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CLIPPING - 15/05/2015

Assessoria de Comunicação do CRF-SP

 

 

As exterminadoras do futuro

15/05/2015 - O Globo


Em 1945, o farmacologista escocês Alexander Fleming recebeu o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta da penicilina. Em seu discurso, ele próprio alertou que o uso inadequado da “novidade” iria torná-la ineficaz. Dois anos depois, surgiria o primeiro caso de resistência à penicilina — quatro anos após o remédio ser produzido em larga escala. Quase 70 anos mais tarde, as superbactérias, microorganismos resistentes a todos ou à maior parte dos antibióticos disponíveis no mercado, são hoje uma das maiores preocupações dos cientistas, como previu Fleming. Estudos de diferentes centros acadêmicos trazem previsões catastróficas. Ontem, uma equipe liderada pelo renomado economista Jim O’Neill divulgou um relatório encomendado pelo governo britânico sobre o tema. Segundo o documento, a comunidade internacional deve se reunir em torno de um fundo de US$ 2 bilhões para, nos próximos cinco anos, estimular a indústria farmacêutica a desenvolver uma classe de antibióticos capaz de eliminar as superbactérias.

Os custos totais dessa política podem chegar a US$ 37 bilhões ao longo de dez anos. Um investimento importante se o mundo quiser evitar o pior. De acordo com o relatório, as superbactérias podem matar, a partir de 2050, 10 milhões de pessoas por ano, e as perdas econômicas seriam de US$ 100 trilhões, de 2014 a 2050. O impacto deve ser ainda mais devastador nos países em desenvolvimento e economias mais pobres.

— O que está claro é que, quanto maior a população, maiores as consequências. É como o argumento do Brics ao reverso. A China e a Índia podem perder nada menos que um milhão de pessoas por ano, e a Nigéria, 25% do seu Produto Interno Bruto (PIB) — disse ao GLOBO Jim O’Neill, que é ex-presidente do grupo financeiro Goldman Sachs e responsável por cunhar o termo Brics para definir o conjunto de países em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

PRESERVAÇÃO DA MEDICINA

O’Neill propõe que um aporte financeiro agora atrairia o interesse das empresas de medicamentos para pesquisas no setor. O mercado atualmente investe pouco no combate às superbactérias porque ainda não há interesse de farmacêuticas nesse tipo de droga. O dinheiro proposto seria enviado a centros de pesquisa e universidades de ponta, para criar novos remédios e formas de diagnosticar doenças.

— Nós precisamos relançar o desenvolvimento de drogas para nos certificarmos de que o mundo tem os medicamentos de que necessita, para tratar infecções e para permitir que a medicina moderna e a cirurgia continuem como conhecemos — afirmou O’Neill.

O termo superbactéria vem sendo cunhado nos últimos cinco a dez anos, de acordo com o infectologista Carlos Kiffer, pesquisador do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica da Universidade Pesquisador busca superbactérias nas selvas da Malásia: indústria ainda não acordou para o problema.

Elas podem passar a resistência aos medicamentos para suas vizinhas Economista, que propõe fundo de US$ 2 bi para incentivar a criação de novos antibióticos Federal de São Paulo (Unifesp). A resistência das superbactérias, como explica o especialista, é resultado do uso indiscriminado de antibióticos, não apenas por humanos.

— Temos o uso de antibióticos na agricultura e na pecuária, portanto é uma conjunção de fatores. Claro, o abuso pela população é o principal fator — explicou Kiffer.

A dificuldade para um rápido diagnóstico microbiológico dos agentes causadores das infecções, por mais simples que sejam, pode acabar ocasionando a realização de um tratamento antibiótico empírico — isto é, sem a identificação da bactéria que provoca a doença, como explica a infectologista Marisa Gomes, do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Assim, foi observado, nos últimos 20 anos, que o desenvolvimento de novos antibióticos não acompanhou a rapidez com que os micro-organismos desenvolveram a resistência.

— Já existem bactérias contra as quais não há recursos terapêuticos disponíveis — disse Marisa. — Qualquer pessoa pode ser atendida na emergência de um grande hospital, adquirir uma infecção com micro-organismo resistente e ter dificuldade de se recuperar, ou até morrer. Vale lembrar que as bactérias resistentes não estão restritas aos hospitais. Elas podem também ser adquiridas no ambiente, fora das unidades de saúde. Se não houver antibióticos para tratar as infecções, estaremos ameaçando a medicina como um todo.

Ainda segundo a estudiosa, apesar de serem organismos unicelulares, as bactérias “têm uma capacidade de organização e comunicação muito grande”. Ou seja, quando uma delas adquire um gene de resistência a um determinado antibiótico, transmite a característica para as gerações seguintes e também para bactérias próximas, inclusive de outros gêneros e espécies. Elas podem, então, tornar-se resistentes tanto pela mutação genética como pela aquisição de um gene de outro micro-organismo.

Em paralelo ao avanço das superbactérias houve, como aponta Kiffer, uma mudança de paradigma na indústria farmacêutica — um fator para além da dificuldade natural de achar novas moléculas retratada num documentário do site “Vice” sobre o assunto. Desde 1987 não há novas classes de antibióticos. Em janeiro deste ano, um estudo da revista “Nature” anunciou a descoberta um novo grupo deles, mas todos, por enquanto, em teste.

— Investir em tratamento de infecções é complexo. Requer muito dinheiro, e a comprovação de que um antibiótico funciona é um desafio científico. Houve maior direcionamento para patologias que talvez tenham maior retorno financeiro, como doenças crônicas, onco- hematológicas — esclarece Kiffer.

Apesar da clara negligência da indústria, há a consciência da necessidade de um enfrentamento mundial em diferentes países. Nos Estados Unidos, o FDA (agência reguladora de remédios do país) lançou a iniciativa “10 x 20”, que busca compromisso global para criar uma empresa de pesquisa e desenvolvimento de antibióticos poderosa o suficiente para produzir dez novas classes do remédio até 2020. Já no Brasil, segundo Kiffer, enquanto a academia e pequenas empresas estão envolvidas e buscando alternativas, existe uma esquizofrenia na adoção de medidas de fomento público, já que há “tantas outras coisas em que investir, e essa área, que é tão prioritária, acaba recebendo pouca atenção”.

Uma área promissora de pesquisa diz respeito aos chamados “quebradores de resistência”, compostos que funcionam para aumentar a eficácia dos antibióticos existentes — uma abordagem muito menos custosa do que tentar descobrir drogas inteiramente novas.

A Helperby Therapeutics, empresa fundada pelo professor Anthony Coates, da Universidade de Londres, criou um disjuntor de resistência que age contra a superbactéria MRSA. O composto, conhecido como HT61, em breve entrará em ensaios clínicos na Índia.

Marisa diz que também é importante aprimorar as medidas de prevenção, com maior controle no descarte dos antibióticos, para que não contaminem os rios, e buscar outras formas de terapia, como vacinas contra infecções. E alertar fortemente a população contra a automedicação: é preciso ir ao médico para saber se realmente é necessário tomar antibióticos. Quando há indicação, deve-se respeitar as horas e ir até o final do período recomendado de tratamento, sem interrupção.

