ele também percebeu que quando usava o medicamento - vendido apenas sob receita médica e usado no tratamento da compulsão alimentar e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) -, conseguia ficar "hiperconcentrado" no trabalho.

Agora, esse homem de 30 anos (que preferiu usar pseudônimo ao ser entrevistado) "engole uma pequena dose" toda vez que precisa potencializar seu trabalho como analista de um grupo de investimentos dos Estados Unidos. O Vyvanse faz ele se desligar do mundo, abaixar a cabeça e mergulhar nos números. "Sinto vontade de buscar as respostas. Ele cria em mim um desejo obsessivo-compulsivo de fazer meu trabalho - e fazer benfeito." O analista não tem receita médica, mas compra os comprimidos de um amigo que tem. Smith também vende algumas pílulas, mas ressalta que não faz isso para obter lucro. "Não sou um traficante. Simplesmente ajudo os amigos quando eles pedem", justifica.

Histórias como essa não surpreendem Michael Sinclair, psicólogo que trabalha na City de Londres. Ele está acostumado a encontrar jovens que usam medicamentos como o Vyvanse e o Adderall, para o TDAH, além do Modafinil, para o tratamento da narcolepsia. O objetivo é melhorar a concentração ou trabalhar por períodos mais longos.

Patrick Curtis, um ex-analista bancário e fundador do Wall Street Oasis, um site de carreiras e redes de contatos voltado para profissionais do setor financeiro, observa uma diferença geracional no uso dos medicamentos vendidos sob prescrição. Há uma mudança do álcool e da cocaína para as chamadas "drogas de reforço de desempenho" entre os trabalhadores mais jovens de Wall Street. "As exigências do trabalho aumentaram e as drogas preferidas evoluíram como resultado", diz.

Em sua opinião, as pressões e a concorrência estão maiores para esta geração. "Há 20 anos, os estudantes mal sabiam o que era um banco de investimentos no primeiro e segundo anos da faculdade. Hoje, eles falam sobre alavancagem, fazem projeções de fluxo de caixa e explicam derivativos complexos."

Um profissional do setor de tecnologia, que prefere ficar no anonimato, tomou Adderall para fazer exames na universidade. "Quando você passa por 36 horas de provas no espaço de três semanas, simplesmente não há como se preparar para tudo. O Adderall ajuda nisso, seja lá seu efeito fisiológico ou psicológico", diz. Um ponto negativo é que às vezes o medicamento faz o indivíduo se concentrar na coisa errada: "Você começa a ler algo não relacionado ao que precisa e continua pesquisando, pois fica muito interessado."

É difícil medir o número de pessoas que usam esses medicamentos para aumentar a produtividade, em vez de razões medicinais. Um estudo feito nos Estados Unidos estimou que 34% dos estudantes do ensino superior já usaram algum remédio contra o TDAH em períodos de grande estresse acadêmico. Pesquisadores do King's College de Londres e da London School of Economics, por sua vez, constataram que 9% dos estudantes pesquisados já usaram Modafinil, Adderall ou Ritalina pelo menos uma vez.

Johann Hari, um ex-jornalista do "The Independent" que deixou o jornal após admitir plágio ao escrever um livro sobre a guerra contra as drogas, recentemente falou sobre o uso do Provigil, um medicamento para tratar narcolepsia. "Você pode trabalhar ainda mais, processar informações o tempo todo e dormir apenas quatro horas por noite." Ele acredita que ficou viciado. Os efeitos de longo prazo desses medicamentos sobre a saúde mental ainda não são conhecidos.

Michael Craig é um psiquiatra que atende nos hospitais Nightingale e Maudsley, de Londres, e trabalha com adultos com TDAH. Ele costuma se deparar com pacientes pedindo a prescrição desses medicamentos sem nenhuma necessidade. A mãe de um adolescente que se preparava para estudar nos Estados Unidos, por exemplo, mostrou-se particularmente agressiva na exigência de uma receita. "Ela achava que seu filho ficaria em desvantagem se não tomasse os comprimidos." Muitos de seus pacientes fazem autodiagnósticos errados, acreditando que sua incapacidade de se concentrar por longos períodos é um problema psicológico. O doutor Craig ressalta que, ao contrário de outros transtornos, as pessoas querem ter TDAH. "Elas vão pedir seu dinheiro de volta em uma clínica particular ou reclamar, no caso do setor público, se você não diagnosticá-los com o transtorno."

Já John Harris, professor de bioética da Universidade de Manchester, defende tecnologias e medicamentos que melhorem o desempenho. Em sua opinião, assim como as pessoas usam o café e o álcool, os medicamentos vendidos sob prescrição poderiam ser uma resposta racional às pressões.

Para Ben Willmott, chefe da área de políticas públicas do Chartered Institute of Personnel and Development (CIPD), organização de recursos humanos, a melhor maneira de as empresas reduzirem o risco de seus funcionários usarem esse tipo de droga é garantir treinamentos eficientes, horas de trabalho apropriadas e evitar pressioná-los de forma excessiva.

Quanto a John Smith, ele nega estar sendo muito pressionado. "Honestamente? Adoro meu trabalho e gostaria de poder trabalhar ainda mais."




Mercado Aberto: Compra forçada

22/06/2015 - Folha de S.Paulo


O governo federal gastou R$ 703,3 milhões em 2014 na compra de medicamentos por ordem da Justiça --alta de 83,3% em relação ao ano anterior, segundo dados da Interfarma (da indústria farmacêutica de pesquisa).

Vinte e cinco remédios representaram 97% das aquisições. Desses, 11 drogas para o tratamento de doenças genéticas consumiram R$ 636 milhões, o correspondente a 90,44% das despesas.

"Enquanto a incorporação de novas tecnologias não for ampliada, a via será a da judicialização", diz Antonio Britto, da Interfarma.

Em 2014, o governo também liberou R$ 140,8 milhões em depósitos judiciais.




Pfizer vê expansão no Brasil muito além dos genéricos

22/06/2015 - O Estado de S.Paulo


A farmacêutica americana Pfizer adiou mais uma vez a compra dos 60% restantes do laboratório especializado em genéricos Teuto, de Goiás. Em 2010, a gigante adquiriu 40% do laboratório, com opção de obter 100% do controle no futuro.

Mas segundo o presidente da Pfizer, Victor Mezei, a empresa não deve exercer o direito de compra neste ano, embora siga com forte interesse na Teuto. Mezei diz que a companhia tem um leque amplo de opções a ser explorado no mercado brasileiro, sobretudo com medicamentos inovadores.

