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Medicamentos
A Bristol em guerra contra a hepatite C 18/02/2015 - IstoÉ Dinheiro Prestes a ser lançado no Brasil, o medicamento daclatasvir, do laboratório Bristol, promete revolucionar o combate à hepatite C, uma enfermidade tão ou mais letal do que o HIV. "É uma doença que até agora não tinha cura", afirma GAETANO CRUPI, CEO do Bristol no País. Segundo ele, o medicamento, que demandou um investimento de US$ 1,2 bilhão do laboratório, deve entrar no mercado até o fim de março. O grande comprador será o Ministério da Saúde, que o distribuirá gratuitamente à população através do SUS, com gastos iniciais de R$ 450 milhões por ano. Para Crupi, o lançamento do daclatasvir mostra o acerto da decisão tomada, em 2007, pela Bristol, de vender suas linhas de blockbusters, como os remédios contra diabetes, e se dedicar aos biológicos, de combate a enfermidades graves. "Com o daclatasvir vamos erradicar a hepatite C." Melhor ainda 18/02/2015 - IstoÉ Jornalistas detestam desmentidos. É natural, pois notícia errada é o que de pior pode acontecer aos desta tribo. Mas, por incrível que pareça, há correções que até devem ser comemoradas. Como este: a coluna errou, na edição passada, ao informar que o remédio Daklinza, já vendido no Japão e em alguns países da Europa (ainda não nos EUA), e que a Anvisa liberou em rito sumário e o SUS deverá distribuir, "cura a Hepatite C em 24 meses". Nada disso. A cura vem em tempo menor, entre 12 e 24 semanas. CIÊNCIA Doce avanço Pioneiro no mundo, o zoneamento genético das populações da abelha Jandaíra está a um zumbido de ser concluído. Típica da Caatinga produz mel e pólen de comprovadas propriedades medicinais. Porém, por não ter ferrão, acabou vítima da ação do homem e está ameaçada de extinção. O trabalho une cientistas da Universidade de Dalhousie, no Canadá, e da Embrapa, que já sequenciaram o genoma da espécie.
Implante para surdos passa por estudos clínicos. 14/02/2015 - Folha de S.Paulo Outra apresentação destacada no encontro da AAAS foi o dos cientistas que estão conseguindo recuperar a audição de crianças que nascem sem o nervo auditivo. Elas não são elegíveis para os implantes que corrigem problemas na cóclea, a estrutura que converte sons em impulsos nervosos. O Hospital Infantil de Los Angeles começou a realizar implantes de um dispositivo que conecta microfones diretamente ao cérebro de crianças. A ligação é feita em uma área profunda do órgão, os chamados núcleos cocleares do tronco cerebral. Ainda passando por testes clínicos para avaliação de segurança e viabilidade, o sistema já foi implementado em 16 pacientes. O resultado foi surpreendente. "Os sons que o implante produz são sons misturados, com um bocado de ruído, diferentes dos sons que uma cóclea normal produziria", diz Robert Shannon, da Universidade do Sul da Califórnia. "O cérebro das crianças, porém, consegue se adaptar, e elas tem feito progresso em testes de diferenciação de sons." Chip em teste promete fazer cegos voltarem a enxergar. 14/02/2015 - Folha de S.Paulo Um chip milimétrico com propriedades similares às de um painel de energia solar poderá devolver a visão a pessoas com problemas de retina, a membrana que fica no fundo dos olhos e é responsável por captar a luz. A técnica teve sucesso com ratos e deve ser testada em humanos dentro de um ano. Desenvolvido pela Universidade Stanford, da Califórnia, o método foi apresentado nesta sexta no encontro da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em San Jose. Daniel Palanker, criador da tecnologia, já licenciou sua ideia para a empresa francesa Pixium Vision. O dispositivo é voltado sobretudo a pessoas que sofrem de degeneração macular --uma doença relativamente comum em idosos-- causada por morte de células receptoras de luz da retina. Como essas células fotorreceptoras são parte do sistema nervoso, que não se regenera facilmente, a esperança de cura por medicamentos é virtualmente nula. A ideia foi substituir as células por pequenos chips de 2 mm, feitos de material similar ao que existe em painéis solares. Quando recebem luz, eles emitem impulsos elétricos que estimulam terminações nervosas da retina e levam informação visual ao cérebro. Esse tipo de técnica vem sendo desenvolvida por vários grupos de pesquisa há mais de duas décadas, mas vinha esbarrando em problemas como falta de resolução e dificuldade de implante. Desde 2013, a empresa Second Sight já vende um tipo de retina artificial, mas o aparelho gera uma visão de baixa precisão --próxima ao limiar pelo qual oftalmólogos consideram alguém cego. Além disso, requer que um cabo entre pela lateral do olho e vá até a retina. O dispositivo criado agora por Palanker não requer cabos, incisões ou perfurações. A própria luz que incide no chip implantado na retina gera a eletricidade que é transmitida aos neurônios visuais.O único problema é que, para conseguir essa geração de energia, é preciso uma quantidade muito grande de luz, e os objetos que enxergamos no dia a dia não estão suficientemente iluminados. O cientista contornou o problema criando um óculos com uma câmera no centro, que projeta as imagens em dois painéis de alto brilho na frente dos olhos. Essas pequenas telas, porém, só emitem luz infravermelha: invisível ao olho humano comum, mas captada pelo chip de Palanker. Para instalar o dispositivo sob a retina, o cientista usa apenas uma agulha especial. Os aparelhos que serão testados no ano que vem pela Pixium possuem 65 micrômetros de largura, uma resolução ainda baixa comparada