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Medicamentos
Roche investirá R$ 300 mi em expansão no Brasil 16/03/2015 - Valor Econômico A gigante farmacêutica Roche vai investir R$ 300 milhões nos próximos cinco anos na expansão da sua unidade de produção de medicamentos em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A expectativa da companhia é ampliar em 10% a capacidade atual da fábrica, de 55 milhões de unidades de medicamentos por ano, a partir de 2017. Sexto maior mercado da Roche no mundo, o Brasil responde por 40% das vendas do grupo na América do Sul e é o país com o maior crescimento do volume de negócios entre os emergentes. No ano passado, a companhia faturou R$ 2,3 bilhões no Brasil, com crescimento de 9,5% em relação a 2013. Para 2015, a expectativa é crescer em linha com o mercado farmacêutico no país, no patamar de dois dígitos. "Vemos um desenvolvimento muito positivo [no Brasil] e prevemos muitos elementos positivos nos anos que virão. Estamos confiantes que a participação [do mercado brasileiro no faturamento total do grupo] vai crescer", afirmou o presidente do conselho de administração da Roche, Christoph Franz, ao Valor. "Não estamos lidando somente com produtos que podem ser vendidos. Estamos lidando com produtos que são essenciais para a saúde de pacientes. Essa é a razão para termos capacidade suficiente para fornecer a quantidade necessária de cada medicamento no país", completou. O investimento na fábrica de Jacarepaguá, disse ele, não é justificado apenas pelo mercado interno, mas também pela demanda positiva de outros países da América Latina. A ideia é aumentar em 20% o volume de exportação de medicamentos a partir da unidade brasileira a partir de 2017. Hoje a fábrica já exporta 16 milhões de unidades de medicamentos por ano, o equivalente a 30% do volume total produzido. Para Franz, apesar de haver um consenso de que a economia brasileira terá dificuldade para crescer este ano, o grupo entende que alguns ajustes e reformas necessários no país já foram feitas. "Isso leva um tempo para que seja refletido na economia. E, no fim das contas, nosso compromisso de investimento no Brasil é de longo prazo e estamos focando na demanda prevista a partir de 2017", explicou. "Neste país, assistência médica é um direito constitucional. Isso é diferente, em comparação com a maioria dos países do mundo", concluiu. Para o presidente do conselho de administração da Roche, outras reformas ainda são necessárias, como a tributária. Franz chamou atenção para o complexo sistema tributário e para a burocracia existente no país. A subsidiária brasileira da Roche foi criada em 1930 e emprega atualmente mais de 1.700 pessoas, em três unidades. Além da fábrica em Jacarepaguá, o grupo possui um escritório comercial em São Paulo e um centro de distribuição em Anápolis, em Goiás. Com atuação nos setores farmacêutico e diagnóstico, para desenvolvimento de soluções para doenças complexas, e com medicamentos diferenciados para áreas de oncologia, virologia, inflamação, entre outras, a Roche tem um forte viés de inovação. A companhia foi a quarta empresa que mais investiu em pesquisa e desenvolvimento no mundo em 2014, totalizando 8,9 bilhões de francos suíços, o equivalente a quase R$ 29 bilhões. O montante corresponde a aproximadamente 20% do faturamento global do grupo no ano passado, de 47,5 bilhões de francos suíços, ou cerca de R$ 152 bilhões. "Somos a empresa farmacêutica com o maior orçamento de pesquisa do mundo", disse o presidente do conselho da Roche. No Brasil, a companhia investiu R$ 368 milhões em pesquisa e desenvolvimento nos últimos três anos. Atualmente, 240 centros de pesquisa estão envolvidos em 79 estudos clínicos conduzidos pela Roche no país, com participação de mais de 1.700 pacientes. A companhia estima que 19 milhões de pacientes são tratados no mundo hoje com os principais medicamentos do grupo, principalmente nas áreas de oncologia, neurologia e imunologia. No mundo, 360 mil pacientes participam de estudos clínicos desenvolvidos pela Roche. Vacina paulista, feita no Butantã, só sai em 2018 14/03/2015 - O Estado de S.Paulo Serão necessários três anos de testes para ficar pronta a vacina paulista contra a dengue.Produzida pelo Instituto Butantã,vinculado à Secretaria de Saúde do Estado, ela entrou na segunda fase de análises clínicas. Por fim, terão se passado 12 anos desde que as tratativas começaram com o Instituto Nacional de Saúde americano.A previsão inicial era de que a vacina estaria no mercado neste ano. A demora na liberação para uso envolve o tempo exigido para os testes, segundo o Butantã. São necessários cinco anos apenas para avaliar o desempenho do imunizante no organismo humano. O desenvolvimento é uma prioridade dos pesquisadores do instituto paulista. Os exames estão sendo feitos em 113 voluntários que já receberam a vacina e em outros cem em processo de recrutamento, em parceria com a USP. Entre os recrutados, partejá teve contato com a doença.Na etapa inicial, foi testada em pessoas que não haviam sido infectadas e os resultados foram positivos, segundo o Butantã. Prazo. Os resultados parciais da avaliação imunológica na segunda fase devem ser publicados nos próximos meses.Em seguida,será iniciada a terceira fase, com voluntários de diversas faixas etárias e de várias regiões do País. Se os resultados demonstrarem que a vacina é segura e eficaz, será pedido o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A vacina é tetravalente, devendo ter ação contra os quatro tipos de vírus da doença.Os trabalhos do Butantã usam como referência vacina similar já desenvolvida pelos Estados Unidos há mais de dez anos. Segundo o instituto, estudos mostraram que ela é capaz de desenvolver anticorpos contra os quatro vírus com a aplicação de uma dose. O Butantã já desenvolve vacinas contra difteria, tétano, hepatite e gripe. Mais proteção contra o HPV 15/03/2015 - O