Quando a Pfizer pretende exercer a opção de compra da Teuto?

O prazo vai até o fim de 2016, mas pode ser renegociado. Em março deste ano o conselho decidiu esperar o melhor momento para fazer a opção. Isso vale para os dois lados. A Pfizer fez pesados investimentos em capacidade de expansão da Teuto, que tem se destacado no setor de genéricos.

O setor farmacêutico terá um crescimento menor este ano, de menos de dois dígitos. Isso afeta a Pfizer?

Não. O mercado cresceu acima de dois dígitos nos últimos anos. A expectativa é que a expansão acompanhe a inflação. Nossos dados internos apontam aumento de 19% na receita bruta no acumulado de 12 meses até abril. Quais os planos de expansão da companhia para o Brasil?

Temos vários produtos inovadores que devem chegar ao mercado brasileiro, por meio de aquisições recentes feitas pela Pfizer e os produtos já em desenvolvimento. No início do ano anunciamos investimento de US$ 27 milhões para expansão da fábrica de Itapevi (SP), que vai permitir um salto de produção de 20 milhões de unidades por ano para 48 milhões em 2016. Além disso, temos acordo de transferência de tecnologia com a Orygen para produtos biossimilares.




Falta de penicilina benzatina, que trata sífilis, preocupa médicos no Brasil

21/06/2015 - G1 - Bem Estar


A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) já manifestou sua preocupação em ofício enviado para o Ministério da Saúde recentemente. “O fornecimento da penicilina benzatina está intermitente e isso é um problema muito sério”, diz o médico Luís Fernando Aranha Camargo, da SBI.

Ele diz que a falha no fornecimento atinge os setores público e privado. “Sendo a penicilina um tratamento extremamente simples contra a sífilis – de uma a quatro injeções já resolvem – a falta é um grande problema.” Segundo o médico sanitarista Artur Kalichman, do Programa Estadual DST/Aids do Estado de São Paulo, a dificuldade de disponibilidade da penicilina não é aguda no momento, mas pode piorar. “Existe pouca oferta de penicilina e isso tem que aumentar. Ela é importante no tratamento da sífilis. Tem drogas que podem ser usadas em substituição, mas a primeira opção é a penicilina”, afirma Kalichman.

Caso não seja tratada, a sífilis pode comprometer o sistema nervoso central e o sistema cardiovascular. A sífilis congênita, transmitida da mãe para o bebê, pode causar mal-formação do feto.

Falta de matéria-prima

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que vem monitorando e acompanhando a produção nacional do medicamento ao lado dos laboratórios produtores, que alegam dificuldades na produção devido à “escassez mundial no suprimento de matéria-prima”.

Atualmente, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), existem no Brasil quatro empresas com registro válido para produzir a penicilina benzatina, também conhecida como benzilpenicilina benzatina ou penicilina G benzatina. A Eurofarma, que produz o remédio com nome comercial Benzetacil, a Fundação para o Remédio Popular (Furp), o Laboratório Teuto Brasileiro S/A e a Novafarma Indústria Farmacêutica LTDA.

Segundo a Eurofarma, detentora da principal marca do produto no Brasil, há cerca de dois anos, a empresa “se deparou com a escassez de matéria-prima para a produção da penicilina benzatina no mercado mundial”.

O laboratório esclarece que, no Brasil, existe uma dependência de fornecedores de insumo internacionais, já que o país não é um polo de química fina. O antigo fornecedor da matéria-prima para a Eurofarma fechou sua fábrica e o laboratório buscou um novo fornecedor, já homologado pela Anvisa. A empresa não informou o nome do fornecedor de matéria-prima. Segundo a Anvisa, essa informação “é confidencial da empresa detentora do registro do medicamento”.

“Com importação a partir de plantas na Áustria e China, o fornecimento de matéria-prima para a produção de Benzetacil passa neste momento por um processo de regularização de fornecimento, ainda com impacto no abastecimento”, afirmou a Eurofarma, em nota. A empresa ressaltou que a substituição de fornecedores no setor farmacêutico não é um processo simples, já que deve seguir critérios sanitários rigorosos.

Já o laboratório Teuto, que produz a penicilina benzatina de nome comercial Bepeben, afirmou, em nota, que a produção e distribuição da droga para o segmento hospitalar está "dentro da normalidade".

Segundo o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), que representa boa parte das indústrias farmacêuticas do Brasil, o desabastecimento de penicilina é um problema mundial e a interrupção do fornecimento dos insumos para a produção foi repentina, o que originou o problema.

Ministério espera normalização este mês

O Ministério da Saúde afirmou, em nota, que espera que a situação se normalize ainda este mês. “Foram realizadas reuniões, entre janeiro e abril deste ano, com o Ministério da Saúde, para buscar uma solução ao problema. As empresas se comprometeram a adotar todas as providências para normalizar o fornecimento do medicamento ainda neste mês de junho”, afirmou a pasta, em nota.

Problema de longa data

Além de ser a primeira linha de tratamento contra sífilis, o remédio, é ainda usado para tratar outras infecções, como a febre reumática aguda, doença bacteriana que afeta coração, cérebro e articulações.

Em um documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2005 sobre o controle de infecções como a febre reumática aguda, o problema do abastecimento de penicilina benzatina já foi citado.

"Nos últimos tempos, tem havido problemas tanto em relação à disponibilidade quanto em relação à qualidade da penicilina benzatina ao redor do mundo. Em muitos países, essa medicação é escassa, e frequentemente está indisponível por períodos prolongados. Ainda mais preocupante, a qualidade da medicação é altamente variável."

Uma carta publicada em 2013 pela Federação Mundial do Coração na revista "Nature Reviews Cardiology" também chama a atenção para o problema.

“A penicilina benzatina está na lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde, mas o fornecimento global dessa droga tem sido inconsistente. O processo de fabricação da forma em pó da penicilina benzatina, dose efetiva, e o parâmetro de qualidade são, em grande parte, mal documentados, e a droga é produzida por um número desconhecido de fabricantes genéricos."




Rumo ao corpo-num-chip

20/06/2015 - O Estado de S.Paulo


Num laboratório aberto recentemente ao norte de Londres, está em andamento um experimento para descobrir como o fígado vai reagir a um novo remédio. Normalmente, um teste desse tipo seria realizado em células do fígado cultivadas em fileiras de pratos ou - como exigem as autoridades reguladoras antes de aprovar medicamentos para testes clínicos - em animais como ratos e cães. Mas esse experimento usa um pequeno dispositivo do tamanho de um smartphone. Este contém um fígado em miniatura feito a partir de células humanas, e promete resultados mais confiáveis. Trata-se de uma das primeiras versões comerciais daquilo que os bioengenheiros chamam de órgão-num-chip.