Melhores fornecedores da indústria farmacêutica recebem Prêmio Sindusfarma

12/05/2015 - Guia da Farmácia Online


O Prêmio Sindusfarma de Qualidade 2015 foi concedido aos melhores fornecedores e prestadores de serviço da indústria farmacêutica, em 25 categorias, na noite na última segunda-feira (11/5), em cerimônia que reuniu aproximadamente 1.500 pessoas na casa de espetáculos HSBC Brasil, em São Paulo.

Autoridades e líderes setoriais prestigiaram o evento, entre eles, o presidente em exercício da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ivo Bucaresky, o diretor da Anvisa Renato Porto e o secretário executivo da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), Leandro Safatle. O ex-presidente da agência, Dirceu Barbano, também esteve presente. O Prêmio Sindusfarma de Qualidade é coordenado pelo gerente de Boas Práticas e Auditorias Farmacêuticas do Sindusfarma, Jair Calixto.

As indústrias farmacêuticas apontaram, num processo de votação iniciado em fevereiro de 2015, os melhores fornecedores em 25 categorias, enquadradas em cinco grandes classes: máquinas e equipamentos; prestadores de serviço; matérias-primas; materiais de embalagem e materiais, equipamentos e serviços de controle de qualidade. Concorreram ao Prêmio deste ano 127 fornecedores, dos quais 69 foram selecionados para a etapa final.

A apresentação de Dinho Ouro Preto, líder da banda de rock Capital Inicial, fechou a cerimônia deste ano.

Editorial: Pôr no rótulo

13/05/2015 - Folha de S.Paulo


Está em discussão na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) uma medida que, se aprovada, obrigará produtores de alimentos e bebidas a incluir no rótulo de suas mercadorias aviso explícito sobre a presença de substâncias que provocam alergias.

Hoje, as etiquetas trazem mensagens cifradas acerca de alérgenos. No espaço destinado à listagem dos ingredientes, em geral apresentados em letras miúdas, indicam o uso de "caseinato de sódio" (proteína láctea) ou "soro albuminado" (ovo), por exemplo.

Pela proposta, as embalagens passarão não só a dar maior destaque a tais elementos como também os chamarão por seus nomes mais conhecidos. Serão nove grupos, responsáveis por mais de 90% das reações: leite, ovos, amendoim, nozes, trigo (incluídos centeio, aveia e cevada), crustáceos, peixes, soja e látex natural (utilizado em embalagens e luvas de manipulação).

Faz sentido que seja assim, e não somente pelo direito do consumidor de receber informações claras e precisas acerca do produto que se inclina a adquirir.

Pesquisa feita em 2009 pela Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas mostrou que quase 40% das reações alérgicas a leite de vaca decorreram de erros na leitura dos rótulos.

Tais equívocos –e suas consequências– decerto serão menos frequentes com as normas ora defendidas pela Anvisa.

Embora o debate exista há alguns anos, o assunto recebeu um empurrão em 2014 com o surgimento do "Põe no rótulo".

Formado por centenas de mães de crianças alérgicas e bastante popular na internet, o movimento não só conseguiu que a Anvisa realizasse consulta pública sobre o tema como estimulou participação recorde na agência, que atingiu quase 5.500 contribuições.

Se a mobilização tiver êxito, ajudará o Brasil a se posicionar, ao menos nesse aspecto, entre países do mundo desenvolvido. Estados Unidos, União Europeia, Austrália e Nova Zelândia, por exemplo, já possuem regras determinando que as embalagens contenham avisos destacados sobre a presença de alérgenos.

Trata-se de uma medida simples com um impacto considerável; estima-se que 8% das crianças com menos de três anos e 4% dos adultos sofram com a alergia alimentar –cujas reações incluem leves desconfortos estomacais, inchaços, erupções cutâneas, fechamento de glote e morte em decorrência de choque anafilático.

HPV reduz a fertilidade masculina, aponta estudo

14/05/2015 - Folha de S.Paulo


O HPV, vírus transmitido por contato sexual que às vezes desencadeia cânceres genitais, também pode afetar seriamente a fertilidade masculina. A presença dele no sêmen atrapalha o nado dos espermatozoides e a viabilidade dos embriões quando essas células conseguem fecundar o óvulo.

Tais conclusões integram uma série de estudos feitos por pesquisadores italianos, que deverão apresentar os resultados nesta semana em São Paulo, durante o 1º Congresso Internacional Huntington de Medicina Reprodutiva.

Para os cientistas, liderados por Carlo Foresta, da Universidade de Pádua, é possível que muitos dos casos de infertilidade masculina que hoje não têm explicação estejam ligados ao HPV --estima-se que a maior parte da população terá HPV ao longo da vida.

Hoje, a recomendação usual é vacinar contra o vírus as meninas que estão prestes a iniciar sua vida sexual.

"Vacinar também os homens traria uma proteção extra para as mulheres não vacinadas e reduziria custos com o diagnóstico e o tratamento da infertilidade", afirma Andrea Garolla, da Unidade de Andrologia e Medicina Reprodutiva da Universidade de Pádua, que é coautor dos estudos.

"A vacinação seria a única intervenção viável hoje para prevenir o problema, porque não há medicamentos que eliminem totalmente o HPV do organismo depois que a infecção aconteceu", explica Rodrigo Sousa Madeira Campos, urologista do A.C. Camargo Cancer Center, que avaliou a pesquisa italiana a pedido da Folha.

Para o médico brasileiro, a associação entre o HPV e os problemas de fertilidade proposta pela equipe de Pádua é bastante plausível. Os italianos estimaram que embriões gerados por homens com HPV são perdidos em 66% dos casos, contra apenas 15% entre aqueles sem o vírus.

ENFIADO NO DNA

O principal trabalho de Foresta, Garolla e companhia, publicado na revista especializada "Andrology", é uma meta-análise, ou seja, uma avaliação crítica de boa parte da literatura científica já publicada sobre o tema.Após avaliar dezenas de outros estudos, os pesquisadores concluíram que há boas razões para acreditar que homens que possuem o HPV em seu sêmen têm probabilidade maior de desenvolver astenozoospermia -- grosso modo, uma "síndrome do espermatozoide preguiçoso", na qual as células masculinas têm dificuldade de nadar rumo aos óvulos e, consequentemente, de fecundá-los e gerar um embrião.

As razões para isso ainda não estão totalmente claras, mas uma possibilidade é que, ao integrar seu DNA ao genoma das células humanas, como costuma fazer quando causa câncer, o HPV esteja bagunçando o funcionamento dos espermatozoides.

Também há indícios de que, mesmo nos casos de fecundação bem sucedida, o DNA viral acabe atrapalhando uma série de processos cruciais para o começo da gestação, como a fixação do embrião e o desenvolvimento dos tecidos invasivos que ele usa para obter recursos do organismo da mãe.

O que não se sabe ainda é se, mesmo com essas dificuldades, uma criança poderia nascer com o genoma do HPV integrado ao seu DNA desde o momento da fecundação. "É possível, mas pouco provável, porque em fases tão precoces a interferência do DNA viral dificilmente permitiria o desenvolvimento normal do embrião", argumenta Garolla.

Para homens que estão tentando ser pais há bastante tempo sem sucesso e possuem o vírus em seu esperma, os italianos propõem que uma forma de mitigar o problema seria a lavagem do sêmen com produtos que podem remover ao menos parte da carga viral.

Depois disso, os médicos responsáveis pelo tratamento de infertilidade adotariam a chamada injeção intracitoplasmática de espermatozoide, técnica na qual uma única célula masculina é injetada num óvulo, para aumentar as chances de uma gestação.