Estado de S.Paulo Na última semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa) ampliou a indicação da vacina contra o HPV, vírus causador das verrugas genitais e do câncer de colo de útero,para mulheres até 45 anos. Até então, ela era recomendada apenas para mulheres na faixa dos 9 aos 26 anos. Em teoria, quanto mais precoce for a vacinação (de preferência antes do início da vida sexual),melhor a proteção conferida.Essa é a principal razão de o governo oferecer a vacina gratuita para as garotas antes da adolescência. Mas as mulheres mais velhas também podem ter benefícios. O HPV (papilomavírus humano), na verdade, é uma sigla que representa uma grande família de vírus. Qualquer verruga em nosso corpo é provocada por um vírus do tipo HPV. Alguns integrantes dessa família têm uma “predileção” pela área genital, são transmitidos pelo contato sexual e podem ter relação direta com o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, como de colo do útero – o terceiro que mais mata mulheres no Brasil –, vulva, pênis, ânus e orofaringe (possivelmente pela maior exposição no sexo oral). Com a mudança dos hábitos sexuais nas últimas décadas, o mundo tem assistido a um aumento dos casos de HPV. Homens e mulheres têm mais parcerias sexuais ao longo da vida,mulheres mais velhas se separam e podem ter novas experiências, jovens começam a vida sexual cada vez mais cedo (e nem sempre com proteção).Tudo isso apontando para a necessidade de estratégias ampliadas de prevenção. Apesar da nova indicação, as mulheres mais velhas que quiserem se vacinar contra o HPV deverão recorrer às clínicas particulares ou a esquemas de vacinação disponíveis nas empresas em que trabalham. O mesmo vale para os homens de 9 a 26 anos (que já estavam na indicação inicial da Anvisa). São necessárias três doses para completar o esquema de proteção. Ampliação. A partir do início de março, a vacina contra o HPV passou a ser oferecida pelo SUS para garotas mais novas, de 9 a 11 anos. No ano passado, quando a vacinação gratuita foi iniciada, o grupo de meninas de 11 a 13 anos é que foi beneficiado.Em 2014, a primeira dose foi recebida por quase 100% das garotas (cerca de 5 milhões), mas a segunda dose (seis meses após a primeira) alcançou menos de 60%. A queda na cobertura aconteceu por um receio das mães sobre os efeitos colaterais e porque a segunda dose foi ofertada nos postos de saúde, não mais nas escolas. A vacina é considerada segura e eventuais episódios de desmaios têm relação com o estresse das garotas por causa do procedimento. Neste ano, além das meninas de 9 a 11 anos, aquelas na faixa de 11 a 13 anos que, em 2014, não receberam a segunda dose podem completar seu esquema. Mulheres HIV positivas, na faixa dos 9 aos 26 anos, também podem receber a vacina no SUS. Essas mulheres têm risco ainda maior de desenvolver câncer de colo de útero, desencadeado pelo HPV.
Pesquisa e Desenvolvimento
Medicina de pulso 16/03/2015 - Carta Capital O Apple Watch chega com o propósito de mudar a maneira como os dados de estudos médicos são coletados. Coletargrande número de dados sobre a saúde de milhões de usuários vai permitir um conhecimento mais próximo da realidade. E como os dados podem também ser individualizados, um dos objetivos é poder indicar tratamentos personalizados. "Não se pode mais cuidar das pessoas com uma abordagem de tamanho único, os dados coletados vão nos aj udar a entender doenças graves e o que cada indivíduo em separado precisa fazer para se recuperar mais rápido", diz a doutora Patrícia Ganz, da Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Para isso a Apple desenvolveu um software que tem a fonte aberta, podendo ser modificado por desenvolvedores, e opera com o HealthKit, outro software que permite que aplicações de fitness e saúde trabalhem juntas com o iPhone. Já existem hoje mais de 900 aplicações em uso compatíveis com o HealthKit. O ResearchKit já está disponível, mas com o lançamento do Apple Watch dados de mi 1 hões de usuá rios da nova engenhoca de pulso estarão disponíveis por pesquisadores paraser utilizados em estudos científicos. Assim, a Apple criou a maior fonte de informação sobre a saúde das pessoas que já existiu a um custo baixíssimo. Pesquisa- dores das melhores universidades e hospitais do mundo, como Harvard, Oxford, Universidade de Rochester, Dana Fáber e Stanford, estão envolvidos no projeto. O que torna esse projeto singularéque o ResearchKit estarádisponível para todos os iPhones espalhados pelo mu ndo e os dados serão analisados por cientistas. Estudos científicos são mais confiáveis quanto maior for o número de participantes e, com a universalização do celular, esse número chegará aos milhões. Os participantes vão contribuir com as pesquisas em tempo real, em situações do dia a dia, melhor que em pesquisas feitas em ambientes artificiais ou baseadas em entrevistas. O ResearchKit já possui cinco aplicações que vão compartilhar dados de usuários do Apple Watch que permitirem a divulgação deles para pesquisas em mal de Parkinson, diabetes, asma, câncer de mama e doenças cardiovasculares. Um dos estudos, coordenados pelo doutor Stanley Shaw, do Massachusetts General Hospital, avalia o comportamento de pessoas com diabetes tipo 2 e analisa os hábitos alimentares, os exercícios e o uso das medicações em relação ao nível de açúcar medido. Outro, do Hospital Monte Sinai de Nova York, que espera centenas de milhares de participantes, pede que asmáticos preencham um questionário de 1 ou 2 minutos duas vezes ao dia por seis meses. O iPhone vai lembrar o participante de tomar sua medicação para asma e o estudo tem como objetivo descobrir a frequência das crises de asma entre os participantes, o que as desencadeia e como e quanto as medicações estão sendo eficientes, podendo avaliar a qualidade do ar, a localização geográfica, o acesso ao tratamento e outras informações que o próprio iPhone vai fornecer, tudo isso mantendo sigilo das informações médicas e pessoais do participante. Outro estudo utiliza recursos do iPhone e do Apple Watch para avaliar adestre-za, equilíbrio e marcha de indivíduos com a doença de Parkinson e os efeitos benéficos e colaterais de suas medicações. Um estudo com pacientes que tiveram câncer de mama vai veri ficar seus hábitos diariamente para entender por que algumas evoluem melhor que as outras e, por fim, o quinto estudo checará os fatores de risco, os hábitos e os batimentos do coração de cardíacos durante exercícios, para descobrir o que devem fazer ou deixar de fazer para melhorar a saúde de seu coração. O iPhone e o Apple Watch vão oferecer juntos GPS, acelerômetro, barómetro, giroscópio, medidor de frequência cardíaca, quando você senta ou levanta, calorias consumidas, tudo a serviço da medicina.