ao tamanho das células fotorreceptoras naturais do olho humano, com 5 micrômetros. "Mas nós já estamos conseguindo produzir chips com pixels de 40 micrômetros", disse Palanker à Folha. "Essa diminuição em tese seria capaz de dar aos pacientes uma resolução suficiente para reconhecer faces e ler livros." ‘Chapéu anticâncer’ aumenta sobrevida em até dois anos. 16/02/2015 - O Globo Um dispositivo apelidado entre os pesquisadores de “chapéu anticâncer” promete ser uma alternativa para pacientes com tumores cerebrais. As primeiras experiências com o NovoTTF-100A, como é chamado, apontaram que a novidade pode aumentar em até 50% as chances de os pacientes sobreviverem por dois anos. O aparelho está em desenvolvimento há 14 anos e consiste num chapéu branco que cobre o crânio e é ligado a uma mochila com bateria. Essa parafernalha impede que as células cancerosas se dividam através da emissão de um campo elétrico para o cérebro. Entre especialistas, a novidade tem sido aclamada como um novo e eficaz tratamento para o câncer que não requer altas doses de produtos químicos, radiação ou cirurgia. O fabricante NovoCure afirmou que o produto poderá ajudar o paciente a vencer o câncer enquanto estiver ocupado em outras atividades, como fazer compras ou lavar a louça. Desenvolvido exclusivamente para tratar a forma mais comum de câncer no cérebro adulto, o glioblastoma, o dispositivo é feito para uma doença com um prognóstico muito ruim: a esperança média de vida é de apenas 14 meses após o diagnóstico, mesmo com quimioterapia e radioterapia. Dos 315 pacientes com glioblastoma que participaram de testes recentes no Reino Unido — os quais também foram submetidos a quimioterapia — 43% que estavam usando o dispositivo estavam vivos dois anos depois, em comparação com 29% que não estavam. Tumores de glioblastoma removidos também levaram mais tempo para voltar a crescer: 7,1 meses em comparação com quatro meses. Quatro dos 20 pacientes com glioblastoma que inicialmente experimentaram uma versão do aparelho ainda estão vivos. O preço, no entanto, ainda não é muito atraente: por mês, o chapéu com o suporte adicional custa em torno de R$ 74.120 (£ 17 mil). OUTRO HORIZONTE Um estudo publicado ontem na revista “Cancer Ressearch” por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Irvine, defende que tratamentos com células-tronco neurais estão se revelando uma promessa para reverter os déficits de aprendizagem e memória que ocorrem após a quimioterapia. Em estudos pré-clínicos com roedores, eles descobriram que as células estaminais transplantadas uma semana após a realização de uma série de sessões de quimioterapia restaurou diversas funções cognitivas, conforme foi constatado um mês depois, utilizando uma plataforma abrangente de testes comportamentais.
SURTO DE IMPRUDÊNCIA 18/02/2015 - Veja Até a vacina contra o sarampo começar a ser usada, em 1963, a doença era uma das principais causas de mortalidade infantil. Com o aperfeiçoamento e a popularização das imunizações, ela foi controlada na maioria dos países. Nos Estados Unidos, a boa notícia foi anunciada em 2000. Em dezembro do ano passado, no entanto, o sarampo ressurgiu. com 94 casos registrados na Dis-neylândia, na Califórnia. Até agora, no total, 121 pessoas foram identificadas com o vírus, em dezoito estados americanos. A origem do surto está associada ao crescente espaço conquistado por grupos adeptos do movimento antiva-cina. avessos à imunização. Dizer "não" é um direito individual, inalienável, mas, quando ele afeta a saúde pública, não há como fugir da constatação de retrocesso, na contramão dos avanços da medicina. É a quebra de um contrato social que, nas últimas décadas, salvou milhões de vidas e não pode ser rompido com alegações muito frágeis. As justificativas para não imunizar as crianças contra o sarampo são variadas. Alguns pais argumentam que o sistema imunológico consegue naturalmente se livrar dos agentes patológicos. Outros recorrem à tese do gastroen-terologista inglês Andrew Wakefield. Em 1998, ele publicou um artigo na prestigiosa revista científica Lancet que associava a vacina tríplice (contra a ca-xumba, a rubéola e o sarampo) a um risco aumentado de autismo. Em 2010, acusado de fraudador, antiético e desonesto, perdeu o registro no Conselho Geral de Medicina da Inglaterra. Virou um pária, embora os fanáticos pela an-tivacinação o tenham transformado em bode expiatório. A Lancet teve de pedir desculpas, mas o estrago estava feito. Há hoje cerca de 80000 casos de sarampo no mundo, parte dos quais na Europa, principalmente na Inglaterra, na França e na Itália, onde a onda anti-vacina é forte, mais sólida que nos Estados Unidos. A outra parte dos casos ocorre em países pobres da África e da Ásia. Vivessem neles, certamente os inimigos da vacinação (contra o sarampo, mas também contra outras doenças) não levantariam suas bandeiras. Vivessem em outro tempo, também ficariam calados.A imunização contra o sarampo, só ela, salva meio milhão de crianças a cada ano. Somadas, as cerca de trinta vacinas atualmente em uso livram da morte 3 milhões de pessoas no mundo e evitam que 10 milhões sofram as seqüelas das mais variadas afecçôes. A vacinação de uma criança não protege apenas a vida dela, mas também a de todos ao seu redor. Um programa de imunização, em geral, pode ser considerado um sucesso quando pelo menos 95% da população é vacinada. Os 5% restantes são protegidos pelo que se chama, no jargão médico, de "imunidade de rebanho", como uma muralha de proteção. No Brasil, mais de 90% das crianças estão