Dormir muito não significa ser saudável

13/05/2015 - Folha de S.Paulo


Novas pesquisas têm mostrado que dormir muito --mais que nove horas-- pode ser tão ou até mais prejudicial do que dormir pouco --menos que seis horas.

Um estudo publicado no periódico "Neurology" apontou que pessoas que relataram dormir mais do que oito horas tiveram aumento de 46% no risco de sofrer AVC, quando comparadas àquelas que relataram dormir de seis a oito horas.

Entre aquelas que relataram dormir menos do que seis horas, o aumento foi de 18% (estatisticamente não significativo, segundo os autores).

Os pesquisadores estudaram 9.692 pessoas entre 42 e 81 anos que não tinham sofrido AVC antes de seu relato.

Os mecanismos da associação entre dormir muito e os riscos à saúde ainda não são totalmente conhecidos, mas os pesquisadores acreditam que a necessidade de um longo período de sono pode ser um sinal precoce de desregulação no cérebro e risco de sofrer AVC no futuro.

Para Yue Leng, uma das autoras do trabalho, uma possibilidade é que essa desregulação esteja ligada a problemas no fluxo sanguíneo.

Estudos experimentais poderão explicar melhor essa relação, ainda desconhecida. Em um comentário sobre o artigo, também na "Neurology", Camila Hirotsu, pesquisadora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, faz a ressalva de que muitas pessoas tendem a superestimar seu período de sono --elas não dormem tanto assim.

Elas podem estar levando em conta, por exemplo, o horário em que vão para a cama, em vez do horário em que efetivamente pegam no sono.

Como a pesquisa americana se baseia em relatos, isso seria um ponto fraco dos dados. Além disso, parte dos dorminhocos pode ter apneia obstrutiva do sono, que é um fator de risco para doenças cardiovasculares.

A apneia é caracterizada por pausas respiratórias durante o sono que provocam pequenos despertares, não percebidos pelo paciente.

"A pessoa acorda irritada e sente sonolência durante o dia inteiro", diz Mônica Andersen, professora da Unifesp. "O sono é interrompido, e, como a pessoa fica com sonolência muito grande, dorme em qualquer lugar que encosta. O tempo total de sono é até aumentado", diz Camila.

Um estudo epidemiológico realizado em 2007 na cidade de São Paulo, com 1.042 pessoas que foram avaliadas por questionários e polissonografias, apontou que 33% dessa população tinha apneia obstrutiva do sono.

A apneia é, segundo Geraldo Lorenzi Filho, presidente da Associação Brasileira do Sono, o distúrbio do sono que mais acomete o sistema cardiovascular. Podem acontecer mais de 30 pausas por hora. Essa situação é perigosa porque obriga o coração a fazer mais esforço, e o estado de falta de oxigênio é muito deletério para o cérebro.

Outros estudos associam longos ou curtos períodos de sono com outras doenças, como diabetes e obesidade.

Alterações no sono são prejudiciais porque o sono é fundamental para o organismo. "É um momento de descanso, importante para a reorganização do cérebro", diz Lorenzi.

Neste ano,MaisMédicos não recrutará cubanos

15/05/2015 - O Estado de S.Paulo


O Mais Médicos não vai recrutar neste ano profissionais cubanos. Todas as vagas que haviam sido abertas para ampliação do programa foram preenchidas por médicos brasileiros, formados no Brasil e no exterior. “A tendência é que não precisemos fazer novos convênios”, afirmou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, ao apresentar os resultados da seleção de médicos brasileiros formados no exterior.

Os resultados obtidos em 2015 são bem distintos do histórico do programa, iniciado em 2013, que até agora teve a maior parte da sua mão de obra preenchida por médicos recrutados por meio do acordo de cooperação firmado com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Dos 14.462 profissionais que atuam na iniciativa,a maioria é formada por profissionais contratados pelo convênio: 11.429 médicos. Outros 1.846 são formados no Brasil e 1.187 têm diplomas obtidos no exterior.

Pela lei, a contratação de profissionais é feita em ciclos. A preferência é dada para médicos com diploma obtido no Brasil.

Em seguida, vagas remanescentes são oferecidas para brasileiros que se formaram no exterior.Na terceira fase, vêm os estrangeiros com interesse em ingressar no programa e, por fim, profissionais recrutados por meio do convênio firmado com a Opas.

O maior interesse de profissionais brasileiros é resultado da combinação de dois fatores.

Para atrair os médicos formados no Brasil, o governo passou neste ano a ofertar um bônus para a residência médica. Depois de um ano participando do programa, profissionais passam a ter direito a 10% amais na nota da prova – algo extremamente atrativo, diante da alta calma nos ânimos entre governo e associações médicas. Entidades ocorrência para os cursos.

Pesou ainda a maio de classe faziam críticas severas ao programa,quando foi lançado, por considerá-lo ineficaz e, principalmente, porque ele dispensava a exigência da validação do diploma para profissionais graduados no exterior.

Desde o fim do ano passado, Chioro passou a fazer um esforço para a reaproximação com as entidades.

Abrangência. Com a expansão do programa, o Mais Médicos passa a ter 18.240 profissionais, alocados em 4.058 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas.Nesta última rodada de contratações, para profissionais brasileiros formados no exterior, foram escolhidos 387 profissionais.

“A partir de agora, faremos reposições trimestrais”, disse Chioro.Não há previsão para este ano para uma nova expansão do número de vagas ou de municípios contemplados pelo programa.

“Atingimos a meta que havia sido estabelecida.” Em março,Chioro foi ao Congresso para pedir apoio contra um decreto legislativo proposto pelo PSDB que previa o fim do convênio com Cuba.Na época,o ministro ressaltou que isso poderia causar“o fim do programa Mais Médicos”.




Ministério confirma 16 casos de zika vírus no país

14/05/2015 - Valor Econômico


O Ministério da Saúde confirmou hoje (14) um total de 16 casos de zika vírus no país – oito na Bahia e oito no Rio Grande do Norte. A doença é transmitida por meio da picada do Aedes aegypti, mesmo mosquito transmissor da dengue.

As amostras foram encaminhadas aos laboratórios de referência do Instituto Evandro Chagas e ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos para avaliação. Análises feitas pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia já haviam indicado resultado preliminar para a presença do vírus.

O zika vírus foi isolado pela primeira vez em 1947, a partir de amostras de macacos usados como sentinelas para a detecção da febre amarela, na Floresta Zika, em Uganda. Ele é considerado endêmico no leste e oeste do continente africano e há registro de circulação esporádica também na Ásia e na Oceania.

Nas Américas, ele já havia sido identificado na Ilha de Páscoa, território do Chile no Oceano Pacífico, em 2014. Casos importados foram descritos no Canadá, na Alemanha, na Itália, no Japão, nos Estados Unidos e na Austrália.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que o governo brasileiro já trabalhava com a possibilidade de entrada do vírus no país em razão do alto fluxo de turistas estrangeiros durante a Copa do Mundo, no ano passado. Segundo o ministério, o zika vírus tem evolução benigna, caracterizada por febre baixa, olhos vermelhos sem secreção e sem coceira, dores nas articulações e erupção cutânea com pontos brancos e vermelhos, além de dores musculares, dor de cabeça e dor nas costas.