Saúde
Os esconderijos do HIV 14/03/2015 - IstoÉ Pesquisadores da Emory Uni-versity, nos Estados Unidos, anunciaram na última semana um passo importante em direção ao melhor controle da Aids. Eles conseguiram, pela primeira vez no mundo, usar um exame de imagem para identificar os locais do corpo onde o HIV, o vírus responsável pela doença, pode continuar a se esconder mesmo depois de iniciado o tratamento com as drogas anti-retrovirais. Encontrar esses esconderijos é uma etapa fundamental rumo à cura da doença. Hoje, apesar da extrema eficácia do coquetel de drogas e de muitos pacientes apresentarem níveis de carga virai muito baixas, sabe-se que concentrações de vírus permanecem presentes em diversos pontos do organismo. São os chamados reservatórios. A grande dificuldade é mapeá-los e criar formas de destruir o HIV dentro deles. O método testado foi o PET Scan, um dos exames de imagens mais mo dernos disponíveis. O experimento foi feito em macacos portadores do SIV submetidos à terapia antiviral. O SIV é um vírus considerado uma espécie de HIV de macacos por apresentar características muito semelhantes ao agente que ataca os seres humanos. É usado de forma padrão nos estudos sobre a Aids que antecedem a etapa das pesquisas em pessoas. O corpo todo das cobaias foi mapeado. 0 retrato revelou a presença de uma proteína associada ao vírus em pontos como o nariz, órgãos reprodutivos, rins e pulmões. "A técnica nos permitiu detectar áreas que até hoje haviam recebido pouca atenção", disse à ISTOÉ François Villinger, líder do trabalho. Análise feita após a morte dos animais comprovou a presença do vírus em células dos locais apontados pelo PET Scan. O cientista está otimista em relação ao potencial do exame para contribuir com a cura. "Poderemos usá-lo para descobrir a presença residual do HIV em pacientes que tomam os remédios", acredita. "E tirar a medicação pouco a pouco quando for possível." Villinger e seu time já preparam o teste de eficácia do PET Scan para visualizar o HIV em seres humanos. Dengue cresce com descaso de prefeituras e falta d'água 16/03/2015 - Valor Econômico Jornalista: Eduardo Belo, Sérgio Ruck Bueno, Robson Sales e Marcos de Moura e Souza Uma combinação de fatores tem sido responsável pela explosão de casos de dengue este ano. Pelo menos um deles é conjuntural: a crise hídrica. Ela tem levado a muitas pessoas a armazenar água inadequadamente, favorecendo a proliferação do mosquito transmissor no verão, período de maior incidência da doença, explica Paulo Urbinatti, doutor em saúde pública, biólogo e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP. As mudanças climáticas também têm favorecido a expansão do mosquito, diz o biólogo. O que agrava ainda mais o quadro é o fato de o a. aegypti estar muito bem adaptado ao ambiente urbano e aos criadouros artificiais - qualquer local ou recipiente passível de juntar água limpa, mesmo que em pouca quantidade. Mas o aspecto mais sério é a falta de políticas públicas nos municípios, afirma. Depois de recuar em 2014, a dengue voltou com força este ano. Levantamento do Ministério da Saúde indica crescimento de 139% na notificação da doença nos dois primeiros meses de 2015 em relação a igual período de 2014. Os casos notificados passaram de 73,1 mil para 174,7 mil. Até o dia 7 deste mês já eram 224,1 mil casos. A situação agravou-se em vários Estados, mas é pior em São Paulo, onde ocorreram 38,7 mil casos confirmados no primeiro bimestre, o que dá 92 casos por 100 mil habitantes. Segundo o Ministério da Saúde, os 94,6 mil casos notificados no primeiro bimestre, se confirmados, elevariam a incidência em São Paulo para 214,9 casos por 100 mil moradores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, ocorre epidemia a partir de 300 casos confirmados por 100 mil habitantes. Em 2014, São Paulo teve 193,6 mil casos confirmados de dengue. O ministro da Saúde, Arthur Chioro, tem afirmado que não acredita que a incidência recorde de 2013 (425,1 mil casos) vá se repetir, mas lembra que há risco de aumento da incidência nas próximas semanas. "O período de março a maio é, historicamente, o de maior transmissão", diz. Levantamento do Ministério da Saúde aponta queda no número de casos notificados só em oito das 27 unidades da Federação: Distrito Federal, Amazonas, Pará, Piauí, Paraíba, Mato Grosso, Minas Gerais e Espírito Santo. Nos demais Estados houve aumento. Em sete deles, o número de casos notificados no bimestre cresceu 100% ou mais: Amapá, Maranhão, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande o Sul. Com 169 casos notificados de janeiro a fevereiro em território gaúcho, a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde de Porto Alegre emitiu alerta epidemiológico no dia 2 de março, depois da confirmação do primeiro caso do ano de dengue autóctone, quando há contaminação na própria cidade. Desde janeiro já foram registradas dez ocorrências da doença na capital gaúcha, sendo nove "importadas" - quando o paciente é morador ou visitante que contraiu o vírus em outra região. Há também uma suspeita de febre