vacinadas contra o sarampo. A imunização é feita com uma única vacina, a tríplice vi-ral, no primeiro ano de vida, com reforço aos 15 anos. A grita contra as vacinas, sob a alegação da livre expressão de uma vontade, perde força quando comparada a uma discussão semelhante nos anos 60. Os fumantes acendiam um cigarro sem se preocupar com as pessoas ao lado porque estariam fazendo mal apenas a si mesmos, e ponto. Quando estudos minuciosos comprovaram os danos da "fumaça passiva" à saúde, xeque-mate. Fumar hoje é de mau gosto, além de crime em locais, cada vez mais numerosos, em que impera a draconiana proibição. A oposição aos evidentes benefícios das vacinas é uma atitude que soa extemporânea, inaceitável. Parece coisa do início do século passado. Remete à Revolta da Vacina de 1904, contra a decisão do sanitarista Oswaldo Cruz de tornar i obrigatório o controle da = varíola, que previa inclusí-l ve a invasão de casas e a | remoção das pessoas pelos t agentes de saúde. Durante z um mês. o Rio de Janeiro £ viveu em estado de guerra civil. Acuado, o então presidente Rodrigues Alves revogou a lei da vacinação obrigatória. Isso foi compreensível. dadas as circunstâncias. No século XX, seria absurdo. Atual- • mente a varíola é a única doença in-fectocontagiosa declarada erradicada pela Organização Mundial da Saúde. Como todos os medicamentos, as vacinas oferecem reações adversas, e seria desonesto escondê-las. A do sarampo, por exemplo, causa em até 3% dos pacientes o chamado "sarampi-nho", uma forma atenuada da doença, sem nenhuma ameaça à saúde. Entre os sintomas, estão febre baixa e manchas na pele. Não há comparação com o sarampo em si. Doença devastadora, ela aniquila o sistema imunológico e pode levar à morte por pneumonia e encefa-lite. Diz o infectologista Artur Timer-man. do Hospital Edmundo Vasconcelos. em São Paulo: "O risco de contaminação é sempre muito maior do que qualquer efeito adverso que a imunização possa provocar. É uma constatação que vale para qualquer vacina". A vacinação, e não apenas contra o sarampo, é obrigatória no Brasil. As escolas pedem a carteira de vacinas dos alunos. O Bolsa Família só é concedido às famílias cujas crianças estão com a vacinação em dia. Excesso de bebida não é mais coisa só de universitários 18/02/2015 - Valor Econômico A imagem típica daqueles que bebem com a intenção de rapidamente ficar bêbados pode ser tanto a de um homem de meia-idade que trabalha várias horas por dia quanto a de um rapaz universitário festejando até tarde da noite. Pesquisadores cada vez mais direcionam suas miras para a faixa mais velha, depois de anos dando prioridade a experimentos com adolescentes e jovens alcoólatras. Há evidências de que empregos de alta pressão vêm levando milhões de pessoas ao consumo desenfreado de álcool e aumentam as mortes por abuso de bebida à medida que as pessoas ficam mais velhas. Um novo estudo de 14 países publicado pelo "The British Medical Journal" detectou que pessoas que trabalham mais de 48 horas por semana têm mais probabilidade de beber em excesso - definido como 14 drinques por semana para as mulheres e mais de 21 para os homens. E a agência federal americana Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC, em inglês) estimou em relatório no mês passado que seis pessoas morrem por dia por envenenamento com álcool, principalmente na faixa entre 35 e 65 anos. "Beber é uma forma fácil e rápida de livrar-se da preocupação com o trabalho. É aí que surgem os problemas", diz Cassandra Okechukwu, professora-assistente na Harvard School of Public Health, em Boston. "Nós o definimos e o chamamos de uso arriscado de álcool. Não estamos prestando tanta atenção a isso quanto prestamos à definição de alcoolismo. Precisamos prestar mais atenção." Estudos numerosos mostram que beber regularmente, desde que não seja em excesso, é saudável, em especial para o coração. Embora o vinho tinto seja geralmente apregoado por seus benefícios à saúde, mostrou-se que a cerveja e os destilados também previnem várias condições médicas. Doutores advertem para que não se comece a beber mais em nome desses benefícios potenciais à saúde e destacam que o consumo excessivo pode levar a uma série de males, desde câncer até mortes repentinas. Os números sobre os excessos de bebida não fazem sentido em um primeiro momento e confundem os pesquisadores. Os jovens ainda têm mais probabilidades de cair nessas jornadas para se embebedar - definido como cinco ou mais drinques em algumas horas para os homens ou quatro ou mais para as mulheres. As pessoas com 65 anos ou mais que consomem álcool em excesso o fazem com mais frequência do que outras faixas etárias. As pessoas que morrem por envenenamento por álcool estão na meia-idade. Três em cada quatro são homens, segundo a CDC. Em 2012, segundo pesquisa da agência, 71% dos americanos disseram que tomaram um drinque nos últimos 12 meses, enquanto 56% o haviam feito nos últimos 30 dias. Há um número pequeno, mas crescente, de pessoas que bebem em excesso em cada episódio e não está claro por que o fazem, de acordo com George Koob, diretor do Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo. "Estamos vendo um número maior de drinques por indivíduo", diz. "O que está crescendo é a intensidade da bebida em episódios únicos. Estamos preocupados com isso. Não descobrimos como resolver isso." Trabalhar muitas horas pode exacerbar o problema. O estudo do "British Medical Journal" detectou que as pessoas que trabalharam de 49 a 54 horas por semana e 55 horas por semana tem propensão 13% e 