Ainda de acordo com a pasta, a doença tem um período de incubação de cerca de quatro dias e os sinais e sintomas podem durar até sete dias. A maior parte dos casos não apresenta sintomas e não há registro de morte associada. O tratamento é sintomático com uso de paracetamol para febre e dor, conforme orientação médica. Não está indicado o uso de ácido acetilsalicílico e de drogas anti-inflamatórias por conta do risco aumentado de complicações hemorrágicas, como também ocorre com a dengue.




Dilemas do financiamento para o setor de saúde

15/05/2015 - Valor Econômico


A inesperada e preocupante crise política e econômica que atingiu o Brasil nos últimos meses escancarou ainda mais uma crítica situação que vivemos no setor saúde. Todos os Estados brasileiros reclamam da falta de recursos financeiros para custear os programas existentes e implantar novos que possam atender as demandas da população. Isto atinge o setor público e o setor privado suplementar.

A Medida Provisória 656, enviada pela presidente da República e aprovada pelo Congresso, permitindo a captação de recursos financeiros de investidores estrangeiros para o setor de prestação de serviços na saúde, até então proibida pela Constituição brasileira, pode contribuir fortemente para a correção de uma grave distorção dessa falta de financiamento para o setor de saúde, e é um grande avanço para a ampliação da capacidade de incorporação tecnológica e do número de leitos hospitalares públicos e privados.

É muito bem vindo o aporte de capital estrangeiro. Ele contribuirá para a redução de inúmeros problemas do setor de saúde, seja através da transferência de conhecimentos de gestão; da redução da obsolescência tecnológica; da construção de novas unidades hospitalares ou pela aquisição de hospitais existentes, muitos deles mal gerenciados e altamente deficitários e sem capacidade de investimentos, bem como dos demais serviços complementares de saúde.

Especialmente neste momento em que vivemos uma grave crise de custeio e reduzida capacidade de investimentos pelo setor público, agravada pela mudança do perfil demográfico da população, pelo crescente número de desempregados e consequentemente perda da cobertura de planos de saúde privados, a vinda do capital estrangeiro poderá reduzir essa grave crise de financiamento no setor público por meio da implementação das parcerias público-privadas, já que não se encontra investidores nacionais em número suficiente para alavancar o necessário crescimento das unidades públicas.

Realmente, não fazia o menor sentido, restringir-se o acesso de recursos financeiros oriundos do exterior para o setor de assistência médica e hospitalar, pelo fato da Constituição brasileira determinar que saúde é um dever do Estado. Que diferença faz se os recursos para construção de hospitais ou para aquisição de unidades hospitalares existentes sejam oriundos de capitalistas brasileiros ou estrangeiros? Todos, rigorosamente todos, que investem na saúde privada, e nas unidades públicas por meio das PPPs, esperam retorno dos investimentos feitos. É simples assim. Lucro não é pecado e é a essência da lei do capitalismo. Se existe possibilidade e interesse de investidores estrangeiros em investir em unidades produtivas da assistência médica e hospitalar brasileira, que sejam bem-vindos.

Entretanto, precisamos criar algumas proteções. O que não podemos é deixar que o setor se autorregule pelo fundamento do lucro a qualquer custo. Serviços de saúde, ao contrário dos demais bens de serviços, não podem ser regulados exclusivamente pelas leis de mercado. Se queremos adquirir um automóvel sofisticado e não temos o dinheiro suficiente para isso, adquirimos o que podemos, e chegaremos a nosso destino de qualquer jeito. Se entretanto, temos um câncer ou sofremos de insuficiência renal crônica, não podemos abrir mão do que existe de melhor no tratamento oncológico ou no tratamento dialítico. São nas duas situações, bens de consumo, mas totalmente distintos do ponto de vista da obrigatória equidade que temos de ter em relação a quem deles necessita. O risco que corremos, com a abertura de capital para investidores profissionais, e aí vale tanto para investidores financeiros nacionais ou internacionais, é que a medicina se transforme em um negócio como outro qualquer. E ela não é.

Este é o grande paradoxo dos serviços de saúde: são um bem de consumo, mas as regras do lucro previstas no capitalismo não podem ser aplicadas de forma livre, como nos demais setores econômicos. Razões de natureza técnica, moral e ética não podem, no caso da saúde, estar subordinadas ao retorno sobre o investimento feito. Isto, obviamente, independe se o dinheiro investido é originário do Brasil ou estrangeiro.

Não podemos cometer o erro de sairmos de uma etapa anacrônica e ultrapassada de modelo de negócio centrado em um Estado frequentemente incompetente e perdulário, para um faroeste caboclo de gestão focada em resultados financeiros a qualquer custo. Portanto, considerando as especificidades da saúde, algumas ressalvas deveriam ser propostas neste momento em que se trabalha a regulamentação da medida provisória aprovada pelo Congresso nacional.

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Regras de "compliance", garantias de segurança para o paciente, obrigação de qualificação profissional, acreditação e certificação de qualidade hospitalar, deveriam estar entre as exigências a serem cumpridas para que o capital - seja ele nacional ou estrangeiro - pudesse ser aportado, quando feito por meio de fundos de investimentos ou bancos estrangeiros. Além disso, fundos de investimentos estrangeiros ou mesmo nacionais não deveriam ter participação majoritária direta ou indiretamente na aquisição de antigos ou criação de novos hospitais, ou qualquer outra organização prestadora de serviços de saúde no Brasil.

Desta forma, estabelecendo-se limites para a participação societária de investidores financeiros, poderia estar sendo definido um equilíbrio técnico, econômico e moral que garanta a sustentabilidade da instituição e a qualidade da assistência à população.

Uma boa regulamentação da MP, restringindo a influência econômica nas tomadas de decisão médicas, pode ser uma salvaguarda para os interesses da população brasileira e uma inibidora forma de enfrentar a reação anacrônica que muitos partidários das políticas do quanto pior melhor defendem, com o único e dissimulado objetivo de manter seus privilégios na gestão das políticas públicas de saúde em nosso país.




Brasileiros ocupam 100% das vagas no Mais Médicos

15/05/2015 - Valor Econômico


Profissionais brasileiros com diploma no exterior preencheram todas as 387 vagas remanescentes do atual edital do Programa Mais Médicos. Com isso, 100% da demanda dos municípios foi atendida sem a necessidade de convocar profissionais estrangeiros, segundo o Ministério da Saúde.

Segundo a pasta, a adesão desses profissionais vai garantir assistência a 63 milhões de brasileiros que antes não contavam com médicos em unidades básicas de saúde. Ao todo, serão 18.240 médicos atuando em 4.058 municípios, cobrindo 72,8% das cidades brasileiras, além de 34 Distritos Sanitários Indígenas.

De acordo com o ministro da Saúde, Arthur Chioro, os médicos brasileiros convocados nesta fase têm formação em países como Argentina, Uruguai, Portugal, Espanha e Rússia.

"Alcançamos 100% das vagas cobertas por médicos brasileiros. Não haverá abertura de vagas para médicos intercambistas individuais estrangeiros e também não chegaremos à fase do intercâmbio com a Organização Pan-americana de Saúde para trazer médicos cubanos ao Brasil", explicou.

O governo federal encerra a ampliação do Mais Médicos prevista para 2015. Em julho e outubro serão publicados apenas editais para a reposição de profissionais que deixarem o programa.