chikungunya - doença semelhante à dengue e transmitida pelos mosquitos aedes aegypti - o mesmo da dengue e da febre amarela - e pelo aedes albopictus, mas causada por outro vírus. O caso suspeito é de um morador que viajou ao Caribe. Segundo a bióloga Maria Mercedes Bendati, da coordenadoria da Saúde de Porto Alegre, um alerta foi emitido para que os profissionais de saúde fiquem mais atentos aos sintomas da dengue e notifiquem todos os casos suspeitos. O monitoramento feito com armadilhas e por amostragem revelou que o mosquito transmissor está presente em toda a cidade. Porto Alegre registrou em 2014 seis casos autóctones e 17 importados, contra 150 e 69, respectivamente, em 2013. A cidade nunca registrou morte por dengue. A Secretaria estadual de Saúde do Rio também está em alerta em relação ao vírus da febre chikungunya. Segundo o governo fluminense, este ano, até o momento, só um caso foi identificado. Em 2014, foram 12 registros, todos em pessoas que viajaram ao exterior. "O vírus preocupa muito porque já temos evidência que o chikungunya se adapta bem ao aedes aegypti, tem capacidade de produzir epidemias muito grande", afirma Alexandre Chieppe, superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental do Rio. "As evidências sugerem que vamos ter uma epidemia no Rio, quando exatamente vai acontecer e qual será o número de casos não tem como estimar, mas tudo indica que vamos ter", disse o infectologista José Cerbino. "Em todos os outros locais que reúnem as mesmas condições houve epidemia." Os cientistas apostam na bactéria Wolbachia para controlar a transmissão da chikungunya e da dengue. Mosquitos infectados pela bactéria não conseguem transmitir o vírus. O objetivo é que esses mosquitos se reproduzam e acabem com o vetor. Outra alternativa, ainda em fase de estudo, é a vacina contra a dengue, em estudo em órgãos como Fiocruz, no Rio, e Instituto Butantan, de São Paulo. Depois do pico de dengue, com 368,4 mil casos em 2013, Minas Gerais registrou redução brusca em 2014, com 49,3 mil casos. Este ano, porém, o número de casos voltou a preocupar, com 2.862 diagnósticos confirmados. Uma pessoa morreu em consequência da doença. No ano passado foram 49 mortes, contra 117 em 2013. Para Geane Andrade, coordenadora do programa de combate à dengue em Minas, a oscilação no número de casos ocorre conforme a temperatura e o clima (mais chuva e calor ajudam na proliferação do mosquito). Está ligada também à capacidade de os serviços de saúde se organizarem para controlar a doença, diz Geane. Minas também registrou um caso de febre chikungunya no primeiro bimestre deste ano e sete no ano passado - todos em pessoas que viajaram ao exterior. O país inteiro teve 2.258 casos de febre chikungunya confirmados em 2014. O Ministério da Saúde considera positivo, apesar do crescimento da doença este ano, a queda de 28% nos casos de dengue "com sinais de alarme" - dor abdominal. Em janeiro e fevereiro, o Ministério computou 555 desses casos, contra 771 no período em 2014. Nos casos graves, houve queda de 17,2%. Eles baixaram de 93 no primeiro bimestre de 2014 para 77 no deste ano. Os mortos por dengue no bimestre diminuíram 37% (de 62 em 2014 para 39 este ano). Malária é nova fonte de dor de cabeça no Estado do Rio 16/03/2015 - Valor Econômico Em três meses a Secretaria de Saúde do Rio já registrou 17 casos de malária, mais que todos os diagnósticos da doença somados em 2014 e 2013. Os casos ocorreram na Região Serrana, em áreas de Mata Atlântica. A transmissão da malária na região é identificada desde a década de 1980, mas há nos últimos meses um crescimento dos registros. Devido às férias escolares - quando a população aumenta - e ao verão, o primeiro semestre é o período com o maior registro da doença. Os médicos ainda não conseguiram definir o motivo da escalada, mas há pelo menos duas hipóteses: aumento da densidade do vetor de transmissão (mosquito anopheles) por conta da urbanização de áreas verdes e aquecimento global ou a melhora no diagnóstico. Os sintomas da malária fluminense são mais fracos que na Amazônia ou na África. A Secretaria de Saúde não registrou nenhuma morte neste ano. "São casos transmitidos pelo plasmodium vivax, com um quadro clínico bem brando", disse o superintendente estadual de Vigilância Epidemiológica e Ambiental, Alexandre Chieppe. O plasmodium falciparum é o parasita que transmite a variedade mais perigosa da malária, mas não foi registrado neste ano no Rio. O Brasil já viveu uma epidemia de malária em todo o território nacional, que foi interrompida nas áreas urbanas na primeira metade do século 20. Segundo José Cerbino, infectologista do Instituto Nacional de Infectologia, "a baixa quantidade de plasmodium identificado no paciente também dificulta o diagnóstico. O primeiro motivo é por estar fora da área de transmissão, como a [área] amazônica, e mesmo quando pensamos em malária, os testes mostram poucos parasitas [no sangue]". Associações condenam ameaças de Cuba a médicos 14/03/2015 - Folha de S.Paulo A ameaça do governo de Cuba de substituir profissionais do programa Mais Médicos caso seus familiares não retornem à ilha foi atacada nesta sexta (13) por entidades ligadas à medicina. Como revelou a Folha, médicos cubanos estão sendo pressionados para que cônjuges e filhos não fiquem no Brasil. "É uma truculência sem tamanho", diz Florentino Cardoso, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira). "A pressão afeta até no atendimento desses profissionais." "É inaceitável, sob qualquer tipo de pretexto, um médico residir no Brasil por três anos e ser impedido de estar com sua família", afirma Itagiba de Castro Filho, presidente do CRM-MG (Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais). Para o presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP), Bráulio Luna Filho, mesmo que muitos das entidades de medicina não tenham concordado com a vinda de cubanos ao país, em 