12% maiores, respectivamente, de serem consumidores de risco. Um ou dois copos de vinho ou cerveja depois do trabalho é uma forma comum de relaxar depois de um dia duro no escritório. O problema é quando isso passa para algo mais. Para pessoas que já bebem, o estresse no trabalho ou em casa pode levar a uma dependência ainda maior em relação ao álcool, segundo Sandra Brown, professora de psicologia e psiquiatria que é vice-diretora da Universidade da Califórnia, em San Diego. "As pessoas desenvolvem tolerância quando bebem regularmente", diz Sandra. "Elas não percebem que estão bebendo mais e se colocam em situações mais perigosas". Nos Estados Unidos, o álcool é responsável por 88 mil mortes por ano, o que o torna a terceira maior causa evitável de morte no país. Para as pessoas na faixa dos 30, 40 e 50 anos, os efeitos do álcool podem durar muito mais do que apenas uma terrível ressaca. Afeta o fígado e o pâncreas e pode levar diretamente à depressão. Os danos provocados pela bebida podem se acumular durante a vida, com novos fatores de risco aparecendo na meia-idade, de acordo com Joseph Lee, diretor-médico da Hazelden Betty Ford Foundation. E, embora a maioria das pessoas com problemas de bebida mostre sinais disso na juventude, nem sempre é o caso, diz. "Só porque você passou ileso pelos dias das turminhas da universidade não significa que você tem passe livre pelo resto de sua vida", afirma Lee. "Vemos muitas pessoas que sempre tiveram um risco de vício não manifestado até que algo acontece, como uma promoção a um cargo de alta pressão, um divórcio ou uma morte na família." Para consumidores de meia-idade, as brincadeiras de "virar" copos nas quais costumavam entrar quando eram jovens podem simplesmente ser transportadas quando ficam mais velhas e tentam voltar a seus "prazeres de adolescente", diz Koob. Eles precisam perceber que seus cérebros e corpos mudaram e não conseguem mais lidar da mesma forma. "Quando você é jovem, os efeitos prazerosos do álcool são mais recompensadores e há menos ressacas", diz Koob. "À medida que você fica mais velho, há uma troca, as ressacas tornam-se mais dolorosas e há menos efeitos prazerosos. É quando os demônios saem das garrafas." Falta de água e higiene precária podem trazer doenças 'antigas' de volta às cidades 18/02/2015 - Valor Econômico A falta de água e a dificuldade de higienização decorrentes da seca que atinge os reservatórios da região Sudeste devolvem ao radar da saúde pública a necessidade de prevenir doenças que já eram consideradas erradicadas nas grandes metrópoles, como tifo e cólera. O armazenamento improvisado de água nas residências também aumenta e eleva o risco de enfermidades tradicionalmente comuns no verão: dengue, febre chikungunya e rotavírus, além de diversos tipos de diarreia e hepatites A e E. "De repente, estamos voltando no tempo com doenças supostamente eliminadas no século retrasado", diz Pedro Mancuso, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. Segundo ele, um ambiente sem água é, do ponto de vista das políticas públicas de saúde, um retrocesso que expõe a população a patologias comuns por volta de 1800, época em que o pesquisador John Snow descobriu, no Reino Unido, que a água transmitia doenças. "O pior dos mundos é a falta de água. Quando você tem água, mesmo de qualidade duvidosa, você pode fazer alguma coisa em casa. Agora, com água zero, não tem o que fazer", diz Mancuso. Christovam Barcellos Netto, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), trabalhou como sanitarista das secretarias estaduais de Saúde do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Para ele, o principal risco em cidades sem água, ou com racionamento drástico, é que doenças que hoje ocorrem isoladamente ganhem mais poder de transmissão, como no caso da febre tifóide e cólera. "Essas são doenças muito relacionadas à falta de higiene. O cólera é o pior que pode ocorrer. É o pior cenário, mas o radar da saúde pública tem que estar atento para isso sim", afirma Barcellos, que descarta epidemias generalizadas, mas casos isolados e surtos em pequenas comunidades. "Atualmente, a pessoa que fica doente vai tomar banho, se lavar. Mas, se não houver condições mínimas de higiene, a doença vai se transmitir." A pesquisadora do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Bianca Dieile, diz que a falta de informação sobre as reais condições de abastecimento das cidades, principalmente em São Paulo, impediu um planejamento adequado, que poderia evitar algumas doenças. "Se soubéssemos há seis meses que haveria falta de água, talvez pudéssemos nos organizar melhor, comprando uma cisterna de coleta de chuva de maneira adequada, por exemplo. Agora, está todo mundo desesperado, porque foi avisado uma ou duas semanas antes do racionamento, principalmente em São Paulo", diz Bianca, referindo-se às declarações feitas no fim de janeiro por Paulo Massato, diretor da Sabesp, sobre a possibilidade de São Paulo adotar um esquema de rodízio com cinco dias sem água e cinco com fornecimento. O armazenamento precário da água da chuva, diz Mancuso, abre caminho para bactérias, vírus, parasitas, toxinas ou metais pesados, entre outros agentes causadores de doenças. No caso de mecanismos improvisados para captar a água pelo telhado, há três preocupações principais: a possível sujeira do recipiente que guardará a água; a sujeira do telhado, por onde passam insetos, ratos, animais, e grande volume de poluição e fumaças tóxicas; e as substâncias contidas na água da chuva, especialmente em São Paulo, onde existe o fenômeno