Ministério confirma 16 casos de 'dengue light'

15/05/2015 - Folha de S.Paulo


O Ministério da Saúde confirmou que há 16 pacientes infectados pelo zika vírus, agente infeccioso até então inédito no país e que é transmitido pelo mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti.

Segundo o ministro da Saúde, Arthur Chioro, oito pacientes são de Camaçari, na Bahia. Os demais casos foram confirmados em cidades do Rio Grande do Norte. O número pode subir, já que outros 1.200 casos, a maioria no Nordeste, ainda são investigados.

A possibilidade de circulação do zika vírus foi apontada por pesquisadores da UFBA (Universidade Federal da Bahia) que investigavam uma "doença misteriosa" no Nordeste, conforme a Folha divulgou no início de maio.

A suspeita é que o vírus tenha chegado ao Brasil com turistas na Copa do Mundo.

Para o ministro, a confirmação da entrada do zika vírus no país "não preocupa". "É uma doença benigna e que tem cura. A nossa preocupação é a dengue, porque a dengue mata", disse.

Em geral, o zika vírus provoca manchas no corpo, coceira, febre baixa, além de dor de cabeça, dores musculares e nas articulações. Em alguns casos, pacientes também apresentam vermelhidão nos olhos. Os sintomas persistem por até sete dias.

Assim como a dengue, ainda não há remédio específico para o zika vírus. O tratamento é baseado no uso de medicamentos para febre e dor.

O uso de ácido acetilsalicílico e drogas anti-inflamatórias não é indicado, devido ao risco aumentado de complicações, afirma o Ministério da Saúde.

Governo quer permitir partos sem pediatra

14/05/2015 - O Estado de S.Paulo


Associações médicas criticaram ontem duramente a proposta do Ministério da Saúde com diretrizes para a realização de partos no País. O texto, que estava até ontem em consulta pública, permite que o parto seja feito sem a presença de médicos pediatras – algo considerado temerário pelos profissionais.

“Fomos consultados para elaboração do texto. Mas o formato apresentado na consulta está longe de ter a nossa concordância”, afirmou o diretor da Associação Médica Brasileira (AMB), José Bonamigo. A AMB, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), enviaram ontem ofício ao ministério repudiando o relatório.

O texto que ficou em consulta pública desde o dia 23 de abril afirma ser necessária a presença de um médico ou de um profissional capacitado para fazer a reanimação. “Há um movimento para reduzir os custos de procedimentos médicos. Isso não pode ser feito às custas da saúde da gestante ou da criança”, disse Bonamigo.

O Ministério da Saúde, por meio da assessoria de imprensa, informou que o texto não proíbe a participação do pediatra.

A pasta argumenta ainda que a proposta em análise não é muito diferente da portaria atualmente em vigor. De acordo com o ministério, o texto atual já prevê que o atendimento do recém-nascido possa ser feito por médico ou profissional treinado para reanimação.

Mas a portaria atual cita claramente que o atendimento preferencialmente deve ser feito por um pediatra.

O documento sobre diretrizes para o parto teve outro ponto criticado por Bonamigo. O texto recomenda o parto normal também para gestantes que já passaram por mais de uma cesárea.

“Não concordamos com essa proposta”, afirmou.

Depois de duas cesáreas, o mais prudente, segundo o diretor da AMB, é repetir o procedimento, sob pena de rompimento do útero da gestante.No Brasil, cerca de 50% dos nascimentos ocorrem por meio de cesárea, quando o índice recomendável pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 15%.

Frieza do médico é queixa comum entre pacientes

14/05/2015 - Folha de S.Paulo


As iniciativas para melhorar a relação entre estudantes de medicina e seus pacientes surgem como resposta a uma queixa comum: a de que os médicos são frios e conversam pouco durante os atendimentos.

"Não precisa perguntar muito para constatar que as pessoas saem insatisfeitas das consultas," afirma Rodrigo Lima, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e da Comunidade. É uma impressão que independe de classe social. "Mesmo quem tem plano de saúde diz que não foi bem atendido."

Para Izabel Cristina Rios, coordenadora do núcleo de humanização do Hospital das Clínicas da USP, a relação médico-paciente em muitos casos já poderia ser chamada de relação instituição-cliente: a pessoa paga o hospital ou convênio e é atendida.

Ela não sabe dizer se é a formação técnica das universidades que deixa os médicos mais frios ou se é o mercado que dificulta um atendimento mais humanizado. "Não dá para separar. O ensino é voltado para o trabalho e o mercado pede um profissional técnico e rápido", diz.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e diretor da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, culpa a formação médica. Segundo ele, a universidade valoriza o conhecimento técnico em detrimento de valores humanos como ética e respeito.

Ele é crítico às mudanças curriculares nos cursos de medicina feitas pelo Ministério da Educação no ano passado, que devem ser incorporadas pelas universidades até o fim de 2018. Entre outras coisas, as novas diretrizes preveem estágio obrigatório no SUS e um maior peso para as práticas humanistas.

"Não tem como impor uma mudança para todo o país. Um currículo realmente humanista deveria ser centrado na comunidade e nas doenças prevalentes de cada região", diz Lopes.

Já para Lima, as modificações são interessantes, mas insuficientes. "O modelo da formação médica de hoje desencoraja os estudantes. Não precisamos ensinar os alunos a serem humanos, precisamos deixar de ensinar o oposto."

Henrique Batista e Silva, secretário-geral do Conselho Federal de Medicina, critica, além do ensino, as políticas públicas de saúde. "Não há boas condições de trabalho, falta tempo, os médicos são mal remunerados. Isso contribui para que as boas práticas não sejam aplicadas."

OUTRO LADO

Hêider Aurélio Pinto, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, diz que não dá para culpar o sistema. "Exemplos mostram que é possível fazer diferente, como com o programa Mais Médicos e com a política de humanização do SUS. Na atenção básica, orientamos que sejam criados vínculos com o paciente e que ele se sinta acolhido."

Em nota, o MEC afirmou que as novas diretrizes curriculares foram criadas com base em uma série de audiências públicas e têm como fim integrar a educação médica brasileira a um movimento mundial em que, "além de competência técnica, (...) é esperado do profissional médico um desenvolvimento adequado de sensibilidade humanística".




Só 5% dos hospitais têm selo de qualidade

14/05/2015 - Folha de S.Paulo


Apenas 4,61% dos 6.140 hospitais brasileiros possuem algum tipo de acreditação, espécie de chancela de que a instituição opera dentro de padrões estabelecidos de qualidade e segurança.

Não há lei que obrigue a instituição a buscar certificação, feita por empresas externas encarregadas de avaliar centenas de processos em um hospital como prontuários, taxa de infecção e capacitação de funcionários.

Nos EUA e no Canadá, governos e seguradoras de saúde exigem certificação dos hospitais com os quais firmarão contratos ou parcerias. E pacientes usam o selo como parâmetro para escolher.

No Brasil, não há incentivo por parte dos governos ou das operadoras de saúde para que mais hospitais busquem a acreditação.

"Não há nenhuma vantagem em ser acreditado no Brasil, nem penalidade por não sê-lo. Isso fica a critério dos gestores de hospitais e da disponibilidade de recursos", diz Ana Maria Malik, coordenadora do núcleo de saúde da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e autora de estudo sobre acreditação no país.