2013, a classe médica está indignada com essa imposição de Cuba. "Eles estão aqui cumprindo a função de médicos. Isso que estão tentando fazer com eles é uma anomalia." O governo de Cuba não se manifestou. Até dezembro, dos 14.462 profissionais trabalhando no Mais Médicos, 11.429 ""quase 80%"" eram cubanos. Não há estimativa de quantos estão com as famílias no Brasil. Plantão Médico: Sangue tipo O e malária 14/03/2015 - Folha de S.Paulo Uma pesquisa médica já havia identificado, há alguns anos, maior resistência aos danos da malária provocada pelo Plasmodium falciparum nos portadores de sangue do grupo tipo O. Agora, no último número da revista "Nature Medicine", um estudo descreve o mecanismo dessa proteção. Dentre os vários agentes responsáveis pela malária, o P. falciparum provoca os casos mais severos. Suchi Goel e colaboradores do Instituto Karolinska, Suécia, relatam que o parasita secreta polipeptídios (um composto de vários aminoácidos) que aderem à superfície dos glóbulos vermelhos sanguíneos infectados. Esses compostos grudam de forma firme e estável nos glóbulos vermelhos do tipo A, interferindo na microvascularização, que passa a bloquear o fluxo sanguíneo. Com a deficiência de oxigenação, surgem danos cerebrais, coma e possível morte. Nos portadores do sangue tipo O, a equipe sueca demonstrou que o polipeptídio cola fracamente na superfície dos glóbulos vermelhos, o que explica a resistência desses pacientes à malária provocada pelo P. falciparum. No trabalho, intitulado "RIFINS are adhesins implicated in severe Plasmodium falciparum malaria", os autores demonstram o papel relevante desses compostos de aminoácidos no agravamento da doença e sugerem que eles contribuem para a variação na distribuição global dos grupos sanguíneos ABO na população humana. Aparelhos dispensam visitas ao dentista 14/03/2015 - Folha de S.Paulo O especialista em mídias digitais John Hofford, 27, queria endireitar os dentes e preferia os alinhadores ortodônticos invisíveis, de plástico, em vez dos ostensivos aparelhos metálicos. Mas ele não tinha condições de comprar os alinhadores transparentes vendidos pelo seu ortodontista em Atlanta. Por isso, em setembro, ele desembolsou US$ 124,95 por um kit que lhe permitiu fazer um molde dental caseiro. Depois de assistir a um tutorial em vídeo, ele misturou a massa, colocou-a em um suporte especial, semelhante a um protetor bucal, e tirou a impressão da sua arcada dentária, que ele devolveu pelo correio para que fosse transformada em um modelo tridimensional. Um dentista com quem ele nunca falou pessoalmente sugeriu uma série de alinhadores transparentes para corrigir a dentição encavalada na arcada inferior e um dente ligeiramente proeminente em cima. "Você economiza dinheiro por não conversar cara a cara com alguém", disse Hofford, que está em sua terceira série de alinhadores, os quais são progressivamente moldados de forma a mudar os dentes de lugar. Ele já pagou cerca US$ 600 pelo serviço, cerca de metade do custo total do tratamento. Alinhadores invisíveis são geralmente receitados por um ortodontista ou outro especialista após um exame presencial e uma conversa sobre as opções de tratamento. A Invisalign e a ClearCorrect são duas das várias empresas que fabricam alinhadores que exigem supervisão direta em consultas presenciais regulares, geralmente ao custo de US$ 4.000 a US$ 6.000. Mas duas companhias, a SmileCareClub e a CrystalBraces -da qual Hofford é cliente-, agora oferecem alinhadores entregues em domicílio para que adultos e adolescentes mais velhos endireitem seus dentes em casa por US$ 900 a $ 2.100, dependendo da complexidade das suas necessidades ortodônticas. "Endireitar os dentes não deveria custar uma pequena fortuna", disse Doug Hudson, um dos quatro empresários que criaram o SmileCareClub. Ele contesta que seus alinhadores sejam aparelhos do tipo "faça-você-mesmo", já que os pacientes "são orientados ao longo do processo" por representantes comerciais. Críticos argumentam que a prescrição de alinhadores sem consulta presencial acarreta o risco de serem negligenciados problemas de saúde oral capazes de comprometer o tratamento ortodôntico. E, segundo especialistas, os alinhadores não são apropriados para todos, mesmo que as empresas sugiram que eles são capazes de corrigir encavalamentos graves. A Associação Americana de Ortodontia, que reúne profissionais do setor, alertou os consumidores a não mexerem nos próprios dentes sem um exame inicial e a contínua supervisão de um ortodontista. "Os pacientes que não consultam um ortodontista para exames regulares e/ou para um diagnóstico completo correm mais risco de ser prejudicados", disse Rolf Behrents, porta-voz da associação. Muitos ortodontistas argumentam que um exame presencial é fundamental para localizar cáries não tratadas e infecções gengivais subjacentes antes de começar qualquer tratamento para endireitar os dentes. Son Tran, criador da CrystalBraces, insiste que prescrever um alinhador para um paciente à distância não significa oferecer um tratamento menos cuidadoso. "Examino todos os modelos e moldes que chegam", disse. SP lidera rankings de dengue por cidade 14/03/2015 - O Estado de S.Paulo Trabiju, na região central de São Paulo, mantém a liderança em casos de dengue por habitante no País, conforme boletim do Ministério da Saúde divulgado ontem. A cidade de 1.650 habitantes aparece com 235 pessoas doentes, índice de 14.242,4 casos por 100 mil habitantes até o dia 7 deste mês. Além disso, o Estado lidera em casos em todos os níveis populacionais, com níveis de epidemia, e um município já chegou a relatar seis mortes em um só dia. Próxima da cidade paulista, em segundo lugar no ranking nacional, aparece São João do Caiuá, no Paraná, com 837 casos e índice de 13.848,4/100 mil. Considerando as cidades pequenas, com até 100 mil habitantes, além de Trabiju o Estado aparece em terceiro lugar, com Paraguaçu