da chuva ácida. "A poluição que sai das chaminés das fábricas e empresas e dos escapamentos de veículos carrega algumas substâncias letais e isso vai para o ar, acaba indo para o telhado", alerta o especialista. "Se a pessoa tiver o cuidado de desprezar a primeira água, tirar folhas, usar uma peneira, pode melhorar um pouco", diz Mancuso. Ferver a água, segundo o professor, é recomendado apenas para eliminar microorganismos. Não serve, por exemplo, para proteção contra a acidez da chuva. "Essa acidez você não tira com filtro, nem fervendo", diz Mancuso. O uso do cloro, embora eficaz, não é recomendado, porque, em doses erradas, pode causar intoxicação e danos à saúde. "A emenda pode sair pior que o soneto." Nem o álcool gel, aliado comum em tempos de escassez, pode substituir o efeito de água e sabão. "O poder desinfetante do álcool gel é baixo. Além disso, só pode ser usado depois que as mãos já estão limpas, necessitando apenas uma desinfecção final. Ajuda, mas está longe de substituir a água", explica Mancuso. Bianca destaca que a dificuldade de prevenir tais doenças é ainda maior entre a população mais pobre onde a escassez já é uma realidade mais antiga. "Há famílias na Baixada Fluminense que já fizeram caixas d'água com capacidade de 5.000 mil litros, embaixo da casa. Dificilmente ela vai ser limpa como uma caixa d'água normal", diz a pesquisadora. Silvia Costa, professora do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, diz que a falta de água elevará também os riscos para pacientes nos hospitais. "O racionamento de água pode levar ao aumento das infecções hospitalares, pois a higiene das mãos, banho do paciente e limpeza do ambiente, que dependem diretamente da água, são medidas básicas para a qualidade do atendimento." Muitos hospitais, segundo Silvia, já têm planos de contenção e estão discutindo a sustentabilidade dessas medidas. "Mas os hospitais públicos, que costumam trabalhar com um orçamento apertado, enfrentarão obstáculos para programar tais medidas", diz a professora da USP. Outro perigo, alerta Barcellos, da Fiocruz, é a falta de controle de qualidade sobre as diversas fontes de onde, em meio à crise, a população busca água: caminhões-pipa, garrafões não inspecionados, água da chuva e até poços improvisados. "As secretarias de Saúde, municipais e estaduais, são responsáveis por um programa de vigilância da qualidade da água. Eles têm que reforçar esse programa, urgentemente", diz. Procuradas pelo Valor, as secretarias estaduais de Saúde dos Estados de São Paulo e do Rio afirmaram que a vigilância da água é responsabilidade das secretarias de cada município. Afirmação parecida fez o Ministério da Saúde que informou, em nota, que "a fiscalização cabe às secretarias municipais de Saúde, com o apoio das secretarias de Estado da Saúde, que reportam ao ministério qualquer incidente que represente risco à saúde pública". Ginástica íntima 18/02/2015 - Folha de S.Paulo O que é pompoarismo? Não se acanhe se sua resposta parecer à que Elisabete Rigetti daria um ano atrás. "Algo que prostitutas tailandesas usam para soltar bolinha, né?" Repetida mais recentemente, a pergunta provoca um sorriso na aplicada aluna da técnica oriental. "É bom para a saúde também." Toda quarta-feira, a aposentada de 62 anos sai de casa para aprender a controlar os músculos vaginais, numa classe voltada à terceira idade. Elisabete chegou à Escola Lu Pompoar pesquisando na internet por tratamentos para incontinência urinária. O espaço na Vila Mariana (zona sul de São Paulo) atende a mulheres de 20 a 84 anos interessadas em tonificar a região pélvica. "Pompoarismo é algo sério", afirma a professora Lu Riva, 36, que considera o corpo um "templo de Deus". Claro que os truques à la "Cirque du Soleil para maiores de idade" chamam atenção. Em 2003, a russa Tatiana Kozhevnikova entrou no Guiness como "a vagina mais forte do mundo". Após ter tido filho, ela sentira os "músculos íntimos" enfraquecerem. Para ficar com tudo literalmente em cima, suspendeu um peso de 14 kg com ajuda do pompoarismo. Saúde é o que interessa para a classe de alunas na terceira idade, mas sexo é bom e elas gostam também. "Fica mais prazeroso", conta Elisabete, casada há 40 anos. Não é nenhum demérito associar o pompoar ao prazer, diz Lu Riva. Só não vale restringir sua função à promessa de orgasmos melhores e mais frequentes. Para a ginecologista Fernanda Leoni, 30, o pompoarismo é sobretudo um a catapulta para a autoestima. "A mulher começa a conhecer mais seu corpo", afirma. Ela recomenda a prática para pacientes grávidas que optem pelo parto normal e quem sofre com prolapso genital, popularmente conhecido como "bexiga caída" (quanto mais flacidez muscular, mais "escorregadio" fica o órgão na cavidade vaginal)."Na terceira idade, ajuda a produzir melhor lubrificação vaginal." No fim das contas, Lu Riva acha difícil separar uma vida sexual saudável do bem estar físico. Ela publicou um livro sobre o assunto, "Pompoar - Prazer e Saúde", que sugere quatro semanas de treinamento. EXERCÍCIOS Para as iniciadas no pompoar, um dos exercícios é colocar um vibrador desligado na entrada da vagina e tentar sugá-lo. O curso in loco promete ensinar mais movimentos, como prender o pênis dentro do canal vaginal, o que retarda a ejaculação do parceiro. Há ainda a "dança vaginal", para "aprender o pompoar dançando". A aluna inscrita ganha um kit com bolinhas de plástico para, quando estiver num estágio mais avançado, tentar segurá-las só com a força da vagina. Há técnicas semelhantes, batizadas com o nome do