O chip de fígado, batizado de Quantum-B, foi criado pela CN Bio, empresa nascida da Universidade de Oxford atualmente com sede em Welwyn Garden City. O Quantum-B foi criado para ajudar os pesquisadores na busca por uma cura para a hepatite B, infecção viral do fígado. Entre os outros grupos que vão lançar órgãos em miniatura estão os americanos Wyss Institute, da Universidade Harvard, cujos dispositivos incluem um pulmão-num-chip, e a Universidade da Califórnia em Berkeley, que tem um coração-num-chip. Chips imitando o rim, intestino, tecido muscular, gordura, ossos e pele também estão em desenvolvimento.

Dependendo da aprovação dos reguladores, os dispositivos desse tipo têm o potencial de cortar o uso dos animais de laboratório nos testes de medicamentos. Os animais não são necessariamente bons análogos para os humanos por causa de diferenças fundamentais na biologia. Os testes em tecidos em placas de Petri também podem se mostrar pouco confiáveis porque suas células frequentemente param de funcionar. Os dados mais realistas prometidos pelos órgãos-em-chips podem acelerar o desenvolvimento de remédios e permitir que os pesquisadores realizem experimentos arriscados demais para voluntários humanos.

Além disso, ao associar diferentes chips, os pesquisadores podem estudar como as reações de um órgão podem afetar outro. Um remédio que produz resultados benéficos no tratamento de doenças cardíacas, por exemplo, pode ser metabolizado pelo fígado de maneira a produzir resultados tóxicos. De fato, com um número suficiente de órgãos-em-chips, alguns cientistas sonham com o dia em que será possível criar o equivalente a um corpo-num-chip.

Localizador de órgãos. A maioria dos chips de órgãos é feita a partir de materiais sintéticos, como polímeros. Este pode ser transparente para que as células sejam vistas pelo microscópio (alguns são feitos com processos fotolitográficos semelhantes aos usados para os microchips de computador). Os chips contêm minúsculas estruturas às quais células humanas cultivadas são afixadas. Dadas as condições corretas, as células se arranjam naturalmente da mesma maneira que o fariam no corpo, comportando-se como se estivessem lá.

Uma técnica chamada microfluídica é usada para transportar um fluído que imita o sangue por minúsculos canais e tubulações, trazendo nutrição às células.

Os chips não contêm órgãos completos, apenas as menores colônias de células necessárias para replicar a função de um deles. O chip de fígado da CN Bio, criado a partir do trabalho de parceria com Linda Griffith e seus colegas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) usa pequenos "andaimes" para manter células de órgãos doados que, por vários motivos, foram considerados inadequados para o transplante. As células podem ser mantidas congeladas até serem necessárias.

Os andaimes são colocados em pequenos poços e alimentados com um fluido adequado pelos canais. Depois de alguns dias assentando, as células estão prontas para o trabalho e são infectadas com a hepatite B. Como a forma humana da doença só pode ser imitada em primatas, a alternativa seria usar dúzias de chimpanzés num único experimento. Mas cada chip de fígado contém 12 pequenos fígados, podendo ser usado para a realização de vários testes ao mesmo tempo. Um protótipo de chip com 36 fígados está em fase de desenvolvimento, diz David Hughes, diretor de tecnologia da CN Bio.

A empresa vai licenciar a tecnologia a outros laboratórios e oferecer testes para pesquisadores. O custo de um teste básico de toxicidade é de pelo menos US$ 22 mil. Pode parecer caro, mas até um estudo simples envolvendo camundongos pode consumir um mês ou mais e ultrapassar a marca dos US$ 50 mil; análises mais complexas podem custar mais de US$ 1 milhão. É por isso que o processo de triagem de milhares de substâncias novas candidatas a se tornarem novos remédios pode acumular custos de mais de US$ 1 bilhão.

O que torna os chips de órgãos potencialmente tão eficazes no teste de remédios é o fato de criarem não apenas o ambiente bioquímico necessário para o desenvolvimento das células, mas também o ambiente físico. Para um chip de fígado, isso significa reproduzir de maneira precisa a mecânica dos fluídos do suprimento de sangue artificial.

Estudos anteriores mostraram que a maneira com a qual um fluído percorre a superfície de uma célula pode afetar sua capacidade de funcionar.

Outras células podem exigir uma ação mecânica. O pulmão-num-chip de Harvard, por exemplo, precisa "respirar". Para tanto, o dispositivo é construído a partir de dois canais para microfluídos, um acima do outro, dentro de um material plástico flexível. Os canais são separados por uma membrana porosa revestida no alto por células epiteliais derivadas dos alvéolos pulmonares humanos e, na parte de baixo, por células endoteliais dos vasos sanguíneos. O canal superior traz ar para a membrana e o canal inferior contém um fluído semelhante ao sangue. A aplicação alternada de um vácuo em cada lado da estrutura faz as células esticarem e relaxarem, assim como o peito de uma pessoa ao respirar.

O chip de pulmão foi desenvolvido por Donald Ingber, amplamente conhecido como pioneiro na área, e seus colegas de Harvard. O dispositivo, do tamanho de um pendrive USB, é comercializado por uma empresa chamada Emulate. Quando exporto a bactérias no canal aéreo, o chip reage como um pulmão humano quando infectado. Inflamações e o acúmulo de fluídos também podem ser estudados.

O coração-num-chip de Berkeley tem uma câmara central onde as células cardíacas são reunidas, com canais microfluídicos funcionando como vasos sanguíneos. Os pesquisadores de Berkeley, liderados por Kevin Healy e Anurag Mathur, dizem que 24 horas após serem inseridas na câmara, as células cardíacas começam a bater sozinhas ao ritmo de 55-80 batidas por minuto. Depois de aproximadamente uma semana esse ritmo se torna estável o bastante para que os testes tenham início. De acordo com os pesquisadores, quando exposto a medicamentos cardíacos comuns, o chip responde de maneira análoga a de um coração humano plenamente desenvolvido.

Os pesquisadores de Berkeley e da Emulate usam células-tronco pluripotentes induzidas por humanos - células-tronco que podem ser devolvidas ao estágio embrionário e incentivadas a se tornarem diferentes tipos de tecido. Esse uso de células-tronco em chips de órgãos anuncia a possibilidade de um dispositivo que represente um paciente individual - um paciente-num-chip, se preferirmos. Nesse caso, todos os pequenos órgãos seriam derivados de uma mesma pessoa; os testes poderiam ser realizados no dispositivo para descobrir os remédios e dosagens mais eficazes para cada paciente.