Paulista (3.830 casos e índice de 8.596,1 doentes por 100 mil), e em quarto, com Florínea (221 casos e índice de 7.834,1 infectados por 100 mil). Na faixa de 100 mil a 499 mil, outracidade paulista,Catanduva, lidera o ranking, com 8.264 casos e coeficiente de 6.953,1 doentes por 100 mil moradores. Na faixa das cidades com população de 500 mil a 999 mil, a liderança é de Sorocaba, com 6.485 casos e índice de 1.017,8 doentes por 100 mil.Campinas, também no interior de São Paulo, lidera o ranking das cidades com mais de 1 milhão de habitantes,com 6.955 doentes e coeficiente de 602,4 casos por 100 mil moradores. Em todos os casos,a doença é considerada epidêmica. Segundo o Ministério da Saúde, chega-se ao nível de epidemia quando o índice de pessoas doentes ultrapassa 300 casos por 100 mil habitantes.Entre as grandes metrópoles, esse nível só é atingido por Goiânia, com 7.608 casos (índice de 538,7 infectados por 100 mil habitantes). Mas, no ranking de cinco maiores registros nessa faixa, além do Recife, já aparecem em alerta Guarulhos (61,1 por 100 mil) e a capital paulista, com 71,4 casos por 100 mil. Mortes. São Paulo já lidera em número de mortes no País, 35 de 52, mas os registros devem piorar,pois mais cidades já relatam mortes após o período analisado pelo ministério. A prefeitura de Águas de Lindoia, na região de Campinas, confirmou anteontem que a dengue causou a morte de uma mulher de 46 anos, no fim de fevereiro. Até então, o óbito considerado suspeito. Com essa, sobem para seis as mortes confirmadas por dengue no município em um único dia. Na mesma região, a dengue foi confirmada como causa de duas mortes em Mogi Mirim.As vítimas são mulheres, uma delas com 28 anos, a outra com 69. A Secretaria da Saúde de Bauru, na região noroeste, também havia confirmado anteontem três mortes por dengue, todas ocorridas neste mês. Dois dos pacientes estavam internados em hospitais particulares. A terceira vítima, um homem de 74 anos que se tratava na rede pública, foi confirmada no dia 10. Paciente espera até 6 horas por consulta em AMA 15/03/2015 - O Estado de S.Paulo Antes das 6 horas, a fila já começa a se formar do lado de fora da Assistência Médica Ambulatorial (AMA) Vila Barbosa, no Limão, zona norte da capital. A unidade de saúde municipal só começa a funcionar às 7 horas, mas vários moradores da região, a maioria com sintomas de dengue, prefere chegar com antecedência para não esperar tanto por atendimento. Com o crescimento preocupante da doença na zona norte da cidade, os pacientes que buscamos serviços públicos de saúde da região estão enfrentando até seis horas de espera por uma consulta médica. Nos dois primeiros meses do ano, a cidade teve 1.833 casos confirmados de dengue, 200% a mais do que no mesmo período de 2014. A zona norte concentra 45% dos registros. O Limão tem a maior taxa de incidência da cidade – 130 casos por 100 mil habitantes – epidemia é acima de 300. Anteontem, quem chegasse à AMA Vila Barbosa,além da espera pela consulta do clínico-geral, aguardava mais duas horas para poder fazer o exame de sangue capaz de confirmar o diagnóstico da doença. “Acho que falta um pouco de estrutura.Deveria ter uma prioridade para os casos suspeitos de dengue. A gente mal aguenta ficar em pé por causa das dores no corpo e precisa esperar um dia inteiro para ser atendido”, disse o funcionário público Aristides Souza dos Santos, de 44 anos, que procurou a AMA às 9 horas de sexta-feira e só conseguiu sair do local às 15h30, após passar por consulta e exame. A lotação era tanta que dezenas de pacientes e acompanhantes aguardavam em pé o atendimento. A dona de casa Daiana da Silva, de 28 anos, e o marido, o negociante José Roberto NogueiraVilela,de33, seacomodaram no chão do corredor da AMA enquanto aguardavam o atendimento. “A dor e a fraqueza nas pernas são muito fortes. Como não tem cadeira, a gente preferiu sentar no chão”, disse Daiana. Com febre, dores em todo o corpo e náusea, os dois chegaram à unidade às 10 horas, mas foram atendidos somente às 16 horas.“O pior foique,depois de tantaespera,a gente não conseguiu fazer o exame de sangue porque a coleta é encerrada às 16 horas. Pediram para voltarmosnodiaseguinte”,disseadona de casa. Ocasaljá tinhaprocuradooutra unidade de saúde da região. “Fomos primeiro àAMA do Jardim Damasceno, mas estava muito cheia e nos deram a dica para vir aqui, só que está tão lotada quanto a outra. E não para de chegar gente”, disse ela. Tendas emergenciais. Com a superlotaçãodealgumasunidades da zona norte, a Secretaria Municipal da Saúde informou que vai implementar em algumas regiões postos auxiliares para atendimento aos pacientes, nomesmomodelo da tenda emergencialmontadano Jaguaré no ano passado, na zona oeste, quando o distrito foi o mais afetado pela dengue. Apastanãoinformouonúmero de postos auxiliares nem os locaisondeeles ficarão,mas ressaltou que a abertura das estruturas será feita em breve, uma vez que o pico da doença ocorre em meados de abril. A secretaria informou tambémqueaAMAVilaBarbosaestá com seu quadro de médicos completo, com três clínicos e dois pediatras, e houve aumento de 9% na procura pelo serviço em fevereiro deste ano, em relação a 2014, “o que ocasionou um tempo maior de espera para os casos menos graves”. Força na hora do parto 15/03/2015 - O Globo Quando a estilista Monah Pressato, de 29 anos, descobriu que estava grávida, não pensou duas vezes antes de dizer à obstetra: “O parto vai ser cesárea, né, doutora?”