ginecologista alemão Arnold Kegel (1894-1981). Na frente da sala de aula, há um frigobar vermelho com licores e destilados para "quem quiser se soltar", explica a professora. Ninguém vira uma dose nem fica nua: as pupilas usam calças coladas ao corpo, para que a professora possa verificar se mexem a musculatura certa. Os exercícios são ritmados ao passo de "um, dois, três" e envolvem vagina, quadris e tronco. Treino caseiro para entender: tentar conter o jato de xixi por dez segundos. Discípulas veteranas são capazes de realizar uma espécie de "squash vaginal", arremessando bolas na parede, garante a instrutora. Uma série de estudos já comprovou os benefícios dos exercícios fisioterápicos para a vida sexual e, principalmente, para o tratamento da incontinência urinária no pós-parto. Pesquisadores da USP agora pretendem medir o impacto do pompoarismo sobre o assoalho pélvico. Para Lu Riva, o valor científico do pompoarismo já está comprovado na prática. "Brinco que estou devolvendo a vagina para suas donas." Catanduva (SP) abre hospital de campanha para combater a dengue 14/02/2015 - Folha de S.Paulo Para enfrentar a pior epidemia de dengue de sua história, Catanduva (a 385 km da de SP) abre neste sábado (14) um hospital de campanha para desafogar o atendimento nas unidades de saúde. Desde janeiro, foram confirmados 1.513 casos e há outros 3.638 suspeitos. Duas mortes foram registradas. No mesmo período do ano passado, apenas sete casos foram confirmados. De acordo com o prefeito Geraldo Vinholi (PSDB), o hospital funcionará das 7h às 22h no colégio Jesus Adolescente, no bairro Parque Joaquim Lopes, com 70 leitos. O horário poderá se estender até a 1h caso necessário. O governo contratou emergencialmente 36 profissionais do hospital Mahatma Gandhi para atuar no local. O plano de trabalho da equipe foi aprovado pela Câmara nesta sexta-feira (13), em sessão extraordinária. A prefeitura irá gastar cerca de R$ 320 mil por mês com a estrutura, que deverá receber quem já teve a doença confirmada. Plantão médico: Carnaval, sexo e HIV 14/02/2015 - Folha de S.Paulo A campanha contra o HIV nestes dias de Carnaval constará da realização de testes para detecção precoce do vírus nos foliões, seguida de tratamento, além da tradicional distribuição de camisinhas. Proposta pela Unaids/OMS, que a denominou "90-90-90", a campanha que será aplicada pelo Ministério da Saúde visa aumentar em 90% o número de pessoas com o HIV que desconhecem ser portadoras do vírus, espera que 90% dos HIV positivos iniciem o imediatamente tratamento e que 90% dos pacientes tratados não apresentem mais o vírus aos exames laboratoriais no ano 2020. Segundo o ministro Arthur Chioro, da Saúde, atualmente os jovens apresentam um comportamento cada vez mais liberal, com aumento do número de parceiras e parceiros ocasionais. Por isso, a importância no uso da camisinha e dos testes para o HIV. Concluindo, insistiu que não se pode falar em grupo de risco, já que todas as pessoas com vida sexual ativa são vulneráveis. Na campanha deste ano foram distribuídos 129 mil cartazes e 315 mil folders para a população jovem, travestis e gays. Nos banheiros masculino e feminino dos aeroportos do Rio, de Salvador e do Recife foram instalados pequenos armários, próprios para retirada gratuita de camisinhas. Para todos o período do Carnaval, está prevista a distribuição de cerca de 70 milhões de preservativos em todos os Estados. Na temporada dos beijos, ela pode estragar a festa. 15/02/2015 - O Globo Beijo é tão intrinsecamente ligado ao carnaval que virou tema de ( muitas) marchinhas, canções de axé, sambas, forrós, xotes, frevos... Mas é também o principal meio de transmissão da mononucleose, uma doença viral que, em geral, não é grave, mas pode tirar o brilho da festa. A “doença do beijo” é assim chamada porque os principais reservatórios do vírus Epstein-Barr (EBV) estão na saliva. Ou seja, a troca dela na beijação carnavalesca torna a chance de transmissão relativamente alta. Afinal, cerca de 80% da população adulta no país já tiveram contato com o EBV. Muitos casos passaram despercebidos, foram confundidos com uma gripe forte ou, simplesmente, não apresentaram sintomas. — O EBV penetra na orofaringe, cai no tecido linfático e se multiplica no fígado, no baço, nos pulmões e na medula óssea. Alguns pesquisadores acreditam que as parótidas ( glândulas localizadas no pescoço) servem de “santuário” do vírus, justificando, dessa forma, a presença na saliva — explica a infectologista Danielle Provençano. Os principais sintomas, como adverte a especialista, são febre, mialgia, prostração (cansaço), rash cutâneo (manchas no corpo), adenomegalias ( gânglios aumentados de tamanho), dor de garganta, cefaleia e perda de apetite. Ao ser examinado, o paciente apresenta também aumento do fígado e do baço. Ao contrário do que sugere uma canção-celebração do beijo que virou sucesso da banda Cheiro de Amor (“Já beijei um, já beijei dois, já beijei três, hoje eu já beijei e vou beijar mais uma vez”), Marise Fonseca, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, dá a dica: nada de ficar beijando todo mundo estes dias. — Quanto mais exposto você tiver, mais riscos terá de ficar doente — explica. — Esta é uma geração que tem por característica contar quantos beijos foram dados na festa. O momento, claro, é mais propício ao encontro amoroso. E às doenças. 