Dos 283 hospitais acreditados até o mês passado, quase 40% estavam concentrados em território paulista. Na região Norte, Acre, Rondônia, Roraima e Tocantins não têm instituições certificadas.

Nos EUA, mais de 90% dos hospitais têm acreditações, segundo informações de Jean Moody-Williams, diretora do programa de qualidade ligado ao CMS, órgão do governo americano responsável pelos serviços públicos de saúde (Medicare e Medicaid).

O CMS não fecha contratos com hospitais sem essa chancela. "Abrir-se para a acreditação é o mínimo que se espera de uma instituição hospitalar", disse Jean à Folha durante um congresso de qualidade hospitalar promovido pela FGV em abril.

Não há garantia de que a acreditação afete diretamente a qualidade, mas indica que o hospital deseja melhorar. "Isso abre possibilidades de novas e boas práticas de gestão", explica Malik.

A economista da saúde Maureen Lewis, professora na Georgetown University (Washington), tem a mesma avaliação. "A acreditação dá uma garantia mínima. Se ninguém fiscaliza, os hospitaisfazem o que querem", afirma.

Para ela, a certificação traz mais segurança ao paciente. "Os hospitais não podem deixar aumentar o nível de infecção hospitalar senão perdem o selo", exemplifica.

Na opinião de Maria Carolina Moreno, superintendente da Organização Nacional de Acreditação, uma das quatro acreditadoras atuantes no Brasil, o custo, de R$ 60 mil para hospital de 200 leitos, é uma das barreiras à adesão.

Há outras. A prática prevê mudanças na cultura, o que pode gerar conflitos entre profissionais de saúde. "Não temos pretensão de fazer com que todos os hospitais sejam acreditados. Mas os padrões de segurança do paciente devem atingir a todos."

Até 70% dos erros que ocorrem em hospitais brasileiros, como medicações trocadas ou operação de membros errados, seriam evitados se as instituições seguissem protocolos já estabelecidos.




2º Fórum elenca as razões do atraso na inovação

14/05/2015 - Folha de S.Paulo


A inovação anda muito devagar no setor de saúde.

A burocracia, a falta de agilidade na aprovação de pesquisas clínicas e de novos produtos, os altos custos e as deficiências de infraestrutura logística no país são algumas das barreiras ao avanço, na avaliação de participantes do 2º Fórum a Saúde do Brasil, promovido pela Folha.

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), afirma que "o Brasil criou nos últimos anos uma série de incentivos à inovação, mas não diminuiu os enormes obstáculos que existem para as empresas fazerem pesquisa".

Um desses obstáculos aos quais ele se refere são os custos trabalhistas. "Nós temos uma complexidade tributária que onera empresas para tudo, inclusive para inovação."

DUAS MÃOS

Um estudo feito pela Fundação Don Cabral também aponta o chamado "custo Brasil" como um dos responsáveis pelo entrave das inovações em saúde.

Esse custo é decorrente de diversos fatores como carga tributária alta e complexa, juros altos, custo elevado de energia e matérias-primas, deficiência da infraestrutura logística e leis trabalhistas obsoletas.

"Esses obstáculos acabam se acumulando. É como se o governo tivesse duas mãos, com uma incentiva a inovação, com a outra cria barreiras", afirmou Brito Cruz.

Na opinião de Carlos Goulart, presidente da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares), outro problema que entrava o processo de inovação é a falta de entrosamento entre universidade, indústria e empresa.

"A agência Bloomberg fez um estudo sobre pesquisa e desenvolvimento, e o Brasil ficou em 47º lugar em capacidade de inovação. Nós temos recursos, mas patinamos", diz Goulart.

Na opinião do presidente da Abimed, o país tem como acelerar a criação de patentes de novas drogas, mas precisará investir mais em pesquisa privada.

Paulo Hoff, diretor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), enumera mais problemas. Segundo ele, não há no Brasil uma correlação entre a publicação de artigos em revistas científicas e a geração de patentes.

"Muito do que estudamos hoje poderia gerar novas patentes de medicamentos, mas esses processos não avançam por causa da burocracia para produzir ensaios clínicos."

Brito Cruz, por sua vez, recomenda cuidado nessa comparação entre produção científica e patentes de drogas.

"Em um país de economia saudável, quem mais faz patente é a empresa, não é a universidade", diz o diretor científico da Fapesp.

Nos Estados Unidos, por exemplo, 80% das pessoas que se dizem cientistas trabalham para empresas, e não para universidades, segundo ele. "Lá, menos de 5% das patentes vêm de universidades", completa Brito Cruz.

Paulo Hoff aponta para a falta de agilidade que envolve a regulação dos ensaios clínicos. "No Brasil, a autorização pode levar até um ano, quando lá fora são três ou quatro meses", compara.

Jarbas Barbosa, secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, reconhece que há uma certa resistência à inovação no Brasil, mas afirma que ela não é de todo mal. "Isso impede um certo 'novidadismo' de incorporar [tecnologias] sem critério", afirmou ele.

Na visão do secretário, aproximar os institutos de pesquisa e a indústria é um dos requisitos para acelerar os processo de inovação na saúde brasileira.

"Há um bom conjunto de colaboração entre universidades e empresas privadas. Além disso, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] tem tomado medidas regulatórias para aperfeiçoar o ambiente de testes para novos medicamentos", disse Jarbas Barbosa.

Na área de oncologia, a inovação se faz ainda mais necessária, lembra Paulo Hoff, do Icesp.

"Hoje, 40% dos pacientes com câncer vão morrer da doença, por isso precisamos acelerar a criação de novos medicamentos."

A questão central é obter recurso para expansão

14/05/2015 - Folha de S.Paulo


O governo federal aposta suas fichas na ampliação do número de médicos atuantes no país e na abertura de novas vagas nos cursos de medicina, mas há ainda muitas lacunas, especialmente na formação dos médicos, que comprometem a qualidade do atendimento.

Na abertura do 2º Fórum a Saúde no Brasil, promovido pela Folha, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que o governo está atento à expansão do ensino médico.

"Estamos inaugurando uma nova metodologia com o MEC para analisar quais municípios têm condições de receber novos cursos de medicina", afirmou ele.

Em dois dias de fórum, segunda (11) e terça-feira (12), especialistas debateram esse e outros assuntos ligados ao setor de saúde.

Eles foram unânimes em citar a falta de recursos do setor como um dos principais entraves--ainda mais em um cenário de crise econômica e de aumento nos casos de dengue, o que sobrecarrega o SUS e onera os cofres públicos.

Também falaram de problemas de gestão e do desperdício, que, segundo estimativas, chegam a drenar 20% dos recursos do setor.

FINANCIAMENTO

Os custos da saúde no Brasil e o desafio de levantar recursos também foram temas amplamente discutidos ao longo do evento. Do debate, surgiram ideias como taxar as grandes fortunas para aumentar os recursos para a saúde, proposta levantada por Áquilas Mendes, professor de saúde pública da USP.

No entanto, só aumentar o bolo de investimentos na área não resolve o problema, segundo Marcos Bosi Ferraz, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "É preciso atacar a ineficiência do sistema e combater o mau uso do dinheiro."

Na saúde privada, a escalada dos custos podem comprometer a sustentabilidade do setor, segundo dirigentes de planos de saúde e hospitais. A Anahp (associação dos hospitais privados) discute modelo de compras coletivas como forma de economizar, afirma Francisco Baletrin, presidente da entidade.