. A médica não ofereceu outras opções e logo marcou na agenda de cirurgias a data do nascimento de Maria Luísa. Mas o parto, que aconteceu há três dias, foi muito diferente do planejado nove meses atrás. A designer de moda deu à luz em casa, com o auxílio de uma enfermeira obstétrica e uma parteira, além do apoio do marido, e de uma doula, presença indispensável, segundo a gestante. O termo é novidade para grande parte dos pais, mas as doulas, mulheres que oferecem apoio emocional e conforto às grávidas antes, durante e depois do parto, são cada vez mais requisitadas. — Depois que comecei a fazer o acompanhamento com a doula, fiquei mais segura com relação ao parto. Percebi que eu tinha o controle do que iria acontecer comigo e com o bebê — diz Monah. Ela teve uma gravidez de baixo risco e mudou de opinião ao optar pelo parto humanizado, depois de frequentar o grupo de apoio à gestante Ishtar, na Tijuca, coordenado por sua doula, Gabriela Prado. A assistente de parto, como também é chamada, tem papel de amparar a mãe para que ela se sinta o mais confortável possível. O ideal é que a mulher a procure ainda no primeiro trimestre da gravidez, quando fecha um pacote — que varia de R$ 900 a R$ 2.500 — com, no mínimo, três sessões: duas antes do parto e uma depois. Nessas aulas, elas aprendem sobre o que acontece com o corpo durante a gestação, sobre os tipos de parto que existem (cesárea ou normal) e sobre as decisões que podem tomar — as doulas advogam em prol do parto natural. Pouco antes de o bebê chegar, as moças ainda fazem o belly mapping, um desenho na barriga que simula a posição do feto dentro do útero. Na aula pós-parto, vem a lição sobre amamentação e primeiros cuidados com o bebê. — Nossa intenção é devolver o protagonismo do parto à mulher. É ela que tem que fazer as escolhas — explica a doula Gabriela Prado, formada em psicologia e que, ainda na universidade, estagiou na Maternidade Escola da UFRJ, onde havia um excesso de intervenções, segundo ela. — Os benefícios dessa relação são evidentes. Com a utilização de técnicas alternativas para tratar a dor, elas necessitam de menos remédios, por exemplo. As doulas acompanham a gestante desde as primeiras contrações até o nascimento. Vale aplicar técnicas para amenizar a dor: massagem, respiração tranquilizante, banhos, compressas quentes e o fundamental: companhia. Aline Amorim, de 27 anos, do Núcleo Carioca de Doulas, já ficou até três dias dentro de uma maternidade acompanhando o desenrolar de um parto complicado. — Meu maior cuidado é manter o ambiente calmo para que a parturiente se sinta segura — afirma Aline, que já acompanhou mais de cem partos, mas, no nascimento de seus dois filhos, foi aconselhada pelo obstetra a fazer cesáreas. — Foram cirurgias muito violentas. Acho que uma doula teria me aberto os olhos para outras possibilidades. Decidi me formar doula para que outras mulheres não passem pelo que passei. Em tese, a doula não faz toque ou qualquer outro procedimento médico. Mas não é sempre que isso acontece na prática, segundo o presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro (SGORJ), Marcelo Burlá. — Na teoria, o papel da doula é interessante: alguém que possa dar suporte e conforto para a mulher no momento do parto. O problema é que, no Brasil, esse papel foi desvirtuado. Muitas doulas querem uma participação no parto ou dizer que uma intervenção é desnecessária, mas elas não têm preparo para isso — observa o obstetra, professor da Universidade Federal Fluminense. COMBATE À ‘EPIDEMIA’ DE CESÁREAS Hoje, no Brasil, 84% dos partos realizados pela rede privada são cesarianas. No Sistema Único de Saúde (SUS), o índice alcança os 40%. Por isso, o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar anunciaram, em janeiro, medidas de incentivo ao parto normal. Como defensoras ferozes disso, as doulas ganham um papel importante. Belo Horizonte tem o maior programa de capacitação de doulas comunitárias do país. Mais de 500 mulheres já realizaram o curso de qualificação da Secretaria Municipal de Saúde e estão presentes em seis maternidades da capital mineira. Em Curitiba, até o fim do ano, o serviço estará disponível em 109 unidades básicas de saúde. Já em São Paulo, a vereadora Juliana Cardoso (PT-SP) tenta aprovar um projeto de lei que estabelece o direito a uma doula na sala de parto. Já no Rio, o Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Centro, é o único que incentiva o trabalho. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informa, no entanto, que “permite a entrada destas profissionais nas maternidades”. A SES está analisando a criação de um curso profissionalizante para doulas que atuariam na rede estadual. Integrante da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa), uma das entidades que dão cursos para doulas, Marilda Castro acredita que um programa amplo de voluntárias do SUS diminuiria o número de cesáreas desnecessárias no país. Ela conduz um grupo de grávidas, que recebem informações sobre a gestação, o parto e os cuidados com o bebê, em encontros periódicos. À espera de Miguel, Luana Stemler, de 29 anos, é uma das participantes. Ela conta que a troca de experiências propiciada pelas rodas de conversa fez com que decidisse ter uma doula. — Quero trabalhar para ter um parto o mais natural possível, sem uso de medidas desnecessárias, e a doula será fundamental nesse processo — afirma Luana, com a barriga de oito meses. Segundo o diretor do centro de diagnósticos da Perinatal, Renato Sá, apenas o fato de esse assunto ter entrado em pauta fez com que o número de partos normais na maternidade dobrasse nos últimos meses. Ele também notou que o papel das doulas diminui a necessidade de medição para dor e quebra o “ciclo do medo”. — O medo gera ansiedade e a ansiedade causa dor... Acalmar a gestante é bom para todos: para o parto, para o bebê e, é claro, para o hospital, que gasta menos material — aponta Sá, afirmando, porém, que na Perinatal há regras para o relacionamento com a doula. — Ela é uma acompanhante da gestante, então não pode interferir na conduta do obstetra. Sua presença tem que ser acordada com a equipe médica. A Casa de Saúde São José informou que também não tem restrição quanto à participação de doulas em seu centro obstétrico, “desde que as mesmas tenham autorização da equipe médica e da paciente, comprometendo-se a