40 MOÇAS BEIJADAS NA FORMATURA O contador Bruno Vieira, de 24 anos, é exemplo dessa geração. Ele se refere aos seus 16 anos como uma “época de muito beijo na boca”. Ao ficar com febre alguns anos depois de ter apostado com seus amigos quem ficaria com mais meninas ao longo de dez festas de formatura (alcançando um assombroso total de 40 moças beijadas), o jovem realizou um exame de sangue e recebeu a informação de que já havia tido mononucleose: — Umas duas semanas depois dessa farra lembro de ter sentido todos os sintomas. Tenho certeza que foi nessa época, porque nunca me senti tão mal até hoje. Achei que fosse “uma virose”. É exatamente esse comportamento pouco específico da doença que o infectologista Esper Kallás, do Hospital Sírio-Libanês, destaca. — Se não for no carnaval, vai ser em outro momento da vida — afirma Kallás. — Como raramente causa maiores problemas, a mononucleose não é um questão de saúde pública grave. Para homens e mulheres entre 15 a 25 anos, faixa etária que mais provavelmente vai às ruas curtir o feriado, é importante ressaltar que o beijo não é o único modo de contrair a doença. Segundo Danielle, qualquer tipo de contato mais próximo entre a pessoa infectada e outro indivíduo pode ocasionar a transmissão. Por exemplo, compartilhar talheres, copos ou garrafas e ficar em locais com uma concentração muito grande de pessoas. A estudante de Administração Luana Corrêa, de 22 anos, lembra, inclusive, que suas louças eram lavadas separadamente em casa durante a época em que ficou doente. Ela namorava quando teve mononucleose, aos 16 anos, e o namorado não teve o vírus detectado em exames, o que tornou a forma de transmissão um mistério. — Os médicos não souberam dizer ao certo o que foi, mas ninguém lá em casa pegou, nem meu namorado — diz Luana, que acrescenta: inicialmente confundida com uma amigdalite, a mononucleose foi diagnosticada cerca de 15 dias depois do início dos sintomas. Não há muito o que fazer depois do diagnóstico. A saída é aliviar os sintomas, combater a febre e a dor de garganta e repousar (em torno de quatro semanas), segundo os infectologistas. Não há um tratamento antiviral que tenha demonstrado benefícios nem tampouco pesquisas avançadas na direção de uma vacina. Kallás esclarece que, como o organismo combate sozinho o EBV, não há grande interesse na produção de uma por parte dos laboratórios. Geralmente, a mononucleose só se manifesta em pessoas imunocompetentes — ou seja, com um sistema imunológico forte — uma vez na vida, já que os anticorpos produzidos pelo nosso corpo para atacar o EBV não perdem a “validade”. A desconexão da Saúde 18/02/2015 - O Globo Criado em 2011, sistema de dados do SUS custou R$ 34,5 milhões, mas ainda está longe de prestar informações essenciais aos pacientes, como número de vagas, consultas e remédios. O prontuário do paciente é eletrônico — mas, após o médico preenchê-lo no computador, tem que ser impresso, assinado e carimbado se quiser usar. No almoxarifado e na farmácia, remédios e insumos precisam ser registrados em dois sistemas — e, além do trabalho de se registrar duas vezes a mesma coisa, já houve caso de a entrada do material ser contabilizada em um sistema, a saída, em outro, e aí o controle sobre o estoque já se perdeu. Quando esse tipo de situação envolve remédios, às vezes calha de a medicação não ser dada ao paciente porque seu estoque aparece zerado num dos sistemas — pois ela está registrada no outro. Apesar de já ter custado pelo menos R$ 34,5 milhões, e de ter começado há 4 anos, em 2011, a implantação de um novo sistema de dados nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) — projeto federal hoje chamado E-SUS Hospitalar — ainda não conseguiu ser concluída nas primeiras unidades a receberem o projeto, os seis hospitais federais do Rio. Atualmente, relatos de funcionários dão conta de que o sistema, um software de gestão para registro e controle de consultas, internações e materiais, por exemplo, funciona incompleto nesses hospitais, o que acaba afetando o tempo de atendimento aos pacientes, além de aumentar riscos de desvio de materiais. Na Bahia, onde o novo sistema também já foi implantado há cerca de dois anos no Hospital Roberto Santos, estadual, o prontuário eletrônico, assim como no Rio, não tem certificação digital; por isso, precisa ser impresso para poder valer. — O atendimento ao paciente seria mais ágil se pudéssemos trabalhar com o prontuário sem papel — diz Luiz Américo, médico da UTI do hospital e vice-presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia. No Rio, o sistema anterior, chamado Hospub, funciona junto com o novo, da Totvs, multinacional com sede no Brasil. Mas eles não se comunicam. — Isso acaba gerando trabalho dobrado para os funcionários. Há unidades em que setores de farmácia e almoxarifado, por exemplo, precisam registrar os materiais nos dois sistemas. Há especialidade em que a parte de ambulatório funciona no ESUS, e a internação, no Hospub — afirma o médico Júlio Noronha, do Sindicato dos Médicos do Rio. — Em alguns casos, a entrada de um item no estoque é pelo Hospub, e a saída, pelo E-SUS, mas um não se comunica com o outro. Às vezes a enfermagem não acha um remédio ou insumo porque o dado não está no sistema em que estão procurando. FALTA DE COMUNICAÇÃO COM O SISTEMA MUNICIPAL Além disso, o módulo para laboratórios do novo sistema ainda não funciona, diz Noronha, então os setores de laboratório dos hospitais usam o Hospub. Como os sistemas não se falam, dá-se que resultados de exames laboratoriais não podem ser enviados para o prontuário eletrônico, que é E-SUS. — Em vez de aperfeiçoarem o Hospub, que era posto à disposição para os governos gratuitamente, e que tinha sido desenvolvido pelo