É preciso repensar o que significa resultado em saúde no Brasil "" ele não é medido pela quantidade de procedimentos realizados, disse Martha Regina de Oliveira, diretora-presidente substituta da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

PESQUISA E REGULAÇÃO

Desburocratizar a regulação da pesquisa clínica e de novos produtos em saúde também é uma necessidade.

A lentidão para aprovar um novo medicamento no Brasil tem feito com que muitas indústrias farmacêuticas deixem de investir em ensaios clínicos no país, segundo Ana Paula Ruenis, diretora-presidente da Abracro, associação que representa as organizações de pesquisas clínicas.

Segundo ela, o prazo médio para o primeiro parecer da agência reguladora tem sido de 267 dias, mas já houve casos de um medicamento esperar mais de 480 dias para ser aprovado.

Ivo Bucaresky, diretor-presidente substituto da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), disse que o número alto de processos e a limitação de servidores estão por trás da demora.

Todos os 25 debatedores do fórum, que reuniu 280 participantes no MIS, em São Paulo, são unânimes em uma conclusão: quando se trata da crise da saúde, não existem soluções simples. Mas o enfrentamento das questões exige um diagnóstico preciso.




Santa Casa precisa enxugar e mudar de perfil contra a crise

14/05/2015 - Folha de S.Paulo


Convocado por gestores da Santa Casa de SP para tentar reverter a crise do hospital e assumir sua provedoria, o médico José Luiz Setúbal, 58, da família fundadora do Itaú, avalia que a instituição precisará enxugar sua estrutura, com demissões e possível mudança de perfil que reduza a capacidade de atendimento.

Mas diz que desta vez só aceitará a função se houver consenso em torno de seu nome como candidato único --em 2013, com 45% dos votos, ele perdeu a disputa para Kalil Abdalla, que renunciou no mês passado e cuja gestão é investigada pela Promotoria.

"Estou colocando a minha credibilidade pessoal e a da minha família quando aceito ser candidato. O mais fácil seria eu fazer um cheque generoso e assistir tudo de longe", afirmou Setúbal à Folha.

Diante das dívidas de cerca de R$ 800 milhões do maior complexo hospitalar filantrópico da América Latina, Setúbal reconhece possível resistência a ações que planeja, como diminuição da abrangência dos serviços, redução de funcionários e busca de prazo para pagar dívidas.

"Vão falar que é medida de banqueiro. Mas enquanto meu defeito for ser banqueiro, está ótimo", diz. A escolha do provedor será em 9 de junho --possíveis candidaturas ainda serão oficializadas.

Folha - Por que o sr. quer ser provedor da Santa Casa?

José Luiz Setúbal - Não era minha vontade, até 15 dias atrás. Recebi muita pressão para ser candidato. Penso que posso ajudar diante da situação muito grave atual. Mas só aceito caso haja consenso em torno do meu nome e eu seja candidato único. A recuperação da instituição precisa de postura de união.

Como pretende enfrentar o rombo financeiro do hospital?

Vou conversar com os três níveis de governo e acertar o que se espera da recuperação da Santa Casa. O hospital não vai fechar, porque é muito importante para a saúde de São Paulo, mas ele pode mudar de perfil, tornar-se um hospital regional, com menor capacidade de atendimento, diminuindo muito de tamanho.

A outra opção, manter tudo como é, atendendo gente do país inteiro, vai exigir outra estratégia e outro esforço a serem pensados. Embora o hospital seja privado, ele tem uma importância social imensa e isso faz o problema passar a ser político. Vai ser preciso um compromisso de todos para resolver.

O secretário [de Saúde do Estado de SP] David Uip disse que a saúde vai ficar pior.

Não quero dinheiro. Quero, por exemplo, apoio para pedir um respiro da Caixa Econômica Federal para o pagamento de dívidas e, assim, conseguirmos sobreviver. Se a Santa Casa morrer, o banco não vai receber.

A falência do hospital é também a falência da sociedade que não consegue manter uma instituição que tem a idade da cidade e que foi erguida com o esforço de muita gente. Pensar em falência me dá uma tristeza enorme [interrompe a entrevista para conter o choro].

E qual o plano para combater a crise de credibilidade?

A Santa Casa é muito maior do que os homens que fizeram todos os malfeitos que estão aí. Estou colocando a minha credibilidade pessoal e a da minha família, quando aceito ser candidato à provedoria para tentar recuperar a instituição. Isso não é pouco.

O mais fácil seria eu fazer um cheque generoso e assistir tudo de longe. Mas, se quero um país melhor, preciso parar de reclamar e arregaçar as mangas para trabalhar para que ele seja melhor.

O saneamento das contas pode passar por ajustes no quadro de funcionários?

Isso é uma realidade. Até um ano atrás, a Santa Casa tinha 40 unidades de saúde e isso diminuiu muito. Os funcionários se aglomeram agora na sede e muitos não têm nem o que fazer. Teremos de enxugar isso. O número é entre 1.000 e 1.200 pessoas, não sei ao certo [atualmente há em torno de 11 mil pessoas].

Sou médico, não gestor. Mas sei que quando um paciente está com uma doença grave ele precisa tomar medicamentos que vão fazer muito mal a ele, mas o tratamento visa a sobrevivência. Infelizmente, teremos de fazer.

Vão falar que é medida de banqueiro, como falaram da minha irmã [Neca Setúbal, que apoiou a candidatura de Marina Silva à Presidência] durante a eleição. Mas enquanto meu defeito for ser banqueiro, está ótimo. Para alguns setores, parece que minha única qualidade é ser herdeiro do Itaú e, por um acaso da vida, ter uma fortuna vinda de um banco.

Que tempo e energia pretende dedicar à Santa Casa?

Como diz aquela piada: se quer que algo seja bem feito, entregue para alguém que não tenha tempo. O meu papel lá será muito político e estou preparado para isso.




País tira até 21% do sódio de alimentos em três anos

13/05/2015 - O Estado de S.Paulo


O Ministério da Saúde divulgou ontem o resultado do acordo feito em 2011 com a Associação das Indústrias da Alimentação (Abia) para redução de sódio nos alimentos. Segundo os dados,entre 2011 e 2014,a diminuição atinge 7.652 toneladas.

A meta até 2020 é que sejam retiradas 28.562 toneladas.

De acordo com o ministério, as maiores taxas de diminuição foram feitas nos rocamboles (21,1%), bolo aerado (16,6%) e maionese (16,23%), bolos prontos sem recheio (15,8%) e bolos prontos com recheio (15%). As menores foram no biscoito salgado (5,8%), mistura para bolo cremoso (5,9%), biscoito recheado (6,48%), salgadinho de milho (9,4%) e biscoito doce (11,41%). Batata frita e batata palha tiveram redução de 13,71%.O levantamento se refere à segunda etapa do Plano Nacional de Redução de Sódio em Alimentos Processados. Nesta etapa, foram analisados biscoitos, bolos, maioneses e snacks (salgadinhos de milho).

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, comemorou o resultado, mas disse que é preciso diminuir o consumo nas escolas.