não interferirem nas decisões”. SOLIDÃO DURANTE A GRAVIDEZ Enfermeira francesa radicada no Rio, Stéphanie Sapin-Lignières, com 35 anos de experiência, explica que o ofício de doula apareceu como a solução para um problema contemporâneo: mesmo com dez profissionais de saúde em torno das mães, elas se sentem sozinhas. — Elas são pessoas experientes que trabalham para dar força à gestante. Como se fossem mães ideais, que não ficam estressadas — comenta Stephanie, que, apesar de já ter tido problemas em algumas maternidades, hoje, concorda que não adianta bater de frente com a opinião médica. — Peço que a gestante pergunte ao obstetra e ao pediatra se estão de acordo com a minha presença. Sei que não posso confrontar o médico, ou vou criar um clima de tensão. Ativista do parto humanizado e autora de uma filme sobre o tema, a doula Érica de Paula, de 28 anos, que atua em Brasília, costuma repassar clientes para outras profissionais devido à procura elevada. Na mala, Érica tem de tudo. Leques para abanar a gestante, rolinhos para melhorar a posição, velas e LEDs para deixar a iluminação mais aconchegante. — Apesar de ser nova, sou uma das mais antigas na atividade. Então há essa demanda. Mas só pego, no máximo, oito partos por mês. É o limite, pois temos de estar disponíveis a qualquer hora do dia ou da noite — conta a doula, psicóloga de formação e acupunturista.Reconhecida como ocupação em 2013, a atividade não requer formação específica. Há cursos livres e bibliografia sobre o assunto. Os treinamentos são os mais variados possíveis. Podem durar um fim de semana ou dois meses e meio. Pai e filho enfrentam alcoolismo e contam drama em livro 16/03/2015 - Folha de S.Paulo Por quase três décadas, o alcoolismo foi protagonista na história da família Leme. Entrou na vida do patriarca Paulo em 1963 e só saiu de cena em 1996, após quase abater seu filho mais velho. Paulo de Abreu Leme, 74, médico, e Paulo Filho, 43, advogado, estão sem ingerir bebida alcoólica há 26 e 19 anos, espectivamente. Na próxima quarta (18), lançam o livro "A doença do alcoolismo", em que relatam dramas e preconceitos vividos em razão da dependência. O álcool entrou na vida de Paulo pai no fim da adolescência, nas festas com os amigos. "Ficava desinibido, era bom perder a autocrítica." A dependência ficou clara a partir dos 30 anos. Na época, tinha três empregos: auditor do Ministério da Saúde, plantonista na enitenciária do Estado de SP e médico do trabalho em empresas como Philips, Danone e Monsanto. As duas ou três doses de uísque por noite foram aumentando gradativamente até atingir dois litros diários. A mulher foi embora com os três filhos menores. Paulo Filho quis ficar ao lado do pai. "Não sabia mais o que estava fazendo. Pedi demissão da Danone, da Monsanto e bandonei o emprego do Estado. Continuei bebendo até que a Philips me demitiu." O desemprego o sacudiu. Com apoio da mulher, que havia voltado para casa, internouse em uma clínica para desintoxicação, em 1989. Lá acabou conhecendo o grupo AA (Alcoólicos Anônimos), cujas reuniões passaria a frequentar diariamente, por 15 anos. "Passei a estudar a doença do alcoolismo, a entender a dependência e a evitar o primeiro gole." Recuperou os empregos e, desde então, dá palestras gratuitas sobre o tema. Não teve recaídas. "Hoje eu não bebi. Amanhã não sei", diz. Em 1987, dois anos antes de o pai iniciar a recuperação, o álcool já aliciava o filho mais velho. Paulo, à época com 16 anos, cursava o segundo ano do ensino médio no colégio Bandeirantes (SP). Há evidências de que fatores genéticos aumentam o risco do alcoolismo. A doença tende a ocorrer com mais frequência em certas famílias, entre gêmeos idênticos, e mesmo em filhos biológicos de pais alcoólicos adotados por famílias de pessoas que não bebem. "Matava aula para beber e jogar truco. Bebia 'espremidinha' [pinga com limão], bombeirinho [pinga com groselha], cerveja." Ainda assim, no ano seguinte entrou na Faculdade de Direito da USP. "Lá eu descobri o paraíso. No colegial, tinha que beber escondido. Na faculdade, o bar era dentro do centro acadêmico. Só fui assistir às aulas após uma semana." O ano acadêmico de 1990 foi perdido. "O bar eu frequentava com uma regularidade beneditina. As festas também não perdia." Incomodado por ver os amigos avançando no curso, Paulo decidiu frequentar as aulas sem, contudo, abandonar o álcool e as drogas (maconha e cocaína, que consumia quando alcoolizado). Começou a estagiar no segundo ano da faculdade. Mas em 1994, antes de terminar o curso, abandonou a faculdade e o trabalho. "Acordava em qualquer lugar porque bebia até desmaiar. Passava muito mal nas primeiras três ou quatro horas do dia. Não conseguia segurar uma xícara de café, tamanha a tremedeira. Logo depois voltava a beber até apagar de novo", lembra. No pior período, que duraria dois anos, dirigiu bêbado e provocou cinco acidentes. Em um deles, bateu em um táxi parado. "Não morri ou não matei por sorte." No final de 1996, os pais o chamaram. "Eles disseram: 'Você é alcoólatra, está doente e tem que se tratar. Se não quiser, vá morar em outro lugar'. Só me restava a rua." Passou a frequentar regularmente as reuniões do AA e parou com o álcool e as drogas. Sobre o preconceito, ambos dizem que é comum as pessoas acharem que os alcoólatras não irresponsáveis, não doentes. Eles também veem estigma mesmo depois do tratamento. "Mas nem um pouquinho?" é uma das frases que Paulo Filho mais ouve. Quando está em jantar com amigos e pede refrigerante zero enquanto todos estão bebendo, há quem diga: "Vai pedir brigadeiro também?" Sócio de um grande escritório de advocacia na av. Paulista, Paulo Filho diz que abstinência do pai foi a sua principal motivação. "Tive a certeza de que conseguiria." A DOENÇA DO ALCOOLISMO EDITORA Scortecci (146 págs) PREÇO R$ 35 LANÇAMENTO Quartafeira (18), na Livraria Martins Fontes (av. Paulista, 509), em SP, a partir das 18h30 |