Até o momento, os pesquisadores ainda estão tentando fazer com que um pequeno punhado de órgãos diferentes funcionem num chip. Mas a Darpa, agência de pesquisas do departamento de defesa dos Estados Unidos, está empenhada na meta de combinar dez órgãos num chip. O interesse militar está no desejo de desenvolver tratamentos para incidentes nucleares e biológicos. É praticamente impossível fazer experimentos com tais medicamentos usando cobaias humanas. A Darpa e os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA estão oferecendo US$ 32 milhões em financiamento de pesquisa para o desenvolvimento de um corpo-num-chip nos laboratórios do MIT, em colaboração com outros grupos de pesquisa, e US$ 37 milhões a um projeto semelhante no Instituto Wyss, de Harvard.

A busca por sangue novo. Ainda há uma série de obstáculos a serem superados, de acordo com uma análise da tecnologia elaborada pelo dr. Ingber e Sangeeta Bhatia, do Instituto Koch, publicada no ano passado na Nature Biotechnology. O plástico a partir do qual alguns chips são fabricados precisa ser aprimorado porque pode absorver determinados compostos, incluindo medicamentos, e isso pode distorcer os resultados dos testes. Para os órgãos ligados entre si, dizem os cientistas, é necessário um "substituto universal para o sangue". Este poderia ser uma única cultura capaz de sustentar todos os tecidos, como ocorre com o sangue.

Os chips de órgãos terão de ser produzidos em massa. Em colaboração com pesquisadores a serviço da Sony BioSciences, na Áustria, a Emulate diz ter encontrado um material que evita o problema da absorção e poderia permitir que os chips fossem fabricados aos milhões. Mas, por enquanto, o material ainda é um segredo bem guardado. A Emulate diz também ser capaz de automatizar a operação de seus chips para que não tenham de ser usados exclusivamente por especialistas.

Pode demorar uma década ou mais até que os chips de órgãos diminuam o uso de animais em laboratórios. E algumas pesquisas biomédicas podem não se prestar muito ao ambiente proporcionado pelos chips - complexas respostas imunológicas do corpo, por exemplo, ou o efeito de medicamentos no sistema nervoso. Mas, conforme a tecnologia for aprimorada e melhor compreendida, as autoridades reguladoras conservadoras devem desenvolver suficiente confiança na nova tecnologia para substituírem os animais por chips nas etapas obrigatórias dos testes laboratoriais.




Plantão Médico: Fertilização assistida e gravidez ectópica

20/06/2015 - Folha de S.Paulo


Na gravidez ectópica, a gestação fora do útero, o diagnóstico precoce é difícil, porque os sinais e sintomas, como dor na região pélvica, também são observados no primeiro trimestre da gravidez normal.

Nos últimos anos, a ocorrência desse evento vem sendo relacionada ao aumento de gestações por fertilização assistida.

Na 31ª reunião anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, realizada em Lisboa nesta semana, foi apresentado estudo mostrando que a taxa de gravidez ectópica, após a reprodução assistida, vem diminuindo progressivamente.

O professor Nikolaos Polyzos, da Universidade Vrije, Bélgica, analisou o tratamento de 161.967 ciclos, do ano 2000 ao ano 2012. Encontrou 1,4% de gestações ectópicas, que diminuíram ano a ano de 20 para 12 casos a cada mil.

A redução dos casos relacionados à fertilização assistida, segundo o autor, ocorreu pelo avanço nas técnicas que empregam a hormonioterapia ou a injeção intracitoplasmática.

Com ou sem estimulação ovariana, não faz diferença, assim como usar embriões congelados ou frescos.

Para Polyzos, o maior fator de risco para gravidez ectópica é um problema na tuba uterina, que dobra a possibilidade da ectopia.

Nos casos de infertilidade, explica o professor, cerca de 14% podem estar relacionados à infecção pela Chlamydia trachomatis, bactéria transmitida sexualmente.




"A ciência venceu"

20/06/2015 - Folha de S.Paulo


Em 1957, o pesquisador de nutrição Fred Kummerow foi um dos pioneiros a apontar os malefícios da gordura trans e relacioná-la às doenças cardiovasculares.

A descoberta veio depois de analisar artérias de pacientes que tinham morrido de infarto e encontrar gordura trans no tecido delas.

As cinco décadas seguintes foram dedicadas aos estudos dos efeitos da gordura trans sobre a saúde humana --e à guerra declarada contra a substância.

Foi só na última terça-feira (16), porém, que a FDA (agência reguladora de alimentos dos Estados Unidos) enfim proibiu o uso da gordura trans em alimentos e afirmou que a substância não é considerada segura.

"A ciência venceu", disse Kummerow, hoje com cem anos, à Folha, por telefone, de sua casa. "Esperava estar vivo para presenciar isso."

Em agosto de 2009, o cientista chegou a enviar uma petição à FDA sobre o tema.

"Solicito que a gordura trans seja banida da dieta americana" era como começava o documento.

"A FDA tinha 180 dias para responder meu documento, mas nunca o fez. Em 2013, recebi a ligação de um advogado da Califórnia perguntando se eu tinha recebido algum tipo de retorno deles e se poderia processá-los em meu nome, já que estavam infringindo a lei", conta.

Naquele mesmo ano, a FDA anunciou seu plano de vetar o uso da gordura trans nos Estados Unidos e abriu uma consulta pública. "Acho que isso colocou bastante pressão neles", diz.

A decisão, afirma Kummerow, demorou uma "eternidade". "Isso ocorreu porque a indústria gosta de usar gordura trans nos alimentos. Afinal, ela dá boa textura e aumenta a durabilidade dos produtos", diz. "E claro, as pessoas também gostam."

Aos cem anos, Kummerow ainda está em plena atividade. Professor emérito de biologia comparativa da Universidade de Illinois, na cidade de Urbana, nos EUA, mantém um programa de pesquisa com a colaboração de dois professores visitantes --um mestrando da China e um doutorando do Egito.

Os dois trabalham no laboratório da universidade, enquanto Kummerow se dá ao luxo de trabalhar de casa a essa altura da vida.

"Começo meu dia trabalhando nos meus artigos, passo a tarde respondendo a e-mails e falando com pessoas como você e à noite vou para a cama, onde leio até as 22h", conta. "Meu maior problema agora é conseguir dinheiro para continuar a fazer minhas pesquisas, mas acho que vou conseguir dar um jeito nisso."