“Não adianta comemorarmos a retirada demais de 5 mil toneladas de sódio se não tivermos capacidade de trabalhar na alimentação, na merenda escolar e na retirada do saleiro da mesa.”Segundo Deborah Malta,diretora do ministério, mais da metade da população idosa diz ter pressão alta. “Por isso a redução do sódio é tão benéfica.” Já o presidente da Abia, Edmundo Klotz, afirmou que a indústria busca substituir o consumo do sal doméstico. “A primeira fase é a retirada do sódio e a segunda, a substituição.” O levantamento mostra que, em 2013, 95% dos 839 produtos analisados,de 69 empresas,conseguiram reduzir o teor de sódio da composição. Aquelas que não conseguiram obter o resultado esperado foram notificadas pelo ministério.

A próxima etapa do pacto será em 2016,quando serão avaliados margarina, hambúrguer, empanados e salsichas. Na primeira fase, em 2011, a queda foi de 1.859 toneladas.Foram abordados macarrão instantâneo, pão de forma e bisnaguinha.

Cuidados. Diminuir o consumo de sal deve ser uma meta trabalhada desde a infância, segundo o cardiologista e especialista em hipertensão do Hospital do Coração (HCor) Celso Amodeo. “A criança deve ser educada comendo pouco sal. O problema é que, para muitas famílias, é mais fácil dar dinheiro para ela comprar algo na cantina do que preparar um lanche.” Amodeo explica que não é necessário abolir o ingrediente da alimentação. “O sal faz parte do nosso organismo, mas acabamos comendo mais do que precisamos. O ideal é consumir quatro a cinco gramas por dia.”




Menos sódio na prateleira

13/05/2015 - O Globo


Marcas de bolos, salgadinhos, batata frita e biscoitos, itens que fazem a cabeça das crianças e adolescentes, diminuíram em até 10% a quantidade de sódio em suas composições, após acordo de 69 empresas da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação com o Ministério da Saúde. Segundo dados do Plano Nacional de Redução de Sódio em Alimentos Processados, divulgados ontem, essa diminuição foi atingida por 95% das marcas. No entanto, ainda não surtiu efeito prático na vida dos brasileiros. Isso porque a porcentagem dos que sofrem de hipertensão, doença também relacionada ao consumo exagerado de sódio, variou de 24,1% (2013) para 24,8% (2014), de acordo com a pesquisa “Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico” (Vigitel, 2014).

 

— Possivelmente a diferença virá a longo prazo. Até porque o sódio é um dos fatores que deflagram a doença, mas há outros, como obesidade, colesterol alto, sedentarismo, estresse crônico, tabagismo e por aí vai — analisa o cardiologista Antonio Carlos Till, diretor médico do Vita Check-Up Center —E a hipertensão é um fator que deflagra o infarto, o derrame... Ao lado de outras doenças crônicas não transmissíveis, é responsável por 72% das mortes no país.

O Vigitel, em consulta telefônica com moradores das capitais, mostrou que a hipertensão atinge 26,8% das mulheres e 22,5% dos homens. Palmas é a que tem menor índice (15,2%). Porto Alegre (29%), Recife, Rio de Janeiro e Maceió (todas com 28%) são as maiores.

A doença, comum entre as pessoas com mais idade (59,9% para os de mais de 65 anos), também está relacionada à educação, com índice de 38% para quem estudou por zero a oito anos.

— Quem é novo não atenta para o problema. Mas, com o passar da idade, os rins já não dão conta de balancear a quantidade de sódio no sangue. E o brasileiro adora um tempero, um churrasco. É um perigo porque aumenta a pressão arterial, que é o gatilho para as doenças cardíacas — diz o cardiologista João Vicente da Silveira, do Hospital São Luiz.

CUIDADO COM “PEGADINHAS”

Para a nutricionista Elaine de Pádua, mestre em ciências da saúde pela Universidade Federal de São Paulo, a redução no consumo de sódio está ligada ao costume e à informação. Ela explica que o consumidor, até o mais atento, pode cair em “pegadinhas” da indústria alimentícia.

— Muitos produtos têm em seus rótulos informações nutricionais de uma determinada porção. Nem sempre correspondem ao pacote inteiro — pondera Elaine, para quem a iniciativa no combater ao excesso de sódio nos produtos processados é válida. — É importante porque reduz parte do sódio de produtos amplamente vendidos, e que também precisam de sódio para aumentar o tempo de prateleira. Mas a questão passa por uma reeducação alimentar. Biscoito à base de milho? Jamais deveria fazer parte do cardápio infantil.

Elaine se refere a um dos produtosalvo da segunda etapa do plano do Ministério de Saúde. Essa fase controlou produtos como batata frita, salgadinho de milho, bolo recheado, bolo sem recheio, rocambole, mistura para bolo aerado, mistura para bolo cremoso, maionese, biscoito salgado, biscoito doce e biscoito doce recheado.

Foram analisados 839 produtos. Segundo o monitoramento, feito em 2014, a meta foi alcançada por 83% dos bolos prontos com recheio, 89,7% dos salgadinhos de milho, 68% das batatas palha e frita, 77,8% dos biscoitos doces recheados e 16,23% da maionese.

Na primeira fase, os alimentos atacados foram massas instantâneas, pães de forma e bisnaguinhas. Na próxima etapa, cujo monitoramento já ocorreu mas os resultados ainda não foram tabulados, os alimentos foram margarinas, cereais matinais, caldos em cubo e temperos em geral. A última fase englobou hambúrgueres, embutidos e sopas.

Somando as duas fases iniciais, foram eliminadas das prateleiras dos supermercados 5.320 toneladas de sódio até 2012 e 7.452 toneladas até 2014. O objetivo é reduzir mais de 28 mil toneladas até 2020. — O volume é vigoroso, mas não prescinde da necessidade, também, de diminuição de sal no preparo de cada refeição em casa — declarou o ministro da saúde, Arthur Chioro.

BRASIL ABUSA DO SAL

Entre as medidas, Elaine sugere, por exemplo, a substituição do sal por temperos naturais como alecrim e sálvia. E a troca do biscoito recheado dos lanches infantis por frutas. Afirmou ainda que é necessário aumentar o consumo diário de potássio (presente em frutas e verduras) para equilibrar o sódio no organismo e controlar a pressão arterial. Segundo ela, o ideal é 4.500mg/dia, e o brasileiro não chega a 30% disso.

— Para evitar “as pegadinhas”, o ministério poderia contratar organizações independentes que poderiam informar, por meio daquelas bandeirinhas presas às prateleiras, a quantidade nutricional dos alimentos nas porções exatas.

A questão é preocupante porque, segundo dados do Vigitel, 49% dos brasileiros acreditam que consomem a quantidade de sal adequada. Mas o consumo médio diário de quase 12 gramas de sal por pessoa é considerado alto. O recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 5 gramas (equivalente a 2 gramas diários de sódio, medida de seis tampinhas de caneta Bic).

O ministério explicou que a redução do teor de sódio até 2020 teria impacto direto nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) e na saúde dos brasileiros, garantindo redução de 15% dos óbitos por acidente vascular cerebral (AVC) e 10% dos óbitos por infarto. Além disso, 1,5 milhão de pessoas ficariam livres de medicação, e haveria aumento de quatro anos na expectativa de vida dos hipertensos.

O aposentado Paulo César de Oliveira, de 62 anos, é hipertenso desde os 30. Sempre abusou do sal, mesmo depois do diagnóstico de falência renal.

— Só passei a me cuidar de cinco anos para cá. Infelizmente, agora, tenho de fazer hemodiálise quatro vezes por semana — lamenta.

 

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