Datasus , partiram para uma coisa nova que ainda nem estava pronta — critica Noronha. — A parte administrativa dos pacientes do ambulatório, suas informações de cadastro e contato, são pelo Hospub; o prontuário, o que é receitado no tratamento, é pelo E-SUS. Há funcionários que têm senha dos dois, outros, só de um. Às vezes não conseguem avisar o paciente sobre mudanças no atendimento, porque não conseguem acessar o sistema que tem o telefone dele. Outros profissionais dos hospitais federais relatam que o E-SUS não se comunica com o SisReg, o sistema da central de regulação de vagas municipal do Rio. Então, quando um atendente nas unidades básicas de Saúde do município faz alguma alteração, via SisReg, no agendamento de pacientes nos hospitais federais, essa alteração não aparece para quem acessa o E-SUS nas unidades federais. — Muitas vezes um paciente marcado simplesmente não aparece. Acabam ocorrendo situações como na nefrologia e em algumas clínicas da pediatria do Hospital de Bonsucesso, em que cerca de 20% das vagas ficam ociosas. Será que não há pessoas querendo ser atendidas? — conclui Noronha. Apesar de, no site do Ministério da Saúde, o ESUS ser descrito como forma de integrar sistemas e, assim, “permitir um registro da situação de saúde individualizado por meio do Cartão Nacional de Saúde”, funcionários das unidades no Rio afirmam que o E-SUS não se comunica com o cadastro do Cartão SUS — projeto de gestão de informação na Saúde também incompleto, no qual o governo já gastou mais de R$ 200 milhões, e pelo qual pretende criar uma identificação única para os usuários do SUS, para que, onde quer que seja atendido no país, o usuário possa ter seu prontuário acessado. — Os módulos do E-SUS ainda não estão todos em funcionamento. A implantação está incompleta até hoje — diz Aline Caixeta, procuradora que acompanha a instalação do E-SUS por um inquérito civil público instaurado em 2011, a partir de denúncia do Sindicato dos Médicos do Rio. O Ministério Público Federal do Rio fez ao Tribunal de Contas da União representação sobre o caso, junto com o Tribunal de Contas de Rondônia — que se envolveu no assunto pois, na época, RO estudava implantar o Hospub. Baseado nisso, o TCU, em acórdão de agosto de 2013 da 1 ª Câmara, questionou a substituição do Hospub. Segundo relatório citado pelo TCU, a atualização do Hospub, com migração para ambiente web e prontuário eletrônico, teria custo anual de R$ 2,5 milhões. Além do custo, o TCU diz que, na aquisição do novo sistema, não haveria previsão de transferência de tecnologia: o fornecimento do sistema não permitiria que o governo “promova as modificações necessárias a ajustar os sistemas às reais necessidades dos usuários”. O TCU determinou auditoria para “investigar a viabilidade de modernização da atual versão do Hospub, os recursos necessários (...) e eventual vantagem econômica no uso desse sistema pelos hospitais públicos, em face dos custos de aquisição e manutenção dos programas comercializados pelo mercado privado”. Segundo a assessoria do TCU, a auditoria, porém, ainda não foi feita. Dengue na capital sobe 84% este ano 18/02/2015 - DCI O secretário adjunto de Saúde da capital paulista, Paulo Puccini, apresentou na última quinta-feira (12) dados do segundo balanço do ano sobre a situação da dengue. Entre 4 e 31 de janeiro foram notificados 1.368. Esse total representa elevação de 84% nos casos confirmados da doença em 2015 em relação ao mesmo período do ano passado. Entre os casos confirmados na capital, 220 são autóctones. No mesmo período do ano passado, foram 81 casos. Em todo o ano de 2014, foi registrado que 28.995 pessoas contraíram a doença no município - 97,7% dos casos no primeiro semestre - com 14 óbitos ao longo do ano. Já para a febre chikungunya, neste ano, não há ocorrência de casos autóctones, mas foram registrados três casos importados. Crise hídrica Segundo o advogado especialista em meio ambiente, Alessandro Azzoni, o crescimento nos casos de dengue está relacionado à atual crise hídrica. Azzoni afirma que muitas pessoas estão armazenando água em baldes, bacias e caixas d'água para o reúso, mas não estão se preocupando em tampar os recipientes corretamente. "O mosquito da dengue se prolifera muito rápido, por isso o aumento repentino". Azzoni também atribui esse aumento à característica de reprodução do mosquito Aedes aegypti. "O mosquito deposita seus ovos nas paredes de recipientes. Com a estiagem, o nível de águas depositadas abaixou, mas os ovos ficaram no local. Com a volta das chuvas, a água volta aos recipientes e os criadouros surgem de novo com as larvas que sobrevivem". O período de pré-carnaval, afirma Azzoni, também pode ter contribuído para o aumento. "As pessoas se aglomeraram. Além disso, muitos hotéis e restaurantes estão armazenando água para o reúso e não estão se preocupando em armazenar corretamente a água". Estado de São Paulo O primeiro balanço de 2015 do Ministério da Saúde, divulgado semana passada, registrou 17.612 casos notificados no Estado de São Paulo em janeiro de 2015 contra 2.134 no mesmo período de 2014. O número de incidência de casos por 100 mil habitantes foi de 40 neste ano, contra 4,8 em 2014. O balanço também mostra que cinco municípios paulistas estão entre aqueles com maior incidência no País. A cidade de Trabiju está em primeiro lugar no ranking. Guararapes está em quarto lugar, Estrela d'Oeste em sétimo e Aparecida d'Oeste na décima posição. O governo de SP alertou os municípios na semana passada para uma possível epidemia de dengue após o carnaval. |