Ele acaba de escrever dois estudos, já submetidos para publicação em revistas científicas, sobre colesterol oxidado, assunto ao qual ele vem se dedicando nos últimos anos.

O cientista defende que o colesterol em si não é ruim --o problema é a sua versão oxidada, que pode surgir durante o processamento industrial dos alimentos e a preparação, incluindo a fritura.

"Vocês devem ter um monte de restaurantes de fast-food aí no Brasil também. Pois bem, no processo para fritar batatas em óleos reaproveitados --depois de fritar nuggets, por exemplo-- é que surge o colesterol oxidado, que é aterogênico [leva ao acúmulo de gordura nos vasos sanguíneos e carcinogênico [favorece o aparecimento de tumores]."

A posição dele fica clara pelos títulos de seus livros, a exemplo de "Cholesterol is not the culprit" (o colesterol não é o culpado) e "Cholesterol won't kill you, but trans fat could" (o colesterol não vai matar você, mas a gordura trans pode).

"Sei que muitos médicos não concordam com isso, mas o colesterol nunca foi uma ameaça."

Kummerow é um defensor das gorduras saturadas de origem animal. "As gorduras trans são um produto humano, enquanto que as saturadas, presentes em produtos animais, são perfeitamente saudáveis e fonte de energia. O perigoso é ingerir muito carboidrato e refrigerante. O açúcar é a principal fonte de obesidade hoje. Todos os países estão vendo seus índices de obesidade aumentarem, e o Brasil não está fora."

Para ele, envelhecer bem é "muito simples". "Não bebo refrigerantes, não como 'snacks' nem frituras. Só como comida boa e me exercito todos os dias. Quando você escrever sua reportagem, faça questão de dizer às pessoas para que elas mantenham uma dieta equilibrada. Não tem segredo", afirmou.

Raio-X - Fred Kummerow

NASCIMENTO
4.out.1914, em Berlim, na Alemanha (100 anos)

FORMAÇÃO
Doutor pela Universidade de Wisconsin (EUA), em 1943

CARGO
Professor emérito de biologia comparativa na Universidade de Illinois (EUA)

ÁREA DE ATUAÇÃO
Bioquímica de lipídios




O FIM DA GORDURA TRANS?

22/06/2015 - IstoÉ


Na última semana, o Food and Drug Administration (FDA) - a agência responsável pela liberação de remédios e alimentos nos Estados Unidos - anunciou uma medida histórica na luta por uma alimentação mais saudável. Por determinação do órgão, dentro de três anos nenhum produto alimentício vendido em território americano poderá conter em sua formulação a gordura trans, uma das maiores vilãs da saúde por elevar o risco para doenças cardiovasculares. "Esperamos reduzir as doenças cardíacas e prevenir milhares de mortes por infarto todos os anos", afirmou Stephen Ostroff, diretor do FDA.

A gordura trans está presente em produtos industrializados como biscoitos, massas congeladas e sorvetes. Há anos a ciência investiga seus danos ao organismo. Agora, há um conhecimento sólido o bastante para saber que o ingrediente interfere em processos que resultarão no entupimento de artérias e no aumento do risco para outros fatores associados a doenças cardiovasculares.

No mundo todo as autoridades de saúde vêm impondo medidas para restringir sua utilização. O governo americano, porém, é o primeiro a determinar seu banimento (sua presença só será permitida em casos aprovados pelo FDA). Antes, já havia apertado o cerco. Em 2006, ordenou que a presença do ingrediente constasse no rótulo e nos últimos anos intensificou os acordos com a indústria para sua redução nos produtos. Com as medidas, o órgão estima que houve uma queda de 78% no consumo de alimentos com trans entre 2003 e 2012 naquele país.

As decisões do FDA costumam nortear as ações das agências reguladoras da maior parte dos outros países. No Brasil, fabricantes e Ministério da Saúde celebraram um acordo há oito anos visando à diminuição do ingrediente. De lá para cá, calcula-se que houve uma redução de 250 mil toneladas de gordura trans nos produtos. Segundo o Ministério, as discussões sobre a redução serão retomadas.




Cliente de plano de saúde coletivo pode mover ação contra operadora

19/06/2015 - Valor Econômico / Site


Decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) permite que usuário de plano de saúde proponha ação judicial individual para discutir cláusulas de contrato coletivo. No caso, um dos beneficiários da Unimed Paulistana oferecido pela Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo (CAASP) contesta rejaustes e e a incidência do Fipe-Saúde para a correção monetária do plano.

Por unanimidade, a decisão é dos ministros da 3ª Turma da Corte. Ainda cabe recurso.

A sentença de primeiro grau, confirmada na segunda instância, extinguiu o processo sem decisão de mérito. O cliente do plano de saúde não teria direito de contestar as cláusulas do contrato coletivo firmado entre a CAASP e a Unimed. Somente essas teriam legitimidade para discutir na Justiça os termos de reajuste.

O usuário da Unimed Paulistana recorreu ao STJ. O ministro relator Villas Bôas Cueva considerou que, apesar de serem contratos distintos, as relações são similares nos contratos coletivo e individual. Segundo ele, os princípios gerais do contrato amparam tanto o estipulante (empresa contratante do plano) como o beneficiário (empregado usuário do plano).

Assim, diante de situações abusivas, ambos estão protegidos pelo Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, de modo que “o exercício do direito de ação não pode ser tolhido, sobretudo se ele busca eliminar eventual vício contratual ou promover o equilíbrio econômico do contrato.”

O ministro foi seguido pelos demais da turma.




Dieta do chocolate

21/06/2015 - Folha de S.Paulo


Depois de ter sido promovido a "superalimento" por suas propriedades antioxidantes, o chocolate se envolveu em polêmica nas últimas semanas.

Primeiro, revelou-se que um trabalho provando supostos efeitos emagrecedores do chocolate não passava de uma "pegadinha". Um jornalista fingiu ser pesquisador e participou de um estudo picareta, feito para testar se a imprensa mundial acreditaria ou não na boa notícia.

Agora uma pesquisa séria mostrou relação entre o consumo de até 100 g de chocolate por dia com um menor risco de ter doença cardiovascular e menor IMC (Índice de Massa Corporal). Será que os chocólatras agora têm o aval da ciência?

O estudo "verdadeiro" acaba de ser publicado na revista "Heart" e analisou dados de 21 mil pessoas, coletados durante 12 anos. Os participantes foram monitorados e preencheram questionários sobre hábito alimentar e consumo de chocolate.

Resultado: aquelas pessoas que disseram comer mais o doce também tinham IMC e pressão arterial menores. Comparando com quem disse evitar a guloseima, o grupo chocólatra teve risco 23% menor de ter infarto e 25% menor de morte associada a doença cardiovascular.

Os resultados podem sugerir que chocolate emagrece. Mas, segundo pesquisadores, não é bem assim. O trabalho apenas deixa claro que não é preciso parar de comer a guloseima para reduzir o risco cardíaco.

"Não deram o doce para as pessoas e elas emagreceram", diz Bruno Caramelli, cardiologista do Incor da USP.

Para o endocrinologista Márcio Mancini, concluir que chocolate emagrece é o mesmo que dizer que adoçante engorda porque gordos usam.

"É provável que os mais gordos, que têm maior risco, já comam menos. Ou digam que comem menos. Obesos geralmente omitem alimentos mais calóricos em questionários", afirma.

Caramelli diz que já está provado que até 100 gramas de chocolate amargo por dia reduzem o colesterol "ruim".

"Ajuda se você não comer demais. Nesse caso, os efeitos benéficos serão menores do que os malefícios do ganho de peso", diz o endocrinologista Bruno Halpern Para a nutricionista Fernanda Pisciolaro, comer moderadamente em vez de cortar o doce do cardápio pode ajudar a evitar episódios de compulsão. "O indicado é comer de 40 g a 80 g por dia."




Em Cannes, Brasil lidera na área de saúde

21/06/2015 - Folha de S.Paulo


O festival internacional de publicidade Cannes Lions estreia neste domingo (21), mas a contagem dos Leões (as famosas estatuetas do festival) começou mais cedo.

Na sexta-feira (19), o Brasil conquistou 17 estatuetas, incluindo cinco ouros, no Lions Health, evento paralelo dedicado a campanhas nas áreas de saúde e bem-estar.

O número deve ajudar as agências brasileiras a bater novo recorde em volume de prêmios --diretamente relacionado ao volume de inscrições e a constante profusão de categorias no festival.

O Brasil, no entanto, não concorre com nenhuma campanha arrebatadora, capaz de conquistar Grand Prix (prêmio máximo em cada categoria), como foi o caso da "Retratos de Real Beleza", em 2013, campanha da Ogilvy Brasil para a marca Dove.

"É preciso analisar a performance do Brasil não só pelo número de prêmios,mas também pelo tipo de categoria e pelas ideias", afirma Luiz Fernando Musa, presidente da Ogilvy & Mather Brasil, eleita agência do ano em Cannes em 2013.

"Para o tamanho do nosso mercado, tem inscrição demais do Brasil e não acho que temos um desempenho compatível. A manchete que fica é o número de Leões. Mas tem que ver se eu ganhei ouro nos 100 metros rasos ou no cuspe à distância."

Dos 17 Leões conquistados na sexta, 6 são da Ogilvy. Duas marcas de protetor solar ganharam ouro: Sol do Rio de Janeiro (agência Ogilvy com a campanha "Tatuadores contra o câncer de pele") e Nívea (agência FCB com a campanha "Bonecas").

Essa última, que distribuiu nas praias do Rio bonecas que ficavam vermelhas quando expostas ao sol sem protetor, deve levar mais Leões.

GAROTAS

A campanha que, nas apostas do setor, é cotada para conquistar muitos e muitos Leões neste ano --"Like a Girl", da agência Leo Burnett (Londres, Toronto e Chicago) para a marca de absorvente Always-- descende, de certa forma, de uma ideia inaugurada pela campanha da Ogilvy brasileira para a Dove.

Ambas usam linguagem de documentário e desnudam preconceitos que minam a autoestima da mulher.

Na da Dove, autorretratos revelavam que as mulheres tinham de si uma imagem pior que a feita por outros.

Em "Like a Girl", meninas não se identificam com o preconceito embutido na expressão "agir como uma garota" e mostram que se sentem fortes e vencedoras.

"Faltam cases brasileiros de impacto para grandes marcas", diz Musa, que admite não ter ficado satisfeito com a performance da agência em 2014, depois do sucesso do ano anterior.

Para Marcos Versolato, vice-presidente de criação da DM9, não foi só o Brasil que não produziu campanhas arrebatadoras neste ano.

"O mundo todo não está forte neste ano. Temos coisas muito boas e talvez tenhamos bons ouros", diz. "'Like a Girl', que deve ganhar muitos Leões, não é inovadora. É uma boa execução de um formato inaugurado por Dove."




Mulheres vão à Justiça para planos pagarem fertilização in vitro

21/06/2015 - Folha de S.Paulo


A contadora Fabíola Rocha, 37, tenta engravidar há seis anos. Tem endometriose, doença que afeta o endométrio (camada que reveste o útero) e é uma das principais causas de infertilidade.

Ela fez tratamentos e engravidou duas vezes por fertilização in vitro, mas as gestações não foram em frente.

O dinheiro acabou. O desejo de ser mãe, não. "É uma dor permanente, um desamparo. A gente tem plano de saúde, mas não pode recorrer a ele. Todas as nossas economias já se foram."

O drama de Fabíola, compartilhado por muitos casais brasileiros, chegou agora ao Ministério Público Federal. Representação encabeçada por dez mulheres que enfrentam a infertilidade pede que a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) inclua no rol de procedimentos obrigatórios os tratamentos de reprodução assistida.

A infertilidade é considerada doença pela CID (Classificação Internacional das Doenças), e há lei federal obrigando a cobertura do planejamento familiar (que inclui concepção e anticoncepção).

Mas a legislação que rege os planos de saúde desobriga as operadoras de oferecer a reprodução assistida."Isso é claramente ilegal. Esperamos que o Judiciário reconheça isso", diz a advogada Andrea Lazzarini Salazar, que assina a representação. "A infertilidade gera consequências que extrapolam a questão física. Leva a sentimentos de fracasso, de exclusão familiar e social."

Segundo Andrea, a expectativa é que, por decisão judicial, a ANS inclua o tratamento no novo rol de procedimentos que entrará em vigor em janeiro de 2016 e que está atualmente em processo de consulta pública. Entidades médicas e de defesa do consumidor apoiam a causa.

Na Justiça, o tema tem dividido os magistrados, com decisões favoráveis tanto a pacientes como aos planos.

Nas clínicas privadas, onde o tratamento é oferecido desde 1982, cada ciclo de fertilização in vitro custa de R$ 9.000 a R$ 25 mil. No SUS, o procedimento está previsto desde 2005, mas poucos serviços públicos o disponibilizam. Quase não há vagas, e a espera passa de cinco anos.

A maioria dos países europeus subsidia parcial ou integralmente a reprodução assistida. A França, por exemplo, paga 100%. Na América Latina, Argentina e Uruguai tornaram o procedimento obrigatório na rede pública e no sistema privado de saúde.

"Não faz nenhum sentido essa exclusão", diz o ginecologista Newton Busso, que preside a comissão de reprodução da Febrasgo (federação das associações de ginecologia e obstetrícia). Segundo ele, o direito de planejar a família deve ser de todos.

OUTRO LADO

A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) afirmou que atua de acordo com as determinações da lei que regulamenta o setor de saúde suplementar no Brasil.

"Ela [a lei] exclui o tema inseminação artificial da cobertura dos planos de saúde, por isso não consta do rol [de procedimentos obrigatórios]."

Para a ANS, a lei 11.935, de 2009, que incluiu o planejamento familiar como cobertura obrigatória na lei dos planos de saúde, não altera a legislação anterior (ela não especificou que tipo de serviços seriam incluídos).

Há diversos outros procedimentos, além da fertilização in vitro, segundo a ANS, que possibilitam diagnosticar e tratar a infertilidade e já estão no rol de procedimentos de cobertura obrigatória.

Entre eles estão exames hormonais, ultrassom, histeroscopia, laparoscopia, cirurgias e exames de esperma.

A agência cita como exemplo o tratamento da varicocele, doença que é responsável por 40% dos casos de infertilidade em homens. "O tratamento causa melhora do sêmen em até 60% dos pacientes, em média, e gravidez em até 40% dos casais", afirma.

Na condição de anonimato, três representantes de operadoras de saúde dizem que a oferta da fertilização pelos planos geraria aumento de custos não só pelo tratamento em si, mas porque o procedimento aumenta as chances de gêmeos e nascimento de bebês prematuros -que vão precisar de mais tempo de UTI neonatal.

A Abramge e a Fenasaúde, entidades que representam as operadoras de planos de saúde, reforçaram que a reprodução assistida não faz parte das coberturas obrigatórias que estão previstas no rol de procedimentos da ANS. Por isso, dizem, ela não é oferecida aos usuários.

"É importante destacar que os serviços de reprodução assistida não são 100% eficazes", afirma a Abramge.

A associação defende que seja feito um estudo antes de iniciar um debate sobre obrigar os planos de saúde a cobrirem a reprodução assistida aos beneficiários.

Para a entidade, é necessário medir a viabilidade e os impactos econômico-financeiros que a medida pode trazer para as operadoras de saúde e para os clientes que pagam os planos.

*

ENTENDA O QUE DIZEM

- Constituição Federal
Planejamento familiar é um direito do cidadão. Compete ao Estado propiciar os recursos educacionais e científicos para o exercício deste direito

- Lei do Planejamento Familiar (9.263/96)
Para o exercício do planejamento familiar, serão oferecidos métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas

- Lei dos Planos de Saúde (9.656/98)
Garante a cobertura de todas as patologias reconhecidas pela CID (Classificação Internacional de Doenças), mas exclui a inseminação artificial

- Lei 11.935/09
Estabelece que é obrigatória a cobertura nos casos de planejamento familiar (para advogados e juízes, fica implícita a cobertura dos tratamentos de fertilidade)

- Resolução normativa da ANS (RN 211) de 2010 *
Permite que planos excluam a cobertura de todas as técnicas de inseminação artificial

- Código de Defesa do Consumidor
Estabelece que são nulas as cláusulas contratuais que excluam a cobertura de doença

- Entendimento da Justiça
Tem sido favorável à cobertura do tratamento de fertilidade pelos planos de saúde




Hospital São Paulo decide retomar internações eletivas

20/06/2015 - O Estado de S.Paulo


O Hospital São Paulo, administrado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), decidiu ontem retomar as internações eletivas – aquelas que não são de emergência. O centro médico havia interrompido esse serviço anteontem por falta de verbas.

A medida foi reavaliada após o anúncio de repasses de R$ 4 milhões do Ministério da Educação e R$ 3 milhões da Secretaria Estadual de Saúde ao hospital, na Vila Clementino, zona sul.

As internações, de acordo com a universidade, serão retomadas para pacientes oncológicos.

“À medida que os recursos estejam disponíveis e o abastecimento restabelecido, os demais pacientes serão chamados para internação”, informou a Unifesp, em nota. As internações eletivas correspondem a cerca de metade das 2,2 mil internações que o hospital faz por mês. Além das ajudas federal e estadual, a unidade recebeu apoio da Secretaria de Saúde do município. De acordo com a pasta, haverá cessão de insumos hospitalares requisitados pelo hospital. Ela não detalhou, porém, quantos e quais materiais serão repassados.

Junto do Hospital das Clínicas e da Santa Casa, o Hospital São Paulo é um dos três principais centros médicos para atendimentos de alta complexidade da capital. A unidade é responsável pela cobertura de uma área de 5 milhões de habitantes.

Braços cruzados. Apesar do anúncio de mais recursos, a direção do Hospital São Paulo ganhou nova preocupação para a próxima semana. Os médicos residentes do hospital farão assembleia na segunda-feira para decidir se entram em greve.

Os profissionais pedem melhores condições de trabalho. A categoria reclama que, além da falta de verbas federais, houve aumento de trabalho nos últimos meses.

São mais de mil médicos residentes no hospital, segundo o sindicato do setor.

A Unifesp informou que recebeu as reivindicações e está aberta para negociar. Disse que não concorda, porém, com a possível paralisação. O hospital já enfrenta uma greve de servidores públicos federais, iniciada no fim de maio. Esse movimento afetou, principalmente, setores de enfermagem.




Do SUS, só notícias ruins

22/06/2015 - O Estado de S.Paulo


Notícias ruins há muito se tornaram a regra no que se refere ao Sistema Único de Saúde (SUS). A cada novo estudo sobre ele corresponde uma constatação preocupante, que levanta dúvidas sobre a capacidade do sistema, do qual depende a assistência médico-hospitalar para a massa da população, de se manter sem uma ampla reformulação. O último levantamento sobre a defasagem da sua tabela de procedimentos, desta vez comparando os valores pagos por ele com os dos planos de saúde – que já deixam a desejar –, mostra que a situação continua desanimadora.

A pesquisa foi feita pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que utilizou valores de 2014 da tabela do SUS para 18 procedimentos. Ela separou do valor total o que foi pago à equipe médica e depois comparou essa remuneração com os valores estipulados pela Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), que é usada como referência nos pagamentos do setor de saúde suplementar. Os números a que a pesquisa chegou são impressionantes.

Uma das conclusões principais é que a remuneração média paga pelos planos de saúde chega a ser 1.284% maior do que os honorários recebidos por profissionais de hospitais conveniados ao SUS. Um exemplo é o de uma cirurgia de estômago, pela qual o médico recebe de planos de saúde, em média, R$ 496,52. Pelo mesmo procedimento, o profissional que trabalha em hospital conveniado ao SUS ganha apenas R$ 35,88. A diferença do que se paga por consulta básica na rede pública e em planos pode chegar a 664% – de R$ 10 para R$ 76,40. Ela é ainda maior, de 902%, no caso de cesariana feita por equipe do SUS (R$ 75,03) e dos planos (R$ 752, 16). A diferença em todos os procedimentos foi superior a 100%.

Num estudo anterior e mais abrangente, cujos resultados foram divulgados recentemente, o CFM já havia chamado a atenção para uma das principais causas que explicam tamanha diferença entre a realidade e a tabela do SUS. Entre 2008 e 2014, período que compreende os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, 74% (1.118) de 1.500 procedimentos hospitalares tiveram seus valores reajustados abaixo da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O mínimo a fazer, para evitar o agravamento da situação, era aplicar a correção inflacionária plena, pois é notório que a defasagem da tabela do SUS vem de muito longe.

As consequências desse descaso com a saúde pública são as piores possíveis. Comentando o estudo do CFM, seu primeiro-secretário, Hermann von Tiesenhausen, advertiu que aqueles baixos valores não prejudicam apenas os médicos, mas igualmente os pacientes e as instituições filantrópicas conveniadas ao SUS. Segundo ele, “os hospitais e as prefeituras acabam tendo de se virar para oferecer uma remuneração melhor e segurar o médico naquele emprego”, o que nem sempre conseguem, como reconhece. Foi a baixa remuneração dos profissionais de saúde, para citar um exemplo, que levou o Hospital Stella Maris, de Guarulhos, a fechar diversos serviços prestados ao SUS.

A maioria dos hospitais conveniados ao SUS, em todo o País, como é o caso principalmente das Santas Casas, tenta manter o atendimento contraindo dívidas, na esperança de receber socorro dos governos federal e dos Estados, ajuda que demora e só contorna precariamente a situação, adiando a solução do problema, que na verdade se agrava.

O Ministério da Saúde vem insistindo em que a tabela do SUS já não representa mais a única forma de custeio. Ele garante que os valores extras, fora da tabela, correspondem a 40% dos R$ 14,8 bilhões destinados pelo governo aos hospitais conveniados ao SUS. Mas a defasagem da tabela atingiu tais proporções que esses valores não conseguem compensá-la. A melhor prova disso é que, mesmo com eles, a crise dos hospitais continua grave.

Já está claro, a essa altura, que os remendos não bastam. É preciso repensar a saúde pública, porque, a continuar nesse ritmo e nessa direção, o sistema pode entrar em colapso.




HU perde 20% dos leitos entre janeiro e abril

22/06/2015 - O Estado de S.Paulo


O Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP) perdeu ao menos 45 leitos entre janeiro e abril – 20% do total. A queda é reflexo das medidas de contenção de gastos tomadas pela reitoria da universidade, que fez o hospital reduzir o atendimento. O dado consta em um relatório do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

O levantamento foi realizado em abril a pedido do Ministério Público Estadual (MPE),que investiga a redução de atendimento no HU. Segundo o documento,obtido com exclusividade pelo Estado, o total de leitos instalados recuou de 223 para 178 nos quatro meses. Dos 45 leitos fechados, 11 eram de terapia intensiva ou semi-intensiva. Das dez salas cirúrgicas, só seis estão em funcionamento “por falta de profissionais de enfermagem e médicos anestesistas”.

Ainda de acordo com o relatório, 12 tipos de ambulatórios foram desativados parcialmente, como os de pediatria, clínica cirúrgica e obstetrícia.O ambulatório de ortopedia foi encerrado.

“Como muitos leitos foram desativados, os pacientes se acumulam na observação do pronto-socorro em local não adequado”, registra o Cremesp no documento. No dia da vistoria, técnicos do conselho encontraram 23 pacientes em macas.

Entre 2010 e março de 2015, diz o relatório, a média mensal de consultas no ambulatório em seis especialidades (como pediatria, ortopedia e psiquiatria) recuou 38,5%, de 11,7 mil para 7,2 mil. O total de médicos caiu de 299, em janeiro de 2014, para 268, na data da vistoria.

Mudanças. Em março, o Estado mostrou que o HU havia passado a atender só a urgências e emergências. Casos de menor gravidade passaram a ser enviados a postos de saúde.

O hospital é um dos principais da zona oeste e cobre área com cerca de 500 mil habitantes.

Isso ocorreu após a perda de cerca de 200 funcionários que aderiram ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) da USP, uma das apostas da reitoria para contornar a crise financeira. Pesou ainda o corte de salários acima do teto na universidade – alguns médicos tinham remuneração acima do permitido.

Segundo o relatório, nas atuais condições,o hospital descumpre normas que preveem proporções mínimas de médicos por leito em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ou em salas de reanimação. Procuradas, a superintendência do HU e a reitoria da USP não comentaram o relatório.

De acordo com o vice-diretor clínico do HU, Gerson Salvador, a crise trouxe sobrecarga aos profissionais. “Colegas pedem demissão por causa das condições ruins de trabalho”, diz ele, que também é diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp). “Diminuiu a capacidade de atendimento e de resolução de casos. O relatório demonstra que a reitoria foi responsável por essa situação.” Marcos Boulos, conselheiro do Cremesp, reconhece as dificuldadesdecontornaroproblema.

“A USP não tem recursos para investir e modernizar o hospital”, diz ele, ex-superintendente de Saúde da universidade. Segundo Boulos, é importante que o Estado participe ativamente da manutenção do hospital,mas ainda é necessário discutir qual o melhor modelo para a gestão compartilhada. Os técnicos que fizeram a vistoria não comentaram o relatório.

Em 2014, a reitoria tentou transferir o HU para a Secretaria Estadual da Saúde, como estratégia para aliviar as contas da USP, o que gerou forte resistência interna da universidade. O governador Geraldo Alckmin (PSDB),porém, rejeitou a ideia.

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